30.08.2015 Views

Animais tran

Animais tran Animais tran - Ciência Hoje

Animais tran Animais tran - Ciência Hoje

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

ENGENHARIA GENÉTICA<br />

que vários grupos de geneticistas, embriologistas,<br />

bioquímicos e biólogos moleculares se dedicaram<br />

a partir dos anos 70 (figura 3) – antes de torná-la<br />

realidade. Hoje é possível alterar de modo específico<br />

o DNA de camundongos, plantas e, recentemente,<br />

bovinos. Este artigo discute os principais passos<br />

no desenvolvimento de animais <strong>tran</strong>sgênicos e nocautes,<br />

os tipos de organismos geneticamente modificados<br />

e o impacto dessa tecnologia em diversas<br />

atividades humanas.<br />

Mas o que são animais <strong>tran</strong>sgênicos e nocautes?<br />

Em resumo, um <strong>tran</strong>sgene é um fragmento de<br />

DNA, em geral a seqüência completa de um gene,<br />

artificialmente introduzido no genoma de outro<br />

organismo, enquanto nocautear um gene é provocar<br />

nele uma mutação específica, que leva à sua<br />

inativação.<br />

A expressão artificial de um gene<br />

Em espécies de reprodução sexuada, a obtenção de<br />

linhagens com alterações genéticas depende da indução<br />

de mutações em células sexuais (‘gametas’),<br />

para que sejam <strong>tran</strong>smitidas à prole. É relativamente<br />

simples obter mutações aleatórias em células<br />

somáticas (já diferenciadas) de mamíferos mantidas<br />

em cultura, mas o grande obstáculo é obter mutações<br />

específicas em células sexuais de um animal<br />

vivo.<br />

O embrião de um camundongo desenvolve-se a<br />

partir da fecundação do óvulo por um espermatozóide,<br />

no oviduto da fêmea. Segue-se a formação do<br />

ovo, que passa por sucessivas<br />

divisões celulares até tornar-se<br />

‘blastocisto’ (ou ‘blástula’), estágio<br />

em que as células embrionárias<br />

dispõem-se em torno de uma<br />

cavidade cheia de líquido (semelhante<br />

a um cisto). Já em 1968,<br />

Richard L. Gardner havia isolado<br />

células de um embrião de camundongo<br />

(embrião A) e injetado em<br />

blastocistos (embrião B). Implantados<br />

no útero de fêmeas prenhas,<br />

estes geraram camundongos com<br />

células vindas dos dois embriões<br />

(‘quimeras’). Usando progenitores<br />

com alelos diferentes para<br />

certo gene (‘marcador genético’),<br />

foi possível distinguir no filhote<br />

as células vindas do embrião A<br />

(injetadas) e as originadas do embrião<br />

B (blastocisto).<br />

Em meados dos anos 70, Rudolf<br />

Jaenisch e Beatrice Mintz<br />

detectaram, nos filhotes gerados, DNA es<strong>tran</strong>ho (de<br />

vírus, por exemplo) injetado em blastocistos de<br />

camundongos. Conceitualmente, nascia o primeiro<br />

camundongo <strong>tran</strong>sgênico. Logo após, infectaram<br />

embriões com um retrovírus de rato e mostraram<br />

que seqüências do DNA viral integravam-se de<br />

modo estável ao genoma do animal. Além disso, os<br />

filhotes <strong>tran</strong>sgênicos <strong>tran</strong>smitiram tais seqüências<br />

às suas futuras proles, revelando que células embrionárias<br />

infectadas de modo aleatório podiam<br />

gerar células sexuais também <strong>tran</strong>sgênicas. Mas<br />

ainda era um desafio introduzir em animais um<br />

gene específico, em vez de uma seqüência viral sem<br />

função.<br />

A solução foi obtida em 1980 por Jon W. Gordon<br />

e colegas. Seu método (figura 4), tão eficiente que<br />

continua em uso, emprega embriões ainda no estágio<br />

de uma célula, quando se pode identificar o<br />

grande pró-núcleo. Com agulhas de vidro microscópicas,<br />

operadas por equipamentos ultra-sensíveis,<br />

injetam-se várias cópias da seqüência de DNA<br />

(<strong>tran</strong>sgene) que se quer integrar ao genoma. Já no<br />

ano seguinte diversos grupos produziram camundongos<br />

contendo <strong>tran</strong>sgenes funcionais, que expressavam<br />

as proteínas associadas em células específicas.<br />

Para obter um organismo <strong>tran</strong>sgênico, primeiro<br />

o gene de interesse é identificado e isolado (‘clonagem<br />

gênica’). Depois é preciso montar o <strong>tran</strong>sgene,<br />

porque nem todo gene é expresso (levando a<br />

célula a produzir proteína) em todos os tecidos. Só<br />

os glóbulos vermelhos do sangue, por exemplo,<br />

expressam a hemoglobina, proteína que <strong>tran</strong>sporta<br />

ANO AVANÇO AUTORES<br />

Figura 3.<br />

Evolução<br />

tecnológica<br />

rumo a<br />

camundongos<br />

<strong>tran</strong>sgênicos<br />

e nocautes<br />

1968 Camundongos quiméricos via injeção de Gardner<br />

células embrionárias em blastocistos<br />

1974 Injeção de DNA viral em blastocistos de Jaenisch e Mintz<br />

camundongos e sua detecção em filhotes<br />

1975 Embriões infectados com retrovírus têm Jaenisch e colegas<br />

seqüências de DNA viral integrado ao genoma<br />

1976 Transmissão hereditária de um <strong>tran</strong>sgene Jaenisch<br />

1980 Injeção de DNA viral em embriões no estágio Gordon e colegas<br />

de uma célula, gerando animais <strong>tran</strong>sgênicos<br />

1981 Integração e expressão de <strong>tran</strong>sgenes Brinster e colegas;<br />

Constantini e Lacy<br />

1981 Obtenção de células embriônicas Evans e Kaufman; Martin<br />

totipotentes (células ES)<br />

1986 Camundongos quiméricos obtidos Gossler e colegas<br />

a partir de células ES<br />

1987 Recombinação homóloga em células ES Thomas e Capecchi<br />

1989 Obtenção de camundongos nocautes Schwartzberg e colegas;<br />

Thompson e colegas<br />

janeiro/fevereiro d e 1 9 9 9 • CIÊNCIA HOJE • 19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!