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A Vocação das Ciências Sociais no Brasil - Fundação Biblioteca ...

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A <strong>Vocação</strong><br />

<strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Um estudo da sua produção em livros<br />

<strong>no</strong> acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional<br />

1945-1966<br />

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Coleção Rodolfo Garcia<br />

Vol. 32<br />

RE P Ú B L I C A FE D E R AT I VA D O BR A S I L<br />

Presidente da República / Luiz Inácio Lula da Silva • Ministro da Cultura / Gilberto Gil Moreira<br />

FU N DA Ç Ã O BI B L I O T E C A NA C I O N A L<br />

Presidente / Muniz Sodré de Araújo Cabral • Diretoria-Executiva / Célia Portella • Gerência do Gabinete /<br />

Cilon Silvestre de Barros • Diretoria do Centro de Processamentos Técnicos / Liana Gomes Amadeo •<br />

Diretoria do Centro de Referência e Difusão / Carmen Tereza More<strong>no</strong> • Coordenação-Geral de Planejamento e<br />

Administração / Tânia Mara Barreto Pacheco • Coordenação-Geral de Pesquisa e Editoração / Oscar Ma<strong>no</strong>el<br />

da Costa Gonçalves • Coordenação-Geral do Sistema Nacional de <strong>Biblioteca</strong>s Públicas / Ilce Gonçalves<br />

Cavalcanti<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

A <strong>Vocação</strong><br />

<strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Um estudo da sua produção em livros<br />

<strong>no</strong> acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional<br />

1945-1966<br />

Rio de Janeiro<br />

2007<br />

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FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL<br />

Av. Rio Branco, 219 – Centro<br />

20040-008 – Rio de Janeiro – RJ<br />

Tels: (21) 2220 1994 e 2220 1997<br />

Editor<br />

Marcus Venicio Ribeiro<br />

Revisão<br />

Francisco Madureira<br />

Projeto Gráfico e Diagramação<br />

Memvavmem<br />

Capa<br />

Rodrigo de Mello Alves<br />

Reproduções Fotográficas<br />

Claudio Carvalho Xavier e leonardo da Costa<br />

Estagiária<br />

Lara Spíndola<br />

Villas Bôas, Glaucia.<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> : um estudo da<br />

sua produção em livros <strong>no</strong> acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional,<br />

1945-1966 / Glaucia Villas Bôas. – Rio de Janeiro : <strong>Fundação</strong><br />

<strong>Biblioteca</strong> Nacional, 2007.<br />

304p. ; 16 cm x 23 cm.<br />

Originalmente apresentado como tese (doutorado –<br />

Universidade de São Paulo)<br />

ISBN 978-85-333-0537-3<br />

1. <strong>Biblioteca</strong> NacionaI (<strong>Brasil</strong>) – Catálogos. 2. <strong>Ciências</strong><br />

sociais – <strong>Brasil</strong> – História. 3. Pesquisa social – <strong>Brasil</strong> – His-<br />

tória. 4. <strong>Ciências</strong> sociais – Bibliografia – Catálogos. I. <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional (<strong>Brasil</strong>). II. Título.<br />

CDD 300.981<br />

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À memória de minha mãe, Veleyda<br />

A meus filhos Luciana e Pedro<br />

5<br />

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7<br />

Su m á r i o<br />

AGRADECIMENTO 11<br />

PREFÁCIO<br />

José Murilo de Carvalho 13<br />

APRESENTAÇÃO 19<br />

I. A PRODUÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS EM LIVRO 23<br />

1. A escolha do período - 1945 a 1966 27<br />

2. O livro como recurso empírico-metodológico<br />

e as técnicas utiliza<strong>das</strong> na pesquisa 30<br />

3. O acervo estudado 37<br />

II. DISCIPLINAS E TEMAS 49<br />

1. O crescimento da produção <strong>das</strong> ciências sociais 49<br />

2. Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais 51<br />

3. O interesse desigual pelas disciplinas 53<br />

4. O horizonte temático <strong>das</strong> ciências sociais 58<br />

5. Os temas da história do <strong>Brasil</strong> 59<br />

5.1 História política 64<br />

5.1.1 História dos eventos políticos 67<br />

5.1.2 História <strong>das</strong> instituições políticas 72<br />

5.1.3 História <strong>das</strong> cidades, estados e regiões 75<br />

5.2 História Econômica 79<br />

5.3 História Social 83<br />

5.4 História <strong>das</strong> Idéias 85<br />

5.5 Conclusão 87<br />

6. Os temas da eco<strong>no</strong>mia política 88<br />

6.1 Obras sobre a disciplina 91<br />

6.2 Obras sobre temas específicos 93<br />

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6.3 Conclusão 96<br />

7. Os temas da antropologia 97<br />

7.1 Obras sobre a disciplina 99<br />

7.2 Obras sobre temas específicos 100<br />

7.3 Conclusão 109<br />

8. Os temas da sociologia 110<br />

8.1 Obras sobre a disciplina 112<br />

8.2 Obras sobre temas específicos 113<br />

8.3 Conclusão 120<br />

9. Os temas da ciência política 121<br />

9.1 Obras sobre a diciplina 125<br />

9.2 Obras sobre temas específicos 125<br />

9.3 Conclusão 129<br />

10. Os temas da geografia humana 130<br />

10.1 Obras sobre a disciplina 132<br />

10.2 Obras sobre temas específicos 132<br />

10.3 Conclusão 135<br />

11. Os temas da demografia 135<br />

11.1 Obras sobre a disciplina 137<br />

11.2 Obras sobre temas específicos 138<br />

11.3 Conclusão 139<br />

III. OS ANOS DE 1945 A 1966 141<br />

1. Características gerais 142<br />

2. Mudanças na vida cultural 156<br />

2.1 Empreendimentos <strong>no</strong> campo da difusão da cultura 156<br />

2.2 Movimentos de re<strong>no</strong>vação da produção cultural 165<br />

3. Mudanças na vida intelectual 171<br />

3.1 A expansão <strong>das</strong> universidades 171<br />

3.2 As lutas estudantis 174<br />

3.3 A participação da comunidade acadêmico-científica 176<br />

IV. CONTINUIDADE E MUDANÇA 181<br />

1. O desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais 185<br />

2. A relevância dos problemas brasileiros 187<br />

3. O processo de diferenciação dos estudos em ciências sociais 189<br />

3.1 Os estudos teórico-metodológicos 189<br />

8<br />

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3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira 191<br />

3.2.1 A abordagem de <strong>no</strong>vos problemas e o crescimento de obras 192<br />

3.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro 192<br />

3.2.1.2 Os temas de me<strong>no</strong>r divulgação em livro 198<br />

3.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas 201<br />

3.2.2.1 O exame dos fatos políticos do passado 201<br />

3.2.2.2 As características dos estudos sobre as questões étnicoculturais 203<br />

4. Conclusão 206<br />

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS 211<br />

VI. LIVROS DE CIÊNCIAS SOCIAIS NO ACERVO DA<br />

BIBLIOTECA NACIONAL 217<br />

VII. BIBLIOGRAFIA 293<br />

9<br />

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Este livro registra dois momentos de trabalho. O primeiro foi dedicado à<br />

pesquisa <strong>no</strong> acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional e à escrita e defesa de minha tese<br />

de doutoramento. Muitas pessoas e instituições ajudaram e apoiaram meu<br />

projeto realizado entre as déca<strong>das</strong> de 1980 e 1990. Cerca de 15 a<strong>no</strong>s depois,<br />

o segundo momento, incluiu a decisão de publicar o livro, uma leitura crítica<br />

do texto e a revisão e organização dos 872 títulos analisados para apresentação<br />

ao leitor. Gostaria de agradecer a José Murilo de Carvalho, por ter me<br />

incentivado à publicação do livro pela <strong>Biblioteca</strong> Nacional e aceito escrever o<br />

prefácio, e a Marcus Venicio Ribeiro pelas sugestões, interesse e empenho na<br />

edição do livro. Foi inestimável também o apoio de Verônica Eloi de Almeida<br />

e João Antonio da Costa, que digitalizaram os originais datilografados. Ive de<br />

Santana Cunha fez uma revisão cuidadosa dos títulos da mostra dos livros.<br />

11<br />

Ag r A d e c i m e n t o<br />

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13<br />

Pr e f á c i o<br />

José Murilo de Carvalho.<br />

Glaucia Villas Bôas transforma agora em livro sua tese de doutoramento<br />

defendida na Universidade de São Paulo em 1992. Trata-se de um estudo<br />

sociológico da produção de livros de ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, entre 1945<br />

e 1966. Ao árduo e cuidadoso trabalho de levantamento da bibliografia <strong>no</strong><br />

acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, a autora acrescenta uma análise sociológica do<br />

contexto em que os livros foram escritos e publicados.<br />

O período selecionado deve-se à preocupação de avaliar os primeiros resultados<br />

da implantação <strong>no</strong> país, durante a década de 1930, <strong>das</strong> primeiras<br />

instituições de ensi<strong>no</strong> e pesquisa volta<strong>das</strong> para as ciências sociais, sobretudo<br />

em São Paulo e <strong>no</strong> Rio de Janeiro. As principais delas foram a Escola Livre<br />

de Sociologia e Política, de 1933, em São Paulo, a Faculdade de Filosofia,<br />

<strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de São Paulo, em 1934, a Universidade do<br />

Distrito Federal, de 1935, e a Faculdade de Filosofia da Universidade do <strong>Brasil</strong>,<br />

em 1939, também <strong>no</strong> Rio de Janeiro.<br />

A primeira metade da década de 30 testemunhara uma verdadeira explosão<br />

de idéias e de interpretações do <strong>Brasil</strong>. Foi nesse período que surgiram alguns<br />

dos principais clássicos de <strong>no</strong>sso pensamento. Todos eles foram escritos por<br />

pessoas em geral de formação jurídica, ou mesmo em medicina e engenharia,<br />

sem treinamento específico em ciências sociais. Eram o que Guerreiro Ramos<br />

chamou mais tarde de sociólogos anônimos. Apesar da criatividade dos autores,<br />

a produção era numericamente pequena por falta de base institucional<br />

adequada em quantidade e qualidade e pelo acanhamento da indústria editorial.<br />

Levantamento feito por Wanderley Guilherme dos Santos mostrou que,<br />

de 1931 a 1945, foram publicados apenas 11 artigos por a<strong>no</strong> <strong>no</strong> campo que<br />

depois se convencio<strong>no</strong>u chamar de ciências sociais.<br />

Outra era a fisio<strong>no</strong>mia dos a<strong>no</strong>s posteriores à democratização de 1945.<br />

Ex-alu<strong>no</strong>s <strong>das</strong> <strong>no</strong>vas escolas cria<strong>das</strong> na década anterior, muitos deles treina-<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

dos por professores estrangeiros, começaram a publicar trabalhos que vieram<br />

somar-se ao da geração anterior. O ambiente pós-guerra e pós-Estado Novo<br />

também favorecia o debate e a indústria editorial se ampliava. Quanto a essa<br />

última, a autora <strong>no</strong>s informa, citando Laurence Hallewell, que em 1940 foram<br />

publicados 1.678 livros e folhetos. Em 1950, o número subiu para 3.965, em<br />

1960 para 5.377. O número de artigos, segundo a contagem de Wanderley<br />

Guilherme dos Santos, subiu, entre 1945 e 1965, a 36 por a<strong>no</strong>. Esses números<br />

constituem boas justificativas para a escolha do período de estudo.<br />

Para realizar seu estudo, Gláucia Villas Bôas escolheu só incluir livros,<br />

excluindo artigos, e se concentrou nas obras que constam do catálogo da<br />

<strong>Biblioteca</strong> Nacional. A primeira limitação pode ser facilmente compensada<br />

pelo levantamento já mencionado feito por Wanderley Guilherme dos Santos<br />

e publicado em 2002, após a defesa da tese da autora. Segundo esse levantamento,<br />

entre 1945 e 1965, foram publicados, em 20 revistas, 724 artigos de<br />

análises política e social do <strong>Brasil</strong>.<br />

A segunda é de me<strong>no</strong>r importância, embora tenha sido devidamente registrada.<br />

Como se sabe, todos os livros editados <strong>no</strong> país devem, por lei de 1907,<br />

ter um exemplar depositado na <strong>Biblioteca</strong> Nacional. Em tese, portanto, ao<br />

consultar o catálogo dessa instituição o pesquisador teria diante de si o universo<br />

dos livros publicados. Mas estamos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e a lei tem sido apenas parcialmente<br />

cumprida. Apesar desse percalço, o acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional<br />

era e continua sendo o mais completo do país. Ao trabalhar com ele, a autora<br />

cobriu uma parcela muito grande da bibliografia produzida, não se podendo<br />

saber exatamente o que ficou de fora. Foram levantados 978 títulos, tendo a<br />

autora trabalhado com 872, sobre os quais existiam informações suficientes<br />

para classificação por tema.<br />

Esse levantamento bibliográfico já é por si uma contribuição relevante à<br />

história do pensamento brasileiro em geral e <strong>das</strong> ciências sociais em particular<br />

na medida em que facilita o trabalho de outros pesquisadores e abre para eles<br />

um amplo leque de investigação. É conhecido o fenôme<strong>no</strong> da formação de<br />

câ<strong>no</strong>nes explicativos. Surgem espontaneamente, ou por esforço deliberado,<br />

seleções de autores e obras que aos poucos são transforma<strong>das</strong> em clássicos de<br />

determinada área de conhecimento. Tais autores e obras se tornam referência<br />

obrigatória, com a exclusão de centenas de outros que podem ter coisas<br />

importantes a dizer. A formação de câ<strong>no</strong>nes é quase inevitável, inclusive por<br />

razões práticas, pela impossibilidade de se cobrir toda a bibliografia existente,<br />

mas é indispensável que os câ<strong>no</strong>nes sejam flexíveis e que sejam periodicamente<br />

alterados. O levantamento bibliográfico apresentado neste livro, quase<br />

14<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

exaustivo, facilita a tarefa de desafiar os câ<strong>no</strong>nes. De posse de informação tão<br />

ampla, o pesquisador ig<strong>no</strong>rará autores não canônicos por sua própria conta<br />

e risco.<br />

Mas Gláucia Villas Bôas foi além de simples levantamento bibliográfico,<br />

adicionando valor especial a seu trabalho. Ela enfrentou a pe<strong>no</strong>sa tarefa de<br />

mapear os livros por área de conhecimento e por temas. No que diz respeito<br />

às áreas de conhecimento, adotou uma definição ampla, posto que algo polêmica,<br />

de ciências sociais, incluindo nelas a história, a geografia humana e a<br />

demografia, além <strong>das</strong> tradicionais antropologia, sociologia, ciência política, e<br />

da eco<strong>no</strong>mia política. O lado polêmico diz respeito, sobretudo, à inclusão da<br />

história <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais. Mas, como a análise mantém a distinção<br />

entre as várias sub-áreas, é sempre possível ao leitor detectar as diferenças<br />

entre elas. Ele pode verificar, por exemplo, que, como era de esperar, a história<br />

foi responsável pela maioria (35%) dos livros recenseados, número próximo<br />

à soma dos de sociologia, antropologia e ciência política (40%). Tal resultado<br />

era de esperar na medida em que a escrita da história é muito mais antiga <strong>no</strong><br />

país, antecede em mais de um século a formação especializada que teve início<br />

na década de 1930.<br />

Um dos achados importantes da autora é o que se refere ao número respeitável<br />

de obras de ciências sociais <strong>no</strong> sentido estrito, sobretudo de antropologia<br />

(16%) e de sociologia (14%). Esse número é sem dúvida decorrência,<br />

pelo me<strong>no</strong>s em parte, da produção de pessoas treina<strong>das</strong> <strong>no</strong>s <strong>no</strong>vos cursos.<br />

A me<strong>no</strong>r representação da ciência política (9%) pode ser devida ao processo<br />

mais lento de sua separação de outros campos mais tradicionais de conhecimento,<br />

como o direito e a filosofia.<br />

Outra contribuição relevante deste livro é a análise do local de publicação<br />

e dos editores. O Rio de Janeiro ainda era, na época, o centro cultural indiscutível<br />

do país, responsável por 58% <strong>das</strong> edições, seguido à distância por São<br />

Paulo com 24%. Não por acaso, é em sociologia que São Paulo mais se aproximava<br />

do Rio de Janeiro, com 39% da produção, em comparação com 45%<br />

da capital. Rio de Janeiro e São Paulo, juntos, cobriam 82% <strong>das</strong> publicações.<br />

Mesmo que se leve em conta a probabilidade de que o descumprimento da<br />

lei de envio dos livros à <strong>Biblioteca</strong> Nacional fosse muito maior <strong>no</strong>s outros<br />

estados, a concentração é muito grande.<br />

A presença de um mercado editorial emergente é demonstrada quando a<br />

autora classifica as publicações em comerciais e não comerciais, essas últimas<br />

publica<strong>das</strong> por órgãos públicos, aí incluí<strong>das</strong> as universidades federais e estaduais.<br />

A maioria dos livros (63%) foi publicada com fins lucrativos. Mas aqui<br />

15<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

também se evidencia a diferença entre São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio de<br />

Janeiro, sede do gover<strong>no</strong>, as publicações oficiais são responsáveis por 36%<br />

do total ali editado, enquanto em São Paulo não passam de 17%. O peso do<br />

Estado é ainda maior em áreas fora do eixo Rio - São Paulo, onde também a<br />

indústria editorial era me<strong>no</strong>s desenvolvida. Somando-se os livros publicados<br />

em Salvador, Belo Horizonte e Recife, verifica-se que 61% deles foram publicações<br />

oficiais.<br />

A análise diacrônica da produção de livros é outra contribuição relevante<br />

feita pela autora. Dividindo o período em dois segmentos de 11 a<strong>no</strong>s cada um,<br />

ela mostra que o desenvolvimento <strong>das</strong> sub-áreas foi muito desigual. Os <strong>no</strong>vos<br />

campos, com a exceção <strong>no</strong>tável da antropologia, que sofreu um desaceleramento<br />

da produção após grande expansão inicial, cresceram exponencialmente.<br />

A sociologia mais do que duplicou o número de livros <strong>no</strong> segundo período,<br />

passando sua contribuição de 10% para 16%, a ciência política triplicou a<br />

produção, de 6% para 11%. Juntamente com a expansão <strong>das</strong> instituições de<br />

ensi<strong>no</strong> e pesquisa, é possível supor que o crescimento dos estudos sociológicos<br />

e, sobretudo, políticos teve a ver com a retomada da vida política e da<br />

mobilização social ao longo do período.<br />

Esse ponto <strong>no</strong>s leva ao coração da tese e do livro: uma análise sociológica<br />

da produção bibliográfica em ciências sociais. A socióloga Gláucia Villas Boas<br />

é ela mesma uma representante legítima da consolidação acadêmica <strong>das</strong> ciências<br />

sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, iniciada na década e 1930 e completada após o início da<br />

moderna pós-graduação ao final da década de 1960. A produção bibliográfica<br />

em ciências sociais é interpretada dentro do contexto social em que se verificou<br />

e que lhe dá inteligibilidade. Ela responde a injunções desse contexto, ao<br />

mesmo tempo em que faz parte da própria constituição dele.<br />

O impacto do contexto aparece com clareza, sobretudo da análise dos<br />

temas abordados pelos autores <strong>no</strong>s diferentes campos de especialização. O<br />

caso mais óbvio é, como se podia esperar, o da ciência política. Se entre 1945<br />

e 1955 apenas 1,5% dos livros se dedicavam ao estudo de ideologias políticas,<br />

entre 1956 e 1966 a porcentagem sobe para 22%. Inversamente, o estudo <strong>das</strong><br />

instituições políticas cai de 60% para 43%. As mudanças são coerentes com<br />

os diferentes momentos históricos. Se depois da ditadura tratava-se, sobretudo,<br />

de consolidar as instituições democráticas, a partir do segundo gover<strong>no</strong><br />

Vargas a radicalização política tomou a frente, reduzindo-se o interesse na<br />

institucionalização.<br />

Em outros pontos a relação entre produção e contexto revela-se mais<br />

complexa, como <strong>no</strong>s informa o gráfico que mapeia o número de livros pu-<br />

