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Kit Educação Fora da Caixa - alta res

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K<br />

I<br />

T<br />

ALEX BRETAS<br />

2015


KIT EDUCAÇÃO FORA DA CAIXA<br />

50 ferramentas para quem quer sair <strong>da</strong> caixa <strong>da</strong> educação


Projeto gráfico:<br />

ADRIANA PESSOA BARBOSA<br />

Diagramação:<br />

ACÁCIA DE ALMEIDA<br />

Revisão:<br />

ANA LUIZA ROCHA DO VALLE<br />

Um agradecimento especial aos mais<br />

de 60 apoiado<strong>res</strong> mensais do Unlock<br />

que aju<strong>da</strong>ram a tornar este livro uma<br />

reali<strong>da</strong>de. Agradeço também à Mayara<br />

Freitas, à Mariana Baldi e à Valeria<br />

Gianella, pelas importantes aju<strong>da</strong>s e<br />

contribuições.<br />

Licença Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional<br />

Você tem a liber<strong>da</strong>de de:<br />

Compartilhar: copiar, distribuir e transmitir a obra.<br />

Remixar: criar obras deriva<strong>da</strong>s.<br />

Sob as seguintes condições:<br />

Atribuição: você deve creditar a obra <strong>da</strong> forma especifica<strong>da</strong> pelo autor ou licenciante<br />

(mas não de maneira que sugira que este concede qualquer aval a você ou ao seu uso <strong>da</strong> obra).<br />

Uso não comercial: você não pode usar esta obra para fins comerciais.<br />

Compartilhamento pela mesma licença: se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você<br />

poderá distribuir a obra <strong>res</strong>ultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à p<strong>res</strong>ente.<br />

Renúncia: qualquer <strong>da</strong>s condições acima pode ser renuncia<strong>da</strong> se você obtiver permissão<br />

do titular dos direitos autorais.


SUMÁRIO<br />

Ap<strong>res</strong>entação<br />

do <strong>Kit</strong><br />

06<br />

CRIAR E<br />

FORTALECER<br />

LAÇOS<br />

42<br />

EXPERIMENTAR<br />

NOVAS LENTES<br />

78<br />

O Menininho<br />

09<br />

World Café<br />

43<br />

Biomimética<br />

79<br />

APRENDER<br />

CONSIGO MESMO<br />

13<br />

Open Space<br />

48<br />

Permacultura<br />

83<br />

Pensar, Sentir e<br />

Querer<br />

14<br />

Pro Action Café<br />

54<br />

Teoria U<br />

90<br />

Quatro degraus <strong>da</strong><br />

aprendizagem<br />

19<br />

Aquário<br />

59<br />

Jorna<strong>da</strong>s de<br />

Aprendizagem<br />

95<br />

Silêncio<br />

23<br />

Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

64<br />

Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

Cooperação<br />

100<br />

Mantras<br />

27<br />

Compartilhamento<br />

Biográfico<br />

69<br />

1 dia na vi<strong>da</strong><br />

106<br />

Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

31<br />

Pé de Galinha<br />

75<br />

RPG<br />

110<br />

Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

35<br />

Leitura Objetiva<strong>da</strong><br />

114<br />

Intervenções e<br />

Performances<br />

117


. SUMÁRIO<br />

DESPERTAR O<br />

MELHOR DO<br />

OUTRO<br />

121<br />

COCRIAR<br />

ESPAÇOS DE<br />

APRENDIZAGEM<br />

192<br />

COMEÇAR,<br />

ORGANIZAR,<br />

DECIDIR<br />

234<br />

Perguntas<br />

poderosas<br />

122<br />

Hackerspaces<br />

193<br />

Processo Decisório<br />

em Grupo<br />

235<br />

Pedir e Oferecer<br />

127<br />

Do It Yourself Labs<br />

197<br />

Matriz Certezas,<br />

Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s<br />

241<br />

Mentoria<br />

131<br />

Comuni<strong>da</strong>des de<br />

Aprendizagem<br />

201<br />

Mapas Mentais<br />

245<br />

Microaula<br />

135<br />

Ocupações<br />

Criativas<br />

205<br />

Matriz Urgente-<br />

Importante<br />

249<br />

Cartas<br />

139<br />

Encontros<br />

Intergeracionais<br />

210<br />

Palavras Finais<br />

254<br />

Personamimética<br />

143<br />

VIABILIZAR<br />

PERCURSOS<br />

AUTÔNOMOS<br />

216<br />

Notas<br />

257<br />

GERAR<br />

ENGAJAMENTO<br />

146<br />

Pay What You<br />

Want<br />

217<br />

Comprometimento<br />

Público<br />

147<br />

Financiamento<br />

Coletivo<br />

221<br />

Contar Histórias<br />

151<br />

Prototipação<br />

226<br />

Manifestos<br />

155<br />

Captação<br />

Empodera<strong>da</strong><br />

230<br />

Rituais<br />

159<br />

Jogo Oasis<br />

164<br />

Investigação<br />

Apreciativa<br />

171<br />

Matriz SOAR<br />

176<br />

Cenários Futuros<br />

181<br />

Dragon Dreaming<br />

186


Ap<strong>res</strong>entação do KIT<br />

Assim como este texto de ap<strong>res</strong>entação – que foi escrito durante, e não<br />

no final –, as ferramentas de aprendizagem a seguir surgiram no interior<br />

de outro processo. Em 2014, iniciei meu doutorado informal sobre novas<br />

formas de aprendizagem de jovens e adultos, batizado de <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong><br />

<strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. A primeira entrega desse percurso seria um livro recheado com<br />

os <strong>res</strong>ultados <strong>da</strong> minha pesquisa: relatos, projetos inspirado<strong>res</strong>, diálogos<br />

teórico-filosóficos, histórias...<br />

Só que, ao me <strong>da</strong>r conta, fui capturado por uma necessi<strong>da</strong>de súbita<br />

de escrever ferramentas. Utensílios que, se por um lado podem ser<br />

considerados inovações educacionais, por outro <strong>res</strong>gatam elementos<br />

ancestrais <strong>da</strong> aprendizagem humana. Paul Feyerabend, filósofo do<br />

conhecimento, acreditava que um dos atributos mais importantes para o<br />

desenvolvimento <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de seria a plurali<strong>da</strong>de de modos de vi<strong>da</strong>.<br />

Jeitos diferentes de se viver e se fazer as coisas. O <strong>Kit</strong> serve exatamente a<br />

esse propósito: celebrar a diversi<strong>da</strong>de como um dos principais pila<strong>res</strong> <strong>da</strong><br />

sabedoria de nossa espécie.<br />

Para viabilizar o <strong>Kit</strong>, criei uma campanha de financiamento coletivo<br />

recorrente no Unlock, uma plataforma que faz com que projetos<br />

encontrem apoiado<strong>res</strong> mensais. Praticamente um mecenato<br />

contemporâneo. To<strong>da</strong>s as ferramentas foram publica<strong>da</strong>s no blog <strong>da</strong><br />

<strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong> antes de virem parar aqui, na medi<strong>da</strong> em que iam<br />

sendo produzi<strong>da</strong>s. Três vezes por semana, durante quatro meses. Este<br />

livro é dedicado aos mais de 60 apoiado<strong>res</strong> que acreditaram na relevância<br />

desse trabalho.<br />

O “livro mãe” <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong> continua sendo escrito. O <strong>Kit</strong>,<br />

tendo surgido antes, é a primeira entrega mais robusta do projeto. Um filho<br />

nascido de surp<strong>res</strong>a. Tenho convicção que as ferramentas do <strong>Kit</strong> poderão<br />

aju<strong>da</strong>r pessoas que, assim como eu, <strong>res</strong>olveram embarcar em percursos de<br />

aprendizagem independentes. Ou que estão pensando em fazer isso.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

6


Ap<strong>res</strong>entação do KIT<br />

O <strong>Kit</strong> também pode ser útil a educado<strong>res</strong>, consulto<strong>res</strong> e facilitado<strong>res</strong>,<br />

lideranças, empreendedo<strong>res</strong>, pesquisado<strong>res</strong>, estu<strong>da</strong>ntes e entusiastas<br />

por uma nova educação. Ao escrever as ferramentas, parti principalmente<br />

de minhas experiências como facilitador de processos e pesquisador<br />

de inovações educacionais. A curadoria foi feita a partir do critério <strong>da</strong><br />

diversi<strong>da</strong>de: há ferramentas de origem africana, europeia, indígena,<br />

australiana, indiana, norte-americana e brasileira. Aqui convivem ciência,<br />

arte, filosofia, mitologia, antroposofia, sabedoria indígena e aborígene,<br />

antropologia e espirituali<strong>da</strong>de.<br />

Também me preocupei com a aderência dos materiais a uma visão de<br />

aprendizagem livre – que não significa ausência total de método, e sim<br />

um “banquete” de metodologias livremente escolhi<strong>da</strong>s, como nos ensinou<br />

Paul Feyerabend. Ca<strong>da</strong> um se serve do que quiser.<br />

Minha curiosi<strong>da</strong>de também foi um critério essencial para selecionar o que<br />

eu iria escrever. Ca<strong>da</strong> uma dessas ferramentas é uma pérola; investigá-las<br />

foi um profundo deleite. No limite, to<strong>da</strong> a pesquisa dos materiais partiu<br />

de minha própria reali<strong>da</strong>de, relativa. É como dizem: todo ponto de vista é<br />

somente a vista de um ponto. Ao testar as ferramentas com suas próprias<br />

mãos, você provavelmente terá imp<strong>res</strong>sões diferentes <strong>da</strong>s que eu tive.<br />

Não há nenhum problema nisso, pelo contrário.<br />

Quero te fazer um convite: escolha dentre as 50 ferramentas a que te<br />

chamou mais atenção. Uma só. Faça com que ela ganhe vi<strong>da</strong>: teste-a no<br />

mundo real, modifique, customize de acordo com seus desejos, contextos,<br />

suas ideias e necessi<strong>da</strong>des.<br />

A principal diferença entre uma caixa de ferramentas e um livro de<br />

receitas é que receita a gente segue e ferramenta é pra gente inventar.<br />

Com ferramentas inventamos novas reali<strong>da</strong>des porque elas nos fazem<br />

mais confiantes para começar a agir. Não deixe que o mundo <strong>da</strong>s<br />

ferramentas te pren<strong>da</strong>: utilize-as a seu serviço e de sua comuni<strong>da</strong>de, e não<br />

o contrário.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

7


Ap<strong>res</strong>entação do KIT<br />

Como dizia o poeta pantaneiro Manoel de Barros, “tudo que não invento é<br />

falso”. A história a seguir é ao mesmo tempo um alerta e um convite para<br />

que você saboreie livremente o <strong>Kit</strong>.<br />

Boas experimentações!<br />

Alex Bretas<br />

www.alexbretas.com.br<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

8


O Menininho<br />

(Helen Buckley)<br />

Uma vez um menininho foi para a escola.<br />

Ele era só um menininho<br />

E a escola era bem grande.<br />

Mas quando o menininho<br />

Descobriu que ele podia ir até sua sala<br />

An<strong>da</strong>ndo direto <strong>da</strong> porta <strong>da</strong> frente<br />

Ele ficou feliz;<br />

E a escola não parecia<br />

Tão grande como antes.<br />

Numa manhã<br />

Quando o menininho já tinha conhecido melhor a escola,<br />

O professor disse:<br />

“Hoje nós vamos desenhar”.<br />

“Que bom!”, pensou o menininho.<br />

Ele gostava de desenhar de tudo;<br />

Leões e tig<strong>res</strong>,<br />

Galinhas e vacas,<br />

Trens e barcos;<br />

E ele pegou sua caixa de giz<br />

E começou a desenhar.<br />

Mas a professora disse, “Espere!”<br />

“Não é hora de começar!”<br />

E então ela esperou até que todos parecessem prontos.<br />

“Agora”, disse a professora,<br />

“Nós vamos desenhar flo<strong>res</strong>”.<br />

“Que bom!”, pensou o menininho,<br />

Ele gostava de fazer flo<strong>res</strong> muito bonitas,<br />

Com o seu giz rosa e laranja e azul.<br />

Mas a professora disse “Espere!”<br />

“Eu vou te ensinar como fazer”.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

9


O Menininho<br />

(Helen Buckley)<br />

E era uma flor vermelha, de galho verde.<br />

“Olhem só”, disse a professora,<br />

“Agora vocês já podem começar”.<br />

O menininho olhou para a flor que a professora desenhou<br />

E depois olhou para a sua flor.<br />

Ele gostava mais <strong>da</strong> sua flor,<br />

Mas ele não disse isso.<br />

Ele apenas virou a folha<br />

E fez uma flor igualzinha à <strong>da</strong> professora.<br />

Vermelha, de galho verde.<br />

Noutro dia<br />

Quando o menininho tinha conseguido abrir<br />

A porta <strong>da</strong> frente <strong>da</strong> escola sozinho,<br />

A professora disse:<br />

“Hoje nós vamos trabalhar com argila”.<br />

“Que bom!”, pensou o menininho;<br />

Ele gostava de argila.<br />

Ele podia fazer todo tipo de coisa com argila:<br />

Cobras e bonecos de neve,<br />

Elefantes e ratos,<br />

Carros e caminhões<br />

E ele começou a amassar e espremer<br />

Sua bola de argila.<br />

Mas a professora disse, “Espere!”<br />

“Não é hora de começar!”<br />

E então ela esperou até que todos parecessem prontos.<br />

“Agora”, disse a professora,<br />

“Nós vamos fazer um prato”.<br />

“Que bom!” pensou o menininho,<br />

Ele gostava de fazer pratos.<br />

E ele começou a fazer pratos<br />

De to<strong>da</strong>s as formas e tamanhos.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

10


O Menininho<br />

(Helen Buckley)<br />

Mas a professora disse “Espere!”<br />

“Eu vou te ensinar como fazer”.<br />

E ela mostrou a todo mundo como fazer<br />

Um prato bem fundo.<br />

“Olhem só”, disse a professora,<br />

“Agora vocês já podem começar”.<br />

O menininho olhou para o prato <strong>da</strong> professora;<br />

E depois olhou para o seu prato.<br />

Ele gostava mais do seu prato,<br />

Mas ele não disse isso.<br />

Ele apenas enrolou sua argila de novo<br />

E fez um prato bem fundo igualzinho ao <strong>da</strong> professora.<br />

Beeeeem fundo.<br />

Não demorou muito<br />

E o menininho aprendeu a esperar,<br />

A assistir<br />

E a fazer as coisas igualzinho à professora.<br />

Não demorou muito<br />

E ele não fazia suas próprias coisas mais.<br />

E então<br />

O menininho e sua família<br />

<strong>Fora</strong>m morar em outra casa,<br />

Numa outra ci<strong>da</strong>de,<br />

E o menininho<br />

Teve que ir para uma outra escola.<br />

Essa escola era ain<strong>da</strong> maior<br />

Do que a primeira.<br />

E não tinha uma porta <strong>da</strong> frente<br />

Que ia direto pra sua sala.<br />

Ele precisava <strong>da</strong>r alguns longos passos<br />

E an<strong>da</strong>r num corredor bem grande<br />

Pra chegar na sua sala.<br />

E no primeiro dia<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

11


O Menininho<br />

(Helen Buckley)<br />

Lá estava ele,<br />

E a professora disse:<br />

“Hoje nós vamos desenhar”.<br />

“Que bom!” pensou o menininho.<br />

E ele esperou a professora<br />

Dizer o que deveria ser feito.<br />

Mas a professora não disse uma palavra.<br />

Apenas andou um pouco pela sala.<br />

Quando ela veio até ele<br />

Ela perguntou, “Você não quer desenhar?”<br />

“Sim”, disse o menininho.<br />

“O que é que nós vamos fazer?”<br />

“Eu não vou saber até você fazer”, disse a professora.<br />

“Como é que eu devo desenhar?” perguntou o menininho.<br />

“Do jeito que você quiser”, disse a professora.<br />

“Com qualquer cor?” perguntou o menininho.<br />

“Qualquer cor”, <strong>res</strong>pondeu a professora.<br />

“Se todos nós fizermos o mesmo desenho,<br />

E usarmos as mesmas co<strong>res</strong>,<br />

Como eu saberia quem fez o quê,<br />

E qual é qual?”<br />

“Eu não sei”, disse o menininho,<br />

E começou a fazer uma flor vermelha, de galho verde 1 .<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

12


Aprender consigo mesmo<br />

O que se aprende ao olhar para dentro?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

13


Pensar, Sentir e Querer<br />

O equilíbrio entre pensamentos, emoções e atitudes<br />

Os arquétipos são sabedorias surgi<strong>da</strong>s na infância <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. De<br />

certo modo, podem ser entendidos como imagens que estão p<strong>res</strong>entes no<br />

nosso inconsciente coletivo desde os tempos antigos. Para a antroposofia 2<br />

– uma filosofia e ciência espiritual sistematiza<strong>da</strong> inicialmente por Rudolf<br />

Steiner – os arquétipos têm uma grande importância por permitirem uma<br />

compreensão amplia<strong>da</strong> a <strong>res</strong>peito dos fenômenos psíquicos e sociais. Uma<br />

dessas imagens arquetípicas é a do ser humano trimembrado, dotado <strong>da</strong>s<br />

dimensões do Pensar, do Sentir e do Querer.<br />

O Pensar, Sentir e o Querer são considera<strong>da</strong>s ferramentas <strong>da</strong> alma porque<br />

dão forma e concretizam nossa experiência de vi<strong>da</strong>.<br />

“O Nascimento do Homem Novo”. Leunam Max. Fonte: Imagética Digital.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

14


Pensar, Sentir e Querer<br />

Por quê?<br />

Entender melhor como nós operamos essas três capaci<strong>da</strong>des é um<br />

passo firme de autoconhecimento. Pense um pouco nas pessoas que<br />

você conhece: existem aquelas que expõem de forma acura<strong>da</strong> um<br />

raciocínio e formulam conceitos com facili<strong>da</strong>de. Em geral, essas pessoas<br />

são ancora<strong>da</strong>s no Pensar. Há aqueles mais sensitivos, que falam muito<br />

<strong>da</strong>s emoções e são mais sonhado<strong>res</strong>, isto é, têm a dimensão do Sentir<br />

aflora<strong>da</strong>. Existem ain<strong>da</strong> as pessoas completamente volta<strong>da</strong>s para a ação,<br />

mas que costumam refletir pouco quanto às consequências do que fazem.<br />

São volta<strong>da</strong>s para o Querer.<br />

Um processo de aprendizagem focado no desenvolvimento humano,<br />

segundo a antroposofia, precisará buscar o equilíbrio entre essas três<br />

dimensões. A Pe<strong>da</strong>gogia Waldorf, por exemplo, baseia-se justamente<br />

nisso. Reflita um pouco: como você se enxerga no Pensar, Sentir e Querer?<br />

Ao tomar consciência do arquétipo do ser humano trimembrado, tornase<br />

mais fácil pensar e propor soluções educativas que deem conta <strong>da</strong><br />

integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas. Além disso, trata-se de uma forma de perceber<br />

a si mesmo que pode aju<strong>da</strong>r muito em percursos de aprendizado<br />

autônomos. Para que o conhecimento encontre a sabedoria, é necessário<br />

que encarar a aprendizagem de forma uma – isto é, equilibrando<br />

pensamentos, sentimentos e intenções/atitudes.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

15


Pensar, Sentir e Querer<br />

Como?<br />

As facul<strong>da</strong>des do Pensar, Sentir e Querer podem ser associa<strong>da</strong>s<br />

<strong>res</strong>pectivamente à mente, ao coração e aos membros. A mente trabalha<br />

com percepções, conceitos, argumentos e ideias; o coração vibra por meio<br />

<strong>da</strong>s emoções, vivências, do humor, do astral e dos valo<strong>res</strong>; os membros<br />

conectam-se com as vontades, intenções, motivações, a energia e as<br />

ações.<br />

Fonte: Programa Germinar, turma de Belo Horizonte, MG, 2013.<br />

Pensar<br />

Quando pensamos, necessariamente estamos visualizando o passado.<br />

No entanto, não tratamos de fatos, e sim de nossas percepções sobre os<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

16


Pensar, Sentir e Querer<br />

fatos. O cérebro trabalha somente com o imaterial, o que significa que<br />

para to<strong>da</strong>s as coisas físicas com as quais fazemos contato com os nossos<br />

sentidos, nossa mente cria rep<strong>res</strong>entações.<br />

O cérebro é a parte mais fria do corpo humano, o que sinaliza para<br />

algumas <strong>da</strong>s características do pensar: racionali<strong>da</strong>de, lógica e clareza.<br />

Usualmente pode ser que tentemos ler os outros por meio <strong>da</strong> dimensão<br />

do Pensar. O risco, neste caso, é utilizarmos as rep<strong>res</strong>entações do nosso<br />

passado para “enquadrar” a outra pessoa.<br />

A toma<strong>da</strong> de consciência no nível do Pensar ocorre ao nos abrirmos para<br />

compreender de fato as experiências, a biografia e a visão de mundo do<br />

outro, evitando julgamentos baseados nos nossos pensamentos.<br />

Sentir<br />

O Sentir está intimamente ligado ao tempo p<strong>res</strong>ente e é bastante volátil,<br />

de modo que frequentemente alternamos entre as polari<strong>da</strong>des de<br />

simpatia e antipatia. Nossos sentimentos fazem a ponte entre o pensar<br />

(cabeça) e o querer (membros).<br />

A temperatura do Sentir é quente e sua localização no corpo humano é no<br />

sistema rítmico, composto pelo coração, sistema circulatório e pulmões.<br />

Para trabalhar a dimensão do Sentir é necessário ter uma percepção mais<br />

apura<strong>da</strong> do que se passa em si e no outro: por um lado, entender como<br />

podemos melhorar nossa autopercepção e comunicar assertivamente<br />

nossas emoções; por outro, procurar ter plena atenção para acessarmos<br />

sentimentos que vêm à tona de maneira fugaz.<br />

Uma peça-chave para li<strong>da</strong>r bem com o nível do Sentir é buscar desenvolver<br />

a empatia. Aqui, empatia pode ser entendi<strong>da</strong> como a suspensão de nossas<br />

reações habituais de julgamento (simpatia e antipatia) ao acessarmos<br />

as experiências do outro. Melhoramos nossa empatia ao percebermos e<br />

frearmos nossas reações imediatas, praticando a escuta cui<strong>da</strong>dosa.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

17


Pensar, Sentir e Querer<br />

Querer<br />

A dimensão do Querer conecta-se com o futuro e está localiza<strong>da</strong> no<br />

sistema metabólico-motor (músculos, mãos, sistema digestório, pernas<br />

etc). Ela pode ser considera<strong>da</strong> uma polari<strong>da</strong>de em relação ao nível do<br />

Pensar: se este trabalha por meio <strong>da</strong> “desmaterialização” do mundo físico,<br />

o Querer dá forma concreta às imagens e rep<strong>res</strong>entações <strong>da</strong> nossa mente.<br />

O nível metabólico é a matriz do inconsciente: nossos instintos e desejos<br />

mais escondidos (até de nós mesmos). Por isso, compreender os quere<strong>res</strong><br />

de si e do outro não é fácil: requer experiências capazes de revelar as<br />

intenções e necessi<strong>da</strong>des mais profun<strong>da</strong>s. Duas perguntas importantes<br />

são: o que está por trás dos pensamentos e sentimentos envolvidos<br />

em <strong>da</strong><strong>da</strong> situação? Por que quero isso? Ain<strong>da</strong> que o Querer possa ser<br />

trabalhado por meio <strong>da</strong> conversa e <strong>da</strong> escuta, suas manifestações<br />

não costumam vir por meio <strong>da</strong> fala. A intuição desempenha um papel<br />

fun<strong>da</strong>mental.<br />

Para aplicar o Pensar, Sentir e Querer a contextos educativos, uma<br />

possibili<strong>da</strong>de é associá-los aos seus “objetos de trabalho”. O Pensar<br />

conecta-se fortemente ao conteúdo; o Sentir é muito influenciado pelas<br />

nossas interações; e o Querer trabalha com procedimentos e formatos.<br />

O balanceamento e o fluir entre esses três elementos são essenciais para<br />

propiciar estratégias pe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s.<br />

As ferramentas conti<strong>da</strong>s neste livro podem ser bastante úteis para aju<strong>da</strong>r<br />

a pensar diferentes alternativas de conteúdo, interação e procedimento,<br />

de modo a atender distintas necessi<strong>da</strong>des educativas.<br />

Para mergulhar<br />

• “<strong>Educação</strong> Integral”, Cosme D. B. Massi. Educacional. Link<br />

• “Waldorf integra o querer, o pensar e o sentir”, Ana Elizabeth Diniz. O<br />

Tempo. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

18


Quatro degraus <strong>da</strong> aprendizagem<br />

Fonte: Fotos e Fotos.<br />

Enxergar como ocorre o aprendizado<br />

Os quatro degraus <strong>da</strong> aprendizagem, conhecidos também como quatro<br />

estágios <strong>da</strong> competência, são uma forma de enxergar o prog<strong>res</strong>so<br />

que fazemos ao aprender algo novo. Imagine uma esca<strong>da</strong> com quatro<br />

degraus: a incompetência inconsciente, a incompetência consciente, a<br />

competência consciente e a competência inconsciente.<br />

Trata-se de um padrão comum aos processos de aprendizado. Quando o<br />

entendemos, isso nos aju<strong>da</strong> a aprendermos a aprender.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

19


Quatro degraus de aprendizagem<br />

Por quê?<br />

Existem várias formas de se entender como ocorrem os processos de<br />

aprendizagem. Os quatro estágios <strong>da</strong> competência conformam uma<br />

referência útil porque conseguem ser simples e amplos o suficiente para<br />

abarcar diversas situações que envolvem aprendizado. Ao escrever sobre<br />

os quatro degraus, optei por ap<strong>res</strong>entá-los partindo de uma metáfora – a<br />

esca<strong>da</strong> – para facilitar sua compreensão.<br />

O conhecimento a <strong>res</strong>peito dos quatro estágios de competência foi<br />

desenvolvido nos anos 70 por Noel Burch, nos Estados Unidos (há quem<br />

diga que Martin M. Broadwell escrevera sobre o assunto em 1969) 3 .<br />

Contudo, a sabedoria que inspirou o modelo é ancestral, já tendo sido<br />

manifesta<strong>da</strong> em várias culturas e em diferentes épocas. Por isso, os quatro<br />

estágios podem ser tomados como um arquétipo, de modo que estão<br />

p<strong>res</strong>entes na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de desde muito tempo atrás.<br />

Como?<br />

Igor Kokcharov. Fonte: Wikipedia.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

20


Quatro degraus de aprendizagem<br />

Suponhamos que você quer aprender a cozinhar. Se olharmos para esse<br />

processo por meio dos quatro degraus <strong>da</strong> aprendizagem, ficaria assim:<br />

Incompetência inconsciente<br />

É quando nem nos <strong>da</strong>mos conta do quão ignorantes somos. Não<br />

reconhecemos o quanto teremos que nos esforçar caso queiramos<br />

aprender algo.<br />

Por isso, você já se acha um hábil cozinheiro e não percebe o valor de<br />

praticar e ler mais sobre o assunto.<br />

Para passar à próxima fase, é preciso ser sensibilizado.<br />

Incompetência consciente<br />

De repente, você começa a sair com alguém que lhe fala que o seu<br />

macarrão com legumes está completamente malcozido e destemperado.<br />

Não é fácil aceitar a crítica, mas agora você pelo menos sabe que não<br />

sabe.<br />

Nesta fase a ficha cai. Passamos a reconhecer o valor de aprender algo.<br />

Para subir de degrau, o fun<strong>da</strong>mental é errar e reelaborar.<br />

Competência consciente<br />

Você já consegue fazer alguns pratos saborosos. Ao sair com outra pessoa<br />

(a primeira acabou te dispensando...) você monta um cardápio árabe<br />

completo, mas passa todo o tempo na cozinha certificando-se de que tudo<br />

vai sair do jeito que você planejou.<br />

Finalmente passamos a entender ou fazer bem algo, mas temos que ficar<br />

pensando naquilo exaustivamente. Dividimos os processos em partes<br />

meno<strong>res</strong> para nos sentirmos mais seguros, e ain<strong>da</strong> assim precisamos<br />

estar concentrados o tempo todo.<br />

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21


Pensar, Sentir e Querer<br />

Para chegar à última etapa, o mais importante é praticar.<br />

Competência inconsciente<br />

Você passou a praticar tanto que se tornou chef de cozinha! Nesta fase,<br />

incorporamos a habili<strong>da</strong>de e deixamos de nos preocupar ao exercê-la.<br />

Fazemos tudo de forma natural e automática e somos reconhecidos como<br />

pessoas que “sabem o que estão fazendo”.<br />

O mais importante nessa etapa é compartilhar o que se sabe.<br />

Existem auto<strong>res</strong> que propõem, ain<strong>da</strong>, um quinto estágio que pode<br />

ser chamado de “competência reflexiva” 4 . Trata-se de ultrapassar<br />

a inconsciência <strong>da</strong> quarta fase para <strong>da</strong>r lugar a uma postura mais<br />

informa<strong>da</strong>, de alguém que “sabe do que sabe”. Chegar no quinto degrau<br />

é importante para ampliarmos nossa capaci<strong>da</strong>de de compartilhar o que<br />

aprendemos.<br />

Os quatro degraus <strong>da</strong> aprendizagem integram um modelo que pode ser<br />

útil a qualquer um inte<strong>res</strong>sado em aprender. Gesto<strong>res</strong> também podem<br />

aproveitá-lo para criar ambientes favoráveis à aprendizagem. Subir de<br />

degrau fica mais fácil quando conseguimos enxergar a esca<strong>da</strong>!<br />

Para mergulhar<br />

• “Os quatro estágios <strong>da</strong> competência em qualquer tarefa”, Fabio<br />

Bracht. Papo de Homem. Link<br />

• “Four stages of competence”. Wikipedia. Link<br />

• “Conscious competence learning model”. Businessballs.com. Link<br />

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Silêncio<br />

Inner Silence Medi<strong>da</strong>tion Retreat, New Year’s 2013. Fonte: Youtube.<br />

Silenciar vai muito além <strong>da</strong> calma<br />

Ficar em silêncio pode propiciar mais espaço interno para a<br />

aprendizagem. Desde pequenos momentos durante o dia a longas<br />

meditações, a prática do silêncio é uma alia<strong>da</strong> em potencial em diversos<br />

momentos. Geralmente associado às tradições filosóficas orientais, o<br />

ato de permanecer conscientemente em silêncio (externo e interno) tem<br />

ganhado legitimi<strong>da</strong>de também nas culturais ocidentais.<br />

Por quê?<br />

Temos ca<strong>da</strong> vez menos oportuni<strong>da</strong>des de nos manter em silêncio. No<br />

prédio onde moro, os ruídos externos são constantes durante todo o<br />

dia. Na minha cabeça, os sons internos (julgamentos e preocupações)<br />

parecem não querer desaparecer. Com a internet e os smartphones, as<br />

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23


Silêncio<br />

possibili<strong>da</strong>des de interação ampliaram-se exponencialmente. O sossego<br />

tornou-se mais difícil: nas viagens, nos locais públicos, no trabalho...<br />

Tudo isso revela também uma reação de igual força, mas oposta. Há<br />

diversos movimentos em defesa <strong>da</strong> importância de momentos de silêncio.<br />

E não são somente religiões ou correntes espiritualistas. De acordo com<br />

Paul Haider 5 , os efeitos do silêncio para a saúde são abun<strong>da</strong>ntes:<br />

• Diminuição <strong>da</strong> p<strong>res</strong>são arterial, fazendo com que encaremos<br />

melhor os desafios cotidianos;<br />

• Recarga <strong>da</strong> mente, de modo a ampliar nossas capaci<strong>da</strong>des<br />

cognitivas;<br />

• Aumento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de manter o foco no que importa;<br />

• Redução dos níveis de cortisol e adrenalina, fazendo-nos sentir<br />

mais calmos;<br />

• Fortalecimento do sistema imunológico, aumentando nossas<br />

defesas naturais; etc.<br />

Além dos benefícios corpóreos e mentais, <strong>res</strong>s<strong>alta</strong>-se a capaci<strong>da</strong>de do<br />

silêncio em nos fazer imergir no nosso mundo interno. Silenciar-se pode<br />

ser um ótimo exercício de propriocepção, a habili<strong>da</strong>de de perceber as<br />

sensações e acontecimentos do próprio corpo. Com isso, ganhamos<br />

maestria sobre ele. Juliana Vilarinho, <strong>da</strong> Brahma Kumaris, afirma que<br />

existem dois níveis de maestria que podem ser trabalhados por meio do<br />

silêncio 6 :<br />

“O primeiro é ser máster dos órgãos dos sentidos. Ser máster do<br />

corpo físico. O segundo passo <strong>da</strong> maestria é ser mestre dos órgãos<br />

sutis — mente, intelecto e sanskaras (termo em sânscrito cujo significado<br />

se assemelha ao subconsciente)”<br />

Tornar-se mestre soberano do próprio corpo, inclusive de suas dimensões<br />

mais escondi<strong>da</strong>s, tem um efeito claro sobre a quali<strong>da</strong>de de nossas<br />

decisões e atitudes. Por isso, o silêncio merece ser experimentado.<br />

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24


Silêncio<br />

Como?<br />

É curioso como tantos professo<strong>res</strong> vivem pedindo silêncio nas salas de<br />

aula e não o têm. O silêncio genuíno poderia ser de grande valia nas<br />

escolas. No entanto, o que estamos tratando aqui não tem na<strong>da</strong> a ver<br />

com ficar quieto impositivamente para que alguém possa “professar”.<br />

Praticar o silêncio é útil quando se faz por vontade própria. No início,<br />

alguns instantes bastam; depois, cinco minutos, dez, e assim se evolui aos<br />

poucos.<br />

Respire. Inspire fundo e convide o ar para se retirar devagar, como se ele<br />

estivesse na casa de um amigo querido e não quisesse ir embora. Feche<br />

os olhos, e <strong>res</strong>pire mais duas ou três vezes. Esteja num lugar silencioso de<br />

preferência, mas o essencial é criar o silêncio dentro de si. Vá percebendo<br />

o que acontece com você. Como você está? De ver<strong>da</strong>de, como está o<br />

seu corpo? Nota alguma sensação? O que você está sentindo? Quais<br />

pensamentos aparecem? (um amigo me disse certa vez para meditar<br />

imaginando uma praia, e ca<strong>da</strong> on<strong>da</strong> era um pensamento. Por serem<br />

on<strong>da</strong>s, rapi<strong>da</strong>mente os pensamentos iam embora...)<br />

Caminhar silenciosamente também pode ser um bom exercício de<br />

meditação. Juliana Vilarinho recomen<strong>da</strong> que não desviemos o olhar <strong>da</strong>s<br />

pessoas durante o silêncio: encontre-as com os olhos e sorria para elas.<br />

Ficar em silêncio em grupo também pode ser uma experiência poderosa,<br />

assim como fazer refeições silenciosamente na companhia de outras<br />

pessoas. Para alguns, até mesmo pequenos instantes sem palavras<br />

em grupo podem soar aterrorizantes: parece que algo está errado. No<br />

entanto, honrar os silêncios coletivos é uma ótima forma de potencializar<br />

a sabedoria de um grupo. É preciso saber, contudo, a razão: se as pessoas<br />

estão em silêncio porque querem, ou se estão sendo silencia<strong>da</strong>s.<br />

Um caminho que pode facilitar a conexão com o mundo interno durante o<br />

silêncio é a escrita. Não se trata de escrever sobre o que está fora, e sim de<br />

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25


Silêncio<br />

relatar o que se passa por dentro. Nesse caso, é importante não julgar o que<br />

vier: se você sente raiva ou frustração, se tem pensamentos dos quais não<br />

se orgulha ou que te fazem mal, aceite-os para que então possam ir embora.<br />

Não tente racionalizá-los ou encontrar qualquer explicação ou justificativa.<br />

Existem diversas oportuni<strong>da</strong>des de se experimentar o poder do silêncio<br />

em retiros e imersões. Uma delas é a meditação Vipassana, de origem<br />

budista e cuja tradução quer dizer “ver a reali<strong>da</strong>de como ela se ap<strong>res</strong>enta”.<br />

Os cursos de Vipassana costumam durar 10 dias nos quais o silêncio é<br />

praticado integralmente. No Brasil, vários locais oferecem Vipassana: um<br />

deles é o Centro de Meditação Dhamma Santi, em Miguel Pereira, RJ.<br />

Incorporar o silêncio na vi<strong>da</strong> cotidiana pode ser uma ótima forma não<br />

só de tranquilizar a si, como também apaziguar quem nos rodeia. Como<br />

Juliana Vilarinho afirma, ficar cara a cara com nosso mundo interno “é<br />

uma jorna<strong>da</strong> muito bonita que nem sempre temos a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

experimentar” 7 .<br />

Para mergulhar<br />

• “The Health Benefits of Silence”, Paul Heider. OMTimes. Link<br />

• “Nós testamos: retiro de Vipassana”, Bruno Amado. Personare. Link<br />

• “Dicas de como praticar silêncio”, Juliana Vilarinho. Brahma<br />

Kumaris. Link<br />

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Mantras<br />

Fonte: Asia-Pictu<strong>res</strong>.<br />

Energia em forma de som: significado e intenção<br />

Mantras são sons de poder místicos cantados repeti<strong>da</strong>mente e cuja<br />

origem remete ao hinduísmo. São encontrados até hoje em diferentes<br />

religiões e caminhos espirituais, os quais acreditam que sua vibração<br />

sonora pode ter diversos efeitos benéficos sobre nosso corpo e nossa<br />

mente. Há várias possibili<strong>da</strong>des de significado para a palavra mantra, mas<br />

uma delas refere-se à “liberação <strong>da</strong> mente”: Man em sânscrito quer dizer<br />

mente, e Tra significa libertação.<br />

Por quê?<br />

Costuma-se associar os mantras a práticas meditativas, mas os efeitos de<br />

sua entoação vão muito além de esvaziar a mente, segundo as tradições<br />

espirituais que os praticam (o hinduísmo, o budismo e o jainismo, por<br />

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27


Mantras<br />

exemplo). A principal premissa por trás dos mantras sustenta que as<br />

palavras carregam e desencadeiam efeitos energéticos. Existe um nível<br />

relacionado ao significado – sentido que historicamente se atribui às<br />

combinações de sons – e outro que se refere à intenção, isto é, nossa<br />

motivação pessoal ao dizermos ca<strong>da</strong> palavra.<br />

Ambos os níveis se baseiam na energia. Ao recitar um mantra, criamos<br />

uma vibração sonora que traz consigo seu “caminho energético”, isto é,<br />

uma marca no inconsciente coletivo opera<strong>da</strong> pelas gerações anterio<strong>res</strong><br />

que entoaram o mesmo canto. Isso contribui para que o mantra provoque<br />

de fato os efeitos que lhe são apregoados. Se somarmos a isso uma forte<br />

intenção pessoal, os efeitos tendem a se ampliar.<br />

Acredita-se que o mantra seja uma forma de energizar o prana ou a<br />

energia essencial de ca<strong>da</strong> ser humano. O mestre místico sufi Vilayat Inayat<br />

Khan explica <strong>da</strong> seguinte forma 8 :<br />

“A prática do mantra literalmente amassa a carne do corpo com a<br />

repetição de sons. As células delica<strong>da</strong>s dos complexos feixes de nervos são<br />

submeti<strong>da</strong>s a um martelar constante, um ataque à carne pelas vibrações<br />

do som divino”.<br />

Existem cantos para facilitar a meditação, para adormecer ou despertar,<br />

para desenvolver chakras específicos, para obter clareza, conquistar<br />

amigos e até mesmo para curar doenças. Alguns mantras também são<br />

utilizados em plantas, animais e na água com o intuito de harmonização e<br />

energização.<br />

As tradições espirituais orientais há muito tempo são estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo<br />

Ocidente. Atualmente, suas práticas têm ganhado grande relevância<br />

nos campos mais racionais e científicos – basta ver o movimento<br />

de mindfulness norte-americano. Os mantras estão inseridos neste bojo.<br />

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28


Mantras<br />

Como?<br />

Os mantras, assim como outras práticas meditativas, têm sido utilizados<br />

com sucesso em escolas. No Centro de Apoio O Visconde, zona oeste de<br />

São Paulo, as mais de 100 crianças matricula<strong>da</strong>s começaram a fazer ioga<br />

e meditação todos os dias. Os reflexos positivos na convivência entre os<br />

educandos foram nítidos, e alguns até chegam a melhorar suas notas.<br />

Os mantras podem auxiliar-nos em questões do cotidiano, seja<br />

como apoio em alguma decisão ou atitude que precisemos tomar ou<br />

simplesmente nos fazendo mais <strong>res</strong>ilientes. Algumas correntes espirituais<br />

acreditam que os mantras devem ser repetidos 108 vezes e utilizam um<br />

instrumento chamado japamálá para aju<strong>da</strong>r na contagem.<br />

Japamálá. Fonte: Rufi Sora.<br />

No site do Centro de Yoga Vajrapani é possível encontrar uma extensa<br />

lista de mantras indianos com efeitos diversos. Os cantos podem ser<br />

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29


Mantras<br />

recitados individualmente ou em grupo e em voz baixa ou <strong>alta</strong>, desde que<br />

haja repetição — necessária para que a energia atue. Selecionei dois cujos<br />

efeitos têm relação direta com a aprendizagem:<br />

• Mantra para alcançar sucesso nos estudos, na música e nos<br />

empreendimentos artísticos<br />

Om Eim Saraswatiyei Swaha<br />

Om e sau<strong>da</strong>ções ao princípio feminino Saraswati.<br />

• Mantra para adquirir confiança e força interior<br />

Om Eim Hrim Klim Chamun<strong>da</strong>yei Vichei Namaha<br />

Om e sau<strong>da</strong>ções àquela que irradia poder e sabedoria.<br />

A tradição espiritual indiana aposta na transcendência <strong>da</strong> mente. O<br />

Ocidente insiste em sua supervalorização. O aprendizado que os mantras<br />

propõem tem mais a ver com harmonização e sabedoria e menos com<br />

conhecimento racional.<br />

Para mergulhar<br />

• “Mantra”. Wikipédia. Link<br />

• “Mantras indianos”. Centro de Yoga Vajrapani. Link<br />

• “Mantras, Healing Music and Sounds”. Spiritual Journeys. Link<br />

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Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

Fonte: Giacomelli Blog.<br />

Todos sabemos desenhar uma árvore, não é?<br />

A Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> é uma metodologia desenvolvi<strong>da</strong> por Ncazelo Ncube<br />

em Ugan<strong>da</strong>, no contexto de um trabalho com crianças em situação de<br />

vulnerabili<strong>da</strong>de. O objetivo, no início, era reconectar essas crianças com<br />

suas famílias, seus valo<strong>res</strong> e sua herança cultural.<br />

A partir <strong>da</strong>s metáforas dos elementos de uma árvore (raízes, solo, caule,<br />

galhos, flo<strong>res</strong>, frutos, sementes), ca<strong>da</strong> pessoa é convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a desenhar uma<br />

árvore que rep<strong>res</strong>ente sua vi<strong>da</strong>, a apreciar as “árvo<strong>res</strong>” dos outros, a falar<br />

sobre seus desafios pessoais e a celebrar o melhor de ca<strong>da</strong> um.<br />

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Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

Por quê?<br />

A natureza, desde o início <strong>da</strong> nossa história, é fonte de significado.<br />

De acordo com a facilitadora e consultora Lígia Pimenta, a Árvore<br />

<strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> pretende “construir o território de identi<strong>da</strong>de e o sentido de<br />

pertencimento e <strong>res</strong>gatar a conexão dos indivíduos com o lugar em que<br />

estão inseridos no mundo” 9 . Ela pode ser muito útil, ain<strong>da</strong>, para fortalecer<br />

o autoconhecimento de indivíduos, os vínculos de um grupo e a missão de<br />

uma organização.<br />

Como?<br />

A Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> é uma ferramenta narrativa e dialógica que pode ter<br />

diferentes aplicações, desde a utilização com crianças em escolas e ONGs<br />

até o trabalho com executivos de emp<strong>res</strong>as. É possível aproveitá-la tanto<br />

de modo individual como coletivo — neste caso, a metáfora <strong>da</strong> flo<strong>res</strong>ta é<br />

aciona<strong>da</strong>.<br />

Abaixo segue um exemplo de aplicação com jovens e adultos que busca<br />

promover momentos de reflexão e autoconsciência entre os participantes.<br />

Trata-se de uma versão mais simples e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> de uma ativi<strong>da</strong>de que<br />

geralmente tem quatro momentos, “A Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”, “A Flo<strong>res</strong>ta <strong>da</strong><br />

Vi<strong>da</strong>”, “As Tempestades <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>” e “Certificados e Músicas” 10 .<br />

Você vai precisar de folhas sulfite, post-its e canetas colori<strong>da</strong>s. Lápis de cor<br />

e giz de cera também podem ser utilizados.<br />

Convide as pessoas para pensar em algum tipo de árvore que faça sentido<br />

em suas vi<strong>da</strong>s. Peça a elas para desenhá-la <strong>da</strong> forma mais exp<strong>res</strong>siva que<br />

puderem. Separe alguns minutos para que os participantes reflitam sobre<br />

os significados <strong>da</strong>quela árvore para si mesmos. Oriente-os a escrever<br />

sucintamente o que eles veem de significado em ca<strong>da</strong> componente <strong>da</strong><br />

árvore. Se quiser, você pode comentar um pouco sobre as possibili<strong>da</strong>des<br />

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Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

de sentido de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s partes:<br />

• Raízes: rep<strong>res</strong>entam as heranças e as tradições. Uma raiz é uma<br />

estrutura nutritiva essencial para que ca<strong>da</strong> um tenha se tornado<br />

o que é no p<strong>res</strong>ente;<br />

• Solo: é o aqui e agora, podendo aludir a to<strong>da</strong>s as características<br />

do nosso viver atual: trabalho, família, casa, ci<strong>da</strong>de, projetos dos<br />

quais participamos, etc;<br />

• Caule: são as habili<strong>da</strong>des, competências, valo<strong>res</strong>, quali<strong>da</strong>des<br />

e sabe<strong>res</strong> que carregamos conosco. É o eixo de sustentação que<br />

nos permite construir o futuro que desejamos;<br />

• Galhos: rep<strong>res</strong>entam as esperanças, expectativas, desejos e<br />

sonhos em relação à vi<strong>da</strong>;<br />

• Flo<strong>res</strong>: significam o olhar para o que já se tem de bom, para as<br />

conquistas em curso e as pequenas vitórias. Podem se referir<br />

também ao que sentimos que está mais vivo em nós;<br />

• Frutas: são os p<strong>res</strong>entes que recebemos ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, ou<br />

seja, atos de cui<strong>da</strong>do e amor que podem ser de cunho material<br />

ou não. Também podem rep<strong>res</strong>entar o valor que nós<br />

entregamos ao mundo com as nossas ações;<br />

• Folhas: podem se referir às pessoas, parceiros, amigos, grupos e<br />

instituições que marcaram nossa vi<strong>da</strong>.<br />

• Sementes: simbolizam o nosso legado, ou o que queremos<br />

plantar para que flo<strong>res</strong>ça no futuro.<br />

Peça às pessoas para encontrar uma dupla e ap<strong>res</strong>entar a árvore a ela<br />

(de cinco a dez minutos ca<strong>da</strong> ap<strong>res</strong>entação). Entregue post-its a ca<strong>da</strong><br />

dupla para que os participantes possam anotar pensamentos, ideias,<br />

lembranças e associações enquanto falam e escutam. Ao final, ca<strong>da</strong> um<br />

procura uma nova dupla e repete o processo. Depois, mais uma vez — a<br />

ca<strong>da</strong> ro<strong>da</strong><strong>da</strong>, a ideia é que as pessoas se enxerguem melhor a partir do<br />

contato com o outro.<br />

Após as ap<strong>res</strong>entações, monte um círculo de cadeiras e convide as<br />

pessoas para uma ro<strong>da</strong> de conversa. Você pode propor perguntas como<br />

