Exposição Bibliográfica Retrospectiva - Fundação Biblioteca Nacional

Mas com ser tão justamente admirada a capacidade de leitura
e assimilação de Dom Marcelino, não causava a menor admiração
o domínio dos problemas e teorias mais difíceis e a prodigiosa
maturidade de juízo que desde muito cedo nos revela toda sua
obra. Mais que sua erudição, com ser esta asosmbrosa, «vale en
Menéndez Pelayo» — frisava Clarín — «el buen gusto, el critério
fuerte y seguro y más amplio cada dia».
Dificilmente o estilo artístico e belo acompanha a erudição
livresca. Em Menéndez Pelayo também esta regra sofreu exceção.
Seu estilo é um manancial inexaurível de gôzo para o espírito,
seus escritos jamais causam fadiga ao leitor. Verdadeiro gênio
artístico, exprime-se numa prosa harmoniosa em que, por modo
singular, se juntam a graça ática e o brio ibérico, a serenidade do
sábio e a fulguração do poeta; prosa sempre tersa e garrida, que
embeleza os temas mais áridos, sempre fluente e cheia de encantamentos,
em que as idéias surgem caudalosas e em tão perfeita
concatenação lógica, e como sem esforço, que maravilha.
Tinha tal graça e fôrça criadora de beleza para tudo que tocava
sua pena, que bem se lhe poderia aplicar o que, noutra ordem
de altíssima espiritualidade, dizia do Esposo S. João da Cruz,
quando, interrogando a esposa as criaturas se viram o Amado,
estas lhe respondem:
«Mil gracias derramando
pasó por estos sotos con presura
y, yéndolos mirando,
con sola su figura
vestidos los dejó de su hermosura»
(Cântico, 5)
Sim, tudo êle revestia de beleza e, como frisa Dâmaso Alonso,
maravilha que jamais, na sua vasta produção, nem em prosa nem
em verso, se encontre «una página que pueda llamarse baladí»
(Em Arbor, XXXIV, pág. 345).
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