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Revista Hedonê

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R$ 25,00 . jun 2019 . 001


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seção de td mundo nu

seção de td mundo nu

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preliminar

seção de td mundo nu

KAMA NOSSA

Bem vindx ao nosso templinho!

A Hedonê é uma revista que quer exaltar o sexo e te deixar – ainda

mais – à vontade com ele. Aqui, vamos falar sobre o assunto como

algo natural, que aproxima e aumenta a intimidade entre as pessoas.

Sem nada a esconder, o sexo será colocado em pauta de forma não

vulgarizada, valorizado sob diversos pontos de vista.

Mostraremos diferentes perspectivas do sexo, sobre as quais talvez

você nunca tenha parado para refletir. Por exemplo, pare agora e

pense em uma pessoa. Qualquer maior de idade que você conheça.

Pensou? Essa pessoa transa (ou deveria). E este é o nosso ponto: sexo

é um tema universal e deve ser tratado como tal, sem colocar tarja

preta e apagar as luzes. Todos os holofotes estão virados para ele aqui.

Assim, nesta edição, defenderemos que prazer não tem idade, e

que mulheres com mais de 70 anos também têm direito – assim

como todas as outras – de se sentirem bonitas e terem orgasmos. A

menopausa existe, a sexopausa não necessariamente.

Também travamos um papo com a youtuber que fala sobre sexo,

Dora Figueiredo, o escritor de contos eróticos, Reinaldo Moraes, e

a sexóloga Regina Navarro. Eles não apenas escolheram lidar com o

assunto de forma diferente, mas também o tornaram fio condutor de

suas carreiras. E estarão nessa edição trocando experiências conosco.

E, claro que a Hedonê não podia ser um espetáculo sem a parte

artística. Como um colírio aos olhos, indicamos seis perfis de

ilustradores com diferentes teores de erotismo visual, para você

acompanhar e aproveitar.

Porém, a verdadeira cereja do bolo é a matéria de capa, sobre o

sexo como tabu na Índia. Se você e a pessoa ao seu lado possuem

diferentes visões sobre sexo, imagina você e uma pessoa do outro lado

do mundo… A sociedade indiana possui ainda um plus. As demonstrações

de afeto público lá são tratadas com um forte julgamento,

consequência de acontecimentos históricos que quebraram uma

parte importante das crenças antigas desta cultura. Afinal, a Índia

é o país criador do Kama Sutra, livro que celebra o prazer, além

de possuir os templos eróticos de Khajuraho. Vamos explicar essa

dualidade e o que levou a Índia até ela. Então vem e fica à vontade

que a kama é sua também.

O prazer é todo nosso.

Amanda Bento, designer

20 anos, apaixonada por seus três

cachorros e por modão sertanejo

Anna Balardin, designer

20 anos, apenas duas mãos

e o sentimento do mundo

Catharina Donatti, designer

20 anos, residente no planeta do caos

e amante de banhos quentinhos

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todo mundo nu

10 diversidades | prazer em toda situação

12 contraposto | e a pílula anticoncepcional

masculina, cadê?

14 bodybuilder | pompoarismo, como fazer?

16 como o sexo se tornou tabu na índia

papo ereto

26 no sofá | monogâmicos e pobres

28 no chuveiro | sexo empoderado, por favor

30 em qualquer lugar | quem conta um conto

32 dora figueiredo: youtuber de sexo

siririca

42 ponto g | vulnerabilidade e

educação sexual

44 mina com mina | colar velcro sem dst

46 tabu.ceta | a maconha e o sexo das minas

48 match | feminismo chega aos sex shops

50 vovó também gosta de sexo

todo mundo nu

16 como o sexo se tornou tabu na índia

A celebração do Dia dos Namorados causa tumultos todos os

anos na Índia. De um lado, uns não veem mal

em demonstrações de afeto como trocar rosas e andar de

mãos dadas. De outro, outros acreditam se tratar

de uma falha moral grave e se dedicam a intimidar os casais.

08 colaboradores

60 além do sexo | filmes/séries

80 dates | agenda mensal

96 poesia visual

pikasso

64 açutarado | arte erótica e deliciosa

66 arebaba | muito mais que posições

68 dedo no cu e poesia | o que o sol

faz com as flores

70 erotismo visual

conto de fodas

84 dirty talk | coluna assinada

86 rapidinhas | contos eróticos

90 como gozar por 15 minutos sem parar



COLABORADORES

Marise De Chirico

Designer gráfica, designer editorial e professora.

Ama o que faz por “transitar por diversas áreas e agregar

profissionais de interesses afins.”

Amanda Bento

Ilustradora e estudante de design.

Expressa-se por meio de seus traços

nas ilustrações da nossa revista.

Milly Lacombe

Colunista, jornalista esportiva e escritora. Sabe “apenas

escrever e amar, como sugeriu Antonio Maria:

escrever com dois dedos e amar com a vida inteira.”

Fabiano Cavalcante

Colunista da seção rapidinhas.

Acredita que o amor ainda vale a

pena e traz isso nos textos.

Thiago Gacciona

Colunista da seção rapidinhas e jornalista. Finge ser

mágico nas horas vagas. Encontra na arte um caminho

para aproveitar um o que a vida tem de melhor

Tina Zani

Colunista da seção rapidinhas,

artista e mãe. Compartilha as suas

experiências de vida e sonhos.

Escola Superior de Propaganda e Marketing

Curso de graduação em Design com habilitação

em comunicação visual e ênfase em Marketing

Projeto integrado do 3º semestre

Proj. III: Cultura e informação | Marise de Chirico

Comunicação e linguagem | Patrícia Amorim

Marketing II | Guilherme Umeda

Produção gráfica | Marcos Mello

Cor e percepção | Paula Csillag

Projeto editorial e projeto gráfico

Amanda Bonavita Bento

Anna Luiza Balardin C.

Catharina Martins Donatti



diversidades

PRAZER EM

Assim que quebrei o pescoço, uma de minhas

maiores preocupações era a de não

poder fazer mais sexo. Aliás, não voltar

a ter prazer é um assunto que aflige

muita gente que se depara com uma deficiência.

Comigo não foi diferente. Por isso, na dúvida, quis

tirar a prova rápido. Fiz sexo na uti.

A relação aconteceu durante uma das primeiras

visitas de Paulo, que era o meu namorado

na época e a mesma pessoa que dirigia o

carro quando sofri o acidente. Rolou na cama

hospitalar, numa espécie de biongo cuja única

privacidade se dava por um cercadinho de cortinas.

Na ocasião, pedi para que ele me tocasse

lá embaixo. E depois de muita insistência de minha

parte, e já tomado de um misto de medo

e tesão, ele começou a me beijar enquanto me

tocava por debaixo do lençol.

Na mesma hora, percebi que estava molhada,

e que era capaz de sentir suas mãos de uma forma

nova. As sensações internas estavam todas

ali e o mais surpreendente é que eu reconhecia

o meu próprio cheiro, o que me deixava ainda

mais excitada. Naquela tarde eu vi que podia

continuar a ter prazer, mesmo sem os movimentos

do pescoço para baixo.

Passados mais de vinte anos desse episódio, as

pessoas ainda se mostram surpresas ou chocadas

com essa história. A verdade é que sexo e deficiência

já são tabu, mesmo tratados isoladamente.

Juntos, viram assunto quase proibido.

No filme As Sessões, um homem que teve poliomielite

quando criança, tendo vivido a maior

parte de sua vida em um pulmão de ferro, resolve

perder a virgindade aos 38 anos, contratando uma

terapeuta sexual. A trama é baseada em uma história

real e ainda envolve os curiosos conselhos de

um padre. A abordagem é leve e retrata o sexo e

a deficiência de uma forma quase natural, como

deveria sem qualquer situação.

Fico pensando em quantas pessoas com deficiência,

por medo ou preconceito, se privam de

ter prazer e acabam vivendo uma realidade totalmente

condicionada pela falta de movimentos.

Existem certas crenças que ajudam a reforçar esses

medos, desencorajando quem tem deficiência

e potenciais parceiros.

Quem nunca ouviu aquela história de que

todo o organismo do homem cadeirante desliga

e fica assim para sempre? Ou que mulheres com

deficiência não podem ter orgasmo, tampouco

engravidar? Isso não é verdade para ninguém.

Aliás, a cadeira muitas vezes pode ser apetrecho

para uma fantasia, já que ter relações com uma

pessoa na cadeira de rodas foge à regra de estar

na maioria das vezes deitado. Além disso, ninguém

precisa ser maratonista para fazer sexo. A

disposição para tal só precisa estar na cabeça

para irradiar ao resto do corpo.

Aliás, não voltar a ter prazer

é um assunto que aflinge

muita gente que se depara

com uma deficiência

Marcelo Martins

TODA SITUAÇÃO

“A verdade é que sexo e deficiência já são

tabu, mesmo tratados isoladamente.

Os dois juntos, viram quase assunto proibido”

Por Mara Gabrilli

Tudo o que sinto hoje, sinto de outro jeito.

São outros nervos que me trazem essa informação.

É curioso, mas também não é regra para

ninguém. O que importa é que a intensidade do

prazer não muda. Aliás, até podeudar se a gente

quiser melhorar. Mas isso vale para tudo que experimentamos

na vida.

Sexo é inerente ao ser humano. É um prazer na

vida que faz bem. O único segredo está em não se

prender a nenhum parâmetro. E quando percebi

que isso era algo que não estava perdido em minha

vida, todo o resto passou a ser resto.

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Marc Schäfer

contraposto

E A PÍLULA

MASCULINA, CADÊ?

Há mais de 50 anos as mulheres tomam anticoncepcional e,

mesmo com os avanços da medicina, ainda parecemos distantes

da versão masculina do medicamento. Por quê?

Por Madson de Moraes

Ainda nos anos 60 foi lançado o anticoncepcional

feminino e hoje não são

poucas as mulheres interessadas em

questionar: afinal, por que ainda parecemos

tão distantes de algo ao menos parecido

para homens? As opções masculinas permanecem,

mais de meio século depois, praticamente

as mesmas, apenas as que são comuns aos dois

gêneros: abstinência, camisinha ou cirurgia (no

caso dos homens, a vasectomia).

O custo do desenvolvimento de novos medicamentos

esbarram nas centenas de milhões de

dólares e, no caso de uma pílula anticoncepcional

masculina, as farmacêuticas julgam o mercado

insuficiente, não acreditam que os homens

optariam pela pílula. Levantamentos recentes,

porém, têm indicado que a maioria dos casais

aprova a entrada de um novo contraceptivo

masculino no mercado.

Quando uma pesquisa alemã, por exemplo, entrevistou

9 mil homens de vários países, a maioria

respondeu que toparia tomar um anticoncepcional.

“A literatura médica aponta para esse fato: homens

gostariam de poder ter uma maior participação

nas decisões contraceptivas e a maioria aceitaria

tomar uma pílula contraceptiva caso ela existisse”,

garante o professor Erick José Ramo da Silva, do

Departamento de Farmacologia do Instituto de Biociências

de Botucatu, em São Paulo, onde estuda

temas ligados à contracepção masculina.

“As farmacêuticas temem que novos anticoncepcionais

masculinos reduzam os lucros das vendas

de anticoncepcionais femininos. É surpreendente

que nenhum novo contraceptivo masculino

tenha atingido o mercado ainda”, afirma Linda

Brent, diretora executiva da Fundação Parsemus,

uma organização sem fins lucrativos americana

que visa colocar no mercado o Vasalgel, um gel

não-hormonal, livre de efeitos colaterais, que, ao

ser injetado no canal deferente, bloquearia a passagem

dos espermatozoides. O produto, porém,

ainda precisa ser testado em humanos.

Alguns cientistas chegaram a questionar se a

hierarquia patriarcal das farmacêuticas não seria

uma barreira. Se fossem dirigidas por mulheres,

uma pílula ou nova contracepção masculina já estaria

ao alcance dos homens? O Dr. Herjan Coelingh

Bennink, um professor de ginecologia que

ajudou a desenvolver alguns contraceptivos femininos

enquanto atuava como chefe de pesquisa e

desenvolvimento na Organon, acredita que sim.

“Encontrei muita resistência dentro do conselho

da empresa, onde a reação padrão dos membros,

brancos de meia idade, era: ‘Eu nunca iria usar’.

Era considerado algo para covardes, débeis e

homens fracos”, conta.

Há um esperma no meio do caminho

Outra questão que tem tornado a pílula masculina

uma lenda urbana parece ser a biológica: pesquisadores

garantem que bloquear um óvulo por mês

em mulheres é um desafio mais simples do que

inibir a produção diária de milhões de espermatozoides.

Como bloquear a fertilidade do homem

sem prejudicá-la? Responder isso, garantem, é

difícil e muito caro. Com a indústria farmacêutica

lavando as mãos para essa demanda, cientistas têm

buscado alternativas por meios não hormonais.

A maioria [dos homens]

respondeu que toparia

tomar um anticoncepcional

Erick conta que grupos de diferentes universidades

do mundo estão trabalhando nisso

atualmente. “Muitas pesquisas já se mostraram

efetivas em animais de laboratório e em estudos

in vitro em células e são potencialmente viáveis e

interessantes. Mas ainda não foram testadas em

humanos. Possivelmente, é por algum método

não-hormonal que a “pílula masculina vai chegar

ao mercado”, aposta o pesquisador.

Independentemente de aparecer um novo

método anticoncepcional para homens, os preservativos

não podem sair de moda. “Eles não

desapareceram depois que a pílula feminina ou

os contraceptivos intrauterinos tornaram-se comuns.

Como um método de barreira, eles ainda

vão desempenhar um papel importante contra

infecções sexualmente transmissíveis”, opina

Hamlin. Por enquanto, uma pílula masculina

ainda é algo difícil de engolir.

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bodybuilder

Na hora do sexo

A mulher que pratica a ginástica íntima consegue

controlar a musculatura do assoalho pélvico e seu

canal vaginal. Desta forma, ela realiza movimentos

específicos e voluntários no pênis do parceiro.

A maioria das mulheres

procura o pompoarismo

em busca da melhora

no desempenho sexual

Marvin Meyer

POMPOARISMO,

COMO FAZER?

Descasque você mesma esse

abacaxi que é ter mais prazer sexual

Por Cátia Damasceno

P

ompoarismo é uma técnica de exercícios

para o fortalecimento da musculatura

vaginal que traz diversos benefícios

para a mulher. Consiste em

contração e relaxamento repetitivo dos músculos

da região pélvica feminina.