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33


Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong><br />

“como vocês se sentiram ao desenhar a árvore?”, como se sentiram<br />

compartilhando-a com as outras pessoas?”, “como se sentiram escutando<br />

as ap<strong>res</strong>entações?”, “o que chamou mais a atenção em todo o processo?”<br />

etc.<br />

Existem diversas outras possibili<strong>da</strong>des de aplicação, como desenhar a<br />

árvore atual e a árvore deseja<strong>da</strong>, criar coletivamente a árvore do grupo ou<br />

<strong>da</strong> organização a partir do “bosque” de árvo<strong>res</strong> individuais, dentre outras.<br />

As metáforas <strong>da</strong> natureza são de fácil assimilação e, por isso, podem levar<br />

a descobrimentos poderosos.<br />

Para mergulhar<br />

• Árvore <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>, Lígia Pimenta. Grupo de Voluntariado<br />

Emp<strong>res</strong>arial. Link<br />

• “Tree of Life”. Psychosocial Wellbeing Series. REPSSI. Link<br />

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Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

“What Makes a Hero?” Matthew Winkler. Fonte: Youtube.<br />

Herói é aquele que se transforma e aprende<br />

A jorna<strong>da</strong> do herói é um padrão narrativo identificado por Joseph<br />

Campbell em diversas histórias antigas e contemporâneas <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de. Campbell, um estudioso <strong>da</strong> mitologia, investigou<br />

sistematicamente mitos e histórias de culturas distintas e observou um<br />

“fio condutor” entre elas.<br />

Posteriormente Christopher Vogler, roteirista de Hollywood, sumarizou<br />

as descobertas de Joseph Campbell num memorando elaborado para<br />

os estúdios Disney. O documento influenciou intensamente roteiros de<br />

cinema e ajudou a disseminar o trabalho de Campbell pelo mundo. Hoje, a<br />

jorna<strong>da</strong> do herói é toma<strong>da</strong> como base para uma varie<strong>da</strong>de de histórias de<br />

ficção.<br />

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Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

Por quê?<br />

A jorna<strong>da</strong> do herói costuma ser ap<strong>res</strong>enta<strong>da</strong> por meio de 12 momentos<br />

bem definidos, que juntos conformam um ciclo. Ao chegar ao final de sua<br />

jorna<strong>da</strong> o herói, no entanto, não retorna no mesmo patamar que originou<br />

sua busca. Ca<strong>da</strong> um dos doze passos aju<strong>da</strong> a conformar um trajeto<br />

cujo propósito, no limite, é a transformação <strong>da</strong>quele que ousou iniciar<br />

a jorna<strong>da</strong>. Esse movimento cíclico pode ser compreendido por meio <strong>da</strong><br />

figura <strong>da</strong> espiral.<br />

A ca<strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>, o herói parte do seu mundo comum para explorar<br />

um novo universo. Após vencer uma série de desafios, ele retorna ao<br />

mundo conhecido tendo desenvolvido seus pode<strong>res</strong>, com novos papéis a<br />

desempenhar e, principalmente, com muitas histórias e conhecimentos a<br />

serem compartilhados.<br />

Qualquer semelhança com a trajetória de um percurso de aprendizagem<br />

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36


Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

não é mera coincidência. Yaacov Hetch, educador israelense pioneiro <strong>da</strong>s<br />

escolas democráticas, sistematizou uma teoria educativa que denominou<br />

de “aprendizagem pluralista” 11 . Em suma, uma <strong>da</strong>s premissas desse<br />

modelo é que, ao mesmo tempo em que construímos conhecimento,<br />

também se amplia proporcionalmente nossa “f<strong>alta</strong> de conhecimento” (lack<br />

of knowledge). Por meio de percursos cíclicos de aprendizagem – também<br />

rep<strong>res</strong>entados por uma espiral –, retornamos ao nosso mundo<br />

conhecendo mais, mas também nos questionando mais.<br />

Aplicando o modelo à jorna<strong>da</strong> do herói, tem-se que ca<strong>da</strong> vez que ele<br />

retorna de uma aventura, suas perguntas c<strong>res</strong>cem na medi<strong>da</strong> dos novos<br />

sabe<strong>res</strong> e experiências acumula<strong>da</strong>s. Talvez seja por isso que o herói<br />

sempre anseia por embarcar numa nova jorna<strong>da</strong>. Se todos nós temos um<br />

“quê” de herói, a jorna<strong>da</strong> pode ser uma boa lente para compreendermos<br />

nossos próprios caminhos de aprendizado.<br />

Como?<br />

Fonte: Não Me Condene.<br />

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Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

Os 12 passos <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> do herói podem ser ordenados <strong>da</strong> seguinte<br />

maneira:<br />

Pense em histórias como Matrix, Star Wars e Harry Potter, cujos enredos<br />

seguem de forma muito próxima esse caminho. Há também uma divisão<br />

em três atos – Ap<strong>res</strong>entação, Conflito e Resolução – detalhados abaixo:<br />

Ato I — Ap<strong>res</strong>entação<br />

Mundo comum<br />

É o mundo conhecido, habitual do herói. Não há surp<strong>res</strong>as: o herói é<br />

ap<strong>res</strong>entado em sua vi<strong>da</strong> banal.<br />

Chamado à aventura<br />

O herói ouve de algo ou alguém um chamado para iniciar sua jorna<strong>da</strong>. O<br />

chamado tem um propósito urgente e intransferível.<br />

Recusa do chamado<br />

O herói recebeu o chamado, mas escolhe por não o escutar, geralmente<br />

porque sente medo.<br />

Encontro com o mentor (ou aju<strong>da</strong> sobrenatural)<br />

Algo ou alguém surge para o herói e uma relação de apoio é estabeleci<strong>da</strong>.<br />

O mentor geralmente é uma figura sábia, que guia o herói durante parte<br />

de sua jorna<strong>da</strong>. É possível haver vários mento<strong>res</strong>.<br />

Travessia do primeiro limiar<br />

É a entra<strong>da</strong> do herói no mundo desconhecido, a aceitação do chamado.<br />

Rep<strong>res</strong>enta um momento crucial, de tal modo que o herói não pode mais<br />

voltar atrás.<br />

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38


Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

Ato II — Conflito<br />

O ventre <strong>da</strong> baleia (testes, aliados e inimigos)<br />

Uma vez no mundo desconhecido, a aventura tem início. O herói é<br />

testado, conquista aliados e luta contra os primeiros inimigos, e com isso<br />

aprende as “regras do jogo” do novo universo.<br />

Aproximação <strong>da</strong> caverna oculta<br />

O herói chega no local mais perigoso <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>, onde se encontra o que<br />

lhe causa mais medo.<br />

Provação suprema<br />

Momento em que o herói enfrenta sua ameaça mais temi<strong>da</strong>. Durante a<br />

luta, o herói precisa morrer – seja literal ou metaforicamente – para então<br />

renascer capaz de derrotar seu maior inimigo. Depois de quase perder, ele<br />

enfim vence a batalha.<br />

Recompensa<br />

Após derrotar seu maior inimigo, o herói obtém uma recompensa,<br />

geralmente rep<strong>res</strong>enta<strong>da</strong> por um elixir ou algum outro objeto. A recompensa<br />

pode também vir na forma de novos aprendizados e de reconhecimento.<br />

Ato III — Resolução<br />

Caminho de volta<br />

O herói precisa retornar ao mundo conhecido, mas a volta não será fácil.<br />

Seus inimigos preparam-lhe um golpe final.<br />

Ressurreição<br />

Ao fazer a viagem de retorno para o seu mundo, o herói é surpreendido<br />

e precisa enfrentar a batalha final. Nessa luta, ele precisa aplicar todos<br />

os aprendizados que teve durante a jorna<strong>da</strong>. Ao conseguir a vitória, o<br />

herói renasce, isto é, transforma-se de dentro para fora. O renascimento<br />

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39


Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

rep<strong>res</strong>enta a purificação necessária para que ele possa retornar ao mundo<br />

comum.<br />

Retorno com o elixir<br />

O herói retorna ao seu mundo e carrega consigo a recompensa <strong>da</strong><br />

jorna<strong>da</strong>. Tendo feito todo o percurso, ele agora é capaz de colher os<br />

frutos. O herói goza de mais liber<strong>da</strong>de, compartilha seus aprendizados e<br />

faz algo em retribuição à sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

Existem muitos outros detalhes e entendimentos possíveis <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>.<br />

Uma complementação inte<strong>res</strong>sante é a descrição dos arquétipos<br />

(personagens simbólicos) que surgem durante o trajeto.<br />

Ao tomar contato com os 12 passos, que pontes poderiam ser feitas com a<br />

educação? Acredito que a jorna<strong>da</strong> do herói pode ser encara<strong>da</strong> como uma<br />

metáfora do nosso próprio percurso de desenvolvimento. É possível, por<br />

exemplo, fazer a si próprio as seguintes questões:<br />

Quais chamados eu tenho escutado? Quais tenho me recusado a escutar?<br />

Quem poderiam ser meus mento<strong>res</strong>? O que é importante para que eu<br />

cruze o limiar e inicie minha jorna<strong>da</strong>? Quem são meus aliados e quais são<br />

meus desafios? Do que eu tenho mais medo? Como eu poderia renascer<br />

para enfrentar o que me ameaça? Que recompensas eu poderia ter ao<br />

embarcar numa jorna<strong>da</strong>? Quais sabedorias eu quero compartilhar com os<br />

habitantes do meu mundo?<br />

To<strong>da</strong>s essas perguntas poderiam ser feitas à luz <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> do herói.<br />

Ao compreender o paradoxo <strong>da</strong> aprendizagem conforme eluci<strong>da</strong>do por<br />

Yaacov Hetch (mais conhecimento = mais questionamento), fica claro que<br />

a jorna<strong>da</strong> nunca termina. Aprender é pra vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong>.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

40


Jorna<strong>da</strong> do Herói<br />

Para mergulhar:<br />

• “A Jorna<strong>da</strong> do Herói descomplica<strong>da</strong> em 12 passos” [vídeo].<br />

Cabine Literária. Youtube. Link<br />

• “A Jorna<strong>da</strong> do Herói Mitológico”, Luiz Eduardo Ricón. II Simpósio<br />

RPG e <strong>Educação</strong>. Link<br />

• Arquétipos <strong>da</strong> Jorna<strong>da</strong> do herói. Heróis e Mitos. Link<br />

• “A Jorna<strong>da</strong> de Lucy (1ª parte)”, André Camargo. Obvious. Link<br />

• “A Jorna<strong>da</strong> de Lucy (2ª parte)”, André Camargo. Link<br />

• “The Hero Archetype in Literature, Religion, and Popular<br />

Culture”. Tat’s box. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

41


Criar e fortalecer laços<br />

Como transformar convivência<br />

em aprendência?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

42


World Café<br />

Fazendo emergir nossa inteligência coletiva<br />

O World Café é uma abor<strong>da</strong>gem de conversação em grupo bastante<br />

utiliza<strong>da</strong> em todo o mundo. Cria<strong>da</strong> por Juanita Brown e David Isaacs,<br />

a técnica é muito útil para estimular a criativi<strong>da</strong>de de um conjunto de<br />

pessoas por meio <strong>da</strong> interação e, assim, gerar (ou trazer à tona) sua<br />

inteligência coletiva.<br />

Desde quando o primeiro World Café ocorreu na Califórnia, em 1995, a<br />

utilização <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem foi sendo amplia<strong>da</strong> prog<strong>res</strong>sivamente. No site<br />

<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de global do World Café há um mapa com os registros de<br />

algumas de suas aplicações:<br />

Fonte: The World Café.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

43


World Café<br />

O World Café caracteriza-se pelos seguintes elementos:<br />

• É baseado em perguntas que estimulam os participantes a se<br />

engajarem em conversas significativas;<br />

• Há a disposição de grupos de quatro ou cinco pessoas em<br />

mesas redon<strong>da</strong>s no estilo de um Café;<br />

• São realiza<strong>da</strong>s ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s de conversa de 20 a 30 minutos ca<strong>da</strong><br />

que, ao se sucederem, originam o fenômeno <strong>da</strong> “polinização<br />

cruza<strong>da</strong>”, isto é, a conexão de ideias entre os participantes;<br />

• Escolhe-se livremente um “anfitrião” para ca<strong>da</strong> mesa, que<br />

permanecerá sentado durante as ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s e atualizará os novos<br />

convi<strong>da</strong>dos sobre os principais insights <strong>da</strong> ro<strong>da</strong><strong>da</strong> anterior;<br />

• As pessoas são encoraja<strong>da</strong>s a escrever, desenhar e rabiscar as<br />

ideias em cartolinas, post-its e até nas próprias toalhas de mesa;<br />

• Há ao final um momento de compartilhamento – chamado<br />

de colheita – com todos os participantes juntos, geralmente<br />

dispostos num formato circular, em que se conta o que mais<br />

chamou atenção nas conversas <strong>da</strong>s mesas.<br />

Fonte: ProJourno.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

44


World Café<br />

Por quê?<br />

Você já foi a um evento ou discussão e sentiu que seria muito mais<br />

produtivo se as pessoas pudessem simplesmente conversar entre si,<br />

mais do que assistirem a palestras? Uma <strong>da</strong>s premissas básicas do World<br />

Café é que todos têm conhecimento para compartilhar. Ca<strong>da</strong> um traz<br />

consigo seu leque de histórias, perspectivas, sonhos, ideias e sabedorias.<br />

Neste sentido, o Café torna possível quebrarmos a lógica broadcasting do<br />

“um para muitos” e enfatizar a visão sistêmica, por meio de conversas<br />

basea<strong>da</strong>s na horizontali<strong>da</strong>de e na colaboração.<br />

Outro aspecto do World Café é seu potencial de engajamento. Na medi<strong>da</strong> em<br />

que os participantes vão trocando de mesa, é como se a distância entre eles<br />

diminuísse. O World Café funciona como uma metáfora de nossas conversas<br />

cotidianas, que se cruzam formando redes de interação em escalas ca<strong>da</strong><br />

vez maio<strong>res</strong>. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que se nutre um<br />

ambiente de intimi<strong>da</strong>de (nas mesas), o engajamento c<strong>res</strong>ce por meio <strong>da</strong>s<br />

conexões entre perspectivas distintas (em todo o grupo). Ao final de um bom<br />

World Café, geralmente as pessoas não vão embora, elas permanecem na<br />

sala conversando. Isso é um ótimo indicativo de mobilização.<br />

O fato de a abor<strong>da</strong>gem poder conjugar um grande número de<br />

participantes com interações mais íntimas em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s mesas junta<br />

o melhor de dois mundos. Já houve Cafés com mais de 1000 pessoas<br />

sobre os mais variados assuntos. Por mais que conversar seja algo trivial,<br />

testar uma nova forma de interação pode trazer <strong>res</strong>ultados inte<strong>res</strong>santes<br />

justamente pelo fato de se cui<strong>da</strong>r com carinho do processo.<br />

Como?<br />

O World Café funciona muito bem com grupos de 16 a até milha<strong>res</strong><br />

de pessoas, desde que elas estejam genuinamente inte<strong>res</strong>sa<strong>da</strong>s nas<br />

perguntas feitas. Numa sala de aula, por exemplo, é possível criar um Café<br />

para que os educandos dialoguem sobre suas questões e ideias a <strong>res</strong>peito<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

45


World Café<br />

de um tema (é inte<strong>res</strong>sante que eles também participem <strong>da</strong> definição do<br />

que vai ser conversado).<br />

Ao sistematizar a abor<strong>da</strong>gem, Juanita Brown e a comuni<strong>da</strong>de global do<br />

World Café apontaram seis diretrizes a serem considera<strong>da</strong>s por quem<br />

pretende anfitriar um Café 12 :<br />

• Tenha consciência do propósito do seu World Café;<br />

• Crie um espaço receptivo e hospitaleiro;<br />

• Crie perguntas relevantes para os participantes;<br />

• Estimule as contribuições de todos;<br />

• Conecte perspectivas distintas;<br />

• Promova a escuta conjunta e compartilhe as descobertas.<br />

A utilização dos Cafés pode servir ain<strong>da</strong> a fins de pesquisa, no sentido<br />

de engajar diferentes públicos em diálogos frutíferos. Imagine, por<br />

exemplo, que você está estu<strong>da</strong>ndo comuni<strong>da</strong>des quilombolas: propor um<br />

World Café com a p<strong>res</strong>ença de rep<strong>res</strong>entantes de comuni<strong>da</strong>des distintas<br />

poderia ser uma ótima forma de fazer emergir os aspectos mais sutis do<br />

tema. Como a interação é a tônica do processo, abre-se espaço para o<br />

inesperado.<br />

Existem várias formas de aplicar o World Café, desde seu uso em políticas<br />

públicas até conversas estratégicas em emp<strong>res</strong>as. Algumas dicas:<br />

• Trabalhe muito bem a construção <strong>da</strong>s perguntas. Faça isso<br />

junto com alguns participantes do seu Café (eles saberão<br />

melhor do que ninguém se as questões são relevantes).<br />

• Não utilize o World Café caso sua intenção seja “transmitir”<br />

conhecimento ao grupo. Caso esse seja o objetivo, é melhor <strong>da</strong>r<br />

uma palestra ou uma aula.<br />

• No momento final <strong>da</strong> colheita, tenha uma forma de registrar<br />

visualmente a essência do que está sendo dito. Uma boa<br />

maneira de fazer isso é por meio <strong>da</strong> facilitação gráfica 13 .<br />

• Tenha atenção aos detalhes: as boas-vin<strong>da</strong>s aos participantes,<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

46


World Café<br />

a decoração <strong>da</strong>s mesas, a quali<strong>da</strong>de do espaço etc. Uma música<br />

de fundo durante as conversas também pode ser inte<strong>res</strong>sante.<br />

• O World Café pode ser parte de uma programação mais ampla<br />

que contemple também outros momentos (palestras, vivências,<br />

reflexões etc).<br />

Que tal experimentar o poder <strong>da</strong> inteligência coletiva com os grupos dos<br />

quais você já faz parte?<br />

Para mergulhar<br />

• “Diálogos colaborativos: aprendizado, diversão e experiências”,<br />

Paulo Campos. Mochileiro Corporativo. Exame. Link<br />

• “World Café Para Viagem”. The World Café. Link<br />

• “A <strong>res</strong>ource guide for the world café”, Juanita Brown e a<br />

comuni<strong>da</strong>de do World Café. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

47


Open Space<br />

Fonte: Wikipedia.<br />

Dando voz a todos<br />

O Open Space – traduzido por alguns como Tecnologia do Espaço<br />

Aberto – é uma forma de se realizar reuniões criativas partindo do que é<br />

mais importante para ca<strong>da</strong> grupo. A ideia é que coletivos possam se auto<br />

organizar para interagir em torno de temas complexos, estratégicos e<br />

urgentes.<br />

Útil a encontros de algumas dezenas de participantes a reuniões com<br />

mais de mil pessoas, o Open Space caracteriza-se como uma abor<strong>da</strong>gem<br />

autogeri<strong>da</strong>, não proprietária e <strong>alta</strong>mente interativa. Pelo fato de os<br />

próprios participantes proporem e decidirem to<strong>da</strong> a agen<strong>da</strong>, as conversas<br />

de um Open Space tendem a sustentar um grande nível de engajamento.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

48


Open Space<br />

Por quê?<br />

O norte-americano Harrison Owen – quem primeiro sistematizou o Open<br />

Space – inspirou-se em elementos de culturas diversas para propor o<br />

método. Nota<strong>da</strong>mente, ao participar de um rito de uma aldeia situa<strong>da</strong> na<br />

Libéria, ele percebeu como to<strong>da</strong> a organização transcorria sem nenhuma<br />

coordenação central. As pessoas se <strong>res</strong>ponsabilizavam por diferentes<br />

espaços e tarefas, outras aju<strong>da</strong>vam, e as informações fluíam de um lugar<br />

para o outro sem dificul<strong>da</strong>de.<br />

Aglutinando o poder <strong>da</strong> auto-organização com outras inspirações<br />

basea<strong>da</strong>s no diálogo, Owen “iniciou” o Open Space como um formato que<br />

potencializa a diversi<strong>da</strong>de e o caos criativo. De certa forma, o método<br />

aju<strong>da</strong> a tornar visível a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s organizações e comuni<strong>da</strong>des<br />

que dele se utilizam. Isso porque o Open Space busca eliminar as regras<br />

impostas e abrir espaço para o que emerge do grupo.<br />

Durante um Open Space, abandonamos o automatismo de sempre termos<br />

as <strong>res</strong>postas prontas. Trata-se menos <strong>da</strong> competência específica de um<br />

consultor ou palestrante e mais <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de todos de cocriar. Dentre<br />

diversas abor<strong>da</strong>gens úteis à cocriação, o Open Space é uma <strong>da</strong>s que<br />

menos depende de um facilitador, o que contribui para a facili<strong>da</strong>de de sua<br />

aplicação.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

49


Open Space<br />

Fonte: Vinyl Baustein.<br />

Como?<br />

Um Open Space sempre tem um tema central que inte<strong>res</strong>sa a todos os<br />

participantes, geralmente orientado para a ação (um novo projeto, por<br />

exemplo). Diversas conversas ocorrem simultaneamente e podem tratar<br />

de assuntos distintos, desde que haja conexão com o tema proposto. As<br />

reuniões funcionam melhor quando têm temas urgentes, complexos e<br />

que despertem a diversi<strong>da</strong>de de pontos de vista.<br />

A agen<strong>da</strong> de um Open Space não é defini<strong>da</strong> a priori: to<strong>da</strong>s as pessoas<br />

juntas se reúnem no início e criam a pauta num grande círculo. Antes do<br />

início é preciso explicar os quatro princípios que guiam o Open Space:<br />

• “As pessoas que vierem são as pessoas certas”: abrir mão <strong>da</strong><br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

50


Open Space<br />

nossa expectativa em relação a quem deve vir na reunião.<br />

• “A hora que começar é a hora certa para começar”: abrir mão<br />

<strong>da</strong> nossa expectativa quanto ao horário de início <strong>da</strong>s sessões: as<br />

coisas acontecem quando estão prontas para acontecer.<br />

• “O que acontecer é a única coisa que poderia ter acontecido”:<br />

abrir mão <strong>da</strong> nossa expectativa sobre como as interações<br />

devem acontecer e para onde a conversa deve fluir.<br />

• “Quando acabar, acabou”: abrir mão <strong>da</strong> nossa expectativa no<br />

que se refere à quando devemos terminar uma conversa. Se<br />

terminar antes é porque tudo já foi tratado; caso a interação se<br />

esten<strong>da</strong>, talvez seja realmente necessário.<br />

Além desses quatro princípios, o Open Space é regido pela lei dos dois<br />

pés. Em suma, ela reafirma a <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um para com seu<br />

aprendizado e suas contribuições e confere a todos a liber<strong>da</strong>de de ir e vir.<br />

Assim, a ideia é que as pessoas participem do que realmente têm vontade,<br />

podendo sair de uma conversa sempre que entenderem que não estão<br />

fazendo a diferença ali. A lei dos dois pés permite o surgimento <strong>da</strong> figura<br />

<strong>da</strong>s “abelhas”— os participantes que levam informações de um grupo<br />

a outro — e <strong>da</strong>s “borboletas”, que podem optar por não participar de<br />

nenhum grupo para fazerem o que consideram mais importante. Às vezes,<br />

o encontro entre duas ou mais borboletas pode acabar inaugurando uma<br />

nova conversa.<br />

Após explicar os quatro princípios e a lei dos dois pés, o grupo começa<br />

a montar a agen<strong>da</strong> do Open Space. Todos são convi<strong>da</strong>dos a refletir por<br />

um momento em silêncio e em segui<strong>da</strong>, caso queiram, poderão oferecer<br />

sessões às quais queiram assumir <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de. Uma parede já deve<br />

estar prepara<strong>da</strong> com o esqueleto de uma tabela contendo os tempos e<br />

espaços <strong>res</strong>ervados para as sessões. Um Open Space pode durar de duas<br />

horas a até vários dias.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

51


Open Space<br />

Sala<br />

Principal<br />

Salão de<br />

Chá<br />

Lounge Biblioteca Jardim<br />

8:30 - 9:30 Encontro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

9:30 - 11:30<br />

11:00 - 13:00<br />

13:00 - 14:00 Almoço<br />

14:00 - 15:30<br />

14:00 - 17:30<br />

17:30 - 18:00 Convergência<br />

Exemplo de agen<strong>da</strong> de um Open Space.<br />

Após todos os espaços <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> estarem ocupados, os participantes<br />

aproximam-se do mural para olharem as ofertas e decidirem de quais<br />

sessões querem participar. Em segui<strong>da</strong>, as pessoas encaminham-se para<br />

suas sessões iniciais e os trabalhos começam.<br />

O participante que ofertou uma interação na agen<strong>da</strong> é <strong>res</strong>ponsável por<br />

facilitar a sessão e registrar a essência do que está sendo discutido.<br />

É comum que a tarefa de registro seja “delega<strong>da</strong>” a algum outro<br />

participante, para que ninguém fique sobrecarregado.<br />

A preparação de um Open Space é muito importante. O facilitador e<br />

os proponentes do encontro devem zelar para que to<strong>da</strong>s as pessoas<br />

que possam agregar perspectivas importantes para o tema sejam<br />

convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s. O momento final, geralmente feito numa grande plenária,<br />

é a oportuni<strong>da</strong>de de compartilhar os pontos cruciais de ca<strong>da</strong> sessão e<br />

comentar sobre como foi o processo. Nessa hora, pode ser inte<strong>res</strong>sante<br />

utilizar um objeto <strong>da</strong> fala (veja mais detalhes na ferramenta de mesmo<br />

nome).<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

52


Open Space<br />

O Open Space pode ser aplicado em situações diversas, desde que haja<br />

um tema “quente” e um grupo disposto a experimentar uma forma de<br />

trabalho colaborativa. Em escolas, por exemplo, o método pode ser<br />

uma boa forma de elaborar novas estratégias e solucionar desafios;<br />

em organizações, o Open Space pode servir para engajar todos os<br />

funcionários e partes inte<strong>res</strong>sa<strong>da</strong>s num novo projeto.<br />

Para mergulhar<br />

• “Open Space World”, versão em português. Link<br />

• “Textos sobre OST (Espaço Aberto)”. Instituto OST. Link<br />

• “Open Space: A User’s Guide”, Harrison Owen. Link<br />

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Pro Action Café<br />

Fonte: Leadership for Sustainability.<br />

Apostando no poder que temos de nos aju<strong>da</strong>r<br />

O Pro Action Café é uma metodologia de conversação em grupo cujo<br />

propósito é desenvolver projetos e aprofun<strong>da</strong>r ideias importantes para<br />

os participantes. Um Pro Action é capaz de transformar um grupo num<br />

“container” criativo, aproveitando a sabedoria coletiva que se revela nas<br />

interações.<br />

Cria<strong>da</strong> por Ria Baeck e Rainer von Leoprechting, a abor<strong>da</strong>gem surgiu na<br />

Bélgica a partir de uma mescla <strong>da</strong>s técnicas Open Space e World Café.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

54


Pro Action Café<br />

Por quê?<br />

O Open Space é um método para se criar reuniões cujos elementos<br />

principais são o forte senso de urgência e a liber<strong>da</strong>de radical. Por outro<br />

lado, o World Café tem o poder de “polinizar” conversas e, assim, revelar<br />

os padrões existentes e gerar engajamento.<br />

O Pro Action Café é abastecido por ambos os formatos. É capaz, portanto,<br />

de acolher as vontades do grupo por meio de uma agen<strong>da</strong> cocria<strong>da</strong>, ao<br />

mesmo tempo em que propõe algumas perguntas para sustentar as<br />

conversas.<br />

Assim como as duas abor<strong>da</strong>gens que lhe deram origem, o Pro Action Café<br />

altera a maneira habitual com que interagimos. Menos interrupções, mais<br />

escuta; ao invés de agen<strong>da</strong>s impostas, convites para o diálogo; antes <strong>da</strong>s<br />

<strong>res</strong>postas na ponta <strong>da</strong> língua, perguntas que fazem pensar. O que torna<br />

o Pro Action único, no entanto, é sua facili<strong>da</strong>de em revelar o potencial de<br />

aju<strong>da</strong> mútua disponível em qualquer grupo.<br />

Fonte: Metro HNL.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

55


Pro Action Café<br />

Como?<br />

O Pro Action pode ser aplicado tanto de forma totalmente livre, com as<br />

pessoas trazendo seus projetos e questões, ou a partir de um tema ou<br />

contexto específico. No caso dos Círculos de Doutorandos Informais, por<br />

exemplo, orientamos os participantes a trazerem seus próprios projetos<br />

de aprendizagem.<br />

Para fazer um Pro Action Café você vai precisar de materiais como<br />

canetinhas colori<strong>da</strong>s, folhas grandes, papéis tamanho A4, post-its e tudo o<br />

mais que ajude as pessoas a rabiscarem suas ideias enquanto conversam.<br />

Encontrar um espaço que seja acolhedor, tranquilo e informal também é<br />

imp<strong>res</strong>cindível para criar a atmosfera de um ver<strong>da</strong>deiro Café. No caso de<br />

grupos maio<strong>res</strong>, também será necessário montar um quadro num local<br />

visível a todos, de modo que funcione como o esqueleto <strong>da</strong> agen<strong>da</strong> a ser<br />

preenchido pelos participantes no início do encontro.<br />

O primeiro movimento é convi<strong>da</strong>r as pessoas a compartilharem seus<br />

projetos ou questões (não é necessário que todos o façam, somente quem<br />

quiser). Ca<strong>da</strong> um escreve numa folha o nome do projeto e, então, conta<br />

rapi<strong>da</strong>mente do que se trata para os demais participantes. É preciso que<br />

o número de pessoas ofertando projetos seja menor do que o total de<br />

participantes: a proporção 1:4 é perfeita. Isso significa que, se o grupo<br />

tem 40 pessoas, então dez participantes poderão propor projetos. Isso é<br />

importante para que todos os grupos tenham por volta de quatro pessoas,<br />

um número ideal para equilibrar diversi<strong>da</strong>de e intimi<strong>da</strong>de em ca<strong>da</strong> mesa.<br />

Após to<strong>da</strong>s as questões e projetos terem sido compartilhados, todos os<br />

outros participantes encaminham-se para as mesas que desejarem. O<br />

facilitador deve cui<strong>da</strong>r para que o número de pessoas por grupo fique<br />

equilibrado. Neste momento, é importante que o facilitador fale um pouco<br />

sobre algumas diretrizes que guiarão as conversas:<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

56


Pro Action Café<br />

• Falas na primeira pessoa (eu), partindo <strong>da</strong>s experiências dos<br />

participantes;<br />

• Utilização de um objeto <strong>da</strong> fala, como uma forma de tornar as<br />

conversas mais profun<strong>da</strong>s;<br />

• “Escavar” a fala do outro procurando por padrões e significados<br />

mais profundos, fazendo perguntas de exploração;<br />

• Estimular os participantes a escreverem e desenharem nas<br />

folhas que estarão à sua disposição nas mesas.<br />

Após explicar as diretrizes, os diálogos começam. A ideia é que os<br />

participantes que propuseram projetos possam interagir com as demais<br />

pessoas do seu grupo de modo a ampliar suas ideias e insights. Um Pro<br />

Action Café tem geralmente três ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s de conversação, ca<strong>da</strong> uma<br />

guia<strong>da</strong> por uma pergunta distinta 14 :<br />

• Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> 1: por quê/para quê? O que está por trás desta questão<br />

ou projeto? Qual é a missão que o projeto busca atender?<br />

• Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> 2: o que não estamos vendo? O que f<strong>alta</strong> para termos<br />

uma compreensão completa a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong> questão ou do<br />

projeto?<br />

• Ro<strong>da</strong><strong>da</strong> 3: quais os próximos passos? Quais aju<strong>da</strong>s são<br />

necessárias? O que eu aprendi nessa conversa?<br />

Ca<strong>da</strong> ro<strong>da</strong><strong>da</strong> dura em torno de 20 a 30 minutos e, ao final, as pessoas<br />

trocam de mesa. Permanecem apenas os “donos” dos projetos. As<br />

perguntas devem estar claras para os participantes e podem ser escritas<br />

em cartolinas afixa<strong>da</strong>s nas paredes. Pode ser inte<strong>res</strong>sante uma pequena<br />

pausa entre as ro<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Ao final, reúne-se as pessoas num círculo de<br />

cadeiras para conversar sobre como foi o processo. Quem propôs um<br />

projeto é convi<strong>da</strong>do a falar sobre como percebeu a evolução de sua ideia<br />

inicial, e os demais participantes são estimulados a compartilhar suas<br />

imp<strong>res</strong>sões e insights.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

57


Pro Action Café<br />

O Pro Action Café é um processo vivo, e assim como as duas abor<strong>da</strong>gens<br />

que o originaram, merece ser experimentado por qualquer grupo que<br />

deseja manifestar sua inteligência coletiva.<br />

Para mergulhar<br />

• “Verbete Draft: o que é Pro Action Café”, Isabela Mena. Projeto<br />

Draft. Link<br />

• “Pro Action Café”, Ria Baeck e Andries De Vos. Ning. Link<br />

• “Art of Hosting – Proaction Cafe” [vídeo]. Youtube. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

58


Aquário<br />

Fonte: Festival Path 2015.<br />

Diálogo focado e muito conhecimento compartilhado<br />

O Aquário é um formato de diálogo em grupo que busca tornar mais<br />

efetivos os papéis de fala e de escuta dos participantes. As pessoas são<br />

dispostas em dois círculos concêntricos (ou mais, a depender do número<br />

de participantes), de modo que somente quem está no círculo de dentro<br />

pode falar, e os demais exercem o poder <strong>da</strong> escuta. O nome Aquário<br />

rep<strong>res</strong>enta metaforicamente o movimento físico que os participantes<br />

precisam fazer para “mergulhar” na conversa.<br />

Por quê?<br />

O idealizador <strong>da</strong>s conversações em Aquário é desconhecido; há quem<br />

acredite que foi Peter Senge, consultor e autor de livros de aprendizagem<br />

organizacional. O problema que o Aquário busca <strong>res</strong>olver refere-se à<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

59


Aquário<br />

dificul<strong>da</strong>de que alguns grupos têm de conversar: numa reunião comum,<br />

pode ser que algumas pessoas monopolizem a conversa. Por outro lado,<br />

outros participantes acabam optando por não falar por medo de serem<br />

interrompidos ou julgados, ou simplesmente porque seu ritmo está mais<br />

lento do que o do grupo.<br />

Neste sentido, o Aquário favorece a valorização de quem fala e de quem<br />

escuta porque propõe uma movimentação tangível entre esses papéis. É<br />

preciso se levantar e ocupar uma cadeira do círculo de dentro para falar.<br />

O fato de haver um número limitado de assentos no centro indica que<br />

a conversa tem um foco claro, embora a participação de todos continue<br />

sendo estimula<strong>da</strong> por meio de uma cadeira que sempre deve ficar vazia.<br />

Por haver uma grande quanti<strong>da</strong>de de pessoas que escutam ativamente no<br />

círculo de fora, isso também reforça a quali<strong>da</strong>de do diálogo.<br />

Os círculos de fora também cumprem a função de minimizar o risco de<br />

alguém monopolizar a conversa. Caso isso aconteça, a pessoa estará em<br />

evidência e a probabili<strong>da</strong>de de que ela se dê conta é maior. Além disso,<br />

quem costuma ser muito calado também tende a se perceber mais, uma<br />

vez que a cadeira vazia “está sempre lá” para permitir as contribuições de<br />

todos. Desse modo, o Aquário promove o desenvolvimento <strong>da</strong> fala com<br />

intenção e <strong>da</strong> escuta com atenção.<br />

Outra razão para se experimentar o Aquário é o melhor aproveitamento<br />

do tempo. A frequência de interrupções inoportunas e distrações costuma<br />

ser bastante reduzi<strong>da</strong> em comparação ao formato de reunião tradicional.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

60


Aquário<br />

Como?<br />

Fonte:Wikipedia.<br />

Para se realizar um Aquário, você precisará apenas de cadeiras e de algo<br />

para registrar a conversa, como um painel ou um cavalete flipchart. Uma<br />

pessoa, então, <strong>res</strong>ponsabiliza-se por criar um registro visual que vai sendo<br />

atualizado simultaneamente à conversa.<br />

Para iniciar o Aquário, o facilitador pode <strong>da</strong>r as boas-vin<strong>da</strong>s aos<br />

participantes já sentado no círculo de dentro (isso aju<strong>da</strong> as pessoas a<br />

compreenderem que aquele é o lugar <strong>da</strong> fala). Ele explica brevemente<br />

o tema do encontro, como ocorrerá a interação e convi<strong>da</strong> as pessoas a<br />

entrarem no círculo de dentro. Pode ser inte<strong>res</strong>sante compartilhar uma<br />

pergunta-chave ou uma história que se conecte com o tema central.<br />

Os pontos principais que o facilitador precisa eluci<strong>da</strong>r em relação ao<br />

funcionamento do Aquário são os seguintes:<br />

• O círculo de dentro é onde o diálogo acontecerá.<br />

• O círculo de fora exerce uma função igualmente importante,<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

61


Aquário<br />

a <strong>da</strong> escuta. Todos que escutam são fun<strong>da</strong>mentais para a<br />

quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> conversa.<br />

• O elemento de conexão entre o círculo de dentro e o de fora é a<br />

cadeira vazia, que poderá ser ocupa<strong>da</strong> a qualquer momento,<br />

por qualquer pessoa.<br />

• A regra de ouro é: uma cadeira deve permanecer sempre<br />

vazia. Isso porque a possibili<strong>da</strong>de de todos participarem é<br />

crucial para se aproveitar ao máximo a sabedoria do grupo.<br />

• Não é preciso se preocupar com a movimentação de pessoas<br />

de um círculo para o outro. Isso ocorre de forma bastante<br />

orgânica, sem a necessi<strong>da</strong>de de intervenções. Quando alguém<br />

ocupa a cadeira vazia, alguém do círculo de dentro sai.<br />

• Os pontos essenciais <strong>da</strong> conversa serão registrados num painel<br />

visível a todos.<br />

Após essa introdução, pode ser que demore um pouco para os primeiros<br />

participantes ocuparem as cadeiras do círculo de dentro. Não se preocupe<br />

com isso. Momentos de silêncio são importantes, e poderão acontecer<br />

também durante o diálogo.<br />

Em momentos específicos, quem está facilitando pode entrar na conversa<br />

e abastecê-la com comentários sobre o processo ou novas perguntas<br />

(logo após uma pausa, por exemplo). Quando chegar a hora de finalizar o<br />

diálogo, o facilitador entra no círculo de dentro e encerra o Aquário.<br />

As aplicações do Aquário são diversas, e é notável sua utilização por<br />

educado<strong>res</strong>. Trata-se de uma ótima maneira de engajar os educandos em<br />

uma conversa produtiva. Outra forma é aproveitá-lo em eventos, de modo<br />

que palestrantes e participantes tenham um canal direto de interação.<br />

No caso, uma variação que pode ser útil é orientar os palestrantes a<br />

permanecerem no círculo de dentro durante to<strong>da</strong> a conversa.<br />

O Aquário funciona muito bem com grupos a partir de 15 pessoas. A<br />

possibili<strong>da</strong>de de incluir mais de um círculo de fora (as outras cadeiras vão<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

62


Aquário<br />

sendo posiciona<strong>da</strong>s atrás do primeiro círculo) permite que um Aquário<br />

possa ter até 120 participantes, desde que haja microfones disponíveis.<br />

Organizações sociais, emp<strong>res</strong>as e escolas têm utilizado o Aquário para<br />

potencializar a fala e a escuta de grupos, maximizando a quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong>s interações. Entre círculos de dentro e de fora, somos capazes de<br />

mergulhar mais fundo.<br />

Para mergulhar<br />

• “Ferramentas de diálogo”, Augusto de Franco. Escola de Redes.<br />

Link<br />

• “Fishbowl”. Knowledge Sharing Toolkit. Link<br />

• “Fishbowl (conversation)”. Wikipedia. Link<br />

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63


Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

Fonte: Festival Path 2015.<br />

O poder <strong>da</strong> escuta capaz de abrir corações<br />

Um objeto ou bastão <strong>da</strong> fala tem o objetivo de aprofun<strong>da</strong>r diálogos<br />

por meio <strong>da</strong> explicitação <strong>da</strong>s funções de fala e escuta. Quem segura o<br />

objeto pode falar, e quem não está com ele exerce a função de escutar.<br />

Geralmente utilizado em conversas de grupo, o objeto <strong>da</strong> fala costuma ser<br />

associado a diversos formatos de diálogo, como por exemplo o Círculo, o<br />

World Café ou o Pro Action Café.<br />

Por quê?<br />

A origem do objeto <strong>da</strong> fala remete a aldeias indígenas <strong>da</strong> América do<br />

Norte 15 . Desde tempos ancestrais, alguns povos utilizam bastões <strong>da</strong> fala<br />

em conselhos, círculos de contação de histórias, toma<strong>da</strong>s de decisão,<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

64


Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

cerimônias coletivas e até mesmo para ensinar crianças.<br />

Hoje, muitos grupos ao redor do mundo estão utilizando os objetos <strong>da</strong><br />

fala para terem conversas mais significativas. Certa vez, participando do<br />

grupo de e-mails <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de Art of Hosting — uma rede global de<br />

anfitriões de conversas significativas —, li a seguinte pérola:<br />

“Talking piece = talk in peace”<br />

Em português a exp<strong>res</strong>são perde o charme, mas uma tradução possível<br />

seria “objeto <strong>da</strong> fala = falar em paz”. Heather Plett, uma facilitadora de<br />

diálogo do Canadá, sustenta que quando uma conversa é guia<strong>da</strong> pelo<br />

objeto <strong>da</strong> fala, as pessoas tendem a falar com mais intenção. Além disso,<br />

os participantes são instigados a escutar atentamente e as pessoas se<br />

dispõem mais a <strong>res</strong>peitar as perspectivas de ca<strong>da</strong> um 16 .<br />

Assim, o objeto <strong>da</strong> fala torna-se capaz de dissolver as interrupções,<br />

ampliar os silêncios gerado<strong>res</strong> e, quase sempre, sustentar maio<strong>res</strong> doses<br />

de p<strong>res</strong>ença e vulnerabili<strong>da</strong>de nas conversas. Quando uma pessoa se<br />

mostra vulnerável e expõe suas fragili<strong>da</strong>des, isso causa uma reação<br />

imediata em quem escuta, abrindo os corações de todo o grupo.<br />

Heather Plett sumariza cinco motivos pelos quais deveríamos utilizar mais<br />

os objetos <strong>da</strong> fala 17 :<br />

• O objeto <strong>da</strong> fala convi<strong>da</strong>-nos a escutar muito mais do que a<br />

falar;<br />

• O objeto <strong>da</strong> fala encoraja-nos a sair de uma postura de tentar<br />

<strong>res</strong>olver os problemas do outro;<br />

• O objeto <strong>da</strong> fala faz com que to<strong>da</strong>s as vozes sejam iguais;<br />

• O objeto <strong>da</strong> fala convi<strong>da</strong>-nos a estar mais p<strong>res</strong>entes fisicamente<br />

na conversa;<br />

• O objeto <strong>da</strong> fala cria o silêncio necessário para que as falas<br />

venham do coração.<br />

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65


Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

Como?<br />

Fonte: Heather Plett.<br />

Num círculo de conversa, o objeto <strong>da</strong> fala pode ser utilizado de duas<br />

formas: passando de mão em mão ou sendo devolvido sempre ao centro<br />

do círculo quando alguém termina de falar. A primeira maneira é útil para<br />

aprofun<strong>da</strong>r as percepções de ca<strong>da</strong> um, ao passo que o segundo modo<br />

favorece as conexões entre as falas.<br />

O Co-Intelligence Institute, ao ap<strong>res</strong>entar a prática dos círculos de escuta,<br />

acaba também descrevendo o uso do objeto <strong>da</strong> fala (no caso, passando de<br />

mão em mão) 18 :<br />

“Imagine que nós estamos fazendo um círculo de escuta. Eu, você e alguns<br />

amigos estamos sentados num círculo de cadeiras. Nós então contamos<br />

a algumas pessoas que estão chegando o que elas podem esperar.<br />

Quando todos temos clareza do que vai acontecer, nosso círculo começa.<br />

Nós sentamos em silêncio. Um bastão (ou outro objeto que caiba nas<br />

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66


Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

mãos) está posicionado no meio do círculo. Uma mulher que se sentiu<br />

toca<strong>da</strong> para falar pega o bastão. Ela o segura enquanto fala, e todos nós<br />

escutamos o que ela diz. Ninguém fala até que esteja segurando o bastão.<br />

Nós não nos deixamos levar pelo fluxo usual <strong>da</strong>s conversações, em que<br />

uma pessoa adiciona comentários à fala do outro. Quando a mulher<br />

termina de falar, ela passa o bastão para o homem à sua esquer<strong>da</strong>, que<br />

permanece por um momento em silêncio. Depois de alguns minutos ele<br />

passa o bastão para a pessoa à sua esquer<strong>da</strong> e assim continua. O bastão<br />

segue contornando o círculo, com ca<strong>da</strong> um de nós falando em turnos e o<br />

<strong>res</strong>tante <strong>da</strong>s pessoas escutando. Quando o tempo agen<strong>da</strong>do para o nosso<br />

círculo acaba — ou quando o bastão completa uma volta e nenhum de nós<br />

fala — o bastão é devolvido para o centro e nosso círculo é finalizado”.<br />

Segundo George Pór, conversas circula<strong>res</strong> ancora<strong>da</strong>s por um objeto <strong>da</strong><br />

fala podem ser úteis para fomentar comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem,<br />

tomar decisões, <strong>res</strong>olver conflitos, priorizar oportuni<strong>da</strong>des, dentre outras<br />

aplicações. No contexto <strong>da</strong> educação escolar, o objeto <strong>da</strong> fala pode ser<br />

inte<strong>res</strong>sante para desde reuniões de professo<strong>res</strong> até interações mais<br />

profun<strong>da</strong>s na sala de aula. Em percursos independentes de aprendizagem,<br />

o objeto <strong>da</strong> fala pode ser aproveitado em ativi<strong>da</strong>des de pesquisa, como<br />

por exemplo entrevistas-diálogo ou grupos focais.<br />

Desde sua origem, os objetos <strong>da</strong> fala carregam consigo uma simbologia<br />

sagra<strong>da</strong>. Rep<strong>res</strong>entam o poder <strong>da</strong> fala que vem do coração e o <strong>res</strong>peito<br />

pelas vozes de todos. Neste sentido, são como ver<strong>da</strong>deiros facilitado<strong>res</strong>.<br />

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67


Objeto <strong>da</strong> Fala<br />

Para mergulhar<br />

• “Aprendendo a falar e a ouvir com o bastão <strong>da</strong> fala”, Mônica<br />

Alvarenga. Grupo Foco. Link<br />

• “O Bastão <strong>da</strong> Fala (utilizado nas reuniões dos grupos de apoio<br />

<strong>da</strong> AADA)”, Carol Locust. AADA – Associação de Apoio à<br />

Dermatite Atópica. Link<br />

• “Why we need more talking pieces”, Heather Plett. Link<br />

• “The ‘Talking Stick’ Circle: an ancient tool for better decision<br />

making and strengthening community”, George Pór. Terrapsych.<br />

com. Link<br />

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68


Compartilhamento Biográfico<br />

Olhando com carinho para o nosso passado<br />

O compartilhamento biográfico é uma <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que compõem<br />

o trabalho biográfico, cujo maior expoente no Brasil é a médica<br />

antroposófica Gudrun Burkhard. O processo consiste em levantar os fatos<br />

de nossa biografia e compartilhá-las num pequeno grupo, de modo a se<br />

exercitar a escuta e a suspensão de julgamentos e interpretações.<br />

Geralmente conduzido em períodos de quatro a sete dias de imersão, o<br />

trabalho biográfico em grupo pode ser a<strong>da</strong>ptado a diferentes contextos e<br />

deman<strong>da</strong>s.<br />

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69


Compartilhamento Biográfico<br />

Por quê?<br />

Ca<strong>da</strong> biografia humana é um tesouro infindável de histórias, significados<br />

e potenciais aprendizados. Ancora<strong>da</strong> em extensos estudos biográficos<br />

realizados por Rudolf Steiner, fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> antroposofia, e por Bernard<br />