16<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

blicados a<strong>no</strong> a a<strong>no</strong> entre 1945 e 1966. Há uma queda acentuada de produção<br />

entre 1945 e 1953, quando se passa de 37 livros (1945) para 18 (1953), numa<br />

média de 27 por a<strong>no</strong>. Segue-se, entre 1954 e 1959, um aumento rápido de<br />

produção, com um pico em 1958, com 63 livros. Nesse segundo momento, a<br />

média anual sobe para 50 livros/a<strong>no</strong>, ou 53, se levarmos em conta apenas o<br />

qüinqüênio de JK. No terceiro momento, entre 1960 e 1966, há uma queda<br />

em relação ao período anterior, mantendo-se, <strong>no</strong> entanto, a produção bem<br />

acima da verificada na primeira fase, com média de 46 livros por a<strong>no</strong> até o<br />

golpe e de 47 entre 1964 e 1966.<br />

De acordo com a expectativa, vemos que o período JK representou na<br />

produção de livros de ciências sociais o mesmo que significou em outros campos,<br />

isto é, um momento de explosão de criatividade. Contra a expectativa,<br />

o momento seguinte, apesar de toda a radicalização política que o marcou,<br />

presenciou um recuo na produção intelectual. Ou talvez devamos dizer que a<br />

radicalização favoreceu a produção de textos de ciência política e de sociologia,<br />

mas, em contrapartida, desfavoreceu a de história e antropologia.<br />

São alguns exemplos que aponto apenas para indicar ao leitor a grande<br />

contribuição do estudo de Glaucia Villas Bôas, fruto da maturidade de <strong>no</strong>ssas<br />

ciências sociais, capazes já de interrogar sua própria historia. A contribuição<br />

consiste tanto nas respostas que o livro traz como nas perguntas que suscita<br />

dentro do campo da sociologia do conhecimento, <strong>das</strong> profissões e da produção<br />

intelectual. Não sei melhor maneira para classificar um bom trabalho<br />

intelectual.<br />

17<br />

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Esse estudo dos livros de ciências sociais do acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional<br />

do Rio de Janeiro, publicados <strong>no</strong> período de 1945 a 1966, é resultado de<br />

pesquisa exaustiva feita nessa instituição <strong>no</strong>s últimos dois a<strong>no</strong>s da década de<br />

1980. O acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional ainda não estava informatizado, e trabalhando<br />

<strong>no</strong> fichário da seção de livros terminei reunindo 978 títulos. A pesquisa<br />

resultou em minha tese de doutorado "A <strong>Vocação</strong> <strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (1945/1964): Um estudo sobre sua produção em livro", defendida<br />

na Universidade de São Paulo, sob a orientação de Maria Isaura Pereira de<br />

Queiroz, em 1992. Nela classifiquei e analisei as publicações por temas e disciplinas,<br />

o que permitiu oferecer um pa<strong>no</strong>rama de como o <strong>Brasil</strong> era pensado<br />

em livro pelos cientistas sociais naquele importante período da vida nacional.<br />

Não era objetivo da tese apresentar uma lista de 872 obras, número da<br />

amostra analisada. Durante muito tempo ouvi colegas e alu<strong>no</strong>s perguntarem<br />

por que não fazia uma publicação com os títulos dos livros com os quais<br />

havia trabalhado, uma vez que poderia facilitar o trabalho de busca de outros<br />

pesquisadores. Embora a vida acadêmica <strong>no</strong>s roube tempo e leve muitas vezes<br />

a outros projetos, mantive durante esses a<strong>no</strong>s o desejo de publicar a tese<br />

com os títulos que se dividem em sete disciplinas: História do <strong>Brasil</strong>, Eco<strong>no</strong>mia<br />

Política, Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Geografia Humana e<br />

Demografia. Eis que foi possível agora publicá-la justamente pela <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional, o que muito me alegra.<br />

As bibliografias constituem um instrumento de trabalho indispensável<br />

para os pesquisadores, mas não há muitas <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais brasileiras.<br />

O que se deve ler para conhecer o <strong>Brasil</strong>, de Nelson Werneck Sodré,<br />

publicado em 1945, tor<strong>no</strong>u-se obra de referência de algumas gerações de cientistas<br />

sociais, com suas primeiras reedições cuidadosamente atualiza<strong>das</strong> sob<br />

a supervisão do autor. Os Cader<strong>no</strong>s do Instituto de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, da<br />

Universidade de São Paulo, de 1971, trazem um precioso conjunto de livros<br />

e artigos de revistas <strong>no</strong> campo da história, organizados por Sergio Buarque<br />

de Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz; o tema sociologia foi<br />

19<br />

AP r e S e n tA ç ã o<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

coordenado por Maria Isaura Pereira de Queiroz; e a área de antropologia teve<br />

a orientação de Egon Schaden. Resultado de um seminário promovido pelo<br />

IEB - Instituto de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, os Cader<strong>no</strong>s registram ainda os debates<br />

críticos que focalizam os temas estudados e suas diferentes abordagens nas<br />

disciplinas escolhi<strong>das</strong>. Contudo, não foram publicados em livro, ficando seu<br />

conhecimento e uso restritos a um pequeníssimo número de pesquisadores.<br />

Além disso, a seleção feita por Lucia Lippi Oliveira em Elite intelectual e debate<br />

político <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 30 – uma bibliografia comentada da Revolução de 1930 (1980)<br />

tem sido de grande valia para a pesquisa histórica e política da década citada.<br />

O título reúne 143 livros e documentos sobre a Revolução de 1930, os quais<br />

têm a política como questão central. Em 1999, veio a público O que ler na<br />

ciência social brasileira (1970-1995), coordenado por Sergio Miceli, três volumes<br />

sobre sociologia, antropologia e ciência política que tiveram grande receptividade<br />

entre os cientistas sociais. Em 2002, o Roteiro bibliográfico do pensamento<br />

político-social brasileiro (1870-1965), de Wanderley Guilherme dos Santos, veio<br />

preencher o “vazio” de bibliografias.<br />

Finalmente, não se pode deixar de mencionar o BIB – Revista <strong>Brasil</strong>eira de<br />

Informação Bibliográfica em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, da ANPOCS/Associação Nacional<br />

de Pós-Graduação e Pesquisa em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, que vem prestando, desde<br />

a década de 1970, e<strong>no</strong>rme apoio aos estudos nesse campo, mantendo a boa<br />

qualidade de seus artigos e a regularidade indispensável a um periódico. Digase<br />

também que, <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, os meios virtuais têm proporcionado cada<br />

vez mais possibilidades de acesso a livros e textos, comentários e interpretações.<br />

As bibliografias do acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional para o período em foco<br />

são escassas, destacando-se a <strong>Brasil</strong>iana da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, organizada<br />

por Paulo Roberto Pereira e editada pela própria <strong>Biblioteca</strong> em 2001. O trabalho<br />

integra artigos de mais de 50 especialistas sobre a documentação e livros<br />

do acervo da instituição.<br />

Soma<strong>das</strong> as iniciativas, percebe-se que ainda há o que fazer tanto <strong>no</strong> que<br />

concerne à produção de bibliografias comenta<strong>das</strong> na área <strong>das</strong> ciências sociais,<br />

quanto <strong>no</strong> que diz respeito ao conhecimento do importante patrimônio<br />

da entidade. Apesar do avanço da pesquisa científica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, do sistema<br />

nacional de pós-graduação e da formação de pesquisadores, parece que o<br />

entendimento da importância <strong>das</strong> bibliografias é acanhado, sendo necessário<br />

ensinar aos jovens que se iniciam na pesquisa o uso desses meios insubstituíveis<br />

de trabalho. As conseqüências do descaso pelas bibliografias são muitas.<br />

Primeiro, a falta de informação sobre livros e revistas constantes em acervos<br />

20<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

de bibliotecas e arquivos contribui para o desconhecimento e a ausência de<br />

diálogo com a tradição de intérpretes e conhecedores do <strong>Brasil</strong>. Segundo,<br />

o fato de não se recorrer às bibliografias concorre para que a produção do<br />

saber, sobretudo na área <strong>das</strong> ciências sociais, corra o risco da repetição dos<br />

problemas ao invés de seu avanço.<br />

Ao circunscrever-se à <strong>Biblioteca</strong> Nacional, a pesquisa torna visível seu<br />

valioso conjunto <strong>no</strong> período de 1945 a 1966, facilitando a busca dos estudiosos<br />

interessados nas publicações daquela época. A preservação da memória<br />

<strong>das</strong> ciências sociais pela instituição permite que informações e conhecimento<br />

sejam acessíveis aos pesquisadores sem passar pelo crivo dos intérpretes que,<br />

muito embora importantes, fatalmente consagram temas, autores e disciplinas<br />

com suas escolhas e autoridade.<br />

No <strong>Brasil</strong>, muito cedo a camada intelectual buscou esclarecer fatos da vida<br />

social, chamando-lhe a atenção, particularmente, os aspectos da sociedade em<br />

que vivia. A partir de meados do século XIX, começaram a ser publica<strong>das</strong><br />

narrativas sobre a história do país que privilegiavam, de modo geral, as ações<br />

e os eventos políticos considerados relevantes para a construção da nação;<br />

vieram a público também estudos sobre as peculiaridades étnicas e culturais<br />

da população brasileira. Foi-se reunindo uma vasta documentação, a exemplo,<br />

entre outros, dos artigos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico<br />

<strong>Brasil</strong>eiro, fundado em 1838, que testemunha o modo pelo qual se concebia a<br />

reflexão e a pesquisa daqueles problemas.<br />

A década de 1930 veio marcar decisivamente a evolução dos estudos sobre<br />

os fatos sociais, uma vez que nela se iniciou a formação do cientista social <strong>no</strong><br />

país. Dentro do quadro de reformas políticas e educacionais daqueles a<strong>no</strong>s,<br />

foram cria<strong>das</strong> na cidade de São Paulo a Escola Livre de Sociologia e Política,<br />

em 1933; e a Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de São<br />

Paulo, em 1934. No Rio de Janeiro, disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais começaram<br />

a ser ministra<strong>das</strong> na Universidade do Distrito Federal, em 1935. Interrompi<strong>das</strong><br />

as atividades da UDF em 1939, a formação de cientistas sociais foi retomada<br />

<strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong> na Faculdade de Filosofia da antiga Universidade do <strong>Brasil</strong>.<br />

Os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 delimitaram um importante período da vida nacional,<br />

marcado por profun<strong>das</strong> mudanças econômicas, sociais e políticas. Nos<br />

setores culturais e intelectuais, a expansão dos meios de difusão da cultura,<br />

de um lado, e os movimentos a favor da re<strong>no</strong>vação da produção cultural, de<br />

outro, se associaram ao crescimento <strong>das</strong> universidades, às lutas estudantis, às<br />

iniciativas da comunidade acadêmico-científica para consolidar suas instituições.<br />

Configurou-se naqueles meios um clima de debates e polêmicas efer-<br />

21<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

vescentes, que se voltavam duplamente para a questão do desenvolvimento<br />

do país e também do compromisso social e político da produção cultural. No<br />

campo <strong>das</strong> ciências sociais, começaram a surgir <strong>no</strong> início daquele período os<br />

primeiros resultados <strong>das</strong> atividades <strong>das</strong> instituições de pesquisa e formação de<br />

cientistas sociais. Que rumo teriam tomado os estudos elaborados e publicados<br />

em livro naquelas circunstâncias histórico-sociais?<br />

Nas últimas déca<strong>das</strong>, o interesse em conhecer as atividades e características<br />

da camada intelectual erudita do país tem levado a um expressivo desenvolvimento<br />

<strong>das</strong> pesquisas nas áreas do pensamento social brasileiro, da história <strong>das</strong><br />

idéias e da sociologia do conhecimento. As primeiras avaliações sociológicas<br />

da produção do conhecimento voltado para os fatos sociais datam de finais<br />

da década de 1940. Contudo, somente tomam vulto <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1970, quando<br />

são publicados com maior freqüência textos focalizando especificamente as<br />

ciências sociais, ou o pensamento social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

De modo geral, esses trabalhos têm realçado duas perspectivas de análise<br />

<strong>no</strong> exame da produção intelectual brasileira: ora questionam-se as características<br />

dos estudos de autores brasileiros à luz do padrão da produção científica<br />

de países econômica, política e culturalmente mais desenvolvidos, atribuindo,<br />

portanto, relevância à posição do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> sistema mundial de dominação;<br />

ora o foco de análise converge para as instituições volta<strong>das</strong> para as ciências<br />

sociais, como também para grupos de cientistas com finalidade de averiguar<br />

o grau de auto<strong>no</strong>mia do campo da produção científica frente ao campo dos<br />

ideais e <strong>das</strong> ações políticas.<br />

O estudo que apresentamos a seguir, entretanto, submete à analise os enfoques,<br />

os temas e os problemas que distinguiram a produção científica em<br />

livro, questionando de que maneira a experiência social e histórica marcante<br />

daqueles a<strong>no</strong>s se teria deixado traduzir na elaboração e divulgação do conhecimento<br />

<strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

22<br />

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A Pr o d u ç ã o d A s CIênCIAs soCIAIs e m LI v r o<br />

Duas questões se impõem quando se escolhem as ciências sociais como<br />

objeto de pesquisa sociológica: dizem respeito à identidade e à diferença <strong>das</strong><br />

formas de conhecer e à relação que guardam com a sociedade onde são elabora<strong>das</strong><br />

e recebi<strong>das</strong>. As ciências sociais são um conhecimento específico tanto<br />

pela sua constituição intrínseca, quanto pelo fato de que a possibilidade de<br />

elaborá-las está definitivamente associada à existência de um grupo social e a<br />

um tipo de sociedade.<br />

Pode-se distingui-las, inicialmente, por integrarem o que se de<strong>no</strong>mina conhecimento<br />

erudito, 1 saber tradicionalmente constituído por estudos aprofundados<br />

e sistemáticos de um determinado assunto. O conhecimento erudito<br />

pressupõe a formação e o treinamento de um corpo de estudiosos, cujas<br />

condições específicas de existência – <strong>no</strong> sentido de que está afastado <strong>das</strong> atividades<br />

do trabalho manual – surgem com o advento do excedente econômico<br />

e variam de acordo com a organização da produção material e o aumento da<br />

riqueza social.<br />

Os apreciadores do conhecimento erudito formam assim um grupo privilegiado,<br />

pois elaboram e possuem um saber prestigiado que não é acessível<br />

a todos. E podem buscar orientar – através do saber que produzem – a<br />

conduta de outros grupos sociais. 2 Ao considerar as ciências sociais como<br />

parte integrante do conhecimento erudito, diferenciamo-las de imediato do<br />

1. Seguimos a distinção entre conhecimento erudito e conhecimento vulgar adotada por Maria Isaura<br />

Pereira de Queiroz em Balanço da tradição do pensamento sobre cultura e sociedade a partir<br />

d o século XIX, publicado em QUEIROZ, Maria I. P. de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI,<br />

Sergio; ORTIZ, Renato. Esboço de um projeto de investigação da produção cultural <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, São Paulo, n.<br />

17, 1ª série, set. 1982. Cader<strong>no</strong>s CERU.<br />

2. A relação entre conhecimento erudito, particularmente o científico, e a orientação de práticas<br />

sociais é discutida em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia.<br />

São Paulo: Cultrix/USP, 1973; FREYER, Hans. Teoria da época atual. Rio de Janeiro: Zahar,<br />

1965. p. 41-70; WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970. p. 45-<br />

52. No contexto brasileiro, na década de 1950 o tema foi questionado e debatido em FER-<br />

NANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963.<br />

p. 77-144, 229-234 e 253-299; RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por<br />

uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.<br />

23<br />

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I


Glaucia Villas Bôas<br />

conhecimento “vulgar” que pode ser comum a todos os membros de uma<br />

sociedade.<br />

Porém, essas distinções não são suficientes para caracterizar as ciências<br />

sociais. No conjunto da tradição do conhecimento erudito, elas convivem<br />

com outros saberes de qualidade também elitista como a experiência religiosa,<br />

a filosofia e o conhecimento <strong>das</strong> ciências naturais e exatas. As ciências sociais<br />

adquirem identidade dentro daquele quadro enquanto idéia que trata da explicação<br />

dos fenôme<strong>no</strong>s da vida social, a partir da sistematização e classificação<br />

de materiais empíricos, submetidos à análise com instrumental teórico cuja<br />

elaboração provém de um processo de generalização. A exatidão, a objetividade<br />

e a possibilidade de verificação dos resultados obtidos, características<br />

gerais do conhecimento científico, qualificam, portanto, também as ciências<br />

sociais. 3<br />

Tal modo de conhecer, a organização de sua prática e o sentido que lhe<br />

é atribuído são forjados ao longo <strong>das</strong> transformações sociais decorrentes da<br />

Revolução Industrial, com a consolidação da sociedade moderna de base técnico-industrial.<br />

Somente nesta configuração social concebe-se como possível<br />

o domínio e o controle da vida social através do saber científico. O caráter<br />

instrumental atribuído à disciplina está relacionado com a possibilidade de<br />

“civilizar o homem” e “consumar a história”, que surge na época moderna. 4<br />

As ciências sociais são compreendi<strong>das</strong> como um programa, sugerido pela teoria<br />

do desenvolvimento da sociedade. 5 Assim, de um lado o desenvolvimento<br />

histórico, de outro lado a possibilidade de controle e domínio da vida social<br />

marcam a sua identidade.<br />

Observando o princípio sociológico <strong>das</strong> relações entre conhecimento<br />

e corpo social, é possível conhecer as características <strong>das</strong> ciências sociais a<br />

partir do estudo <strong>das</strong> condições econômicas, sociais, políticas e históricas da<br />

sociedade onde são elabora<strong>das</strong>; da criação, organização e objetivos de instituições<br />

volta<strong>das</strong> para a sua transmissão e produção; da origem social, trajetória<br />

profissional e projetos político-ideológicos de grupos de estudos; também é<br />

possível conhecê-las através de sua constituição interna, onde se inscrevem<br />

aquelas mesmas condições sociais e institucionais, reapresenta<strong>das</strong> <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> do<br />

pensamento por meio do procedimento cognitivo específico <strong>das</strong> disciplinas.<br />

3. Cf. Institut für Sozialforchung Frankfurt (M). Empirische Sozialforchung. In: HANDWÖRTER-<br />

BUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.<br />

4. Cf. FREYER, Hans. Op. cit.<br />

5. Cf. KEMPSKI, Juergen V. Sozialwissenschaft. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft.<br />

Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 617-626.<br />

24<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

A análise da constituição interna informa ainda sobre os limites diante dos<br />

quais os cientistas sociais fizeram suas escolhas e traçaram o percurso de sua<br />

história.<br />

As ciências sociais se configuram através da conjugação de elementos<br />

constitutivos, tais como pressupostos epistemológicos, paradigmas teóricos,<br />

métodos e técnicas de investigação. Cada um deles – ou tomados em seu conjunto<br />

– pode ser utilizado para o exame <strong>das</strong> relações entre o conhecimento<br />

e a sociedade na qual é elaborado, quando se trata de conhecê-las a partir de<br />

elementos intrínsecos ao seu procedimento cognitivo.<br />

Todavia, um dos traços marcantes da configuração <strong>das</strong> ciências sociais é a<br />

diversidade de disciplinas e temas que conformam sua unidade. A repartição<br />

em diferentes disciplinas retrata tanto a divisão do trabalho intelectual e os<br />

grupos de várias profissões, como a existência de diversos pontos de vista de<br />

conhecimento e análise <strong>das</strong> relações sociais.<br />

A divisão em disciplinas tem sido observada na prática, apesar <strong>das</strong> controvérsias<br />

que suscita. Desde finais do século XIX, verifica-se um movimento<br />

para estabelecer graus cada vez maiores de especialização, postura justificada,<br />

<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes, pelo princípio necessário de verificação e comprovação do<br />

conhecimento produzido. Recortar e isolar uma “fatia” do vasto quadro da<br />

existência humana são fundamentos da divisão disciplinar:<br />

Todos os campos e disciplinas têm a vantagem e a desvantagem<br />

de recortar alguma coisa do grande quadro da existência<br />

– na maioria <strong>das</strong> vezes apenas uma pequena fatia, a qual se<br />

põe debaixo da lupa. O princípio é isolar; tudo depende daquilo<br />

que é isolado do acordo com uma finalidade. Cada ciência tem,<br />

portanto, suas questões básicas próprias, as quais a diferenciam<br />

de outras. 6<br />

Ao mesmo tempo, observa-se o esforço pela reflexão sobre a unidade <strong>das</strong><br />

ciências sociais, movido por diferentes interesses. De um lado, considera-se<br />

que cada “fatia” isolada contém o todo do qual faz parte, podendo-se, desse<br />

modo, reconhecê-lo; de outro lado, reclama-se da indispensabilidade de uma<br />

teoria geral da sociedade que explique os diferentes fenôme<strong>no</strong>s individuais es-<br />