A maioria das mulheres procura o pompoarismo

exatamente em busca da melhora no desempenho

sexual, mas existem outros benefícios, como o

aumento da libido e desejo sexual, facilita o orgasmo,

tanto para mulheres que sentem dificuldade

como para aquelas que relatam que nunca tiveram

um orgasmo, evita a flacidez vaginal, fazendo com

que a mulher se sinta mais apertadinha, ajuda na

questão da lubrificação vaginal, reduz os sintomas

da menopausa, ameniza as cólicas menstruais e

até mesmo o período menstrual, além de tratar e

prevenir problemas ginecológicos como: infeções,

incontinência urinária, vaginismo… Enfim, a prática

regula toda a sua saúde íntima.

Benefícios do pompoarismo para a saúde

Muita gente acha que o pompoarismo tem a ver

somente com sexo e estão enganadas! A prática

pode trazer vários benefícios também para a saúde

independente da saúde da mulher que pratica.

Por exemplo:

• Reduz as cólicas e o período menstrual;

• Diminui os sintomas da menopausa;

• Ajuda gestantes na preparação para o parto e

auxilia a recuperação pós-parto;

• Melhora o funcionamento do intestino;

• Trata a incontinência urinária com movimentos

do pompoarismo;

• Combate a flacidez vaginal;

• A mulher fica mais “apertadinha” e consegue simular

virgindade;

• Aumenta a lubrificação e a libido.

Segurar a ejaculação dele e simular movimentos

de masturbação com a própria vagina são algumas

das vantagens.

Chupitar: movimento que suga o pênis, simulando

o movimento de uma criança chupando a

chupeta, por isso o nome;

Ordenhar: contrair os anéis em uma sequência,

massageando o pênis;

Sugar: sugar a glande do parceiro; travar: contrair

a vagina impedindo, assim, a saída o pênis;

Expulsar: expelir o pênis do parceiro, deixando

apenas a glande;

Estrangular: movimento que aperta o pênis da

base até a glande e segura a ejaculação do parceiro;

Exercícios para fazer em casa

Quero te ensinar um exercício de reconhecimento,

para você consiga identificar a área que vai exercitar,

caso seja a primeira vez que esteja praticando.

É bastante simples e eu quero que você preste

bastante atenção nas minhas instruções. Quando

você for fazer xixi, faça o movimento de “segurar”

o xixi e interromper a urina. Percebeu essa

contração? Esse é o movimento que você irá fazer.

MAS ATENÇÃO: nunca faça os exercícios de bexiga

cheia ou com vontade de fazer xixi. Estou demonstrando

como deve ser feita a contração, mas fazer os exercícios sem

esvaziar a bexiga pode causa infecções urinárias.

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COMO O

SEXO SE

TORNOU

TABU

NA ÍNDIA

Tradicionalmente, a Índia sempre celebrou e tolerou,

mesmo sob comando de governantes muçulmanos, a sexualidade

e o eroticismo – até a chegada dos britânicos

Por Silvia Salek

Catherine La Rose



A

celebração do Dia dos Namorados (ou Dia de São Valentim)

causa tumultos todos os anos na Índia. De um

lado, os namorados que não veem nada de mal em demonstrações

públicas de afeto como trocar rosas e andar

de mãos dadas por aí. De outro, as patrulhas formadas por hindus

radicais, que creem se tratar de uma falha moral muito grave, e

que se dedicam a intimidar os casais que não julgam demonstrações

de afeto em público da mesma manei ra.

A ação desses autoproclamados patrulheiros da moral contrasta

com a ideia que muitos têm da Índia fora do país. Basta pensar que é

o berço do Kama Sutra e lar de uma tradição em esculturas eróticas.

“Na cosmovisão indiana, o universo foi criado pelo desejo cósmico.

A sensualidade é parte do sagrado”, diz à Hedonê a historiadora da

religião Madhu Khanna.

O prazer como um sentido da vida

Ela explica que o prazer é cultivado e parte do propósito da vida

humana e de sua transcendência. “A sensualidade não é algo para

se envergonhar, muito pelo contrário. Tem um papel muito importante

para os indianos. Não apenas no sexo, mas como uma

estética da vida”, diz Khanna.

Foi neste contexto que surgiram na Índia expressões de sensualidade

que seriam impensáveis em outras culturas, inclusive para os

ocidentais de hoje em dia.

O Kama Sutra, manual de práticas eróticas, foi compilado no

século 3. E fala de práticas ainda mais antigas. “Kama, em sânscrito,

não significa sexo, e sim prazer, desejo”, diz Nybdi Aditya

Haksar, autor de uma tradução do livro.

O livro se concentra na busca por prazer em cada aspecto

da existência. Haksar contextualiza o termo assim: “Esta busca

(pelo prazer) é apenas um dos três princípios da vida humana. Os

outros são a busca da bondade e da virtude, e a busca da prosperidade

e da riqueza”, diz ele.

Relevante até hoje

Dos sete capítulos que compõem o Kama Sutra, somente o segundo

trata de sexo, propriamente. “É muito gráfico, explica com grande

detalhe as posições que podem ser usadas na relação sexual”, diz

Haksar à bbc Mundo (serviço em língua espanhola da bbc).

Sandhya Mulchandani, autora do livro O Kama Sutra para

Mulheres, diz que apesar de algumas das posições parecem estranhas,

muitos dos princípios do livro continuam válidos em nossos

dias. “É um livro muito moderno em vários aspectos. Por exemplo,

reconhece o desejo da mulher e o fato de que elas podem tomar o

controle em uma relação sexual”, explica.

Pertence a uma série de pinturas

sensuais de mulheres indianas,

que exalta a beleza da cultura.

Kamao Rao traz em suas pinturas

a cultura indiana, por

meio das roupas, acessórias e até

gestos. As ilustrações abaixo e

na página seguinte são de sua autoria.

Templos eróticos

Outra evidência desta abertura sexual no passado da Índia são os

templos de Khajuraho. As impressionantes esculturas em pedra de

Khajuraho continuam espantando os visitantes nesta cidade na região

central da Índia. Algumas representam ninfas voluptuosas em

poses sugestivas. No entanto, outras mostram casais em posições

sexuais incríveis e acrobáticas.

“São poucos os templos que têm essas esculturas eróticas. Representam

posições sexuais como outras obras, de outras culturas,

mostram homens em guerra”, explica Haksar.

Assim como outros especialistas, Haksar diz que é errada a crença

popular que a repressão sexual na Índia começou quando ela esteve

sob domínio muçulmano, que perdurou por quase 300 anos. “O

Império Mogol (do início do século 16 a meados do século 19), apesar

de não ser tão aberto, permitiu o florescimento cultural da Índia

e um grande refinamento nas artes”, diz a historiadora Khanna.

Nesse período, os governantes eram islâmicos, mas isso não interferiu

na vida diária dos habitantes da Índia. “A cultura islâmica teve

momentos de maior abertura. Na Índia, a poesia persa produzida

durante o período mogol, apesar de falar sobre a divindade, possui

uma carga homoerótica”, diz Saleem Kidwai, especialista em história

medieval e coautor do livro Amor Homossexual na Índia.

Imposição da Coroa britânica

A mudança na Índia, de celebrar o sexo a transformá-lo em tabu,

é “um processo complexo, não muito fácil de explicar”, diz Kidwai.

“Mas em linhas gerais, podemos dizer que é uma mudança da metade

do século 19. Um ponto de referência é a revolta de 1857 contra

a East British Company, que dominava a Índia”, diz.

A revolta foi reprimida violentamente e a Índia passou ao controle

direto da Coroa britânica que passou a criar leis de acordo com

A sensualidade não é algo para

se envergonhar, muito pelo

contrário. Tem um papel muito

importante para os indianos.

Mulchandani diz que o Kama Sutra só poderia ter surgido

em uma cultura extremamente madura e tolerante, em que “se

celebra a vida em toda a sua glória”.

Kamal Rao

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Arnold Betten

os próprios valores, baseados à época na moralidade vitoriana.

Este conjunto de normas, consolidado durante o reinado da

rainha Vitória (1837-1901), “se caracterizava por uma moral

muito puritana, com regras sobre a família e sobre como homens

e mulheres deveriam conduzir-se”, diz Kidwai.

Os templos de Khajuraho, construídos

ao longo de cem anos, mostram

a ligação entre religião e erotismo.

Kamal Rao

Revisão cultural

“Uma parte da sociedade indiana, ao sentir-se fracassada e escravizada,

começou a reexaminar a própria cultura e a imaginar quais mudanças

deveriam ser feitas. Alguns, especialmente aqueles educados

pelos britânicos, chegaram à conclusão de que a atitude indulgente

em relação ao sexo era uma coisa ruim”, diz o historiador Kidwai.

“O colonialismo prejudicou muito nossa liberdade de pensamento”,

afirma Khanna. “Não só na Índia, mas em todas as partes;

quando as pessoas se sentiram mais ‘racionais’, começam a questionar

suas tradições e mitos”, diz Mulchandani.

Além das visões estrangeiras, há também algumas correntes mais

estritas do hinduísmo que consideram o sexo um tabu. Entre estas

correntes, está a que inspira o partido BJP, que hoje governa o país.

As patrulhas de fundamentalistas que caçam namorados do dia de

São Valentim são mais ativas nos Estados governados pelo partido.

“O hinduísmo é tradicionalmente muito aberto, entretanto alguns

setores políticos de direita têm uma visão menos tolerante à

sexualidade”, afirma Kidwai.

Mulchandani diz que, apesar da celebração da sexualidade ser

parte da cultura indiana, ela acabou sendo mais apreciada na

esfera privada. “Posso ser um ser muito sexual, mas não posso

demonstrá-lo publicamente”, diz ela.

A sensualidade, porém, é algo mais difícil de ocultar. “É da

natureza da sociedade e do povo. Se expressa a todo momento na

Índia”, diz Mulchandani.

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seção de papo ereto

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no sofá

Quer dizer então que a monogamia está relacionada

à economia?

Exato. Nós somos monogâmicos porque somos

pobres. É só observar nossa sociedade para compreender:

os ricos não são monogâmicos, na melhor

das hipóteses são monogâmicos sequenciais – ao

longo da vida têm vários parceiros consecutivamente,

um atrás do outro.

Getty Images

MONOGÂMICOS

E POBRES

Manuel L. Matheu, presidente da Sociedade

Espanhola de Intervenção em Sexologia, argumenta sobre

o motivo pelo qual a monogamia é tão mais

frequente em nossos relacionamentos: somos pobres

Por Irene Hernández Velasco

As visões sobre sexo do espanhol Manuel

Lucas Matheu, de 69 anos, contrariam –

e muito – o senso comum. Presidente da

Sociedade Espanhola de Intervenção em

Sexologia e membro da Academia Internacional

de Sexologia Médica, ele argumenta que os seres

humanos não são predispostos à monogamia.

Woody Allen dizia: “Há duas coisas muito

importantes na vida, uma é sexo e da outra

não me lembro”. Sexo é tão fundamental?

Sexo é importantíssimo, muito mais importante

do que pensa a maioria das pessoas, as instituições

e a sociedade em geral. O sexo determina em

grandíssima medida a nossa qualidade de vida e

é a origem de vários comportamentos.

Você defende que as sociedades mais pacíficas,

com menos conflitos, são aquelas que

vivem a sexualidade de maneira mais livre,

aberta, desinibida…

Não sou eu que diz, é um estudo que fiz, em que

analisei 66 culturas diferentes. E a conclusão é

que as sociedades mais pacíficas são aquelas onde

a moralidade sexual é mais flexível e onde as mulheres

tem um papel preponderante. Em contraste,

as sociedades reprimidas e nas quais as mulheres

têm papel secundário, como as sociedades ocidentalizadas

em que vivemos, são mais agressivas.

A monogamia não é algo intrínseco ao ser

humano, não faz parte da sua natureza?

Não, não é. A monogamia não é uma característica

dos seres humanos de forma alguma. Basta olhar

o atlas etnográfico de Murdock, que analisou mais

de 800 sociedades diferentes e distintas e mostrou

que 80% delas não são monogâmicas. Elas são

poligínicas (um homem com várias parceiras) ou

poliândricas (uma mulher com vários parceiros).

Por que o Ocidente adotou a monogamia?

As espécies animais que são monogâmicas são aquelas

que não têm tempo nem recursos suficientes para

poder se dedicar Como as cegonhas, por usarem

muita energia todos anos às longas migrações. E

os animais que vivem em locais onde é mais difícil

encontrar alimento tendem a ser mais monogâmicos.

O orgasmo é superestimado e mitificado?

Com certeza. O psicanalista Wilhem Reich dizia

que reprimimos a libido não apenas de maneira

quantitativa, mas também qualitativa. A sociedade

burguesa capitalista concentrou a sexualidade nos

órgãos genitais para que o resto do corpo pudesse

focar em produzir para o sistema. Os seres humanos

têm a pele mais sensível de todos os mamíferos,

mas nos acariciamos muito pouco.

A pele seria o ponto G?

Isso, a pele é o verdadeiro ponto G, o grande ponto

sexual do ser humano. O problema é que convertemos

a sexualidade numa atividade de ginástica, na

qual o homem primeiro tem que ter uma ereção,

depois tem que mantê-la a todo custo para não

ejacular antes do tempo. E, por fim, a mulher tem

que ter um orgasmo.

No entanto, 60% das mulheres da cultura ocidental

já simularam um orgasmo em algum momento

da vida. E, quando as perguntamos por que

fizeram isso, a resposta costuma ser: “para que o

outro ficasse satisfeito”.

A monogamia não é uma

característica dos seres

humanos de forma alguma

Qual é a sua opinião sobre a pornografia?

O problema da pornografia não é mostrar o sexo

explícito. O problema da pornografia é que é uma

pornografia absolutamente “genitalizada”, que

reforça a ideia de sexo como ginástica.

Eu não acho que a pornografia deva desaparecer,

mas sim mudar. Deve deixar de ser aquela pornografia

tediosa do mete e tira, para se converter

numa pornografia de pele.

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no chuveiro

Quando o assunto é sexo, Regina N. Lins

é uma das profissionais mais indicadas

para esclarecer dúvidas. Ela é psicanalista,

sexóloga e autora de alguns famosos

livros como ”Se eu Fosse Você” (Ed.BestSeller).

Em entrevista exclusiva à Hedonê, Regina explica

as razões pelas quais muitas pessoas não se

sentem plenamente satisfeitas com o sexo, fala sobre

as diferenças entre homens e mulheres e revela como

ter uma vida sexual mais satisfatória.