Lievegoed, antropósofo e médico holandês, Gudrun Burkhard tem<br />

dedicado sua vi<strong>da</strong> à missão de disseminar o trabalho biográfico pelo<br />

mundo. Em seu livro “Tomar a Vi<strong>da</strong> nas Próprias Mãos” ela diz:<br />

“Quando encontramos uma pessoa que há muito tempo não vemos,<br />

ocorre um fato inte<strong>res</strong>sante. Primeiro tentamos lembrar-nos de seu nome,<br />

de onde a conhecemos, há quantos anos isto ocorreu, e começamos a<br />

contar o que aconteceu em nossas vi<strong>da</strong>s desde aquele último encontro.<br />

Contamos um pe<strong>da</strong>ço de nossas biografias, e com isso a lembrança<br />

vai aparecendo, ca<strong>da</strong> vez mais níti<strong>da</strong>, diante de nós. Se fizermos este<br />

levantamento <strong>da</strong> história <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de maneira sistemática, estaremos então<br />

fazendo um trabalho biográfico”.<br />

Ain<strong>da</strong> segundo Gudrun, trabalhar a biografia não significa ficarmos<br />

algemados ao passado, e sim integrá-lo ao p<strong>res</strong>ente para que possamos<br />

viver com mais liber<strong>da</strong>de. Elaborar, integrar e aceitar o passado tornamse,<br />

então, cruciais para que criemos conscientemente nosso futuro.<br />

No caso específico do compartilhamento biográfico – que <strong>res</strong>ponde apenas<br />

por uma pequena parte do universo dos trabalhos com a biografia –,<br />

o grupo aparece como elemento primordial. Escutar a história de vi<strong>da</strong><br />

de alguém com o apoio de mais algumas pessoas pode nos aju<strong>da</strong>r a<br />

perceber:<br />

• A diversi<strong>da</strong>de e a riqueza de contextos em que ca<strong>da</strong> pessoa<br />

está inseri<strong>da</strong>, o que amplia nossa visão sistêmica e nossa<br />

capaci<strong>da</strong>de de empatia;<br />

• A sabedoria do outro, exp<strong>res</strong>sa não apenas nos conhecimentos<br />

técnicos ou formais, mas principalmente na narrativa dos<br />

aprendizados informais;<br />

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70


Compartilhamento Biográfico<br />

• As melho<strong>res</strong> maneiras de aju<strong>da</strong>r alguém num momento de<br />

crise, as quais geralmente tem a ver mais com escuta e<br />

acolhimento e menos com aconselhamentos;<br />

• A humani<strong>da</strong>de que nos une, por mais que sejamos diferentes.<br />

Como?<br />

Antes de se fazer um compartilhamento biográfico, é preciso que ca<strong>da</strong><br />

pessoa <strong>res</strong>gate individualmente sua biografia. Para tanto, a antroposofia<br />

toma como referência os setênios, períodos de sete em sete anos que<br />

contemplam diferentes fases do desenvolvimento humano. Há uma<br />

extensa bibliografia a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong>s fases <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> entendi<strong>da</strong>s sob essa<br />

perspectiva, que não será trata<strong>da</strong> aqui.<br />

A forma mais simples de se conduzir um <strong>res</strong>gate biográfico é pedir a ca<strong>da</strong><br />

pessoa para rememorar acontecimentos e histórias de vi<strong>da</strong> desde sua<br />

primeira lembrança (algumas variações focalizam determinado período ou<br />

contexto específico). Nesse momento, a divisão por setênios pode atuar<br />

de forma didática para aju<strong>da</strong>r a memória a trabalhar. Os participantes vão<br />

anotando as lembranças que vêm à mente, até chegarem nos dias atuais.<br />

Em segui<strong>da</strong>, é hora de preparar o campo para os compartilhamentos<br />

começarem. O grupo deve ser composto de três a cinco pessoas, e caso o<br />

número de participantes seja maior, mais grupos deverão ser formados. A<br />

duração do encontro dependerá <strong>da</strong>s circunstâncias, mas é recomendável<br />

separar ao menos de duas a três horas para que as trocas não sejam<br />

superficiais.<br />

Ao orientar um grupo para o início do compartilhamento biográfico, é<br />

preciso ter em vista que se trata de um momento ao mesmo tempo muito<br />

potente e delicado. Também é necessário atentar que:<br />

• Ca<strong>da</strong> pessoa compartilha somente o que quiser e se sentir à<br />

vontade com o grupo;<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

71


Compartilhamento Biográfico<br />

• A escuta do grupo é o elemento mais importante a ser cui<strong>da</strong>do,<br />

de modo a se prezar pela suspensão de julgamentos e<br />

interpretações;<br />

• Não deve haver interrupções durante o relato do outro, a não<br />

ser no formato de perguntas;<br />

• Ao se fazer perguntas, é preciso saber distinguir o que é mera<br />

curiosi<strong>da</strong>de (evitar), do que pode ser realmente importante para<br />

aju<strong>da</strong>r o outro a lembrar de sua biografia;<br />

• O grupo é <strong>res</strong>ponsável por cui<strong>da</strong>r do tempo, de modo que ca<strong>da</strong><br />

pessoa possa relatar sua história num período adequado e<br />

equivalente às demais.<br />

O compartilhamento biográfico é uma <strong>da</strong>s abor<strong>da</strong>gens utiliza<strong>da</strong>s nos<br />

Círculos de Doutorandos Informais. No caso, as histórias compartilha<strong>da</strong>s<br />

têm em comum o tema educação.<br />

Círculo de Doutorandos Informais de São Paulo.<br />

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72


Compartilhamento Biográfico<br />

Os relatos dos CDIs realizados em São Paulo e Belo Horizonte contam<br />

sobre como foram os trabalhos biográficos que fizemos. Destaco abaixo<br />

um trecho do relato de Belo Horizonte:<br />

“Após <strong>res</strong>gatarem individualmente suas histórias de vi<strong>da</strong> relaciona<strong>da</strong>s<br />

à aprendizagem, era a hora de se ver a partir do outro. Os<br />

compartilhamentos biográficos ocorreram em trios, de modo que<br />

ca<strong>da</strong> um pôde exercitar diferentes papéis: o de contador de histórias;<br />

o de escutador que olha nos olhos; e o de colheitador, aquele que<br />

‘ouve pela mão’ ao colocar no papel a essência <strong>da</strong>s histórias que eram<br />

compartilha<strong>da</strong>s”.<br />

Um ponto inte<strong>res</strong>sante de se trabalhar em trios é que ca<strong>da</strong> um pode<br />

assumir um papel distinto: alguém começa relatando sua biografia, outra<br />

pessoa assume o papel de interlocutor e uma terceira faz o registro, que<br />

pode assumir a forma de um desenho, texto ou algum outro formato. É<br />

recomendável que alguém também assuma a <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de por cui<strong>da</strong>r<br />

do tempo (total e de ca<strong>da</strong> biografia relata<strong>da</strong>).<br />

Após a primeira pessoa relatar sua biografia, ocorre uma troca de papéis<br />

para que outro participante possa fazer seu relato. As trocas acontecem<br />

até que todos tenham tido a chance de falar.<br />

Ao final, é inte<strong>res</strong>sante haver um momento de conversação coletiva com<br />

o objetivo de promover um espaço de reflexão para o grupo, que poderá<br />

dialogar sobre suas percepções e aprendizados durante o processo. Nos<br />

Círculos de Doutorandos Informais chamamos esse momento de colheita:<br />

“Ao retornarmos para o nosso círculo, as sementes, já brota<strong>da</strong>s,<br />

começaram a se desenvolver e a <strong>da</strong>r frutos. ‘Como me senti<br />

experimentando os diferentes papéis?’; ‘O que foi mais marcante ou<br />

desafiador pra mim?’; ‘Quais os aprendizados que levo comigo desta<br />

experiência?’. Essas foram algumas perguntas que animaram nossas<br />

conversas de colheita”.<br />

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73


Compartilhamento Biográfico<br />

A principal questão para se conduzir um compartilhamento biográfico<br />

é conseguir criar um espaço acolhedor, confiável e seguro. Para tanto,<br />

há possibili<strong>da</strong>des diversas, desde uma decoração singela à escolha por<br />

locais ao ar livre. O essencial é cui<strong>da</strong>r para que todos tenham voz e não se<br />

sintam julgados nem p<strong>res</strong>sionados.<br />

Gudrun Burkhard afirma que o compartilhamento biográfico permite<br />

p<strong>res</strong>entearmos uns aos outros com o que temos de mais precioso: nossas<br />

histórias de vi<strong>da</strong>. Ao contá-las, conseguimos visualizar nosso passado com<br />

mais consciência e nitidez. Estar em grupo é um ótimo modo de sustentar<br />

essas descobertas.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Círculo de Doutorandos Informais de Belo Horizonte”, Alex<br />

Bretas. <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. Link<br />

• “Círculo de Doutorandos Informais de São Paulo”, Alex Bretas,<br />

<strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. Link<br />

• “Trabalho biográfico”. Associação para a Medicina Antroposófica<br />

de Portugal. Link<br />

• Burkhard, Gudrun. “Tomar a Vi<strong>da</strong> nas Próprias Mãos: como<br />

trabalhar na própria biografia o conhecimento <strong>da</strong>s leis gerais do<br />

desenvolvimento humano”. Ed. Antroposófica, 4ª edição, São<br />

Paulo, 2010.<br />

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74


Pé de Galinha<br />

Fonte: Gartic (a<strong>da</strong>ptado).<br />

Cartografias humanas<br />

A técnica do “pé de galinha” 19 é um artifício para ampliar nossas redes<br />

de contatos de forma consciente, ampliando os benefícios <strong>da</strong>s conexões<br />

entre pa<strong>res</strong> (peer-to-peer). O método consiste em pedir às pessoas ao final<br />

de uma conversa para indicarem outros três contatos que poderiam ser<br />

relevantes para você.<br />

As três novas conexões são rep<strong>res</strong>enta<strong>da</strong>s pelos três dedos <strong>da</strong> frente do<br />

pé de galinha, e a pessoa que fez as indicações seria simboliza<strong>da</strong> pelo<br />

dedo de trás (galinhas tem quatro dedos). Estranho? Talvez, mas o truque<br />

funciona.<br />

Por quê?<br />

Você pode pensar que o pé de galinha é um recurso simplista de networking.<br />

No entanto, acessar pessoas por meio de outras mais próximas não é<br />

algo trivial. Para além de contatos profissionais, é um modo de ativar<br />

nossa capaci<strong>da</strong>de “alterdi<strong>da</strong>ta” 20 , aprendendo a partir <strong>da</strong>s interações que<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

75


Pé Galinha<br />

estabelecemos com as pessoas que compõem nossa rede de contatos.<br />

Saber navegar na nossa rede torna-se importante quando começamos a<br />

pensar no ser humano como uma cartografia. Imagine um mapa: existem<br />

diversas locali<strong>da</strong>des e conexões (rotas) entre elas. Conosco também é<br />

assim. De certa forma, somos miríades, aglomerados de um sem número<br />

de sabe<strong>res</strong> e influências de diversas pessoas. Tudo isso é processado pelo<br />

nosso aparelho cognitivo, mas a interferência <strong>da</strong> rede em nós é enorme.<br />

Num cenário como esse, quem eu conheço (ou tenho condições de<br />

conhecer, por meio <strong>da</strong> minha rede) é tão importante quanto o que sei<br />

(conhecimentos e experiências) ou quem sou (visão e identi<strong>da</strong>de). A<br />

frase “eu guardo conhecimento nos meus amigos” 21 exp<strong>res</strong>sa isso. Eu<br />

ac<strong>res</strong>centaria que, além do conhecimento, diversas possibili<strong>da</strong>des –<br />

parcerias, afetivi<strong>da</strong>des, experiências – surgem ao se conhecer alguém.<br />

Assim, o pé de galinha parte <strong>da</strong> premissa de que ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s pessoas<br />

com as quais interagimos guar<strong>da</strong> um tesouro formado por várias outras<br />

possíveis relações. Como cantou Gonzaguinha:<br />

“E aprendi que se depende sempre<br />

De tanta, muita, diferente gente<br />

To<strong>da</strong> pessoa sempre é as marcas<br />

Das lições diárias de outras tantas pessoas<br />

E é tão bonito quando a gente entende<br />

Que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá<br />

E é tão bonito quando a gente sente<br />

Que nunca está sozinho por mais que pense estar”<br />

(“Caminhos do Coração”, Gonzaguinha)<br />

Como?<br />

O fluxo típico do pé de galinha ocorre como no exemplo a seguir.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

76


Pé Galinha<br />

Este livro é uma <strong>da</strong>s entregas de um percurso investigativo sobre<br />

aprendizagem de adultos. Vamos supor que eu ligue para um conhecido<br />

que sei que poderia me ac<strong>res</strong>centar nesse tema. Marcamos um encontro<br />

e, ao final de nossa ótima conversa, pergunto a ele se haveria a<br />

possibili<strong>da</strong>de de me conectar a mais três pessoas que poderiam contribuir<br />

com a minha pesquisa. Ele se lembra de alguns nomes, e peço-lhe para<br />

me ap<strong>res</strong>entar por e-mail a essas pessoas.<br />

Certa vez escrevi sobre como três ações simples podem ativar o poder<br />

<strong>da</strong> nossa rede: agradecer, aju<strong>da</strong>r e tomar cafés. O pé de galinha funciona<br />

como um complemento capaz de otimizar as interações (cafés), ampliando<br />

os ganhos decorrentes. Neste sentido, ele pode ser utilizado para<br />

potencializar percursos de aprendizagem ou simplesmente para explorar<br />

melhor uma questão, por meio <strong>da</strong> agregação de diferentes perspectivas.<br />

É importante que o pedido por contatos seja feito com um objetivo. Uma<br />

intenção clara aju<strong>da</strong>rá a pessoa a escolher os contatos que ap<strong>res</strong>entará<br />

a você. Ao utilizar sucessivamente o pé de galinha, pode ocorrer de seu<br />

objetivo inicial ir se transformando na medi<strong>da</strong> em que as novas interações<br />

forem acontecendo, e isso é positivo. Entender as percepções de pessoas<br />

que ain<strong>da</strong> não conhecemos acaba transformando nossas próprias<br />

perspectivas.<br />

Praticar o pé de galinha significa abrir espaço para oportuni<strong>da</strong>des<br />

inespera<strong>da</strong>s de aprendizagem. Na ver<strong>da</strong>de, todo aprendizado é fruto <strong>da</strong><br />

interação. Navegar na nossa cartografia pode nos revelar boas surp<strong>res</strong>as.<br />

Para mergulhar<br />

• “De onde vêm as boas ideias” [vídeo], Steven Johnson. Youtube.<br />

Link<br />

• “Não-escolas: a livre aprendizagem na socie<strong>da</strong>de em rede”,<br />

Augusto de Franco. Ning. Link<br />

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77


Experimentar novas lentes<br />

Ao trocarmos de óculos, o que acontece?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

78


Biomimética<br />

A natureza como modelo, medi<strong>da</strong> e mentora<br />

A biomimética é um vasto campo de conhecimento que busca aprender<br />

com os exemplos mol<strong>da</strong>dos pela natureza. A ideia é que áreas como<br />

engenharia, arquitetura, biologia, eletrônica, design e até mesmo<br />

questões sociais e econômicas possam encontrar nos ecossistemas<br />

naturais <strong>res</strong>postas sustentáveis para seus desafios.<br />

Em substituição a um modelo que enxerga a natureza somente como um<br />

repositório de recursos a serem extraídos, a biomimética acredita que é<br />

possível inspirar-se a partir <strong>da</strong> observação e <strong>da</strong> investigação dos padrões<br />

naturais.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

79


Biomimética<br />

Por quê?<br />

Observar os padrões naturais não é nenhuma novi<strong>da</strong>de. Desde o<br />

pensador alemão Goethe e seu método de observação <strong>da</strong> natureza,<br />

diversos pesquisado<strong>res</strong>, invento<strong>res</strong> e artistas têm incorporado a arte de<br />

investigar as soluções <strong>da</strong> natureza. A biomimética, no entanto, só surgiu<br />

com esse nome na segun<strong>da</strong> metade do século XX, por meio dos estudos<br />

de Janine Benyus.<br />

Segundo ela, a biomimética enxerga a natureza de três perspectivas<br />

distintas 22 :<br />

• Como um modelo: “estu<strong>da</strong>r os modelos <strong>da</strong> natureza e imitálos<br />

ou usá-los como inspiração, com o intuito de <strong>res</strong>olver os<br />

problemas humanos”.<br />

• Como uma medi<strong>da</strong>: “usar o padrão ecológico para julgar a<br />

relevância e a vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s nossas inovações. Após bilhões de<br />

anos de evolução, a natureza aprendeu o que funciona, o que é<br />

mais apropriado e o que perdura”.<br />

• Como uma mentora: “nova forma de observar e avaliar a<br />

natureza. Preocupar-se não com o que podemos extrair do<br />

mundo natural, mas no que podemos aprender com ele”.<br />

A partir desses três pontos, fica claro que a biomimética propõe uma<br />

ver<strong>da</strong>deira revolução na forma com que enxergamos o ambiente. Fred<br />

Gelli, um dos direto<strong>res</strong> <strong>da</strong> agência de design de ideias Tátil, acredita que<br />

a humani<strong>da</strong>de tem desvirtuado três comportamentos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong><br />

natureza:<br />

• A natureza baseia-se na otimização de recursos, e a história do<br />

ser humano tem sido uma história de maximização desenfrea<strong>da</strong>;<br />

• A natureza funciona em ciclos, enquanto a humani<strong>da</strong>de tem<br />

adotado uma visão linear;<br />

• Na natureza vigora a visão ecossistêmica ou interdependência,<br />

ao passo que nós nos acostumamos a ter uma visão<br />

fragmenta<strong>da</strong> dos processos de consumo e produção.<br />

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80


Biomimética<br />

Inúmeros exemplos de como a natureza pode ser uma parceira de criação<br />

já foram mapeados. No site AskNature.org é possível encontrar um<br />

catálogo com milha<strong>res</strong> de casos em que se utilizou a biomimética, e as<br />

inspirações vão desde a auto-organização <strong>da</strong>s formigas até simbioses de<br />

diferentes espécies entre si.<br />

Como?<br />

Fonte: AskNature.org.<br />

A biomimética é uma área interdisciplinar, por isso busca referências e<br />

contribui para diversos campos do saber. Aplicá-la está ao alcance não<br />

apenas de pesquisado<strong>res</strong> ou designers, mas de qualquer pessoa que se<br />

inte<strong>res</strong>se em aproveitar os insights provenientes <strong>da</strong> natureza. É como<br />

os biólogos John Todd e Nancy Jack-Todd, entusiastas <strong>da</strong> biomimética<br />

afirmaram: “todos somos designers” 23 .<br />

Ao investigar determina<strong>da</strong> questão ou propor um novo projeto,<br />

observar como a natureza age em circunstâncias semelhantes pode ser<br />

esclarecedor. Por exemplo: entender como as formigas interagem para<br />

<strong>res</strong>olver seus desafios tem me aju<strong>da</strong>do a compreender fenômenos sociais<br />

contemporâneos como o surgimento dos movimentos em rede.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

81


Biomimética<br />

Que tal praticar a observação dos padrões <strong>da</strong> natureza junto com os<br />

educandos? Frequentemente os mais novos sabem mais sobre isso do que<br />

nós, porque eles não perderam a capaci<strong>da</strong>de de observar atentamente. O<br />

caso de Boyan Slat é ilustrativo nesse sentido: a partir de uma investigação<br />

profun<strong>da</strong> sobre os giros oceânicos, o jovem inventou uma nova forma de<br />

coletar lixo marítimo.<br />

Uma possibili<strong>da</strong>de de se trabalhar a biomimética é estimular os<br />

educandos a criarem projetos de aprendizagem que se abasteçam <strong>da</strong><br />

observação <strong>da</strong> natureza. Afinal, ela pode ser uma grande mestra, mas é<br />

preciso ter olhos de ver.<br />

Para mergulhar<br />

• “Biomimética”, Fred Gelli [vídeo]. TEDxSudeste. Youtube. Link<br />

• “Biomimética: a ciência que se inspira na natureza”. eCycle. Link<br />

• “A Biomimética como Método Criativo para o Projeto de<br />

Produto”, F. B. Detanico, F. G. Teixeira e T. K. Silva. Programa de<br />

Pós-graduação em Design <strong>da</strong> UFRGS. Link<br />

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Permacultura<br />

Fonte: Jardim do Mundo.<br />

Sinergia com a natureza e autossuficiência local<br />

A permacultura é um sistema que engloba pessoas, métodos e conceitos<br />

utilizados para criar modos de vi<strong>da</strong> de pequena escala que sejam<br />

ambientalmente equilibrados e socialmente justos.<br />

A palavra permacultura foi cria<strong>da</strong> por David Holmgren e Bill Mollison, dois<br />

ecologistas australianos, e num primeiro momento referia-se somente a<br />

métodos de agricultura sustentável. Mais tarde, seu significado foi sendo<br />

ampliado no sentido de incluir aspectos sociais, econômicos e culturais,<br />

mas mantendo-se as questões basila<strong>res</strong>: a observação dos padrões <strong>da</strong><br />

natureza e a autossuficiência local.<br />

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83


Permacultura<br />

Por quê?<br />

A man<strong>da</strong>la <strong>da</strong> permacultura ap<strong>res</strong>enta de forma sintética suas principais<br />

diretrizes:<br />

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Fonte: Wikipédia.<br />

84


Permacultura<br />

Há três princípios éticos que conformam a base <strong>da</strong> permacultura:<br />

• Cui<strong>da</strong>do com a Terra;<br />

• Cui<strong>da</strong>do com as pessoas (cui<strong>da</strong>r de si mesmo, parentes e<br />

comuni<strong>da</strong>de); e<br />

• Partilha justa (estabelecer limites para o consumo e reprodução,<br />

e redistribuir o excedente)<br />

A concretização desses princípios se dá por meio de uma comuni<strong>da</strong>de<br />

mundialmente articula<strong>da</strong>, que transforma e desenvolve modos de vi<strong>da</strong><br />

imbuí<strong>da</strong> dos três preceitos. Ao integraremv um movimento preocupado<br />

com a disseminação de uma cultura realmente sustentável (permanente),<br />

a visão dos permaculto<strong>res</strong> é de que a humani<strong>da</strong>de caminha para uma<br />

inevitável redução do consumo de energia e recursos.<br />

Isso porque os combustíveis fósseis, os quais têm tido um papel<br />

fun<strong>da</strong>mental na nossa ascensão industrial e tecnológica, estão fa<strong>da</strong>dos ao<br />

esgotamento. Assim, torna-se urgente o estabelecimento de culturas que<br />

saibam usar com eficiência as energias renováveis, em consonância com<br />

as soluções já encontra<strong>da</strong>s pela natureza.<br />

Diversos povos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de já desenvolviam sistemas sustentáveis,<br />

e algumas populações contemporâneas ain<strong>da</strong> sabem como fazê-lo. No<br />

entanto, numa perspectiva macro, bilhões de pessoas fazem persistir um<br />

sistema incapaz de manter culturas permanentes. Neste sentido, David<br />

Holmgren afirma no documento “Os Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Permacultura” que<br />

“essa falha dos mercados globais em transmitir os sinais sobre o<br />

esgotamento dos recursos naturais e a degra<strong>da</strong>ção ambiental isolou os<br />

consumido<strong>res</strong> <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de desenvolvimento de estilos de vi<strong>da</strong> mais<br />

autossuficientes e menos perdulários, e anulou o empenho na busca de<br />

políticas públicas que pudessem contribuir para essas a<strong>da</strong>ptações tão<br />

necessárias. A inun<strong>da</strong>ção de bens de consumo novos e baratos estimulou<br />

o consumo a um ponto de supersaturação, ao mesmo tempo em que<br />

medições de capital social e bem-estar continuam a cair a partir de 1970”.<br />

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85


Permacultura<br />

A permacultura, de certo modo, vem para nos acor<strong>da</strong>r <strong>da</strong> cegueira.<br />

Como?<br />

Flor <strong>da</strong> permacultura. Fonte: Os Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Permacultura.<br />

Ao analisar a flor <strong>da</strong> permacultura, que descreve vários campos e<br />

ativi<strong>da</strong>des alinha<strong>da</strong>s aos princípios de culturas sustentáveis, fica claro o<br />

quanto o sistema se diversificou ao longo do tempo.<br />

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86


Permacultura<br />

Ao invés de descrever todos esses itens, a ideia aqui é pincelar algumas<br />

formas de se aplicar a permacultura honrando seus princípios. Além <strong>da</strong>s<br />

três diretrizes éticas – cui<strong>da</strong>do com a Terra, cui<strong>da</strong>do com as pessoas e<br />

partilha justa –, a permacultura desdobra-se em 12 princípios de design<br />

sintetizados abaixo. Para uma compreensão mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, vale<br />

a leitura do documento “Os Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Permacultura”, de David<br />

Holmgren.<br />

1. Observe e interaja<br />

Uma <strong>da</strong>s diretrizes mais importantes <strong>da</strong> permacultura é a observação<br />

atenta <strong>da</strong> natureza, com o intuito de aprender com ela a desenhar<br />

sistemas humanos sustentáveis.<br />

2. Capte e armazene energia<br />

Economizar e utilizar os fluxos de riquezas naturais existentes de modo<br />

que não falte para as futuras gerações.<br />

3. Obtenha rendimento<br />

Garantir a autossuficiência local, inaugurando formas criativas e flexíveis<br />

de manter o sistema e capturar mais energia.<br />

4. Pratique a autorregulação e aceite feedbacks<br />

Evitar trabalho desnecessário por meio do entendimento e utilização de<br />

mecanismos de autorregulação naturais. As agroflo<strong>res</strong>tas são um exemplo<br />

de prática basea<strong>da</strong> nesse princípio.<br />

5. Use e valorize os serviços e recursos renováveis<br />

Aprender a trabalhar com a natureza e não contra ela, reconhecendo<br />

os benefícios <strong>da</strong> utilização de recursos e processos renováveis (que são<br />

repostos naturalmente, sem a necessi<strong>da</strong>de de grandes intervenções não<br />

renováveis).<br />

6. Não produza desperdícios<br />

Os desperdícios podem se tornar novos recursos e oportuni<strong>da</strong>des,<br />

basta mu<strong>da</strong>r o jeito de olhar. A minhoca é um ótimo exemplo disso:<br />

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87


Permacultura<br />

ela sobrevive por meio de <strong>res</strong>íduos vegetais e gera valor para todo o<br />

ecossistema.<br />

7. Projete partindo dos padrões para chegar aos detalhes<br />

Atentar para os traços comuns por trás dos fenômenos naturais e sociais,<br />

de modo a aprender com eles e aplicá-los a diferentes contextos. A ideia<br />

é simplificar, preocupando-se menos com os detalhes e mais com a<br />

funcionali<strong>da</strong>de do todo.<br />

8. Integrar ao invés de segregar<br />

Pensar sempre nas inter-relações entre os diferentes elementos de um<br />

sistema, e no que ca<strong>da</strong> um deles poderia contribuir para todos os outros.<br />

9. Use soluções pequenas e lentas<br />

De modo oposto à lógica de mercado, esse princípio considera o<br />

desenvolvimento de sistemas com a menor escala possível, mas que ain<strong>da</strong><br />

assim sejam eficientes para os fins que foram projetados. Também abor<strong>da</strong><br />

a necessi<strong>da</strong>de de se pensar a efetivi<strong>da</strong>de e a durabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s soluções,<br />

ao invés de ceder a alternativas mais rápi<strong>da</strong>s, mas que nem sempre<br />

ap<strong>res</strong>entam benefícios no longo prazo.<br />

10. Use e valorize a diversi<strong>da</strong>de<br />

As diversi<strong>da</strong>des natural e cultural são considera<strong>da</strong>s como <strong>res</strong>ultados<br />

dinâmicos <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ao longo do tempo e, por isso, devem ser<br />

valoriza<strong>da</strong>s. A policultura, em oposição à monocultura, é um exemplo de<br />

arranjo agrícola que se aproveita <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de natural.<br />

11. Use as bor<strong>da</strong>s e valorize os elementos marginais<br />

Reconhecer que tudo que é marginal guar<strong>da</strong> um grande valor ao ser<br />

incluído no sistema. Valorizar os elementos que costumeiramente são<br />

renegados pode contribuir para aumentar a estabili<strong>da</strong>de e a produtivi<strong>da</strong>de<br />

de um sistema.<br />

12. Aproveite as mu<strong>da</strong>nças e <strong>res</strong>pon<strong>da</strong> a elas criativamente<br />

Levar em conta as mu<strong>da</strong>nças ao projetar um sistema e utilizá-las a seu<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

88


Permacultura<br />

favor, além de a<strong>da</strong>ptar o design às mu<strong>da</strong>nças imprevisíveis que poderão<br />

ocorrer.<br />

Os 12 princípios juntos dão origem a um olhar sistêmico que, embora seja<br />

voltado para o design de comuni<strong>da</strong>des autossustentáveis, também pode<br />

ser aplicado a contextos educacionais e organizacionais.<br />

Além dos princípios de design, outra forma de aplicar a permacultura é em<br />

ações do cotidiano, inclusive em áreas urbanas. O documentário “Utopia<br />

no Quintal — Permacultura e Ci<strong>da</strong>de” oferece várias ideias nessa direção.<br />

Para conhecer mais, algumas opções são um grupo sobre permacultura<br />

no Facebook e os cursos de certificação de design em permacultura<br />

(Permaculture Design Certificate ou PDC em inglês), oferecidos no Brasil<br />

por diversas instituições. Neste site, mantido pela Rede Permear, é<br />

possível encontrar vários locais que promovem os cursos.<br />

A permacultura é uma forma de nos prepararmos para a transição<br />

climática, econômica e social que já está acontecendo e que se agravará<br />

nas próximas déca<strong>da</strong>s. Como David Holmgren afirma, é preciso ir além <strong>da</strong><br />

sustentabili<strong>da</strong>de.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Utopia e Quintal: Permacultura e Ci<strong>da</strong>de” [vídeo]. Cadência<br />

Filmes. Vimeo. Link<br />

• “A Permacultura no Brasil”. Rede Permear. Link<br />

• “Os Fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> Permacultura” (versão em português). Link<br />

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89


Teoria U<br />

Fonte: RQ Genesis.<br />

Aprendendo com o futuro que quer nascer<br />

A Teoria U, sistematiza<strong>da</strong> por Otto Scharmer em 2006, é uma metodologia<br />

volta<strong>da</strong> para a transformação social profun<strong>da</strong>. A crença principal que<br />

a alimenta é a de que a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça gera<strong>da</strong> por qualquer<br />

intervenção ou projeto é uma função <strong>da</strong> consciência e do nível de atenção<br />

<strong>da</strong>s pessoas envolvi<strong>da</strong>s. Consciência e atenção, aqui, remetem à “fonte”<br />

ou ao “lugar interior” (inner place) a partir do qual nossas ações tomam<br />

forma.<br />

Para a Teoria U, quanto mais nos conectarmos autenticamente ao nosso<br />

lugar interior e estivermos ancorados nas experiências do p<strong>res</strong>ente, maior<br />

tende a ser a quali<strong>da</strong>de de nossas intervenções sociais ou organizacionais.<br />

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90


Teoria U<br />

Por quê?<br />

Bill O’Brien, ex-CEO <strong>da</strong> Hanover Insurance, compartilhou numa entrevista<br />

a essência dos seus aprendizados em relação aos processos de mu<strong>da</strong>nça<br />

organizacional: “o sucesso de uma intervenção depende <strong>da</strong> condição<br />

interna do interventor” 24 . O insight <strong>res</strong>soou em Otto Scharmer, que iniciou<br />

uma jorna<strong>da</strong> em busca dos elementos que conformam nossa condição<br />

interna. No nível coletivo, essa estrutura subjacente ou lugar interior<br />

também se ap<strong>res</strong>enta e é <strong>res</strong>ponsável pelas reali<strong>da</strong>des que criamos.<br />

Porém, no nosso cotidiano não somos capazes de percebê-la. Conforme<br />

afirma a coach e facilitadora Maria Angélica Rente 25 :<br />

“A grande questão que Scharmer ap<strong>res</strong>enta é que todos os sistemas<br />

atuais – saúde, finanças, educação etc – caracterizam-se pelo fato de que,<br />

coletivamente, estamos criando <strong>res</strong>ultados que não queremos. Isto ocorre<br />

porque operamos a partir de paradigmas de pensamento obsoletos, que<br />

embasam nossos comportamentos, crenças e atitudes, perpetuando uma<br />

reali<strong>da</strong>de que não condiz ao futuro que quer emergir”.<br />

Operar a partir do passado, portanto, é o “vício” que a Teoria U propõese<br />

a transcender. Para tanto, é preciso aprender a partir do futuro que<br />

emerge, e isso se faz por meio <strong>da</strong> conexão profun<strong>da</strong> com o momento<br />

p<strong>res</strong>ente. As exp<strong>res</strong>sões “deixar ir” e “deixar vir”, muito comuns nas<br />

descrições <strong>da</strong> teoria, revelam justamente isso: mover-se <strong>da</strong>s nossas<br />

noções preconcebi<strong>da</strong>s para um lugar que estimule a criação de novas<br />

reali<strong>da</strong>des.<br />

Com o objetivo de abastecer quem se conecta com esse propósito, a Teoria U<br />

ap<strong>res</strong>enta uma série de métodos e ferramentas ancorados no arquétipo do<br />

U. O elemento comum a to<strong>da</strong>s as práticas é o “p<strong>res</strong>encing”, um neologismo<br />

que mescla as palavras “p<strong>res</strong>ence” e “sensing” para guiar as ações a partir<br />

do potencial de futuro mais promissor de ca<strong>da</strong> um. O propósito maior <strong>da</strong><br />

jorna<strong>da</strong> proposta pela Teoria U é sair de uma consciência egossistêmica para<br />

se chegar a uma consciência ecossistêmica.<br />

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91


Teoria U<br />

Como?<br />

A Teoria U pode ser melhor compreendi<strong>da</strong> por meio de oito princípios de<br />

aplicação que são descritos a seguir (para mais detalhes, veja este link do<br />

P<strong>res</strong>encing Institute, em inglês):<br />

1. A energia segue a nossa atenção.<br />

2. Siga os três movimentos do U.<br />

• O primeiro movimento é “observar, observar, observar” (a<br />

desci<strong>da</strong> do U). A ideia é mergulhar fundo nos limites do<br />

sistema, isto é, nos locais e situações mais cruciais para a<br />

questão na qual você está inte<strong>res</strong>sado.<br />

• O segundo é “recuar e refletir” (o ponto mais fundo do U). É<br />

preciso tomar alguma distância e escutar o que as observações<br />

podem revelar sobre o futuro que quer surgir. Perguntas como<br />

“o que está querendo emergir?” e “como podemos fazer parte<br />

do futuro que quer nascer ao invés de continuarmos repetindo<br />

a história do passado?” podem ser úteis.<br />

• O terceiro é “agir num instante” (a subi<strong>da</strong> do U). A<br />

ideia é explorar as possibili<strong>da</strong>des de futuro por meio<br />

<strong>da</strong> ação, desenvolvendo protótipos que consigam<br />

coletar feedbacks rapi<strong>da</strong>mente de to<strong>da</strong>s as partes inte<strong>res</strong>sa<strong>da</strong>s<br />

na questão.<br />

3. Vá aos limites do ego.<br />

Mente aberta, coração aberto e vontade aberta 26 . A abertura plena<br />

significa atentar-se para os nossos prejulgamentos, de modo a minimizar<br />

sua interferência na vivência do p<strong>res</strong>ente.<br />

4. Passe pelo “buraco de agulha”.<br />

O buraco <strong>da</strong> agulha é o ponto mais crítico <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> do U. Trata-se de<br />

uma metáfora para nos lembrar o quão importante é “deixar ir” as noções<br />

do passado, abandonando tudo que não for essencial para se construir o<br />

futuro que quer emergir.<br />

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92


Teoria U<br />

5. Transforme os três inimigos.<br />

A voz do julgamento, a voz do cinismo e a voz do medo (que se opõem<br />

<strong>res</strong>pectivamente à mente aberta, ao coração aberto e à vontade aberta).<br />

6. Sempre comece percebendo as fen<strong>da</strong>s.<br />

As fen<strong>da</strong>s são oportuni<strong>da</strong>des de ação onde o futuro quer nascer, e<br />

percebê-las significa p<strong>res</strong>tar atenção ao que diz nossos sentimentos e<br />

ações, para além do pensamento analítico.<br />

7. Transforme as conversações do “downloading 27 ”e do debate para o<br />

diálogo e a criação coletiva.<br />

8. Fortaleça as fontes do “p<strong>res</strong>encing” para evitar as dinâmicas<br />

destrutivas do “absencing”.<br />

Fonte: P<strong>res</strong>encing Institute.<br />

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93


Teoria U<br />

O “absencing” é a força contrária ao “p<strong>res</strong>encing” e manifesta-se por meio<br />

<strong>da</strong>s três vozes inimigas descritas no princípio cinco. Mais precisamente,<br />

se ficarmos p<strong>res</strong>os a uma ver<strong>da</strong>de única, bloqueamos a mente; se<br />

nos ativermos à visão de que somos ‘nós” contra “eles”, obstruímos o<br />

coração aberto; e se agirmos a partir de uma identi<strong>da</strong>de muito rígi<strong>da</strong>,<br />

desprezamos a vontade aberta.<br />

Tive a experiência de trabalhar com a Teoria U em alguns projetos<br />

de transformação social. O que mais me chamou atenção foi a sua<br />

capaci<strong>da</strong>de de nivelar as compreensões <strong>da</strong>s diversas partes inte<strong>res</strong>sa<strong>da</strong>s<br />

na questão com a qual estávamos envolvidos. Quanto mais complexos os<br />

desafios, mais força tende a ter a aplicação <strong>da</strong> Teoria U.<br />

Assim como o Dragon Dreaming e a Investigação Apreciativa, a Teoria U<br />

é um conjunto de princípios, processos e práticas para abor<strong>da</strong>r desafios<br />

coletivos. Sua riqueza é muito maior do que a descrição sucinta feita aqui.<br />

Desde uma pequena escola ou comuni<strong>da</strong>de até um estado ou país inteiro,<br />

aplicá-la pode levar todo o sistema a fazer novas perguntas, e assim, obter<br />

novas <strong>res</strong>postas.<br />

Para mergulhar<br />

• “Theory U”. P<strong>res</strong>encing Institute. Link<br />

• “Principles and Glossary of P<strong>res</strong>encing”. P<strong>res</strong>encing Institute.<br />

Link<br />

• “Teoria U: liderança a partir do propósito para o futuro que<br />

queremos viver”, Maria Angélica Rente. FIXE. Link<br />

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Jorna<strong>da</strong>s de Aprendizagem<br />

Conhecendo o mundo e a si mesmo, numa taca<strong>da</strong> só<br />

Jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem são percursos educativos vivenciais,<br />

geralmente ancorados na ideia de s<strong>alta</strong>r de um mundo conhecido para<br />

um mundo desconhecido. Elas podem tanto requerer de fato algum tipo<br />

de deslocamento literal (viagens, excursões, imersões) ou simplesmente<br />

significar, num sentido mais amplo, um período dedicado a novas<br />

descobertas e reflexões.<br />

Ain<strong>da</strong> que a exp<strong>res</strong>são também tenha ganhado outros sentidos – por<br />

exemplo, jorna<strong>da</strong> de aprendizagem como uma forma de registrar e<br />

acompanhar a educação de crianças em escolas –, o foco aqui recairá<br />

sobre as jorna<strong>da</strong>s como percursos educativos, conforme ap<strong>res</strong>entado<br />

acima.<br />

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Jorna<strong>da</strong>s de Aprendizagem<br />

Por quê?<br />

No livro “Mapeando Diálogos: ferramentas essenciais para a mu<strong>da</strong>nça<br />

social”, Marianne Mille Bojer e outros auto<strong>res</strong> exploram a ideia de jorna<strong>da</strong>s<br />

de aprendizagem 28 :<br />

“As jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem têm a ver com sair do escritório e <strong>da</strong><br />

zona de conforto de salas de reunião e hotéis. São jorna<strong>da</strong>s de um lugar<br />

para outro com o objetivo de explorar e experimentar o mundo em<br />

primeira mão. Também são jorna<strong>da</strong>s <strong>da</strong> mente, que desafiam as noções<br />

preconcebi<strong>da</strong>s e as suposições acerca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des<br />

atuais”.<br />

Conforme o trecho acima, fica nítido que essa forma de aprender não<br />

é nova; pelo contrário, remonta a uma sabedoria muito antiga <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de. Na Grécia antiga, conta-se que Aristóteles costumava<br />

caminhar com seu grupo de pupilos pelas ruas de Atenas, aproveitandose<br />

<strong>da</strong>s interações que o traçado fazia surgir para criar oportuni<strong>da</strong>des<br />

de aprendizagem. Suas caminha<strong>da</strong>s ficaram conheci<strong>da</strong>s como método<br />

peripatético.<br />

Outra tradição antiga – ain<strong>da</strong> mais próxima <strong>da</strong>s jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem<br />

como as conhecemos hoje – é a do journeyman. No século XIV, eram<br />

comuns na Alemanha jovens que deixavam suas casas e viajavam pelo<br />

mundo por períodos de três anos e um dia, a fim de se desenvolverem<br />

como artesãos trabalhando somente por comi<strong>da</strong>, hospe<strong>da</strong>gem e<br />

transporte para o próximo destino.<br />

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Jorna<strong>da</strong>s de Aprendizagem<br />

Journeyman. Fonte: Sigismund von Dobschütz.<br />

Hoje em dia, tanto o método peripatético de Aristóteles quanto o duro<br />

percurso de um journeyman estão sendo reavivados por meio <strong>da</strong>s<br />

jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem. Mesmo o período sabático, geralmente<br />

experimentado por jovens e pessoas em transição de carreira, é um<br />

exemplo de jorna<strong>da</strong> que aposta na viagem como elemento capaz de<br />

ampliar nossa visão de mundo e de nós mesmos. Como Rudolf Steiner<br />

afirmou, “se você quiser conhecer o mundo, conheça a si mesmo, e se<br />

quiser conhecer a si mesmo, conheça o mundo 29 ”.<br />

Como?<br />

Uma jorna<strong>da</strong> de aprendizagem pode ser vivi<strong>da</strong> tanto em grupo quanto<br />

individualmente. O fluxo de uma jorna<strong>da</strong> típica segue cinco passos<br />

essenciais. Em primeiro lugar vem a<br />

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Jorna<strong>da</strong>s de Aprendizagem<br />

• Intenção<br />

(precisa ser algo que parta <strong>da</strong> vontade de quem irá viver a<br />

experiência)<br />

• Que sustenta o Deslocamento,<br />

(de uma reali<strong>da</strong>de a qual já estamos acostumados para outra,<br />

ain<strong>da</strong> por conhecer)<br />

• Que p<strong>res</strong>supõe Abertura,<br />

(um olhar f<strong>res</strong>co para tudo que a jorna<strong>da</strong> nos ap<strong>res</strong>enta, de<br />

modo a suspender nossos julgamentos habituais)<br />

• Para gerar Transformação,<br />

(que deve ser senti<strong>da</strong> não apenas por quem embarcou na<br />

jorna<strong>da</strong>, como também por quem foi visitado)<br />

• Por meio <strong>da</strong> Interação.<br />

É importante notar que os aprendizados decorrentes <strong>da</strong>s jorna<strong>da</strong>s se<br />

baseiam em quatro tipos de interação interconectados:<br />

• Do indivíduo com o grupo que compartilha com ele as vivências;<br />

• Do indivíduo com as pessoas que passa a conhecer nos<br />

petrcursos e destinos <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong>;<br />

• Do indivíduo com os ambientes, contextos e paisagens que o<br />

cercam durante a jorna<strong>da</strong>;<br />

• Do indivíduo com ele mesmo, na forma de pensamentos e<br />

sentimentos, reflexões e intuições, novas vontades e ver<strong>da</strong>des.<br />

Na educação, temos assistido recentemente ao surgimento de inúmeras<br />

jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem. São expedições com o propósito de lançar<br />

luz em iniciativas e espaços educativos inovado<strong>res</strong>, podendo ser globais<br />

(como propuseram os auto<strong>res</strong> do livro “Volta ao Mundo em 13 Escolas”),<br />

nacionais (a experiência de Caio Dib ao lançar o “Caindo no Brasil”) ou<br />

locais (como faz o Projeto Âncora ao oferecer a transformação vivencial).<br />

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Jorna<strong>da</strong>s de Aprendizagem<br />

Quer sejam cria<strong>da</strong>s espontaneamente ou propostas por organizações<br />

que acreditam numa educação centra<strong>da</strong> na vivência, as jorna<strong>da</strong>s de<br />

aprendizagem são uma oportuni<strong>da</strong>de de renovar o nosso olhar. Isso só se<br />

torna possível quando nos colocamos em movimento: “a mesa de trabalho<br />

é um lugar perigoso de se ver o mundo” (John le Carré).<br />

Para mergulhar:<br />

• “Jorna<strong>da</strong> de Aprendizagem em <strong>Educação</strong>: Heliópolis, bairro<br />

educador” [vídeo]. Grupo Tellus. Youtube. Link<br />

• “Jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem, doutorado informal... e um<br />

Journeyman em Cuba”, Alex Bretas. <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. Link<br />

• “Out of Eden Walk”, Paul Salopek. National Geographic. Link<br />

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Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

Aprender a fazer junto para “ven-Ser” quem se é<br />

A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação é um sistema composto por princípios e<br />

processos orientados pelo propósito de instaurar culturas humanas mais<br />

cooperativas. Ca<strong>da</strong> pessoa é considera<strong>da</strong> um mestre-aprendiz que, em<br />

conjunto com as outras, descobre a si mesma de modo a fortalecer sua<br />

autonomia ao mesmo tempo em que promove o bem comum. Deste<br />

modo, a Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação acredita que todos podem “ven-Ser”<br />

juntos: não é necessário que alguém perca para que o outro ganhe.<br />

A Pe<strong>da</strong>gogia também se orienta por meio de um fluxo de 7 práticas<br />

cooperativas, a saber: com-tato; contrato; in-quieta-ações; alianças e<br />

parcerias; soluções como-uns; projetos de cooperação e celebrar o ven-Ser.<br />

Por quê?<br />

Situação Cooperativa<br />

Situação Competitiva<br />

As pessoas percebem que o atingimento de<br />

seus objetivos é, em parte, consequência <strong>da</strong><br />

ação dos outros membros do grupo.<br />

As pessoas são mais sensíveis as solicitações<br />

dos outros.<br />

As pessoas aju<strong>da</strong>m-se mutualmente com<br />

frequência.<br />

Há maior homogenei<strong>da</strong>de na quanti<strong>da</strong>de de<br />

contribuições e de participações.<br />

A produtivi<strong>da</strong>de, em termos qualitativos, é<br />

maior.<br />

A especialização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des é maior.<br />

As pessoas percebem que o atingimento de<br />

seus objetivos é incompatível com a obtenção<br />

dos objetivos dos demais membros do grupo.<br />

As pessoas são menos sensíveis as solicitações<br />

dos outros.<br />

As pessoas aju<strong>da</strong>m-se mutualmente com<br />

menor frequência.<br />

Há menor homogenei<strong>da</strong>de na quanti<strong>da</strong>de de<br />

contribuições e de participações.<br />

A produtivi<strong>da</strong>de, em termos qualitativos, é<br />

menor.<br />

A especialização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des é menor.<br />

Fonte: Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação. Caderno de Referência do Esporte, volume 12. Fun<strong>da</strong>ção Vale.<br />

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Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação começou com os jogos cooperativos. Na<br />

déca<strong>da</strong> de 90, Fábio Otuzi Brotto e outros educado<strong>res</strong> desenvolviam<br />

trabalhos na área <strong>da</strong> educação física que buscavam transformar a postura<br />

competitiva geralmente associa<strong>da</strong> às práticas esportivas. Na essência, a<br />

questão não era criar novos jogos – embora isso também fosse feito –, e<br />

sim promover uma nova maneira de jogar.<br />

Ao se propor uma nova forma de jogar, o que Brotto e a comuni<strong>da</strong>de<br />

do Projeto Cooperação 30 oferecem, na ver<strong>da</strong>de, é um olhar f<strong>res</strong>co para<br />

questões fun<strong>da</strong>mentais do nosso tempo.<br />

“[…] faz-se aqui uma provocação para ir além <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>de do ganhar-eperder<br />

e caminhar rumo a um novo e urgente jogo, no qual todos possam<br />

realmente ven-Ser, isto é, ser mais plenamente quem se é e, assim, poder<br />

se importar genuinamente com os outros, ao se entender que o bem-estar<br />

pessoal é totalmente interdependente do bem-estar comum” 31 .<br />

Os jogos cooperativos, neste sentido, têm como objetivo principal<br />

o “o aprender a fazer com o outro para promover as transformações<br />

necessárias que geram o bem-estar comum” 32 . A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