6. Cf. WIESE, Leopold von. Soziologie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen:<br />

Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 626.<br />

25<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

tudados por cada disciplina. 7 De outra perspectiva, proclama-se ainda a existência<br />

de um “mercado comum” entre os campos <strong>das</strong> ciências sociais:<br />

Mas, ainda sem o querer explicitamente, as <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong><br />

se impõem umas às outras, cada uma tende a compreender<br />

o social <strong>no</strong> seu todo, na sua totalidade; cada uma invade<br />

o domínio de suas vizinhas crendo permanecer em casa. A<br />

Eco<strong>no</strong>mia descobre a Sociologia que a rodeia, a História –<br />

talvez a me<strong>no</strong>s estruturada <strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> do Homem – aceita<br />

to<strong>das</strong> as lições de sua múltipla vizinhança e se esforça por<br />

repercuti-las. Assim, malgrado as reticências, as oposições,<br />

as ig<strong>no</strong>râncias tranqüilas, a instalação de um “mercado comum”<br />

se “esboça”. 8<br />

O debate sobre as vantagens e desvantagens da especialização, da unificação<br />

<strong>das</strong> ciências sociais ou de conveniência disciplinar é vasto e reúne especialistas<br />

de diferentes campos do conhecimento. Para o propósito do trabalho,<br />

importante é assinalar que o conjunto de disciplinas e subdisciplinas revela,<br />

sobretudo, um complexo de relações sociais, a tomada de consciência dessas<br />

relações e o interesse em problematizá-las e conhecê-las. 9<br />

Outra questão relativa à divisão disciplinar diz respeito aos campos de<br />

conhecimento que integram o grupo <strong>das</strong> ciências sociais. A Enciclopédia Britânica<br />

10 inclui eco<strong>no</strong>mia, ciência política, sociologia, antropologia, psicologia<br />

social, estatísti ca social e geografia social, excluindo a história por não haver<br />

consenso entre os historiadores quanto à sua pertinência às ciências sociais.<br />

7. Na década de 1920, por meio da <strong>no</strong>ção de “fato social total” Marcel Mauss demonstrava como<br />

um fato social compreende dimensões diversas da sociedade global na qual se insere; MAUSS,<br />

Marcel. Essai sur le Don. Forme et raison de l’échange dans les societés archaiques. In: ___.<br />

Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, 1968; LÉVI-STRAUSS, Claude. Introduction à l’oeuvre de<br />

Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Op. cit.; em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max.<br />

Op. cit., os autores reivindicam a necessidade de uma teoria geral da sociedade que permitiria<br />

explicar os diversos setores em que a sociedade está dividida. Embora se refiram <strong>no</strong> mais <strong>das</strong><br />

vezes à sociologia e suas subdisciplinas, seus argumentos seriam válidos para as disciplinas que<br />

compõem as ciências sociais.<br />

8. Cf. BRAUDEL, Fernando. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 42.<br />

9. Nesse sentido, cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Op. cit. cap. VIII; REDFIELD,<br />

Robert. Relations of Anthropology to Social Sciences and Humanities. In: ANTHROPOLOGY<br />

Today (An Encyclopedic Inventory), A. L. Kroeber (Org.). Chicago/London: The University Chicago<br />

Press, 1965, p. 728-738. Na p. 728 o autor afirma que “uma disciplina acadêmica é de imediato<br />

um grupo de homens perseguindo relações sociais e um método de investigação”.<br />

10. Cf. History of Social Sciences. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 16. p. 980.<br />

26<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

A definição enciclopédica é tão importante quanto problemática. Importante<br />

porque representa um momento de síntese de uma teia de relações entre<br />

os cientistas sociais, o contexto de suas atividades e o saber que elaboram;<br />

problemática, porque aquelas relações variam ao longo do tempo e <strong>no</strong> espaço.<br />

Ao excluir a história do conjunto de disciplinas, aquela definição deixa de considerar<br />

particularmente historiadores franceses, 11 que insistem em conceber a<br />

matéria como parte integrante <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Ao lado <strong>das</strong> disciplinas, os temas tratados em cada uma delas e os temas<br />

omitidos ou pouco estudados constituem um indicativo valioso para a compreensão<br />

do “retrato” de uma sociedade, seja <strong>no</strong> sentido mais amplo desse<br />

conceito, seja quando restrito aos limites de uma sociedade nacional. Os temas<br />

expressam duplamente condições e situações sociais estuda<strong>das</strong>, e as escolhas<br />

possíveis dos pesquisadores. Mostram os problemas valorizados num<br />

determinado período, como foram conhecidos e avaliados na perspectiva dos<br />

cientistas sociais.<br />

O exame <strong>das</strong> ciências sociais permite, portanto, caracterizar esse campo<br />

do conhecimento erudito, distinguindo-o de outros ramos do saber e revelando<br />

as relações que mantém com a sociedade na qual surge e se desenvolve.<br />

1. A escolha do período - 1945 a 1966<br />

Não seria possível apontar o crescimento <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, sem antes fazer referência às transformações econômicas,<br />

sociais e políticas que, tendo início na década de 1930, marcaram<br />

a emergência de uma sociedade urba<strong>no</strong>-industrial de molde capitalista <strong>no</strong><br />

país. A partir daqueles a<strong>no</strong>s, expandiu-se a indústria modificando o sistema<br />

de estratificação social e imprimindo <strong>no</strong>va feição às cidades, ainda que de<br />

forma desigual pelas regiões brasileiras; o Estado fortaleceu o poder central<br />

e assumiu o controle de instrumentos indispensáveis para a execução de um<br />

“programa” nacional de mudanças e reformas, favorecendo, entre elas, as institucionais<br />

de caráter político-administrativo e as educacionais.<br />

Nesse contexto de transformações, se inicia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> a formação do cientista<br />

social, cujos marcos são a criação da Escola Livre de Sociologia e Política,<br />

em 1933, e a da Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de<br />

11. Cf. CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1986. p.<br />

34-39.<br />

27<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

São Paulo, em 1934, na capital paulista. No Rio de Janeiro, após ser criada a<br />

Universidade do Distrito Federal, em 1935, que interrompeu suas atividades<br />

em 1939, a Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do <strong>Brasil</strong><br />

inicia seus cursos, inclusive o de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, em 1939.<br />

Outras entidades volta<strong>das</strong> para o ensi<strong>no</strong> ou pesquisa nesse campo foram<br />

funda<strong>das</strong> ainda nas déca<strong>das</strong> de 1930 e 1940. Juntamente com as instituições<br />

pioneiras de São Paulo e do Rio de Janeiro, elas mostram investimentos feitos<br />

<strong>no</strong> sentido da organização de cursos e de centros, cuja finalidade é a qualificação<br />

de especialistas, a obtenção de dados e a elaboração de estudos sistemáticos<br />

sobre a sociedade brasileira. Um exemplo desses estabelecimentos<br />

é o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, órgão do Ministério da<br />

Educação e Cultura, criado em 1949, na cidade do Recife. 12<br />

Considerando o tempo indispensável para a qualificação de especialistas,<br />

além do prazo necessário para a elaboração de estudos e pesquisas, pode-se<br />

pressupor que em finais da década de 1940 tenham surgido os primeiros resultados<br />

<strong>das</strong> atividades dessas instituições. Àqueles trabalhos pioneiros se teriam<br />

acrescentado outros, realizados ao longo da década de 1950 e início dos<br />

a<strong>no</strong>s 1960, período <strong>no</strong> qual, vale dizer, continuaram sendo cria<strong>das</strong> entidades<br />

direciona<strong>das</strong> para as ciências sociais. 13 Tais estudos formariam um quadro, por<br />

12. Em Belo Horizonte, a Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de Minas<br />

Gerais inaugura curso de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> em 1941, fechando-o a seguir, e reabrindo-o em 1947;<br />

porém, cursos de Sociologia e Política são ministrados naquela cidade, na Faculdade de <strong>Ciências</strong><br />

Econômicas, em 1945; em Salvador, o curso de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> aberto em 1945 na Faculdade<br />

de Filosofia da Universidade da Bahia não se mantém, mas disciplinas como Antropologia são<br />

ministra<strong>das</strong> <strong>no</strong>s cursos de Geografia e História. O desenvolvimento <strong>das</strong> pesquisas sobre o tema<br />

é estimulado pelo convênio entre a Secretaria de Educação do Estado e a Universidade <strong>no</strong>rteamericana<br />

de Columbia, em 1949. Muito embora não estivessem estritamente volta<strong>das</strong> para a<br />

pesquisa ou o ensi<strong>no</strong> <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais, devem ser lembra<strong>das</strong> instituições que contribuíram<br />

para o seu desenvolvimento como o Conselho Nacional de Geografia, formado em<br />

1937 <strong>no</strong> Rio de Janeiro e incorporado, juntamente com o Departamento Nacional de Estatística,<br />

de 1934, ao Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, fundado em 1938; em 1937, foi criado<br />

o Institituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação e Cultura. A<br />

<strong>Fundação</strong> Getulio Vargas é de 1944 e abriga o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Eco<strong>no</strong>mia; regulamentado<br />

o ensi<strong>no</strong> nas Faculdades de <strong>Ciências</strong> Econômicas em decreto-lei de 1945, é fundada <strong>no</strong> mesmo<br />

a<strong>no</strong> a Faculdade Nacional de <strong>Ciências</strong> Econômicas na Universidade do <strong>Brasil</strong>; em 1964, inaugura-se<br />

a Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo.<br />

13. São exemplos de instituições cria<strong>das</strong> ao longo dos a<strong>no</strong>s 1950 e início dos a<strong>no</strong>s 1960: o Instituto<br />

de Direito Público e Ciência Política da FGV, criado em 1950; a <strong>Fundação</strong> para Desenvolvimento<br />

da Ciência, em Salvador, 1951; o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Eco<strong>no</strong>mia, Sociologia e Política,<br />

de 1953, transformado em 1955 <strong>no</strong> Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros; as Faculdades de<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> e Política, em Fortaleza, 1954; o Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais,<br />

1955; o Centro Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong> de Pesquisas em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, 1957; a Campanha de Defesa<br />

do Folclore e o Instituto de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> da Universidade do <strong>Brasil</strong>, 1958; o Instituto de<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> da Universidade da Bahia e a Universidade de Brasília em 1961.<br />

28<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

meio do qual seria possível conhecer características de um primeiro conjunto<br />

da produção sistemática <strong>das</strong> ciências sociais, conjunto que teria reatualizado<br />

a identidade daquele campo do conhecimento <strong>no</strong> país, diferenciando-o mais<br />

claramente de outros ramos do saber erudito e re<strong>no</strong>vando a tradição 14 de estudos<br />

sobre a sociedade brasileira.<br />

Junte-se àquela suposição, o fato de que os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 imprimem<br />

uma qualidade <strong>no</strong>va às mudanças que vinham ocorrendo <strong>no</strong> país desde<br />

1930. O período se caracteriza por um regime democrático de gover<strong>no</strong>, o qual<br />

presume a existência de condições favoráveis para a divulgação mais ampla<br />

de idéias. Nele, consolida-se a indústria capitalista e acelera-se o processo de<br />

urbanização. A inserção do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> sistema capitalista mundial moder<strong>no</strong> é<br />

crescente. Na esfera da administração pública, o Estado dá prosseguimento à<br />

criação de <strong>no</strong>vos órgãos e instituições, iniciando sua atuação <strong>no</strong> planejamento<br />

da eco<strong>no</strong>mia. As idéias e os ideais nacionalistas buscam fundamentos <strong>no</strong><br />

desenvolvimento econômico e social do país; enquanto isso, <strong>no</strong>vos estratos<br />

sociais participam de movimentos políticos, principalmente nas cidades. As<br />

características <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> de 1945 a 1966 teriam favorecido assim a expansão<br />

<strong>das</strong> ciências sociais, cuja origem, como se mencio<strong>no</strong>u, está vinculada aos<br />

problemas sociais decorrentes <strong>das</strong> transformações que marcaram o advento<br />

da sociedade burguesa.<br />

Entre as características do período em questão, sublinhem-se aqui a consolidação,<br />

o crescimento e a diferenciação da indústria e do mercado editoriais<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A divulgação <strong>das</strong> idéias, através do meio específico que é o livro,<br />

passa a ser feita em larga escala. Aqueles a<strong>no</strong>s talvez tenham marcado uma<br />

modalidade da difusão <strong>das</strong> idéias em geral, e da divulgação do conhecimento<br />

erudito em particular, à medida que o livro “feito <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>” foi sendo cada<br />

vez mais utilizado para aqueles fins. O conhecimento produzido teria então<br />

alcançado um público mais amplo e mais diferenciado do que aquele de contextos<br />

históricos anteriores, quando a indústria do livro era incipiente <strong>no</strong> país,<br />

ou apenas começava a se esboçar.<br />

Pode-se argumentar que as oportunidades de acesso aos livros são medi<strong>das</strong><br />

por diversas condições sociais, econômicas e políticas. De um lado, as<br />

desigualdades econômicas, sociais e de nível de escolaridade restringem as<br />

possibilidades de acesso aos textos; de outro, a produção de títulos pode ser<br />

beneficiada ou limitada por políticas econômicas, editoriais ou culturais ado-<br />

14. Empregamos o termo tradição <strong>no</strong> sentido utilizado em QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de.<br />

Op.cit.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

ta<strong>das</strong>, como também por características ou conjunturas da eco<strong>no</strong>mia nacional<br />

e internacional. Especialmente quanto à publicação em livro <strong>das</strong> pesquisas sobre<br />

a sociedade brasileira, pode-se argumentar ainda que se destinava, naquele<br />

período, a um mercado consumidor reduzido e especializado, que se forjava<br />

ao longo <strong>das</strong> mudanças implementa<strong>das</strong> na área da educação <strong>no</strong> país, desde a<br />

criação <strong>das</strong> universidades, <strong>das</strong> faculdades de filosofia e <strong>das</strong> reformas do ensi<strong>no</strong><br />

secundário nas déca<strong>das</strong> de 1920, 1930 e 1940. Todos esses argumentos são<br />

válidos e mereceriam um exame minucioso que não <strong>no</strong>s cabe fazer aqui. Eles<br />

não impedem, contudo, a observação de que <strong>no</strong> período em que se expandiram<br />

os estudos <strong>das</strong> ciências sociais, foram ofereci<strong>das</strong> condições indispensáveis<br />

para o desenvolvimento da indústria editorial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, por meio do que<br />

ampliaram-se as possibilidades de veicular as idéias através dos livros.<br />

Finalmente, levando em conta o térmi<strong>no</strong> do regime democrático de gover<strong>no</strong><br />

em 1964, supõe-se que as condições institucionais, políticas e econômicas,<br />

bem como aquelas específicas do mercado editorial, tenham sofrido influências<br />

desse fato e possivelmente alterado as características <strong>das</strong> publicações<br />

sobre o tema.<br />

Os motivos que levaram a indagações sobre o perfil <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong>s<br />

a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 são, portanto, os seguintes: a emergência de um conjunto<br />

de estudos <strong>no</strong> campo da disciplina, fruto da institucionalização do ensi<strong>no</strong> e da<br />

pesquisa voltados para aquela área do conhecimento, nas déca<strong>das</strong> de 1930 e<br />

1940, assim como o trabalho de instituições cria<strong>das</strong> até o início dos a<strong>no</strong>s 1960;<br />

as condições propícias à elaboração do conhecimento <strong>das</strong> ciências sociais que<br />

teriam sido ofereci<strong>das</strong> tanto pelo regime democrático de gover<strong>no</strong>, como pelas<br />

transformações econômicas e sociais que nele ocorreram; e a implementação<br />

efetiva da indústria do livro <strong>no</strong> país, que possibilitou em larga escala a divulgação<br />

<strong>das</strong> idéias através daquele meio. Essa modalidade da difusão do saber teria<br />

caracterizado um primeiro conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais, o qual<br />

presume-se ter delineado a diferenciação daquele ramo do conhecimento dentro<br />

do quadro da tradição de estudos sobre a sociedade brasileira.<br />

2. O livro como recurso empírico-metodológico e as<br />

técnicas utiliza<strong>das</strong> na pesquisa<br />

Para conhecer o perfil da produção dos cientistas sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong><br />

contexto social e histórico de 1945 a 1966, utilizou-se nessa pesquisa o<br />

30<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

livro como recurso empírico-metodológico. O livro define-se como meio<br />

de comunicação e difusão da cultura, como produto e mercadoria, como<br />

objeto de arte. Em definição corrente, o termo significa “mensagem escrita<br />

de extensão considerável feita para a circulação pública, e registrada em<br />

materiais leves, mas duradouros o suficiente para ser carregada, comparativamente,<br />

com maior facilidade”. 15 Acrescente-se que o livro é em geral<br />

uma publicação não-periódica. Diferencia-se do folheto pelo número de<br />

páginas e tipo de capa. 16<br />

A escolha do livro como material empírico dessa pesquisa foi precedida<br />

de algumas considerações. O registro escrito é, sem dúvida, um elo indispensável<br />

entre a produção e a recepção <strong>das</strong> idéias. Ao materializar o saber<br />

adquirido, a publicação completa uma etapa do saber, evidenciando interesse<br />

em divulgá-lo para um público mais amplo. Os livros conjugam, ao me<strong>no</strong>s,<br />

duas ordens de interesse: conhecimento de determinados problemas,<br />

debate de tais problemas.<br />

Em segundo lugar, o uso do livro delimita um tipo específico de procedimento.<br />

Com o decorrer do tempo, não só guarda e acumula idéias, como<br />

registra a memória de ações e maneira de pensar de seus autores. É uma<br />

fonte vantajosa para a reconstrução histórica porque nela os estudiosos<br />

expõem tanto o seu trabalho, quanto a avaliação que dele fazem <strong>no</strong> momento<br />

de sua atualidade.<br />

A memória assim preservada permite que informações e conhecimentos<br />

sejam reatualizados sem passar pelo crivo <strong>das</strong> condições e referências<br />

do presente daquele que as transmite – como ocorre com a<br />

memória oral. Jorge Luis Borges dizia que “o mais importante de um<br />

livro é a voz do autor.” Como fonte de investigação, o livro garante a<br />

continuidade de um diálogo. 17<br />

Finalmente, a escolha <strong>das</strong> obras de ciências sociais possibilita redimensionar<br />

critérios utilizados nas avaliações da produção intelectual. Um desses critérios<br />

restringe a produção científica a um grupo de estudiosos que se define<br />

15. Book. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 3. p. 919.<br />

16. De acordo com a Associação <strong>Brasil</strong>eira de Normas Técnicas, órgão filiado à Federation Internationale<br />

de Documentation, o folheto tem <strong>no</strong> mínimo cinco e <strong>no</strong> máximo 49 páginas, revesti<strong>das</strong><br />

de papel ou cartolina. Cf. Normas ABNT sobre informação e documentação, NBR 6029, set.<br />

2002.<br />

17. O comentário está em BORGES, Jorge Luis. O livro. Humanidades, v. I, n. 1, p. 18, out.-dez.<br />

1982.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

pela sua formação especializada, carreira profissional e inserção em instituição<br />

estritamente voltada para a produção científico-acadêmica. Outro critério<br />

busca observar características de estudos e pesquisas, vinculando sua<br />

qualidade à qualidade da entidade que propicia condições para sua realização;<br />

neste caso, são avaliados os valores que <strong>no</strong>rteiam as atividades daquela<br />

instituição, seus objetivos, a qualificação de seus profissionais, <strong>no</strong>rmas que<br />

regulamentam sua prática, o grau de auto<strong>no</strong>mia que possui para preservar<br />

seus interesses frente àqueles de instituições volta<strong>das</strong> para outros fins.<br />