Caiuá Franco

SEXO EMPODERADO,

POR FAVOR

Hoje em dia, as mulheres exigem prazer sexual, diz a sexóloga e

autora de 12 renomados livros sobre relacionamento

amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”

Por Gisela Rao

Apesar de terem mais liberdade para fazer

sexo, algumas mulheres não são felizes na

cama. Por quê?

O sexo ainda continua sendo um problema complicado

para muita gente, afinal, há dois mil anos

ele é considerado algo sujo e perigoso. A mulher foi

ensinada a corresponder à expectativa do homem

em tudo. No sexo, não poderia ser diferente. Um

dos motivos para essa insatisfação é que muitas

mulheres não relaxam durante o sexo, pois ficam

preocupadas com o seu desempenho. Outro fator

é a mentalidade patriarcal de muitos homens, que

vão para o sexo para provar que são machos. Por

medo de perder a ereção, eles vão logo penetrando

a mulher e se esquecem de que ela precisa de, no

mínimo, três vezes mais tempo para ficar no mesmo

nível de excitação que eles. Com isso, surge a

frustração sexual.

Por que algumas mulheres têm dificuldades

para falar o que gostam de fazer e receber

durante o sexo?

Por conta de toda a repressão sexual. No século 19,

por exemplo, a marca da feminilidade era a mulher

não gostar de sexo. Difundiam a ideia de que a mulher

só se interessava por ter filhos e criá-los. Sexo

era algo exclusivamente masculino. A mulher que

gostasse de sexo seria mal vista e, dificilmente, seria

respeitada. Muitas mulheres, ainda hoje, tentam

ajustar sua imagem às necessidades e exigências

masculinas. Mas já está mais do que na hora de

mudar essa mentalidade.

As fantasias sexuais das mulheres mudaram

durante as últimas décadas?

É inegável que a repressão sexual vem diminuindo

da década de 60 para cá. Muitas fantasias que as

mulheres nem ousavam ter já estão sendo colocadas

em prática frequentemente, como o famoso sexo a

três, por exemplo. O ser humano só deseja o que

conhece ou sabe que é possível.

E os homens estão satisfeitos sexualmente?

Aqueles que já se libertaram do mito da masculinidade,

ou seja, que não se sentem pressionados para

provar que são machos, são mais felizes e conseguem

ver o sexo como algo bom e desejável. Para eles, é

mais tranquilo proporcionar e obter prazer. Mas

ainda há homens que não relaxam durante o sexo,

pois se sentem preocupados com o seu desempenho.

Dessa forma, é impossível ser feliz sexualmente.

A mulher foi ensinada

a corresponder à expectativa

do homem em tudo

Os homens se sentem seguros para falar

sobre suas fantasias ou preferem procurar

amantes para realizá-las?

Muitos homens procuram prostitutas independentemente

do fato de se relacionarem com mulheres

abertas para realizar seus desejos. Hoje em dia, as

mulheres exigem prazer sexual, o que não acontecia

antigamente. E isso deixa o homem tenso, pois

ele teme não ser considerado bom de cama. Com

a prostituta, ele paga e não deve mais nada. Não

tem de se preocupar se a mulher gostou ou não da

transa, se ela teve ou não orgasmo. Porém, hoje, o

patriarcado dá sinais de sair de cena. As fronteiras

entre o masculino e o feminino estão se dissolvendo.

Não há nada que interesse ao homem e não à mulher

e vice-versa. Essa é a pré-condição para uma

sociedade de parceria entre homens e mulheres,

repercutindo na vida sexual de ambos.

Em sua opinião, o que falta para a vida sexual

das pessoas ser mais satisfatória?

Homens e mulheres sofrem demais com questões

amorosas e sexuais. Para a vida ser mais plena, penso

ser fundamental que se reflita sobre os valores,

mitos e tabus que cercam o sexo. A maioria deles é

responsável pelos sofrimentos nessa área.

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29



em qualquer lugar

estética mais refinada e revelar quase sempre resvala

na pornografia, na vulgaridade, ou nelas atola o pé,

direto. Diante dessa regra, o que dizer? Foda-se, é a

minha resposta costumeira.

Existe algum limite para o pudor?

O pudor, por definição, é todo feito de limites. A

sacanagem, por outro lado, não tem fronteiras nem

limites. É como já disse alguma atriz num velho filme

americano: “As garotas boazinhas vão para o céu.

As garotas sapecas vão a qualquer lugar”.

Maria Do Carmo

QUEM CONTA

UM CONTO

Escritor Reinaldo Moraes lança seleção de textos elegantes, nos

quais ele une teor erótico com doses de bom humor,

trazendo a sacanagem sem quaisquer limites e sem fronteiras

Por Rodrigo Casarin

Desde 2011, o escritor Reinaldo Moraes

escreve contos eróticos para a revista

Status. Um prato cheio para leitores de

bom gosto pois, além de driblar bem com

as palavras, invadindo elegantemente o mundo

da sacanagem, Moraes tem um humor exemplar,

que transforma seus escritos em ótimas conversas.

Basta ler O Cheirinho do Amor – Crônicas Safadas,

reunião de alguns daqueles textos. Ali, até em assuntos

em que não se pensaria em sexo – como

retiro para artistas –, Moraes dá um jeito de se

sentir à vontade. E, nessa toada, ele trata de Serge

Gainsbourg, feministas fazendo topless, carros de

corrida, viagens espaciais, Marquês de Sade, tartarugas,

futebol, psicanálise.

Hilda Hilst gostava de dizer que um livro

erótico é bom quando, no colo do leitor, esse

livro começa a levantar. Como testa a eficiência

de seus escritos?

Bom, é melhor o livro erótico não ter muito mais

que umas 200 páginas, né? Senão o peso do livro

vai exigir que o leitor tome uma azulzinha extra

para surtir o efeito que a Hilda menciona.

De todo modo, acho “livro erótico” um rótulo

boboca, no qual não caberiam obras de autores

como Aretino, Bocaccio, Sade, Miller, Bataille, e da

própria Hilda Hilst, que são literatura da pesada,

vão aos limites da experiência erótica, mostram

a proximidade de Eros com Tânatos, chutam as

canelas e o saco da moral burguesa, e tudo com

grande maestria estilística e originalidade narrativa.

Nada a ver com 50 Tons de Cinza e assemelhados,

subliteratura chicletosa que acertou no milhar.

O melhor teste pra literatura, erótica ou não,

ainda é o da gravidade: se o livro for ruim, ele fatalmente

vai cair da sua mão.

Quando é melhor insinuar que revelar?

A velha regra de um certo bom gosto literário que

se pretende canônico estipula que insinuar é tarefa

Você acredita que, no erotismo, a imaginação

é meio caminho andado?

Na literatura, a imaginação pode ser 100% do

caminho para o erotismo. Um casto pode virar um

libertino no teclado. Mas escritores menos castos

podem se beneficiar das próprias memórias para

moldar detalhes da vida erótica de seus personagens,

dando uma folguinha para a imaginação.

Concorda que o erotismo é uma forma de se

investigar a sociedade?

Inevitavelmente sim, a começar pelo teatro social

da sedução, pelo menos em obras literárias com

alguma base realista – figurativista, se diria nas

artes plásticas. E mesmo o sexo nu e cru, como já

nos ensinou Gilberto Freire, reproduz as complexas

relações sociais entre os atores em cena, na vida real

e, por extensão, também na arte.

E essas relações não raro são de pura dominação,

como no período colonial entre senhores e escravas,

ou, hoje em dia, entre escalões de alguma hierarquia,

em geral com um homem poderoso assediando uma

mulher subordinada a ele. Mas, cá entre nós, uma

sacanagenzinha pura e besta, sem sociologia nem

psicologia, até que pega bem lá pela página 53 de

qualquer livro.

Eu gostaria que o meu

leitor tirasse o livro da estante

e levasse para o banheiro

Onde gostaria que o leitor guardasse seu livro:

no banheiro, na estante ou na mesa de centro?

Eu gostaria que o meu leitor tirasse o livro da estante

e o levasse para o banheiro. Deixa a mesa de centro

para a mais vistosa cultura de capa dura, do tipo que

dificilmente levitaria no colo de alguém.

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31



seção de papo ereto

DORA

FIGUEIREDO

YOUTUBER

DE SEXO

Em um papo íntimo e sincero, a youtuber fala sobre ir além

dos temas que envolvem sexo e amor e também

compartilha suas histórias e expectativas sobre o seu canal

Por Jacqueline Elise fotografia por Isabela Catão

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seção de papo ereto

Sexualidade e comportamento são temas que acompanham a

youtuber Dora Figueiredo, de 24 anos, desde a adolescência.

Por conta da criação aberta e sem preconceitos que recebeu

dos pais, falar sobre sexo foi um assunto natural para ela.

Ex-estudante de nutrição na Universidade de São Paulo, ela largou

a faculdade quando percebeu que aquilo não a fazia feliz.

Foi ideia do pai de criar um canal no YouTube para falar sobre

sexo. “Ele me disse que não tinha muita gente falando sobre isso da

forma que eu poderia falar, me dirigindo aos jovens, sem tabu, e que

eu pudesse passar a criação que eu tive”, lembra. Em fevereiro de 2016,

nasceu o canal de Dora, que já soma mais de 1,4 milhão de inscritos.

Dora ama falar sobre sexo e relacionamentos, mas faz questão de

ressaltar que não quer substituir ajuda profissional ou ser a “Laura

Müller da internet”, e rejeita a visão de que é alguém bem resolvida

consigo mesma. Ela só quer ser, em suas palavras, uma amiga em

quem seus seguidores possam confiar.

Em entrevista à Hedonê, ela fala sobre ir além dos temas que

envolvem sexo e amor, como falou sobre sua depressão pela primeira

vez e qual tema polêmico gostaria de tratar em seu canal.

Como foi a criação do canal?

Eu comecei porque eu queria fazer uma coisa diferente do acadêmico

e conversar com as pessoas, coisas que sempre amei. Quis falar sobre

relacionamentos e sexualidade porque eu comecei a namorar sério

com 14 anos, então, sempre fui a conselheira do colégio: todas as

minhas amigas pediam ajuda para mim.

Em casa, sexualidade nunca foi um problema. Com 16 anos eu já

tinha uma cama de casal no quarto, para eu poder receber meu namorado

em casa. Enquanto os pais das minhas amigas as reprimiam,

os meus falavam que eu poderia fazer o que eu quisesse, desde que eu

tivesse maturidade e responsabilidade o suficiente. Então foi natural

que eu tenha me tornado essa pessoa conselheira.

Vocês não tinham aulas de educação sexual na escola?

A gente teve “educação sexual” entre várias aspas. Estudei em um

colégio particular, que não era religioso, mas aprendemos somente

como colocar a camisinha e quais são as Doenças Sexualmente

Transmissíveis. E não adianta só saber o que é a puberdade, o que

é sexo e como colocar um preservativo. Por isso há uma taxa tão

grande de disseminação de dsts entre jovens. A educação deles, hoje,

é a pornografia, que é feita por homens e para homens. “Eu torno a

sexualidade um assunto pessoal, de amiga”, diz Dora.

Antes, você focava comportamento e relacionamentos, depois

passou a fazer um conteúdo mais diversificado, falando

sobre saúde mental. O que te fez abordar estes assuntos?

Não tenho pretensão de ser a Laura Müller, de ser uma educadora

sexual. Eu sou uma apresentadora. E chegou uma hora que eu pensei:

“Poxa, não é que eu esgotei o assunto de sexo, mas é que eu já

falei tanto sobre, e eu não sou só isso”. Em um vídeo, eu comentei

que tinha depressão e os seguidores ficaram chocados. E depressão é

um tabu, assim como o sexo. Eu faço questão de abordar o assunto

porque muitas pessoas não conseguem falar sobre isso com os outros,

ou então nem sabem que podem ter depressão.

Pensam que você é bem resolvida por sempre falar sobre sexo?

Muito. Eles diziam: “Meu Deus, como você tem depressão? Você é

uma mulher tão inteligente, tão segura de si, como alguém assim é

deprimida?”. Tenho depressão desde a adolescência, tomo remédio e

não tenho vergonha de falar disso. O primeiro vídeo sobre depressão foi

muito doloroso de fazer. Chorei o vídeo inteiro, falei sobre a primeira

vez que eu quis me matar. O resultado: as pessoas me paravam para

conversar ou me mandavam mensagens dizendo como aquilo as ajudou.

Você mencionou que não tem pretensão de ser a Laura. As

pessoas te comparam muito com sexólogas conhecidas?

O tempo todo. Acho engraçado porque não é meu objetivo. A minha

intenção é ser alguém que vai passar conhecimento de forma leve,

engraçada, aos poucos.

Eu faço questão de abordar

o assunto porque muitas pessoas não

conseguem falar sobre isso

Existem várias sexólogas e pessoas dando conselhos de

sexo no YouTube, mas você tem um alcance muito grande

na internet. O que seu conteúdo tem de diferente?

Eu sei da vida sexual de muita gente porque eu sou muito aberta sobre

a minha. Acho que a diferença é que eu torno isso um assunto pessoal,

de amiga, e não como alguém que está analisando.

O que você acha dos conselhos sobre sexo que dão por aí?

Acha que o conteúdo é abordado de um jeito que funciona?

Um tempo atrás, os discursos sobre relacionamentos e sexualidade

eram desesperadores. Pessoas faziam conteúdo ensinando a “segurar

marido”, como ser “irresistível para o outro”. Totalmente o contrário

do que eu defendo, que é “seja uma pessoa incrível para si mesma”

Mas ainda compartilham essas ideias, “você tem que fazer estas x

coisas senão ele vai separar ou te trair”. A gente precisa viver bem,

não precisa ter um homem para ser forte.

34 revista hedonê

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seção de papo ereto

E o conteúdo ainda é muito focado em relacionamentos

heterossexuais/heteronormativo?

Sim, é tudo muito heteronormativo, sempre que eu faço um vídeo

focado muito nos héteros eu peço desculpas. Quero muito trazer diversidade

para o meu canal, acho isso muito importante.

Seu público é majoritariamente feminino ou não há muita

diferença? Recebe muitas dúvidas de fãs?

Hoje, meu público é 60% feminino e 40% masculino, focado em jovens

entre 18 a 25 anos. O maior engajamento é feminino, elas são mais

fortes nisso, e eu gosto demais delas porque tem uma empatia grande.

Recebo muitos emails e mensagens nas redes. Uma única vez que

eu abro espaço para perguntas já rende conteúdo para cinco vídeos.