Cooperação também propõe algo nesse sentido, mas amplia o território<br />

ao incluir outros tipos de prática junto aos jogos. Ela também organiza e<br />

sistematiza os achados que o Projeto Cooperação tem feito ao longo dos<br />

anos, de modo a configurar uma nova práxis compatível com uma visão<br />

de mundo cooperativa.<br />

Quatro princípios norteiam a Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação 33 , e são<br />

ap<strong>res</strong>entados abaixo em consonância com os quatro pila<strong>res</strong> <strong>da</strong> educação<br />

segundo o relatório para a UNESCO <strong>da</strong> Comissão Internacional sobre<br />

<strong>Educação</strong> para o Século XXI:<br />

• O princípio <strong>da</strong> coexistência e o aprender a conhecer:<br />

“Seja lá o que uma pessoa pensa, sente, faz ou não faz, ela afeta to<strong>da</strong>s as<br />

outras e é afeta<strong>da</strong> por elas, sem exceção”. Todos jogamos juntos o mesmo<br />

“jogo-vi<strong>da</strong>”.<br />

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101


Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

• O princípio <strong>da</strong> com-vivência e o aprender a conviver:<br />

A necessi<strong>da</strong>de de que todos se sintam realmente “participantes <strong>da</strong><br />

caminha<strong>da</strong>”, permitindo a inclusão de “ideias, de sentimentos, de visões,<br />

de sensações, de atitudes, de comportamentos, de valo<strong>res</strong> <strong>da</strong>s pessoas e<br />

de relações”.<br />

• O princípio <strong>da</strong> cooperação e o aprender a fazer:<br />

Aprender a fazer junto com o outro, preocupando-se com ele e<br />

partilhando recursos, pontos de vista e olha<strong>res</strong>. Esse princípio nega a<br />

crença de que os primórdios <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de conformaram uma história<br />

de competição; pelo contrário, culturas ancestrais em geral cultivavam<br />

posturas bastante cooperativas.<br />

• O princípio <strong>da</strong> comum-uni<strong>da</strong>de e o aprender a ser:<br />

Cultivar o instinto de comuni<strong>da</strong>de humano como uma potência que abre<br />

novas possibili<strong>da</strong>des de construção coletiva. Aprender a ser em comumuni<strong>da</strong>de,<br />

contrapondo uma lógica individualista.<br />

Como?<br />

Fonte: Projeto Cooperação.<br />

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102


Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

A figura acima dá conta <strong>da</strong>s sete práticas associa<strong>da</strong>s à Pe<strong>da</strong>gogia<br />

<strong>da</strong> Cooperação, além de quatro posturas relaciona<strong>da</strong>s ao trabalho<br />

cooperativo: desapego, plena atenção, abertura compartilha<strong>da</strong> e<br />

integri<strong>da</strong>de. O fluxo <strong>da</strong>s sete práticas pode ser aplicado a diversas<br />

situações, desde um encontro de poucas horas até ações complexas, de<br />

vários meses. A descrição <strong>da</strong>s sete práticas segue abaixo:<br />

Com-tato<br />

O com-tato é o momento do toque sutil, do reconhecimento <strong>da</strong><br />

humani<strong>da</strong>de do outro por meio <strong>da</strong> p<strong>res</strong>ença física. Na Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong><br />

Cooperação, to<strong>da</strong> reunião inicia-se por meio de uma ativi<strong>da</strong>de de com-tato.<br />

Contrato<br />

O contrato é a etapa de celebração dos combinados e acordos de<br />

convivência do grupo. Todos poderão, nessa fase, manifestar suas<br />

necessi<strong>da</strong>des individuais para que o encontro transcorra <strong>da</strong> melhor forma<br />

possível para todos.<br />

In-quieta-ações<br />

As in-quieta-ações acontecem por meio de um processo de cocriação<br />

focado nas questões mais vivas e nos desejos de saber, de agir e de interagir<br />

de todo o grupo. O objetivo é “colocar na mesa” tudo que inquieta<br />

os participantes, evitando julgamentos e escutando para compreender.<br />

O trabalho com as inquietações pode ter um tema norteador (que faça<br />

sentido para o grupo) ou ser livre para que as questões mais importantes<br />

possam aparecer.<br />

Alianças e parcerias<br />

O momento de alianças e parcerias é crucial porque significa uma pausa<br />

no processo costumeiro de perguntar-e-<strong>res</strong>ponder. Aqui, as pessoas são<br />

convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a jogar algum jogo ou vivenciar alguma experiência que ajude<br />

a despertá-las para o espírito cooperativo — geralmente, ativi<strong>da</strong>des cujo<br />

objetivo seja impossível de se realizar sozinho. A formação de alianças pode<br />

se <strong>da</strong>r também por meio de um processo de agregação dos participantes em<br />

torno dos temas e inquietações surgi<strong>da</strong>s na etapa anterior.<br />

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103


Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

Soluções como-uns<br />

As soluções como-uns ocorrem num momento marcado pela exploração<br />

conjunta de caminhos possíveis para li<strong>da</strong>r com as inquietações. É<br />

importante que as ideias, sugestões e comentários de todos sejam<br />

considerados. As descobertas do grupo durante a etapa de alianças e<br />

parcerias poderão reverberar aqui, adicionando riqueza às inquietações e<br />

soluções levanta<strong>da</strong>s.<br />

Projetos de cooperação<br />

Os projetos de cooperação surgem como desdobramentos de todo<br />

o processo e especialmente <strong>da</strong> fase de soluções como-uns. Este é o<br />

momento de traduzir em ações as ideias do grupo, partindo do simples<br />

para o complexo e começando pequeno. A ideia é colocar a cooperação<br />

em prática no dia-a-dia de ca<strong>da</strong> um.<br />

Celebrar o ven-Ser<br />

A etapa de celebrar o ven-Ser honra as tradições ancestrais que depositam<br />

nas celebrações grande importância para a reenergização e a síntese<br />

de aprendizados do grupo. Vários tipos de ativi<strong>da</strong>des podem ser úteis,<br />

desde uma festa com brincadeiras até momentos mais introspectivos de<br />

agradecimento. Mais uma vez, todos terão voz e poderão manifestar seus<br />

sentimentos em relação a todo o processo vivenciado.<br />

Cursei a pós-graduação em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação e Metodologias<br />

Colaborativas ofereci<strong>da</strong> pelo Projeto Cooperação em 2013. Desde então,<br />

vejo a Pe<strong>da</strong>gogia como uma janela de oportuni<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> qual<br />

podemos acessar estados de bem-estar, empatia e cui<strong>da</strong>do coletivo. Além<br />

disso, entendo que ela funciona como um enquadramento muito efetivo<br />

para o trabalho com grupos, especialmente pelas suas dimensões lúdica e<br />

afetiva. Por ser versátil, sua aplicação encontra terreno fértil em contextos<br />

diversos, desde escolas até emp<strong>res</strong>as, ONGs e comuni<strong>da</strong>des. No limite, a<br />

cooperação é de fato um atributo humano.<br />

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104


Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação<br />

Para mergulhar<br />

• “Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação”. Caderno de referência de esporte,<br />

volume 12. Fun<strong>da</strong>ção Vale. Link<br />

• “Jogos Cooperativos na Fun<strong>da</strong>ção Casa – Relato de Experiência”,<br />

Karina Pi<strong>res</strong>. Projeto Cooperação. Link<br />

• “Ativi<strong>da</strong>des cooperativas”. Projeto Cooperação. Link<br />

• “Circulando Cooperação” [vídeo]. Projeto Cooperação. Youtube.<br />

Link<br />

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105


1 Dia na Vi<strong>da</strong><br />

Compreender a fundo primeiro, sem julgar<br />

Quando precisamos compreender profun<strong>da</strong>mente determina<strong>da</strong><br />

questão ou público, muitas vezes os métodos de pesquisa tradicionais<br />

esbarram em seus limites. O método 1 dia na vi<strong>da</strong> — também conhecido<br />

por “shadowing” ou imersão em contexto — é uma forma de se lançar<br />

numa mini jorna<strong>da</strong> de aprendizagem por meio <strong>da</strong> observação e <strong>da</strong><br />

vivência do contexto que estamos querendo conhecer.<br />

Como o próprio nome sugere, a ideia é viver um dia inteiro na companhia<br />

de uma ou mais pessoas que são alvo <strong>da</strong> investigação. Isso significa fazer<br />

o que elas fazem, comer o que elas comem, dormir onde elas dormem,<br />

conversar com quem elas conversam e assim por diante.<br />

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1 Dia Na Vi<strong>da</strong><br />

Por quê?<br />

Ter a coragem de se aventurar numa vivência de 1 dia na vi<strong>da</strong> pode gerar<br />

reflexos bastante positivos. Do ponto de vista do pesquisador, aspectos<br />

mais sutis de comportamento, crenças e visões do público investigado<br />

vão se revelando a partir do contato mais íntimo. Em relação ao público,<br />

as pessoas tendem a se sentir reconheci<strong>da</strong>s por perceberem o inte<strong>res</strong>se<br />

genuíno do pesquisador por elas. Isso contribui para gerar confiança, um<br />

aspecto fun<strong>da</strong>mental para que seja possível acessar suas reais formas de<br />

viver.<br />

A postura de observação é importante porque nos aju<strong>da</strong> a adiar nossos<br />

julgamentos e fortalece nossa p<strong>res</strong>ença. Ao vivenciar um dia na vi<strong>da</strong> de<br />

alguém, começamos a compreender o que está por trás de suas atitudes,<br />

isto é, porque se age de determina<strong>da</strong> forma. Acessamos um grau de<br />

empatia capaz de operar potentes reflexões em nossa visão sobre o outro<br />

e sobre nós mesmos. Identificamos as semelhanças que nos unem, para<br />

além <strong>da</strong>s diferenças.<br />

Como?<br />

É possível aplicar a técnica de 1 dia na vi<strong>da</strong> em várias situações: pesquisas<br />

de mercado, investigações sociais e culturais, imersões no dia-a-dia de<br />

emp<strong>res</strong>as etc. Quatro princípios norteiam o desenho e a vivência desse<br />

método:<br />

• Definir a intenção: estabeleça o propósito <strong>da</strong> interação por<br />

meio de questões como “o que eu quero aprender com isso?”<br />

e “quais as três perguntas que acredito que poderiam ser<br />

<strong>res</strong>pondi<strong>da</strong>s a partir dessa vivência?”. Resumir a intenção em<br />

poucas palavras pode ser útil.<br />

• Suspender julgamentos: uma vez iniciado o dia, tente não fazer<br />

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107


1 Dia Na Vi<strong>da</strong><br />

comparações do que você observa com o que você já conhece.<br />

Não se trata de concor<strong>da</strong>r ou discor<strong>da</strong>r, e sim de entender<br />

profun<strong>da</strong>mente. Os julgamentos provavelmente aparecerão na<br />

sua mente: aceite que eles venham, mas se esquive deles para<br />

focar no que está à sua frente.<br />

• Acessar a ignorância: imagine-se com o olhar e a curiosi<strong>da</strong>de<br />

de uma criança ao se deparar com uma situação<br />

completamente nova. Faça perguntas exploratórias às pessoas,<br />

evitando embutir p<strong>res</strong>supostos e hipóteses prévias.<br />

• Ser empático: enten<strong>da</strong> que o outro vê a partir <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de dele.<br />

A empatia ocorre quando você consegue acessar o mundo <strong>da</strong><br />

pessoa e compreender as motivações dela para fazer o que faz.<br />

Deixe que ela saiba do seu inte<strong>res</strong>se e reconheça a legitimi<strong>da</strong>de<br />

de suas escolhas e atitudes.<br />

Para desenhar um momento de 1 dia na vi<strong>da</strong>, separe algumas horas dias<br />

antes <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> para definir a intenção e planejar a logística. É possível<br />

planejar uma visita tanto individualmente quanto num pequeno grupo de<br />

pesquisado<strong>res</strong>.<br />

No dia subsequente à vivência, tenha ao menos um período<br />

(preferencialmente a manhã) para refletir (e conversar) sobre o ocorrido.<br />

Nesse momento, é muito útil recontar as histórias mais marcantes e<br />

escrever os pensamentos, sentimentos e atitudes manifestados tanto<br />

pelo público quanto pelos pesquisado<strong>res</strong>. Ao final, <strong>res</strong>erve um tempo para<br />

sintetizar os principais aprendizados.<br />

Vivenciar um dia na vi<strong>da</strong> de uma pessoa ou grupo pode revelar<br />

percepções muito diferentes <strong>da</strong>s que estamos habituados. É um mergulho<br />

na reali<strong>da</strong>de do outro.<br />

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1 Dia Na Vi<strong>da</strong><br />

Para mergulhar<br />

• “Shadowing”, uma <strong>da</strong>s ferramentas <strong>da</strong> Teoria U semelhante ao 1<br />

dia na vi<strong>da</strong>. Theory U Toolbook 1.1. P<strong>res</strong>encing Institute. Link<br />

• “Human Centered Design: kit de ferramentas”. Busque por<br />

“imersão em contexto” a partir <strong>da</strong> página 32. IDEO. Link<br />

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RPG<br />

Fonte: Taverna do Elfo e do Arcanos.<br />

Jogo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

O Role-Playing Game (RPG) é um tipo de jogo imaginativo cujo ponto de<br />

parti<strong>da</strong> é a criação de narrativas ficcionais. Desde sua criação na déca<strong>da</strong><br />

de 70 o RPG evoluiu para formatos e plataformas diversas, mas o jogo<br />

original dispensa muitos recursos. Ca<strong>da</strong> parti<strong>da</strong> é chama<strong>da</strong> de “aventura”,<br />

e uma sequência pode ser denomina<strong>da</strong> de “campanha”.<br />

O funcionamento do jogo ocorre por meio de um sistema previamente<br />

determinado de regras, dentro <strong>da</strong>s quais os jogado<strong>res</strong> têm liber<strong>da</strong>de de<br />

escolha de acordo com o perfil de seus personagens. Neste sentido, ca<strong>da</strong><br />

jogador é como um ator. Há também a figura do mestre, que propõe<br />

diferentes situações narrativas e julga as ações dos personagens em<br />

face de ca<strong>da</strong> uma delas. Não há um número definido de jogado<strong>res</strong>, mas<br />

usualmente as aventuras são joga<strong>da</strong>s em grupos de até sete pessoas.<br />

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110


RPG<br />

Por quê?<br />

O RPG é inte<strong>res</strong>sante em contextos educativos por diversas razões, e<br />

talvez a principal delas seja o fato de que se trata de um jogo que nutre<br />

profun<strong>da</strong>mente a imaginação. Como Albert Einstein disse 34 , “a imaginação<br />

é mais importante que o conhecimento. O conhecimento é limitado. A<br />

imaginação engloba todo o mundo”. Ain<strong>da</strong> que essa frase tenha vindo<br />

de um dos grandes pensado<strong>res</strong> do século XX, poucas pessoas levam-na<br />

realmente a sério.<br />

Várias aventuras de RPG são cooperativas, de modo que o grupo precisa<br />

se perceber e cooperar para que seja possível ganhar junto. Não é<br />

costume haver ganhado<strong>res</strong> e perdedo<strong>res</strong> individuais, embora isso<br />

aconteça em alguns estilos de jogo. Para se jogar bem, é necessário<br />

desenvolver a empatia, que consiste, no caso, na habili<strong>da</strong>de de entrar na<br />

vi<strong>da</strong> do personagem para pensar e agir como ele faria.<br />

O RPG também pode ser encarado como uma metáfora <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Há<br />

situações inespera<strong>da</strong>s, existe a aleatorie<strong>da</strong>de, mas isso convive com os<br />

aprendizados — os pontos de experiência — e as escolhas de ca<strong>da</strong> um.<br />

O caminho que escolheremos trilhar ditará o nosso desenvolvimento<br />

pessoal, assim como ocorre com os personagens de uma aventura no<br />

Brasil colonial.<br />

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111


RPG<br />

Como?<br />

Fonte: Roleplayers<br />

O principal objetivo do RPG é a diversão. A ampliação de conhecimentos,<br />

repertório, o desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des socioemocionais são<br />

consequência.<br />

Tendo isso em vista, há diferentes formas de aplicá-lo num contexto<br />

educativo: professo<strong>res</strong> podem criar aventuras basea<strong>da</strong>s em determinados<br />

conteúdos e convi<strong>da</strong>r seus educandos a jogarem; os próprios educandos<br />

podem se apropriar do processo de criação <strong>da</strong>s narrativas e estruturar<br />

sistemas de jogo de acordo com suas curiosi<strong>da</strong>des; ou um RPGista mais<br />

experiente pode ser chamado para criar jogos customizados ou engajar<br />

professo<strong>res</strong> e educandos numa dinâmica coletiva de criação.<br />

Para que professo<strong>res</strong> se habilitem a criar aventuras, uma boa forma é<br />

começar jogando entre si. Vivenciar parti<strong>da</strong>s e sentir as emoções do RPG<br />

pode ser um ótimo caminho para que os educado<strong>res</strong> fiquem motivados<br />

para criar narrativas próprias.<br />

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112


RPG<br />

Caso algum educando ou grupo de estu<strong>da</strong>ntes já jogue RPG, reconhecer<br />

a sua expertise e convidá-lo a partilhar esse conhecimento com o <strong>res</strong>tante<br />

<strong>da</strong> turma pode ser um movimento estratégico.<br />

Decidi escrever sobre o RPG a partir do contato que tive com o Thiago<br />

Oliveira, do Grupo Interpretar e Aprender. Trata-se de um coletivo<br />

de jogado<strong>res</strong> experientes que optaram por conciliar a paixão pelas<br />

aventuras com o propósito <strong>da</strong> educação. A partir de deman<strong>da</strong>s de<br />

conteúdo manifesta<strong>da</strong>s por professo<strong>res</strong> e escolas, eles desenvolvem jogos<br />

customizados e mestram parti<strong>da</strong>s segmenta<strong>da</strong>s em cenas.<br />

<strong>Fora</strong> <strong>da</strong> escola também é possível aproveitar o poder do RPG com fins de<br />

aprendizagem. Imagina só: como seria sumarizar os <strong>res</strong>ultados de uma<br />

pesquisa qualitativa por meio de uma aventura com as histórias e perfis<br />

de maior destaque? Ou criar uma campanha de transformação escolar? As<br />

possibili<strong>da</strong>des são inúmeras: basta começar.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Role-playing game”. Wikipédia. Link<br />

• “Grupo Interpretar e Aprender”. Link<br />

• “Roleplayers – professional game-based storytelling”. Link<br />

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113


Leitura Objetiva<strong>da</strong><br />

Novas lentes de ler o mundo<br />

A leitura objetiva<strong>da</strong> propõe enxergarmos com outros olhos em busca<br />

de ampliar a compreensão que temos de algo. Quer sejam objetos de<br />

leitura literal ou leituras de mundo, a ideia é criar um objetivo que ajude<br />

a mu<strong>da</strong>r nossa perspectiva habitual. Por exemplo, é possível imaginar<br />

“o que uma pessoa muito diferente de mim faria” ao li<strong>da</strong>rmos com uma<br />

situação complexa, ou identificar numa obra literária os trechos que se<br />

conectam com um tema ou padrão específico. A ideia é tomar distância<br />

para visualizar de outra forma.<br />

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114


Leitura Objetiva<strong>da</strong><br />

Por quê?<br />

Ao pesquisar sobre leitura objetiva<strong>da</strong>, encontrei-a <strong>res</strong>trita a um contexto<br />

de ensino escolar, onde professo<strong>res</strong> propõem-na em ativi<strong>da</strong>des de<br />

interpretação de textos. No entanto, ela pode ser aproveita<strong>da</strong> também<br />

a partir de uma visão de aprendizagem livre, e para isso é preciso que a<br />

ativi<strong>da</strong>de seja planeja<strong>da</strong> por quem a realizará de fato.<br />

Exercitar a leitura objetiva<strong>da</strong> é entender que tudo pode se tornar objeto<br />

de estudo, desde que tenhamos um propósito claro (o “objetivo” <strong>da</strong><br />

leitura). Pensar numa perspectiva nova para conformar uma investigação<br />

altera nossa forma habitual de ver. É um trampolim para a aprendizagem<br />

que modifica antes o sujeito, e por isso acaba transformando também o<br />

objeto.<br />

Assim, objetos e situações aparentemente banais podem ganhar<br />

contornos vívidos e proporcionar bons insights.<br />

Como?<br />

Fonte: Le Vernis.<br />

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115


Leitura Objetiva<strong>da</strong><br />

Ampliando o espectro para além <strong>da</strong> interpretação de texto em sala de<br />

aula, a leitura objetiva<strong>da</strong> ganha uma varie<strong>da</strong>de de aplicações.<br />

Um exemplo concreto é o programa de investigação-aprendizagem<br />

democrática “100 dias de verão” criado por Augusto de Franco. Por meio<br />

de leituras exploratórias e reflexões, o programa consiste em identificar<br />

padrões autocráticos (opostos à democracia) em obras clássicas – livros de<br />

ficção, filmes e textos teóricos.<br />

A iniciativa baseia-se na noção de “isomorfismos”, isto é, cor<strong>res</strong>pondências<br />

de fenômenos entre as histórias e os raciocínios ap<strong>res</strong>entados. No<br />

caso, utilizou-se a leitura objetiva<strong>da</strong> para conferir um novo sentido às<br />

obras estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, que se revela útil ao propósito do programa: aprender<br />

democracia identificando e “desaprendendo” autocracia.<br />

Outro exemplo de leitura objetiva<strong>da</strong> é a biomimética, que propõe um<br />

olhar de aprendiz em relação à natureza com o objetivo de projetar<br />

soluções humanas mais eficientes e sustentáveis.<br />

Contudo, objetivar demais uma leitura pode acabar <strong>res</strong>tringindo nosso<br />

campo de visão a seu <strong>res</strong>peito. É preciso cui<strong>da</strong>do para não prejudicar<br />

nossa visão periférica: a serendipi<strong>da</strong>de, ou a capaci<strong>da</strong>de que a<br />

aprendizagem tem de nos surpreender. A objetivação <strong>da</strong> leitura não deixa<br />

de ser uma racionalização, e há contextos e ocasiões que merecem não<br />

ser racionaliza<strong>da</strong>s.<br />

Observação <strong>da</strong> natureza, leitura de obras, viagens, encontros. Ao interagir<br />

com o mundo, que lente faz mais sentido usar? Quais padrões você está<br />

buscando?<br />

Para mergulhar:<br />

• “100 dias de verão – book do programa”. Augusto de Franco.<br />

Slideshare. Link<br />

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116


Intervenções e Performances<br />

Desafiar a partir de novos sentidos<br />

Nossa rotina pode acabar nos fazendo esconder as contradições do<br />

mundo debaixo do tapete. Como se não houvesse espaço para desviarmos<br />

de rota. Você talvez já tenha visto alguém fazendo algo na rua que te<br />

intrigou, ain<strong>da</strong> que por poucos instantes. Algo que te surpreendeu, que<br />

desafiou sua normali<strong>da</strong>de.<br />

Desafiar o que está estabelecido é uma <strong>da</strong>s principais características<br />

<strong>da</strong>s intervenções e performances, duas formas de arte que integram<br />

linguagens diversas (<strong>da</strong>nça, artes plásticas, teatro, literatura, música) e<br />

que dialogam intimamente com os espaços públicos.<br />

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117


Intervenções e Performances<br />

Por quê?<br />

A linguagem poética tem sua razão própria, como acreditava o filósofo<br />

italiano Giambattista Vico. Num mundo em que a ciência tornou-se<br />

absoluta, é imp<strong>res</strong>cindível a arte. Humberto Maturana afirma que<br />

nossas emoções condicionam nosso viver. Segundo ele, falar, ou mesmo<br />

pensar, já são atos secundários: primeiro vem o sentir. Sensibilizar e ser<br />

sensibilizado tornam-se, portanto, as chaves para a transformação de si e<br />

do mundo.<br />

Do ponto de vista <strong>da</strong> antroposofia, a dimensão do Sentir é a conexão entre<br />

as facul<strong>da</strong>des humanas do Pensar e do Querer/Agir. Se quisermos agir de<br />

forma mais consciente, é preciso não negligenciar o sentir. Nessa linha,<br />

o Coletivo PI fornece-nos um conceito de intervenção urbana (um tipo<br />

específico de intervenção cujo lócus é a ci<strong>da</strong>de) que diz o seguinte 35 :<br />

“A intervenção urbana é uma forma de arte cujo objetivo é interagir,<br />

de maneira criativa e poética, com o espaço cotidiano e as pessoas. As<br />

intervenções são capazes de reinventar, ain<strong>da</strong> que momentaneamente,<br />

novos sentidos ao espaço escolhido e suscitar novas percepções às<br />

pessoas”.<br />

Conforme o entendimento acima, intervenções e performances são<br />

capazes de subitamente nos imp<strong>res</strong>sionar, fazendo surgir novos senti<strong>res</strong>.<br />

Por isso, têm o poder de desafiar p<strong>res</strong>supostos.<br />

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118


Intervenções e Performances<br />

Como?<br />

Fonte: Coletivo PI (foto: Eduardo Bernardino)<br />

A performance que me fez olhar com mais atenção para o vasto campo<br />

de possibili<strong>da</strong>des desse tipo de iniciativa foi a “Entre Saltos” (foto acima),<br />

do Coletivo PI. A ação consiste num desfile público de mulhe<strong>res</strong>, que<br />

caminham por várias ruas calçando apenas um salto alto e, ao final, dão<br />

vi<strong>da</strong> a uma instalação artística.<br />

Segundo as artistas do grupo, o foco de Entre Saltos é “a mulher que<br />

procura se equilibrar entre as várias esferas de sua vi<strong>da</strong> e sobre as<br />

imposições de uma socie<strong>da</strong>de ca<strong>da</strong> vez mais volta<strong>da</strong> ao culto à imagem e<br />

a padrões de beleza rigorosos” 36 .<br />

A força de uma ação como essa está em sua carga simbólica, metafórica.<br />

Ao propor uma performance ou intervenção, é preciso libertar nosso olhar<br />

artístico. No blog do Projeto PiPiPi encontrei uma pergunta que pode<br />

aju<strong>da</strong>r pessoas e grupos a fazer isso. Ao a<strong>da</strong>ptá-la, ficou assim:<br />

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119


Intervenções e Performances<br />

Com que símbolos, objetos, histórias, imagens, cenas nós podemos<br />

socializar nossas reflexões e fazer despertar novas percepções nas<br />

pessoas que moram ou transitam por esse lugar?<br />

A partir <strong>da</strong>í, a experimentação começa. Existem várias formas de perceber<br />

o processo de criação, mas geralmente o trabalho ocorre de forma não<br />

racional. Por isso, estratégias também não racionais, como a combinação<br />

inusita<strong>da</strong> de elementos distintos, podem ser muito úteis. Neste sentido,<br />

histórias e objetos aparentemente banais ganham simbologias poéticas<br />

que questionam nossos faze<strong>res</strong> cotidianos.<br />

Isso é exatamente o que propõe o anônimo e veterano artista de rua<br />

Bansky. Ele se vale do choque e <strong>da</strong> imprevisibili<strong>da</strong>de para descarregar<br />

mensagens bastante politiza<strong>da</strong>s, intervindo em diversos tipos de espaço<br />

público. Neste vídeo, que costumava ser ap<strong>res</strong>entado no site do artista, são<br />

retrata<strong>da</strong>s algumas de suas intervenções na faixa de Gaza, no Oriente Médio.<br />

Existem vários outros exemplos de intervenções e performances que<br />

se ocupam de espaços de uso coletivo com a proposta de “descobrir<br />

novos destinos”. Os espaços e situações do nosso cotidiano podem estar<br />

ansiosos querendo contar uma história: a arte aju<strong>da</strong>-nos a descobrir qual é.<br />

Para mergulhar<br />

• “Entre Saltos”. Coletivo PI. Link<br />

• “PiPiPi – Projeto de Investigação <strong>da</strong> Prática de Intervenção e<br />

Performances Interativas”. Link<br />

• Site do artista Bansky. Link<br />

• “Bansky: o anônimo mais famoso do mundo”.<br />

Superinte<strong>res</strong>sante. Link<br />

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120


Despertar o melhor do outro<br />

Como aju<strong>da</strong>r alguém se tornar<br />

a sua melhor versão?<br />

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121


Perguntas Poderosas<br />

Perguntar é a base do aprender<br />

Fazer perguntas é a manifestação por excelência <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de humana.<br />

Perguntar nos dá acesso ao mundo, ao outro e a nós mesmos de jeitos<br />

novos. Formas diferentes de se perguntar <strong>res</strong>ultarão em <strong>res</strong>postas e<br />

<strong>res</strong>ultados também distintos, logo, é inte<strong>res</strong>sante aprimorar nossas<br />

habili<strong>da</strong>des de questionamento.<br />

Por quê?<br />

A linguagem desenvolveu-se na nossa espécie de maneira fascinante. Por<br />

meio de entonações, símbolos como a interrogação e construções frasais<br />

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122


Perguntas Poderosas<br />

ligeiramente diferentes, conquistamos a capaci<strong>da</strong>de de nos comunicar<br />

“pedindo” uma <strong>res</strong>posta. Se to<strong>da</strong> aprendizagem ocorre pela interação,<br />

então desde o seu surgimento as perguntas cumprem um papel decisivo<br />

nesse processo.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, perguntamos pouco. E poderíamos fazer perguntas muito<br />

mais positivas, propositivas e ousa<strong>da</strong>s. As questões têm o poder de<br />

revelar aspectos essenciais relacionados aos pensamentos, sentimentos<br />

e intenções <strong>da</strong>s pessoas. Podem rep<strong>res</strong>entar, de certo modo, o abandono<br />

do ego para <strong>da</strong>r lugar à vontade de aprender com o outro. Podem, ain<strong>da</strong>,<br />

guiar investigações e fazê-las mais assertivas (é o que boas perguntas de<br />

pesquisa fazem). No limite, fazer boas perguntas é uma arte ca<strong>da</strong> vez mais<br />

necessária no mundo de <strong>res</strong>postas imediatas em que vivemos.<br />

Como?<br />

As perguntas povoam to<strong>da</strong>s as interações sociais e têm aplicações muito<br />

diversas. Em processos de aprendizagem, as questões são importantes<br />

para instaurar novas reflexões, acolher percepções, desven<strong>da</strong>r o que está<br />

se passando consigo mesmo e com o outro, criar laços, dentre outras<br />

funções. Lemos o mundo por meio de nossas perguntas.<br />

O melhor combustível para alimentar boas perguntas é a escuta atenta.<br />

Ao nos entregarmos ao que está sendo dito, conseguimos formular mais<br />

facilmente as questões que poderão aprofun<strong>da</strong>r a interação. Para tanto,<br />

é necessário real inte<strong>res</strong>se. Um bom exercício é se engajar em conversas<br />

de modo que você apenas possa perguntar, enquanto a outra pessoa fala<br />

livremente.<br />

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123


Perguntas Poderosas<br />

Fonte: Simply Inspired Teaching.<br />

Ain<strong>da</strong> que a escuta seja um ingrediente essencial para aprendermos a<br />

fazer boas perguntas, algumas questões são amplas o suficiente para<br />

serem utiliza<strong>da</strong>s em diferentes situações. A figura acima ap<strong>res</strong>enta<br />

cinco perguntas simples que podem ser aproveita<strong>da</strong>s em processos de<br />

aprendizagem calcados no diálogo:<br />

• O que você acha?<br />

• Por que você acha isso?<br />

• Como você chegou nisso?<br />

• Me conta mais?<br />

• Quais perguntas você continua tendo?<br />

É possível também perguntar-se a si mesmo. O site Life By Danielle fez<br />

uma compilação de questões utiliza<strong>da</strong>s em processos de coaching que<br />

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124


Perguntas Poderosas<br />

podem ser úteis em momentos de reflexão individual. Confira algumas<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s e traduzi<strong>da</strong>s abaixo:<br />

• O que eu realmente quero?<br />

• Como eu estou me sentindo com [determina<strong>da</strong> situação]?<br />

• O que mais está acontecendo na minha vi<strong>da</strong> [além de certa<br />

situação específica]?<br />

• Por que é assim?<br />

• O que está f<strong>alta</strong>ndo pra mim agora?<br />

• Por que não?<br />

As perguntas também podem servir a conversas em grupo. Eric E.<br />

Vogt, Juanita Brown e David Isaacs, três entusiastas <strong>da</strong>s perguntas<br />

nos processos sociais, <strong>res</strong>umiram em seu artigo “The Art of Powerful<br />

Questions” as principais características <strong>da</strong>s boas perguntas no contexto de<br />

processos grupais 37 :<br />

• Despertam a curiosi<strong>da</strong>de;<br />

• Estimulam a reflexão;<br />

• Revelam os p<strong>res</strong>supostos escondidos;<br />

• Questionam o que está posto;<br />

• São um convite à criativi<strong>da</strong>de e a novas possibili<strong>da</strong>des;<br />

• Geram energia e movimento;<br />

• Canalizam a atenção e estimulam a investigação;<br />

• Permanecem vivas nos participantes;<br />

• Tocam em significados profundos;<br />

• Geram mais perguntas.<br />

O ato de perguntar é uma capaci<strong>da</strong>de humana ancestral, um tesouro à<br />

nossa disposição. Ao tomarmos consciência disso, seremos capazes de<br />

imprimir a mesma dedicação com que buscamos <strong>res</strong>postas nos processos<br />

de desenhar perguntas.<br />

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125


Perguntas Poderosas<br />

Para mergulhar<br />

• “A arte <strong>da</strong>s perguntas criativas e desafiadoras”, Jairo Siqueira.<br />

Criativi<strong>da</strong>de Aplica<strong>da</strong>. Link<br />

• “20 potências de aprendizagem que todos nós temos”, Alex<br />

Bretas. <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. Link<br />

• “The Art of Powerful Questions: catalyzing insight, innovation,<br />

and action”, Eric Vogt, Juanita Brown e David Isaacs. Link<br />

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126


Pedir e Oferecer<br />

Aprendendo a pedir e a ofertar<br />

Na era <strong>da</strong> colaboração, pedir e oferecer tornam-se ações essenciais<br />

nos processos de aprendizagem. Criar espaços de confiança que<br />

encorajem pedidos e ofertas <strong>da</strong>s pessoas entre si aumenta o valor total<br />

compartilhado por um grupo ou uma rede.<br />

Um papel importante do educador do século XXI é, antes de oferecer o que<br />

sabe, propor formas de explicitar a inteligência coletiva dos educandos. O<br />

que ca<strong>da</strong> um deles poderia aprender com os outros? Pedir é uma maneira<br />

de estar atento e <strong>da</strong>r vazão às nossas necessi<strong>da</strong>des internas; ofertar é fazer<br />

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127


Pedir e Oferecer<br />

transbor<strong>da</strong>r, é nutrir cooperativamente as necessi<strong>da</strong>des do outro.<br />

Por quê?<br />

Ao inspirar, nosso corpo faz um pedido de oxigênio e, em segui<strong>da</strong>,<br />

oferta gás carbônico na expiração. A <strong>res</strong>piração é um processo natural<br />

que pode ser entendido como uma metáfora <strong>da</strong> nossa interação com o<br />

mundo: rep<strong>res</strong>enta energia em movimento, que flui de acordo com as<br />

necessi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> ser.<br />

No cotidiano, pedir e oferecer são duas atitudes simples, mas ao mesmo<br />

tempo não é fácil colocá-las em prática. Pedir aju<strong>da</strong>, apoio, feedback,<br />

acolhimento pode ser visto como fraqueza de quem não consegue se<br />

virar sozinho; oferecer alguma coisa pode ser encarado como intrusão,<br />

prepotência de alguém que quer se promover a todo custo.<br />

Essa visão faz parte de um paradigma competitivo de escassez, e<br />

numerosos exemplos contemporâneos apontam para a <strong>res</strong>significação<br />

dos atos de pedir e oferecer. O financiamento coletivo talvez seja um dos<br />

que mais se destaca: pede-se recursos e, em troca, oferta-se valor que se<br />

materializa de diferentes formas – novos produtos, serviços, aprendizados<br />

e parcerias.<br />

Além disso, ofertar um conhecimento é, inclusive, uma ótima maneira de<br />

aprender ain<strong>da</strong> mais. Como Sêneca, filósofo dos primórdios <strong>da</strong> era cristã,<br />

afirmou 38 : “quem ensina aprende duas vezes”.<br />

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128


Pedir e Oferecer<br />

Como?<br />

Existem diferentes formas de estimular as pessoas a explicitar seus<br />

pedidos e ofertas. Desde um quadro de recados numa escola até um<br />

evento corporativo, o importante é estabelecer um espaço de confiança e<br />

<strong>res</strong>peito, evitando julgamentos.<br />

A partir de um mural de post-its dividido em pedidos e ofertas já é possível<br />

iniciar a criação de um espaço propício a essas conexões. Perguntas<br />

como “o que quero/preciso e gostaria de pedir?” e “o que tenho/sei fazer<br />

e gostaria de oferecer?” podem ser usa<strong>da</strong>s como disparadoras. Ap<strong>res</strong>ente<br />

o mural aos seus educandos, amigos ou faça um encontro com sua rede<br />

de contatos e peça às pessoas para preenchê-lo. Uma outra possibili<strong>da</strong>de<br />

inte<strong>res</strong>sante é afixar o mural no elevador do prédio, por exemplo.<br />

Diversas plataformas virtuais como o Cinese, o Nos.vc e o Tem Açúcar<br />

apoiam-se na premissa do pedir e oferecer. Na internet, as possibili<strong>da</strong>des<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

129


Pedir e Oferecer<br />

de pedidos serem atendidos e ofertas serem aceitas foram amplia<strong>da</strong>s<br />

exponencialmente, em especial por conta <strong>da</strong>s mídias sociais. Fazer um<br />

pedido claro à sua rede de contatos no Facebook, por exemplo, pode<br />

trazer <strong>res</strong>ultados surpreendentes. De forma análoga, esses espaços são<br />

ótimos para oferecer e compartilhar valor.<br />

Que outras formas de configurar espaços de pedidos e ofertas você<br />

consegue imaginar? Como afirma a filosofia do Dragon Dreaming,<br />

qualquer grupo já reúne em si tudo que é necessário para prover o que<br />

ca<strong>da</strong> membro precisa. Para tanto, as conexões precisam emergir.<br />

Para mergulhar<br />

• “Você devia ensinar o que sabe (mesmo não sendo um<br />

especialista), Andrea Ay<strong>res</strong>-Deets. Papo de Homem. Link<br />

• “A Arte de Pedir” [vídeo], Aman<strong>da</strong> Palmer. TED. Youtube. Link<br />

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130


Mentoria<br />

Aju<strong>da</strong>r escutando, perguntando e trocando experiências<br />

A mentoria é uma forma de apoiar indivíduos em seus processos de<br />

aprendizagem, geralmente utiliza<strong>da</strong> em ambientes organizacionais. Por<br />

meio de encontros p<strong>res</strong>enciais ou à distância, o mentor faz perguntas,<br />

compartilha experiências e referências e escuta a pessoa apoia<strong>da</strong>,<br />

aju<strong>da</strong>ndo-a em seus dilemas profissionais e pe<strong>da</strong>gógicos.<br />

Por mais que a palavra mentor seja associa<strong>da</strong> a alguém com mais<br />

experiência que o mentorado, uma definição mais ampla posicionaria o<br />

mentor simplesmente como alguém capaz e disposto a aju<strong>da</strong>r.<br />

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131


Mentoria<br />

Por quê?<br />

Existem vários conceitos de mentoria, boa parte deles voltados para<br />

empreendedo<strong>res</strong> e executivos – ou seja, integrantes de um contexto<br />

corporativo. Ter mento<strong>res</strong>, entretanto, pode ser relevante também<br />

em investigações e percursos educativos autônomos, para além do<br />

mundo organizacional. No limite, em to<strong>da</strong>s as situações que envolvem<br />

aprendizagem, há espaço para que mentorias ocorram.<br />

A mentoria pode ser considera<strong>da</strong> um instrumento pe<strong>da</strong>gógico ancestral.<br />

Sua premissa é a de que sempre há pessoas capazes de nos apoiar, seja<br />

por nos fornecerem experiência, conhecimento e/ou inspiração, conforme<br />

diferencia Brian Robben em “A Creative Approach To Finding A Legen<strong>da</strong>ry<br />

Mentor”. O doutorado informal 39 , por exemplo, alimenta-se <strong>da</strong>s mentorias<br />

como mecanismos de potencialização de percursos de aprendizagem<br />

autônomos. Um doutorando informal pode convi<strong>da</strong>r pessoas que<br />

admira para serem seus mento<strong>res</strong>, e a partir <strong>da</strong>í a relação começa a se<br />

desenvolver em encontros periódicos.<br />

Para os que já são familiarizados com o termo mentoria, a Harvard<br />

Business Review publicou um artigo de Amy Gallo, “Demystifying<br />

Mentoring”, com quatro mitos geralmente associados à prática. Comentoos,<br />

traduzidos, abaixo:<br />

• Você precisa achar um único mentor perfeito: ca<strong>da</strong> vez mais<br />

hoje as pessoas estão preferindo cultivar relações com mais de<br />

um mentor. Ou seja: estão conformando redes de mento<strong>res</strong>.<br />

• A mentoria é uma relação formal e de longo prazo: às vezes,<br />

uma conversa de uma hora é to<strong>da</strong> a mentoria necessária para<br />

uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação. Em outras ocasiões, um relacionamento<br />

recorrente é mais adequado.<br />

• Mentorias são só para quem está começando: relações<br />

de mentoria podem ser úteis em diversos momentos de<br />

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132


Mentoria<br />

vi<strong>da</strong>, particularmente em situações de transição (de carreira,<br />

mu<strong>da</strong>nça de ci<strong>da</strong>de etc). Pessoas mais experientes também<br />

podem se beneficiar de mento<strong>res</strong>, desde que estejam abertas à<br />

troca.<br />

• Ser mentor é algo que as pessoas fazem porque são bondosas:<br />

uma mentoria é uma relação que deve beneficiar a todos os<br />

envolvidos. Ao buscar um mentor, pode ser inte<strong>res</strong>sante pensar<br />

o que você poderia oferecer a ele. Simplesmente perguntar<br />

como você também poderia ajudá-lo já é um bom começo.<br />

Fonte: Startupi.<br />

Como?<br />

É possível buscar por um mentor ou tornar-se um. Em ambos os casos,<br />

para se aproveitar melhor o processo, é desejável que a mentoria seja<br />

basea<strong>da</strong> em uma relação de escuta e construção conjunta. Conforme<br />

aponta John Carleton 40 :<br />

“Bons mento<strong>res</strong> fazem perguntas difíceis. Todo mentorado tem as<br />

<strong>res</strong>postas de que precisa dentro de si. Algumas vezes não é fácil desenhar<br />

essas soluções com clareza por si próprio. Seu mentor não deve dizer o<br />

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133


Mentoria<br />

que fazer, mas sim explorar o cenário junto com você até que você se sinta<br />

feliz com suas opções e decisões”.<br />

Nesse ponto a mentoria assemelha-se ao coaching, que se sustenta<br />

justamente por meio <strong>da</strong> escuta e <strong>da</strong>s boas perguntas.<br />

As mentorias podem ter diversas variações. Jeanne C. Meister e Karie<br />

Willyerd, em seu artigo “Mentoring Millennials”, mencionam três delas:<br />

a mentoria reversa, a mentoria em grupo e a mentoria anônima. Na<br />

primeira, uma pessoa mais jovem tem a <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de de mentorar<br />

alguém mais velho em questões cujo conhecimento ele ou ela detém.<br />

No segundo tipo, grupos e redes são criados com os objetivos de <strong>da</strong>r<br />

feedback e apoiar os mentorados. As sessões são conduzi<strong>da</strong>s por um<br />

facilitador que orienta o grupo ou uma dinâmica de pa<strong>res</strong> pode ser cria<strong>da</strong>.<br />

Por último, a mentoria anônima é realiza<strong>da</strong> online e possibilita interações<br />

sem que os mentorados saibam a identi<strong>da</strong>de de quem os está apoiando.<br />

Costuma existir uma equipe por trás que se <strong>res</strong>ponsabiliza por fazer as<br />

combinações certas entre mento<strong>res</strong> e mentorados.<br />

Em todos os casos, a mentoria <strong>res</strong>gata um tipo de relação de<br />

aprendizagem que se provou efetiva desde os tempos medievais, em que<br />

os aprendizes de determinado ofício buscavam nos mest<strong>res</strong> a experiência,<br />

o conhecimento e a inspiração que precisavam. Hoje em dia não é preciso<br />

mirar muito alto: os melho<strong>res</strong> mento<strong>res</strong> podem ser aqueles que acabaram<br />

de passar pelo que estamos passando.<br />

Para mergulhar<br />

• “A Creative Approach To Finding a Legen<strong>da</strong>ry Mentor”, Brian<br />

Robben. Medium. Link<br />

• “What are the benefits of having a mentor?”, John Carleton.<br />

Medium. Link<br />

• “Mentoring Millenials”, Jeanne C. Meister e Karie Willyerd.<br />

Harvard Business Review. Link<br />

• “13 Hacks for Getting and Keeping Great Mentors”, Timothy<br />

Kenny. UnCollege. Link<br />

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134


Microaula<br />

Fonte: Diário de Iguape.<br />

Aulas meno<strong>res</strong> = mais tempo para interagir<br />

Microaulas 41 são ap<strong>res</strong>entações de curta duração sobre um tema que<br />

desperta inte<strong>res</strong>se tanto de quem ap<strong>res</strong>enta quanto de quem assiste.<br />

É um formato que difere em dois aspectos <strong>da</strong>s aulas tradicionais: não<br />

são obrigatórias, e por isso se abastecem <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de de quem delas<br />

participa; e são muito mais enxutas, o que possibilita <strong>res</strong>ervar mais tempo<br />

para interações posterio<strong>res</strong>.<br />

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135


Microaula<br />

Por quê?<br />

O ato de <strong>da</strong>r aulas, se tomado em seu sentido mais convencional, é um<br />

dispositivo contrário à autonomia na educação. Sua lógica é heterodi<strong>da</strong>ta<br />

(o ponto de parti<strong>da</strong> não é o que uma pessoa quer saber, mas o que<br />

os outros querem que ela saiba). O papel tradicional do professor<br />

– aquele que professa algo que sabe a muitos que não sabem – é<br />

então concretizado. Diversos movimentos educacionais alternativos têm<br />

questionado essa relação e, por consequência, a insistência em se <strong>da</strong>r aulas.<br />

Ain<strong>da</strong> assim, talvez não precisemos “jogar fora o bebê com a água do<br />

banho”. Se frequentar uma aula deixa de ser algo obrigatório, é possível<br />

enxergá-la como um método capaz de contribuir com o desenvolvimento<br />

de sujeitos autônomos, tal como vislumbrava Paulo Freire. No sentido<br />

figurado, quando dizemos que alguém “nos deu uma aula”, isso costuma<br />

ser indício de que reconhecemos a competência dessa pessoa em<br />

determinado campo. Para acessarmos a sabedoria que é inerente a<br />

qualquer ser humano, talvez seja útil alterar as lógicas de funcionamento<br />

<strong>da</strong>s aulas tradicionais.<br />

Em tempos de rápi<strong>da</strong> expansão e complexificação dos instrumentos<br />

digitais, compartilhar conhecimento tornou-se uma máxima. O TED, por<br />

exemplo, inaugurou um formato de palestras curtas de até 18 minutos<br />

que podem ser assisti<strong>da</strong>s online gratuitamente. No YouTube, multiplicamse<br />

os vídeos com finali<strong>da</strong>des educacionais. Todos esses canais funcionam<br />

como curado<strong>res</strong> de conteúdo. Imagine se você fosse um curador de<br />

conhecimento <strong>da</strong> sua rede, buscando pessoas que você conhece para lhe<br />