Tanto um como outro dos critérios apontados tendem a limitar o exame<br />

de produção científica ao exame de um grupo ou uma instituição “típicos”.<br />

Parte-se do pressuposto de que o conhecimento científico se elabora <strong>no</strong>s<br />

limites de um grupo ou de uma entidade que apresenta um conjunto de<br />

características e aproxima-se assim de um padrão ideal. Tal perspectiva de<br />

análise da produção científica leva ao risco de excluir da investigação tanto<br />

o que produziram os estudiosos, quanto o que foi produzido pelas instituições<br />

que não tenham as qualidades considera<strong>das</strong> indispensáveis para a<br />

elaboração de estudos de caráter científico. Aliás, é o que ocorre <strong>no</strong> período<br />

observado, os autores nem sempre têm uma qualificação específica,<br />

havendo entre eles não apenas cientistas sociais, mas também diplomatas,<br />

militares, juristas, filósofos.<br />

Diga-se ainda que esse procedimento não privilegia o conhecimento da<br />

produção científica, mas a experiência de grupos e instituições voltados<br />

para o desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais. É certo que as instâncias da<br />

produção científica, dos grupos de estudiosos <strong>das</strong> instituições científicas,<br />

estão interliga<strong>das</strong> e são condiciona<strong>das</strong> pelas características econômicas, políticas,<br />

culturais e históricas da sociedade que as abriga, podendo contribuir<br />

para a modificação ou manutenção de tais particularidades. Contudo, definida<br />

a instância que se pretende conhecer, entre os múltiplos pla<strong>no</strong>s que<br />

envolvem a elaboração do conhecimento científico, segue-se a escolha e o<br />

uso de instrumento analítico que permita estudá-la na sua especificidade.<br />

Quanto ao livro, diga-se que o surgimento dos meios audiovisuais de<br />

comunicação provocou um amplo debate sobre sua validade como instrumento<br />

de difusão da cultura. O rádio, o cinema, a televisão, as fitas magnéticas<br />

de gravação, pela velocidade com que informam e atualizam a ocorrência<br />

de um fato para grandes audiências, teriam desafiado o lugar longamente<br />

privilegiado do livro na transmissão de conhecimentos.<br />

32<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Todavia, aos argumentos que insistem na permanência do livro somam-se as<br />

pesquisas 18 que assinalam em toda a parte o crescimento do índice de produção<br />

anual de <strong>no</strong>vos títulos. No <strong>Brasil</strong>, o desenvolvimento da produção editorial – da<br />

fundação da Imprensa Régia, em 1808, à década de 1920 – foi considerado um<br />

dos mais lentos. Nos a<strong>no</strong>s 1930, esboçam-se a indústria e o mercado editoriais,<br />

os quais a partir da década de 1940 apresentam índices crescentes. Estima-se<br />

que, entre livros e folhetos, o número de títulos publicados em 1940 tenha sido<br />

de 1.678, elevando-se para 3.965 em 1950; 5.377 em 1960; 9.950 em 1971; e<br />

13.267 em 1980, excluí<strong>das</strong> as publicações oficiais. Em 1980, o <strong>Brasil</strong> passa a<br />

ocupar o 11º lugar na produção mundial de livros. A União Soviética, à frente<br />

de todos os outros países, naquele a<strong>no</strong> publica 80.676. 19<br />

Os números são um indicativo importante da permanência do livro ao<br />

lado de outros meios de comunicação. Não revelam, entretanto, as numerosas<br />

atividades que envolvem sua fabricação. As obras condensam múltiplas relações<br />

sociais e históricas, e diversos processos de trabalho. Constituem uma<br />

expressão sintética de aspectos da vida social e nacional, tão diferentes quanto<br />

interligados, como os aspectos econômicos, políticos e da efervescência da<br />

prática intelectual.<br />

Utilizar o livro como fonte de pesquisa pressupõe, portanto, compreender<br />

que o conhecimento, além <strong>das</strong> já referi<strong>das</strong> relações que mantém com a sociedade<br />

e grupos de estudiosos, está sujeito a mais uma rede de relações sociais,<br />

<strong>no</strong> que respeita à sua divulgação e recepção através da escrita. Trata-se de uma<br />

teia de relações exteriores ao processo de produção intelectual stricto sensu.<br />

Ainda que não sejam investiga<strong>das</strong> nesse trabalho, é preciso reconhecê-las, pois<br />

indicam limites do material pesquisado.<br />

Nesse sentido, cabe dizer que a produção do conhecimento <strong>das</strong> ciências<br />

sociais e sua transmissão através da escrita são, mesmo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, evidentemente,<br />

mais amplas do que aquelas que se inscrevem <strong>no</strong>s livros. As revistas<br />

especializa<strong>das</strong>, as teses e os relatórios de trabalho não publicados constituem<br />

outras fontes de análise que, ao lado do livro, conformam o quadro da produção<br />

escrita.<br />

A par disso, saliente-se que, <strong>no</strong> período de 1945 a 1966, as condições<br />

institucionais do trabalho científico se encontram em processo de reconhe-<br />

18. Referimo-<strong>no</strong>s a ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2 ed. Rio de Janeiro:<br />

Cátedra; Brasília: INL 1978; e a HALLEWELL, Laurence. O livro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: sua história. São<br />

Paulo: T. A. Queiroz/USP, 1985.<br />

19. HALLEWELL, Laurence. Op. cit. p. 406, 426-427, 472 e 615.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

cimento e consolidação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Há exemplos de estudiosos que desenvolveram<br />

suas pesquisas em campo de conhecimento distinto daquele de sua<br />

formação acadêmica, ou interromperam sua trajetória profissional; há<br />

exemplos também de instituições de vida efêmera, ou que mantiveram<br />

atividades científicas sem ter logrado estabelecer meios adequados para<br />

a consecução de seus objetivos. O estudo da produção científica naquele<br />

período exigiria, portanto, duplamente, um procedimento metodológico<br />

que privilegiasse a instância da produção cientifica e também observasse<br />

suas condições históricas específicas.<br />

A utilização <strong>das</strong> publicações de ciências sociais em livro, como recurso<br />

empírico-metodológico, se mostra então apropriada para a avaliação da produção<br />

da disciplina, porquanto põe em evidência a produção propriamente<br />

dita e evita a seleção a priori de estudos sobre a sociedade brasileira com base<br />

em julgamentos de excelência, ou em requisitos da trajetória acadêmica e profissional<br />

de seus autores, ou <strong>no</strong> funcionamento de instituições. Apresenta-se<br />

assim como critério mais adequado às particularidades do período histórico<br />

abordado, de condições socioeconômicas tão efervescentes.<br />

Note-se que as características de um conjunto de estudos e pesquisas inscrevem<br />

traços do percurso de seus cultores, <strong>das</strong> práticas institucionais e da<br />

sociedade global; ao descrever e analisar em primeiro pla<strong>no</strong> a produção científica,<br />

o trajeto metodológico dessa pesquisa favorece a observação daqueles<br />

traços, sem entretanto limitar o horizonte de investigação dos mesmos.<br />

Esse estudo do perfil <strong>das</strong> ciências sociais se baseia em uma amostra de<br />

872 livros, constantes do acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, situada <strong>no</strong> Rio de<br />

Janeiro. A Lei do Depósito Legal nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004,<br />

que determina seja entregue à instituição um exemplar de cada um dos livros<br />

publicados <strong>no</strong> país, justifica a escolha desta <strong>Biblioteca</strong>. A entidade reúne, cataloga<br />

e conserva a maior parte da produção intelectual brasileira, embora<br />

aquela Lei não venha sendo cumprida com regularidade, como foi possível<br />

verificar durante a pesquisa. No entanto, é o acervo mais completo dos livros<br />

de ciências sociais.<br />

Foram buscados de início os livros classificados nas disciplinas que em definições<br />

correntes integram as ciências sociais: sociologia, antropologia, ciência<br />

política, geografia humana, história, eco<strong>no</strong>mia política e psicologia social. 20<br />

20. A reunião do material foi feita em duas etapas que cobrem os períodos agosto/outubro de 1985<br />

e março/junho de 1986.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

A seleção <strong>das</strong> obras se estendeu às publicações data<strong>das</strong> de 1945 a 1966.<br />

Considerou-se que esta faixa permitiria: 1) incluir na amostra um número<br />

significativo de estudos elaborados <strong>no</strong> contexto social e político focalizado pela<br />

pesquisa; sabe-se que o térmi<strong>no</strong> de um estudo não determina de imediato sua<br />

publicação em livro, havendo um tempo, cujo cálculo médio costuma ser de<br />

dois a<strong>no</strong>s, entre o final do trabalho e a divulgação de seus resultados em livro;<br />

2) examinar se as crises políticas que marcaram o início dos a<strong>no</strong>s 1960 teriam<br />

provocado alterações na produção científica, seja de ordem quantitativa, seja<br />

de ordem qualitativa.<br />

No sistema classificatório da <strong>Biblioteca</strong> Nacional a grande maioria dos<br />

livros se encontra definida pela categoria “<strong>Brasil</strong>”, que se desdobra em numerosos<br />

subitens como <strong>Brasil</strong> – história, <strong>Brasil</strong> – condições sociais, <strong>Brasil</strong> –<br />

religiões. A série <strong>Brasil</strong> – Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística mostra<br />

condições demográficas, natalidade, padrão de vida, custo e nível de vida, cidades,<br />

crescimento, mortalidade, causas, e assim por diante até que se esgotem<br />

as possibilidades temáticas.<br />

A partir da categoria-chave “<strong>Brasil</strong>” formam-se, portanto, conjuntos e subconjuntos<br />

que terminam por configurar uma espécie de “mapa”, onde estão classifica<strong>das</strong><br />

as obras de ciências sociais referentes a uma, duas, ou mais daquelas categorias.<br />

Os grupos disciplinares “sociologia”, “antropologia”, e outros, com raras<br />

exceções, incluem somente obras, manuais e introduções de autores estrangeiros.<br />

Durante a coleta, foram analisados todos os conjuntos e subconjuntos indicados,<br />

e selecionados os títulos que formam a amostra desse trabalho.<br />

Essa disposição dos títulos <strong>no</strong>s catálogos fez com que, obrigatoriamente,<br />

se li<strong>das</strong>se com um amplo universo de obras sobre a sociedade brasileira, para<br />

selecionar, entre elas, aquelas cujas fichas catalográficas indicavam sua pertinência<br />

ao campo <strong>das</strong> ciências sociais. No decorrer da seleção, verificou-se que<br />

aos estudos sobre a sociedade brasileira acrescentavam-se obras de autores<br />

nacionais dedica<strong>das</strong> a questões teóricas e metodológicas sobre o tema. À medida<br />

que registravam características do pensamento dos especialistas sobre<br />

seu campo de trabalho intelectual, <strong>no</strong> período em estudo, essas obras foram<br />

incluí<strong>das</strong> na amostra.<br />

Depois da coleta dos títulos, as primeiras observações do material levaram<br />

a um questionamento sobre a constituição <strong>das</strong> ciências sociais pela sociologia,<br />

antropologia e ciência política, como costumam ser reconheci<strong>das</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

com base na organização de departamentos, faculdades e institutos universitários.<br />

Notou-se que o conjunto de estudos sobre a sociedade brasileira era formado por<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

diferentes enfoques disciplinares, que se complementavam e se interpenetravam,<br />

enquanto cada disciplina delimitava sua fisio<strong>no</strong>mia. De tal modo, que optar exclusivamente<br />

pela pesquisa da produção científica da sociologia, da antropologia e da<br />

ciência política seria limitar, às perspectivas desses três campos do conhecimento,<br />

o exame dos textos sobre as ações e relações sociais características da sociedade<br />

brasileira <strong>no</strong> período aqui abordado. Manteve-se então o leque disciplinar que se<br />

apresentava <strong>no</strong> acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional.<br />

Resta dizer que, para a classificação <strong>das</strong> obras seleciona<strong>das</strong> em disciplinas<br />

e temas, foram utiliza<strong>das</strong> as informações conti<strong>das</strong> nas fichas catalográficas,<br />

sobretudo o título do livro, considerado uma síntese de seu conteúdo, dada<br />

pelo autor. Ao título foram relaciona<strong>das</strong> as <strong>no</strong>ções-chave nas quais a obra fora<br />

classificada pela <strong>Biblioteca</strong>, além de outras informações quanto ao conteúdo,<br />

quando existentes (algumas raras fichas trazem o índice do livro). A essas<br />

indicações somaram-se aquelas relativas ao órgão interessado na publicação,<br />

muitas vezes institutos ou centros de pesquisa e ensi<strong>no</strong> em ciências sociais, <strong>no</strong><br />

caso de publicações sem fins lucrativos.<br />

Durante o processo de classificação foram verificados os seguintes problemas:<br />

1) fichas que não registravam o a<strong>no</strong> de publicação da primeira edição<br />

do livro; 2) informações incompletas devido à má feitura ou à falta de preservação<br />

<strong>das</strong> fichas da <strong>Biblioteca</strong>; 3) informações insuficientes para classificação.<br />

Nesse caso, as fichas não apresentavam qualquer outra indicação, exceto o<br />

título do livro, seu autor, a<strong>no</strong> e local de publicação. Tais dados encontravam-se<br />

isolados <strong>das</strong> informações conti<strong>das</strong> nas <strong>no</strong>ções-chave da classificação da obra.<br />

Para resolver essas dificuldades, consultou-se o seguinte material: Introdução ao<br />

estudo da Sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, coordenação de Maria Isaura Pereira de Queiroz,<br />

Introdução ao estudo da História do <strong>Brasil</strong>, coordenação de Sergio Buarque de<br />

Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz, e Introdução ao estudo da<br />

Antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, coordenação de Egon Schaden, trabalhos apresentados<br />

em seminário realizado em São Paulo, em 1971. Utilizou-se também a terceira<br />

edição, de 1969, de Teoria da História do <strong>Brasil</strong>: introdução metodológica, de José<br />

Honório Rodrigues, e a quarta edição de O que se deve ler para conhecer o <strong>Brasil</strong>,<br />

de Nelson Werneck Sodré, publicada em 1973. Evitou-se a consulta aos livros<br />

coletados na <strong>Biblioteca</strong> Nacional, senão quando aquele material não registrava<br />

o título procurado. Além disso, vale dizer que o acervo guarda alguns livros<br />

na sua segunda, terceira ou quarta edições, mas que foram publicados em primeira<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

edição <strong>no</strong> período abordado neste trabalho. Quando foi possível reconhecer esse<br />

fato, a obra ficou <strong>no</strong> conjunto de livros estudados e buscou-se informar ao leitor a<br />

data de sua primeira edição.<br />

3. O acervo estudado<br />

Indicamos a seguir, com base <strong>no</strong>s livros de ciências sociais constantes do acervo<br />

da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, características da produção daquele campo do conhecimento<br />

que se referem à autoria dos estudos, à formação <strong>das</strong> ciências sociais por diferentes<br />

disciplinas, e à publicação e divulgação, em livro, de trabalhos realizados.<br />

Pela autoria <strong>das</strong> 872 obras são responsáveis 585 autores, dos quais 3,8% são<br />

mulheres e 4% são estrangeiros (entre homens e mulheres). A julgar pelos títulos<br />

existentes na instituição, a autoria da maioria dos livros sobre a ciência, <strong>no</strong> período<br />

referido, é nitidamente masculina e nacional.<br />

Os textos dividem-se nas seguintes disciplinas:<br />

Tabela I<br />

Distribuição <strong>das</strong> obras de ciências sociais por disciplina<br />

Disciplina Número de obra<br />

História do <strong>Brasil</strong> 303<br />

Eco<strong>no</strong>mia Política 158<br />

Antropologia 141<br />

Sociologia 121<br />

Ciência Política 83<br />

Geografia Humana 43<br />

Demografia 23<br />

Total 872<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

O lugar de destaque da história do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> publicações<br />

evidencia interesse marcante <strong>no</strong> estudo da historiografia. 21 Os livros que<br />

definem esse campo de trabalho correspondem a 34,7% do total de obras<br />

distribuí<strong>das</strong> em sete disciplinas. A história do <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>te-se, foi a primeira<br />

a ter uma prática organizada de investigação, criada em 1838 pelo Instituto<br />

Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro, <strong>no</strong> contexto <strong>das</strong> necessidades políticoideológicas<br />

da Independência.<br />

Durante quase cem a<strong>no</strong>s, de 1838 a 1934, quando foram inicia<strong>das</strong> a formação<br />

do historiador e as atividades de pesquisa <strong>no</strong>s meios universitários – a<br />

começar pela Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de<br />

São Paulo –, o IHGB, sediado <strong>no</strong> Rio de Janeiro, e seus congêneres em outras<br />

cidades brasileiras centralizaram a produção historiográfica.<br />

A tradição de estudos do Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro tem<br />

sido objeto de exame, debate e crítica. 22 No mais <strong>das</strong> vezes, argumenta-se<br />

que aqueles textos limitaram-se ao registro de eventos oficiais e ao destaque<br />

de vultos históricos, contribuindo <strong>no</strong> seu conjunto para a exaltação da nacionalidade.<br />

Não caberia aqui discutir a qualidade da historiografia vinculada<br />

ao Instituto, mas tão-somente assinalar que a história, uma <strong>das</strong> mais antigas<br />

disciplinas volta<strong>das</strong> para as relações trava<strong>das</strong> entre os homens, foi também<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> uma <strong>das</strong> primeiras a merecer a atenção dos estudiosos, de modo<br />

regular e de acordo com <strong>no</strong>rmas e valores. A antigüidade do conhecimento<br />

da história, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, poderia explicar a alta percentagem <strong>das</strong> publicações<br />

indica<strong>das</strong> na tabela I.<br />

Contudo, assinale-se que o Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro,<br />

dedicando-se de fato ao conhecimento da história do <strong>Brasil</strong> e não à geografia,<br />

foi responsável pelas primeiras pesquisas et<strong>no</strong>gráficas realiza<strong>das</strong> <strong>no</strong><br />

país a partir de 1840, cujo foco principal de interesse eram os costumes<br />

21. A propósito da definição dos termos História e historiografia, ver IGLESIAS, Francisco. Introdução<br />

à historiografia econômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. p. 11-12;<br />

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Op. cit. p. 25-27; utiliza-se neste trabalho o termo historiografia<br />

para de<strong>no</strong>minar o conhecimento produzido <strong>no</strong> campo da história, o qual se constitui de teorias,<br />

métodos e técnicas próprios; emprega-se História para a disciplina.<br />

22. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publicado<br />

em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução<br />

ao estudo da história do <strong>Brasil</strong>, São Paulo, 1971. Cader<strong>no</strong>s do Instituto de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros; GUIMA-<br />

RÃES, Ma<strong>no</strong>el Luiz Salgado. Nação e civilização <strong>no</strong>s trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico<br />

<strong>Brasil</strong>eiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, 1988.<br />

38<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

de tribos indígenas, 23 o que revela a importância conferida à antropologia<br />

desde aquela data.<br />

Nesse sentido, convém lembrar que as disciplinas integrantes do elenco<br />

<strong>das</strong> ciências sociais nessa pesquisa, de modo geral começaram a esboçar seuscampos<br />

de trabalho <strong>no</strong> século XIX, seja por meio do ensi<strong>no</strong>, seja pelas pesquisas<br />

e levantamentos feitos em órgãos governamentais, institutos e museus,<br />

ou com a publicação de obras precursoras em livro, que demonstram interesse<br />

em um campo do saber. 24 Ressalte-se o desenvolvimento específico da história<br />

do <strong>Brasil</strong>, porque entre as disciplinas essa área foi possivelmente a que mais<br />

estimulou os pesquisadores, levando ao seu estudo de modo sistemático após<br />

a Independência. Tal fato, como já se mencio<strong>no</strong>u, poderia explicar o elevado<br />

número de publicações sobre o tema, constante da amostra.<br />

Essas observações iniciais sugerem apenas que o estudo razoavelmente<br />

intenso de uma disciplina, em determinado período histórico, não parece estar<br />

condicionado pelas características específicas de um instrumental teórico<br />

e metodológico que se mostre valioso para a compreensão de fenôme<strong>no</strong>s<br />

significativos em um momento histórico específico. Poder-se-ia supor que,<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, a eco<strong>no</strong>mia política e a sociologia, devido a características<br />

da identidade cognitiva de cada uma dessas disciplinas, volta<strong>das</strong> para o<br />

desenvolvimento econômico e as transformações sociais, teriam correspondido<br />

mais do que outras áreas do saber à demanda de conhecimentos sobre os<br />

problemas sociais peculiares àquele período histórico <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; conseqüen-<br />

23. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences sociales – culture,<br />

science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento <strong>das</strong> ciências<br />

sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, v. 41, n. 4,<br />

p. 378-388. abr. 1989.<br />

24. A respeito da constituição dos campos disciplinares <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a partir do<br />

século XIX, ver QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences<br />

sociales – culture, science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento<br />

<strong>das</strong> ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura,<br />

v. 41, n. 4, p. 378-388, abr. 1989; AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira, São Paulo: Melhoramentos,<br />

1956. tomo II, cap. II e IV; AZEVEDO, Fernando de. A antropologia e a sociologia<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. In: ___ (Org.). As ciências <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1956; PEREIRA, José<br />

Verissimo da Costa. A geografia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1956. Sobre geografia ver também PRADO JR., Caio. Evolução<br />

política do <strong>Brasil</strong> e outros estudos. 4 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1963. p. 165-186; HUGON, Paul. A<br />

eco<strong>no</strong>mia política <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