Fazer vídeos sobre sexualidade e comportamento atrai muita

atenção não-solicitada de homens?

Ainda acontece, sim. Mas, infelizmente, tive que aprender a lidar. Eu

não olho as mensagens privadas do Instagram para me preservar. Eu

sei o que vou achar: apesar de ter coisas muito legais, também vão

ter os xingamentos, as mensagens grosseiras que os homens mandam

para mim. É como se eu tivesse saído na rua e recebesse uma cantada,

eles não entendem que isso é assédio. Não vou dar ibope, porque é

o que a pessoa quer. Só dou atenção para quem fala coisas legais e

tem educação.

Dora sempre busca, nas suas mídias

sociais, passar a mensagem

de ser mulher e muito empoderada,

para que suas seguidoras

também se enxerguem dessa maneira

E algum assunto do qual você ainda não falou em seu canal,

mas gostaria ou pretende falar?

Quero fazer um vídeo sobre aborto, acho que é muito importante. Mas

eu sinto que o momento não é favorável, e quando este vídeo sair, não

vai ser sobre a minha opinião. Eu acredito que aborto é tema de saúde

pública. Se eu for falar, vai ser com alguém como o Drauzio Varella,

para que todos os argumentos sejam baseados em estudos na área da

saúde. Óbvio que eu tenho uma opinião sobre isso, mas acho que não

tenho que catequizar as pessoas. Meu ponto é passar informação. Mas

sem dúvida alguma eu vou discutir sobre isso, porque são assuntos

que eu gosto muito: saúde e o corpo das mulheres.

14 revista hedonê hedone.com.br 37



@sabrinagevaerd

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39



seção de papo ereto

seção de papo ereto

18 revista hedonê

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Hanna Postova

ponto g

VULNERABILIDADE

E EDUCAÇÃO SEXUAL

Mulheres que recebem educação sexual estão menos

vulneráveis a ist, gravidez precoce e indesejada e violência

Por Mariana Varella

Uma das melhores lembranças que tenho

da época da escola fundamental envolvem

a professora de Ciências Laura.

Foi ela quem me ensinou as belezas do

funcionamento do corpo humano, em especial do

sistema reprodutor. Ela também foi responsável

por desfazer, com informações científicas, as ideias

preconceituosas e erradas sobre sexo e reprodução

que eu ouvira de colegas mais velhos.

Hoje atribuo à Laura e aos demais professores

que, juntamente com meus pais, me instruíram a

respeito de questões relacionadas à sexualidade e

ao funcionamento biológico do organismo, o fato

de não ter engravidado na adolescência, de ter

conhecimento sobre meu próprio corpo e sobre

infecções sexualmente transmissíveis (ist). Fiquei,

sem dúvida nenhuma, menos vulnerável durante

o início da minha vida sexual.

Mas essa não é a realidade da maioria das brasileiras.

Dados do Sistema de Informações sobre

Nascidos Vivos (Sinasc) mostram que dos quase

3 milhões de nascidos em 2016, 480 mil eram filhos

de mães entre 15 e 19 anos, o que representa

16% de todos os nascimentos do país. Apesar da

queda do índice de gravidez na adolescência nos

últimos dez anos, ainda temos 68 bebês de mães

adolescentes para cada mil meninas entre 15 e 19

anos, sendo a taxa mundial de gravidez nessa faixa

etária estimada em 46 para cada mil meninas.

Não são apenas as mulheres jovens que carecem

de informações sobre o funcionamento do

próprio corpo e da sua sexualidade. É comum

surgirem dúvidas a respeito das mudanças físicas

que interferem no sexo depois da menopausa.

Luísa (nome fictício), que passou por uma terapia

hormonal quando teve câncer de mama aos

42 anos, demorou para compreender o impacto

que o tratamento teve em sua vida sexual. Ela diz

que se tivesse aprendido sobre como seu corpo

funciona e sido orientada a respeito dos efeitos

adversos dos medicamentos, não teria demorado

tanto tempo para entender que as alterações que

sentia eram hormonais. “Eu me culpei por não

conseguir corresponder ao que meu marido esperava,

achava que estava sem interesse por causa

de tudo pelo que tinha passado. Só depois de me

consultar com dois médicos soube que minha falta

de libido era fruto dos remédios que tomei.”

Nesse sentido, são preocupantes as sinalizações

do governo federal sobre a relevância da educação

sexual nas escolas. No dia 9/2/19, o ministro da

Educação Ricardo Vélez Rodrigues afirmou que o

programa “Saúde nas Escolas” poderá ser alterado

para não ofender famílias conservadoras, mas

sem explicar quais mudanças pretende realizar.

Já no dia 07/03/2019, o atual presidente

Jair Bolsonaro revelou em sua rede social que

pretende alterar a “Caderneta Saúde do Adolescente”,

do Ministério da Saúde, cujo público-

-alvo são jovens de 10 a 19 anos e que contém

informações sobre saúde, incluindo a sexual.

Sexo e sexualidade fazem

parte da humanidade e da vida

das pessoas, e negá-las ou

ignorá-las traz consequências

para a saúde pública

No trecho citado por Bolsonaro, há informações

sobre anatomia e fisiologia e sobre como

colocar o preservativo masculino, comuns em

materiais instrutivos e didáticos.

Para o infectologista da USP Rico Vasconcelos,

“sexo e sexualidade fazem parte da humanidade e

da vida das pessoas, e negá-las ou ignorá-las traz

consequências para a saúde pública.”

O médico lembra que deixar populações fora

do discurso de saúde pública as torna mais vulneráveis.

No caso das mulheres, isso significa dizer

que não ensiná-las a usar preservativos, a conhecer

as ist a que estão expostas e não tratar da

sexualidade como tema de saúde e educação as

deixa mais suscetíveis a gravidez indesejada, infecções

como hiv e sífilis e até violências.

Não é uma tarefa que possa ficar restrita a pais

e familiares, principalmente considerando que

a maioria dos abusos de crianças e adolescentes

ocorre dentro de casa. Segundo levantamento de

2014 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea), com base em dados do Sistema de Informações

de Agravo de Notificação do Ministério da

Saúde (Sinan), há pelo menos 527 mil estupros por

ano no Brasil, sendo 70% das vítimas crianças e

adolescentes. Em 24,1% dos casos, o agressor é o

pai ou padrasto, e 32,2% são amigos ou conhecidos.

Para que as mulheres tenham acesso pleno a

direitos sexuais e reprodutivos, é preciso que recebam

educação sexual e sobre saúde. Só assim

terão mais autonomia para desempenharem sua

sexualidade de forma segura e satisfatória.

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43



mina com mina

Sharon McCutheon

COLAR VELCRO

SEM DST

Como se proteger de dsts, entre mulheres, num mundo de

camisinha em que o pênis é o personagem central?

Por Jessica Tauane

Meu nome é Jessica, tenho 25 anos e

sou lésbica. Nem sei quantas vezes

por dia me apresento assim. Acontece

que essa coisa de ser lésbica

se tornou meu “ofício”. Criei um canal lgbt no

YouTube, o Canal das Bee, para discutir coisas

que nem sabia o nome ainda.

Gravando para o canal descobri coisas como

o feminismo, a transfobia, que eu era muito odiada

por ser gorda… tantas coisas! Uma vez tive

a oportunidade de conversar com um médico,

homem gay cis, sobre saúde sexual para lésbicas,

o Dr. Marcelo Rocha. Hoje o assunto aqui fala

justamente sobre isso. De pessoas que têm vagina

e transam com outras pessoas que têm vagina. Sejam

elas mulheres lésbicas e bissexuais cisgêneras

(pessoas que não são trans), sejam homens trans.

O termo que vou usar (sexo lésbico) diz respeito à

minha identidade, de mulher cis lésbica.

Como se proteger de dsts num mundo de camisinha?

Como se proteger dessas doenças num

mundo em que o pênis é o personagem central?

Como se proteger contra dsts quando a gente

nem tem coragem de falar sobre isso?

Colar velcro é arte, se proteger faz parte

Sexo entre mulheres é bom demais. A “falta” de

um pênis não faz realmente falta, no final das contas.

É possível ter prazer, e muito, sem um falo. O

corpo da mulher é lindo, com todas suas nuances

e terminações nervosas e bilhões de possibilidades.

Temos vaginas, mas também temos mãos, bocas,

línguas. Para estimular os pontos erógenos não precisa

de muito. Só vontade, tesão e consentimento.

Mas boca naquilo e aquilo na boca, aquilo

naquilo e aquilo naquilo outro também podem

transmitir doença. O Dr. Marcelo me explicou

que se há contato entre mucosas ou entre sangue,

há riscos. Boca tem mucosa, vagina também.

Boca tem saliva, vagina tem secreções (ufa!).

Brinquedinhos penetrativos também têm risco de

transmissão. E nem me deixe citar o sangue da

menstruação, ô tristeza. Também tem risco.

Mas Jessica, o que faço? Paro de transar menstruada?

Paro de usar brinquedo? De colar velcro?

Não! Você pode continuar fazendo tudo isso.

Aliás, você DEVE continuar! Lembre-se sempre

que, no mundo onde a gente vive, o amor e o

afeto entre mulheres é revolucionário. Você tem

todo o direito de colar seu velcro em paz.

Mas o que falta entre a gente é justamente isso

aqui que estamos fazendo: nos comunicarmos melhor.

Nos conectarmos. É a gente falar sobre nossas

próprias experiências e caminharmos juntas.

Como colar velcro em segurança

O sistema de saúde não está nada preparado

para nós. Os médicos, idem. Se nem eles sabem

como nos aconselhar, fica difícil. Então, vamos

nós mesmas nos ajudar.

Sabiam que a incidência de câncer de colo de

útero em mulheres lésbicas que tem vagina é muito

maior que em mulheres heterossexuais com vagina?

O dobro! O dobro de câncer de colo de útero,

sabem por quê? Porque não falamos sobre isso.

Vou ilustrar com minha própria história. Quando

entendi que era sapatão, não consegui me aceitar.

Era a sociedade, minha igreja e minha família

ou eu. E, então, me obriguei, por anos, a me

relacionar com homens (cis). Heterossexualidade

compulsória, o nome disso. Lesbofobia mais ainda.

Mas sou lésbica, entendem? E 80% de nós, lésbicas,

já tivemos relações sexuais com homens cis,

também. Por “n” motivos. Aí, a gente cai nessa

de que “ah, transar entre mulheres é seguro, não

passa nada”, sem lembrar que: talvez nós já tenhamos

alguma coisa. Talvez nossas parceiras já

tenham também alguma coisa.

E tá tudo bem, sabe? Ter alguma dst não é

motivo para ter vergonha.

A gente vive nesse mundão de meu Deus aí querendo

ser feliz, sexo é vida e essas coisas acontecem.

O que não dá é ser besta e cair no erro de

não se proteger. E aqui que está a grande chave

da parada. Além das dicas sexuais que vou passar

já já (o que é bom fica pro final), a nossa principal

demanda tem que ser, mais uma vez e como sempre:

precisamos nos conhecer.

Já somos mulheres que não olham por tempo

suficiente pras nossas vaginas. Fui saber a quantidade

de “buraco” que tinha lá depois de adulta.

Eu nunca tinha olhado pra minha própria, nunca

tinha entendido que podia encostar lá, sentir prazer

lá, achar aquilo lá bonito.

Como nos protegemos

contra DSTs quando

nem temos coragem de

falar sobre isso?

A vagina é linda! Linda e cheirosa, como eu.

Oi, meu nome é Jessica, tenho 25 anos, sou lésbica.

Morro de orgulho de ser lésbica. Quero continuar

viva para contar tudo isso para vocês. Tô ligando

agora para minha ginecologista, de verdade.

E você, sapatão?

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tabu.ceta

O especialista observou que o Tetrahidrocannabinol

(thc), um dos mais de 400 compostos químicos

presentes na maconha, tem poder afrodisíaco nas

mulheres. A substância age no cérebro produzindo

relaxamento e alterações dos sentidos visual, auditivo

e olfativo. Esse barato, em baixa dose, tem

poder de aumentar o desejo sexual. O canabinol,

outra substância presente na planta, ajuda na desinibição,

relaxamento, aumenta a sensibilidade e

produz uma sensação de bem-estar.

Sexo tântrico, ayurveda, medicina tradicional

chinesa… São diversos os registros

milenares da maconha como produto afrodisíaco.

Contraditoriamente, em algumas

culturas, o produto já foi recomendado

para reduzir o apetite sexual. Ainda hoje é comum

ouvir relatos de pessoas que se sentiram nas nuvens,

enquanto outras tiveram sono.

A montanha-russa de efeitos aliada à dificuldade

em tratar dos benefícios de uma droga que é ilícita

em vários países colocaram os resultados sexuais da

maconha num território incerto. Hoje, em linhas

gerais, pode-se dizer que sim, a Cannabis produz

benefícios na sexualidade, especialmente para as

mulheres. A erva torna a atividade mais prazerosa.

São os especialistas que dizem!

Sempre há efeitos adversos

Quem exagera, pode ter problemas. A pesquisa

uruguaia alerta que o thc em alta dose pode causar

desorientação, taquicardia, nervosismo, ansiedade e

paranoia. O excesso de canabinol também coloca em

risco a estabilidade da ovulação e, consequentemente,

do ciclo menstrual, além de reduzir a lubrificação

vaginal, que pode evoluir para dor nas relações

sexuais. Ou seja, melhor não passar da conta!

São diversos os registros

milenares da maconha como

um produto afrodisíaco

Aleksandr Mavrin

A MACONHA E O

SEXO DAS MINAS

Na antiguidade a erva era considerada afrodisíaca para

o sexo feminino, mas só recentemente a ciência

começou a quebrar o tabu e esmiuçar esses benefícios

Por Vanessa da Rocha

No consultório

“Olha, você não tem nenhuma doença ou complicação

nos órgãos genitais. Está saudável. Mas eu

recomendaria que você conhecesse melhor o seu

corpo e relaxasse mais para a relação ser mais prazerosa.

Vou prescrever que você consuma maconha,

mas não exagera, hein!”

Não, os ginecologistas não estão receitando o

consumo nos países onde a maconha é legalizada,

mas faz algum tempo que especialistas têm observado

os efeitos da droga na líbido. Uma pesquisa

realizada em 1967 pelo sociólogo norte-americano

Erich Goode evidencia esse interesse. Das duzentas

pessoas que responderam ao questionário dele, 68%

relataram efeitos e estímulos na atividade sexual, a

maioria mulheres. Em 1970, a escritora Barbara

Lewis publicou uma obra sobre o assunto chamada

A maconha e a sexualidade. Na pesquisa, ela ouviu

32 pessoas, das quais 78% relataram usar a droga

para aumentar a satisfação sexual.