<strong>da</strong>r aulas sobre qualquer assunto. A ideia <strong>da</strong> microaula é justamente essa.<br />

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136


Microaula<br />

Como?<br />

É possível tanto pedir a alguém uma microaula quanto oferecer uma.<br />

No primeiro caso, pense em algum conhecido que poderia “te <strong>da</strong>r<br />

uma aula” de até 15 minutos sobre um tema pelo qual você é bastante<br />

curioso. Proponha à pessoa, então, um encontro em que ela ministrará<br />

a ap<strong>res</strong>entação e, em segui<strong>da</strong>, <strong>res</strong>erve um tempo de conversa para que<br />

vocês possam refletir juntos sobre o que foi compartilhado.<br />

No momento em que estiver ouvindo a ap<strong>res</strong>entação, tente não<br />

interromper: a ideia é que a fala seja curta e que em segui<strong>da</strong> haja bastante<br />

tempo para que um diálogo ocorra. Pode ser útil anotar perguntas e<br />

percepções durante a microaula para serem explorados posteriormente.<br />

Oferecer uma microaula também pode ser uma oportuni<strong>da</strong>de de<br />

aprendizagem. A Escola de Rua, por exemplo, é uma iniciativa que enxerga<br />

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137


Microaula<br />

em espaços públicos possibili<strong>da</strong>des de interação muito distintas <strong>da</strong>s aulas<br />

convencionais. O Ossobuco é outro caso que aproveita o formato de<br />

ap<strong>res</strong>entações rápi<strong>da</strong>s para fazer circular ideias inovadoras e inusita<strong>da</strong>s.<br />

Por último, o Cinese é uma plataforma de aprendizagem colaborativa que<br />

pode ser bastante útil a quem deseja oferecer ou buscar interações com<br />

finali<strong>da</strong>des educativas.<br />

Ao ofertar uma microaula, você pode ou oferece-la a uma pessoa<br />

específica ou anunciá-la abertamente, de modo a configurar um grupo de<br />

aprendizagem. Como exemplo, alguém poderia publicar em sua página no<br />

Facebook o seguinte convite:<br />

“Vou oferecer uma microaula sobre inovação na educação. Quero<br />

compartilhar algumas descobertas e aprendizados e, em segui<strong>da</strong>,<br />

começar uma conversa exploratória sobre o tema. Quem se inte<strong>res</strong>sar, me<br />

encontre no dia X no café <strong>da</strong> Dona Fulana”.<br />

Ao oferecer o que sabemos num formato condensado, somos estimulados<br />

a redesenhar a narrativa de modo a nos fazer entender em pouco tempo.<br />

Isso pode ser um exercício inte<strong>res</strong>sante para encontrarmos a essência<br />

dos nossos aprendizados sobre determinado tema, e até mesmo novos<br />

insights.<br />

A microaula é uma reinvenção <strong>da</strong> aula tradicional que busca manter o<br />

que de melhor existe em sua predecessora, ao mesmo tempo em que<br />

propõe mais autonomia, interativi<strong>da</strong>de e horizontali<strong>da</strong>de. Ain<strong>da</strong> que possa<br />

ocorrer na escola, a microaula não necessita de um espaço de ensino<br />

institucionalizado para ocorrer: basta haver vontade.<br />

Para mergulhar<br />

• TED. Link<br />

• Ossobuco. Link<br />

• Escola de Rua. Link<br />

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138


Cartas<br />

Fonte: The Digital Cew.<br />

A carta é o símbolo <strong>da</strong> escrita íntima<br />

Escrever uma carta exige sair do modo multitarefa. Por isso, as cartas<br />

trazem consigo um grande poder de reflexão, ao mesmo tempo em que<br />

criam um canal íntimo de interação com o outro. Ain<strong>da</strong> que com a internet<br />

o e-mail tenha tomado o lugar <strong>da</strong> carta, a escrita manual permanece<br />

porque, por ser lenta, permite-nos viajar.<br />

Por quê?<br />

Alguns costumes nunca nos abandonarão. No tempo em que já se<br />

ouve música pela internet, persiste o vinil; depois de se inventar o carro<br />

autodirigido, permanece o prazer de se an<strong>da</strong>r a pé; e na era <strong>da</strong>s redes sociais<br />

e <strong>da</strong>s mensagens instantâneas, perduram as cartas. Vinis, caminha<strong>da</strong>s e<br />

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139


Cartas<br />

cartas têm em comum o prazer demorado, a alegria <strong>da</strong> p<strong>res</strong>ença.<br />

As cartas existem há muito tempo e já serviram a diferentes propósitos.<br />

Cientistas cor<strong>res</strong>pondiam-se com seus pa<strong>res</strong> para contar sobre os avanços<br />

e desafios de suas pesquisas; namorados viam nas cartas um jeito de<br />

encurtar a distância entre si; e amigos se escreviam para aliviar a sau<strong>da</strong>de.<br />

De certo modo, o e-mail pode ser considerado a carta dos dias de hoje. E<br />

mesmo com os avanços <strong>da</strong>s redes sociais, o e-mail mantém-se firme como<br />

um dos principais meios de comunicação digitais.<br />

O correio eletrônico permanece porque deriva <strong>da</strong> mesma lógica <strong>da</strong> carta:<br />

é privativo, tem poder de reflexão e gera grande expectativa de <strong>res</strong>posta.<br />

Seja pelo meio físico ou digital, cor<strong>res</strong>ponder-se profun<strong>da</strong>mente com<br />

alguém continua sendo bastante significativo.<br />

Fonte: Happiness: only real when shared.<br />

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140


Cartas<br />

Como?<br />

Tenho utilizado as cartas como um recurso para me conectar num nível<br />

mais íntimo e profundo com pessoas que fizeram a diferença no meu<br />

caminho. Algumas delas eu não cheguei sequer a conhecer pessoalmente,<br />

e outras já se foram. Não importa. Ao se cor<strong>res</strong>ponder com alguém,<br />

o <strong>res</strong>ultado sempre será único. José Pacheco, educador português<br />

que liderou a transformação <strong>da</strong> Escola <strong>da</strong> Ponte, também aproveitou<br />

o formato carta para sau<strong>da</strong>r as contribuições de diversos pensado<strong>res</strong><br />

brasileiros para as ciências <strong>da</strong> educação. Seu livro “Aprender em<br />

Comuni<strong>da</strong>de” contém 25 cartas endereça<strong>da</strong>s a educado<strong>res</strong> do nosso país.<br />

Os textos são uma mescla de reflexões do autor e elementos <strong>da</strong> práxis<br />

educativa de ca<strong>da</strong> pensador escolhido.<br />

Existem várias formas de utilizar as cartas como recursos de<br />

aprendizagem. Pense em algumas pessoas com as quais você aprendeu<br />

coisas muito importantes. O que você escreveria para elas? Lembre-se de<br />

alguém que tenha se chateado com você por algum motivo: como seria<br />

a carta que poderia aju<strong>da</strong>r a reatar este vínculo? Identifique algumas<br />

pessoas que você ain<strong>da</strong> não conhece pessoalmente, mas que admira<br />

muito. Quais as perguntas que você sempre quis fazer a elas? Dê um jeito<br />

de encontrar o endereço e pronto: agora é só aguar<strong>da</strong>r a <strong>res</strong>posta.<br />

Às vezes, a <strong>res</strong>posta não vem. Ain<strong>da</strong> que isso possa ser frustrante, é<br />

importante aceitar o tempo de ca<strong>da</strong> pessoa e entender que o próprio<br />

processo de escrever uma carta é, por si só, recompensador. Pode ser que<br />

algumas <strong>res</strong>postas apareçam na medi<strong>da</strong> em que você escreve e dialoga<br />

consigo mesmo – e com as lembranças e pensamentos a <strong>res</strong>peito do seu<br />

destinatário.<br />

Outra forma de utilizar as cartas é escrever para si. O que você escreveria<br />

para si mesmo? Que perguntas você sente que precisa se fazer? O que<br />

você teria a dizer a você mesmo <strong>da</strong>qui a 5 anos? É possível escrever em<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

141


Cartas<br />

meio físico e guar<strong>da</strong>r a carta (mais divertido é enterrá-la), ou ain<strong>da</strong> enviar<br />

um e-mail para a sua própria caixa de entra<strong>da</strong> e deixá-lo salvo. Por meio<br />

do site FutureMe é possível escrever uma carta no formato de um e-mail e<br />

agen<strong>da</strong>r o envio endereçado a você mesmo no futuro.<br />

Existem diversas outras formas de aproveitar o poder <strong>da</strong>s cartas como<br />

instrumentos de aprendizagem. O projeto “Happiness: only real when<br />

shared”, por exemplo, as envia para estranhos. Elas são ver<strong>da</strong>deiros<br />

convites à reflexão e, em alguns casos, podem se tornar potentes<br />

mecanismos de exploração conjunta.<br />

Para mergulhar<br />

• “Uma Carta para Mim Mesmo 10 Anos Atrás”. Hypeness. Link<br />

• “Cartas para estranhos”. Happiness: only real when shared. Link<br />

• “De Carta em Carta”, projeto de troca de cor<strong>res</strong>pondências em<br />

escolas. Link<br />

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142


Personamimética<br />

Fonte: AAPE.<br />

Imitando o melhor do outro<br />

Quem você conhece que sabe escutar os outros atentamente? Qual é<br />

aquele seu amigo que tem um estilo curioso e inte<strong>res</strong>sante de escrever?<br />

Quais são as habili<strong>da</strong>des que você admira nas pessoas à sua volta?<br />

A personamimética 42 é o ato de aprender com o melhor <strong>da</strong>s pessoas que<br />

conhecemos por meio <strong>da</strong> imitação.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

143


Personamimética<br />

Por quê?<br />

A imitação é um processo que os humanos já têm se utilizado desde muito<br />

tempo com fins de aprendizagem. Os bebês conseguem aprender a falar<br />

até três idiomas imitando os dize<strong>res</strong> dos adultos; a indústria japonesa<br />

baseou-se na imitação e posterior aprimoramento dos procedimentos e<br />

máquinas ocidentais; Da Vinci desenvolveu sua pintura copiando quadros<br />

que admirava.<br />

Incorporarmos o que admiramos nas nossas ações é algo que ocorre<br />

frequentemente de maneira inconsciente. Tente observar em você alguns<br />

dos comportamentos, práticas e até mesmo visões de mundo comuns a<br />

seus amigos. Quando a imitação se torna consciente e tem um propósito<br />

de autodesenvolvimento, é possível aprender com o melhor do outro.<br />

Como?<br />

A personamimética é útil tanto para se aprender habili<strong>da</strong>des mais “duras”<br />

como a forma com que alguém consegue <strong>res</strong>olver cálculos, como para<br />

aspectos mais sutis de comportamento como a escuta e o cui<strong>da</strong>do com o<br />

outro.<br />

Talvez você já tenha passado por alguma questão em que se lembrou<br />

de alguém que poderia <strong>res</strong>olvê-la de maneira primorosa. “Ah, se ele(a)<br />

estivesse aqui!”. Reflita sobre uma de suas inquietações atuais e pense<br />

como essa pessoa a <strong>res</strong>olveria. Qual habili<strong>da</strong>de ele ou ela tem que faria<br />

a diferença? Como essa pessoa manifesta isso? Quais são as falas?<br />

Comportamentos? Atitudes? No que ele ou ela acredita para que aja dessa<br />

forma? Como eu poderia me espelhar nessa pessoa para avançar na<br />

minha questão?<br />

A reflexão acima pode ser percebi<strong>da</strong> também como um bom exercício<br />

de apreciação – enxergar o melhor do outro – e pode ser feita<br />

individualmente ou em pequenos grupos (neste caso, é preciso cui<strong>da</strong>r<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

144


Personamimética<br />

para não expor indevi<strong>da</strong>mente os participantes). Ao identificar atitudes<br />

que você admira em alguém, é inte<strong>res</strong>sante compartilhar isso com a<br />

pessoa, de modo a ajudá-la a tomar consciência de seus pontos fortes.<br />

Ao fazermos isso, estamos exercitando nossa gratidão: de certo modo,<br />

incorporamos aquele bem em nós.<br />

De modo inverso, é possível ain<strong>da</strong> perguntar a si mesmo ou a outras<br />

pessoas o que os outros gostariam de aprender com você. Isso pode<br />

revelar comportamentos, habili<strong>da</strong>des e atitudes que quem está ao nosso<br />

redor reconhece como positivas em nós.<br />

Nós temos medo de imitar. A escola nos fez acreditar que a imitação é<br />

algo antiético por conta <strong>da</strong> condenação <strong>da</strong> cola. A personamimética é uma<br />

forma de se <strong>res</strong>gatar o valor <strong>da</strong> imitação para que possamos aprender<br />

com quem admiramos e amamos.<br />

Para mergulhar<br />

• “Aprendizagem por imitação”, João Martins <strong>da</strong> Silva. UBQ –<br />

União Brasileira para a Quali<strong>da</strong>de. Link<br />

• “Aprendizagem por observação e imitação”. Psike. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

145


Gerar engajamento<br />

Quais são os ingredientes do acreditar?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

146


Comprometimento Público<br />

Disciplina com a aju<strong>da</strong> de todos<br />

O comprometimento público é um instrumento do qual podemos lançar<br />

mão para permanecermos engajados num processo de aprendizagem. É<br />

tão simples quanto comunicar às pessoas que você pretende iniciar um<br />

novo trabalho, pesquisa ou caminho de desenvolvimento, e de algum<br />

modo fornecer a elas um meio de acompanhar os seus prog<strong>res</strong>sos.<br />

Por quê?<br />

Ao nos lançarmos em um percurso autônomo de aprendizagem – ou<br />

mesmo iniciar uma nova ativi<strong>da</strong>de –, costuma surgir a pergunta: como me<br />

manter comprometido e focado durante o processo? Parece não haver<br />

saí<strong>da</strong> entre dois extremos: alguém sempre te dizendo o que fazer, por um<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

147


Comprometimento Público<br />

lado, ou o completo caos dispersivo e a preguiça, por outro.<br />

O clima impositivo que acomete as estruturas de ensino tradicionais<br />

afastou-nos <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de ditarmos o nosso próprio fluxo de<br />

aprendizado. Solidificar uma intenção na forma de um projeto e sustentala<br />

autonomamente (sem professor, orientador ou chefe cobrando) tornouse<br />

algo difícil.<br />

Ao tornar público o propósito, a entrega e os marcos temporais de um<br />

vindouro percurso de aprendizagem, é como se nossa ansie<strong>da</strong>de fosse<br />

diluí<strong>da</strong> por entre as pessoas que querem acompanhar nosso prog<strong>res</strong>so.<br />

Campanhas de financiamento coletivo têm esse poder. Foi o que descobri<br />

ao financiar coletivamente o projeto <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong> no Catarse,<br />

em 2014. Para produzir este <strong>Kit</strong>, adotei a mesma estratégia por meio dos<br />

apoios mensais do Unlock.<br />

Comprometer-se publicamente com o seu processo de aprendizagem é<br />

um ato de coragem. Ao fazê-lo, você:<br />

• Dá clareza ao projeto, porque agora ele precisará ser<br />

comunicado;<br />

• Encontra parceiros de jorna<strong>da</strong>, inclusive potenciais<br />

colaborado<strong>res</strong>;<br />

• Cria rotinas que fazem sentido;<br />

• Compartilha não somente os <strong>res</strong>ultados, mas também o<br />

processo;<br />

• Inspira outras pessoas por meio do exemplo.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

148


Comprometimento Público<br />

Como?<br />

Fonte: Valley Live Scan.<br />

Goethe assim se pronunciou a <strong>res</strong>peito do comprometimento 43 :<br />

“No momento em que nos comprometemos, a providência divina também<br />

se põe em movimento. Todo um fluir de acontecimentos surge ao nosso<br />

favor. Como <strong>res</strong>ultado <strong>da</strong> atitude, seguem to<strong>da</strong>s as formas imprevistas de<br />

coincidências, encontros e aju<strong>da</strong>, que nenhum ser humano jamais poderia<br />

ter sonhado encontrar. Qualquer coisa que você possa fazer ou sonhar,<br />

você pode começar. A coragem contém em si mesma, o poder, o gênio e a<br />

magia”.<br />

O primeiro passo para tornar pública sua intenção é confiar: em si mesmo<br />

e nas conexões que o universo se encarregará de te oferecer. Conversar<br />

com pessoas que já passaram pela experiência de tornar públicos seus<br />

projetos pode aju<strong>da</strong>r.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

149


Comprometimento Público<br />

Meu amigo Daniel Larusso criou um blog onde escreve todos os dias,<br />

faça chuva ou faça sol. Ao acessá-lo para escrever este texto, não<br />

coincidentemente me deparei com um texto intitulado “Sobre foco e<br />

disciplina. Ou dispersão e preguiça”. Da mesma forma que fiz com o <strong>Kit</strong>,<br />

ele pretende publicar um livro a partir de seu compromisso com o blog.<br />

O que ocorre é que criamos uma rotina e a tornamos pública, de modo<br />

que todos que acompanham o blog passaram a poder acompanhar e<br />

“fiscalizar” nossa produção.<br />

Ao iniciar o <strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>, fiz um compromisso público<br />

de disponibilizar três ferramentas de aprendizagem por semana, às<br />

segun<strong>da</strong>s, quartas e sextas. Somado a isso, criei a possibili<strong>da</strong>de de<br />

qualquer um apoiar financeiramente o <strong>Kit</strong>, de forma voluntária.<br />

Propor uma ação que junta comprometimento público, rotinas claras<br />

e <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de em retribuir recursos voluntariamente investidos é<br />

como criar um dispositivo quase infalível de comprometimento. No caso,<br />

se estamos falando de percursos autônomos, é preciso que to<strong>da</strong>s essas<br />

definições sejam feitas por quem as executará de fato, e não por pessoas<br />

alheias ao processo. Imposições só emulam as estruturas hierárquicas <strong>da</strong>s<br />

quais já estamos cansados.<br />

Para o Larusso, o “porquê” de estarmos fazendo algo é o que mais importa<br />

em termos de foco e disciplina. Faz todo o sentido. Além disso, acredito<br />

que alguns artifícios de comprometimento podem nos aju<strong>da</strong>r bastante<br />

a iniciar e a terminar nossos projetos. É como Homero nos ensinou, ao<br />

retratar na Odisséia a estratégia de Ulisses: para não sucumbir ao canto<br />

<strong>da</strong> sereia, ele pediu para ser amarrado no barco.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Sobre foco e disciplina. Ou dispersão e preguiça”, Daniel<br />

Larusso. Link<br />

• “As Sereias e a Odisséia – Como <strong>res</strong>istir ao ‘canto <strong>da</strong> sereia’<br />

conforme Homero”, Marcus Azen. Era <strong>da</strong> Incerteza. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

150


Contar Histórias<br />

Todos somos feitos de histórias<br />

É preciso reconhecer que contar histórias é uma <strong>da</strong>s ferramentas de<br />

aprendizagem mais antigas <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Por meio delas nós nos<br />

mostramos ao mundo, compreendemos e sentimos o outro, fortalecemos<br />

vínculos e extraímos e comunicamos aprendizados. No limite, é com as<br />

histórias que <strong>da</strong>mos forma ao mundo como o conhecemos.<br />

Por quê?<br />

As histórias têm um grande poder de se tornarem lembra<strong>da</strong>s, queri<strong>da</strong>s.<br />

Os se<strong>res</strong> humanos são ver<strong>da</strong>deiros colecionado<strong>res</strong> de narrativas — nós<br />

produzimos sentido a partir delas, e até mesmo dormindo sonhamos por<br />

meio de histórias. Ben Okri, poeta nigeriano, diz que 44 :<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

151


Contar Histórias<br />

“É fácil esquecer o quanto as histórias são misteriosas e poderosas.<br />

Elas trabalham com materiais interio<strong>res</strong>. Elas se tornam parte de você<br />

enquanto te transformam. Esteja atento às histórias que você lê ou<br />

conta: sutilmente, à noite, por baixo <strong>da</strong>s águas <strong>da</strong> consciência, elas estão<br />

mu<strong>da</strong>ndo o seu mundo”.<br />

A ciência tem recentemente confirmado o poder de transformação <strong>da</strong>s<br />

histórias por meio de estudos na área <strong>da</strong> neurobiologia. Ver um filme cuja<br />

história é basea<strong>da</strong> num personagem principal que sofre, por exemplo,<br />

está associado à elevação dos níveis de oxitocina, o “hormônio do amor”.<br />

Tornamo-nos mais propensos a aju<strong>da</strong>r os outros ao tomar contato com<br />

boas histórias. Paul J. Zak, pesquisador <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Claremont,<br />

descobriu que<br />

“para conseguir motivar um desejo de aju<strong>da</strong>r os outros, uma história<br />

deve primeiro cativar a atenção – um recurso escasso no nosso cérebro<br />

– desenvolvendo tensão ao longo <strong>da</strong> narrativa. Se a história for capaz de<br />

criar essa tensão, quem a estiver acompanhando começará a sentir as<br />

mesmas emoções dos personagens, e quando ela terminar, as pessoas<br />

tenderão a continuar imitando seus sentimentos e comportamentos. Isso<br />

explica porque você se sente poderoso depois que James Bond salva o<br />

mundo, e porque sua motivação para malhar aumenta depois de assistir<br />

os espartanos lutarem no filme 300” 45 .<br />

A “mímica de sentimentos” é a principal <strong>res</strong>ponsável pelo fato de as<br />

histórias nos conectarem profun<strong>da</strong>mente com as outras pessoas É o que<br />

chamamos de empatia.<br />

No limite, to<strong>da</strong> nossa capaci<strong>da</strong>de de compreender e acolher o outro<br />

manifesta-se por meio do reconhecimento <strong>da</strong>s histórias geradoras<br />

<strong>da</strong>s diferentes crenças de ca<strong>da</strong> um de nós. Ca<strong>da</strong> biografia humana<br />

guar<strong>da</strong> em si um conjunto de narrativas que merecem ser <strong>res</strong>gata<strong>da</strong>s<br />

e compartilha<strong>da</strong>s, e que aju<strong>da</strong>m a explicar o que acreditamos e pelo<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

152


Contar Histórias<br />

que lutamos. Escutarmos e valorizarmos as histórias do outro contribui<br />

para <strong>res</strong>gatarmos nossas próprias narrativas e nos aproxima de nossa<br />

humani<strong>da</strong>de.<br />

Como?<br />

Fonte: OMF.<br />

Garr Reynolds escreveu um artigo intitulado “A chave para se contar<br />

histórias não é a perfeição, e sim a humani<strong>da</strong>de”. Esse título ap<strong>res</strong>enta um<br />

ponto crucial <strong>da</strong> arte <strong>da</strong>s histórias: a vulnerabili<strong>da</strong>de.<br />

Expor as falhas, os fracassos e as “batalhas” de forma sincera é o que<br />

mais nos conecta com as narrativas que escutamos. No caso de histórias<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

153


Contar Histórias<br />

<strong>da</strong> nossa própria biografia, Reynolds compara essa coragem a ficar nu: é<br />

como se despir e mostrar nossa essência a quem nos ouve.<br />

No mesmo texto, o autor recorre a A<strong>da</strong>m Gopnik para afirmar que as<br />

boas histórias carregam em si um paradoxo: contém elementos muito<br />

singula<strong>res</strong>, por um lado, mas também são imediatamente reconheci<strong>da</strong>s<br />

como narrativas universais, por outro. É como se as mesmas histórias<br />

pudessem ocorrer em contextos totalmente distintos. E de fato podem.<br />

Para se narrar uma história que cative a atenção, Garr Reynolds fornece<br />

algumas dicas inte<strong>res</strong>santes. A história deve, segundo ele:<br />

• Remeter a algo particular <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de alguém;<br />

• Ser peculiar;<br />

• Falar de um tema universal;<br />

• Expor vulnerabili<strong>da</strong>des e fraquezas;<br />

• Narrar uma transformação;<br />

• Ser conta<strong>da</strong> de maneira natural, com energia, engajamento e<br />

p<strong>res</strong>ença.<br />

Ain<strong>da</strong> que não seja um guia, esses pontos podem aju<strong>da</strong>r na estruturação<br />

de nossas narrativas. No fim do dia, tudo o que precisamos é contar nossa<br />

própria história.<br />

Para mergulhar<br />

• “The key to storytelling is not your perfection, but your<br />

humanity”, Garr Reynolds. P<strong>res</strong>entation Zen. Link<br />

• “Why your brain loves good storytelling”, Paul J. Zak. Harvard<br />

Business Review. Link<br />

• “The Science of Storytelling: What Listening to a Story Does to<br />

Our Brains”, Leo Widrich. Buffersocial. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

154


Manifestos<br />

The Holstee Manifesto. Fonte: Creative Mornings.<br />

Questionar o existente para articular o novo<br />

Escrever um manifesto é fazer um chamado para a ação, seja direcionado<br />

a uma coletivi<strong>da</strong>de ou voltado para si mesmo. Dos clássicos como o<br />

Manifesto Comunista até os manifestos tipográficos inspiracionais que<br />

se disseminaram pela internet, o que se mantém constante é o caráter<br />

“inflamado” dos manifestos, capaz de desafiar nossas crenças.<br />

Por quê?<br />

Há séculos os manifestos têm sido utilizados para comunicar a essência<br />

de desejos de mu<strong>da</strong>nça de diversas comuni<strong>da</strong>des. Zach Sumner, autor do<br />

post “How and Why to Write Your Own Personal Manifesto”, afirma que 46 :<br />

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155


Manifestos<br />

“Por fazer as pessoas perceberem a fen<strong>da</strong> que existe entre os princípios<br />

manifestados e a sua reali<strong>da</strong>de atual, o manifesto desafia premissas,<br />

estimula o engajamento e provoca transformação”.<br />

Os manifestos tornam-se, então, instrumentos para sintetizar intenções e<br />

comunicá-las ao mundo. São, como Sumner afirma, “médiuns” pelos quais<br />

o p<strong>res</strong>ente pode se cor<strong>res</strong>ponder com o futuro.<br />

A etimologia <strong>da</strong> palavra manifesto remonta ao latim manifestum, que<br />

significa claro ou notável. Essas duas características dão o tom <strong>da</strong> maioria<br />

dos manifestos já publicados. Trazer à tona um sentimento de mu<strong>da</strong>nça<br />

por meio de um manifesto, então, quer dizer tornar claro e fazer-se<br />

notar novos princípios, chamados, motivações, valo<strong>res</strong> e crenças sobre<br />

determinado contexto.<br />

Como?<br />

No Brasil não há a cultura de escrever manifestos mais pessoais – ao<br />

contrário do que parece ocorrer nos Estados Unidos, por exemplo. Vários<br />

materiais sobre manifestos que encontrei em nosso idioma <strong>res</strong>tringiamlhes<br />

a um gênero textual estu<strong>da</strong>do nas aulas de língua portuguesa.<br />

Acredito que criá-los pode ser muito mais inte<strong>res</strong>sante.<br />

Os manifestos pessoais são como uma declaração de valo<strong>res</strong> e intenções<br />

particular, um formato de cor<strong>res</strong>pondência do eu no p<strong>res</strong>ente com o eu<br />

do futuro. Qualquer pessoa pode escrever o seu próprio manifesto, que<br />

podem inclusive ser uma boa ferramenta de autoconhecimento. Também<br />

existem os manifestos coletivos, geralmente voltados para grupos ou<br />

nichos específicos. Os temas são diversos: já houve manifestos sobre<br />

política e socie<strong>da</strong>de, tecnologia, arte, educação, ciência, uns mais e outros<br />

menos conhecidos. Os formatos também variam: é possível criar uma lista<br />

de princípios, letterings 47 , vídeos dentre outros.<br />

Se você é ativista por alguma causa ou pretende ser, está em suas mãos o<br />

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156


Manifestos<br />

poder de articular a elaboração de um manifesto coletivo.<br />

Seja para você ou para o mundo, existem algumas orientações sobre<br />

como criar manifestos. Geoff McDonald escreveu um manifesto para<br />

orientar outras pessoas a também fazê-lo, conforme se vê abaixo 48 :<br />

“Manifestos são seminais.<br />

Manifestos dão um fim ao passado.<br />

Manifestos criam novos mundos.<br />

Manifestos alavancam comuni<strong>da</strong>des.<br />

Manifestos nos definem.<br />

Manifestos antagonizam algo.<br />

Manifestos inspiram novas formas de ser.<br />

Manifestos provocam ação.<br />

Manifestos vivem de múltiplas formas”.<br />

O “Manifesto sobre Manifestos” completo pode ser encontrado em inglês<br />

aqui. Em suma, McDonald sustenta que a arte de escrever manifestos<br />

pode ser sintetiza<strong>da</strong> em dois passos: definir o contexto e dizer o que nele<br />

é mais importante para você ou seu grupo.<br />

Existem centenas de exemplos de manifestos já publicados, e uma lista<br />

bem extensa pode ser encontra<strong>da</strong> no site 1000manifestos.com. Um dos<br />

que mais gosto é o Small Things Manifesto, uma declaração em prol dos<br />

pequenos atos que, juntos, causam grandes revoluções.<br />

Os manifestos são ferramentas poderosas para recriar reali<strong>da</strong>des a<br />

partir <strong>da</strong> delimitação de um futuro desejado. Há centenas de anos a<br />

humani<strong>da</strong>de já se ocupa de criar manifestos para sinalizar novas intenções<br />

e mu<strong>da</strong>nças de rumo. Podemos aproveitar essa sabedoria acumula<strong>da</strong> para<br />

propor novos mundos.<br />

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157


Manifestos<br />

Para mergulhar<br />

• “How to Write a Manifesto in Two Steps”, Geoff McDonald. Link<br />

• “Manifesto: Our Manifesto for Creating Yours”, Geoff McDonald.<br />

Link<br />

• “How and Why to Write Your Own Personal Manifesto”. The Art<br />

of Manliness. Link<br />

• “Manifestos: a Manifesto”, Julian Hanna. The Atlantic. Link<br />

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158


Rituais<br />

Muito além do estereótipo<br />

Rituais não estão <strong>res</strong>tritos apenas às tradições religiosas. Numa<br />

perspectiva semântica amplia<strong>da</strong>, os rituais são considerados componentes<br />

indissociáveis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de, passando a rep<strong>res</strong>entar simbologias,<br />

padrões e ordenações típicas de grupos humanos. Utilizados de forma<br />

intencional e consciente, é possível aproveitar a força dos rituais para<br />

potencializar processos de trabalho e de aprendizagem, especialmente os<br />

coletivos.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

159


Rituais<br />

Por quê?<br />

Uma rápi<strong>da</strong> pesquisa sobre a palavra “ritual” em alguns sites de notícias<br />

me trouxe a visão do senso comum a seu <strong>res</strong>peito: ritos bizarros,<br />

dolorosos, que envolvem magia, religião, feitos por civilizações muito<br />

antigas ou considera<strong>da</strong>s “primitivas” etc. Ain<strong>da</strong> que essa interpretação<br />

exista, há um outro modo de enxergá-los que aumenta a dimensão de<br />

significados e possibili<strong>da</strong>des do termo.<br />

Os rituais podem ser tomados como elementos arquetípicos, o que quer<br />

dizer que são sabedorias muito antigas p<strong>res</strong>entes na humani<strong>da</strong>de e no<br />

nosso imaginário coletivo. Alguns deles têm a capaci<strong>da</strong>de de despertar<br />

emoções poderosas que podem ser utiliza<strong>da</strong>s para objetivos específicos.<br />

Por exemplo: no Guerreiros Sem Armas, formação vivencial de jovens<br />

em liderança e empreendedorismo social realiza<strong>da</strong> pelo Instituto Elos, há<br />

um momento em que todo o grupo permanece em pé num rio durante<br />

algumas horas batendo os braços sem parar na água. A ativi<strong>da</strong>de,<br />

focaliza<strong>da</strong> por Kaka Werá, indígena de origem caiapó, é como um rito de<br />

passagem desafiador. Contudo, para atender a um objetivo, os rituais<br />

precisam fazer sentido: isto é, necessitam de um contexto, uma metáfora<br />

ou uma história que converse com quem deles participa.<br />

Vivenciar um ritual pode aju<strong>da</strong>r pessoas a reforçar seu comprometimento,<br />

assinalar os marcos de uma trajetória, conferir sentidos novos a uma<br />

experiência, reduzir sua ansie<strong>da</strong>de frente a um desafio, dentre outros<br />

objetivos. No que tange a grupos, os rituais podem contribuir para o<br />

engajamento numa nova causa e a criação de uma identi<strong>da</strong>de comum.<br />

A Wikipédia, em seu verbete sobre rituais 49 , traz um ponto inte<strong>res</strong>sante<br />

sobre a varie<strong>da</strong>de de manifestações que eles podem assumir:<br />

Um ritual pode ser executado em intervalos regula<strong>res</strong> ou em situações<br />

específicas. Pode ser executado por um único indivíduo, um grupo, ou por<br />

uma comuni<strong>da</strong>de inteira; pode ocorrer em locais arbitrários, específicos,<br />

diante de pessoas ou privativamente. Um ritual pode ser <strong>res</strong>trito a certo<br />

subgrupo <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e pode autorizar ou sublinhar a passagem entre<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

160


Rituais<br />

condições sociais ou religiosas.<br />

Vale a pena conferir o artigo “Why Rituals Work”, de Francesca Gino e<br />

Michael I. Norton, publicado no site <strong>da</strong> Scientific American. Os auto<strong>res</strong><br />

afirmam que os rituais que as pessoas costumam adotar em seu cotidiano<br />

podem ter efeitos mais reais do que se imagina.<br />

Fonte: Oikos.<br />

Como?<br />

Existe uma enorme diversi<strong>da</strong>de de rituais, ca<strong>da</strong> um espelhando<br />

características singula<strong>res</strong> <strong>da</strong> cultura do qual se origina. É possível também<br />

criar rituais novos para eventos ou grupos específicos, de modo a<br />

potencializar as emoções positivas associa<strong>da</strong>s a um projeto ou percurso.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

161


Rituais<br />

Manifestações humanas tão varia<strong>da</strong>s quanto <strong>da</strong>nças, comi<strong>da</strong>s, objetos,<br />

diálogos, movimentos, gestos, jogos coletivos e cerimônias podem<br />

servir como rituais, desde que sejam imbuí<strong>da</strong>s de significado para quem<br />

os experimentará (há quem diga que mesmo sem ter um significado<br />

os rituais funcionam 50 ). Alguns exemplos de rituais que já vivenciei em<br />

contextos educativos são os anéis de tucum e as <strong>da</strong>nças circula<strong>res</strong> sagra<strong>da</strong>s.<br />

Quando participei do Caminho do Sertão, uma jorna<strong>da</strong> de 160 km a pé<br />

pelo sertão mineiro, logo no primeiro dia nos foram entregues anéis de<br />

tucum. O tucum é uma palmeira <strong>da</strong> Amazônia e o anel que dela se produz<br />

foi muito utilizado pelos negros escravizados, que não tinham acesso<br />

às alianças de ouro que os brancos usavam para se casar. Ao longo do<br />

tempo, o anel de tucum foi se tornando um símbolo de <strong>res</strong>istência contra<br />

a op<strong>res</strong>são. Durante a caminha<strong>da</strong>, utilizamos o anel sabendo <strong>da</strong> história<br />

de seu surgimento, e isso nos fez fortalecidos frente às dificul<strong>da</strong>des<br />

do trajeto. Estarmos com o anel nos conectou ain<strong>da</strong> mais fortemente<br />

com as comuni<strong>da</strong>des com as quais interagimos, várias delas de origem<br />

quilombola.<br />

No caso <strong>da</strong>s <strong>da</strong>nças circula<strong>res</strong> sagra<strong>da</strong>s, participei de dois momentos<br />

muito inte<strong>res</strong>santes em que elas foram utiliza<strong>da</strong>s para aju<strong>da</strong>r a formar a<br />

nova identi<strong>da</strong>de de coletivos que estavam nascendo. Funcionava assim:<br />

um facilitador ensinava uma <strong>da</strong>nça ao grupo, e quatro ou cinco pessoas<br />

permaneciam senta<strong>da</strong>s no centro <strong>da</strong> ro<strong>da</strong>. A missão desse círculo de<br />

dentro era chegar num nome que rep<strong>res</strong>entasse o propósito <strong>da</strong>quela<br />

união de pessoas, enquanto o <strong>res</strong>tante do grupo <strong>da</strong>nçava de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

e em círculo ao redor. Nas experiências que tive, os nomes escolhidos<br />

foram muito celebrados por todos, e isso conferiu ao grupo um forte<br />

senso de pertencimento.<br />

Os rituais trabalham no campo sutil, reforçando as emoções e intenções<br />

nos processos de aprendizagem. A humani<strong>da</strong>de por muito tempo<br />

abasteceu-se de rituais para <strong>da</strong>r sentido às suas ocorrências. Hoje, a<br />

possibili<strong>da</strong>de de <strong>res</strong>gatarmos essa sabedoria ancestral está em nossas<br />

mãos. Talvez um primeiro passo seja apenas reconhecer que continuamos<br />

ritualísticos.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

162


Rituais<br />

Para mergulhar<br />

• “Ritual”, Wikipedia. Link<br />

• “Why Rituals Work”, Francesca Geno e Michael Norton. Scientific<br />

American. Link<br />

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163


Jogo Oasis<br />

Fonte: Erno Paulinyi.<br />

Resgatando as fontes de vi<strong>da</strong> de uma comuni<strong>da</strong>de<br />

O Jogo Oasis é uma oportuni<strong>da</strong>de de impulsionar a convivência<br />

comunitária e realizar sonhos coletivos, brincando. Desenvolvido como<br />

tecnologia social pelo Instituto Elos, o jogo propõe a concretização de um<br />

projeto desafiador que contribua para atender aos desejos e necessi<strong>da</strong>des<br />

de uma comuni<strong>da</strong>de. O lema de um Oasis é a possibili<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>r o<br />

mundo de forma “rápi<strong>da</strong>, diverti<strong>da</strong> e sem colocar a mão no bolso”.<br />

Ao final, algo tangível construído a várias mãos é celebrado, podendo ser<br />

por exemplo uma creche, um equipamento cultural, a revitalização de uma<br />

praça ou de uma escola, dentre outras possibili<strong>da</strong>des que façam sentido<br />

para a comuni<strong>da</strong>de.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

164


Jogo Oasis<br />

Por quê?<br />

O nome do jogo diz muito sobre o seu propósito: oásis é a abundância<br />

que brota no deserto. A ideia por trás do Jogo Oasis é <strong>res</strong>gatar as<br />

fontes de vi<strong>da</strong> de luga<strong>res</strong> em que sonhar perdeu o sentido. Por meio<br />

de uma construção conjunta entre o grupo que se animou em jogar, a<br />

comuni<strong>da</strong>de e diversos outros parceiros, um senso apreciativo é criado.<br />

Para que isso aconteça, todo mundo precisa colocar a mão na massa.<br />

A inspiração para o jogo surgiu a partir dos fun<strong>da</strong>mentos dos jogos<br />

cooperativos. Os sete passos que conformam não somente a metodologia<br />

do Oasis, como também a base do Instituto Elos – a Filosofia Elos – são<br />

bastante semelhantes aos sete passos <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação.<br />

Neste sentido, o jogo incorpora a máxima <strong>da</strong> cooperação: “se o importante<br />

é competir, o fun<strong>da</strong>mental é cooperar” 51 .<br />

Jogar o Oasis é muito diferente de fazer um mutirão. As ênfases estão na<br />

criação de vínculos, na sabedoria coletiva e na mobilização criativa e em<br />

rede. De certo modo, o jogo fornece uma prova de que é possível que<br />

comuni<strong>da</strong>des sejam transforma<strong>da</strong>s “de dentro para fora” por meio de<br />

alianças genuínas.<br />

Alguns dos objetivos de um Oasis são 52 :<br />

• Fazer mais pessoas vivenciarem uma experiência de cooperação<br />

e empreendedorismo comunitário;<br />

• Potencializar o olhar apreciativo e promover soluções criativas<br />

para questões locais;<br />

• Aproximar os participantes de uma nova forma de mu<strong>da</strong>r o<br />

mundo, que aposta na diversão e na autonomia;<br />

• Ser uma oportuni<strong>da</strong>de de exercer valo<strong>res</strong> humanos como<br />

<strong>res</strong>peito, empatia, compaixão e amor;<br />

• Ampliar o acesso a informações sobre estratégias de<br />

sustentabili<strong>da</strong>de socioambiental e autoconstrução;<br />

• Materializar um sonho comunitário com a aju<strong>da</strong> de todos.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

165


Jogo Oasis<br />

Todos esses objetivos podem ser entendidos também como justificativas<br />

para que o Jogo Oasis seja considerado uma ferramenta de aprendizagem.<br />

Ao jogar, todos saem ganhando: a comuni<strong>da</strong>de, que poderá tornar<br />

seu sonho reali<strong>da</strong>de; e o grupo mobilizador, cujos integrantes poderão<br />

exercitar um conjunto de valo<strong>res</strong> cruciais para a convivência e o<br />

desenvolvimento humano sustentável.<br />

Como?<br />

Fonte: Instituto Brookfield.<br />

O conceito de comuni<strong>da</strong>de para o Oasis é ampliado, de tal forma que um<br />

grupo, uma escola, uma equipe de trabalho, um bairro ou mesmo uma<br />

região podem ser considerados como comuni<strong>da</strong>des, desde que haja um<br />

espaço físico e um propósito em comum.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

166


Jogo Oasis<br />

Jogar o Oasis pode ser inte<strong>res</strong>sante para 53 :<br />

• Grupos que desejam aprimorar o trabalho em equipe;<br />

• Emp<strong>res</strong>as e organizações que querem fomentar iniciativas de<br />

voluntariado e <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de socioambiental de seus<br />

funcionários;<br />

• Comuni<strong>da</strong>des e instituições que almejam <strong>da</strong>r início a planos de<br />

desenvolvimento sustentável de um território;<br />

• Líde<strong>res</strong> e educado<strong>res</strong> inte<strong>res</strong>sados em propor uma experiência<br />

de aprendizagem vivencial;<br />

• Pessoas com sede de transformação e que querem viver uma<br />

jorna<strong>da</strong> coletiva desafiadora.<br />

Qualquer um pode jogar o Oasis, mas é necessário que haja um grupo<br />

mobilizador que será o <strong>res</strong>ponsável pela animação do jogo. O grupo é<br />

composto por cinco a 30 pessoas, com i<strong>da</strong>de mínima de 15 anos.<br />

A partir <strong>da</strong> formação do grupo mobilizador, ca<strong>da</strong> vez mais pessoas vão<br />

sendo envolvi<strong>da</strong>s e convi<strong>da</strong><strong>da</strong>s a jogar: morado<strong>res</strong> e integrantes <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de, instituições que possam ser parceiras, as redes de contatos<br />

do próprio grupo etc. Ao movimentar recursos e talentos distintos, o<br />

importante é que ca<strong>da</strong> um possa <strong>da</strong>r o seu melhor, de maneira “rápi<strong>da</strong>,<br />

diverti<strong>da</strong> e sem colocar a mão no bolso”. A escolha por não utilizar o<br />

dinheiro é um truque para potencializar o engajamento, além de aju<strong>da</strong>r a<br />

tornar igualmente engrandeci<strong>da</strong>s as contribuições que todos podem <strong>da</strong>r.<br />

To<strong>da</strong> a mobilização de um Oasis pode ser feita durante uma semana (sete<br />

dias), ou durante um mês nos finais de semana. Ao jogar, os participantes<br />

dão vi<strong>da</strong> a diferentes personagens, ca<strong>da</strong> um com habili<strong>da</strong>des e papéis<br />

distintos nas interações com a comuni<strong>da</strong>de. No site do Instituto Elos é<br />

possível baixar o manual de bolso <strong>da</strong> Metodologia Elos, o qual, além de<br />

descrever os personagens, fornece orientações detalha<strong>da</strong>s sobre o jogo.<br />

A dinâmica do Jogo Oasis funciona por meio de sete passos ou “atos”,<br />

precedidos por uma fase de preparação. As etapas são: o Olhar, o Afeto, o<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

167


Jogo Oasis<br />

Sonho, o Cui<strong>da</strong>do, o Milagre, a Celebração e a Re-evolução.<br />

O Olhar<br />

É o exercício de uma visão apreciativa sobre a comuni<strong>da</strong>de, de modo a<br />

reconhecer a abundância de recursos, talentos e belezas já existentes.<br />

Fazem parte dessa etapa ativi<strong>da</strong>des de observação, registro e a suspensão<br />

dos nossos julgamentos e noções pré-concebi<strong>da</strong>s.<br />

O Afeto<br />

A criação de vínculos afetivos entre as pessoas do grupo e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

é estimula<strong>da</strong>, com o intuito de aflorar a confiança e o desejo de cui<strong>da</strong>do<br />

mútuo. A escuta é a principal ferramenta, conjuga<strong>da</strong> a passeios,<br />

apreciação <strong>da</strong>s histórias e demonstrações de talentos de pessoas <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de.<br />

O Sonho<br />

Nesse passo, o mais importante é cultivar espaços seguros e de confiança<br />

para que todos possam exp<strong>res</strong>sar suas aspirações coletivas em relação à<br />

comuni<strong>da</strong>de. Conversas com diferentes públicos, a realização de um grande<br />

encontro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e a identificação dos padrões que apontam para o<br />

sonho comum são ativi<strong>da</strong>des que pertencem a essa etapa.<br />

O Cui<strong>da</strong>do<br />

É o estágio <strong>da</strong> Projetação Coletiva, que deve ser realiza<strong>da</strong> com a<br />

participação de todos, tendo-se cui<strong>da</strong>do com as expectativas e as relações.<br />

O grupo mobilizador, em conjunto com a comuni<strong>da</strong>de, deverá pensar<br />

e executar estratégias diversas para levantar os recursos necessários<br />

à materialização <strong>da</strong> aspiração coletiva. Um segundo encontro <strong>da</strong><br />

comuni<strong>da</strong>de deverá ser realizado com os intuitos de se cocriar uma<br />

maquete rep<strong>res</strong>entativa do sonho e planejar a intervenção, que deverá ser<br />

exequível em um curto espaço de tempo.<br />

O Milagre<br />

Compreende a mobilização, divulgação e preparação necessárias para<br />

possibilitar a ação coletiva, além do grande dia de mutirão que tornará<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

168


Jogo Oasis<br />

real o sonho comunitário. Durante o milagre, o impossível vira reali<strong>da</strong>de<br />

por meio <strong>da</strong> pró-ativi<strong>da</strong>de, autonomia e cooperação de ca<strong>da</strong> pessoa do<br />

grupo mobilizador, <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de e quem mais se sentir chamado a<br />

aju<strong>da</strong>r. A ideia é que todos – crianças, adultos e idosos – trabalhem e se<br />

divirtam juntos, ca<strong>da</strong> um <strong>da</strong>ndo o que de melhor pode <strong>da</strong>r.<br />

A Celebração<br />

Após o Milagre, é importante celebrar a conquista em conjunto,<br />

compartilhando o que foi marcante, desafiador e motivo de alegria para<br />

ca<strong>da</strong> um. É um momento de reencontro festivo e acolhedor, em que são<br />

reconheci<strong>da</strong>s as contribuições de todos para o processo. Várias ativi<strong>da</strong>des<br />

podem ocorrer: show de talentos, ro<strong>da</strong> de contação de histórias, <strong>da</strong>nças<br />

circula<strong>res</strong>, ap<strong>res</strong>entações e exibições de vídeos etc.<br />