Melhoramentos, 1956. Sobre eco<strong>no</strong>mia política ver também LIMA, Heitor Ferreira. História do<br />

pensamento econômico <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976; RODRIGUES, José Honório.<br />

Teoria da história do <strong>Brasil</strong>: introduçao metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969.<br />

39<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

temente, teriam se posicionado de modo mais marcante, relativamente a outros<br />

campos disciplinares <strong>no</strong> quadro de suas publicações em livro. Os dados<br />

obtidos indicam, entretanto, que embora figurem sem dúvida em lugar de<br />

destaque, o número de publicações em cada uma delas está longe de superar<br />

aquele da história do <strong>Brasil</strong>; ao mesmo tempo, a tabela I mostra que ao lado<br />

da eco<strong>no</strong>mia política e da sociologia, o interesse dos estudiosos pela antropologia<br />

foi relevante naqueles a<strong>no</strong>s.<br />

Depreende-se, portanto, dessas observações preliminares, ser indispensável<br />

examinar em seu conjunto os fatores que possivelmente interferem na<br />

produção de conhecimento de uma disciplina em um contexto social e histórico<br />

específico.<br />

Quanto aos dados da tabela I, é necessário destacar ainda algumas<br />

observações. Durante o processo de classificação <strong>das</strong> obras, verificou-se a<br />

existência de numerosos estudos sobre o folclore brasileiro. Tais pesquisas<br />

não alcançaram o prestígio de uma disciplina científica, mas tangenciam de tal<br />

modo os limites da história social, da sociologia e da antropologia, que ainda<br />

hoje sua identidade constitui objeto de debates e controvérsias. 25 Particularmente<br />

<strong>no</strong> contexto histórico analisado nesse estudo, quando a diferenciação<br />

dos campos de trabalho intelectual se torna foco de interesse dos especialistas,<br />

houve uma ampla discussão sobre o projeto e as “fronteiras” do conhecimento<br />

sobre o assunto. De modo geral, encontrava-se o folclore como<br />

um ramo da antropologia; como disciplina humanística; como fenôme<strong>no</strong> a<br />

ser estudado por disciplinas tais como a sociologia, a psicologia, a lingüística,<br />

a antropologia etc. Ao mesmo tempo, reivindicava-se para o folclore um<br />

domínio de conhecimento próprio, científico e autô<strong>no</strong>mo. 26 Observou-se que<br />

os trabalhos sobre o tema, freqüentemente de<strong>no</strong>minados et<strong>no</strong>gráficos em títulos<br />

constantes da amostra, tratavam a cultura brasileira do ponto de vista<br />

de suas tradições populares. Aproximavam-se assim do objeto característico<br />

da antropologia – a cultura –, como também do quadro temático específico<br />

25. Cf. ORTIZ, Renato. Românticos e folcloristas: cultura popular. Texto 3. São Paulo: PUC, 1985.<br />

26. Sobre as controvérsias suscita<strong>das</strong> pelos estudos de folclore cf. FERNANDES, Florestan. A<br />

et<strong>no</strong>logia e a sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 247-327; CARNEIRO, Edison. Evolução<br />

dos estudos de folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Revista <strong>Brasil</strong>eira de Folclore, Rio de Janeiro, p. 159-180,<br />

1962; RAMOS, Arthur. Estudos de folclore. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1958;<br />

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; VILHENA, Luis Rodolfo da Paixão. Traçando<br />

fronteiras: o folclore na década de 1950. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPOCS, XIII, 1989.<br />

40<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

dos estudos antropológicos naquele período, interessados especialmente <strong>no</strong>s<br />

traços constitutivos da cultura brasileira, como veremos mais adiante. A par<br />

disso, foram aproveitados apontamentos sobre a história da antropologia <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, 27 que mostram como essa disciplina ao institucionalizar-se e estabelecer<br />

seus fundamentos científicos, recebeu e buscou reelaborar o legado de<br />

um conjunto de trabalhos sobre aspectos da cultura brasileira, entre os quais<br />

o folclore, que vinham sendo realizados desde o século XIX. As pesquisas<br />

sobre o assunto figuram então nesses textos <strong>no</strong> campo da antropologia, excetuando-se<br />

aqueles, em número me<strong>no</strong>r, que trataram do tema <strong>das</strong> tradições<br />

populares de uma perspectiva sociológica.<br />

A ciência política consta da tabela com número de obras limitado, se comparado<br />

aos <strong>das</strong> quatro primeiras disciplinas expostas, sobretudo história do <strong>Brasil</strong>.<br />

Ele representa, entretanto, quase o dobro do número de estudos da geografia<br />

humana, e em muito excede o da demografia. Ao mesmo tempo, a quantidade<br />

de estudos apresentada pela ciência política poderia tornar-se significativa, se<br />

levássemos em conta que o objeto de conhecimento da disciplina é alvo de controvérsias,<br />

e os limites entre ciência política, ciência do direito, sociologia política<br />

e história política provocam discordância entre os estudiosos. 28<br />

Relativamente às outras disciplinas, a geografia humana apresenta um número<br />

restrito de obras. Com base na amostra da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, restaria<br />

averiguar as características da constituição desse campo de estudos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

a fim de compreender os limites de sua produção científica, em comparação<br />

a outros temas.<br />

Os trabalhos sobre demografia são os mais reduzidos. A inexistência de<br />

um campo próprio para a formação profissional do demógrafo na universidade,<br />

além do papel de disciplina “auxiliar” que muitas vezes lhe é atribuído<br />

seriam fatores, entre outros, a serem investigados <strong>no</strong> estudo da produção da<br />

disciplina dentro do quadro <strong>das</strong> ciências sociais, pelo me<strong>no</strong>s quanto à amostra<br />

da <strong>Biblioteca</strong> Nacional.<br />

No que respeita aos campos disciplinares que conformam as ciências sociais,<br />

cabe dizer ainda que a psicologia social não se esboça enquanto área de estudos<br />

27. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: um roteiro. BIB – Revista <strong>Brasil</strong>eira de Informação<br />

Bibliográfica em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, n. 17, 1984.<br />

28. Cf. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.<br />

New York: Macmillan, 1968. v. 12. p. 282.<br />

41<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

sobre a sociedade <strong>no</strong> conjunto dos livros selecionados. Tampouco evidencia-se<br />

uma linha de trabalho específico sobre questões teóricas e metodológicas da<br />

disciplina, como ocorre <strong>no</strong> campo de to<strong>das</strong> as outras na tabela I.<br />

Duas outras características da produção <strong>das</strong> ciências sociais, tal como se<br />

apresenta na amostra de livros, dizem respeito a sua publicação e divulgação.<br />

A cidade do Rio de Janeiro sobressai <strong>no</strong> conjunto como o grande centro de<br />

publicação e divulgação do tema, sendo ali publica<strong>das</strong> 58% <strong>das</strong> obras. O fato<br />

de ter sido a capital do país até 1960 concorre para que a produção de editoras<br />

comerciais e de órgãos do gover<strong>no</strong> federal concentrem na cidade o maior número<br />

de publicações. São Paulo vem logo em seguida com 24,5% do total de<br />

livros. A comparação entre a produção editorial desses dois centros urba<strong>no</strong>s<br />

(82,5%) e aquela <strong>das</strong> outras cidades brasileiras indica<strong>das</strong> na amostra (17,5%)<br />

demonstra que a publicação <strong>das</strong> ciências sociais em livro parece se concentrar<br />

<strong>no</strong> Sudeste do país.<br />

O elevado percentual de livros publicados <strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São<br />

Paulo corresponde ao crescimento da indústria editorial e de público leitor<br />

especializado, também concentrados naquelas cidades. É preciso observar,<br />

entretanto, que aquele percentual não traduz necessariamente uma concentração<br />

<strong>das</strong> atividades intelectuais relativas às ciências sociais naqueles centros;<br />

portanto, diversos autores de estudos publicados <strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São<br />

Paulo não exerceram suas atividades nessas localidades.<br />

Poder-se-ia supor que a distribuição dos livros do Rio de Janeiro e de São<br />

Paulo para o restante do país, reduzindo os efeitos da concentração da produção<br />

editorial, favorecesse a difusão <strong>das</strong> ciências sociais em outras localidades.<br />

Mas a distribuição dos livros, insuficiente até hoje, deparava-se naquele período<br />

com obstáculos ainda mais graves. 29 Assim, também obras publica<strong>das</strong> em<br />

outras cidades brasileiras provavelmente não alcançaram os mercados carioca<br />

e paulista. Entretanto, ainda que sejam considerados os problemas relativos<br />

à distribuição de livros <strong>no</strong> país, o destacado número de trabalhos publicados<br />

<strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São Paulo, que se evidencia na amostra estudada, é<br />

indicativo de que a divulgação <strong>das</strong> ciências sociais, em livro, ocorreu em larga<br />

escala <strong>no</strong>s dois centros urba<strong>no</strong>s do Sudeste do país, <strong>no</strong> período focalizado<br />

nessa pesquisa.<br />

29. Problemas relativos à distribuição de livros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> são discutidos em HALLEWELL, Laurence.<br />

Op. cit. p. 516-519.<br />

42<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Tabela II<br />

Distribuição <strong>das</strong> obras de ciências<br />

sociais por disciplina e local de publicação<br />

Disciplina RJ SP SAL BH RE PA Outras Total<br />

História do <strong>Brasil</strong> 191 66 9 10 3 3 21 303<br />

Eco<strong>no</strong>mia Política 86 40 5 15 8 3 1 158<br />

Antropologia 83 31 8 1 8 - 10 141<br />

Sociologia 55 47 6 3 4 - 6 121<br />

Ciência Política 55 15 4 6 1 - 2 83<br />

Geografia Humana 20 14 1 1 6 - 1 43<br />

Demografia 15 1 4 - 3 - - 23<br />

Total 505 214 37 36 33 6 41 872<br />

Obs.: São doze as cidades incluí<strong>das</strong> na categoria “outras”, e apresentam um<br />

número de publicações que varia de um a seis.30<br />

Nota-se que há uma variação entre disciplinas e o local de publicação: as<br />

cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo se distinguem pela maior quantidade<br />

de publicações em to<strong>das</strong> as disciplinas, com exceção da demografia, área em<br />

que São Paulo surpreendentemente só apresenta um livro. Nas demais cidades,<br />

o surgimento de publicações é muito mais baixo. Destacam-se, todavia, as<br />

publicações de história do <strong>Brasil</strong> e de eco<strong>no</strong>mia política em Belo Horizonte.<br />

Quanto às cidades restantes, apresentam cada uma me<strong>no</strong>s de dez livros. Essas<br />

observações, <strong>no</strong> entanto, não são concludentes, porque se referem somente às<br />

obras que foram remeti<strong>das</strong> à <strong>Biblioteca</strong> Nacional. Quantas não o foram?<br />

A publicação de obras com fins lucrativos constitui a maioria de 63%, o<br />

que pressupõe a existência de um mercado satisfatório. O Estado, por meio de<br />

órgão do gover<strong>no</strong> federal, estadual ou municipal, as universidades e as associações<br />

civis são responsáveis por 34% <strong>das</strong> publicações sem fins lucrativos. Da amostra,<br />

1,5% são co-edições e 1,5% publicações sem indicação de editora.<br />

30. Na categoria “outras” estão incluí<strong>das</strong> as seguintes cidades: Manaus, Fortaleza, Crato, João Pessoa,<br />

Aracaju, Maceió, São João del Rei, Pitangui, Ribeirão Preto, Curitiba, Florianópolis e Brusque.<br />

43<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

A relação entre interesse com ou sem fins lucrativos e a divulgação <strong>das</strong><br />

disciplinas se apresenta do seguinte modo:<br />

Tabela III<br />

Distribuição <strong>das</strong> obras de ciências sociais pelo tipo de publicação<br />

Disciplina L S/L COE S/ED Total<br />

História do <strong>Brasil</strong> 225 70 2 6 303<br />

Eco<strong>no</strong>mia Política 86 65 3 4 158<br />

Antropologia 72 68 1 - 141<br />

Sociologia 82 35 4 - 121<br />

Ciência Política 56 26 - 1 83<br />

Geografia Humana 17 24 - 2 43<br />

Demografia 8 12 3 - 23<br />

Total 546 300 13 13 872<br />

Obs.: L – publicações com fins lucrativos; S/L – publicações sem fins lucra-<br />

tivos; COE – co-edições; S/ED – publicações sem indicação de editora.<br />

Observa-se na tabela III que a publicação de estudos <strong>das</strong> diferentes disciplinas<br />

<strong>das</strong> ciências sociais se diferencia <strong>no</strong> que se refere ao tipo de interesse<br />

nela envolvido, seja lucrativo ou não. A história do <strong>Brasil</strong>, a sociologia e a<br />

ciência política, ainda que com diferentes percentuais de obras publica<strong>das</strong><br />

com fins lucrativos, teriam assegurado ou estariam assegurando sua divulgação<br />

através de editoras comerciais. Distinguem-se delas a antropologia e a<br />

eco<strong>no</strong>mia política por apresentarem boa parte de suas obras financia<strong>das</strong> por<br />

órgãos do Estado, universidades ou associações civis. Mais diversa, entretanto,<br />

é a situação da geografia humana e da demografia, cujos estudos na sua maioria<br />

são publicados sem fins lucrativos. A história do <strong>Brasil</strong> com a maioria de<br />

publicações com fins lucrativos tem assegurado um lugar <strong>no</strong> mercado edito-<br />

44<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

rial à frente de to<strong>das</strong> as outras disciplinas do quadro; relativamente aos outros<br />

campos disciplinares apresenta o mais reduzido percentual de obras sem fins<br />

lucrativos. Aliás, em to<strong>das</strong> as disciplinas, com exceção da geografia humana<br />

e da demografia, aumenta o número de obras publica<strong>das</strong> com fins lucrativos,<br />

o que revela a existência de um público interessado em to<strong>das</strong> elas. A par disso,<br />

as co-edições − livros publicados em conjunto por editoras comerciais<br />

e órgãos do gover<strong>no</strong> −, embora em número reduzido, mostram também o<br />

interesse do mercado nas publicações em ciências sociais.<br />

Na tabela abaixo são apresenta<strong>das</strong> as cidades nas quais os livros com e sem<br />

fins lucrativos ocupam um lugar de destaque:<br />

Tabela IV<br />

Distribuição <strong>das</strong> obras de ciências sociais por local e tipo de publicação<br />

Local de<br />

Publicação<br />

Publicações<br />

com fins<br />

lucrativos<br />

Publicações<br />

sem fins<br />

lucrativos<br />

RJ 312 184 5 4 505<br />

SP 174 36 2 2 214<br />

SAL 16 14 6 1 37<br />

BH 10 23 - 3 36<br />

RE 5 28 - - 33<br />

PA 5 - - 1 6<br />

Outros 24 15 - - 39<br />

Total 546 300 13 11 870<br />

45<br />

Co-edições<br />

Publicações<br />

sem indicações<br />

de editora<br />

Total<br />

No Rio de Janeiro e em São Paulo existem em grande quantidade publicações<br />

com fins lucrativos; em proporções muito me<strong>no</strong>res, os títulos de Porto<br />

Alegre pertencem também àquela categoria. Em Belo Horizonte e Recife,<br />

a quantidade se inverte, aumentando o número <strong>das</strong> edições não lucrativas,<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

enquanto em Salvador elas se equiparam. Há indicação, portanto, de que o<br />

mercado livreiro é me<strong>no</strong>r em Belo Horizonte e Recife, e mesmo em Salvador,<br />

apesar <strong>das</strong> co-edições de órgãos públicos e editoras comerciais, que se<br />

destacam naquela cidade. A quantidade de livros publicados nessas capitais é<br />

comparativamente pequena, o que também revela a existência de um mercado<br />

reduzido. Ainda que textos nelas publicados não tenham sido enviados à <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional – e, nesse caso, a soma seria maior –, esse total dificilmente<br />

superaria o número de obras publica<strong>das</strong> <strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São Paulo.<br />

Verificou-se também que a Universidade da Bahia e a Universidade de Minas<br />

Gerais financiaram grande parte dos livros editados nas capitais mineira e<br />

baiana; em Recife, diversas publicações ficaram sob a responsabilidade do Instituto<br />

Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, órgão do Ministério da Educação<br />

e Cultura. Na tabela, é <strong>no</strong>tável o pequeníssimo número de livros publicados<br />

em Porto Alegre nas categorias examina<strong>das</strong>.<br />

As características observa<strong>das</strong> na amostra de livros selecionada na <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional revelam que a produção de conhecimento <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências<br />

sociais, <strong>no</strong> contexto histórico dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, se apresenta como um<br />

conjunto diferenciado.<br />

O conjunto se distingue pelos diversos enfoques disciplinares que dele<br />

fazem parte e pela variedade de estudos publicados em livro, em cada uma <strong>das</strong><br />

disciplinas. Os dados da amostra indicam que os cientistas sociais formavam<br />

um grupo heterogêneo, constituído de especialistas em diferentes áreas do conhecimento;<br />

ao mesmo tempo, a grande quantidade de trabalhos registrados<br />

e divulgados em livro, elaborados em cada disciplina, sugere a existência de<br />

interesses distintos pelo estudo de temas diversos nesse âmbito.<br />

A difusão <strong>das</strong> ciências sociais teria sido mais intensa <strong>no</strong>s dois grandes centros<br />

do Sudeste, enquanto a indústria e o mercado editoriais, nessas cidades,<br />

teriam favorecido a divulgação <strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>. Já em locais como Salvador,<br />

Belo Horizonte e Recife, além de número comparativamente reduzido<br />

de publicações, aparecem quantidades maiores de obras publica<strong>das</strong> sem fins<br />

lucrativos, financia<strong>das</strong> por órgãos de Estado, universidades ou associações civis.<br />

Se a quantidade de livros editados revela a demanda por eles, Porto Alegre<br />

figura como um dos me<strong>no</strong>res mercados <strong>no</strong> período estudado.<br />

Há maior interesse de editores comerciais na publicação de estudos de<br />

história do <strong>Brasil</strong>, de sociologia e de ciência política, seguindo-se então o in-<br />

46<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

teresse pela eco<strong>no</strong>mia política, enquanto órgãos oficiais, principalmente, se<br />

responsabilizaram por quase metade <strong>das</strong> publicações de antropologia e pela<br />

maioria dos estudos de geografia humana e demografia.<br />

Notou-se também haver uma variação entre o número de obras publica<strong>das</strong><br />

em uma disciplina e o local de sua publicação, sugerindo que a formação de<br />

grupos especialistas e a produção em determinados campos disciplinares não<br />

ocorrem de modo idêntico nas cidades que editaram textos de ciências sociais.<br />

Tais observações, em seu conjunto, sugerem que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, durante o período<br />

estudado, as ciências sociais apresentam um quadro de trabalhos qualitativa<br />

e quantitativamente diferenciado, cuja publicação e divulgação em livro<br />

também apresentam desigualdades.<br />

47<br />

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O conjunto de livros em ciências sociais constante do acervo da <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional revela um crescimento <strong>no</strong>tável do número dessas publicações,<br />

podendo-se afirmar com base <strong>no</strong>s dados analisados que as disciplinas<br />

se expandiram ao longo dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966.<br />

Entretanto, o florescimento dos estudos não ocorreu do mesmo<br />

modo nas duas grandes linhas de trabalho às quais se dedicaram os cientistas<br />

sociais, interessados ora em questões teórico-metodológicas, ora<br />

em problemas concretos da sociedade brasileira. O aumento dos estudos<br />

em livro variou também de disciplina para disciplina entre aquelas focaliza<strong>das</strong><br />

nessa pesquisa, indicativo de que houve um interesse desigual pelo<br />

enfoque <strong>das</strong> diferentes áreas <strong>das</strong> ciências sociais. O mesmo se verifica<br />

quanto aos temas escolhidos pelos especialistas. Os diversos assuntos<br />

tratados não foram completados uniforme e regularmente, chamando<br />

uns mais atenção do que outros.<br />

Esse capítulo apresenta, inicialmente, características da expansão do<br />

conjunto da produção em livro <strong>das</strong> ciências sociais. Em seguida, oferece<br />

uma descrição do seu universo temático, <strong>no</strong> período histórico abordado,<br />

com base nas obras publica<strong>das</strong> em cada tema e disciplina integrantes do<br />

acervo estudado.<br />

1. O crescimento da produção <strong>das</strong> ciências sociais<br />

O exame do gráfico I mostra o aumento dos estudos em ciências sociais,<br />

publicados em livro, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s que se estendem de 1945 a 1966:<br />