As pesquisas mais atuais procuram desvendar

como esses efeitos atingem o corpo humano e quais

são as substâncias presentes na maconha que causam

isso. No Uruguai, o sexólogo Santiago Cedrés,

presidente da Sociedade Uruguaia de Sexologia

publicou o artigo “A maconha e a sexualidade: os

efeitos do consumo e a resposta sexual”. Publicado

em 2013, ano em que a droga foi legalizada no país,

o texto coloca em termos científicos o que muita

gente já sente na prática.

No entanto, se a aprovação da maconha para fins

medicinais já é controversa no Brasil, com diversas

famílias penando para obter os medicamentos à

base de derivados da planta, imagina a liberação

do uso para a saúde sexual, né? Débora, portanto,

segue comercializando o produto dela somente

para as brasileiras que moram no Uruguai.

Mesmo tendo a clientela reduzida por causa

da legislação brasileira, ela segue com princípios

que estão bem acima da ideia de chapar a chana.

“Eu sigo adiante porque acredito que as mulheres

precisam estar em sintonia com a própria sexualidade.

Já recebi relatos de jovens que estão há anos

com o parceiro e vivem como atrizes, pois amam

os rapazes, mas não conseguem ter orgasmo com

eles. As mulheres precisam sentir prazer e viver

em bem-estar sexual, afinal, o sexo faz parte da

nossa vida e faz bem.”

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47



Vera Lair

match

FEMINISMO CHEGA

AOS SEX SHOPS

Contos eróticos narrados por mulheres e entregas por

motogirl estão entre as novidades

Por Eduardo Vanini

Lola e Iza apresentam o “#hersecret”, um

canal aberto sobre a sexualidade feminina,

sem tabus. “Tem um segredinho oculto,

alguma coisa que você tenha vergonha

de dizer para as amigas? Mande para a gente.”

Elas partem para as histórias enviadas por

mulheres de todo o Brasil. Pode ser uma “mana”

confidenciando seu fetiche por legumes criteriosamente

selecionados na feira, uma jovem entusiasmada

com os “carinhos” anais que tem feito

no namorado, ou uma cliente com dúvida sobre

um dildo. O programa faz parte da estratégia

de comunicação criada para a sex shop on-line

Pantynova, exclusiva para mulheres.

A loja delas pode soar como um oásis em meio a

um mar de equívocos sobre prazer feminino. Mas

não se trata de uma iniciativa isolada. Dildos, vibradores

e cosméticos andam ganhando novos formatos

e roupagens, à medida que o atendimento

às mulheres está mais sofisticado.

“Fazia muito tempo que a gente sempre circulava

por essas lojas, e nada nos representava”

conta Lola, que namorou Iza por 10 anos antes

de elas se tornarem apenas sócias. “Após inúmeras

compras, o máximo que acumulamos foi uma

sacola cheia de objetos frustrantes.”

A dupla fez uma pesquisa com 500 mulheres e

descobriu que a insatisfação era geral, daí a ideia

de colocar no ar a Pantynova. A loja tem um design

descolado e linguagem desencanada. Podcasts

e contos eróticos femininos apimentam o conteúdo,

sempre apresentando as mulheres como protagonistas.

Os produtos são uma atração à parte.

Lola e Iza descobriram uma forte demanda

por dildos que não reproduzissem o formato exato

de um pênis. Afinal, os objetos não serviriam

para suprir a falta de um parceiro, mas como um

instrumento capaz de possibilitar novas experiências

de prazer. A loja, então, lançou uma coleção

inspirada em formas botânicas.

“Faço os moldes em massinha e, depois, crio

protótipos em silicone, que testo em mim”, diz

Lola, “Se acho bom, repasso para as amigas, e

nos reunimos para comentar os resultados. Uma

vez aprovados, mando para a fábrica.”

Outro destaque da loja são os “strapons”, calcinhas

também desenvolvidas por elas, às quais

podem ser encaixados os dildos. O produto fez

sucesso ao romper com os modelos tradicionais e

nada confortáveis, feitos em couro ou napa.

“Às vezes, quando entregamos um produto,

as meninas nos agradecem com um abraço. Isso

nos mostra como as mulheres estão se sentindo

representadas”, comemora Lola, “Mas ainda

temos muito a caminhar. Há um enorme machismo

no mercado. Queremos que a mulher se

explore cada vez mais.”

Ela tem razão. Segundo Paula Aguiar, conselheira

da Associação Brasileira das Empresas

do Mercado Erótico e Sensual, hoje há 85 mil

mulheres vendendo produtos eróticos de porta a

porta no Brasil, e 70% do público consumidor é

feminino. Elas também são a maior força de trabalho,

já que 90% das sex shops no país têm uma

atendente mulher. Mas ainda se trata de um tabu.

Há um enorme machismo

no mercado. E nós

queremos que a mulher se

explore cada vez mais

“Basta lembrarmos que só 17% da população

brasileira usara, em algum momento da vida, um

produto dessa natureza. Muitos ainda tem vergonha

de entrar numa sex shop”, pondera Paula.

Ela afirma que as mulheres começaram a cruzar

as portas das sex shops somente há 15 anos. No

começo, praticamente só existiam produtos voltados

ao público masculino, mas a busca feminina

fez com que o jogo começasse a virar, desenhando

um cenário com lançamentos anuais de produtos

destinados à anatomia e aos desejos delas.

“As mulheres sempre foram as grandes cuidadoras

dos relacionamentos e, num primeiro momento,

buscavam artigos para agradar aos parceiros.

Agora também querem o melhor para elas. E o

mercado está atento a isso”, diz a conselheira.

No Rio, a sex shop on-line The L Vibe, dedicada

a mulheres lésbicas e bissexuais, também está

conectada às demandas femininas. A publicitária

Marcia Soares, de 33 anos, é a responsável pelo

negócio, que traz uma curadoria de produtos

“testados e aprovados”, para que ninguém fique

insatisfeita. Todo esse cuidado, segundo ela, faz

da loja também um ato político:

“Abrimos espaço para temas importantes,

como o aborto e os direitos dos homossexuais,

em nossas redes sociais. Além disso, quando nos

posicionamos como uma loja voltada a lésbicas e

bissexuais, naturalizamos esses termos.”

O resultado é uma caixa de e-mail repleta de

mensagens, e nem sempre só com encomendas.

Boa parte é de mulheres agradecendo pela iniciativa.

Elas não estão mais sozinhas.

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seção de siririca

VOVÓ

TAMBÉM

GOSTA

DE SEXO

Mulheres com mais de 70 anos

mandam a real sobre sexualidade

Por Giulia Garcia

Fotos: Erwin Olaf

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Há sexo depois da menopausa, e ele é, embora obviamente

diferente, tão gostoso como sempre foi. Mas para não se

desconectar dessa certeza é preciso ultrapassar a barreira

que entende a menopausa – em todas as suas mudanças

internas e externas no corpo – como sintoma do fim da sexualidade.

“Essa ideia surge, em parte, pela ligação que se faz entre sexualidade

e reprodução, uma noção que tem mantido as mulheres distantes da

possibilidade de terem prazer e se realizarem sexualmente”, diz Halana

Faria, médica ginecologista do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.

Para além dos efeitos da menopausa, o envelhecimento em si soa

como um obstáculo insuperável para muitas mulheres. “Não gosto

de me olhar no espelho. Não gosto das rugas”, diz Thereza Pierroti,

85 anos, refletindo um sentimento que reverbera sensações de muitas

mulheres. “Se o corpo jovem for colocado como protagonista do prazer,

quando chegarmos na terceira idade, viveremos mais limitações do

que possibilidades”, afirma a sexóloga Denise Miranda de Figueiredo.

Para Rozima Nascimento, 70 anos, tudo isso não gera bloqueios.

O tesão para ela não acabou quando passou da casa dos 50. “Se bate

a química, não tem idade”, afirma. Essa visão encontra respaldo no

que defende Halana: “Existe uma questão fisiológica de diminuição

da libido, mas existe também uma construção social de que o homem

se mantém ativo e vigoroso no envelhecer, enquanto as mulheres decaem”.

Tal construção social estimula a formação de tabus ao redor

do assunto, fazendo com que as mulheres principalmente se retraiam.

“O envelhecer não significa tornar-se assexuado, existem mitos e tabus

acerca da sexualidade na velhice”, diz a gerontóloga Tatiane Andrade.

Círculo do fogo

Em 2014, a atriz e ex-modelo da Chanel Vera Barreto Leite reencontrou

um dos homens de sua história e sentiu seu corpo esquentar. Depois

de 55 anos separados, ela estava de novo ao lado do fotógrafo Frank

Horvart. Dessa vez, porém, ela tinha 78 e ele, 87 anos.

Viúva há dez anos, conta que seu marido a procurava todas as noites,

até a última (aos 78). Para ela, pouco mudou desde sua primeira vez,

com esse mesmo homem aos dezesseis anos. Já para Rozima as coisas

Ao fazer ensaios sensuais com mulheres

acima dos 70 anos, o fotógrafo

holandês Erwin Olaf mostrou que

a sensualidade não termina

quando as rugas começam a aparecer

mudaram. Mas ela não reclama: “Sexo é muito melhor com 60. Com

20, você não tem tanta experiência”.

O que diz Rozima reflete a importância do sexo em sua vida. “Pra

mim, é necessário, faz falta.” “Sexo é vida”, engrossa o coro Vera. Mas

Thereza, embora nunca tenha deixado de transar com o parceiro em

62 anos de relacionamento, admite que o fazia mais por rotina do que

desejo. “Eu dava porque tinha que ser, era parte do casamento. Nunca

fui gamada em sexo, fazia mais por obrigação”, conta.

Meia bomba?

Entre os tabus, um dos principais é a dificuldade de entender que há

sexo para além da penetração. E se os old boys não entendem, dá para

exercitar sozinha a própria sexualidade. “Uma mulher que quer ser

feliz na vivência da sua sexualidade precisa entender primeiro como

ter prazer sozinha”, defende a ginecologista do Coletivo Feminista

Sexualidade e Saúde. Na prática: “Se eu acordo com tesão, mesmo

agora, imediatamente minha mão vai no sexo”, conta Vera.

O tabu da masturbação nasce de uma construção social que condena

a atitude. “Minha mãe colocava na minha cabeça que era totalmente

errado, feio, sujo. Isso me bloqueou, pois, quando você tenta fazer,

lembra das palavras dos pais. Eu tinha uns 30 anos quando comecei

a me tocar. Hoje em dia, acho normal”, explica Rozima.

Halana entende o processo de descobrir seu corpo a partir do auto-toque

como fundamental. Mas estar na frente do espelho vai além

desta intimidade, passa bastante pela autoestima. A sexóloga Denise

lembra que no envelhecimento é preciso passar por um processo

de redescoberta, entendendo as possibilidades e limites desse novo

Minha mãe colocava

na minha cabeça que era

totalmente errado, feio, sujo

corpo. Não se pode deixar que a série de alterações físicas afetem o

psicológico a ponto de interferir na busca pelo prazer.

A vaidade, para Rozima, é um ponto essencial para não cair nesses

conflitos. “Sempre gostei de roupa sexy, calcinha e sutiã de renda.

Minhas roupas não são pra ninguém ver, são para eu me olhar no

espelho e me sentir bonita”, conta. Para Thereza, seu corpo – sem

arrumações – basta. “Adoro ficar pelada. Não vejo banha caída, não vejo

gordura, nada. Se eu tiver que ir ao banco de shorts, eu vou. Me sinto

bem. Não tô jovem, mas não me sinto velha, acabada, caquética”, diz.

Barreira interior

Além das mudanças externas, a ginecologista Halana Faria lembra do

desafio trazido pelas mudanças fisiológicas. A diminuição da libido é

comum e a vagina, a vulva e o trato urinário inferior tendem à atrofia

pelas alterações hormonais. Essas questões, porém, podem ser contornadas

com visitas regulares a médicos que tratem de incluir a sexualidade

entre os assuntos clínicos. “Acredito que o tema muitas vezes não seja

discutido por ser um tabu e porque muitos profissionais assumem que

a sexualidade dessas mulheres é inexistente”, pensa Halana.

Para a gerontóloga Tatiana, a falta de discussão sobre a sexualidade

na terceira idade é um dos principais fatores do aumento no contágio

de dsts entre idosos. “Por conta dos mitos relacionados ao assunto,

ignora-se que os idosos ainda possuem interesses sexuais. Campanhas

de prevenção de dsts são precárias para esse público”, diz.

52 hedone.com.br

revista hedonê

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As modelos foram Anelise Visser, Heidi

Jansen e Antje De Vries, mulheres

lindas que provam que

“dobrinhas”, cabelos brancos e

rugas também podem ser sensuais

O não-uso de métodos protetivos não é de hoje. “Nós éramos uma

geração que não tinha pílula, nada fora a lua e a tabelinha. Com essa

sexualidade tão liberada, era difícil se proteger, fiz muitos abortos”,

conta Vera. Thereza, que só teve relações com seu marido, diz que

nunca utilizou nenhum método.

Mas falar de sexo não é - e era ainda menos - comum. A vida

sexual de Vera, por exemplo, teve início cedo, muito antes de pensar

em casamento. Com a mãe artista, cresceu nos camarins, tornou-se

modelo e atriz e sua sexualidade sempre foi muito livre: “Eu tinha

tesão, eu trepava. Nunca tive problema com isso”. E completa: “Eu

gosto de um caralho, viu? Acho muito interessante aquela coisa que

se transforma, que cresce. Me dá um tesão fodido”, completa.

Para outras, essa liberdade não existia como possibilidade sequer

remota. “Papai não deixava ninguém entrar dentro de casa, não

podia namorar. Tinha facão enfiado atrás do sofá”, lembra Rozima.

O sexo não era assunto em sua casa, no interior do Rio de Janeiro.

“Antigamente, a mulher não podia sentir prazer, era errado. Só puta

podia sentir prazer”, diz. Foi só depois do casamento, aos 16, que ela

conseguiu entender seu corpo e descobrir o sexo, o tesão…

Em seus três casamentos e nos tempos de solteirice, Rozima sempre

se permitiu explorar seu corpo. “Acho que muitas mulheres que só tem

um homem, acabam não sabendo o que é o prazer, porque se prendem

na ideia de que só o homem tem que se satisfazer e você não”, diz.