A Re-evolução<br />

É o impulso para um novo ciclo de realizações, de modo a estimular o<br />

protagonismo <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Um Encontro de Futuro pode ser proposto<br />

para estimular conversas a <strong>res</strong>peito de quais cenários a comuni<strong>da</strong>de<br />

imagina a partir <strong>da</strong> transformação ocorri<strong>da</strong>. Novas parcerias podem<br />

ser cria<strong>da</strong>s e um novo desafio pode ser identificado ou proposto. É<br />

importante manter o contato com a comuni<strong>da</strong>de após o término do jogo,<br />

incentivando-a a buscar a realização de outros sonhos coletivos.<br />

Além do manual <strong>da</strong> Metodologia Elos, o qual descreve mais<br />

minuciosamente ca<strong>da</strong> etapa, é possível também fazer o download<br />

do baralho do Jogo Oasis, que conta com dicas e orientações basea<strong>da</strong>s nos<br />

sete passos.<br />

O Oasis é uma ferramenta de mobilização que pode nos ensinar muitas<br />

coisas sobre engajamento e valo<strong>res</strong> humanos. A aprendizagem ocorre<br />

na prática, de forma imersiva e vivencial. Pessoas de diversos países já<br />

começaram a brincar: e aí, topa jogar junto?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

169


Jogo Oasis<br />

Para mergulhar:<br />

• “História #6 – Jogo Oasis – Raposos/MG” [vídeo]. Imagina na<br />

Copa. Youtube. Link<br />

• “Metodologia Elos: Manual de Bolso”. Instituto Elos Brasil. Issuu.<br />

Link<br />

• “Jogo Oasis – Baralho do Jogo”. Instituto Elos Brasil. Issuu. Link<br />

• “Jogo realiza transformações em comuni<strong>da</strong>des”. Blog do<br />

Instituto Brookfield. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

170


Investigação Apreciativa<br />

Fonte: Umcomo.<br />

Ao focarmos no positivo, o negativo perde força<br />

Apreciar tem a ver com reconhecer o que há de positivo. A Investigação<br />

Apreciativa (IA) é uma abor<strong>da</strong>gem e um processo que inverte a nossa<br />

lógica tradicional de <strong>res</strong>olução de problemas: ao invés de identificar o<br />

que não está funcionando, o foco <strong>res</strong>ide em enxergar e atuar a partir <strong>da</strong>s<br />

potências de um indivíduo, comuni<strong>da</strong>de ou organização. Dessa forma, a IA<br />

propõe a cocriação de futuros positivos a partir <strong>da</strong> valorização do que de<br />

melhor já ocorreu.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

171


Investigação Apreciativa<br />

Por quê?<br />

Você já se perguntou porque quase sempre pensam<br />

os partindo do problema? A Investigação Apreciativa – abor<strong>da</strong>gem<br />

surgi<strong>da</strong> nos anos 80 por meio do trabalho de David Cooperrider – é uma<br />

forma de pensar, ver e agir que nos convi<strong>da</strong> a enxergar de outro ângulo,<br />

p<strong>res</strong>supondo que tudo na vi<strong>da</strong> tem aspectos positivos.<br />

No livro “Mapeando Diálogos: ferramentas essenciais para a mu<strong>da</strong>nça<br />

social”, Marianne Mille Bojer e outros auto<strong>res</strong> <strong>res</strong>umiram a mu<strong>da</strong>nça do<br />

foco no problema para o foco apreciativo no quadro seguinte:<br />

Resolução de Problemas<br />

Investigação Apreciativa<br />

• “Necessi<strong>da</strong>de percebi<strong>da</strong>” e<br />

identificação do problema”.<br />

• Análise <strong>da</strong>s causas.<br />

• Análise <strong>da</strong>s possíveis soluções.<br />

• Planejamento <strong>da</strong> ação.<br />

• P<strong>res</strong>suposto: a organização é um<br />

problema a ser solucionado.<br />

• O que está no caminho que<br />

queremos?<br />

•<br />

• Aprecie e valorize o melhor do<br />

que já existe.<br />

• Imaginação: o que poderia ser.<br />

• Diálogo: o que deveria ser.<br />

• Criativi<strong>da</strong>de: o que será.<br />

• P<strong>res</strong>suposto: a organização é um<br />

mistério a ser desven<strong>da</strong>do.<br />

• O que realmente queremos:<br />

•<br />

Perspectiva do déficit<br />

Perspectiva <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de<br />

Os itens que conformam a “perspectiva <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de” na figura acima<br />

já adiantam um pouco do processo <strong>da</strong> Investigação Apreciativa, que<br />

veremos a seguir. Antes disso, vale mencionar o trabalho de Joe Hall e Sue<br />

Hammond, que juntos criaram uma lista <strong>da</strong>s 7 premissas 54 que sustentam<br />

qualquer intervenção basea<strong>da</strong> na IA:<br />

• Em to<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, organização ou grupo, algo está<br />

funcionando bem;<br />

• O que nós <strong>da</strong>mos atenção acaba se tornando nossa reali<strong>da</strong>de;<br />

• A reali<strong>da</strong>de é cria<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> momento e existem múltiplas<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

172


Investigação Apreciativa<br />

reali<strong>da</strong>des;<br />

• O ato de fazer perguntas sobre uma organização ou grupo o<br />

influencia de alguma forma;<br />

• As pessoas têm mais segurança e se sentem mais confortáveis<br />

para imaginar o futuro (desconhecido) quando levam consigo<br />

partes do passado (conhecido);<br />

• Se nós levaremos partes do passado, elas devem ser o que de<br />

melhor ocorreu no passado;<br />

• A linguagem que usamos cria nossa reali<strong>da</strong>de.<br />

Como consequência dessas premissas, uma <strong>da</strong>s crenças mais p<strong>res</strong>entes<br />

nos trabalhos de Investigação Apreciativa é a de que quando calibramos<br />

nossa perspectiva a partir do que é positivo, o que está <strong>da</strong>ndo errado<br />

tende a ir embora.<br />

Conferência Mundial de Investigação Apreciativa de 2012.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

173


Investigação Apreciativa<br />

Como?<br />

A Investigação Apreciativa pode ser aplica<strong>da</strong> por meio do processo dos<br />

4 Ds, a saber, Discover, Dream, Design and Destiny (Descoberta, Sonho,<br />

Desenho e Destino, numa tradução livre).<br />

Antes do primeiro passo, porém, é necessário definir o escopo <strong>da</strong><br />

investigação, e isso deve ser feito sob a forma de um tópico afirmativo,<br />

e não de uma declaração de problema. Por exemplo, “criar as condições<br />

para que a escola faça sentido para os educandos do ensino médio”<br />

é um tópico afirmativo, ao passo que “diminuir a evasão do ensino<br />

médio” é uma declaração de problema. Se essa definição for feita com a<br />

participação de todos, melhor.<br />

Descoberta<br />

A etapa <strong>da</strong> Descoberta faz referência ao que de melhor existiu no passado<br />

do coletivo ou indivíduo objeto <strong>da</strong> investigação. É importante explicitar<br />

os fato<strong>res</strong> que ensejaram os fatos positivos e quais elementos as pessoas<br />

gostariam de p<strong>res</strong>ervar no futuro.<br />

Sonho<br />

Em segui<strong>da</strong>, a fase do Sonho é a cocriação <strong>da</strong> visão de futuro deseja<strong>da</strong>.<br />

De acordo com Marianne Mille Bojer e outros auto<strong>res</strong> no livro Mapeando<br />

Diálogos, as pessoas “<strong>res</strong>pondem ao que imaginam que o mundo pede<br />

que sejam. Creem que o melhor do que aquilo que já existe serve de base<br />

para o futuro”.<br />

Desenho<br />

A etapa de Desenho é como <strong>da</strong>r vi<strong>da</strong> aos sonhos, de modo a criar<br />

estruturas, processos, tecnologias, políticas e procedimentos que<br />

materializem a visão de futuro cocria<strong>da</strong> anteriormente. Aqui, a utilização<br />

de proposições ousa<strong>da</strong>mente ideais pode ser útil para não deixar a<br />

energia do núcleo positivo se dissipar.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

174


Investigação Apreciativa<br />

Destino<br />

Por fim, a fase do Destino existe para implementar a visão de futuro<br />

sonha<strong>da</strong> e as estruturas desenha<strong>da</strong>s. Num processo coletivo, grupos<br />

podem se formar nessa etapa para se <strong>res</strong>ponsabilizar por diferentes áreas<br />

que demandem mu<strong>da</strong>nças.<br />

Em grupos e organizações, é possível pensar um processo de Investigação<br />

Apreciativa num formato de imersão de alguns dias com todo o sistema<br />

envolvido, ou num esforço menos concentrado, mas de duração maior.<br />

Outra forma de aplicação <strong>da</strong> IA é volta<strong>da</strong> para indivíduos em processos<br />

de autoconhecimento, transição de carreira e no início de jorna<strong>da</strong>s de<br />

aprendizagem.<br />

A Investigação Apreciativa pode ser especialmente inte<strong>res</strong>sante no cenário<br />

atual de nossas escolas, marcado pela descrença e pelo foco generalizado<br />

nos problemas. O olhar apreciativo, por modificar a forma com que<br />

atuamos, pode render boas descobertas.<br />

Para mergulhar<br />

• “Investigação Apreciativa (Appreciative Inquiry)”, Maria<br />

Fernan<strong>da</strong> T. <strong>da</strong> Costa. Slideshare disponibilizado por Luiz<br />

Algarra. Link<br />

• “What is Appreciative Inquiry?”, Joe Hall e Sue Hammond. Link<br />

• Bojer, Marianne Mille et al. Mapeando diálogos: ferramentas<br />

essenciais para a mu<strong>da</strong>nça social. Instituto Noos, Rio de Janeiro,<br />

2010.<br />

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175


Matriz SOAR<br />

Planejar a partir do núcleo positivo<br />

A Matriz SOAR é uma a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> Matriz SWOT, esta última amplamente<br />

utiliza<strong>da</strong> no planejamento e gestão de organizações. SOAR é uma sigla<br />

para Strenghts, Opportunities, Aspirations and Results (Fortalezas,<br />

Oportuni<strong>da</strong>des, Aspirações e Resultados). A diferença para a Matriz SWOT<br />

é que os quadrantes <strong>da</strong>s Fraquezas (Weaknesses) e <strong>da</strong>s Ameaças (Threats)<br />

são substituídos, de modo a se ampliar o foco apreciativo para o contexto<br />

pretendido.<br />

Fonte: Worksmarts.<br />

Por quê?<br />

A criação <strong>da</strong> Matriz SOAR ocorreu na esteira do desenvolvimento <strong>da</strong><br />

Investigação Apreciativa. Como um instrumento para o planejamento<br />

estratégico de organizações, a Matriz SOAR propõe 55 :<br />

• Um foco ampliado sobre o que a organização já faz de melhor,<br />

de tal modo que os problemas e as ameaças não sejam<br />

ignorados, mas sim olhados de uma outra perspectiva (o ponto<br />

de parti<strong>da</strong> é sempre “o que nós queremos”, ao invés de “o que<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

176


Matriz SOAR<br />

nós não queremos”);<br />

• Envolvimento de todos os níveis <strong>da</strong> organização no processo,<br />

além de um chamado especial para todos os públicos de<br />

relacionamento externos. A ideia é que a concepção <strong>da</strong><br />

estratégia com base na Matriz SOAR seja feita <strong>da</strong> forma mais<br />

participativa possível, agregando to<strong>da</strong> a sabedoria coletiva<br />

disponível no sistema.<br />

Assim como na Investigação Apreciativa, a principal premissa <strong>da</strong> Matriz<br />

SOAR é que as perguntas e conversas que criamos são capazes de<br />

alterar os <strong>res</strong>ultados alcançados. Se nossa perspectiva é positiva, com<br />

questões que nos geram energia, curiosi<strong>da</strong>de e entusiasmo, então nossas<br />

possibili<strong>da</strong>des de futuro também tendem a seguir o mesmo rastro.<br />

Embora a principal aplicação dessa ferramenta seja o ambiente<br />

organizacional, também é possível enxergá-la sendo utiliza<strong>da</strong> em outros<br />

contextos.<br />

Como?<br />

Fonte: Academia.edu.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

177


Matriz SOAR<br />

A utilização <strong>da</strong> Matriz SOAR pode se <strong>da</strong>r em dois níveis diferentes:<br />

individual ou coletivo. Em ambos os casos, a imagem <strong>da</strong> matriz como<br />

uma tabela nem sempre é utiliza<strong>da</strong>, como ocorre na Matriz SWOT: o<br />

mais importante é honrar os quatro elementos <strong>da</strong> sigla, de modo a<br />

compor um fluxo que se inicia pela identificação <strong>da</strong>s Forças, passa pelas<br />

Oportuni<strong>da</strong>des e Aspirações e por fim chega nos Resultados. Em se<br />

tratando de planejamento estratégico, a aplicação <strong>da</strong> Matriz SOAR pode<br />

ser feita tomando como base sete passos 56 :<br />

1. Identifique quem irá participar (quanto mais participativo,<br />

melhor) dos públicos interno e externo <strong>da</strong> organização. Defina<br />

o formato e a frequência <strong>da</strong>s interações que serão feitas para<br />

investigar as forças, oportuni<strong>da</strong>des, aspirações e <strong>res</strong>ultados<br />

conforme entendidos pelos diversos públicos;<br />

2. Crie os instrumentos de pesquisa e os espaços de diálogo<br />

necessários para iniciar a investigação;<br />

3. Envolva todos no processo de modo a promover momentos<br />

de reflexão a <strong>res</strong>peito dos quatro elementos <strong>da</strong> Matriz. Faça<br />

perguntas poderosas e positivas e utilize entrevistas, diálogos<br />

em grupo, vivências etc;<br />

4. Encontre a essência do “núcleo positivo” identificando os<br />

padrões que se repetiram nas falas a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong>s forças,<br />

recursos, capaci<strong>da</strong>des e potenciais <strong>da</strong> organização;<br />

5. Identifique oportuni<strong>da</strong>des (que podem surgir de problemas<br />

e ameaças olhados sob uma outra perspectiva) e aspirações<br />

capazes de criar uma visão de futuro instigante, que beba do<br />

melhor do passado e desafie o que já está posto;<br />

6. Defina métricas de <strong>res</strong>ultado que funcionem como os “sinais” de<br />

que o futuro desejado está sendo alcançado;<br />

7. Planeje as ações necessárias para se chegar às aspirações e<br />

aproveitar as oportuni<strong>da</strong>des, e por fim implemente-as.<br />

Outra forma de utilização <strong>da</strong> Matriz SOAR é empregá-la para planejar<br />

ações. Neste caso, todo o processo costuma durar apenas um dia ou um<br />

período de trabalho.<br />

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178


Matriz SOAR<br />

No nível individual, a Matriz SOAR pode ser aplica<strong>da</strong> como uma<br />

ferramenta de reflexão e autodesenvolvimento. Sendo utiliza<strong>da</strong> dessa<br />

forma, algumas perguntas aju<strong>da</strong>m a clarear o que se pretende em ca<strong>da</strong><br />

quadrante <strong>da</strong> Matriz 57 :<br />

Forças<br />

• No que sou bom? Quais são minhas habili<strong>da</strong>des e pontos fortes?<br />

• O que meus amigos e familia<strong>res</strong> acreditam que faço bem?<br />

• Quais conhecimentos e competências únicas eu detenho?<br />

Oportuni<strong>da</strong>des<br />

• Quais oportuni<strong>da</strong>des o mundo está evidenciando para mim?<br />

• Quais delas poderiam se aproveitar dos meus fortes e me fazer<br />

alcançar minhas aspirações?<br />

• Como minhas habili<strong>da</strong>des poderiam me aju<strong>da</strong>r a aproveitar<br />

essas oportuni<strong>da</strong>des?<br />

Aspirações<br />

• Qual é a minha paixão?<br />

• O que eu quero fazer e alcançar?<br />

• Como seria se eu já tivesse alcançado o que desejo?<br />

Resultados<br />

• Quais são as duas primeiras coisas que preciso fazer?<br />

• Como eu saberei se já consegui alcançar o que quero? Quais<br />

serão os sinais?<br />

• De que maneiras eu poderia celebrar minhas conquistas?<br />

Criar a sua própria Matriz SOAR pessoal pode ser uma ótima forma de<br />

iniciar um novo percurso de aprendizagem. Escrevi um texto que explora<br />

outras perguntas de reflexão que podem surgir dos quatro elementos <strong>da</strong><br />

Matriz: chama-se “20 potências de aprendizagem que todos nós temos”.<br />

A Matriz SOAR pode ser um ótimo quadro de referência para despertar o<br />

olhar apreciativo. Por meio de uma perspectiva mais positiva, a tendência<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

179


Matriz SOAR<br />

é que to<strong>da</strong> nossa visão de mundo se transforme.<br />

Para mergulhar:<br />

• “SOAR (Strenghts, Opportunities, Aspirations, Results”. ASQ. Link<br />

• “Strategic Inquiry, Appreciative Intent: Inspiration to SOAR.<br />

Jacqueline Stavros, David Cooperrider e D. Lynn Kelley. Link<br />

• “SOARing Towards Positive Transformation and Change”,<br />

Jacqueline Stavros e Matthew Cole. Academia.edu. Link<br />

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180


Cenários Futuros<br />

Olhando para o futuro sem bola de cristal<br />

Os cenários são histórias de futuro que podem nos aju<strong>da</strong>r a tomar<br />

decisões e a transformar nossas ações. Diferente de previsões, as quais<br />

apontam de forma taxativa o que acontecerá, os cenários trabalham com<br />

alternativas de futuro possíveis.<br />

Isso é feito não apenas por meio de <strong>da</strong>dos históricos e diagnósticos,<br />

como também a partir de percepções estratégicas sobre o futuro<br />

compartilha<strong>da</strong>s pelas pessoas envolvi<strong>da</strong>s na questão analisa<strong>da</strong>.<br />

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181


Cenários Futuros<br />

Por quê?<br />

Marianne Mille Bojer sustenta que os cenários são “histórias estrutura<strong>da</strong>s<br />

e bem pensa<strong>da</strong>s que descrevem uma pequena quanti<strong>da</strong>de de contextos<br />

futuros possíveis e a maneira pela qual estes podem surgir” 58 . Por meio<br />

de reflexões conjuntas, um grupo de pessoas que seja rep<strong>res</strong>entativo<br />

do contexto investigado é convocado a aproximar seus entendimentos<br />

e perspectivas por meio dos cenários. Esse diálogo torna-se possível<br />

justamente porque não há a pretensão de se chegar a uma ver<strong>da</strong>de única.<br />

Além de aproximar pessoas e pontos de vista, o trabalho com cenários<br />

desafia nosso modelo mental baseado no passado. Charles Roxburgh, em<br />

seu artigo “The use and abuse of scenarios”, argumenta o seguinte 59 :<br />

“Você pensará de forma mais amplia<strong>da</strong> ao desenvolver um leque de<br />

consequências possíveis, ca<strong>da</strong> uma sustenta<strong>da</strong> pela série de eventos<br />

que a causariam. O exercício é particularmente valioso por conta de<br />

um equívoco <strong>da</strong> espécie humana que nos faz ter a expectativa de que o<br />

futuro será sempre semelhante ao passado e que a mu<strong>da</strong>nça só ocorrerá<br />

gradualmente”.<br />

Se às vezes a mu<strong>da</strong>nça ocorre de forma disruptiva, isso é especialmente<br />

ver<strong>da</strong>deiro nos casos em que indivíduos, grupos e organizações<br />

propõem-se a se movimentar conscientemente em direção ao futuro<br />

que vislumbram. Isso é uma outra possibili<strong>da</strong>de que o planejamento de<br />

cenários enseja: o mapeamento de estratégias úteis à concretização <strong>da</strong><br />

alternativa de futuro preferi<strong>da</strong> pelos envolvidos no processo. Como Peter<br />

Drucker disse, “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo” 60 .<br />

Como?<br />

Uma <strong>da</strong>s histórias mais céleb<strong>res</strong> em torno <strong>da</strong> utilização de cenários<br />

ocorreu em Mont Fleur, na África do Sul, logo após a libertação de<br />

Nelson Mandela em 1991. 22 figuras importantes do país começaram a<br />

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182


Cenários Futuros<br />

se reunir num momento em que o clima era de alto grau de incerteza<br />

sobre o futuro. O grupo era bastante diverso, com pessoas de orientações<br />

políticas divergentes. Ca<strong>da</strong> integrante possuía uma visão própria sobre o<br />

que poderia acontecer.<br />

Ao se encontrarem várias vezes para discutir os cenários que enxergavam<br />

para o país, os participantes acabaram por criar quatro visões alternativas<br />

de futuro basea<strong>da</strong>s em metáforas:<br />

• O Avestruz, em referência a um governo que buscava evitar o<br />

diálogo e a negociação, como se enterrasse a cabeça na areia;<br />

• O Pato Manco, aludindo a uma transição arrasta<strong>da</strong> e lenta<br />

demais, que tentava agra<strong>da</strong>r a todos e acabou fracassando;<br />

• Ícaro, um governo que buscava investir maciçamente, elevando<br />

muito os gastos públicos e causando prejuízos à economia;<br />

• Voo dos Flamingos, em que as políticas de governo procuravam<br />

zelar pela sustentabili<strong>da</strong>de, fazendo com que todos os sulafricanos<br />

levantassem voo juntos.<br />

Fonte: Futurista Blog.<br />

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183


Cenários Futuros<br />

O cenário do Voo dos Flamingos foi eleito de forma unânime como o<br />

preferido pelos participantes e o seu conteúdo foi amplamente absorvido<br />

pelas autori<strong>da</strong>des e disseminado pela mídia. Ao discutir políticas e tomar<br />

decisões que impactavam os rumos do país, diversas lideranças passaram<br />

a mencionar os cenários em suas falas.<br />

Ao contar essa história no livro “Mapeando Diálogos: ferramentas<br />

essenciais para a mu<strong>da</strong>nça social” 61 , Marianne Mille Bojer e outros auto<strong>res</strong><br />

pontuam que o seu grande sucesso se deu por conta de quatro fato<strong>res</strong><br />

principais: timing propício; ampla participação em todos os níveis e<br />

adesão <strong>da</strong>s lideranças; cultivo de novas relações e consenso de todos pelo<br />

mesmo cenário; e histórias escritas detalha<strong>da</strong>mente somado a um followup<br />

extensivo.<br />

O caso de Mont Fleur na África do Sul tem muito a nos ensinar. Talvez a<br />

essência do processo sul-africano possa ser traduzi<strong>da</strong> nos cinco passos <strong>da</strong><br />

criação de cenários que Mille Bojer pontua. São eles 62 :<br />

1. Reúna uma equipe com pessoas que tragam uma totali<strong>da</strong>de do<br />

sistema;<br />

2. Observe o que está acontecendo;<br />

3. Construa histórias sobre o que poderia acontecer;<br />

4. Descubra o que precisa e deve ser feito;<br />

5. Aja para transformar o sistema.<br />

As aplicações do planejamento de cenários são diversas e englobam<br />

principalmente grupos e organizações. Escolas, ONGs, coletivos, governos<br />

e emp<strong>res</strong>as estão entre as instituições que podem se beneficiar do<br />

poder de histórias de futuro bem conta<strong>da</strong>s. No fundo, o que os cenários<br />

nos permitem fazer é alcançar novos entendimentos compartilhados.<br />

Acabamos por acreditar neles, e isso nos faz agir de forma diferencia<strong>da</strong>.<br />

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184


Cenários Futuros<br />

Para mergulhar:<br />

• “Construção de Cenários Transformado<strong>res</strong>”, Marianne Mille<br />

Bojer. Reos Partners. Slideshare. Link<br />

• “The use and abuse of scenarios”, Charles Roxburgh.<br />

McKinsey&Company. Link<br />

• “The Mont Fleur Scenarios: what will South Africa be like in<br />

2002?”. Deeper News, Volume 7, número 1. t<br />

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185


Dragon Dreaming<br />

Fonte: Os Guardiões <strong>da</strong> Terra.<br />

Desenvolver projetos a partir do sonho coletivo<br />

O Dragon Dreaming é um conjunto de princípios e processos estruturados<br />

num sistema cujo objetivo é a realização de projetos coletivos. Partindo de<br />

uma metodologia pauta<strong>da</strong> em quatro passos principais – Sonhar, Planejar,<br />

Realizar e Celebrar –, o Dragon Dreaming vem inspirando a criação de<br />

comuni<strong>da</strong>des de prática em diferentes locais do mundo, inclusive no<br />

Brasil.<br />

Por quê?<br />

A comuni<strong>da</strong>de do Dragon Dreaming partilha <strong>da</strong> crença de que a<br />

humani<strong>da</strong>de está no momento <strong>da</strong> terceira Grande Vira<strong>da</strong>. A primeira<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

186


Dragon Dreaming<br />

ocorreu há 10 mil anos, quando paramos de caçar e coletar e começamos<br />

a morar em fazen<strong>da</strong>s e ci<strong>da</strong>des. A segun<strong>da</strong> veio com a colonização<br />

europeia na África e no continente americano. A terceira está acontecendo<br />

agora e é muito mais curta que as anterio<strong>res</strong>: durará de 10 a 15 anos,<br />

segundo John Croft, o criador do Dragon Dreaming.<br />

Nesse sentido, uma rede global de treinado<strong>res</strong> e facilitado<strong>res</strong> de<br />

Dragon Dreaming começou a se formar com o propósito de sustentar<br />

o nascimento de mais projetos que contribuam para a terceira Grande<br />

Vira<strong>da</strong>, cuja tônica é a sustentabili<strong>da</strong>de em sentido amplo.<br />

Três princípios orientam as práticas de Dragon Dreaming em todo o<br />

mundo, os mesmos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Gaia <strong>da</strong> Austrália Ocidental, <strong>da</strong> qual Croft<br />

é cofun<strong>da</strong>dor. Para que um projeto seja considerado uma iniciativa Gaia,<br />

ele deve 63 :<br />

• Gerar c<strong>res</strong>cimento pessoal, com base na crença de que to<strong>da</strong><br />

transformação é inicia<strong>da</strong> a partir de um único indivíduo. To<strong>da</strong><br />

pessoa centra<strong>da</strong> em seus valo<strong>res</strong> e princípios pode potencializar<br />

mu<strong>da</strong>nças positivas em seu entorno.<br />

• Gerar senso de comuni<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong> premissa de que<br />

uma comuni<strong>da</strong>de de indivíduos empoderados e unidos é a<br />

forma mais poderosa de transformação do mundo.<br />

• Servir à Terra, partindo do p<strong>res</strong>suposto de que o planeta é um<br />

organismo vivo que pulsa como uma grande teia. Por isso, é<br />

preciso haver mais projetos que reconheçam e valorizem todos<br />

os se<strong>res</strong> vivos <strong>da</strong> Terra.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

187


Dragon Dreaming<br />

Fonte: Común Tierra.<br />

Como?<br />

De acordo com o site oficial do Dragon Dreaming, a metodologia possui<br />

ao todo 120 processos. Como se trata de uma rede global de praticantes,<br />

é natural que esses processos estejam em constante evolução. A estrutura<br />

metodológica pode ser sumariza<strong>da</strong> nos seguintes pontos 64 :<br />

• A estruturação <strong>da</strong> busca individual por teorias que embasem o<br />

sonho;<br />

• O fortalecimento <strong>da</strong> confiança individual na busca por<br />

congregar outras pessoas ao sonho;<br />

• A transformação do sonho individual em um sonho coletivo;<br />

• A interação com o mundo através <strong>da</strong> prática;<br />

• A sábia elaboração <strong>da</strong>s <strong>res</strong>postas do mundo;<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

188


Dragon Dreaming<br />

• O fortalecimento do projeto e dos indivíduos envolvidos.<br />

As aplicações do Dragon Dreaming são muito diversas. Dentre elas,<br />

destacam-se o desenho e o planejamento colaborativo, o engajamento<br />

coletivo na realização de projetos e a organização de reuniões mais efetivas.<br />

Ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s etapas <strong>da</strong> metodologia – Sonhar, Planejar, Realizar e<br />

Celebrar – pode ser considera<strong>da</strong> um fractal de todo o processo, ou seja,<br />

to<strong>da</strong>s as fases contêm em si os quatro passos.<br />

Sonhar<br />

O Sonhar começa quando alguém compartilha sua visão de futuro com<br />

outras pessoas. Em segui<strong>da</strong>, há uma “coleta de sonhos” em que todos<br />

que querem participar do projeto também explicitam suas aspirações.<br />

Isso é muito importante para que a visão inicial deixe de ser individual e<br />

passe a contar com o engajamento genuíno do grupo. Uma pergunta que<br />

costuma ser feita neste momento é:<br />

“O que este sonho precisa ter para que seja 100% seu?”<br />

Planejar<br />

Ao tornar o sonho coletivo, inicia-se a etapa Planejar. O primeiro passo é<br />

criar de um a três objetivos de realização que podem ser bons referenciais<br />

para a concretização do sonho. Em segui<strong>da</strong>, utiliza-se um processo<br />

chamado Karabirrdt 65 (ou diagrama “Teia de Aranha”) para definir tarefas e<br />

distribuí-las nas quatro etapas do projeto. Essa ferramenta funciona como<br />

um mapa <strong>da</strong> jorna<strong>da</strong> para o time.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

189


Dragon Dreaming<br />

Exemplo de Karrabirrdt. Fonte: Gaia University.<br />

Realizar e Celebrar<br />

Após a conclusão do Karabirrdt pelo grupo, começa a fase Realizar,<br />

que consiste em fazer acontecer e monitorar o prog<strong>res</strong>so do projeto.<br />

Por fim, a etapa Celebrar tem a ver com incorporar as experiências<br />

e os aprendizados vividos, além de agradecer ao time pela trajetória<br />

percorri<strong>da</strong>.<br />

O Dragon Dreaming foi inspirado na cultura aborígene australiana e<br />

<strong>res</strong>gata duas dimensões usualmente negligencia<strong>da</strong>s na elaboração de<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

190


Dragon Dreaming<br />

projetos: o sonho e a celebração. Todo o sistema é muito mais complexo<br />

do que o que foi descrito aqui, razão pela qual o treinamento<br />

e aprimoramento em Dragon Dreaming acontece por meio dos cursos<br />

e vivências proporciona<strong>da</strong>s por facilitado<strong>res</strong> certificados e de prática<br />

reitera<strong>da</strong>.<br />

Escolas têm muito a se beneficiar praticando Dragon Dreaming,<br />

especialmente por requererem processos de transformação que envolvam<br />

a todos. No site oficial é possível saber sobre cursos e treinamentos, assim<br />

como no grupo Dragon Dreaming Brasil no Facebook.<br />

Para mergulhar<br />

• “Conheça um método que pode aju<strong>da</strong>r você a realizar os seus<br />

sonhos”. TV Supren Brasília. Youtube. Link<br />

• “Dragon Dreaming: uma introdução sobre como tornar seus<br />

sonhos em reali<strong>da</strong>de através do amor em ação. Link<br />

• Site oficial do Dragon Dreaming em português. Link<br />

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191


Cocriar espaços de aprendizagem<br />

Onde ocorre a aprendizagem significativa?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

192


Hackerspaces<br />

Fonte: Madlab.cc.<br />

Hackeando nossa visão de mundo<br />

Imagine um laboratório comunitário totalmente aberto e gratuito, voltado<br />

para experimentações e trabalhos colaborativos nas áreas de tecnologia e<br />

inovação. Esses espaços existem: são os hackerspaces.<br />

Qualquer pessoa pode chegar e se envolver em projetos de robótica,<br />

software, audiovisual e diversos outros campos. A liber<strong>da</strong>de dá o tom<br />

de to<strong>da</strong>s as interações: não é costume haver qualquer tipo de ca<strong>da</strong>stro,<br />

mensali<strong>da</strong>de ou curadoria. O principal combustível é o protagonismo de<br />

ca<strong>da</strong> pessoa que frequenta o espaço.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

193


Hackerspaces<br />

Por quê?<br />

O termo hacker, de acordo com o senso comum, não poderia estar mais<br />

distante de seu significado original. A ética hacker surgiu na déca<strong>da</strong> de 50<br />

nos Estados Unidos, junto com os primórdios <strong>da</strong> computação, e tem como<br />

princípios o compartilhamento, a abertura, a descentralização, o livre<br />

acesso aos computado<strong>res</strong> e a melhoria do mundo. Na<strong>da</strong> a ver com gente<br />

que rouba senhas de cartão de crédito por aí.<br />

Assim, a palavra hackear torna-se próxima a modificar, descobrir e<br />

compartilhar. Arthur Araújo pontua de forma inte<strong>res</strong>sante as diferenças<br />

entre um hackerspace e o ambiente escolar 66 :<br />

“Diferente do atual modelo de escola, não há (ou pouco se vê) estrutura<br />

hierárquica, divisão de i<strong>da</strong>des, meritocracia, castigos, divisão por níveis de<br />

conhecimento (classes), nem testes de aprovação. Tudo ocorre de forma<br />

livre e experimental, sem qualquer forma de op<strong>res</strong>são e obrigatorie<strong>da</strong>de,<br />

to<strong>da</strong>s as ações são discuti<strong>da</strong>s e realiza<strong>da</strong>s de forma coletiva. Além disso,<br />

os espaços têm acesso público”.<br />

Como se vê, a única semelhança entre um hackerspace e um laboratório<br />

de informática tradicional é a p<strong>res</strong>ença de equipamentos eletrônicos. As<br />

formas de convivência são radicalmente diferentes. E é justamente por<br />

isso que os hackerspaces são um convite aberto à inovação.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

194


Hackerspaces<br />

Fonte: Hackerspace.lu.<br />

Como?<br />

A forma mais fácil de vivenciar a atmosfera de um hackerspace é começar<br />

a frequentar um. Existem dezenas de espaços no Brasil que funcionam a<br />

partir <strong>da</strong> lógica hacker. Isso significa liber<strong>da</strong>de maximiza<strong>da</strong>, mas também<br />

<strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de compartilha<strong>da</strong>. Ou seja: você pode chegar sem avisar<br />

e a porta provavelmente estará aberta. Outra alternativa é fazer contato<br />

com alguém que já participa de um hackerspace e marcar um dia pra ir<br />

conhecer.<br />

Também é possível inaugurar um novo espaço. Seguindo pela via <strong>da</strong><br />

prototipação, é melhor começar bem pequeno, talvez com um grupo<br />

de amigos. Os precurso<strong>res</strong> dos hackerspaces no Vale do Silício eram<br />

garagens. Um quartinho do seu apartamento ou o quintal <strong>da</strong> sua casa<br />

podem sediar incríveis espaços hackers. Para tanto, pode ser inte<strong>res</strong>sante<br />

se articular com algumas redes e iniciativas que já conhecem melhor o<br />

caminho <strong>da</strong>s pedras, como a Hackerspaces.org e o Garoa Hacker Clube, o<br />

primeiro hackerspace brasileiro.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

195


Hackerspaces<br />

A filosofia por trás dos hackerspaces também vale a pena ser conheci<strong>da</strong>.<br />

A ética hacker é uma visão de mundo que abre diversas possibili<strong>da</strong>des<br />

criativas – os hacks – nas mais diversas áreas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, não somente no<br />

universo computacional. Um hack rep<strong>res</strong>enta um caminho mais curto e<br />

efetivo para se chegar a um <strong>res</strong>ultado. O UnCollege é um dos exemplos de<br />

iniciativa cujo propósito é hackear a educação.<br />

Nas escolas, que tal transformar o laboratório de informática ou a<br />

biblioteca em um hackerspace? Na prática, isso significa mais do que<br />

disponibilizar computado<strong>res</strong>: é um ato de liber<strong>da</strong>de que convoca a<br />

cor<strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de de todos que se beneficiam do espaço. A ética hacker<br />

tem muito a nos ensinar.<br />

Para mergulhar<br />

• “Hackerspaces brasileiros”, Garoa Hacker Clube. Link<br />

• “Laboratório de garagem: visitamos o Garoa Hacker Clube”,<br />

Ramon de Souza. Tecmundo. Link<br />

• “Ética hacker”, Wikipédia. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

196


Do It Yourself Labs<br />

Fonte: UCLA Magazine.<br />

Faça Você Mesmo.<br />

Os Do It Yourself Labs são espaços colaborativos baseados na lógica do<br />

Faça Você Mesmo e têm se disseminado pelo mundo especialmente no<br />

campo <strong>da</strong> biologia. Como disse o escritor e colunista Jack Feuer em seu<br />

artigo “Outlaw Biology”: “alguns caras numa garagem transformaram a<br />

computação. Será que alguém num porão um dia transformará a biologia<br />

tão radicalmente quanto?”<br />

Vários desses laboratórios trabalham com o que foi denominado de<br />

biologia sintética, uma abor<strong>da</strong>gem que utiliza preceitos <strong>da</strong> engenharia<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

197


Do It Yourself Labs<br />

e <strong>da</strong> genética para modificar microrganismos de modo a propor novas<br />

soluções para problemas.<br />

Por quê?<br />

A área <strong>da</strong> tecnologia já mostrou o poder que ambientes mais<br />

colaborativos, desburocratizados e autônomos têm de fomentar<br />

a inovação. O primeiro computador <strong>da</strong> Apple foi construído numa<br />

garagem de subúrbio em 1975 seguindo esse padrão. Agora, o<br />

movimento maker está se alastrando para outros terrenos e parece ter<br />

encontrado na biologia alguma fertili<strong>da</strong>de.<br />

Assim nasceu o Biohacking, que segundo o site <strong>da</strong> Synbio Brasil consiste<br />

em “fazer equipamentos, metodologias e projetos de bioengenharia<br />

de um modo mais rápido, barato e acessível”. Inúmeros exemplos de<br />

iniciativas 67 já em curso traduzem o seu potencial:<br />

• Um mecanismo para detectar a p<strong>res</strong>ença de toxinas nas<br />

comi<strong>da</strong>s que <strong>da</strong>mos aos bebês;<br />

• A reprogramação de bactérias com o objetivo de gerar uma<br />

vacina contra úlceras;<br />

• A criação de um agente biológico para identificar arsênio em<br />

águas subterrâneas.<br />

Contudo, meu biohack favorito é o Real Vegan Cheese (Queijo Vegano<br />

Real, numa tradução livre). A ideia é basea<strong>da</strong> na modificação <strong>da</strong>s leveduras<br />

para que elas sejam capazes de produzir a proteína do leite. A essa<br />

proteína livre de sofrimentos animais os pesquisado<strong>res</strong> combinam água e<br />

óleo vegan para produzir um tipo de leite que, em segui<strong>da</strong>, será utilizado<br />

para fabricar o queijo vegan.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

198


Do It Yourself Labs<br />

Como?<br />

Fonte: Smart Interaction Lab.<br />

É possível pensar que a viabilização de um DIY Lab biológico não deve ser<br />

tão simples e barata. No entanto, olhando por outra perspectiva, nunca foi<br />

tão acessível. Plataformas de financiamento coletivo, a disponibili<strong>da</strong>de de<br />

informações na internet e o barateamento de matérias-primas utiliza<strong>da</strong>s<br />

nos experimentos são alguns dos facilitado<strong>res</strong>.<br />

Um jeito de ver na prática um DIY Lab acontecendo é redesenhar o<br />

laboratório de biologia <strong>da</strong> escola. A biologia sintética orienta-se por<br />

desafios concretos e socialmente relevantes, então, que tal costurar uma<br />

pesquisa mão-na-massa com as aulas de geografia e história?<br />

A pesquisa biológica desinstitucionaliza<strong>da</strong> também pode servir para<br />

acelerar os avanços <strong>da</strong>s ciências feitas na academia. Uma universi<strong>da</strong>de<br />

poderia, por exemplo, investir num pequeno laboratório DIY e promover<br />

interações entre o que se faz nesse espaço e as pesquisas acadêmicas.<br />

Outra possibili<strong>da</strong>de seria uma facul<strong>da</strong>de ou centro de pesquisas iniciar<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

199


Do It Yourself Labs<br />

uma campanha de financiamento coletivo para sustentar investigações e<br />

experimentos num formato de DIY Lab.<br />

Se a tecnologia começou sua escala<strong>da</strong> exponencial por meio <strong>da</strong> ética do<br />

Faça Você Mesmo, a biologia parece seguir seus passos. Em quais outros<br />

campos poderíamos aplicar essa lógica?<br />

Para mergulhar<br />

• SYNBIO Brasil. Link<br />

• “Outlaw Biology”, Jack Feuer. UCLA Magazine. Link<br />

• Real Vegan Cheese. Link<br />

• DIY Bio. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

200


Comuni<strong>da</strong>des de Aprendizagem<br />

Fonte: Soy<strong>da</strong>nbay.<br />

Aprender junto p<strong>res</strong>supõe liber<strong>da</strong>de e confiança<br />

Comum-uni<strong>da</strong>de: partilha de algo comum que une intensamente<br />

um grupo de pessoas. Comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem são pessoas<br />

interliga<strong>da</strong>s pelo objetivo de aprender coisas juntas, de modo<br />

que pesquisam, interagem e praticam num espaço de confiança<br />

proporcionado pela comuni<strong>da</strong>de. Diferente de escolas – instituições<br />

que podem vir a ser comuni<strong>da</strong>des, mas que muitas vezes não o são –,<br />

comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem não podem ser cria<strong>da</strong>s “por decreto”.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

201


Comuni<strong>da</strong>des de Aprendizagem<br />

Comuni<strong>da</strong>des são redes, e redes são como sabonetes que escapam a todo<br />

e qualquer aperto hierárquico.<br />

Por quê?<br />

A quais comuni<strong>da</strong>des você pertence? Geralmente não há que se falar<br />

em atestados formais de que alguém integra determina<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

Os sinais são mais sutis. Psicólogos como McMillan e Chavis sustentam<br />

que existem quatro fato<strong>res</strong>-chave que aju<strong>da</strong>m a explicar o fenômeno<br />

comunitário 68 : 1) pertencimento; 2) influência; 3) satisfação de<br />

necessi<strong>da</strong>des individuais; e 4) acontecimentos compartilhados e conexões<br />

emocionais. Se seguirmos seus rastros, esses quatro fato<strong>res</strong> podem<br />

revelar as seguintes premissas individuais associa<strong>da</strong>s às comuni<strong>da</strong>des:<br />

• Leal<strong>da</strong>de ao coletivo: desejo de aju<strong>da</strong>r a sustentar o todo e<br />

apoiar os outros;<br />

• Postura e voz ativa: o poder de ca<strong>da</strong> pessoa de mu<strong>da</strong>r os rumos<br />

<strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de;<br />

• Confiança no poder <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de em potencializar desejos e<br />

preencher as necessi<strong>da</strong>des individuais (p<strong>res</strong>supondo que haja<br />

liber<strong>da</strong>de e acolhimento suficientes para que isso aconteça);<br />

• Histórias comuns (e disposição para viver junto novas histórias).<br />

Tão importante quanto investigar as premissas que se relacionam com<br />

a ideia de comuni<strong>da</strong>de é explorar a noção de aprendizagem. É preciso<br />

diferenciá-la <strong>da</strong> “ensinagem”: só se aprende o que se quer aprender;<br />

ensinar “sem ser convi<strong>da</strong>do” é impor, e com imposição na<strong>da</strong> se aprende.<br />

Aprender é criar, e ao ensinar tenta-se reproduzir. Comuni<strong>da</strong>des de<br />

aprendizagem passam a ser, então, comuni<strong>da</strong>des de cocriação. Nesses<br />

espaços, os momentos de reflexão e teorização vêm em decorrência <strong>da</strong><br />

prática, <strong>da</strong>s criações coletivas, e não antes delas.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

202


Comuni<strong>da</strong>des de Aprendizagem<br />

Aprender junto talvez seja a definição mais simples possível do que se faz<br />

numa comuni<strong>da</strong>de de aprendizagem. Por mais simplista que pareça, esta<br />

talvez seja a principal competência a ser desenvolvi<strong>da</strong> num mundo ca<strong>da</strong><br />

vez hiperconectado e multicultural. Como José Pacheco afirma 69 ,<br />

“Aprender em comuni<strong>da</strong>de significa passar de um sistema fragmentado<br />

de ensino para uma abor<strong>da</strong>gem integradora do currículo, centra<strong>da</strong> em<br />

projetos, no aprender com o outro e na compreensão e transformação<br />

social. Ca<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de desenha e vive seu currículo de forma singular e<br />

significativa”.<br />

Como?<br />

Pacheco também diz que to<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de é forma<strong>da</strong> por pessoas. Para<br />

aprenderem, essas pessoas desenvolvem projetos, expedições rumo ao<br />

desconhecido cujo combustível é a curiosi<strong>da</strong>de. Uma comuni<strong>da</strong>de de<br />

aprendizagem, então, é composta por pessoas que se juntam – media<strong>da</strong>s<br />

por inte<strong>res</strong>ses próprios e, em algum nível, comuns – para levar à cabo<br />

projetos de investigação. Ao se agregarem e começarem a trabalhar em<br />

conjunto, logo surgem equipes.<br />

Ca<strong>da</strong> projeto de aprendizagem:<br />

• Parte <strong>da</strong>s curiosi<strong>da</strong>des e inquietações de um ou mais<br />

integrantes <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de;<br />

• Pode trazer “perguntas de pesquisa-ação” que traduzem sua<br />

essência;<br />

• Pode ser revisto sempre que necessário, desde que o propósito<br />

seja mantido (ao modificar o propósito ou intenção, um outro<br />

projeto nasce);<br />

• Aposta numa trajetória coletiva, ao considerar as singulari<strong>da</strong>des<br />

de ca<strong>da</strong> pessoa <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de como sabedorias<br />

potencialmente úteis no decorrer do processo;<br />

• Deve fazer pontes com reali<strong>da</strong>des outras que não a <strong>da</strong> própria<br />

comuni<strong>da</strong>de;<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

203


Comuni<strong>da</strong>des de Aprendizagem<br />

• Deve, no limite, concorrer para beneficiar a própria comuni<strong>da</strong>de<br />

(as pessoas que a integram) e o planeta, de modo sustentável.<br />

Além de partilhar projetos, nas comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem as pessoas<br />

apoiam-se mutuamente, criam vínculos, vivenciam juntas experiências<br />

e interagem de varia<strong>da</strong>s formas. A ênfase está nas relações. Se existem<br />

conexões humanas significativas e convivência prazerosa, aí sim um grupo<br />

poderá tornar-se comuni<strong>da</strong>de.<br />

Muitas ferramentas do <strong>Kit</strong> podem contribuir para o desenvolvimento<br />

de comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem. É o caso do objeto <strong>da</strong> fala, do Open<br />

Space e dos rituais, por exemplo. Algumas delas já são, em sua essência,<br />

comuni<strong>da</strong>des, como por exemplo os hackerspaces e os DIY Labs.<br />

Fomentar a livre aprendizagem coletiva é mais sobre não fazer do que<br />

fazer. É preciso abrir mão dos nossos vícios de ensino e controle; parar<br />

de esperar que as coisas sairão <strong>da</strong> forma como nosso ego queria que<br />

saíssem. Quando pessoas se unem no propósito de “deixar acontecer”,<br />

a aprendizagem acontece. As equipes se formam organicamente, os<br />

projetos se iniciam, e a comum-uni<strong>da</strong>de vai tomando forma.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Da comuni<strong>da</strong>de escolar à comuni<strong>da</strong>de de aprendizagem”, Rosa<br />

María Tor<strong>res</strong>. Reevo. Link<br />

• Pacheco, José. Aprender em Comuni<strong>da</strong>de. Edições SM, 1ª edição,<br />

São Paulo, 2014. Link<br />

• “Learning Communities in Classrooms: a reconceptualization of<br />

educational practice”, Katerine Bielaczyc e Allan Collins. Harvard.<br />

Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

204


Ocupações Criativas<br />

Uma nova visão de mundo nasce de fragmentos<br />

A c<strong>res</strong>cente individualização <strong>da</strong> vivência nas ci<strong>da</strong>des tem causado um<br />

movimento oposto, que busca <strong>res</strong>gatar a dimensão esqueci<strong>da</strong> <strong>da</strong> comvivência<br />

nos espaços urbanos. As ocupações públicas, especialmente<br />

aquelas que incorporam a arte, a cultura e o inusitado em suas<br />

intervenções – trata<strong>da</strong>s aqui como ocupações criativas –, rep<strong>res</strong>entam um<br />

importante expoente desse movimento.<br />

Por quê?<br />

A principal intenção <strong>da</strong>s ocupações criativas é a transformação <strong>da</strong>s<br />

relações nutri<strong>da</strong>s com a ci<strong>da</strong>de. De um lugar de distanciamento,<br />

desconfiança e passagem, somos transportados para um ambiente que<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