49<br />

II<br />

DIscIplInas e Te m a s<br />

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1945<br />

1946<br />

1947<br />

1948<br />

1949<br />

1950<br />

1951<br />

1952<br />

1953<br />

1954<br />

1955<br />

1956<br />

1957<br />

1958<br />

1959<br />

1960<br />

1961<br />

1962<br />

1963<br />

1964<br />

1965<br />

1966<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

Gráfico 1<br />

Livros publicados em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> (1945 - 1966)<br />

10 20 30 40 50 60 70<br />

As cifras revelam que o número de estudos em ciências sociais, publicados<br />

em livro, amplia-se <strong>no</strong> período de 1945 a 1966, porém de modo irregular.<br />

De 1945 a 1955, a quantidade de publicações diminui em sua metade (36<br />

livros em 1945 para 18 em 1953), mas em 1954 começa a se elevar, du-<br />

50<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

plicando e triplicando o número de obras sobre o tema a partir daquela<br />

data e comparativamente com os a<strong>no</strong>s anteriores, para então atingir seus<br />

maiores índices em 1958 (64 obras) e 1959 (62 obras), de acordo com a<br />

amostra estudada. Apesar da irregularidade observada <strong>no</strong> crescimento anual<br />

de publicações, <strong>no</strong> período verificado, é evidente o aumento do conjunto<br />

de livros que veio a público a partir da segunda metade da década de 1950.<br />

Os dados são sugestivos e mostram que a expansão dos estudos em ciências<br />

sociais ocorre justamente quando as mudanças econômicas e sociais tomam<br />

vulto, e não apenas quando repercutem <strong>no</strong>s debates e iniciativas dos meios<br />

culturais e científicos, como na consolidação da indústria e crescimento do<br />

mercado do livro <strong>no</strong> país.<br />

Observando, então, que o aumento da produção <strong>das</strong> ciências sociais se<br />

associava às transformações e ao clima de efervescência que distinguem<br />

o <strong>Brasil</strong> de meados da década de 1950, dividiu-se o conjunto dos textos<br />

estudados em dois subgrupos correspondentes respectivamente às obras<br />

publica<strong>das</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945–1955 e 1956–1966, de tal modo que se pudesse<br />

apreciar a permanência ou não de relações entre as mudanças que ocorriam<br />

e os estudos em ciências sociais, <strong>no</strong> que respeita às preferências por enfoques<br />

disciplinares e à escolha de temas por parte dos especialistas.<br />

2. Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais<br />

No período analisado, a produção em livro <strong>das</strong> ciências sociais,<br />

inscrita na amostra observada nesse estudo, evidencia duas linhas de<br />

trabalho cultiva<strong>das</strong> pelos cientistas sociais. A primeira delas, representada<br />

<strong>no</strong> conjunto obras sobre a disciplina, tem como interesse<br />

o corpo conceitual e teórico de um tema, tratando de problemas<br />

relativos à elaboração de estudos e pesquisas, bem como ao ensi<strong>no</strong><br />

da disciplina <strong>no</strong> país. Essa vertente está, portanto, voltada para a delimitação,<br />

o aprimoramento e o controle <strong>das</strong> atividades de um campo<br />

específico de trabalho intelectual. Por meio desse grupo, seria possível<br />

avaliar o interesse dos estudiosos <strong>no</strong> autoconhecimento de suas<br />

atividades e o papel que atribuíam à produção do saber <strong>no</strong> âmbito de<br />

uma área específica.<br />

51<br />

FBN_RG_vocacao_02 a.indd 51 5/3/2009 09:48:23


Glaucia Villas Bôas<br />

A segunda linha de trabalho, inscrita <strong>no</strong> conjunto obras sobre temas<br />

específicos, tem como alvo o conhecimento de múltiplos aspectos da sociedade<br />

brasileira. Recordando uma <strong>das</strong> características <strong>das</strong> ciências sociais,<br />

referida <strong>no</strong> capítulo I, a qual define o “sentido” <strong>das</strong> disciplinas como o de<br />

esclarecer cientificamente problemas sociais, com a finalidade de oferecer<br />

informações que possam orientar práticas de grupos sociais, poder-se-ia dizer<br />

que esse conjunto de textos expõe os problemas da sociedade brasileira<br />

que os estudiosos julgaram relevante esclarecer, <strong>no</strong> contexto dos a<strong>no</strong>s de<br />

1945 a 1966, e que, paralelamente, interessavam ao público leitor.<br />

Observe-se <strong>no</strong> quadro I o crescimento dessas duas linhas de estudos e<br />

reflexão:<br />

Quadro I<br />

Obras em ciências sociais publica<strong>das</strong><br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945 - 1955 e 1956 - 1966<br />

Tipo de obra Total 1945 -1955 1956–1966<br />

Obras em ciências sociais<br />

<strong>no</strong> seu conjunto<br />

52<br />

872 321 551<br />

Obras sobre a disciplina 145 53 92<br />

Obras sobre temas específicos 727 268 459<br />

É <strong>no</strong>tável o aumento <strong>das</strong> obras em ciências sociais <strong>no</strong> contexto<br />

histórico em foco: de 1945 a 1955 são publica<strong>das</strong> 321 obras, correspondendo<br />

a 36,81% do total de livros da amostra, enquanto de 1956<br />

a 1966 publicam-se 551 obras, ou seja, 63,19%. Quanto às duas linhas<br />

básicas de estudo, às quais se dedicaram os especialistas naqueles<br />

a<strong>no</strong>s, <strong>no</strong>ta-se que o número de obras sobre a disciplina aumenta<br />

de 53 para 92; já a quantidade de obras sobre temas específicos se<br />

eleva de 268 para 459. Porém, a despeito do aumento, o peso desses<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

diferentes estudos não se altera nas duas fases focaliza<strong>das</strong>. O conjunto<br />

<strong>das</strong> obras sobre a disciplina soma aproximadamente 16,50%, e as<br />

obras sobre temas específicos cerca de 83,50% dos livros publicados,<br />

em cada um daqueles períodos (321 e 551 obras).<br />

Os números mostram o peso <strong>das</strong> publicações sobre temas específicos<br />

e concretos ultrapassando em muito o <strong>das</strong> obras sobre as disciplinas.<br />

Maria Isaura Pereira de Queiroz havia <strong>no</strong>tado em seu trabalho sobre o<br />

desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, de 1850 até a década de<br />

1930, que os estudiosos brasileiros sobre o assunto foram muito mais<br />

pesquisadores que pensadores – o esclarecimento de problemas concretos<br />

da sociedade brasileira os atraía mais do que as reflexões teóricas. 1<br />

Esse fato parece se repetir <strong>no</strong> período examinado, assim como o expressivo<br />

crescimento <strong>das</strong> obras em ciências sociais. As posições dos estudos<br />

nas categorias obras sobre a disciplina e obras sobre temas específicos<br />

não se alteram <strong>no</strong> conjunto dos livros publicados, em nenhuma <strong>das</strong> fases<br />

aponta<strong>das</strong> <strong>no</strong> quadro I.<br />

3. O interesse desigual pelas disciplinas<br />

O interesse pelo estudo <strong>das</strong> diferentes disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais<br />

foi desigual e variável <strong>no</strong> contexto dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, de acordo<br />

com a amostra de livros analisada. Poder-se-ia indagar que motivos levam<br />

a conferir maior ou me<strong>no</strong>r importância a uma disciplina científica em um<br />

contexto social e histórico específico? Por que a identidade cognitiva de<br />

uma disciplina é mais valorizada do que outras em determinado país e período<br />

histórico?<br />

A fim de compreender esse interesse desigual e variável <strong>no</strong> contexto<br />

histórico em foco, deve-se observar o quadro II, com o número de obras<br />

publica<strong>das</strong> pelas diferentes disciplinas constantes da amostra dessa pesquisa<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945 - 1955 e 1956 - 1966.<br />

1. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais na América<br />

Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 378-<br />

388, abr. 1989.<br />

53<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Quadro II<br />

Obras publica<strong>das</strong> por disciplina<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945 - 1955 e 1956 - 1966<br />

Disciplinas 1945–1955 1956–1966<br />

História do <strong>Brasil</strong> 123 180 T = 303<br />

Eco<strong>no</strong>mia política 46 112 T = 158<br />

Antropologia 70 71 T = 141<br />

Sociologia 34 87 T = 121<br />

Ciência política 20 63 T = 83<br />

Geografia humana 18 25 T = 43<br />

Demografia 10 13 T = 23<br />

Ao longo do período entre 1945 e 1966, a quantidade de obras publica<strong>das</strong><br />

aumentou em to<strong>das</strong> as disciplinas, exceção feita à antropologia,<br />

cujo número de livros se mantém praticamente igual nas duas fases<br />

analisa<strong>das</strong>. Ao mesmo tempo, os dados evidenciam uma acentuada<br />

desigualdade <strong>no</strong> “ritmo” de crescimento <strong>das</strong> publicações em cada um<br />

dos campos do saber. Enquanto as publicações na área da ciência política<br />

crescem 238,88% e as da sociologia 155,88%, <strong>no</strong> campo da história<br />

do <strong>Brasil</strong> seu aumento é de 46,34%, e na antropologia a diferença <strong>no</strong><br />

número de livros entre um e outro período é de apenas uma obra. Tal<br />

desigualdade é muito significativa, uma vez que sugere uma variação<br />

profunda ao longo daqueles a<strong>no</strong>s, tanto da procura pelo estudo de certas<br />

disciplinas por parte de grupos de pesquisadores, quanto da demanda<br />

por conhecimentos específicos proveniente de um público letrado. O<br />

crescente interesse por determina<strong>das</strong> áreas do saber, em detrimento de<br />

outras, demonstra que a experiência <strong>das</strong> mudanças ocorri<strong>das</strong> na sociedade<br />

brasileira naquele período, trazendo à tona <strong>no</strong>vos problemas para<br />

a camada intelectual, concorreram para o desenvolvimento desigual <strong>das</strong><br />

disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

54<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Nos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955, marcados pela redemocratização do país e pelo<br />

surgimento <strong>no</strong> mercado livreiro de um primeiro conjunto significativo de pesquisas<br />

<strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais, a história do <strong>Brasil</strong> se destaca <strong>das</strong> demais<br />

disciplinas com 123 livros, de acordo com a amostra estudada. Segue-se a<br />

antropologia, cujo número de estudos também supera em muito o <strong>das</strong> demais<br />

áreas; sem dúvida, a produção nesses dois campos de trabalho sobressai nessa<br />

primeira fase <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> publicações. Veja-se que, comparativamente, a<br />

eco<strong>no</strong>mia política (46 obras), a sociologia (34 obras) e a ciência política (20<br />

obras) desfrutam de um lugar mais discreto; a geografia humana (18 obras) e<br />

a demografia (10 obras) oferecem número limitado de textos.<br />

Já os a<strong>no</strong>s de 1956 a 1966 destacam-se pela consolidação da etapa do<br />

processo de industrialização e pela efervescência dos debates voltados para<br />

o desenvolvimento nacional, mas também pelas crises de caráter econômico<br />

e político que ocorrem em seguida ao acelerado crescimento econômico,<br />

culminando com o térmi<strong>no</strong> do regime democrático de gover<strong>no</strong> em 1964.<br />

Nessa fase, a história do <strong>Brasil</strong> permanece oferecendo o maior número de<br />

obras (180 livros), porém o baixo índice de aumento de seus estudos em<br />

livro (46,34%) mostra uma modificação da posição privilegiada que ocupara<br />

em a<strong>no</strong>s anteriores. A eco<strong>no</strong>mia política, <strong>no</strong> entanto, eleva em 143,47% as<br />

suas obras, apresentando 112 livros, enquanto as publicações da sociologia<br />

crescem 155,88%, com a soma de 87 textos. As duas disciplinas superam<br />

então a antropologia e passam a disputar as primeiras posições <strong>no</strong> conjunto<br />

<strong>das</strong> publicações em ciências sociais. Chama a atenção, nessa segunda fase, o<br />

número inalterado de livros na área da antropologia relativamente aos a<strong>no</strong>s<br />

anteriores, perdendo esses estudos sua posição de relevo. Ao mesmo tempo,<br />

sobressai o interesse pela ciência política, que triplica o número de seus livros,<br />

aumentando a quantidade de suas obras em 238,88% naqueles a<strong>no</strong>s. A<br />

par disso, percebe-se que a geografia humana e a demografia praticamente<br />

não modificam sua posição <strong>no</strong> rol <strong>das</strong> publicações em ciências sociais.<br />

Cabe observar que a variação do “ritmo” de crescimento <strong>das</strong> publicações<br />

em cada uma <strong>das</strong> disciplinas, correspondendo a uma mudança da procura<br />

por conhecimentos específicos do campo <strong>das</strong> ciências sociais – indicativo da<br />

consciência de <strong>no</strong>vos problemas por parte da camada intelectual – vai alterar,<br />

como mostram os dados do quadro III, abaixo, a contribuição de cada uma<br />

<strong>das</strong> áreas do saber, dentro do conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

55<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Quadro III<br />

Obras em ciências sociais publica<strong>das</strong> por disciplina (%): 1945 - 55 e 1956 - 66<br />

Disciplinas 1945–1955* 1956–1966**<br />

História do <strong>Brasil</strong> 38,19 32,72 T= 303<br />

Eco<strong>no</strong>mia política 14,28 20,36 T= 158<br />

Antropologia 21,73 12,90 T= 141<br />

Sociologia 10,55 15,81 T= 121<br />

Ciência política 6,21 11,43 T= 83<br />

Geografia humana 5,59 4,54 T= 43<br />

Demografia 3,10 2,35 T= 23<br />

* Total de obras 321<br />

** Total de obras 551<br />

Comparando a contribuição <strong>das</strong> diversas disciplinas ao longo <strong>das</strong> duas<br />

fases mostra<strong>das</strong> pelo quadro III, observa-se que a liderança da história do<br />

<strong>Brasil</strong> é posta em xeque naqueles a<strong>no</strong>s, ainda que os historiadores mantenham<br />

sua posição de destaque. O mesmo não ocorre com a antropologia, que tem<br />

consideravelmente diminuída a oferta de seus estudos <strong>no</strong> conjunto dos livros,<br />

caindo sua contribuição a partir de meados de 1950. Sem dúvida, a julgar pela<br />

amostra analisada, são a eco<strong>no</strong>mia política, a sociologia e a ciência política<br />

que, aumentando muito a quantidade de seus livros, têm modifica<strong>das</strong> suas posições,<br />

de modo significativo, <strong>no</strong> conjunto dos textos. Nos casos da geografia<br />

humana e da demografia, o crescimento do número de obras de um período<br />

para outro não foi suficiente para que alcançassem melhor posição; ao contrário,<br />

a posição desses estudos se torna ainda me<strong>no</strong>s relevante.<br />

O aumento da produção em cada uma <strong>das</strong> disciplinas, assim como a posição<br />

que ocupam <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> publicações nas duas fases apresenta<strong>das</strong>,<br />

mostra que as mudanças ocorri<strong>das</strong> levaram na realidade a uma oferta mais<br />

equilibrada, sempre sob a liderança da história do <strong>Brasil</strong>, dos conhecimentos<br />

de eco<strong>no</strong>mia política, da antropologia e da sociologia, campos preferenciais<br />

<strong>das</strong> ciências sociais ao longo de todo aquele período. A ciência política passou<br />

a figurar numa melhor posição <strong>no</strong> conjunto devido ao grande estímulo pelo<br />

seu estudo, e os campos da geografia humana e da demografia distinguiram<br />

ainda mais seu lugar pouco privilegiado entre as obras sobre o tema.<br />

56<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Contudo, os dados sobre o interesse desigual e variável pelas disciplinas<br />

<strong>das</strong> ciências sociais evidenciam também que, ao longo dos a<strong>no</strong>s de 1945 a<br />

1966, ocorreram mudanças quanto ao valor atribuído às diferentes áreas daquele<br />

conhecimento, tanto pelos especialistas, quanto pelo público leitor. A preferência<br />

crescente pela eco<strong>no</strong>mia política, pela sociologia e pela ciência política<br />

sem dúvida contrastou com o interesse pelo estudo <strong>das</strong> demais disciplinas que<br />

se manteve igual ou, comparativamente, cresceu de modo irrelevante durante<br />

aquele período. Poder-se-ia dizer que o contexto histórico em foco – favorecendo<br />

a consciência dos fatos e <strong>das</strong> relações sociais e econômicas, bem<br />

como de suas implicações políticas – motivou sobremaneira o crescimento<br />

daquelas três disciplinas, cujos instrumentos teórico-conceituais e pesquisas<br />

se mostraram mais apropriados para a elucidação dos problemas relativos ao<br />

desenvolvimento econômico e social do país.<br />

As áreas da história do <strong>Brasil</strong> e da antropologia foram as primeiras a interessar<br />

os pesquisadores brasileiros. No capítulo I, vimos que a criação do<br />

Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro, em 1838, assinala o início de uma<br />

longa tradição nacional de estudo <strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong>. Ao lado<br />

desses trabalhos, a partir de 1840, o Instituto começou a divulgar em sua<br />

revista as primeiras pesquisas et<strong>no</strong>gráficas de estudiosos brasileiros, cujo foco<br />

principal de interesse eram os costumes indígenas, indicativos da importância<br />

conferida à antropologia desde aquela data. Se as influências <strong>das</strong> transformações<br />

sociais e econômicas pesaram <strong>no</strong>s critérios de seleção e valorização <strong>das</strong><br />

disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais, as peculiaridades inerentes às condições históricas<br />

daqueles a<strong>no</strong>s não impediram a continuidade dos estudos <strong>no</strong>s campos<br />

tradicionais da história do <strong>Brasil</strong> e da antropologia. Sua persistência <strong>no</strong> tempo,<br />

sobretudo <strong>no</strong> contexto histórico em que a atenção de grupos da camada intelectual<br />

se voltou <strong>no</strong>tadamente para os problemas de ordem socioeconômica,<br />

mostra que os temas e as questões próprias daquelas duas disciplinas permaneceram<br />

<strong>no</strong> horizonte de interesse de especialistas e continuaram repercutindo<br />

positivamente junto ao público leitor.<br />

A julgar pelos dados disponíveis, a geografia humana e a demografia não<br />

estabeleceram um “diálogo” com um público mais amplo, através do livro,<br />

recebendo dele incentivo para a intensificação de seus estudos. Considerando<br />

que a seleção e a valorização <strong>das</strong> disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais, naquele<br />

momento histórico, resultaram, de um lado, <strong>das</strong> possibilidades que elas ofereciam<br />

– por meio de seus instrumentos teórico-metodológicos e de suas<br />

pesquisas – para a compreensão de problemas socioeconômicos candentes<br />

daquela atualidade, e de outro, do fato de integrarem uma tradição de estudos<br />

nacionais, poder-se-ia dizer que a geografia humana e a demografia não<br />

57<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

atenderam a esses critérios seletivos tão satisfatoriamente como as demais<br />

disciplinas, conservando-se numa posição pouco privilegiada <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong><br />

ciências sociais.<br />

4. O horizonte temático <strong>das</strong> ciências sociais<br />

As condições para o surgimento ou para a continuação de um estudo são<br />

diversas e variáveis. O aparecimento de <strong>no</strong>vos temas, a permanência de tantos<br />

outros, a estagnação <strong>no</strong> processo de investigação de um assunto, sua retomada<br />

sob outro enfoque são fatos que podem, portanto, ser apreciados a partir<br />

de diferentes pontos de vista.<br />

As ideologias políticas, as filiações partidárias dos pesquisadores e ainda<br />

os impactos de certos problemas sociais em determinado momento podem<br />

concorrer para legitimar o exame de certo assunto. Ao analisar as comunicações<br />

de pesquisa <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências do homem, apresenta<strong>das</strong> na Sociedade<br />

<strong>Brasil</strong>eira para o Progresso da Ciência, em 1982, Maria Isaura Pereira de<br />

Queiroz mostra a <strong>no</strong>tável quantidade do que chama de pesquisas de denúncia,<br />

“concebi<strong>das</strong> para forçar a atenção do público para determinado problema<br />

considerado implícita ou explicitamente ‘insuportável’, diferenciando-as <strong>das</strong><br />

pesquisas fundamentais, <strong>das</strong> descritivas e <strong>das</strong> especulativas”. 2<br />