“A sexualidade é romântica. Mesmo no topo, você entrega a alma”,

diz Vera. Ela fez questão de passar para suas filhas a mesma liberdade

que teve e não vê como a geração de seu bisneto ainda possa ter problemas

com repressão sexual. Rozima acrescenta: “Precisamos entender

que nem sempre sexo e amor estão associados, às vezes é só tesão”.

Fugindo dos estereótipos de vovó, há mulheres que entendem, falam

e vivem sua sexualidade certas de que não faz sentido condenar

ou rotular ninguém. “Eu sou o que eu sou. Sempre fui porra louca e

não quero ser diferente, gosto de ser assim. Acharam ruim? Problema

deles, não é meu, porra”, afirma Thereza. “Se vocês sentem que estão

se reprimindo, a primeira coisa a fazer é procurar as feministas, ser

atuante como mulher, porque é a maneira que você tem de se libertar”,

defende Vera, em um chamado para toda mulher, de qualquer idade,

entender que viver de outra forma não faria nenhum sentido.

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@sabrinagevaerd

seção de td mundo nu

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além do sexo | filmes

além do sexo | séries

A favorita

Yorgos Lanthimos, 2019

O romance, indicado ao prêmio de

melhor filme do Oscar 2019, narra a

vida da Rainha Ana, tendo sua

confiança e seu amor disputados por

sua amante e sua nova criada.

Elenco: Olivia Colman, Emma Stone,

Rachel Weisz, Nicholas Hoult

Me chame pelo seu nome

Luca Guadagnino, 2018

O filme, indicado ao Oscar de 2018,

narra a história de amor entre

um rapaz de 17 anos e um homem

de 28. A trama é capaz de

encantar a todos os espectadores.

Elenco: Timothée Chalamet,

Armie Hammer, Michael Stuhlbarg

Newness

Drake Doremus, 2017

Newness traz em pauta o grande

embate afetivo-sexual do século 21:

relações descartáveis resumidas

em sexo versus relações duradouras

resumidas em amor e carinho.

Elenco: Laia Costa, Nicholas Hoult,

Courtney Eaton, Pom Klementieff

Game of Thrones

David Benioff, 2011-

A série dramática record de maior

transmissão simultânea pelo mundo

volta às telas nesse ano para dar

continuação ao enredo das incríveis

lutas pelos tronos, repletas de

alianças e conflitos.

Elenco: Emilia Clark, Kit Harington

Sex Education

Laurie Nunn, 2019-

Divertida e educativa, a série recémestreada

conta a vida de Otis,

virgem e filho de terapista de sexo,

que se junta a uma amiga para

criar uma clícina de saúde sexual.

Elenco: Emma Mackey,

Asa Butterfield, Ncuti Gatwa

Easy

Joe Swanberg, 2016

Easy é a série ideal para quem tem

pouquinho tempo para se

divertir. Seus curtos 16 episódios

contam histórias complicadas

de amor, relacionamentos e sexo.

Elenco: Dave Franco, Marc

Maronn, Jac Toboni, Orlando Bloom

Anticristo

Lars von Trier, 2009

Anticristo, clássico do cinema e das narrativas de terror,

ocupa nossa posição de destaque já que se trata

de um filme chocante, inquietante e explícito. A história

trate de uma escritora e um psicanalista que

vivem experiências anormais pós-morte de seu filho.

Elenco: Charlotte Gainsbourg, Willem Dafoe

The Handmaid’s Tale

Bruce Miller, 2017-

Imperdível, a série-destaque é a vencedora de muitos

prêmios, como o de Melhor Série Dramática e oito

Prêmios Emmy. Ela narra um futuro – muito

atual – distópico, em que a sociedade é organizada em

castas sociais, nas quais mulheres são subjugadas.

Elenco: Elizabeth Moss, Yvonne Stz., Joseph A. Fiennes

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revista hedonê

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açutarado

ARTE ERÓTICA

Usando um estilo realista, Ivan Alifan

cria provocativas pinturas em que ele

retrata homens e mulheres cobertos

por creme, chantili e outras substâncias

líquidas pastosas brancas.

Ivan Alifan é um artista de origem russa, que

estudou no Canadá e na Itália. Com sede em

Nova York que explora paralelos entre alimentos,

sexo e nosso anseio inextinguível por esses

prazeres indulgentes. Os desejos humanos e as

fantasias sexuais ganham vida em suas lindas e

luxuosas pinturas à base de óleo.

As telas picantes de Alifan vêm em uma série

de tons celestiais e texturas pródigo enquanto explodem

com ricas metáforas sexuais. Usando sorvete,

sobremesas e outros alimentos sensuais, ele

invoca um caminho visual para os espectadores

se envolverem com sua sexualidade e desbloquearem

curiosidades carnais internas.

Batizada de “Not Milk” (“Não Leite”), essa

série de pinturas, com um estilo próximo ao foto-realismo,

ao mesmo tempo mostra algo lúdico,

uma brincadeira com comidas e sobremesas, e

algo subjacente, ao explorar uma certa sexualidade

que o espectador invariavelmente dá significado

ao ver essas pinturas.

De fato, nas palavras do artista: “Esta série é

uma exploração do olhar moderno, das pinturas

figurativas ambíguas que são reveladas e transformadas

pelo ato do olhar individual. Esses retratos

não são uma tentativa de mostrar características

físicas, mas criar uma linguagem de subtextos sexuais

subjacentes. Usando a ambiguidade como

ferramenta, o espectador é obrigado a explorar

sua psiquê e descobrir uma auto-consciência.”

Alifan, de 27 anos, recebeu recentemente o

prêmio Bombay Sapphire 2016 Artisan Series

apresentado em dezembro de 2017 na Art Basel

Miami Beach e na Galeria Allouche e Joseph

Gross Gallery, em Nova York.

“Da mesma forma que meu trabalho é repulsivo

é atrativo. Repulsa é o sentimento desconfortante

que o espectador obtém porque ressoa com as

fantasias mais profundas que se escondem dentro

de nós. A atração são as cores pastel convidativas e

a qualidade da sobremesa que se conecta à nossa

inocência”, afirma sobre seu trabalho ao Konbini.

Na série Mãos ele retrata closeups de pessoas

envolvidas em diversos atos sexuais como uma

maneira exclusiva de mostrar que como nossas

mãos e dedos possuem sua própria linguagem sexual.

“Tentei pintar esses estudos como ambíguos

e sugestivos quanto pude, removendo qualquer

genitália. Além disso, tirei as informações desnecessárias,

deixando o espectador criar a imagem

completa para ele ou ela mesma.”

“Eu acredito que uma boa pintura deva questionar

o fundamento moral e emocional de uma

maneira misteriosa e profunda, expondo medos,

desejos e vulnerabilidade que o espectador nunca

conheceu ou possuía.”

Usando a ambiguidade

como ferramenta, o

espectador é obrigado a

explorar sua psiquê e

descobrir a auto-consciência

Ivan Alifan

E DELICIOSA

Pintor mistura erotismo e sobremesas

em artes nsfw deliciosas

Por Rafael Rosa

Além de todo o subtexto sexual que as figuras

cobertas por cremes, chantili e outras substâncias

provocam, Ivan Alifan também explora a relação

da sexualidade com a comida em si, mais especificamente

doces e sobremesas. O resultado não só

associa os dois atos (que em português podemos

usar apenas um verbo: comer), mas também cria

laço entre objetos: o sexual e o alimentar.

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arebaba

MUITO MAIS

QUE POSIÇÕES

OKama Sutra de Vatsyayana ou simplesmente

Kama Sutra é um dos maiores

legados literários do mundo. É aquele

livro conhecido no ocidente como um

verdadeiro tratado sobre posições sexuais. Mas, na

verdade, a obra vai muito além disso.

Escrito há cerca de 2 mil anos, o texto pode

ser considerado como um livro de instruções sobre

o sexo, o amor e a busca da felicidade na

sociedade indiana da época.

É um resumo dividido em sete partes de instruções

para cidadãos saudáveis. Essa obra indiana

é um marco científico e artístico, que instrui

sobre o melhor aproveitamento da vida. É

famoso sobre seus ensinamentos sobre técnicas

sexuais, mas vai muito além.

O que pouco se fala é sobre a parte mais

“moralista” do livro, segundo a qual, homens

e mulheres devem ser educados nas 64 artes e

ciências antes de se entregarem aos prazeres da

carne. Estes ofícios incluem tatuagem, magia,

fazer carruagem de flores e, até mesmo, ensinar

papagaios a falar.

Entre seus conselhos, estão dicas para escolher

um parceiro ideal, com quem possa viver de

maneira virtuosa e como construir um lar feliz e

repleto de contentamento para ambos.

Essa mistura de moral com erotismo desinibido

cativou a imaginação da sociedade vitoriana,

e o conteúdo do Kama Sutra continua fascinante

até os dias de hoje.

Pela primeira vez, a obra ganha ilustrações

de uma mulher. Foi a londrina The Folio Society,

editora de livros de ilustração que lançou uma

nova edição deste livro erótico que conta com

mais de 2000 anos.

Pensada para os millenials, foi ilustrada por

Victo Ngai, nomeada entre os melhores jovens

com menos de 30 anos na área das Artes e Moda

pela revista Forbes. Natural de Hong Kong, ela

já é considerada uma das melhores profissionais

de sua área com menos de 30 anos e empresta

seu estilo a esta edição limitada da obra. Ao invés

de desenhos muito explícitos, a versão traz

ilustrações que apenas sugerem o erotismo, segundo

os editores.

Essa mistura de moral

com erotismo cativou a

imaginação da sociedade,

e o conteúdo do Kama

Sutra continua fascinante

até os dias de hoje

A edição limitada possui apenas 750 cópias

impressas e promete ser a que permite uma maior

imaginação e destaca o prazer da mulher ao contrário

das publicações anteriores, em que parecia

que era o homem a ganhar um papel principal.

“Muitas das cenas são compostas de um modo

que situa o observador do ponto de vista da mulher”

explica Victo, citada pelo Daily Mail.

Cada uma das cópias desta edição limitada é

numerada e estão sendo vendidas pelo equivalente

a £ 395 (cerca de R$ 2.000).

A obra é vendida em uma caixa própria e traz

25 ilustrações em preto e branco representando

diferentes posições sexuais, além de uma impressão

assinada pela própria artista.

Victo Ngai

Kama sutra ganha nova versão ilustrada

por uma mulher e vai muito além do sexo

Por Clara Caldeira

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dedo no cu e poesia

Aaron Burden

O QUE O SOL FAZ

COM AS FLORES

Sucesso mundial, a poeta

indiana Rupi Kaur tem segundo livro

traduzido para português

Por Blanca Cia

Com voz e gestos suaves, Rupi Kaur explica

que o que conta em seus poemas

e ilustrações são coisas universais, que

acontecem com muitas pessoas. Seu

primeiro livro de poemas Outros jeitos de usar a

boca foi traduzido para mais de trinta línguas e

vendeu 100 mil exemplares só no Brasil. Agora,

aos 24 anos, a jovem, que nasceu no Punjab (Índia)

e emigrou para Toronto (Canadá), aos três

anos de idade, tem seu segundo livro O que o Sol

faz com as flores, traduzido para português também

pela editora Planeta.

À Hedonê, Kaur, durante um evento literário

em Barcelona, no ano passado, disse utilizar

a poesia para denunciar a discriminação sofrida

pela mulher, especialmente no âmbito sexual, e

sua luta na busca do amor. “Comecei a escrever

o primeiro livro pensando em um público de mulheres

jovens asiáticas ou emigradas, como eu. No

início funcionou assim. Mas, à medida que viajava

pelo Canadá e pelos Estados Unidos e lia os

poemas em festivais, ia vendo cada vez havia mais

mulheres ocidentais. Foi uma surpresa, mas logo

percebi que eram questões universais e, apesar

das diferenças culturais e sociais, há muitos pontos

em comum”. Agora, assim como no volume

de estreia, em O que o Sol faz com as flores os temas

das poesias e ilustrações circulam ao redor de temas

como amor, infanticídio, depressão, perda e

abuso sexual e psicológico.

“Desde pequena me interesso pela igualdade

da mulher e, por isso, meus poemas falam dessas

coisas. Eu as conheci em primeira mão. Escrevo

sobre experiências reais de mães, tias, primas e

amigas minhas. Para mim foi uma catarse escrever

isso”, comentou. Kaur costuma se apresentar

como mais uma de dezenas, centenas ou milhares

de jovens que emigraram com suas famílias da

Ásia e cresceram em outra sociedade com outros

valores. “Fomos com minha mãe e meus quatro

irmãos para Toronto. Via pouco meu pai porque

trabalhava a semana toda fora, não o reprovo.

Mas foi minha mãe que nos criou e entendo

muitas mulheres como ela que não falam inglês

apesar de viverem há 20 anos no Canadá. Penso

como seria eu com sua realidade, se passasse o dia

inteiro limpando e cozinhando em casa e presa

entre dois mundos.”

Apesar das diferenças

culturais, as questões das

mulheres são universais

Com formação universitária em retórica e um

curso de escrita criativa, Kaur admite ser mais

leitora de narrativa do que de poesia. Antes do

primeiro livro, começou a escrever os poemas

sem ter um rumo claro, publicou alguns nas redes

sociais – tem mais de 400.000 seguidores no Facebook

– , com o sucesso, fez uma edição independente.

“Logo me contatou um editor dos Estados

Unidos – Andrews McMeel – que queria fazer

uma coleção de livros de poesia de escritores jovens

e reeditou Outros jeitos de usar a boca”. Depois

disso virou best-seller. “São livros de poesia

com muito sentimento, até poderia ser entendido,

de certa forma, como autoajuda. Escrevo de maneira

direta, simples, acessível, algo que a poesia

não costuma ser”, reflete ao ser perguntada sobre

os motivos de seu sucesso.

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seção de pikasso

EROTISMO

VISUAL

Prazer feminino, surrealismo, naturalidade e

masoquismo estão entre os temas abordados pelos

artistas que você precisa conhecer

Por Paula Jacob

Polly Nor

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Não é de hoje que artistas de todo o mundo representam

cenas de sexo em seus desenhos. Antes de ser taxada

de arte transgressora, esse tipo de imagem era usado

para fins religiosos, retratando a força do ato sexual

como um potencial energético sobrenatural. Hoje, elas aparece

em quadrinhos, livros, esculturas, nos museus, nas redes sociais,

nos muros das cidades e por aí vai.

Separamos seis perfis de ilustradores incríveis que só desenham

“aquilo” para você seguir no Instagram, soltar as amarras e deixar

a imaginação fluir à vontade.