205


Ocupações Criativas<br />

sustenta afetivi<strong>da</strong>de, confiança e permanência. As ocupações criativas<br />

são capazes disso porque se baseiam no protagonismo, na colaboração<br />

comunitária e na inventivi<strong>da</strong>de.<br />

Desde a emergência do movimento Occupy Wall Street, surgido em Nova<br />

York, as formas de se manifestar politicamente jamais foram as mesmas.<br />

Por trás do Occupy <strong>res</strong>ide um profundo sentimento de insatisfação com<br />

o status quo, mas que não é mais externalizado como se fazia antes nas<br />

lutas dos movimentos sociais. Não agir com violência, fazer ao invés de<br />

reclamar e se divertir no processo são as novas premissas do modo de se<br />

manifestar dos jovens do século XXI.<br />

Mas, o que as ocupações criativas têm a ver com aprendizagem? Penso<br />

que, ao considerar a aprendizagem como um mecanismo para fazermos<br />

nascer socie<strong>da</strong>des mais humanas, as ocupações têm muito a nos ensinar.<br />

Serge Latouche, filósofo defensor do dec<strong>res</strong>cimento econômico, reaviva<br />

Ivan Illich para dizer sobre a socie<strong>da</strong>de doente que vivemos, e ao mesmo<br />

tempo propor uma alternativa 70 :<br />

“Ivan Illich escolheu o termo conviviali<strong>da</strong>de porque Aristóteles disse que<br />

a socie<strong>da</strong>de descansa sobre a philia, a amizade. Para os gregos esse é<br />

um sentimento muito forte e nós não o conhecemos mais. Esse vínculo<br />

de amizade aludido por Aristóteles e também Platão p<strong>res</strong>supunha que<br />

entre amigos tudo é em comum. Ocorre que hoje, entre nossos amigos,<br />

as coisas não são mais comuns. Vivemos numa socie<strong>da</strong>de que, a partir<br />

<strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, iniciou uma revolução individualista. Damos mais<br />

importância à vi<strong>da</strong> priva<strong>da</strong> do que à vi<strong>da</strong> comum. O outro não é tão<br />

importante. Ao menos estamos bem conscientes de que o mercado não<br />

cria vínculos sociais”.<br />

A conviviali<strong>da</strong>de é a principal estratégia <strong>da</strong>s ocupações criativas. Se a<br />

nossa percepção quanto a processos de aprendizagem estiver conecta<strong>da</strong><br />

a um anseio por futuros coletivos mais harmônicos e afetivos, propor ou<br />

vivenciar uma ocupação pode ser um ótimo aprendizado.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

206


Ocupações Criativas<br />

Como?<br />

As ocupações são um fenômeno essencialmente local (o que não<br />

significa que não tenham grande potencial de disseminação por meio<br />

de articulações em rede). Também costumam ser não hierárquicas,<br />

emergindo de forma colaborativa através <strong>da</strong> iniciativa de uma pessoa ou<br />

um grupo. A partir <strong>da</strong>í, a comuni<strong>da</strong>de local passa a se apropriar e ca<strong>da</strong> vez<br />

mais gente se mobiliza para ampliar o impacto e a diversi<strong>da</strong>de de ações <strong>da</strong><br />

ocupação.<br />

A ci<strong>da</strong>de de São Paulo tem sido palco de um número c<strong>res</strong>cente de<br />

ocupações criativas. A ocupação do Largo <strong>da</strong> Batata, batiza<strong>da</strong> de “A Batata<br />

Precisa de Você”, é uma delas. O movimento foi iniciado pela arquiteta<br />

Laura Sobral, que se indignou com a ári<strong>da</strong> paisagem do Largo e decidiu<br />

propor novas alternativas de ativação e apropriação do espaço.<br />

A Batata Precisa de Você. Fonte: Jaime Leme.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

207


Ocupações Criativas<br />

De acordo com o site <strong>da</strong> iniciativa, desde janeiro de 2014 já foram<br />

realiza<strong>da</strong>s por lá ativi<strong>da</strong>des tão diversas como “conversas sobre a memória<br />

do local, construção de bancos de praça, jogos de rua, oficinas de bike,<br />

de jardinagem, de fotografia, saraus, intervenções artísticas, atrações<br />

musicais e muito mais”. Qualquer pessoa ou coletivo pode propor uma<br />

ativi<strong>da</strong>de por meio de uma agen<strong>da</strong> colaborativa disponível no site, sem<br />

nenhuma <strong>res</strong>trição ou curadoria.<br />

Um outro exemplo de ocupação vindo <strong>da</strong> Itália é a Piazza dei Libri (Praça<br />

do Livro, numa tradução livre), localiza<strong>da</strong> na ci<strong>da</strong>de de Catânia. O espaço,<br />

proposto pela população local, é palco de um rico intercâmbio cultural<br />

através <strong>da</strong> troca de livros (crossing-books). De acordo com Luah Galvão<br />

e Danilo España 71 , que visitaram a Praça pelo projeto Walk and Talk, as<br />

trocas funcionam <strong>da</strong> seguinte forma:<br />

“A comuni<strong>da</strong>de é convi<strong>da</strong><strong>da</strong> a deixar textos, livros e jornais já lidos para<br />

que o próximo possa desfrutar, com uma diferença inte<strong>res</strong>sante: é<br />

estimulado que o leitor deixe um bilhetinho com um comentário, uma<br />

frase que <strong>res</strong>uma o contexto, um trecho, enfim, algo que possa chamar<br />

atenção do próximo leitor sobre a obra”.<br />

O costume do bilhete simboliza justamente a proposta de conviviali<strong>da</strong>de<br />

que a Praça do Livro sustenta. Os livros são deixados num espaço<br />

chamado Gammazita, uma espécie de acervo colaborativo localizado<br />

na Praça e disponível a todos. A partir <strong>da</strong>s trocas de livros, o espaço<br />

consolidou-se como um importante núcleo cultural <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, passando a<br />

sediar oficinas, ativi<strong>da</strong>des artísticas, palestras, leituras etc.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

208


Ocupações Criativas<br />

Piazza dei Libri. Fonte: Walk and Talk.<br />

As ocupações criativas rep<strong>res</strong>entam, por um lado, a chance de<br />

aprendermos a fazer política de um jeito novo, mais propositivo,<br />

inteligente e divertido. Por outro, inauguram novos espaços de<br />

aprendizagem que se aproveitam <strong>da</strong> ociosi<strong>da</strong>de de áreas públicas<br />

urbanas, fortalecendo o convívio e, por consequência, a comuni<strong>da</strong>de.<br />

Ain<strong>da</strong> que locais, essas iniciativas fornecem pistas de que uma nova lógica<br />

global não é apenas possível, mas está logo ali, ao alcance de nossas<br />

mãos.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Ocupação Criativa, Raquel Rolnik | OC” [vídeo]. Ocupação<br />

Criativa. Youtube. Link<br />

• “A Batata Precisa de Você!”. Largo <strong>da</strong> Batata. Link<br />

• “Praça do Livro”, Alex Bretas. <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

209


Encontros Intergeracionais<br />

As gerações são separações: procuremos o que nos une<br />

Os encontros intergeracionais são oportuni<strong>da</strong>des de aprendizagem<br />

que <strong>res</strong>s<strong>alta</strong>m a diversi<strong>da</strong>de de perspectivas de ca<strong>da</strong> ser humano,<br />

não importando sua i<strong>da</strong>de. Desde ro<strong>da</strong>s de conversa entre gerações a<br />

ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s conjuntamente por pessoas mais jovens e mais<br />

velhas, o que se mantém são as ricas possibili<strong>da</strong>des de interação entre<br />

indivíduos de diferentes faixas etárias.<br />

Por quê?<br />

Barbara Beskind tem 91 anos e foi contrata<strong>da</strong> pela IDEO, uma <strong>da</strong>s<br />

emp<strong>res</strong>as de design e inovação mais p<strong>res</strong>tigia<strong>da</strong>s dos Estados Unidos.<br />

Ela assistiu a uma entrevista do fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> IDEO, David Kelley, que<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

210


Encontros intergeracionais<br />

enfatizava a importância <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de nas equipes de projeto de<br />

inovação. Barbara então fez contato com a organização e foi admiti<strong>da</strong>. Ela<br />

sempre quis ser uma inventora.<br />

Por que trazer diferentes perspectivas é tão essencial para a inovação?<br />

Steven Johnson afirma que as ideias fazem sexo e, ao se encaixarem, dão<br />

a luz a novas ideias. Quanto mais diversi<strong>da</strong>de há, portanto, maior a chance<br />

de “palpites” vindos de diferentes contextos se encontrarem e maior<br />

tende a ser o potencial de inovação. Contudo, promover a diversi<strong>da</strong>de e<br />

saber conviver com ela não é tão fácil na prática quanto é no discurso.<br />

Especialmente no que se refere às fronteiras de i<strong>da</strong>de.<br />

Promover mútua aprendizagem entre pessoas de faixas etárias distintas<br />

não é apenas importante para fomentar a criação de coisas novas.<br />

É também crucial para a saúde do nosso viver e de nossas relações.<br />

Considerando os tradicionais limites que costumamos enxergar no<br />

relacionamento intergeracional, a comuni<strong>da</strong>de Wiser Together elaborou<br />

um conjunto de novos paradigmas que podem guiar frutíferos diálogos<br />

entre os mais jovens e os mais velhos:<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

211


Encontros intergeracionais<br />

Como?<br />

Visão prevaleente<br />

Visão Emergente<br />

Idealismo, energia e vitali<strong>da</strong>de estão no<br />

alcanse somente <strong>da</strong> geração mais nova.<br />

Idealismo, vitali<strong>da</strong>de e energia podem ser<br />

acessados em qualquer estágio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Sabedoria e experiência estão ao alcanse<br />

apenas <strong>da</strong> geração mais velha.<br />

A sabedoria pode ser acessa<strong>da</strong> em qualquer<br />

i<strong>da</strong>de ou geração, partindo <strong>da</strong>s perpectivas<br />

e experiências de vi<strong>da</strong> únicas de ca<strong>da</strong><br />

pessoa.<br />

Os mais velhos são professo<strong>res</strong>/mento<strong>res</strong>;<br />

os mais novos são alunos/aprendizes . As<br />

gerações precisam transferir conhecimento<br />

a <strong>res</strong>peito de “como as coisas funcinonam”<br />

Os mais jovens e os mais velhos podem<br />

apoiar-se mutuamente, usando as<br />

contribuições únicas de ca<strong>da</strong> um para<br />

desenvolver sistemas inovado<strong>res</strong> e soluções<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s aos desafios futuros.<br />

A i<strong>da</strong>de entre 30 e 60 anos são os anos<br />

realmente produtivos. Os mais velhos e<br />

mais novos são menos relevantes.<br />

Nós somos uma única geração que convive<br />

- seja em qualquer i<strong>da</strong>de ou estágio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

Precisamos <strong>da</strong> participação e dos talentos<br />

de ca<strong>da</strong> um no seu “círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”<br />

Nomear e categorizar as pessoas<br />

em gerações (Geração X, Geração Y<br />

etc) influencia como entendermos e<br />

“gerenciamos” uns aos outros.<br />

Compaixão, curiosi<strong>da</strong>de e <strong>res</strong>peito são<br />

essenciais para a criação conjunta de<br />

possibili<strong>da</strong>des inovadoras.<br />

Nossos ancestrais e outras experiências<br />

geracionais distorcem nossos<br />

relacionamentos futuros.<br />

Espaços seguros e hospitaleiros que<br />

fomentam compaixão, perdão, amor e cura<br />

formam novos “hábitos do coração” para<br />

que novos futuros possam emergir.<br />

A próxima geração terá a missão de<br />

solucionar nosso desafios locais e globais.<br />

Nosso tempo já passou. Agora é com eles.<br />

Nossos desafios não podem ser<br />

solucionados pelas geraçõoes mais jovens<br />

sozinhas. Precisamos alimentar uma cultura<br />

de <strong>res</strong>ponsabili<strong>da</strong>de compartilha<strong>da</strong> e<br />

engajamento pelo nosso futuro comum,<br />

<strong>da</strong>do que todos nós integramos o mesmo<br />

“círculo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>”. O futuro <strong>da</strong> nossa<br />

espécie e do planeta depende de todos<br />

nós trabalhando juntos, ultrapassando as<br />

tradicionais barreiras de i<strong>da</strong>de e geração.<br />

Fonte: traduzido e a<strong>da</strong>ptado do site do Wiser Together.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

212


Encontros intergeracionais<br />

Fonte: Scary Mommy.<br />

Temos muito a aprender com todos: a i<strong>da</strong>de não é empecilho. Basta<br />

mu<strong>da</strong>r nossas visões.<br />

Várias iniciativas já têm se aproveitado <strong>da</strong> sabedoria coletiva e do<br />

fortalecimento de vínculos promovidos pelos encontros intergeracionais.<br />

A comuni<strong>da</strong>de Wiser Together, por exemplo, parte de experiências<br />

intergeracionais bem-sucedi<strong>da</strong>s em ro<strong>da</strong>s de conversa no estilo World<br />

Café para propor novos formatos de diálogo entre gerações. Uma <strong>da</strong>s<br />

perguntas-chave utiliza<strong>da</strong>s por eles nesses encontros é 72 :<br />

“Lembre-se de algum momento marcante em que você aprendeu algo<br />

com uma pessoa de outra geração, mais velha ou mais nova que você.<br />

Como foi? Quais foram as condições que permitiram a ocorrência <strong>da</strong>quele<br />

aprendizado?”<br />

Seguindo na linha dos diálogos intergeracionais, a escola de idiomas CNA<br />

propôs a seus estu<strong>da</strong>ntes de inglês brasileiros que conversassem online<br />

com idosos de instituições de longa permanência nos Estados Unidos.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

213


Encontros intergeracionais<br />

O projeto, chamado “Speaking Exchange” e lançado em parceria com a<br />

agência FCB Brasil, promove o aprimoramento <strong>da</strong> fluência dos jovens<br />

no idioma, por um lado, e oportuni<strong>da</strong>des para que os idosos interajam e<br />

compartilhem conhecimentos, de outro.<br />

Mais dois exemplos de ações ilustram como os encontros intergeracionais<br />

podem ir além do diálogo. A associação Ci<strong>da</strong>de Escola Aprendiz realiza<br />

desde 1999 o “OldNet”, um projeto que recruta jovens para orientar idosos<br />

em informática e novas tecnologias. A inclusão digital dos mais velhos<br />

acaba se tornando um pretexto para que pessoas de gerações distintas se<br />

aproximem e compartilhem suas histórias umas com as outras.<br />

A convivência entre pessoas em estágios distintos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> também é o<br />

mote do projeto “Intergenerational Learning Center”, promovido pela<br />

comuni<strong>da</strong>de de assistência a idosos Providence Mount St. Vincent em<br />

Seattle, nos Estados Unidos. Cinco vezes por semana, o espaço funciona<br />

como casa de repouso para idosos e, ao mesmo tempo, como uma<br />

escola infantil. Nesses dias, as crianças participam junto com os idosos de<br />

ativi<strong>da</strong>des típicas de uma turma de pré-escola: <strong>da</strong>nças, pintura, contação<br />

de histórias etc. Evan Briggs – uma professora <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Seattle<br />

que está filmando um documentário sobre o projeto – conta que os mais<br />

velhos se transformam completamente frente às crianças. Ficam mais<br />

aleg<strong>res</strong> e cheios de vi<strong>da</strong> 73 .<br />

Os encontros intergeracionais são ferramentas para que possamos<br />

enxergar o que nos une ao invés <strong>da</strong>quilo que nos separa. Nas escolas<br />

tradicionais, a organização em séries basea<strong>da</strong> na i<strong>da</strong>de dificulta a<br />

aprendizagem que brota dos contatos entre os que têm i<strong>da</strong>des diferentes.<br />

No contexto organizacional, ações têm surgido com o propósito de<br />

<strong>res</strong>gatar a sabedoria <strong>da</strong>s pessoas aposenta<strong>da</strong>s, conectando os seus<br />

conhecimentos com os dos mais jovens. Em nossos próprios percursos<br />

de aprendizagem, interações com pessoas de gerações distintas podem<br />

enriquecer muito nossas perspectivas.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

214


Encontros intergeracionais<br />

Não importa quantos anos nos separam: no fim do dia, aprender é função<br />

<strong>da</strong> nossa coragem em se deixar afetar pelo diferente.<br />

Para mergulhar:<br />

• Wiser Together. Link<br />

• “Chicaco-area seniors teach English to Brazilians”, Stacy St. Clair.<br />

Chicaco Tribune. Link<br />

• Oldnet. Link<br />

• “This Is What Happens When You Put A P<strong>res</strong>chool In A Nursing<br />

Home”, Maria Guido. Scary Mommy. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

215


Viabilizar percursos autônomos<br />

Como realizar o que quase ninguém fez?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

216


Pay What You Want<br />

Fonte: Style of Sound.<br />

E se você decidisse o preço do que compra?<br />

O sistema Pay What You Want ou PWYW (“Pague O que Você Quiser”,<br />

numa tradução livre) é uma estratégia comercial que empodera<br />

consumido<strong>res</strong> <strong>da</strong>ndo-lhes a chance de escolher quanto querem pagar<br />

por determinado produto ou serviço. Artistas de rua com seus chapéus<br />

a frente de suas performances já fazem isso há bastante tempo. Com a<br />

criação e diversificação <strong>da</strong>s plataformas de financiamento coletivo – um<br />

formato que opera numa lógica Pay What You Want –, o PWYW ampliou-se<br />

significativamente.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

217


Pay What You Want<br />

O que justifica a inclusão dessa estratégia num kit de ferramentas<br />

educacionais é o fato de que ela pode ser uma opção inte<strong>res</strong>sante para<br />

viabilizar projetos de aprendizagem. O projeto <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>,<br />

por exemplo, tem sido financiado por meio de abor<strong>da</strong>gens PWYW em sites<br />

de financiamento coletivo.<br />

Por quê?<br />

Nossas percepções de valor em relação a um produto ou serviço<br />

costumam ser distintas. Considere, por um instante, um livro de histórias<br />

infantis feminista. Uma mãe que se identifica com a causa do feminismo e<br />

que tem uma trajetória de militância provavelmente verá muito mais valor<br />

nesse produto do que outra que só ouviu falar do assunto nas aulas de<br />

história <strong>da</strong> escola. Por que, então, achamos normal que esse livro chegue<br />

às prateleiras <strong>da</strong>s livrarias com o mesmo preço para todo mundo?<br />

Fixar preços cria uma barreira de entra<strong>da</strong> a novos consumido<strong>res</strong> que não<br />

podem ou não estão dispostos a investir o valor pré-estabelecido. Assim,<br />

ao ap<strong>res</strong>entar um novo produto ou serviço a potenciais comprado<strong>res</strong>,<br />

o PWYW pode ser um bom caminho. Além disso, uma pequena parcela<br />

<strong>da</strong>s pessoas que valorizam muito determinado produto geralmente se<br />

dispõe a contribuir com quantias maio<strong>res</strong> do que nossas expectativas de<br />

remuneração mais otimistas. Tom Morkes, autor do “PWYW Guide”, afirma<br />

que esse tipo de comprador costuma rep<strong>res</strong>entar de 1 a 3% do público<br />

total, e que os valo<strong>res</strong> aportados por eles costumam superar a lacuna<br />

deixa<strong>da</strong> por aqueles que pagam menos do que o valor médio.<br />

Comprar algo não é somente ter acesso a um bem, mas também<br />

contribuir para sustentar sua produção. É escolher fazer parte de histórias<br />

que estão sendo construí<strong>da</strong>s. Quanto mais belas essas histórias são<br />

percebi<strong>da</strong>s pelos consumido<strong>res</strong>, maior o inte<strong>res</strong>se gerado e a disposição<br />

em contribuir. O Humble Bundle, por exemplo, vende pacotes de games<br />

independentes online e dá a oportuni<strong>da</strong>de a ca<strong>da</strong> comprador de escolher<br />

quanto quer pagar. No caso, eles incluíram a opção de as pessoas<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

218


Pay What You Want<br />

direcionarem parte de suas contribuições a instituições de cari<strong>da</strong>de – e<br />

isso parece fazer com que os comprado<strong>res</strong> escolham pagar maio<strong>res</strong><br />

quantias.<br />

Como?<br />

Existem diversos artifícios para potencializar uma estratégia de Pay<br />

What You Want, como incluir a opção de direcionar parte do dinheiro a<br />

trabalhos sociais, sugerir um preço baseado no custo e na expectativa<br />

de remuneração do vendedor, habilitar ou não ao comprador a escolha<br />

de não pagar na<strong>da</strong>, dentre outros. A ideia aqui não é aprofun<strong>da</strong>r essas<br />

possibili<strong>da</strong>des, mas eluci<strong>da</strong>r alguns caminhos em que o PWYW pode<br />

ser útil no que tange a um contexto educacional. Neste sentido, três<br />

formas de aplicação ganham força: financiar coletivamente projetos<br />

de aprendizagem; viabilizar o compartilhamento de conhecimento; e<br />

aprender algo novo na prática.<br />

O financiamento coletivo ou crowdfunding é uma forma de aproveitar o<br />

poder <strong>da</strong>s nossas redes para fazer nascer projetos de forma colaborativa.<br />

Pesquisas, blogs, livros, documentários e jorna<strong>da</strong>s de aprendizagem já<br />

foram viabilizados dessa maneira. A ferramenta é inte<strong>res</strong>sante, inclusive,<br />

para engajar a comuni<strong>da</strong>de escolar em novos projetos. Veja aqui uma lista<br />

de 10 projetos de educação que utilizaram o crowdfunding.<br />

Além do financiamento coletivo, o Pay What You Want pode aju<strong>da</strong>r<br />

pessoas a compartilhar conhecimento e a criar conteúdo. O Patreon, uma<br />

plataforma norte-americana de crowdfunding recorrente, é um exemplo<br />

de iniciativa que conecta criado<strong>res</strong> de conteúdo a pessoas dispostas a<br />

financiá-los. No Brasil, o Unlock e o Recorrente seguem na mesma linha.<br />

Por último, aprender algo novo na prática é possível via PWYW porque as<br />

barreiras de entra<strong>da</strong> em certos segmentos costumam diminuir quando o<br />

consumidor decide quanto quer pagar. Quer aprender a fazer man<strong>da</strong>las<br />

artesanais, mas tem dúvi<strong>da</strong>s se isso poderia <strong>da</strong>r certo? Faça algumas e<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

219


Pay What You Want<br />

ofereça às pessoas <strong>da</strong>ndo liber<strong>da</strong>de para pagarem o quanto acham justo.<br />

Em processos de aprendizagem, vale também pensar em outros tipos de<br />

pagamento não financeiros: um feedback sincero às vezes pode ser mais<br />

vantajoso do que um valor monetário.<br />

Dar às pessoas a chance de pagarem o quanto acham justo é a tônica<br />

do Pay What You Want. Ter a coragem de compartilhar as decisões de<br />

preço pode abrir portas para que comecemos a aprender o que sempre<br />

quisemos fazer.<br />

Para mergulhar<br />

• “Conheça 10 projetos de educação viabilizados por<br />

crowdfunding”. MSN. Link<br />

• “The Complete Guide to Pay What You Want Pricing”, Tom<br />

Morkes. Link<br />

• Humble Dumble. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

220


Financiamento Coletivo<br />

Fonte: Wired.<br />

Mais poder e liber<strong>da</strong>de para boas ideias<br />

O financiamento coletivo ou crowdfunding é uma estratégia para viabilizar<br />

projetos através de contribuições financeiras espontâneas de diversos<br />

apoiado<strong>res</strong>, geralmente pessoas físicas e em meio digital.<br />

Diversas plataformas de financiamento coletivo têm surgido no Brasil e<br />

ao redor do globo, <strong>da</strong>ndo chance a realizado<strong>res</strong> de projetos nas áreas de<br />

educação, tecnologia, jogos, artes, empreendedorismo, sustentabili<strong>da</strong>de,<br />

produção científica, comunicação e jornalismo dentre outras.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

221


Financiamento Coletivo<br />

Por quê?<br />

Com o barateamento <strong>da</strong>s transações financeiras de longa distância e a<br />

criação de sistemas de micropagamento online, o financiamento coletivo<br />

por meio de plataformas digitais tornou-se uma reali<strong>da</strong>de. O termo<br />

crowdfunding foi cunhado pelo emp<strong>res</strong>ário norte-americano Michael<br />

Sullivan em 2006, mas a disseminação do formato só ocorreu com o<br />

surgimento <strong>da</strong>s plataformas IndieGoGo e Kickstarter.<br />

Hoje, há diversos tipos de crowdfunding, mas o que parece ter mais se<br />

popularizado é o modelo “tudo ou na<strong>da</strong>”, em que há uma meta e um<br />

prazo de arreca<strong>da</strong>ção. Caso a meta não seja atingi<strong>da</strong> dentro do prazo, o<br />

dinheiro retorna integralmente a ca<strong>da</strong> apoiador. Além desse mecanismo,<br />

o proponente do projeto pode criar diferentes recompensas para quem<br />

lhe apoiar, a depender do valor investido.<br />

Uma <strong>da</strong>s forças do financiamento coletivo é que ele confere poder a<br />

quem realiza projetos. De certo modo, os realizado<strong>res</strong> ficam liv<strong>res</strong> de ter<br />

que buscar financiamentos junto a emp<strong>res</strong>as e agências de fomento,<br />

processos que não raro se provam burocráticos e <strong>res</strong>tritivos.<br />

Assim, há a inauguração de um novo cenário que permite às pessoas<br />

testarem suas ideias com autonomia e podendo contar com suas redes.<br />

No caso, o financiamento coletivo funciona como um termômetro que<br />

fornece pistas a <strong>res</strong>peito do nível de inte<strong>res</strong>se do público em <strong>da</strong>do projeto.<br />

Ao ampliar as possibili<strong>da</strong>des de financiamento em rede e estimular a<br />

liber<strong>da</strong>de de quem deseja realizar um projeto, o crowdfunding aju<strong>da</strong> a<br />

promover a inovação.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

222


Financiamento Coletivo<br />

Como?<br />

O Manifesto do Crowdfunding. Fonte: United Equity.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

223


Financiamento Coletivo<br />

Dentre as diversas áreas em que o crowdfunding pode ser útil, vale dizer<br />

de sua importância para aju<strong>da</strong>r a concretizar percursos de aprendizagem<br />

autônomos.<br />

Quando tive clareza de que de fato iniciaria um processo de aprendizagem<br />

independente, um dos meus primeiros movimentos foi planejar uma<br />

campanha de financiamento coletivo. O projeto <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

veio a público pela primeira vez no Catarse, uma <strong>da</strong>s plataformas de<br />

financiamento coletivo pioneiras no Brasil. Além de contribuir para<br />

viabilizar a iniciativa, a campanha serviu também para consoli<strong>da</strong>r uma<br />

rede de pessoas que se identificavam com o propósito do projeto.<br />

Outro exemplo de como o crowdfunding pode aju<strong>da</strong>r a solidificar projetos<br />

de investigação é a história de Marcela Uliano, que formatou uma<br />

campanha para financiar uma pesquisa científica. Ao estu<strong>da</strong>r o genoma<br />

do mexilhão dourado, uma espécie de molusco que vem trazendo sérios<br />

prejuízos a ecossistemas brasileiros, ela recorreu ao financiamento<br />

coletivo para arreca<strong>da</strong>r fundos com o objetivo de conter essa tragédia<br />

ambiental.<br />

Vários outros percursos de aprendizagem já foram financiados <strong>da</strong><br />

mesma forma. Por mais específico e complexo que seu tema possa<br />

parecer, uma dica valiosa é conectá-lo a uma causa mais ampla, capaz de<br />

fornecer o apelo necessário para que as pessoas se identifiquem com o<br />

projeto. O Ignis, um projeto cujo objetivo é desenvolver um protótipo de<br />

máquina geradora de energia abun<strong>da</strong>nte, é um exemplo de iniciativa que<br />

conseguiu encontrar a causa que o fez ter sucesso numa campanha de<br />

arreca<strong>da</strong>ção coletiva.<br />

O financiamento coletivo tem múltiplas aplicações e pode ser utilizado<br />

por escolas, emp<strong>res</strong>as, governos, comuni<strong>da</strong>des e indivíduos. Em especial,<br />

trata-se de uma ferramenta poderosa para <strong>da</strong>r asas aos nossos projetos<br />

de aprendizagem.<br />

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224


Financiamento Coletivo<br />

Para mergulhar<br />

• “Financiamento coletivo”, Wikipédia. Link<br />

• Mapa do Crowdfunding. Link<br />

• “Financiei meu doutorado com um crowdfunding. Esse modelo<br />

pode mu<strong>da</strong>r o mundo”, Marcela Uliano. Blog do Catarse. Link<br />

• “A Social History of Crowdfunding”, Daniela Castrataro. Social<br />

Media Week. Link<br />

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225


Prototipação<br />

Fonte: JB Godoy Design.<br />

Tem certeza? Prototipa primeiro<br />

Prototipar é testar uma ideia no mundo real. O termo surgiu nos terrenos<br />

<strong>da</strong> engenharia e <strong>da</strong> tecnologia, mas nos últimos anos foi sendo ampliado<br />

para outros campos como o design. Mais especificamente, prototipação<br />

pode ser entendido como uma <strong>da</strong>s etapas do Design Thinking, uma<br />

abor<strong>da</strong>gem de <strong>res</strong>olução de desafios cujas características principais são o<br />

foco no usuário e a agregação <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de.<br />

Nesse contexto, prototipar é tangibilizar ideias, trazendo-as do abstrato<br />

para a prática por meio de sucessivas experimentações. Mesmo que o<br />

protótipo não consiga reproduzir todos os elementos <strong>da</strong> ideia inicial,<br />

é possível aprender com ele antes de partir para ações maio<strong>res</strong> – mais<br />

demora<strong>da</strong>s e custosas.<br />

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226


Prototipação<br />

Por quê?<br />

“Desenvolver rapi<strong>da</strong>mente um protótipo é o objetivo número um dos<br />

nossos designers. Nós não confiamos até que possamos vê-lo e senti-lo” 74 .<br />

(Win Ng)<br />

Não é preciso ser nenhum especialista em Design Thinking para perceber<br />

a importância <strong>da</strong> prototipação. É como uma filosofia de vi<strong>da</strong>: ao gastarmos<br />

muito tempo mergulhando em nossas próprias ideias, perdemos a<br />

conexão com o mundo. Por isso, prototipar é como “recortar” uma<br />

ideia, reduzindo seu escopo até se chegar em sua essência. Na prática,<br />

isso significa fazer o que é possível aqui e agora com os recursos que<br />

dispomos.<br />

A aprendizagem pela via <strong>da</strong> prototipação decorre de dois fato<strong>res</strong>:<br />

• Na medi<strong>da</strong> em que <strong>da</strong>mos corpo à nossa ideia, mol<strong>da</strong>ndo-a para<br />

funcionar de ver<strong>da</strong>de, aprendemos;<br />

• Na medi<strong>da</strong> em que criamos oportuni<strong>da</strong>des para o protótipo<br />

interagir com outras pessoas – inclusive com potenciais<br />

usuários, no caso de um produto ou serviço –, obtemos<br />

feedbacks e aprendemos.<br />

Uma <strong>da</strong>s principais razões que justificam a prototipação é a capaci<strong>da</strong>de<br />

de errar rápido. Parece pia<strong>da</strong>, mas não é: errar rapi<strong>da</strong>mente é uma <strong>da</strong>s<br />

características mais cruciais para haver inovação. A premissa é que os<br />

erros sempre ocorrerão, e nós não seremos capazes de prevê-los até<br />

que testemos nossas ideias na prática. Se conseguirmos reduzir nossas<br />

pretensões de estarmos sempre certos e prototipar, as chances de os<br />

erros serem rápidos, baratos e pequenos aumentam.<br />

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227


Prototipação<br />

Como?<br />

A princípio, tudo é “prototipável”: serviços, produtos, intervenções,<br />

programas, políticas e até mesmo estilos de vi<strong>da</strong>. O foco que norteará a<br />

construção do protótipo deve sempre <strong>res</strong>idir no núcleo <strong>da</strong> ideia inicial, em<br />

sua essência. Os detalhes podem ser deixados para depois: lembre-se de<br />

que as melhorias e os aprendizados virão rapi<strong>da</strong>mente com os testes.<br />

Uma <strong>da</strong>s formas de prototipar é reduzir a escala. Por exemplo, imagine<br />

que o governo federal quer testar uma nova política pública volta<strong>da</strong> para a<br />

educação básica. Ao invés de implementá-la de uma vez em muitas escolas,<br />

a prototipação reduz drasticamente o tamanho <strong>da</strong> intervenção: uma escola é<br />

suficiente. Vale mencionar ain<strong>da</strong> a diferença entre protótipo e projeto piloto:<br />

o protótipo pode ser descartado, ao passo que o projeto piloto não.<br />

Dê uma olha<strong>da</strong> ao seu redor e procure por materiais e objetos que<br />

estejam à mão. Eles podem constituir a matéria-prima do seu protótipo<br />

caso você opte por uma simulação física, outro modo de se prototipar.<br />

Designers de produto utilizam essa técnica frequentemente para testar<br />

dispositivos eletrônicos, por exemplo. Imagine testar o tamanho ideal de<br />

um tablet para os usuários: às vezes um dispositivo feito de papelão já<br />

consiga trazer insights importantes.<br />

Neste sentido, o papel pode ser um fiel companheiro durante a<br />

prototipação. Por exemplo: to<strong>da</strong> a arquitetura de interação de um site<br />

pode ser rep<strong>res</strong>enta<strong>da</strong> em algumas sequências de flipchart, e isso pode<br />

ser uma poderosa ferramenta para coletar feedbacks de pessoas que<br />

compõem o público-alvo do projeto.<br />

É possível ain<strong>da</strong> prototipar experiências. Considere o desenvolvimento<br />

de um novo serviço de atendimento ao usuário, por exemplo. A equipe<br />

pode optar por criar uma pequena encenação que encarne as principais<br />

hipóteses <strong>da</strong> ideia a serem testa<strong>da</strong>s, e então ap<strong>res</strong>entá-la a diferentes<br />

públicos em potencial do serviço.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

228


Prototipação<br />

Antes de começar a prototipar, vale <strong>res</strong>ervar alguns minutos para clarear<br />

quais perguntas você quer <strong>res</strong>ponder ao testar sua ideia. Quais hipóteses<br />

já foram formula<strong>da</strong>s? Que tipo de evidência você deseja coletar? Em suma:<br />

quais os aprendizados que a prototipação pode desencadear? Após os<br />

testes, é importante que haja tempo para uma reflexão em torno do que<br />

foi observado, de modo a elencar as principais descobertas feitas.<br />

A prototipação parte <strong>da</strong> prática para gerar insumos valiosos ao<br />

desenvolvimento de novas ideias. Colocar a mão na massa pode revelar<br />

muitas coisas.<br />

Para mergulhar<br />

• “5 dicas rápi<strong>da</strong>s para prototipar agora”, Daniel Larusso. Link<br />

• “Faça seu porcótipo”, Daniel Larusso. Link<br />

• Documento colaborativo com diversas dicas de sites úteis para<br />

quem vai prototipar. Link<br />

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229


Captação Empodera<strong>da</strong><br />

Arreca<strong>da</strong>r recursos não é nenhuma vergonha<br />

A captação empodera<strong>da</strong> insere-se no conjunto de processos do Dragon<br />

Dreaming e é uma forma de financiamento coletivo em rede, p<strong>res</strong>encial e<br />

foca<strong>da</strong> no fortalecimento <strong>da</strong>s relações. O método é baseado nos preceitos<br />

<strong>da</strong> economia <strong>da</strong> dádiva (gift economy) e aposta nos contatos face a face e<br />

na desmistificação de nossas percepções sobre o dinheiro.<br />

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230


Captação Empodera<strong>da</strong><br />

Por quê?<br />

No campo <strong>da</strong>s iniciativas de cunho social, diversas estratégias de<br />

financiamento são pratica<strong>da</strong>s: desde rifas e bingos beneficentes até<br />

complexos editais de agências de fomento. No entanto, muitas equipes de<br />

projeto cujo benefício coletivo é explícito sofrem quando chega a hora de<br />

captar recursos.<br />

Um dos diferenciais <strong>da</strong> captação empodera<strong>da</strong> frente a esses métodos<br />

tradicionais é que nela não há nenhuma vergonha ao pedir. Como o<br />

projeto é genuinamente importante para a coletivi<strong>da</strong>de, há uma troca: o<br />

recurso, de um lado, e a oportuni<strong>da</strong>de de contribuir concretamente para<br />

uma causa coletiva, de outro. John Croft, quem sistematizou os processos<br />

do Dragon Dreaming, afirma 75 :<br />

“O que você está oferecendo a elas é a possibili<strong>da</strong>de de fazerem a<br />

diferença no mundo, de fazerem a diferença em suas próprias vi<strong>da</strong>s. Isso<br />

tem MUITO valor. Todos querem sentir que suas vi<strong>da</strong>s valem a pena, logo,<br />

se você dá às pessoas a chance de fazerem a diferença como um <strong>res</strong>ultado<br />

do esforço delas, isso é um enorme p<strong>res</strong>ente”.<br />

Essa visão rep<strong>res</strong>enta uma mu<strong>da</strong>nça radical nas crenças predominantes<br />

sobre o dinheiro, que usualmente o colocam numa posição superior<br />

frente a outros tipos de valor. Dot Green e John Croft pontuam o poder <strong>da</strong><br />

captação empodera<strong>da</strong> em transformar percepções sobre nossos recursos<br />

financeiros 76 :<br />

“A abor<strong>da</strong>gem tem a preocupação de oferecer programas e meios para<br />

que sua relação com dinheiro deixe de ser de dependência, confusão e<br />

desempoderamento e passe a ser de liber<strong>da</strong>de, significado e cooperação”.<br />

A captação empodera<strong>da</strong>, imbuí<strong>da</strong> desse olhar, tem contribuído para<br />

o sucesso de vários projetos oriundos <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de Dragon<br />

Dreaming ao redor do globo. Veja aqui mais detalhes sobre alguns desses<br />

casos.<br />

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231


Captação Empodera<strong>da</strong><br />

Como?<br />

A captação empodera<strong>da</strong> é volta<strong>da</strong> para projetos coletivos cujo propósito<br />

beneficia pessoalmente seus realizado<strong>res</strong>, a comuni<strong>da</strong>de afeta<strong>da</strong> e o<br />

planeta como um todo (conforme os três pila<strong>res</strong> <strong>da</strong>s iniciativas cocria<strong>da</strong>s<br />

com o auxílio do Dragon Dreaming).<br />

O fluxo padrão do processo de captação empodera<strong>da</strong> p<strong>res</strong>supõe um<br />

projeto sendo feito em grupo. Em <strong>res</strong>umo, o processo segue como<br />

descrito abaixo:<br />

• Engaje as pessoas envolvi<strong>da</strong>s diretamente no projeto e faça-as<br />

sentirem-se pertencentes ao grupo.<br />

• Ca<strong>da</strong> pessoa do grupo faz uma avaliação individual para<br />

identificar o seu ponto de equilíbrio, isto é, a medi<strong>da</strong> de<br />

recursos próprios que poderá doar ao projeto. O ponto de<br />

equilíbrio fica entre os extremos do sacrifício radical e <strong>da</strong> total<br />

f<strong>alta</strong> de compromisso.<br />

• Ca<strong>da</strong> um do grupo compromete-se a ampliar numa pequena<br />

porcentagem igual para todos o valor que havia identificado<br />

como seu ponto de equilíbrio. Isso é importante para que as<br />

pessoas saiam <strong>da</strong> sua zona de conforto.<br />

• Ca<strong>da</strong> pessoa escreve num papel o valor final a ser doado e<br />

quando o dinheiro estará disponível para o projeto.<br />

• Todos do grupo fazem uma lista pessoal de dez contatos que<br />

acreditam que irão se identificar com o projeto e terão recursos<br />

para apoiá-lo. Os contatos podem ser membros <strong>da</strong> família,<br />

amigos, conhecidos, colegas de trabalho etc.<br />

• O grupo conjuntamente trabalha num cronograma de uma<br />

semana ou mais e define uma meta de financiamento para o<br />

projeto.<br />

• Ca<strong>da</strong> pessoa então começa a marcar encontros p<strong>res</strong>enciais com<br />

os contatos de sua lista.<br />

• Ao se reunir com um contato, ap<strong>res</strong>ente o projeto de forma<br />

breve, <strong>res</strong>s<strong>alta</strong>ndo porque você escolheu participar dele; fale<br />

sobre os benefícios do projeto nos níveis pessoal, comunitário<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

232


Captação Empodera<strong>da</strong><br />

e global; conte um pouco sobre o processo de captação<br />

empodera<strong>da</strong>; explicite que você e seu grupo estão envolvidos<br />

no projeto, inclusive doando recursos próprios a ele.<br />

• Após sua fala, convide a pessoa a contribuir financeiramente<br />

com um valor que você acredita ser o ponto de equilíbrio para<br />

ela (estipule esse valor antes do encontro com ca<strong>da</strong> pessoa). Ela<br />

poderá mu<strong>da</strong>r o valor sugerido se quiser.<br />

• Ao fazer o convite, deixe espaço para a pessoa pensar em<br />

silêncio. Caso ela aceite, agradeça e pergunte se ela poderia<br />

te ap<strong>res</strong>entar a mais alguém que poderia ter inte<strong>res</strong>se no<br />

projeto. Caso ela recuse, além de pedir indicações de pessoas<br />

potencialmente inte<strong>res</strong>sa<strong>da</strong>s, faça as duas perguntas abaixo 77 :<br />

• Será que eu poderia perguntar “por quê”? Estamos<br />

sinceramente inte<strong>res</strong>sados em saber os motivos que<br />

levam as pessoas a aceitar ou recusar o nosso convite.<br />

• Você gostaria de ser informado sobre o an<strong>da</strong>mento do<br />

projeto?<br />

A captação empodera<strong>da</strong> pode ser uma ferramenta valiosa para alavancar<br />

processos de aprendizagem e transformação coletiva. A oportuni<strong>da</strong>de<br />

de contribuir com causas honrosas é tão valorosa quanto a quantia<br />

monetária doa<strong>da</strong>.<br />

Para mergulhar<br />

• “Captação Empodera<strong>da</strong> de Recursos: generosi<strong>da</strong>de radical –<br />

o poder <strong>da</strong> filantropia para mu<strong>da</strong>r o mundo”, John Croft e Dot<br />

Green. Dragon Dreaming BR. Link<br />

• “Empowered Fundraising”. Plan to Win. Link<br />

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233


Começar, organizar, decidir<br />

Como equilibrar caos e ordem?<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

234


Processo Decisório em Grupo<br />

Decidindo com a aju<strong>da</strong> de todos<br />

O processo decisório em grupo é um arquétipo explorado pela pe<strong>da</strong>gogia<br />

social de base antroposófica cujo objetivo é aprimorar a toma<strong>da</strong> de<br />

decisão coletiva.<br />

Seu desenvolvimento está associado ao trabalho do NPI (Netherlands<br />

Pe<strong>da</strong>gogical Institute) e, no Brasil, à Adigo Consulto<strong>res</strong>, ambas<br />

organizações dedica<strong>da</strong>s a processos de consultoria organizacional<br />

basea<strong>da</strong>s na antroposofia.<br />

Por quê?<br />

Com a avalanche de informações a que somos submetidos no trabalho<br />

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235


Processo Decisório em Grupo<br />

e na vi<strong>da</strong>, tomar certas decisões pode se tornar um desafio. Quando se<br />

trata de um processo coletivo, muitos elementos distintos estão em jogo:<br />

sentimentos, egos, disputas de poder, entusiasmo, comprometimento,<br />

inte<strong>res</strong>ses individuais etc.<br />

Tomar uma decisão em grupo de forma realmente participativa requer<br />

muito de nossas habili<strong>da</strong>des socioemocionais e <strong>da</strong> disposição em<br />

“tocarmos juntos o barco”. No entanto, uma compreensão arquetípica do<br />

fluxo de um processo decisório pode aju<strong>da</strong>r o grupo a ter mais consciência<br />

sobre o que pode vir a ocorrer em ca<strong>da</strong> momento.<br />

Quando há um trabalho consciente, cooperativo e intencional, decidir em<br />

grupo pode ser prazeroso e trazer <strong>res</strong>ultados proveitosos. Neste caso, a<br />

afirmação de que o todo se torna maior do que a soma <strong>da</strong>s partes passa a<br />

fazer sentido.<br />

Como?<br />

O processo decisório em grupo tem múltiplas aplicações e pode ser<br />

melhor compreendido a partir de cinco fases bem defini<strong>da</strong>s:<br />

Planejamento<br />

Os principais objetivos dessa fase são identificar o desafio a ser tratado e<br />

organizar o processo. Pode ser dividi<strong>da</strong> em dois momentos:<br />

• Pré-reunião: identificar a deman<strong>da</strong> a ser discuti<strong>da</strong> e decidir a<br />

<strong>res</strong>peito de quem precisará ser incluído para que haja<br />

uma plurali<strong>da</strong>de de visões contempla<strong>da</strong>s. Definir o local, a<br />

quanti<strong>da</strong>de e frequência de reuniões, duração etc.<br />

• Início <strong>da</strong> reunião: ao começar a conversa, é fun<strong>da</strong>mental que<br />

todo o grupo tenha clareza sobre o objetivo <strong>da</strong> reunião, o<br />

formato com que ela se <strong>da</strong>rá, as expectativas quanto aos<br />

<strong>res</strong>ultados esperados e os papéis de ca<strong>da</strong> um. Pode ser útil<br />

formular uma pergunta-desafio, de modo a servir como ponto<br />

de parti<strong>da</strong> do processo.<br />

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236


Processo Decisório em Grupo<br />

Os diferentes papéis podem incluir coordenador ou facilitador <strong>da</strong> reunião,<br />

controlador do tempo e <strong>res</strong>ponsável pelo registro.<br />

Formação de imagem<br />

Essa etapa compreende a exploração conjunta do tema considerando<br />

passado, p<strong>res</strong>ente e futuro. O objetivo é que todos consigam formar uma<br />

visão compartilha<strong>da</strong> sobre o assunto. Assim como a fase de Planejamento,<br />

pode dividir-se em duas subetapas:<br />

• Formação de imagem passado/p<strong>res</strong>ente: conversas a <strong>res</strong>peito<br />

do que já aconteceu e do atual estágio do desafio, sob múltiplas<br />

perspectivas. É importante reunir o máximo de percepções<br />

e fatos disponíveis. Nesse ponto pode ocorrer uma eventual<br />

transformação <strong>da</strong> pergunta inicial, já que o grupo amadureceu<br />

seu entendimento a <strong>res</strong>peito do contexto.<br />

• Formação de imagem futura: semelhante a um brainstorming,<br />

a ideia é abrir espaço para todo o grupo <strong>da</strong>r ideias sobre o<br />

que poderia ser feito, ain<strong>da</strong> que certas possibili<strong>da</strong>des pareçam<br />

improváveis ou fora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Recomen<strong>da</strong>-se que as pessoas<br />

“piramidem” na ideia dos outros, encaixando novos elementos e<br />

formando novas ideias por meio <strong>da</strong> cocriação.<br />

Durante a formação de imagem é essencial que as pessoas suspen<strong>da</strong>m<br />

seus julgamentos quanto à fala do outro, de forma a cultivar um ambiente<br />

em que todos sintam-se convi<strong>da</strong>dos a trazer suas perspectivas sobre o<br />

tema. É um momento que deman<strong>da</strong> bastante abertura e desprendimento<br />

por parte do grupo.<br />

Julgamento<br />

O principal objetivo <strong>da</strong> fase de Julgamento é transformar as opiniões<br />

pessoais em opiniões do grupo. O mecanismo para que isso aconteça é a<br />

definição de critérios comuns para o julgamento de ca<strong>da</strong> ideia cocria<strong>da</strong> na<br />

etapa anterior.<br />

Os critérios podem ser tão variados quanto “limite orçamentário de X”,<br />

“prazo máximo de 3 meses” ou “coerência com nosso propósito”, mas é<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

237


Processo Decisório em Grupo<br />

fun<strong>da</strong>mental que eles derivem de uma compreensão grupal a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong>s<br />