A par disso, as instituições volta<strong>das</strong> para a produção de conhecimento<br />

estabelecendo regras e <strong>no</strong>rmas para a formação de pesquisadores, para seu<br />

percurso profissional e sua carreira, e estimulando a competitividade entre<br />

eles seriam um fator a mais entre outros a influenciar as escolhas temáticas.<br />

Somam-se a isso os recursos materiais indispensáveis para a pesquisa,<br />

os critérios e os interesses dos órgãos governamentais ou privados que a<br />

financiam, e as disputas pela obtenção dos recursos. O intercâmbio entre<br />

pesquisadores de diferentes países e as influências recebi<strong>das</strong> atuariam também<br />

sobre as opções temáticas.<br />

Em que pese a influência dos mais diversos fatores na escolha de um tema,<br />

é certo que não se elaboram estudos sobre qualquer assunto em qualquer<br />

contexto social e histórico. Se a escolha de um tema varia de acordo com tantos<br />

incentivos, ela está definitivamente vinculada também à efetiva existência<br />

de problemas dentro de uma sociedade, num momento histórico específico.<br />

Tanto assim, dizia Herbert Baldus, que “os fatos que principalmente chamam<br />

a atenção do observador dizem respeito a si próprio e a seu povo em determinada<br />

época. Em outras palavras: a escolha de fatos feita pelo observador<br />

2. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. SBPC, 1982: caracterização <strong>das</strong> comunicações de pesquisa<br />

nas ciências do homem. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 463-465, abr. 1983.<br />

58<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

representa certa informação sobre o ambiente social e cultural em que ele se<br />

criou e costumava viver”. 3<br />

Entretanto, para que seja possível questionar os diferentes fatores que interferem<br />

na escolha de temas <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais, torna-se indispensável<br />

conhecer os assuntos tratados. Para tanto, será delineado a seguir um quadro<br />

dos temas focalizados em livro <strong>no</strong> contexto dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, com base<br />

na quantidade de obras publica<strong>das</strong> e na variação do número de livros sobre cada<br />

um daqueles temas ao longo do período, de acordo com os dados da amostra.<br />

5. Os temas da história do <strong>Brasil</strong><br />

Para Henri Berr e Lucien Febvre, a “história é o estudo da mudança na humanidade”.<br />

Se grupos e sociedades fossem sujeitos a leis imutáveis não existiria história.<br />

Mas também não existiria história se estivessem em perpétua mudança, pois só<br />

haveria caos e anarquia. A história é para os autores “alguma coisa que muda em<br />

oposição ou conexão com aquilo que permanece constante ou se repete”. 4<br />

Empregamos aqui o termo historiografia para o conjunto de pesquisas,<br />

estudos e relatos sobre fatos históricos produzidos <strong>no</strong> campo da história, reservando<br />

este termo para a disciplina, que incluiria, ao lado da historiografia,<br />

um corpo de conhecimentos de caráter exclusivamente teórico-metodológico,<br />

além do ensi<strong>no</strong> ou a transmissão desses conhecimentos.<br />

A história do <strong>Brasil</strong>, na amostra estudada, revelaria – de acordo com o ponto<br />

de vista citado acima – o que os historiadores de 1945 a 1966 registram enquanto<br />

mudança e como a analisam. Essa disciplina conta com o maior número de publicações<br />

<strong>no</strong> período pesquisado, representando 34,7% dos livros, e a qualidade <strong>das</strong><br />

linhas de estudo em que se subdivide evidencia uma configuração temática peculiar,<br />

que não se apresenta <strong>no</strong>s demais campos examinados <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Numa primeira observação do quadro IV, exposto a seguir, o estudo da<br />

história do <strong>Brasil</strong> se traduz nas seguintes linhas de trabalho: obras cujo objeto<br />

é a própria disciplina; obras que buscam traçar as características gerais de<br />

determinada duração de tempo, reunindo relatos sobre a história do <strong>Brasil</strong> e<br />

textos que enfocam um de seus períodos; obras que versam sobre um setor<br />

específico <strong>das</strong> atividades humanas – político, econômico, social e intelectual;<br />

e estudos biográficos. Note-se, <strong>no</strong> conjunto de 303 livros, o peso <strong>das</strong> publicações<br />

em cada uma dessas áreas, e como variou o interesse por seu estudo ao<br />

longo dos a<strong>no</strong>s em foco.<br />

3. Cf. BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da et<strong>no</strong>logia brasileira. São Paulo: Comissão do IV Centenário<br />

da Cidade de São Paulo, 1954.<br />

4. Cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. History. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New<br />

York: Macmillan, 1948. v. VII, p. 358.<br />

59<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Quadro IV<br />

Obras por tema em história do<br />

<strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945-1955 e 1956-1966<br />

Temas Obras 1945<br />

1955 1956<br />

1966<br />

Obras sobre a disciplina<br />

Avaliação da produção historiográfica 7 3 4<br />

Problemas teórico-metodológicos 4 1 3<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina 1 - 1<br />

Subtotal 12 4 8<br />

Obras sobre temas históricos gerais<br />

História do <strong>Brasil</strong> 7 2 5<br />

História da Colônia 3 3 -<br />

História do Império 9 3 6<br />

História da República 5 3 2<br />

Subtotal 24 11 13<br />

Obras sobre temas específicos<br />

História Política 188 78 110<br />

História Econômica 27 7 20<br />

História Social 18 8 10<br />

História <strong>das</strong> Idéias 11 3 8<br />

Subtotal 244 96 148<br />

Obras biográficas 23 12 11<br />

Total 303 123 180<br />

60<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

O conjunto obras sobre a disciplina apresenta trabalhos de análise de seu<br />

campo de conhecimento, diferentemente de outras disciplinas que não demonstram<br />

interesse nesse exercício de auto-avaliação, discussão e controle<br />

do trabalho. Na categoria avaliação da produção historiográfica encontram-se<br />

sete estudos que apreciam a qualidade do conhecimento produzido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

<strong>no</strong> campo da história, sobre fatos históricos que ocorreram <strong>no</strong> país. De<br />

acordo com os títulos, tratar-se-ia de textos de caráter geral, havendo também<br />

trabalhos que buscam examinar os relatos feitos sobre a história do estado de<br />

Minas Gerais, o domínio holandês e a instituição militar <strong>no</strong> país. Com me<strong>no</strong>s<br />

obras, a categoria problemas teórico-metodológicos reúne trabalhos sobre os<br />

fundamentos de distintas concepções de história e livros que expõem teorias<br />

e métodos próprios da disciplina. A publicação que analisa o ensi<strong>no</strong> da história<br />

trata da transmissão dos conhecimentos desse ramo do saber na escola<br />

secundária com base <strong>no</strong>s programas e livros nela utilizados.<br />

Ainda que se destaquem de outros especialistas quanto ao interesse nessa<br />

linha de trabalho, os historiadores a ela se dedicam limitadamente (12 em<br />

303 obras). Se forem levados em conta os numerosos textos publicados <strong>no</strong>s<br />

outros temas e o fato de que a produção historiográfica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> inicia-se,<br />

formal e institucionalmente, <strong>no</strong> Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro,<br />

em 1838, muito já poderia ter sido feito sobre esse assunto. José Roberto do<br />

Amaral Lapa comenta esta lacuna, indicando haver-se estimulado aquele exercício<br />

somente nas déca<strong>das</strong> de 1960 e 1970. 5<br />

Apesar do restrito número de obras sobre a disciplina, em quaisquer dos<br />

períodos apresentados <strong>no</strong> quadro IV, verifica-se um aumento da quantidade<br />

de estudos nessa linha. Entre os historiadores, a busca pela reflexão crítica<br />

da produção historiográfica fica registrada em livros publicados <strong>no</strong> período<br />

1945–1955 e em número semelhante de obras divulga<strong>das</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguintes.<br />

A discussão sobre os problemas teórico-metodológicos da disciplina apenas<br />

começou a se esboçar, figurando uma obra sobre o assunto publicada na primeira<br />

fase do período e três na segunda. As tentativas de modificar a feição<br />

tradicional da produção historiográfica, por meio de avaliações e debate de<br />

problemas teóricos, embora possam ter sido relevantes, foram sobretudo escassas<br />

e, aparentemente, não repercutiram, àquela época, junto à grande maioria<br />

dos historiadores, que teria se mantido fiel aos estudos mais tradicionais da<br />

história do <strong>Brasil</strong>, como veremos adiante.<br />

5. LAPA, José Roberto do Amaral. Historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1981. p.<br />

207 e 218.<br />

61<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

O quadro IV mostra reduzido número de obras sobre temas históricos<br />

gerais (24 em 303). A reconstrução de um período da matéria histórica é o<br />

que identifica essas publicações. Os ramos especificados da disciplina acentuam,<br />

em contrapartida, a diversidade dos setores do real que constituem<br />

a história. É comum questionar-se duplamente o conhecimento histórico:<br />

quanto à sua generalidade e quanto à sua especificidade. Os trabalhos especializados,<br />

embora indispensáveis, mutilariam a unidade do conjunto da<br />

história; também se discute a validade dos critérios que fundamentam as<br />

sínteses <strong>das</strong> histórias gerais. 6<br />

O peque<strong>no</strong> interesse na elaboração <strong>das</strong> obras gerais sugere problemas, seja<br />

de ordem teórica – dificuldades na escolha de critérios para a elaboração de<br />

uma síntese da história do <strong>Brasil</strong> –, seja de ordem prática, já que a qualidade<br />

do trabalho exige levantamento e análise de material exaustivo, nem sempre<br />

realizáveis pelo pesquisador individual. Dos livros que abarcam o continuum<br />

da história do <strong>Brasil</strong>, apenas três constituem trabalhos de larga exposição de<br />

fatos históricos.<br />

O Império é o período mais estudado entre as obras que tratam de uma<br />

duração específica daquele continuum. De <strong>no</strong>ve textos, quatro abrangem o período<br />

como um todo, dois focalizam o Primeiro Reinado e três o segundo. Com<br />

relação à República, os cinco livros versam sobre dois assuntos: a consolidação<br />

do regime republica<strong>no</strong> e as características da República Velha. O período<br />

colonial merece pouca atenção <strong>no</strong> período estudado e é possível que a dificuldade<br />

em encontrar fontes tenha sido um fator a desanimar os pesquisadores.<br />

Quanto aos temas históricos gerais, salienta-se o aumento de obras sobre<br />

o conjunto da história do <strong>Brasil</strong> e sobre o Império, que têm praticamente duplicado<br />

o número de livros de um período para outro. A história da Colônia,<br />

na amostra estudada, não parece ter sido objeto de maior atenção dos historiadores<br />

ao longo daqueles a<strong>no</strong>s, figurando com apenas três obras publica<strong>das</strong><br />

entre 1945 e 1955. Mais adiante, veremos que os estudos sobre a Colônia<br />

sobressaem <strong>no</strong> ramo da história econômica. Quanto à história da República,<br />

a quantidade de livros se mostra semelhante nas duas fases apresenta<strong>das</strong> <strong>no</strong><br />

quadro IV.<br />

Seguindo a relação de itens examinados surgem as obras sobre temas específicos.<br />

Elas relatam características de uma prática social, numa duração<br />

6. Comentários críticos sobre a especialização dos estudos históricos encontram-se em RODRI-<br />

GUES, José Honório. Teoria da História do <strong>Brasil</strong>: introdução metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1969. p. 145; sobre a dificuldade <strong>das</strong> sínteses, cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien.<br />

Op. cit., p. 359-362.<br />

62<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

de tempo determinada, revelando a especialização de trabalho intelectual <strong>no</strong><br />

campo da história.<br />

A escolha de uma só prática social para registro e análise suscita questões<br />

relativas ao “corte” ou “deformação” da unidade do processo histórico. Por<br />

isso, Francisco Iglésias, 7 ao discutir problemas inerentes às histórias especiais,<br />

afirma que é uma conquista sempre que seu estudo leva em conta o processo<br />

geral de desenvolvimento histórico, fugindo assim àquela deformação.<br />

Na amostra, as obras sobre temas específicos se apresentam em quantidades<br />

muito desequilibra<strong>das</strong> <strong>no</strong> que respeita ao número de publicações em cada<br />

tema. A história política supera nitidamente to<strong>das</strong> as demais, pois os problemas<br />

políticos chamaram a atenção dos estudiosos mais do que qualquer outro.<br />

Note-se que os livros sobre história econômica, história social e história <strong>das</strong><br />

idéias apresentam-se, em quantidade, relativamente nivelados, sempre muito<br />

abaixo da história política.<br />

Entretanto, é <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> obras sobre temas específicos que se observa<br />

maior intensificação dos estudos. Possivelmente, <strong>no</strong> contexto histórico dos<br />

a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 se desenvolveu o interesse pelos textos especializados<br />

<strong>no</strong> âmbito da historiografia brasileira. Note-se <strong>no</strong> quadro referido, que há um<br />

crescimento da quantidade de obras em todos os ramos assinalados: história<br />

política, história econômica, história social e história <strong>das</strong> idéias.<br />

No que se refere à história política, saliente-se sua continuidade e aumento<br />

substantivo do número de suas obras – 78 publica<strong>das</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945–1955 e<br />

110 na fase 1956–1966.<br />

Segue-se, <strong>no</strong> quadro IV, a variação da quantidade de livros <strong>no</strong>s campos da<br />

história econômica, história social e história <strong>das</strong> idéias <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945–1955 e<br />

1956–1966. Fica evidente a intensificação dos estudos em história econômica<br />

com o número de livros se elevando de sete para 20. Igual interesse parece<br />

não ter ocorrido com a história social, que permanece publicando quase o<br />

mesmo número de obras <strong>no</strong>s dois períodos. A história <strong>das</strong> idéias, entretanto,<br />

logrou mais atenção dos historiadores a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1960, aumentando<br />

de três para oito o número de suas publicações.<br />

Comparativamente, os estudos biográficos aparecem com destaque. Distinguem-se<br />

<strong>das</strong> obras gerais e específicas ao trazerem à tona as características<br />

pessoais e a atuação pública de uma personalidade. Considera-se nesses<br />

trabalhos que a ação individual, singular contribui de modo predominante<br />

7. Cf. IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong><br />

Econômicas/UFMG, 1959. p. 11-26.<br />

63<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

para a constituição de fatos relevantes que identificam uma fase ou período<br />

histórico. É o caso <strong>das</strong> biografias de Pedro I e de presidentes da República Velha.<br />

A atuação individual é, por vezes, claramente considerada indispensável<br />

para a construção histórica: as biografias de Tiradentes fazem o elo entre sua<br />

trajetória e a emancipação da Colônia; o percurso do Duque de Caxias serve<br />

de referência para a participação militar na edificação da nação; ao Barão do<br />

Rio Branco associam-se acertos da história diplomática; a Mauá, a iniciativa<br />

econômica.<br />

Apesar dos diversos problemas suscitados por esse tipo de estudo, que<br />

pode distorcer a história ao enfatizar personalidades individuais, 8 as biografias<br />

se fazem representar significativamente <strong>no</strong> quadro da produção historiográfica:<br />

quatro recuperam do período colonial as figuras do Marquês de Pombal<br />

e de Tiradentes; entre políticos e militares, oito biografias estudam figuras do<br />

Império; seis livros rastreiam o trajeto de diplomatas e estadistas que transitam<br />

entre o Império e a República; e cinco contam a vida de políticos republica<strong>no</strong>s.<br />

As biografias são publica<strong>das</strong> nas duas fases focaliza<strong>das</strong>, sem sofrer<br />

alterações.<br />

Depreende-se dos dados, que a grande maioria dos temas pesquisados pelos<br />

historiadores permaneceu sendo focalizada ao longo do período abordado,<br />

havendo mesmo, de modo geral, uma intensificação <strong>das</strong> diferentes linhas<br />

de trabalho dos estudiosos.<br />

5.1 História política<br />

A história política, como se viu, destaca-se de forma <strong>no</strong>tória pela quantidade<br />

de obras publica<strong>das</strong> colhi<strong>das</strong> na amostra. Já se observou que a atividade<br />

política vista como extraordinária foi, por longo tempo, considerada o motor<br />

da história. Ações e feitos políticos rompem a rotina cotidiana, ordinária, formando<br />

uma cadeia que registra, <strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes, o surgimento, a formação<br />

e o declínio de nações. Hannah Arendt 9 faz distinções entre a tradicional e a<br />

moderna concepções de história, caracterizando a primeira como a tentativa<br />

de imortalizar, através da memória, façanhas de povos inscritas nas ações de<br />

seus líderes, condutores e heróis – entre outros traços apontados pela autora.<br />

8. Cf. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 146 e 147.<br />

9. ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 69-127.<br />

64<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

“Na época moderna”, adverte ela, “a História emergiu como algo que jamais<br />

fora antes. Ela não mais se compôs dos feitos e sofrimentos dos homens,<br />

e não contou mais a história dos eventos que afetaram a vida dos homens;<br />

tor<strong>no</strong>u-se um processo feito pelo homem, o único processo global cuja existência<br />

se deveu exclusivamente à raça humana.” 10<br />

Faz-se alusão a essas distinções sem pretender discuti-las ou desenvolvêlas,<br />

pois não é propósito desse trabalho analisar os fundamentos epistemológicos<br />

ou as características metodológicas de produção <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> período de 1945 a 1966, mas buscar conhecer sua constituição disciplinar<br />

e temática. Ainda assim, cumpre situar as discussões que habitualmente<br />

envolvem a historiografia política: sua antigüidade lhe confere as marcas de<br />

uma concepção tradicional de história, embora não se possa afirmar que todos<br />

os estudos nesse ramo de conhecimento, na amostra analisada, registrem<br />

essa herança na sua elaboração. O apreço dos historiadores brasileiros pelo<br />

conhecimento da atividade política de seu país é ainda mais <strong>no</strong>tável quando se<br />

considera que as biografias, exceto uma, descrevem a ação singular de figuras<br />

proeminentes na política. Além disso, a periodização da história do <strong>Brasil</strong> em<br />

Colônia, Império e República está fundamentada em eventos de ordem política.<br />

O Descobrimento, a Independência e a Proclamação da República são<br />

eleitos “divisores de águas” de períodos característicos da história ou, como<br />

dizem Henri Berr e Lucien Febvre, acontecimentos promovidos à “dignidade<br />

de limites”. 11<br />

O período colonial, inaugurado pelo ato do Descobrimento, esteia-se em<br />

uma relação de dependência <strong>das</strong> <strong>no</strong>vas terras à metrópole portuguesa, cujo<br />

caráter é político-administrativo, jurídico, socioeconômico, intelectual; poderse-ia<br />

argumentar que o ato do Descobrimento, descortinando o período colonial,<br />

não basta para demonstrar o critério político da periodização. Mas, sem<br />

dúvida, a Proclamação da Independência e da República são atos políticos que<br />

delimitam sistemas de gover<strong>no</strong>.<br />

Tratando-se de livros, tudo indica que entre os círculos letrados consumidores<br />

<strong>das</strong> obras em história do <strong>Brasil</strong>, predominava também uma visão “tradicional”<br />

do tema. Tal visão certamente teria repercutido <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> daquela<br />

disciplina obrigatória na escola primária e secundária, marcando em gerações<br />

de brasileiros um modo específico de conceber a história do <strong>Brasil</strong>, o qual<br />

pouca ênfase dava às mudanças históricas de ordem econômica e social.<br />

10. Ibidem, p. 89.<br />

11. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. Op.cit., p. 365-366.<br />

65<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

O conjunto de obras que integram, nesse trabalho, a categoria história política<br />

consta de três tipos de estudo: livros sobre eventos históricos ocorridos<br />

entre 1500 e 1945, aproximadamente, e reconhecidos como os móveis principais<br />

da formação do país; textos sobre as instituições militar, diplomática,<br />

político-jurídica, administrativa e eclesiástica; obras que relatam a fundação de<br />

cidades, a história de estados da Federação e a conquista de regiões; ou registram<br />

o suceder particular de fatos “indispensáveis” para a história do país, <strong>no</strong><br />

âmbito daquelas localidades.<br />

Quadro V<br />

Número de obras por tema em história política:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras<br />