@SabrinaGevaerd

Partindo de um ponto de criação bem afastado da male gaze, conceito

que coloca as artes visuais em torno do espectador masculino,

a brasileira cria verdadeiras mandalas femininas. “Minha

tentativa é mostrar a nudez, a suavidade, a força e o erotismo na

sua natureza mais expurgada do olhar do outro, sem voyerismos,

apenas uma fantasia” explica.

O prazer da masturbação, os movimentos e as reações do corpo

da mulher são envoltos por elementos da fauna e da flora, para retratar

um universo o mais natural possível. Os desenhos são feitos

com lápis, nanquim e aguada. A fase de colorização é feita após a

artista digitalizar as obras, que são impressas em canvas.

@FridaCastelli

A ilustradora italiana mistura cenas cotidianas com alguma pitada

erótica, para deixar a sua história um pouco mais interessante. “É

como se fosse um diário aberto.

Quero me conectar com meus próprios sentimentos e pensamentos,

e o desenho faz essa função”, explica. Sob o olhar de Frida,

uma simples macarronada pode ganhar texturas e cores intensas

que te envolvem sem inocência alguma.

Para criar todo esse universo semi-irreal, ela faz de suas próprias

fotos os rascunhos de grafite e os colore com lápis de cor ou giz de

cera. “Gosto de deixar os errinhos, faz parte da vida”, brinca.

@Nudegrafia

Grande sucesso do Instagram, este artista brasileiro (ou seria artista?)

– que não se identifica na rede – revive os quadrinhos com uma

honestidade intrigante das mais diversas posições sexuais. Guido

Crepax, Milo Manara e Moebius (pseudônimo de Jean Giraud) são

as principais fontes para a fidelização da estética de suas ilustrações.

As cenas nos fazem lembrar momentos eróticos com nossos parceiros,

ou até fantasias que não chegamos a realizar.

“Os espanhóis foram os meus primeiros seguidores fiéis. Depois

vieram os portugueses e aí os brasileiros. Ainda somos um povo

muito conservador, meu ID já foi denunciado algumas vezes”, relata,

mesmo enfatizando que o público varia entre os amantes de soft

e de hard porn. Sobre o anonimato, diz: “Nelson Rodrigues já dizia

que a parte mais indecente do corpo humano é o rosto. Esconda-o

e poderá mostrar todo o resto”. Nudez descarada!

72 revista hedonê

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@ApolloniaSaintclair_

Ultramisteriosa, Apollonia é bem conhecida entre os que curtem

ilustração erótica - mas ela também não revela sua verdadeira identidade.

Puxando para o lado das fantasias mais obscuras, com um

quê fantástico, a artista possui um arsenal de situações que, vezes

parecem corriqueiras, vezes parecem ter saído de um quadro de

Salvador Dalí ou de um filme de David Lynch.

Suas criações mexem com o lado mais animalesco do ser humano,

derivando no uso de bichos, como macacos e polvos, representando

o sexo masculino nas cenas. As ilustrações em preto

e branco ainda resgatam uma estética noir bem sexy, colocando

a mulher como centro do prazer e da auto-satisfação. O ato do

sexo em si não aparece tão regularmente, mas sim a construção

de todo um ritual erótico. Todo esse universo sem limites já virou

estampa de bolsa, roupa de cama e o livro Erotic Synergy, das

escritoras Sasha Lewis e Diane Wright.

@NatalieJhane

Essa ilustradora norte-americana já caiu nas graças de grandes publicações

internacionais com suas mulheres livres. Seus desenhos

brincam com o limiar entre a inocência e a falta de pudor, identificado

até dos traços simples e materiais usados para criar. Porém,

nada de servir como um erotismo da mulher querendo conquistar

o homem, mas no poder do feminino de escolher a sua forma de

sedução. Seja por meio da lingerie, representada com corpetes e

cinta-liga, ou por meio das atitudes e posições provocadoras. Isso

tudo sem necessariamente revelar uma figura masculina – normalmente

só aparecem objetos em formatos fálicos.

@PollyNor

Tirando qualquer estereótipo machista da imagem à sua frente,

Polly Nor ilustra as mais diversas situações do cotidiano feminino,

com uma pitada humorística que beira a ironia.

A londrina, formada em ilustração pela Loughborough University

busca por meio dos seus desenhos tirar a visão objetificada tediosa

da mulher. Suas criações lembram charges antigas, que não

dão valor à estética perfeita, mas sim ao conteúdo das imagens.

Ressacas, emoções, sentimentos, sexualidade e relacionamentos

são alguns de seus temas. Ela está sempre brincando com a

imagem do demônio, que pode ganhar inúmeras interpretações

– com a leveza de quem goza sorrindo.

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seção de pikasso

@sabrinagevaerd

seção de pikasso

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seção de pikasso

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dates | agenda mensal

02

Workshop de sexualidade, prazer e empoderamento

02, 03 e 05 de junho

Uma manhã informativa, divertida e muito interessante,

com dicas para sua performance sexual.

Acontecerão debates, discussões e troca de experiências.

Mais informações: sympla.com.br/workshopsexualidade-prazer-e-empoderamento

19

Workshop de meditação para iniciantes

19 e 20 de junho

Último passo ou primeiro passo? Na meditação é

assim, é um caminho profundo, sempre há algo novo a

desvendar sobre seu corpo e sobre sua mente.

Conheça mais sobre si mesmo nessa tarde de meditação.

Mais informações: sympla.com.br/workshop-demeditacao-para-iniciantes

Prazerele | Sexo: tudo o que seu pai não te ensinou

04, 11, 18 e 25 de junho

A proposta do encontro é fazer um mergulho

nas questões íntimas dos homens, num espaço seguro,

sem competições nem verdades absolutas.

Será realizada uma retrospectiva sobre o que os homens

aprendem desde criança sobre sexo e sexualidade.

Mais informações: sympla.com.br/prazerele-sexotudo-o-que-seu-pai-nao-te-ensinou

04 07

Peça teatral – Vamos comprar um poeta

07, 16, 18 e 22 a 31 de junho

No musical infantojuvenil “Vamos comprar um poeta”, a

história se passa em uma cidade inventada, onde

se vive uma vida materialista e racional. Com a chegada

de um poeta, transformações acontecem, como a

observação das reais belezas e a valorização dos abraços.

Mais informações: eventim.com.br/teatrovamos-comprar-um-poeta

Anavitória – Turnê dos namorados

10 a 22 de junho

O duo mais querido e romântico do Brasil vem para

apaixonar a todos, mais jovens ou mais velhos,

celebrar o amor e homenagear o dia dos namorados.

As amigas, fenômenos da música brasileira,

apresentarão um show intimista, exclusivo e especial.

Mais informações: ticket360.com.br/evento/

10347/anavitoria-turne-dos-namorados

10 22

Show – God Save The Queen

21 e 22 de junho

O maior tributo do Queen no mundo retorna ao Brasil

em junho com seu novo show, o espetáculo

reúne os maiores sucessos da banda icônica e famosa.

Mais informações: viagogo.com/br/ingressosshows/rock-e-pop/god-save-the-queen

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seção de contos

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dirty talk

QUATRO

PAREDES

Por Kátia Pessoa ilustração por Boris Schmitz

Foram cinco longos meses, nos quais você estava em um intercâmbio

em Londres. Tínhamos nos visto algumas vezes, mas

nunca era tempo suficiente para matar a saudade. Quando

asemos mais tempo juntos. Aquela festa era o seu reencontro

com os seus amigos, com a felicidade que você tinha deixado no

Brasil por tanto tempo. Mas, para mim, era o reencontro dos nossos

corpos. Sei que não foi só o álcool que nos deu tanto tesão, foi toda

a energia acumulada e guardada para aquele momento.

Começamos com um beijo no quintal da casa, com alguns amigos

nas proximidades, que não importavam para mim naquela hora. Eu

só sentia os seus lábios pressionando os meus e suas mãos caminhando

pelo meu corpo, passando suavemente pelos lugares que elas já

conheciam tão bem, como se quisessem redescobrir minhas curvas.

A pressão do seu corpo contra o meu aumentava a intensidade do

beijo e me deixava imersa de tal forma que eu só queria pertencer a

você. Tudo ao redor havia entrado em pausa. E meus lábios, quase

que por vontade própria, clamavam em um sussurro:

— Vamos ao banheiro? Por favor, eu te quero agora.

Sua negação foi decepcionante. Como era possível estar consciente

da presença dos amigos e da família, enquanto tudo que eu sabia

que estava lá era você?

Foi só depois de muita insistência, de muito rebater os seus argumentos

com beijos e carícias, que consegui te convencer a ir ao

banheiro comigo para termos privacidade.

Consegui entrar sem que ninguém me visse, e aqueles segundos

de espera sozinha me trouxeram ansiedade e, finalmente, o medo de

ser pega no flagra. Sei que o que estávamos fazendo não era certo.

Mas quando você entrou, mordeu os lábios – em uma mistura de

receio e vontade – e me envolveu, não restaram dúvidas. Sendo certo

ou não, era tudo o que eu queria.

Suas mãos foram diretamente para o zíper da minha saia e correram

pelas minhas costas expondo a pele e me deixando arrepiada.

Eu tinha, propositalmente, vestido o fio dental que você mais gostava

e percebi o choque no seu olhar. Pude ver a sua pupila dilatando e o

choque ser substituído por um desejo intenso. Então, senti a pressão

repentina da sua mão batendo na minha bunda e o calor da pele

ardente subiu para o meu corpo inteiro. A partir daquele momento,

todas as partes de mim pertenciam a você.

Estava tão concentrada em nós que nem ouvi as batidas na porta.

Talvez eu tenha escutado, mas não me importava com nada além do

desejo de que aquele momento durasse para sempre, que ele fosse

eterno. As batidas foram tão insistentes que, ao tentar abrir a porta

trancada, conseguiram nos despertar do transe e infiltrar o desespero

em nossa intimidade. Nosso maior medo se tornou realidade,

estávamos prestes a ser pegos no flagra.

A ideia veio de você, como sempre o ponto de calma e razão em

meio ao caos da nossa relação. Enquanto eu subia a minha saia,

percebi você, já vestido, xingando e ajoelhando em frente ao vaso

sanitário. Destranquei a porta e gritei com as pessoas do lado de fora:

— O que foi? Ele tá passando mal, tô tentando cuidar dele!!!

Até hoje não sei se eles acreditaram ou não. Mas toda a verdade

sobre aquela noite só nós dois sabemos e, por mais que essa história

seja contada nos mínimos detalhes, ninguém jamais conseguirá saber

como foi. O sentimento fica entre as nossas quatro paredes.

Kátia Pessoa, 23, trabalha como corretora de imóveis na grande São Paulo. Já fez

sexo na escada de uma das casas que estava vendendo – e ela foi comprada no final.

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rapidinhas

SEM PORÉNS

OU PUDORES

DE CAPRI,

COM AMOR

Por Tina Zani ilustração por Boris Schmitz

Sem querer, nos esbarramos num dia qualquer fazendo qualquer

coisa em qualquer lugar. Não importa. Eu conhecia aqueles

olhos negros desde sempre, desde muito, ainda que agora

estivessem emoldurados por uma barba farta e curta. Eram

os mesmos olhos que olharam os meus tantas vezes, com desejo, com

paixão curiosa e cheia de tesão em anos que éramos tão jovens que

só podíamos nos desejar e usar os dedos. Foi muito rápido, e muito

fácil, o que me deixou insegura e surpresa com a capacidade de me

entregar assim, sem poréns, sem pudores. Facinha, facinha.

Ele também. Uma interjeição aqui, uma interrogação ali e, de

repente, desligados do mundo, nem um pé no chão. Tanto tempo se

passou e eu ainda só queria que ele me quisesse, e ele quis e a gente

foi se encostando, se reconhecendo pedacinho por pedacinho com

uma vontade que nem tinha reparado que ardia tanto. Aquela pele,

aqueles pelos, aquela boca no meu pescoço me beijando, chupando,

lambendo, aquelas mãos que segurei tantas vezes, segurando meus

seios, firmes e inteiros. Aquele cheiro que eu já conhecia. Parece que

tinha música tocando mas não sei.

Eu flutuei naquele rio de águas mornas e calmas, boiando sob o

céu, sob o sol e as estrelas, hipnotizada por sua presença. Eu voei

no azul tão levinha e pousei nos braços densos que me abraçaram

de volta com desejos. Minhas mãos passearam por ombros, peito,

costas, umbigo, e segurei o falo quente e rijo por minha causa. Então

chupei com saudade de tudo o que não fizemos juntos, de tudo o

que éramos tão jovens, com todas as vontades que tinham ficado em

outro lugar que já tínhamos passado juntos e antes.

Eu dei para ele como um bolo surpresa de chocolate com calda

que ele devorou tão atrevidamente me elevando tão alto que deu

uma forte vertigem e milhões de borboletas no estômago quando

ele gozou em mim, um jorro quente longo intenso e sem fim dentro

de mim, que eu gozava nele também.

Juntos, os dois juntos. Sonho de açúcar. Beijos de açúcar. Um

encontro quase improvável que jamais se repetiria. Acendemos um

cigarro e aproveitamos aquele momento único, nosso.

Por Fabiano Cavalcante ilustração por Boris Schmitz

Em uma barulhenta discussão, Alessia exalta-se demasiado

e Giorgio agarra-a pelos cabelos e beija-a, enquanto uma

de suas mãos se mantém nos cabelos a outra descia pelas

costas de Alessia. Ela que no início mantinha-se firme na

discussão, já não mais discutia, e agora agarra com todas as suas

forças Giorgio deixando-o com as costas vermelhas devido as suas

unhas, enquanto isto as mãos de Giorgio já chegaram a cintura de

Alessia e já lhe arrancará a parte debaixo de sua roupa.

Havia de tudo menos silêncio no quarto principal dá mansão do

vialuongo, é claro além daquela deslumbrante vista para o Mediterrâneo,

que os imperadores romanos como os loucos Calígula e

Tibério haviam contemplado a centenas de anos. Giorgio por sua

vez já havia avançado em sua continua descida, e já estava agora

após tirar-lhe a blusa, no abdômen de Alessia.

Antes de chegar aos aos arredores do umbigo, Giorgio pega Alessia

do chão e atira-a para cima da cama, beija-lhe a boca. Alessia

domina-o e fica por cima e acaba por lhe tirar o resto da roupa

que faltava. Ao chegar a zona abaixo do umbigo, entre os quadris,

no meio de suas coxas… Giorgio começa a fazer aquilo que talvez

melhor faça. Alessia apenas segura-o firmemente pelos cabelos e as

lágrimas caem-lhe dos olhos, um puro êxtase absurdo e inacreditável

como se a alma lhe fosse sair do corpo.