<strong>res</strong>trições e condições existentes.<br />

Ao passar ca<strong>da</strong> ideia pela “peneira” dos critérios, o terreno para uma<br />

toma<strong>da</strong> de decisão consciente será pavimentado. Este é um momento<br />

delicado para o grupo, que deverá buscar o consenso sempre que<br />

possível, mas também precisará exercitar seu consentimento.<br />

Consentir não é o mesmo que concor<strong>da</strong>r, mas aceitar que determinado<br />

direcionamento poderá ser melhor para o coletivo, ain<strong>da</strong> que minha<br />

opinião pessoal seja divergente.<br />

Decisão<br />

Após selecionar as ideias que se mantiveram relevantes frente aos<br />

critérios, é preciso avançar para uma definição do que será feito. Nesse<br />

momento pode ser inte<strong>res</strong>sante que o grupo <strong>res</strong>gate a perguntadesafio<br />

e o objetivo <strong>da</strong> reunião a fim de iluminar a toma<strong>da</strong> de decisão.<br />

Eventualmente pode ser que surja uma nova ideia ou um novo<br />

entendimento, e é preciso que isso não seja negligenciado.<br />

É importante que ca<strong>da</strong> pessoa, mais uma vez, pratique o consentimento<br />

e saiba perceber o que de fato é melhor para o coletivo. Quando o<br />

grupo consegue chegar à decisão, vale checar se todos estão realmente<br />

confiantes em relação ao caminho escolhido (o que diz a intuição de ca<strong>da</strong><br />

um?). Isso é crucial para que se obtenha o apoio de to<strong>da</strong>s as pessoas na<br />

execução <strong>da</strong>s ações.<br />

Após a definição final, começa o trabalho de montagem do plano de ação,<br />

que também deve ser feito coletivamente. Um bom plano pode ser feito<br />

considerando-se o “o quê”, o “quem” (o <strong>res</strong>ponsável) e o “quando” (o prazo)<br />

de ca<strong>da</strong> medi<strong>da</strong> necessária à implementação <strong>da</strong> decisão toma<strong>da</strong>. Em<br />

alguns casos mais complexos pode ser importante incluir um “porquê”,<br />

um “como”, um “quanto” e um “onde” para as ações. Para facilitar a<br />

memorização, basta lembrar <strong>da</strong>s iniciais: POCQQOC.<br />

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238


Processo Decisório em Grupo<br />

Avaliação do processo<br />

Ao finalizar o plano de ação, ain<strong>da</strong> há uma etapa importante a ser<br />

cumpri<strong>da</strong>. Para que as próximas reuniões possam ser abasteci<strong>da</strong>s com os<br />

aprendizados que o grupo teve, é imp<strong>res</strong>cindível realizar uma avaliação do<br />

processo.<br />

Avaliar o processo não significa tentar mu<strong>da</strong>r a decisão toma<strong>da</strong>, e sim<br />

refletir sobre como a reunião transcorreu. Isso pode ser feito a partir<br />

<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>s três facul<strong>da</strong>des do ser humano (Pensar, Sentir e<br />

Querer), que se desdobram <strong>res</strong>pectivamente no conteúdo, na interação<br />

e no procedimento <strong>da</strong> reunião. Algumas perguntas que podem ser feitas<br />

pelo grupo considerando essas dimensões são:<br />

• Conteúdo: atingimos o <strong>res</strong>ultado que esperávamos?<br />

Conseguimos contemplar diversas visões e perspectivas? Como<br />

eu percebo a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações que foram trazi<strong>da</strong>s?<br />

Como eu percebo a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s minhas contribuições?<br />

Como poderíamos melhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações e<br />

contribuições para as próximas reuniões?<br />

• Interação: o que senti em relação à forma como conversei e me<br />

portei na reunião? O que senti quanto ao modo de interagir dos<br />

outros? Houve escuta atenta ou existiram muitas interrupções<br />

e cortes nas falas? Tive sentimentos negativos em relação à<br />

postura de alguém? Quais são meus pedidos para futuras<br />

interações? Como poderíamos melhorar nossa interação para os<br />

próximos encontros?<br />

• Procedimento: como os procedimentos e o formato <strong>da</strong><br />

reunião contribuíram para atender o objetivo proposto?<br />

Respeitamos as diferentes fases do processo? Ficamos confusos<br />

em algum momento? Como eu avalio minha disposição<br />

e vontade em participar <strong>da</strong> reunião? Considerando nossa<br />

experiência, como poderíamos aprimorar os procedimentos, as<br />

regras e o formato dos próximos encontros?<br />

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239


Processo Decisório em Grupo<br />

A regra de ouro durante a avaliação é escutar de peito aberto as diferentes<br />

percepções e não tentar <strong>res</strong>pondê-las. Não vale réplica. Os sentimentos<br />

e as ponderações de ca<strong>da</strong> pessoa compõem a reali<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong> um, que<br />

deve ser <strong>res</strong>peita<strong>da</strong>. Também é inte<strong>res</strong>sante que todos falem durante a<br />

avaliação, a não ser que alguém manifeste exp<strong>res</strong>samente o desejo de<br />

não o fazer. Uma boa ferramenta para ser utiliza<strong>da</strong> durante o momento<br />

de avaliação é o objeto <strong>da</strong> fala.<br />

O processo decisório em grupo não deve ser encarado como um método<br />

engessado, e sim como uma referência: um entendimento a <strong>res</strong>peito do<br />

fluxo de etapas típico <strong>da</strong>s decisões coletivas.<br />

Escolas podem usar esse conhecimento para terem melho<strong>res</strong> reuniões e<br />

conduzirem processos de transformação envolvendo diferentes públicos;<br />

comuni<strong>da</strong>des de aprendizagem têm a ferramenta à disposição para<br />

decidirem quanto a suas investigações e ações; e organizações podem<br />

utilizá-la para estruturar encontros de planejamento e toma<strong>da</strong> de decisão<br />

estratégica. O processo pode ser utilizado até mesmo individualmente,<br />

como suporte a uma decisão importante.<br />

O processo decisório é um arquétipo que se manifesta to<strong>da</strong> vez que<br />

um grupo se propõe a decidir algo. Utilizado de forma consciente, ele<br />

rep<strong>res</strong>enta um ganho de efetivi<strong>da</strong>de em nossas reuniões, de forma a<br />

equilibrar as ênfases no processo e no <strong>res</strong>ultado.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Dicas para melhorar o processo de toma<strong>da</strong> de decisão na sua<br />

emp<strong>res</strong>a”, Maristela Franco Paes Leme. Blog NPU. Link<br />

• “Li<strong>da</strong>ndo com a diversi<strong>da</strong>de”, Jaime Moggi. Adigo DEF. Link<br />

• “Formação de Lideranças Socioambientais: construindo pontes<br />

para um território sustentável”. Instituto Centro de Vi<strong>da</strong> – ICV.<br />

Veja sobre o processo decisório a partir <strong>da</strong> página 88. Link<br />

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240


Matriz Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s<br />

Externalizar o que já temos para buscar o que queremos<br />

A Matriz CSD — Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s — é uma ferramenta<br />

iniciadora de projetos que funciona a partir de três questões<br />

fun<strong>da</strong>mentais:<br />

• O que nós já sabemos a <strong>res</strong>peito dessa situação?<br />

• Quais são as nossas hipóteses? (ou o que supomos saber?)<br />

• Quais perguntas poderíamos fazer?<br />

A Matriz, geralmente utiliza<strong>da</strong> em grupo, permite criar um referencial<br />

visual para as <strong>res</strong>postas <strong>da</strong> equipe a essas três perguntas.<br />

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241


Matriz Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s<br />

Por quê?<br />

Utilizar a Matriz CSD é uma forma ágil e potente de começar um novo<br />

projeto ou investigação. Considere, por exemplo, que os funcionários de<br />

uma escola estão p<strong>res</strong>tes a iniciar um processo de transformação <strong>da</strong>s<br />

práticas pe<strong>da</strong>gógicas e administrativas. Preparar uma reunião em que a<br />

Matriz CSD seja toma<strong>da</strong> como referência pode ser uma ótima forma de<br />

explorar o contexto, permitindo à comuni<strong>da</strong>de escolar compartilhar suas<br />

diferentes percepções a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong> situação atual.<br />

Neste sentido, a Matriz serve para abrir horizontes. Ela aju<strong>da</strong> a promover<br />

a gestão de conhecimento entre a equipe, e isso contribui para que haja<br />

alinhamento desde o início do projeto.<br />

A força <strong>da</strong> Matriz CSD <strong>res</strong>ide na sua premissa essencial, que aponta para<br />

a existência de certezas, suposições e dúvi<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as situações que<br />

nos detivermos a investigar. Ao começarmos a preenchê-la, costuma ficar<br />

evidente a grande quanti<strong>da</strong>de de perguntas em contraste com o pequeno<br />

volume de certezas, especialmente em contextos mais complexos.<br />

Conduzir essa reflexão é muito importante para “firmar o passo” e,<br />

gra<strong>da</strong>tivamente, ir povoando o espaço <strong>da</strong>s certezas. No caminho, novas<br />

dúvi<strong>da</strong>s e suposições acabam surgindo.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

242


Matriz Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s<br />

Como?<br />

Fonte: LOGOBR.<br />

A foto acima ilustra a utilização de uma Matriz CSD com post-its – uma<br />

alternativa inte<strong>res</strong>sante <strong>da</strong>do que se torna possível movê-los de um lugar<br />

para o outro com o tempo. As formas mais simples de se usar a Matriz<br />

são desenhá-la numa folha grande de papel ou separar os três espaços<br />

numa parede ou mural (neste caso, o uso de post-its torna-se necessário).<br />

Embora na imagem a opção tenha sido por dispor as três áreas em linhas,<br />

é igualmente funcional dispô-las em colunas.<br />

Uma consideração importante ao se conduzir conversas em grupo<br />

media<strong>da</strong>s pela Matriz é que o consenso e a argumentação são menos<br />

importantes do que a diversi<strong>da</strong>de. Caso duas ou mais pessoas divirjam<br />

em relação a um ponto específico, deve-se preferir por incluir to<strong>da</strong>s as<br />

opiniões divergentes. Não há qualquer problema nisso, <strong>da</strong>do que a Matriz<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

243


Matriz Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s<br />

geralmente é aplica<strong>da</strong> em momentos de exploração e abertura, e não de<br />

definição.<br />

O espaço <strong>da</strong>s suposições desempenha um papel importante quando<br />

alguma divergência emerge. Luis Alt, um dos criado<strong>res</strong> <strong>da</strong> Matriz CSD,<br />

afirma que<br />

“o campo suposições, é, na ver<strong>da</strong>de, uma grande área de escape, que evita<br />

discussões demora<strong>da</strong>s e inúteis e nos permite avançar na externalização<br />

<strong>da</strong>s informações. O importante nesse caso é que tudo que foi discutido<br />

esteja no espaço compartilhado e que todos consigam visualizar tudo o<br />

que foi discutido ao final <strong>da</strong> reunião. Não é sobre a ‘suposição’ dever estar<br />

na ‘certeza’ ou qualquer outro tipo de discussão dessas, mas sim sobre ter<br />

a informação ali, disponível” 78 .<br />

Ao longo do projeto, pode ser produtivo olhar novamente para a Matriz e<br />

alimentá-la com os novos achados do grupo. Outra forma de aplicação é<br />

utilizá-la como referencial em conversas com públicos e pessoas externas<br />

à equipe que poderiam agregar novas percepções à questão investiga<strong>da</strong>.<br />

É possível ain<strong>da</strong> utilizar a Matriz CSD de forma individual como um<br />

instrumento de reflexão. Ao começar a trabalhar num novo emprego, por<br />

exemplo, pode ser útil preencher a Matriz para aju<strong>da</strong>r a compreender<br />

o contexto que estou entrando. Na medi<strong>da</strong> em que as interações vão<br />

ocorrendo, novas certezas, suposições e dúvi<strong>da</strong>s vão sendo incluí<strong>da</strong>s, e as<br />

antigas podem ser modifica<strong>da</strong>s ou excluí<strong>da</strong>s. De forma análoga, a Matriz<br />

pode também ser utiliza<strong>da</strong> em percursos de aprendizagem autônomos,<br />

assumindo características de uma ferramenta de pesquisa.<br />

A Matriz CSD pode ser uma ferramenta inte<strong>res</strong>sante to<strong>da</strong> vez em que é<br />

preciso explorar determina<strong>da</strong> situação ou contexto. “Colocar no papel” nossos<br />

pensamentos pode nos aju<strong>da</strong>r bastante a avançar nossas investigações.<br />

Para mergulhar:<br />

• “Certezas, Suposições e Dúvi<strong>da</strong>s”, Luis Alt. LOGOBR. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

244


Mapas Mentais<br />

Truques para aproveitar melhor o poder <strong>da</strong> mente<br />

Um mapa mental é um modo não linear, <strong>alta</strong>mente visual e sintético de<br />

organizar informações. Na déca<strong>da</strong> de 70 a ferramenta foi sistematiza<strong>da</strong><br />

por Tony Buzan, <strong>res</strong>ponsável por disseminar a sua utilização.<br />

A característica mais marcante dos mapas mentais é a opção por colocar<br />

a ideia, tema ou questão principal no centro. A partir do tópico central são<br />

feitas conexões (linhas) para outros subtópicos, que por sua vez também<br />

podem ter suas ramificações.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

245


Mapas Mentais<br />

Por quê?<br />

Nosso cérebro não trabalha de forma linear. Quando queremos explorar<br />

determina<strong>da</strong> ideia, tudo o que vamos lembrando sobre ela não costuma<br />

seguir uma ordem específica. A lógica dos mapas mentais aproveita essa<br />

característica do nosso pensamento e, por isso, pode fazer com que<br />

ganhemos uma agili<strong>da</strong>de que não seria possível por meio de listas, por<br />

exemplo.<br />

Geralmente, um mapa mental utiliza combinações de co<strong>res</strong> para<br />

rep<strong>res</strong>entar agrupamentos distintos de ideias. Também é comum incluir<br />

imagens que funcionam como símbolos para aju<strong>da</strong>r a lembrar dos tópicos.<br />

Além disso, os diferentes “ramos” derivados do tema central levam-nos<br />

a criar associações numéricas: o subgrupo “X” tem três tópicos, o “Y” tem<br />

quatro etc. A utilização de co<strong>res</strong>, imagens e as contagens funcionam como<br />

truques que fazem nossa mente processar e relembrar mais facilmente as<br />

informações.<br />

Além desses artifícios, os mapas mentais têm um estilo que facilita sua<br />

visualização e trabalham com palavras-chave. Isso nos aju<strong>da</strong> a encontrar<br />

melho<strong>res</strong> sínteses para os conteúdos.<br />

Como?<br />

Fonte: Examtime.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

246


Mapas Mentais<br />

Mapas mentais podem ser utilizados para organizar informações, planejar<br />

ativi<strong>da</strong>des e projetos, <strong>res</strong>umir grandes quanti<strong>da</strong>des de conteúdo e para<br />

potencializar reuniões criativas. Para se criar um mapa mental, um dos<br />

caminhos é seguir as orientações abaixo, a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s e traduzi<strong>da</strong>s do blog<br />

<strong>da</strong> ThinkBuzan:<br />

• Crie uma ideia central;<br />

• Inclua os principais subtópicos;<br />

• Prefira as linhas curvas;<br />

• Linhas mais grossas para os subtópicos principais;<br />

• Explore várias formas diferentes;<br />

• Seja o mais sintético possível ao escolher as palavras;<br />

• Use co<strong>res</strong> para “codificar” diferentes agrupamentos de<br />

informação;<br />

• Inclua imagens que simbolizem as ideias.<br />

Criar um mapa mental pode ser uma ótima forma de iniciar um novo<br />

projeto de aprendizagem. O formato radial e aberto do mapa mental é<br />

bastante convi<strong>da</strong>tivo às novas ideias. Ao iniciar o projeto <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>Caixa</strong>, fiz vários mapas mentais, mas mantive um por todo o trajeto.<br />

O mapa mental do livro <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong> (em junho de 2015). Fonte: o autor.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

247


Mapas Mentais<br />

Para fazer o mapa utilizei o software Mindjet MindManager, um dos<br />

diversos programas de desenho de mapas mentais disponíveis na web.<br />

Uma <strong>da</strong>s vantagens de se criar um mapa mental no computador é a<br />

facili<strong>da</strong>de de revisar e adicionar informações.<br />

Por outro lado, a liber<strong>da</strong>de criativa e a desaceleração do pensamento<br />

ocasiona<strong>da</strong>s pelo papel podem ser considera<strong>da</strong>s vantagens do método<br />

manual. Quando se está em grupo (numa reunião de cocriação, por<br />

exemplo), utilizar folhas grandes para criar mapas mentais é uma forma<br />

poderosa não só de registrar o encontro, como também de ativar novas<br />

ideias e possibili<strong>da</strong>des.<br />

Os mapas mentais são ferramentas desenvolvi<strong>da</strong>s para funcionar de<br />

acordo com os mecanismos do nosso cérebro. Além de serem capazes de<br />

otimizar nossas reflexões e criações, eles são muito divertidos de se fazer.<br />

Para mergulhar<br />

• “Como fazer um mapa mental” [vídeo], Marco Carvalho.<br />

Youtube. Link<br />

• “Estu<strong>da</strong>ndo com mapas mentais: como fazer e onde guar<strong>da</strong>r”.<br />

Blog do Curseduca. Link<br />

• “Ferramentas de criativi<strong>da</strong>de: mapa mental (mind map)”, Jairo<br />

Siqueira. Siqueira Consultoria. Link<br />

• “How to Mind Map: Free Online eLearning Program”. Think<br />

Buzan. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

248


Matriz Urgente-Importante<br />

Mantendo o foco no que é realmente importante<br />

A Matriz Urgente-Importante, também conheci<strong>da</strong> por Matriz de<br />

Eisenhower, é uma ferramenta de gestão de tempo que também pode<br />

ser inte<strong>res</strong>sante para balizar o início de um projeto. Por meio de quatro<br />

quadrantes criados a partir dos eixos de importância e urgência, torna-se<br />

possível agregar tarefas e priorizá-las.<br />

Enxergar nossa lista de tarefas rep<strong>res</strong>enta<strong>da</strong> na Matriz Urgente-<br />

Importante também é uma boa forma de refletir a <strong>res</strong>peito de como<br />

estamos utilizando nosso tempo no dia-a-dia.<br />

Por quê?<br />

Eisenhower. Fonte: History.com.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

249


Matriz Urgente-Importante<br />

Dwight D. Eisenhower foi o 34º p<strong>res</strong>idente dos Estados Unidos. Aprovou a<br />

criação <strong>da</strong> NASA e criou a DARPA – Defense Advanced Research Projects<br />

Agency (Agência de Projetos Avançados de Pesquisa em Defesa) –,<br />

que levou ao desenvolvimento <strong>da</strong> internet como a conhecemos hoje.<br />

Alguns atribuem a ele a criação de um método de gestão estratégica de<br />

tempo que mais tarde ficou conhecido como o Princípio Eisenhower. O<br />

princípio baseia-se em duas reflexões a <strong>res</strong>peito de to<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de a ser<br />

desempenha<strong>da</strong>: 1) essa tarefa é importante? 2) é urgente?<br />

A Eisenhower também é atribuí<strong>da</strong> a frase “o que é importante é raramente<br />

urgente, e o que é urgente é raramente importante”. Mais recentemente,<br />

a Matriz utiliza<strong>da</strong> pelo p<strong>res</strong>idente dos EUA foi populariza<strong>da</strong> por Stephen<br />

R. Covey, que a incluiu em seu livro “Os 7 Hábitos <strong>da</strong>s Pessoas Altamente<br />

Eficazes”.<br />

A ideia por trás <strong>da</strong> Matriz é, portanto, a de que poderíamos utilizar mais<br />

sabiamente nosso tempo se focássemos mais no que importa de ver<strong>da</strong>de<br />

e menos no que se tornou inadiável. Talvez pareça óbvio, mas na prática<br />

não costuma ser trivial organizar-se dessa forma. O que a Matriz Urgente-<br />

Importante oferece é um modo visual e simples para se manter o foco em<br />

nossas ativi<strong>da</strong>des mais cruciais.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

250


Matriz Urgente-Importante<br />

Como?<br />

A Matriz Urgente-Importante costuma ser ap<strong>res</strong>enta<strong>da</strong> conforme a figura<br />

acima (algumas variações invertem o sentido do eixo “urgência”). São<br />

quatro quadrantes: “Urgente e Importante”, “Não Urgente e Importante”,<br />

“Urgente e Não Importante” e “Não Urgente e Não Importante”.<br />

A sua utilização começa pela distribuição <strong>da</strong>s tarefas de um indivíduo ou<br />

grupo por entre as quatro áreas <strong>da</strong> Matriz. Vale lembrar que ativi<strong>da</strong>des<br />

importantes são aquelas cujo <strong>res</strong>ultado te aju<strong>da</strong> a alcançar seus objetivos,<br />

e ativi<strong>da</strong>des urgentes são as que exigem sua imediata atenção. Tarefas<br />

urgentes frequentemente estão liga<strong>da</strong>s aos objetivos de outras pessoas.<br />

A partir <strong>da</strong>í, o volume de tarefas em ca<strong>da</strong> quadrante poderá indicar como<br />

o tempo está sendo alocado. As quatro áreas podem ser descritas <strong>da</strong><br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

251


Matriz Urgente-Importante<br />

seguinte forma:<br />

• 1. Urgente e Importante: é o lugar para se começar,<br />

rep<strong>res</strong>entado pelas tarefas inadiáveis, mas relevantes;<br />

• 2. Não Urgente e Importante: é o quadrante mais valioso,<br />

porém mais comumente negligenciado por conta <strong>da</strong><br />

procrastinação e de urgências constantes;<br />

• 3. Urgente e Não Importante: são as interrupções,<br />

rep<strong>res</strong>enta<strong>da</strong>s por telefonemas, checagem constante de<br />

e-mails, reuniões excessivas etc;<br />

• 4. Não Urgente e Não Importante: são distrações que podem<br />

atrapalhar a realização <strong>da</strong>s tarefas de outros quadrantes<br />

(especialmente aquelas do quadrante 2).<br />

As tarefas lista<strong>da</strong>s no quadrante 2 (Não Urgente e Importante) geralmente<br />

são as que podem ser feitas com mais quali<strong>da</strong>de. É preciso conferir a elas<br />

prazos, de modo que não as fiquemos “cozinhando” demais. Desenvolver<br />

as bases de um novo projeto, visitar um parente querido, manter em dia a<br />

rotina de exercícios e avaliar o processo de uma reunião são exemplos de<br />

ativi<strong>da</strong>des que podem ser considera<strong>da</strong>s não urgentes e importantes.<br />

Fonte: Marcelo Toledo.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

252


Matriz Urgente-Importante<br />

Caso tenhamos muitas ativi<strong>da</strong>des nos outros quadrantes, é preciso<br />

atenção. Fernando Collela argumenta que<br />

“se o nosso tempo estiver sendo utilizado predominantemente<br />

no quadrante 1, até que ponto nos deixamos ser escravizados pelas<br />

crises e como gerenciamos o est<strong>res</strong>se? Caso nossa vi<strong>da</strong> esteja sendo<br />

monopoliza<strong>da</strong> pelas interrupções do quadrante 3, não seria hora de<br />

aprender a dizer ‘não’ para os outros? Mas se a maior parte <strong>da</strong>s ações<br />

estiver concentra<strong>da</strong> nas distrações do quadrante 4, que tal encontrar<br />

formas de dizer ‘não’ para si mesmo? 79 ”<br />

Ao iniciar um novo projeto, a Matriz Urgente-Importante pode ser uma<br />

boa forma de “sair do lugar” e de fato começar. As ativi<strong>da</strong>des dispostas<br />

no quadrante Urgente e Importante rep<strong>res</strong>entam o ponto de parti<strong>da</strong>,<br />

ao passo que as tarefas do quadrante Não Urgente e Importante são as<br />

ações essenciais para garantir a quali<strong>da</strong>de do projeto.<br />

A Matriz Urgente-Importante é uma ferramenta de gestão de tempo cujo<br />

objetivo é nos fazer p<strong>res</strong>tar mais atenção aos reais <strong>res</strong>ultados de ca<strong>da</strong><br />

ativi<strong>da</strong>de que realizamos. No limite, ela pode servir para refletirmos sobre<br />

o que é mais importante para nós.<br />

Para mergulhar<br />

• “Matriz de Ensenhower: como trabalhar de maneira mais<br />

eficiente”, Ana Serafim. Portal Gestão. Link<br />

• “Matriz de Eisenhower: como o P<strong>res</strong>idente dos EUA se organiza”,<br />

Marcelo Toledo. Link<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

253


Palavras Finais<br />

Valéria Giannella<br />

É uma alegria e uma honra ter recebido de Alex Bretas o convite para<br />

escrever essas “palavras finais” as quais, como é óbvio, e coerentemente<br />

com o <strong>Kit</strong> e a pesquisa do projeto <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong>, na<strong>da</strong> têm de<br />

final ou conclusivo. Elas apenas aproveitam a chance de partilhar algumas<br />

sensações e reflexões que a leitura despertou, e apontar alguns elementos<br />

que já podemos assumir serem um chão comum para quem hoje se<br />

disponha, a partir dos luga<strong>res</strong> e <strong>da</strong>s posições as mais diversas, a trilhar<br />

o caminho de uma educação humanizadora, democrática, libertadora,<br />

ci<strong>da</strong>dã.<br />

Apesar de já conhecer um bom número <strong>da</strong>s ferramentas ap<strong>res</strong>enta<strong>da</strong>s,<br />

achei o livro surpreendente. Acredito que nunca antes tinha parado para<br />

listar, ou até só para pensar, a quanti<strong>da</strong>de de instrumentos que existem<br />

e que nos permitem auxiliar os processos de uma nova educação. Talvez,<br />

parte <strong>da</strong> surp<strong>res</strong>a depen<strong>da</strong> do fato de que muitas vezes procedemos a<br />

separar, compartimentalizar, objetos que, neste livro, encontramos juntos.<br />

Eles são distintos em categorias, remetem a abor<strong>da</strong>gens e vertentes de<br />

pesquisa e ação diferencia<strong>da</strong>s, mas, mesmo assim, são reconhecidos e<br />

apontados como parte <strong>da</strong> família de instrumentos dos quais lançar mão<br />

ao embarcar no desafio de repensarmos a educação do p<strong>res</strong>ente.<br />

Uma reflexão que surge forte ao avançar na leitura é que estamos<br />

aqui abraçando um leque de ferramentas a serviço de uma ideia de<br />

educação que é muito mais ampla do que apenas a educação formal e<br />

escolar. Ferramentas para mobilização comunitária, para aprendizagem<br />

cooperativa e organizacional, que apostam, sempre, na ideia de que<br />

o despertar do sonho e <strong>da</strong> paixão do sujeito, individual e coletivo, é<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

254


Palavras Finais<br />

primordial para desengatilhar a aprendizagem e a mu<strong>da</strong>nça. Essa<br />

observação nos leva de volta à velha questão, se existe uma alternativa<br />

entre participação e educação, isto é, pode haver participação efetiva<br />

sem uma educação adequa<strong>da</strong>? É essa a pergunta que ecoa entre<br />

os que gostariam de adiar a prática <strong>da</strong> participação até o momento<br />

(confortavelmente longe no futuro) em que o “povo” seja educado e,<br />

assim, apto a participar, enquanto, até aquele momento, as rédeas <strong>da</strong>s<br />

decisões políticas ficariam nas mãos dos de sempre. No outro lado,<br />

sempre houve quem afirmou que a participação tem o potencial de ser,<br />

por si só, educativa e, pelo que me parece, a leitura do <strong>Kit</strong> nos confirma<br />

esta convicção.<br />

Portanto a “educação fora <strong>da</strong> caixa” também é, quase que<br />

obrigatoriamente, uma educação fora <strong>da</strong> escola. Não já porque não possa<br />

acontecer, também, dentro dela e sim porque, definitivamente, dentro<br />

dela não se esgota e busca e encontra inúmeros outros luga<strong>res</strong> para<br />

acontecer, e sujeitos como protagonistas do ensinar e do apreender.<br />

<strong>Educação</strong> fora <strong>da</strong> caixa é a que apoia o sujeito no desabrochar do seu<br />

potencial enquanto ser humano e ci<strong>da</strong>dão; é uma educação do cui<strong>da</strong>do,<br />

do amor, do <strong>res</strong>peito à vi<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as suas formas, uma educação que<br />

reintegra e reconecta tudo o que foi separado pelo padrão de educação<br />

dominante. Não mais mentes hipertróficas a guiar corpos censurados,<br />

mas corposmentes unidos à descoberta do mundo. Não mais criativi<strong>da</strong>de,<br />

intuição, instinto, espirituali<strong>da</strong>de como aspectos meno<strong>res</strong>, confinados<br />

em dimensões <strong>res</strong>iduais de nossas vi<strong>da</strong>s, mas o reconhecimento dessas<br />

dimensões como fun<strong>da</strong>mentais para a vi<strong>da</strong>, para o fazer, para o aprender<br />

e para o conhecer.<br />

Uma última coisa, <strong>da</strong>s tantas que pipocaram durante a leitura, gostaria<br />

de destacar aqui. É que as ferramentas aqui ap<strong>res</strong>enta<strong>da</strong>s comungam,<br />

de forma implícita, mas facilmente detectável, o fato de se esquivar do<br />

fun<strong>da</strong>mento positivista tradicional para abraçar paradigmas outros:<br />

holísticos? Sistêmicos? Pós-positivistas em sentido amplo e pouco<br />

propenso a categorizar? Todos os casos me parecem partilhar: uma<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

255


Palavras Finais<br />

visão não mecanicista <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, do ser humano, do apreender; a<br />

certeza de que influenciamos a reali<strong>da</strong>de através do nosso olhar e, afinal,<br />

observamos e analisamos a nossa relação com ela e o que nós mesmos<br />

nela introduzimos. Por consequência, a certeza de que podemos <strong>res</strong>gatar<br />

o lado positivo <strong>da</strong>s coisas (ao invés de demorar exclusivamente na crítica),<br />

alimentar o sonho (ao invés de se acomo<strong>da</strong>r na aceitação do único jeito<br />

<strong>da</strong>s coisas serem), levantar com carinho a emoção para, com ela, colorir a<br />

ação de construção do futuro que queremos.<br />

Em tempo, <strong>res</strong>salto que este novo paradigma de educação não separa<br />

o conhecimento <strong>da</strong> emoção, <strong>da</strong> apreciação e criação do belo, do<br />

envolvimento e cui<strong>da</strong>do com os corpos e com a espirituali<strong>da</strong>de. Estes<br />

são os aspectos <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de infinitamente diferente e multifaceta<strong>da</strong><br />

que, através <strong>da</strong> educação, aproximamos e saboreamos para, quiçá, nela<br />

encontrarmos o nosso caminho de reconstrução do mundo outro que<br />

sonhamos.<br />

Outubro 2015, Foggia, Itália<br />

Valéria Giannella é co-fun<strong>da</strong>dora e líder do grupo de pesquisa Paidéia,<br />

laboratório transdisciplinar sobre Metodologias Integrativas para educação e<br />

gestão social, e atua como docente na Universi<strong>da</strong>de Federal do Sul <strong>da</strong> Bahia.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

256


Notas<br />

1<br />

Encontrei essa história em inglês no site https://learningvillagesveaborg.<br />

wordp<strong>res</strong>s.com/2015/04/06/little-boy/ e a traduzi livremente.<br />

2<br />

Agradeço imensamente à Adigo Lumo e ao Instituto EcoSocial que,<br />

por meio de seus programas de formação, permitiram-me conhecer o<br />

arquétipo <strong>da</strong> trimembração do ser humano (Pensar, Sentir e Querer),<br />

além de outras referências importantes <strong>da</strong> antroposofia. O mesmo<br />

agradecimento estende-se às ferramentas “compartilhamento biográfico”<br />

e “processo decisório em grupo”, ambas também de base antroposófica.<br />

3<br />

Soube disso por meio do texto “Conscious Competence Learning<br />

Model”, uma <strong>da</strong>s fontes mais completas que encontrei sobre o assunto.<br />

O material está disponível no link http://www.businessballs.com/<br />

consciouscompetencelearningmodel.htm.<br />

4<br />

Idem acima.<br />

5<br />

Você encontra o texto completo dele aqui: http://omtimes.com/2012/10/<br />

the-health-benefits-of-silence-simple-yet-profound/.<br />

6<br />

Leia o texto na íntegra aqui: http://www.bkumaris.org.br/editora/artigos/<br />

Dicas-de-como-praticar-sil%C3%AAncio-Juliana-Vilarinho.pdf.<br />

7<br />

Citação retira<strong>da</strong> do texto de Juliana Vilarinho, disponível no link acima.<br />

8<br />

Retirei a citação do site http://centrodeyogavajrapani.com.br/mantras-2/<br />

mantras-indianos/.<br />

9<br />

Extraído do belíssimo documento que Lígia elaborou sobre a Árvore <strong>da</strong><br />

Vi<strong>da</strong>, disponível no link https://grupodevoluntariadoemp<strong>res</strong>arial.files.<br />

wordp<strong>res</strong>s.com/2013/08/ap<strong>res</strong>entac3a7c3a3o-grupo-de-estudos-de-<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

257


Notas<br />

voluntariado-emp<strong>res</strong>arial-ago-2013.pdf.<br />

10<br />

Para mais detalhes sobre a metodologia completa, veja o link http://<br />

www.pacificdisaster.net/pdnadmin/<strong>da</strong>ta/original/REPSSI_2007_Tree_life.<br />

pdf.<br />

11<br />

Yaacov Hetch desenvolve esse modelo no livro “Democratic Education: a<br />

beginning of a story”, publicado nos EUA pela Bravura Books em 2011.<br />

12<br />

As seis diretrizes estão melhor descritas no documento “World Café Para<br />

Viagem”, disponível no link http://www.theworldcafe.com/wp-content/<br />

uploads/2015/07/World_Cafe_Para_Viagem.pdf.<br />

13<br />

Facilitação gráfica é um formato de colheita <strong>alta</strong>mente visual,<br />

geralmente feita num painel de grandes dimensões visível aos<br />

participantes e em tempo real. Para mais informações sobre facilitação<br />

gráfica, acesse http://www.facilitacaograficacolheita.com.br/facilitacaografica/.<br />

14<br />

Perguntas traduzi<strong>da</strong>s e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s do documento editado por Andries<br />

De Vos e Ria Baeck, disponível aqui<br />

15<br />

Mais informações sobre a origem do objeto <strong>da</strong> fala podem ser<br />

encontra<strong>da</strong>s aqui: onte: http://www.firstpeople.us/FP-Html-Legends/<br />

TraditionalTalkingStick-Unknown.html.<br />

16<br />

Argumentos extraídos de um texto do site de Heather Platt: http://<br />

heatherplett.com/2015/06/why-weneed-more-talking-pieces/.<br />

17<br />

Idem acima. Traduzi livremente e a<strong>da</strong>ptei os cinco motivos.<br />

18<br />

Traduzi livremente o trecho, que se encontra em http://www.cointelligence.org/P-listeningcircles.html.<br />

19<br />

Agradeço muito à Liziane Silva, <strong>da</strong> INK, e ao Rodrigo Britto, <strong>da</strong> Aliança<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

258


Notas<br />

Empreendedora, que me ap<strong>res</strong>entaram o artifício do pé de galinha<br />

durante o Laboratório Estu<strong>da</strong>r, programa de formação de lideranças <strong>da</strong><br />

Fun<strong>da</strong>ção Estu<strong>da</strong>r.<br />

20<br />

“Alterdi<strong>da</strong>tismo” é um termo que peguei emp<strong>res</strong>tado de Augusto<br />

de Franco, e que remete ao aprender com o outro, em rede. Pode ser<br />

entendi<strong>da</strong> como uma complementação ao autodi<strong>da</strong>tismo e é oposta ao<br />

“heterodi<strong>da</strong>tismo”, que se revela quando alguém impõe a uma pessoa os<br />

termos de sua aprendizagem (ensino).<br />

21<br />

Vi essa frase num fórum <strong>da</strong> Escola de Redes: http://escoladeredes.net/<br />

group/transioorganizacional/ forum/topics/criar-cadeias-de-conhecimento<br />

?commentId=2384710%3AComment%3A43550&groupId=2384710%3AGro<br />

up%3A22221.<br />

22<br />

Extraí as citações do artigo “A Biomimética como Método Criativo para o<br />

Projeto de Produto”, de F. B. Detanico, F. G. Teixeira e T. K. Silva, produzido<br />

no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Design <strong>da</strong> UFRGS. O texto<br />

está disponível em http://www.pgdesign.ufrgs.br/designetecnologia/<br />

index.php/det/article/viewFile/52/33.<br />

23<br />

Idem acima.<br />

24<br />

A citação é do site do P<strong>res</strong>encing Institute, disponível no link https://<br />

www.p<strong>res</strong>encing.com/theoryu.<br />

25<br />

Trecho retirado do site http://www.youwilldobetter.com/2015/03/teoriau-lideranca-partir-propositopara-futuro-queremos-viver/.<br />

26<br />

Otto Scharmer, o fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> Teoria U, dialoga com a antroposofia<br />

em vários pontos de sua proposta, como na descrição desse princípio,<br />

cujos três elementos – mente aberta, coração aberto e vontade aberta –<br />

relacionam-se diretamente com o Pensar, Sentir e Querer.<br />

27<br />

“Downloading”, aqui, quer dizer um tipo de escuta e interação que<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

259


Notas<br />

absorve tudo a partir de nossos prejulgamentos, <strong>da</strong>ndo pouquíssimo<br />

espaço para a real experiência de se viver o p<strong>res</strong>ente.<br />

28<br />

Citação extraí<strong>da</strong> do livro Bojer, Marianne Mille et al. Mapeando diálogos:<br />

ferramentas essenciais para a mu<strong>da</strong>nça social. Instituto Noos, Rio de<br />

Janeiro, 2010.<br />

29<br />

Tomei conhecimento <strong>da</strong> frase por meio do trabalho <strong>da</strong> Três por Quatro,<br />

mais precisamente a partir do seguinte documento: http://slate.adobe.<br />

com/a/xlkM8.<br />

30<br />

O Projeto Cooperação é uma comuni<strong>da</strong>de cria<strong>da</strong> por Fábio Brotto e<br />

outros facilitado<strong>res</strong> de jogos cooperativos.<br />

31<br />

Citação extraí<strong>da</strong> de: “Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Cooperação”. Caderno de<br />

referência de esporte, volume 12. Fun<strong>da</strong>ção Vale. O material<br />

encontra-se disponível no seguinte link: http://unesdoc.unesco.org/<br />

images/0022/002250/225005POR.pdf.<br />

32<br />

Idem acima.<br />

33<br />

To<strong>da</strong>s as citações utiliza<strong>da</strong>s nas descrições dos quatro princípios<br />

também remetem ao material indicado na nota acima.<br />

34<br />

Extraí a frase de Einstein <strong>da</strong> Wikiquote, no site https://pt.wikiquote.org/<br />

wiki/Albert_Einstein.<br />

35<br />

Citação extraí<strong>da</strong> do site do Coletivo PI. Veja no seguinte endereço: http://<br />

www.coletivopi.com/p/ent<strong>res</strong>altos. html.<br />

36<br />

Idem acima.<br />

37<br />

Traduzi livremente as características do artigo original em inglês,<br />

disponível em http://www.principals.ca/documents/powerful_questions_<br />

article_(World_Cafe_Website).pdf.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

260


Notas<br />

38<br />

Vi a frase sendo atribuí<strong>da</strong> a Sêneca no site http://faladeaula.blogspot.<br />

com.br/2011/01/quem-ensinaaprende-duas-vezes.html.<br />

39<br />

O doutorado informal é um caminho de aprendizagem que se inspira<br />

na profundi<strong>da</strong>de e inovação do doutorado acadêmico, por um lado, e na<br />

liber<strong>da</strong>de proporciona<strong>da</strong> pela não vinculação às instituições, de outro. Este<br />

livro é uma <strong>da</strong>s entregas do meu percurso de doutorado informal. Para<br />

saber mais, acesse http://www.alexbretas.com.br/doutorado-informal/.<br />

40<br />

Citação traduzi<strong>da</strong> e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> do post “What are the 40 benefits of<br />

having a mentor?”, de John Carleton, disponível em https://medium.com/@<br />

carleton_john/what-are-the-benefits-of-having-amentor-8973b54ef548.<br />

41<br />

Criei a microaula inspirado por práticas como o elevator pitch, uma<br />

espécie de ap<strong>res</strong>entação curta de um negócio ou projeto comum em<br />

eventos de empreendedorismo.<br />

42<br />

Essa ferramenta foi cria<strong>da</strong> por mim e pela Mariana Baldi no início de<br />

2015.<br />

43<br />

Citação extraí<strong>da</strong> <strong>da</strong> página do Unlock <strong>da</strong> Biblioteca Virtual <strong>da</strong><br />

Antroposofia, uma ótima fonte de pesquisa a <strong>res</strong>peito <strong>da</strong> ciência<br />

espiritual de Rudolf Steiner. Link: https://unlock.fund/pt-BR/<br />

bibliotecavirtual<strong>da</strong>antroposofia,<br />

44<br />

Retirei a citação do site <strong>da</strong> contadora de histórias Emilie Andrade: http://<br />

emilie-andrade.com/.<br />

45<br />

Citação extraí<strong>da</strong> e traduzi<strong>da</strong> do artigo “Why Your Brain Loves Good<br />

Storytelling”, publicado no site <strong>da</strong> Harvard Business Review. Link: https://<br />

hbr.org/2014/10/why-your-brain-loves-good-storytelling/.<br />

46<br />

Extraído e traduzido de http://www.artofmanliness.com/2012/02/13/<br />

how-and-why-to-write-your-ownpersonal-manifesto/.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

261


Notas<br />

47<br />

Letterings são combinações específicas de letras geralmente<br />

desenha<strong>da</strong>s a mão. Vários manifestos inspiracionais popularizados na<br />

internet seguiram esse formato.<br />

48<br />

Traduzido e a<strong>da</strong>ptado do artigo “Manifesto: Our Manifesto For<br />

Creating Yours”, disponível em http://geoffmcdonald.com/the-manifestomanifesto/.<br />

49<br />

Extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/Ritual.<br />

50<br />

O artigo “Why Rituals Work” aponta algumas evidências neste sentido.<br />

51<br />

Essa frase aparece como subtítulo do livro “Jogos Cooperativos”, escrito<br />

por Fábio Otuzi Brotto e publivado pela editora do Projeto Cooperação.<br />

Mais detalhes sobre a publicação podem ser acessados no seguinte link:<br />

http://jogoscooperativos.net/page/livros-jc.<br />

52<br />

De acordo com o documento que sistematiza a Metodologia<br />

Elos, disponível em http://issuu.com/elos/docs/metodologiaelo_<br />

manualdebolso_pt.<br />

53<br />

Idem acima.<br />

54<br />

Traduzi e a<strong>da</strong>ptei a lista do original que se encontra no documento<br />

“What is appreciative inquiry?”, disponível no link http://ngobg.info/bg/<br />

documents/49/756whatisai.pdf.<br />

55<br />

Os pontos a seguir foram elaborados com base no artigo disponível no<br />

site http://asq.org/service/bodyof-knowledge/tools-SOAR.<br />

56<br />

Idem acima.<br />

57<br />

As perguntas foram traduzi<strong>da</strong>s e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s do livro “How to be<br />

More Awesome: a practical journey”, de Tim Slack e Suzanne Quinney,<br />

Wordscapes Ltd., 2014.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

262


Notas<br />

58<br />

Extraído de uma ap<strong>res</strong>entação <strong>da</strong> autora disponível no Slideshare, no<br />

seguinte endereço: http://pt.slideshare.net/institutounibanco/cenriostransformado<strong>res</strong>-por-mille-bo.<br />

59<br />

Extraído e traduzido de um artigo do autor disponível no site <strong>da</strong><br />

McKinsey&Company, no endereço http://www.mckinsey.com/insights/<br />

strategy/the_use_and_abuse_of_scenarios.<br />

60<br />

Extraído <strong>da</strong> página de Peter Drucker no Wikiquote, disponível no link<br />

https://pt.wikiquote.org/wiki/Peter_Drucker.<br />

61<br />

Bojer, Marianne Mille et al. Mapeando diálogos: ferramentas essenciais<br />

para a mu<strong>da</strong>nça social. Instituto Noos, Rio de Janeiro, 2010.<br />

62<br />

Extraído do link http://pt.slideshare.net/institutounibanco/cenriostransformado<strong>res</strong>-por-mille-bo.<br />

63<br />

Os princípios foram retirados de uma página do site oficial do Dragon<br />

Dreaming no Brasil: http://www.dragondreamingbr.org/portal/index.php/<br />

dragon-dreaming/etica-dd.html.<br />

10-25-17-02-40/conceito.html.<br />

64<br />

Extraído de http://www.dragondreamingbr.org/portal/index.php/2012-<br />

65<br />

Para entender como se faz um Karrabirrdt, entre neste link: http://www.<br />

dragondreamingbr.org/portal/index.php/2012-10-25-17-02-40/fichastecnicas/100-karabirrdt.html.<br />

66<br />

O trecho foi extraído de um texto do autor intitulado “Hackerspace:<br />

um novo modelo de escola”, o qual não se encontrava mais disponível na<br />

última vez que tentei acessá-lo. De to<strong>da</strong> forma, o link é http://tutzstyle.<br />

com/artigos/hackerspace-um-novo-modelo-de-escola/.<br />

67<br />

Os exemplos que trouxe foram retirados do artigo de Jack Feuer,<br />

disponível no link http://magazine.ucla.edu/featu<strong>res</strong>/outlaw-biology/.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

263


Notas<br />

68<br />

Extraído e traduzido do verbete “Learning community” <strong>da</strong> Wikipedia,<br />

disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Learning_community.<br />

69<br />

Fui buscar esse trecho no livro “Aprender em comuni<strong>da</strong>de”, de<br />

José Pacheco, disponível na íntegra em http://media.wix.com/ugd/<br />

bcc8d6_68e5a307f06e4037a896d68ae7a99062.pdf.<br />

70<br />

Trecho extraído de uma entrevista concedi<strong>da</strong> pelo filósofo, disponível<br />

http://escoladedialogo.com.br/escoladedialogo/index.php/biblioteca/<br />

artigos/ultrapassar-a-economia/.<br />

72<br />

Traduzi e a<strong>da</strong>ptei a pergunta, cuja versão original pode ser encontra<strong>da</strong><br />

em http://www.wisertogether.com/wp-content/uploads/cafe-question.jpg.<br />

71<br />

Agradeço muito aos queridos Danilo e Luah por terem me ap<strong>res</strong>entado<br />

a Piazza del Libri, que serviu de inspiração para que eu escrevesse sobre<br />

as ocupações criativas. Para mais detalhes sobre essa iniciativa, ver o link<br />

https://medium.com/@educfora<strong>da</strong>caixa/pra%C3%A7a-do-livro-kit-fora<strong>da</strong>caixa-4c6610ad0f4f.<br />

73<br />

Encontrei e traduzi o comentário de Evan Briggs a partir do link https://<br />

www.scarymommy.com/this-iswhat-happens-when-you-put-a-p<strong>res</strong>choolin-a-nursing-home/?section=pre-schoolyears&u=GDOaeJ6LCm.<br />

74<br />

Busquei e traduzi essa frase do site iz Quotes. Link: http://izquotes.com/<br />

quote/348498.<br />

75<br />

Extraído e traduzido de uma entrevista de John Croft sobre o tema,<br />

disponível no link http://plantowin.net.au/2012/09/empoweredfundraising/.<br />

76<br />

Retirado de um dos textos mais completos sobre captação empodera<strong>da</strong><br />

que encontrei, disponível na íntegra no site do Dragon Dreaming no Brasil:<br />

http://www.dragondreamingbr.org/portal/index.php/2012-10-25-17-02-40/<br />

fichas-tecnicas/106-22-captacao-empodera<strong>da</strong>.html.<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

264


Notas<br />

77<br />

Idem acima.<br />

78<br />

Citação retira<strong>da</strong> de http://logobr.org/design-estrategico/matriz-csd/.<br />

79<br />

Extraído de um artigo do autor publicado no site <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Brasileira<br />

de Coaching, disponível no link http://www.sbcoaching.com.br/blog<br />

<strong>Kit</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Fora</strong> <strong>da</strong> <strong>Caixa</strong><br />

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