Após Alessia atingir um orgasmo inesquecível, Giorgio olhou-a

profundamente nos olhos e beijou-lhe um beijo quente que mistura

suor e amor, enquanto beijava-a Giorgio com uma de suas mãos

levantava uma das pernas de Alessia, que sentia as mãos de Giorgio

ali na parte interior se sua coxa, os olhos continuavam a mirar-se

fixamente um para o outro, enquanto os corpos faziam um movimento

repetido e incessante, deixando-os molhados de suor e prazer.

Aquele momento era mágico não havia horas ou minutos ou

segundos, havia apenas dois corpos, agora debruçados um sobre o

outro, um puro amor animal e instintivo. Por fim, os dois atingiram

o ápice do prazer, um choque violento de fluidos, que os deixou ali

estendidos a olhar um para o outro.

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rapidinhas

NENHUM

HOMEM

CONSEGUIU

DENTRO

DO CARRO

Por Thiago Gacciona ilustração por Boris Schmitz

Ela abriu a porta lentamente. O feixe de luz adentrou o

quarto e iluminou a borda da cama. Podia ver a silhueta

de seu corpo diante da entrada. Camisola. Cabelos soltos.

Um brilho no olhar e um sorriso perverso. Meu coração

saltava do peito. Nunca havia sentido isso. Paixão. Medo. Tesão.

Em passos lentos, ela se aproximou da cama. Aproximou vagarosamente

seu rosto do meu. Senti sua respiração e supliquei por

um beijo. Ela previa minhas intenções. Sussurrou ao meu ouvido

e encostou suas mãos em minha cintura. Sorri. Primeiro beijou

lentamente meu pescoço. A língua delicadamente me inundava. O

melhor beijo que já recebi na vida toda.

Arrancou a camisola e postou seu corpo sobre o meu. Parecia fogo.

Nunca havia sentido o calor do corpo dessa forma. Loucamente suave.

Não cansava de me beijar. Sua coxa me acariciava. Escorregava

com paixão. Estava ofegante. A calcinha encharcada. Com rapidez,

puxou minha calça e minha calcinha. Jogou tudo para fora da cama.

Caíram ao lado das cobertas e travesseiros espalhados pelo chão.

Passou-me os dedos com vontade. Em volta dos lábios. Estava

molhada. Com movimentos leves, às vezes rápidos, penetrava-me.

Para frente. Para trás. Gemi. Beijou os lábios e os chupou. Tantas

fontes de prazer ao mesmo tempo faziam-me delirar. A vontade de

explodir em excitação era cada vez maior. Nenhum homem jamais

havia chegado a esse ponto. Mas minha companheira sabia exatamente

o que fazer. Sabia exatamente onde queria chegar.

Peguei o travesseiro e o coloquei na cara. Mordi a fronha com

raiva. O gozo finalmente veio. Único. Mágico. Inesquecível. Logo,

conclui que se havia algum sentido na vida, era para que algum dia

os seres humanos chegassem àquela sensação.

Beijou minha barriga com carinho. Levantou-se. Foi calmamente

até a saída. Dessa vez, nua, olhou-me com desdém. Gesticulou-me

um tchau e fechou a porta. Ainda ficaria ali, jogada por alguns minutos,

a apreciar o que restou daquela magnífica sensação. O melhor

orgasmo que já tive. Meu corpo relaxou. Tranquilo e totalmente

satisfeito. Suspirei. E tudo finalmente escureceu.

Por Clara Lúcia ilustração por Boris Schmitz

Um dia, Roberta, louca para chegar em casa, encara um

engarrafamento num fim de tarde, buzinas, poluição,

gritos, motos barulhentas e calor, muito calor. Liga o rádio

e ouve Dire Straits. Começa a cantar tentando relaxar e

esperar que a fila de carros ande de uma vez por todas.

O vidro do carro do lado abaixa. Um homem começa a olhá-la

primeiro com óculos escuros, depois por cima dos óculos. Olhos

negros penetrantes! Roberta vê que ele aumenta o som de seu carro

e que também escuta Dire Straits. Sua imaginação voa… E já se vê

dentro daquele carro, do lado do homem desconhecido, com todo

aquele calor lhe subindo pelo ventre.

Ainda se imaginando dentro daquele carro, ele então começa a

correr sua mão em sua coxa. Se ajeita no banco, de forma que fique

quase meio deitado, e de pernas entreabertas…O trânsito anda uns

20 metros e Roberta olha para o lado enquanto ele pára no mesmo

rumo do seu carro, de novo. Sua imaginação continua. Beija-lhe a

boca com paixão, lhe pega pelo pescoço e percorre pelos seios e lhe

arranca o fôlego. Lhe aperta contra seu corpo, puxa seus cabelos

para trás e fixa os olhos nos dela. Olhos sedentos de desejo.

Uma buzinada atrás do carro de Roberta a faz ver que a fila

andou mais uns metros. Ofegante. A fila anda mais um pouco e ele

para bem à frente do carro dela. Roberta revira o porta-luvas e acha

caneta e papel. Anota a placa.

Roberta fecha os olhos e volta naquele lugar do pecado, dentro

do carro daquele homem desconhecido, másculo e que a leva ao

delírio. Continua o sexo, beija aquela boca, volta para seus seios…

E explode num urro de satisfação. Ela fica olhando aquele rosto tão

próximo do dela, aquela boca quente, aquele hálito, aquele cheiro

de sexo que se espalha; ela não resiste! Seu coração dispara.

Roberta sabia que suas fantasias não seriam só fantasias. Ela sabia

que algo mais aconteceria. E aconteceu! Não dentro do carro, não

naquele dia. Foram se conhecendo dia a dia até confirmarem uma

fantasia que se viveu a dois, cada um com seus desejos. Fantasias

que se uniram, agora olho no olho, pele na pele…

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COMO

GOZAR POR

15 MINUTOS

SEM PARAR

Colunista Milly Lacombe relata sua experiência

sobre testemunhar uma mulher gozar por quase 15 minutos

no tantra, “um acontecimento lindo e perturbador”

Por Milly Lacombe ilustração por Boris Schmitz

Eu tinha 16 anos quando vi uma mulher gozar. Ela era minha

namorada, a primeira pessoa com quem fiz amor na vida, e

naquela época ela e eu pouco sabíamos a respeito do sexo.

A pornografia não era popular como hoje, não existia You-

Tube, as cenas de sexo na tv e no cinema eram raras, e bem menos

gráficas do que as atuais. A falta de repertório e de conhecimento

sexual foi o que nos salvou. Como não sabíamos o que era “certo”

ou “errado”, o que “podíamos fazer” e o que “não podíamos fazer”,

como não estávamos mergulhadas numa lógica fálica, ou no universo

falo-centrado dos filmes, nos permitimos experimentar tudo; testar,

explorar, navegar pelo corpo uma da outra.

Os anos se passaram, minha lesbiandade me fez ver outras mulheres

em êxtase, mas nada me preparou para aquela tarde de

sábado em novembro do ano passado quando testemunhei uma

mulher gozar por quase 15 minutos, um acontecimento igualmente

lindo e perturbador. Lindo porque o prazer feminino é o mais belo

e arrebatador dos prazeres, e perturbador porque meu ego gritava

descontrolado e humilhado: “esse gozo tão enorme e sem fim não teve

a sua participação”. Eu estava num curso de sexo tântrico e quem

fazia a sortuda gozar era a instrutora, e escritora, Carol Teixeira.

Até aquele abençoado sábado eu não sabia que uma mulher podia

gozar por tanto tempo sem parar, muito menos ejacular daquela forma.

Mas Carol explicou que quase todas nós somos capazes de ejacular.

Nossa ejaculação, ao contrário da deles, é líquida e transparente:

praticamente água, enfim. Enquanto meu ego me surrava dizendo

debochadamente que eu era a pior lésbica do mundo por nunca ter

visto uma mulher ejacular, Carol explicava que a ejaculação feminina,

ao contrário da masculina, não decreta o fim do prazer – como de

fato eu vi acontecer bem ali na minha frente.

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Para levar a menina ao êxtase que durou 15 minutos Carol fez

uma massagem clitoriana com óleos cujo objetivo era o de “tirar” o

clitóris de seu casulo porque, assim como o pênis, ele cresce quando

estimulado. “Durante a masturbação, com a pressão, a gente acaba

‘enfiando’ o clitóris para dentro, mas ele precisa ser estimulado na

direção contrária”, ela explicou. Depois disso, com a aluna em pleno

gozo, Carol usou um vibrador para mantê-la naquele estado. Foi

quando eu a vi ejacular. Nessa hora minha ignorância e eu chegamos

à conclusão de que o vibrador era hidráulico e tinha estourado (não

há, sei agora, esses vibradores ou limite para minha ignorância). Mas

era muito líquido que eu via sair dela e foi a única explicação que

consegui encontrar até que Carol disse que a ejaculação feminina

é bastante comum, ainda que seja um assunto pouco comentado.

Tudo a respeito do nosso prazer é mistério. A medicina e a ciência

pouco sabem sobre as formas que uma mulher atinge o êxtase,

a ejaculação é a última fronteira de todos os tabus que envolvem

nosso prazer. Sociedades patriarcais não estão muito preocupadas

com necessidades e direitos femininos, como sabemos, e o gozo da

mulher é a menor das curiosidades.

Mas há alguns estudos que mostram que o líquido que acompanha

o gozo feminino vem da bexiga, produzido por uma pequena

glândula que fica no canal da uretra, semelhante à próstata só que

menor, mas que ele não é urina. “Antes de ejacular a mulher sente

uma espécie de vontade de fazer xixi”, explica Carol. “E muitas vezes

ela tranca a vontade achando que vai urinar no meio da transa,

evitando assim ejacular sem nem mesmo saber que está fazendo o

que está fazendo. Durante a massagem, com o estímulo de pontos

muito específicos da vagina, a mulher perde totalmente o controle

e não consegue mais trancar a ejaculação”.

A ejaculação feminina é um tema tão perturbador para a sociedade

que há indústrias pornográficas inteiras, como a inglesa, que

decidiram em 2015 que a ejaculação feminina era demais e proibiu

que imagens assim fossem mostradas nos filmes. Na pornografia

inglesa vale misoginia, abuso, machismo, mas não me venham com

ejaculação de mulher porque isso é assustador.

O sexo, conforme nos falaram a respeito dele ao longo dos anos,

não tem nada a ver com o sexo como ele deveria ser. Corpos humanos

são capazes de alcançar infinitos níveis de prazeres, assim como,

quando devidamente estimulados, capazes de expandir consciências,

e o sexo como o conhecemos pelas revistas, pelos filmes e pela pornografia

misógina e machista é apenas limitante, cruel e empobrecido.

O curso que fiz estava lotado de mulheres (16 no total, e todas,

menos duas, se definiram como heterossexuais), de idades que variavam

entre 20 e 52 anos, bastante dispostas a aprender a respeito

do sagrado direito ao gozo, ao corpo, ao prazer.

Se por anos nosso prazer foi considerado um mínimo detalhe para

a sociedade, ou até histeria, se a vagina ainda é aquele órgão tão

pouco estudado e tão pouco conhecido pela medicina (ao contrário do

pênis), se a palavra buceta ainda causa tanto espanto (diferentemente

de como acontece com pênis) já não importa mais: a mulherada não

aceita nem um tom a menos do que o prazer completo e irrestrito,

com razão. E, para chegar lá, a sororidade pode ajudar.

O método que Carol desenvolveu para abordar o tantra leva o

nome de “I Love My Pussy”, ou “Eu amo minha buceta”. Percebendo

que, assim como ela, havia um enorme contingente de mulheres

dispostas a gozar o gozo mais profundo e significativo que se pode

alcançar, Carol foi estudar o tantra, adquiriu conhecimento e técnica,

aprendeu a fazer a massagem tântrica e desenhou as aulas.

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Dias depois do curso, Carol fez em mim a massagem tântrica – e

eu me vi na grata situação da menina do curso, que gozou sem parar

por muitos minutos. O clitóris, esse encantado mundo dos prazeres

femininos, pode muito mais do que eu supunha. Carol explicou que

as ramificações nervosas do prazer feminino são diferentes para cada

uma de nós, ao contrário da masculina, que está desenhada de uma

mesma forma em todos os homens, que por isso gozam sempre de

maneira semelhante: ou com a fricção do pênis, ou na próstata. Já

a mulher pode gozar de mil maneiras diferentes: em muitos pontos

da vagina, no clitóris, nas cercanias do clitóris, no ânus…

O tantra é uma espécie de consciência nova a respeito de nossos

corpos, e do corpo do outro ou da outra. Não é o prazer pelo prazer,

ou a simples indulgência sexual, mas a abertura de um portal de

percepção, quase uma meditação, um transe.

Ao final da massagem que recebi, depois de quase duas horas e

ainda deitada na sala à meia-luz escutando “Por Una Cabeza”, de

Carlos Gardel, tocada magnificamente no piano por Rogerio Koury,

comecei a chorar. Não chorava de tristeza, chorava de emoção

enquanto pensava nas mulheres com as quais me deitei e fiz amor.

Ter acesso ao corpo de outra pessoa é um acontecimento sagrado, e,

como tal, deve ser reverenciado. Se estamos nessa aventura terrena

para aprender a amar é importante que aprendamos de uma vez

por todas a fazer amor, e a ver o amor em todas as coisas.

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universo só nosso. Ao deitar

seção de contos

palavras, apenas gestos. Nada

Anoiteceu, todos se foram. Somos eu e voce. Em um

sinto sua respiração na minha face. Minhas mãos pass eiam por seu corpo. S

A mais erética e intensa sensação. De a mor, de

ximan do da minha. Co

b

u a

oca

calo

apro

mais é

r, sem

m

d

m

e sejo, com amor, c om c arinho, c o

necessá

rio. Quando dois corpos se juntam é instinto. Um comp

mais in

lação. Bocas respirando uma na outra. E

desejos. Respirando tesão. Sussurando gemidos.

stantes.As

reende o outro. Descobrindo o que se pro

maõs se entre

move nos de

xalando o que sentem. Trans pirando

E minutos depois. O ritual se inicia

Até chegar ao topo. o que era vivo. Morre por instantes

tesão querem uma a outra. Por algo que vicia

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seção de contos

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