66<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

História dos eventos políticos 99 42 57<br />

História <strong>das</strong> instituições políticas 47 20 27<br />

História de cidades, estados da 42 14 28<br />

Federação e regiões<br />

Total 188 76 112<br />

Os livros sobre os eventos que marcaram a vida do país são visivelmente<br />

mais estudados do que os textos circunscritos à história <strong>das</strong> instituições ou<br />

de localidades. O primeiro conjunto reúne narrativas sobre acontecimentos<br />

e esboça os traços de uma prática de dominação de grupos huma<strong>no</strong>s sobre<br />

outros, sempre referenciada aos limites geográficos onde o exercício daquela<br />

atividade se desenvolve. No segundo conjunto, descrevem-se práticas políticas<br />

sistematiza<strong>das</strong>, reconheci<strong>das</strong> legítima e legalmente, ou sua criação e seu<br />

desenvolvimento. Finalmente, as obras do terceiro grupo dizem respeito à<br />

conquista de regiões ou a fundação de cidades; outra vertente desses estudos<br />

retoma fatos de importância política geral para mostrar como ocorreram em<br />

algumas localidades.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

O quadro V mostra um crescimento <strong>das</strong> publicações nas três grandes linhas<br />

temáticas focaliza<strong>das</strong> pelos historiadores políticos. Contudo, destaca-se <strong>no</strong> conjunto,<br />

comparativamente, o aumento em dobro dos livros sobre história de cidades,<br />

estados da Federação e regiões.<br />

5.1.1 História dos eventos políticos<br />

Vale observar como se articulam os relatos que se inscrevem em cada uma <strong>das</strong><br />

partes diferencia<strong>das</strong> da história política e a relação entre elas, para que se aponte de<br />

que maneira essa linha da historiografia reatualiza uma tradição de estudos sobre a<br />

formação da nação. As obras sobre os eventos políticos se distribuem da seguinte<br />

forma, de acordo com a seqüência cro<strong>no</strong>lógica dos assuntos tratados:<br />

Temas<br />

Quadro VI<br />

Número de obras por tema em história dos eventos:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

67<br />

Obras<br />

1945<br />

1955 1956<br />

1966<br />

Descobrimento 5 2 3<br />

Ocupação territorial 7 2 5<br />

(capitanias e sistemas de sesmarias)<br />

Invasões estrangeiras 16 7 9<br />

Ocupação territorial<br />

(entra<strong>das</strong> e bandeiras)<br />

12 4 8<br />

Independência 12 3 9<br />

Movimentos de “quebra” e manutenção<br />

da unidade política <strong>no</strong> Império<br />

17 12 5<br />

Movimentos de “quebra” e manutenção 30 12 18<br />

da unidade política na República<br />

Total 99 42 57<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Os acontecimentos mais distantes <strong>no</strong> tempo, como o Descobrimento e as<br />

primeiras medi<strong>das</strong> de ocupação territorial, apresentam número me<strong>no</strong>r de publicações.<br />

Os movimentos e conflitos a que chamamos quebra e manutenção<br />

da unidade política, <strong>no</strong> período republica<strong>no</strong> – portanto mais próximos dos<br />

historiadores que escrevem entre 1945 e 1966 –, despertam sensivelmente<br />

mais interesse, a julgar pela quantidade de obras. A preferência por eventos<br />

mais recentes seria uma prática criticável, se aceita a postura dos pesquisadores<br />

que postulam o recuo <strong>no</strong> tempo como uma <strong>das</strong> condições indispensáveis<br />

de seu trabalho. Por exemplo, diz José Maria Belo, citado por José Roberto<br />

do Amaral Lapa:<br />

É um tanto temerário escrever a história de um regime que<br />

mal completa meio século de existência. Falta-<strong>no</strong>s perspectiva;<br />

a pátina do tempo ainda não pode dar aos fatos este vago tom<br />

de poesia, que melancoliza e embeleza as cousas e figuras, até<br />

as cousas banais e figuras medíocres, dos passados distantes. 12<br />

Para José Roberto do Amaral Lapa esta é uma convicção conservadora,<br />

que preserva da crítica histórica as instituições políticas contemporâneas do<br />

historiador, e teria caracterizado a mentalidade dos especialistas até a formação<br />

dos cientistas sociais pelas universidades. 13 Os dados quantitativos revelam<br />

que <strong>no</strong> período estudado, quando são publicados trabalhos de historiadores<br />

formados em Faculdades de Filosofia, a República corresponde, de fato,<br />

à maior área de interesse dos especialistas. Contudo, não se deve esquecer,<br />

utiliza-se aqui um indicador quantitativo, não estando em jogo a qualidade<br />

intrínseca <strong>das</strong> obras; somente a análise de seu conteúdo poderá indicar se os<br />

estudos justificariam o primeiro ou o segundo comentário.<br />

No conjunto <strong>das</strong> narrativas históricas, o Descobrimento, fato que instaura a<br />

história da conquista, defesa e domínio de um território, atraiu pouco a atenção<br />

dos pesquisadores. A história da conquista e da ocupação, por sua vez, é narrada<br />

a partir de dois pontos de vista distantes: o primeiro é o da Coroa Portuguesa<br />

(capitanias e sesmarias); o segundo, o da atividade dos colo<strong>no</strong>s com suas entra<strong>das</strong><br />

e bandeiras. Note-se que este segundo tema – a ocupação territorial do<br />

ponto de vista <strong>das</strong> entra<strong>das</strong> e bandeiras – apresenta quase o dobro de obras, o<br />

que revela um interesse de cunho nacionalista por parte dos pesquisadores.<br />

Tal interesse explicaria ainda a quantidade de textos sobre as invasões estrangeiras.<br />

No conjunto de 16 livros que definem a categoria, 11 deles historiam a ocu-<br />

12. LAPA, José Roberto do Amaral. Op. cit., p. 39.<br />

13. Ibidem, p. 40-41.<br />

68<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

pação, o domínio holandês e as lutas pelo seu térmi<strong>no</strong> <strong>no</strong> século XVII. É possível<br />

que o estabelecimento do domínio flamengo <strong>no</strong> Nordeste, pelo período de trinta<br />

a<strong>no</strong>s, tenha marcado os tempos coloniais de modo a influenciar a escolha dos<br />

historiadores; ou as diferenças culturais e políticas entre a colonização holandesa<br />

e portuguesa os haja estimulado à análise. Julga-se ainda que as lutas pela expulsão<br />

dos holandeses promoveram a coesão interna, forjando um embrião dos movimentos<br />

nativistas, sendo relaciona<strong>das</strong> portanto com a formação da nacionalidade<br />

brasileira. 14 Seja qual for o motivo, o fato é que esse capítulo da história merece<br />

proporcionalmente, <strong>no</strong> conjunto dos livros sobre a história do <strong>Brasil</strong>, e <strong>no</strong> ramo<br />

da historiografia política em particular, um registro amplo que vai além do mero<br />

relato de um conflito pela posse e ocupação <strong>das</strong> terras.<br />

O conjunto de estudos agrupados na categoria Independência reúne trabalhos<br />

sobre movimentos nativistas e fatos que precederam a emancipação<br />

política da Colônia, como a vinda da família real portuguesa, a abertura dos<br />

portos e as relações entre a maçonaria e a independência do país. Esses textos<br />

foram agrupados <strong>no</strong> tema abrangente Independência, devido às relações<br />

que mantêm com esse evento: de um lado, encontram-se movimentos que<br />

almejavam a emancipação do país, e de outro, fatos estreitamente vinculados<br />

à Independência. Mostram, em primeiro lugar, o deslocamento do centro da<br />

narrativa do Estado português para o Estado brasileiro. Entre os movimentos<br />

nativistas, destacaram-se a Inconfidência Mineira e a Revolução Pernambucana,<br />

de 1817. Percebe-se, ao me<strong>no</strong>s, nessa amostra a ausência de estudo<br />

específico sobre a Conjuração Baiana, de 1788, da qual, diferentemente dos<br />

conflitos em Minas Gerais e Pernambuco, participaram com maior destaque e<br />

número indivíduos <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> inferiores da hierarquia colonial. 15<br />

Os textos definidos como movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade<br />

política <strong>no</strong> Império e na República, em número de 17 e 30 respectivamente,<br />

descrevem conflitos, movimentos e revoltas ocorridos <strong>no</strong> Império,<br />

<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes em diferentes províncias, transforma<strong>das</strong> na República<br />

em estados da Federação, e também <strong>no</strong> período republica<strong>no</strong>. Sugerem o<br />

interesse dos historiadores tanto em registrar movimentos de centralização<br />

e descentralização do poder, quanto em examinar e avaliar o exercício político<br />

e jurídico do Estado; o foco de atenção se encontra, portanto, <strong>no</strong> conhecimento<br />

da capacidade da classe política dirigente em manter a unidade<br />

entre aqueles dois pólos, distendendo tensões através de medi<strong>das</strong> políticas<br />

ou reprimindo revoltas. O quadro na página seguinte mostra os conflitos<br />

registrados nesses estudos:<br />

14. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do <strong>Brasil</strong>. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1968. p. 33-34.<br />

15. Cf. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. 4 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1987. p. 31.<br />

69<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Quadro VII<br />

Obras sobre movimentos, conflitos e revoltas registrados na categoria<br />

“movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política”<br />

Império<br />

Império / República<br />

Total<br />

de obras<br />

70<br />

1945-1955 1956-1966<br />

Cabanagem 3 1 2<br />

Guerra dos Farrapos 6 5 1<br />

Balaiada 1 1 -<br />

Revolução Praieira 4 3 1<br />

Conflitos religiosos 2 2 -<br />

Abolição 1 - 1<br />

Total 17 12 5<br />

República<br />

Revolta da Armada 1 - 1<br />

Revolução Federalista 2 2 -<br />

Levantes da Escola Militar 1 1 -<br />

Campanha de Canudos 7 1 6<br />

Revolta da Esquadra 1 1 -<br />

Revolução de 1924 2 1 1<br />

Coluna Prestes 1 1 -<br />

Revolução de 1930 6 1 5<br />

Revolução de 1932 5 2 3<br />

Estado Novo 2 2 -<br />

Crises políticas após 1945 2 - 2<br />

(sucessão presidencial)<br />

Total 30 12 18<br />

Total Geral 47 24 23<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Os textos que abordam os movimentos ocorridos durante o Império revelam<br />

interesse sobretudo nas agitações revolucionárias que, <strong>no</strong> período regencial,<br />

mobilizaram cama<strong>das</strong> populares e repercutiram <strong>no</strong> país de <strong>no</strong>rte a sul.<br />

Espelham a oposição ao sistema fortemente centralizado, imposto pelas elites<br />

político-econômicas que tomaram o poder em 1822. 16 Apesar do interesse na<br />

reconstrução histórica desses movimentos, não se registram estudos sobre a<br />

Confederação do Equador, de 1824, ocorrida em Pernambuco, e a Sabinada,<br />

na Bahia, entre 1837 e 1838. Digna de <strong>no</strong>ta é a atenção dada à Revolução<br />

Praieira, objeto de quatro estudos <strong>no</strong> conjunto de 17 livros.<br />

Contudo, mais <strong>no</strong>tável ainda é que acontecimento de tamanha envergadura como<br />

a Abolição da Escravatura não tenha rastreado, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da política, movimentos que<br />

a precederam, suas causas e repercussões, sendo objeto de apenas um trabalho. Da<br />

mesma forma, surpreende a ausência, <strong>no</strong> rol dos estudos selecionados, de relatos sobre<br />

a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse último episódio constitui um evento típico<br />

dos que fazem parte <strong>das</strong> historiografias políticas em geral. Entretanto, nem a longa<br />

duração do conflito, nem sua relação com a formação do exército brasileiro, nem a<br />

consciência que trouxe dos problemas advindos da escravidão parecem ter estimulado<br />

os historiadores, como não os motivou a criticar as conseqüências nefastas da guerra<br />

para a República do Paraguai. 17 É possível que a atitude de omissão dos historiadores<br />

com relação à Abolição e à Guerra do Paraguai se explique pelo fato de que a primeira,<br />

trazendo à memória um sistema de dominação reprovável, e a segunda, com suas<br />

conseqüências trágicas, não sejam vistas como fatos que prestigiem os feitos de uma<br />

classe política e exemplifiquem positivamente a construção da nação.<br />

Quanto à República, os eventos mais visados são a Campanha de Canudos, a<br />

Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. A participação de<br />

militares em movimentos, revoltas e revoluções evidencia-se neste período.<br />

Quando são observados os acontecimentos políticos escolhidos pelos historiadores<br />

e sua seqüência cro<strong>no</strong>lógica (quadro VI), verifica-se haver entre<br />

eles uma relação cujo sentido é a construção política e geográfica do país. A<br />

escolha de tais eventos mostraria existir um interesse implícito por parte dos<br />

historiadores em registrar a história da conquista e da ocupação de terras, cuja<br />

condução fica sob a responsabilidade do Estado português e, em seguida, do<br />

Estado brasileiro. Este parece ser apreciado pelos especialistas do ponto de<br />

vista de sua habilidade em resolver problemas e obstáculos relativos à con-<br />

16. Ibidem, p. 8, 119-138.<br />

17. Sobre a Guerra do Paraguai cf. PRADO JR., Caio. História econômica do <strong>Brasil</strong>. 7 ed. São Paulo:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1962. p. 182-183; SODRÉ, Nelson Werneck. Op. cit., p. 143-146; VIANNA, Hélio.<br />

História do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1961. t. II, p. 197-199.<br />

71<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

quista e à manutenção da unidade nacional. A importância dos fatos apresentados<br />

nas narrativas sugere que, para os historiadores, a unidade nacional tem<br />

como fundamento o exercício do poder político em um espaço geográfico<br />

determinado.<br />

Quanto à variação do número de obras <strong>no</strong> ramo da história dos eventos<br />

políticos, nas duas fases apresenta<strong>das</strong> <strong>no</strong> quadro VI, observa-se que houve<br />

um aumento do número de estudos em todos os temas abordados, exceção<br />

feita à categoria movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política <strong>no</strong><br />

Império, que tem diminuído pela metade o número de seus textos integrantes<br />

da amostra. Os fatos históricos que registram a ocupação territorial, a Independência<br />

e os movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política na<br />

República suscitaram, aparentemente, maior interesse a partir de meados de<br />

1950, justamente quando as crises políticas e as questões liga<strong>das</strong> ao nacionalismo<br />

ocupam um lugar relevante na pauta <strong>das</strong> discussões dos meios políticos.<br />

Ainda que o crescimento do número de obras sobre a história dos eventos políticos<br />

não seja extraordinário, <strong>no</strong> período examinado ele é bastante significativo, pois<br />

demonstra que essa linha “tradicional” de estudos permaneceu <strong>no</strong> horizonte de<br />

interesse do grupo de historiadores, havendo, portanto, uma demanda para ela.<br />

5.1.2 História <strong>das</strong> instituições políticas<br />

Chamamos história <strong>das</strong> instituições políticas os estudos que dentro do quadro<br />

da história política delimitam e registram ações e relações sujeitas a <strong>no</strong>rmas<br />

e regulamentos. Tais trabalhos reconstroem a ordem política com base <strong>no</strong> exame<br />

e registro de competência peculiar atribuída a diversas categorias de atores,<br />

fazendo parte da narrativa uma descrição específica de sua atuação. Militares,<br />

diplomatas, funcionários públicos, sacerdotes, representantes políticos se distinguem<br />

pela posse de um conhecimento particular, pelo sentido que atribuem<br />

e que é atribuído também, em geral, às ações de sua responsabilidade. Entre si,<br />

diferenciam-se pelo lugar hierárquico que ocupam na instituição à qual pertencem.<br />

Além disso, sua autoridade para exercer funções e cumprir tarefas defini<strong>das</strong><br />

é socialmente reconhecida e aceita. Pode-se dizer que as práticas descritas<br />

<strong>no</strong>s estudos da história <strong>das</strong> instituições políticas são legais e legítimas. 18<br />

18. Sobre o conceito de instituição ver MÜHLMANN, Wilhelm Emil. Institution. In: WÖRTER-<br />

BUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (Org.). Frankfurt a/M: Fischer Taschenbuch Verlag, 1976.<br />

t. II, p. 371-373; CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paris: PUF, 1963. t. II, p. 494-496.<br />

72<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Tais trabalhos constituem assim o conhecimento histórico daquilo que é<br />

institucional, <strong>no</strong> sentido de que tem uma continuidade e se repete, apesar <strong>das</strong><br />

mudanças, em oposição a acontecimentos que se apresentam como únicos.<br />

A persistência <strong>no</strong> tempo é o traço que identifica as instituições e marca as<br />

obras encontra<strong>das</strong>, embora sua elaboração siga linhas diferentes: umas descrevem<br />

intervenções institucionais em determinados eventos, sem registrar<br />

o surgimento e a evolução da instituição a que se referem; outras tratam<br />

da formação, do funcionamento e da transformação de uma instituição ao<br />

longo do tempo; há ainda aqueles que destacam e analisam os frutos de uma<br />

tarefa institucional regularmente cumprida, como a catequese ou a aplicação<br />

<strong>das</strong> leis do Direito.<br />

Quadro VIII<br />

Número de obras por tema em história <strong>das</strong><br />

instituições políticas, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945-1955 e 1956-1966<br />

Temas Obras<br />

73<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

História militar 16 6 10<br />

História diplomática 11 4 7<br />

História administrativa 7 4 3<br />

História constitucional 7 3 4<br />

História eclesiástica 4 2 2<br />

História dos partidos políticos 2 1 1<br />

Total 47 20 27<br />

A apresentação desse quadro em ordem quantitativa ressalta a importância<br />

atribuída à história militar na amostra estudada e, logo a seguir, a da história<br />

diplomática, já que ambas ultrapassam a dezena e as demais ficam abaixo desse<br />

número. Observe-se que a história militar e a diplomática registram com<br />

maior ênfase a formação e a ação de instituições do Estado encarrega<strong>das</strong> da<br />

expansão territorial, do traçado de fronteiras externas e internas, e do equilíbrio<br />

da tensão entre centralização e descentralização.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

No entanto, são os trabalhos de história administrativa que particularmen-<br />

te mostram os percursos da centralização e descentralização do poder, ao<br />

descrever relações entre poder local, regional e central.<br />

A história constitucional apresenta características de práticas<br />

que asseguram a unidade e a soberania da nação através de <strong>no</strong>rmas<br />

e leis. O conjunto inclui estudos gerais sobre a história do direito<br />

político <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e trabalhos que se referem a leis constitucionais,<br />

relacionando-as com “crises” ou “problemas” <strong>das</strong> instituições políticas<br />

<strong>no</strong> país. Nesse caso, não foi possível saber, através dos títulos,<br />

nem o aspecto jurídico específico, nem o teor dos “problemas” tratados<br />

pelos historiadores.<br />

A história eclesiástica, por sua vez, enfoca a organização e o processo<br />

de transmissão de conhecimentos, valores e credo religioso que orientam<br />

e dominam o comportamento huma<strong>no</strong>, interferindo desse modo na dominação<br />

exercida pelo Estado. A Igreja Católica pertencia ao sistema político<br />

brasileiro durante o Império, dele se separando com a República. A vinculação<br />

da Igreja ao Estado monárquico português e brasileiro explicita a<br />

dimensão política da prática clerical. Essa vinculação explícita foi rompida<br />

com a República. No entanto, a interferência do poder eclesiástico, ainda<br />

que sub-reptício, continuou existindo com relação ao poder estatal, provocando<br />

tensões e conflitos. As obras relativas a esse tema não figuram<br />

com destaque na amostra.<br />

A história dos partidos políticos apresenta a me<strong>no</strong>r quantidade de<br />

trabalhos. Seu peque<strong>no</strong> número pode resultar do fato de que, durante<br />

muito tempo, eles não significaram diferenças reais de composição<br />

socioeconômica e pareciam similares: era comum durante o Império,<br />

por exemplo, dizer que nada era tão parecido com um ministério liberal<br />

quanto um ministério conservador. A estrutura semelhante apresentada<br />

pelos partidos políticos parece não ter despertado a curiosidade pelo seu<br />

estudo. É possível também que a orientação da historiografia política,<br />

voltada para a unidade política da nação, torne compreensível o peque<strong>no</strong><br />

número de textos sobre os partidos – instância que permitiria reconhecer<br />

diferenças, traduzi<strong>das</strong> em posições ideológicas de cada agrupamento<br />

partidário, e que representam interesses muitas vezes conflitantes de ca-<br />

74<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ma<strong>das</strong> e classes sociais. O enfoque de tais diferenças e conflitos fugiria<br />

aos objetivos dos historiadores voltados naquele período para a construção<br />

política e geográfica do país.<br />

No conjunto, as obras sobre a história <strong>das</strong> instituições políticas crescem<br />

em número, como mostra o quadro VIII, embora o aumento da quantidade<br />

de publicações não seja <strong>no</strong>tável. Observe-se também que o interesse pelo<br />

estudo dos diversos temas abordados não variou ao longo daquele período.<br />

A história militar e a história diplomática permaneceram sendo o foco mais<br />

importante desses trabalhos.<br />

5.1.3 História de cidades, estados e regiões<br />

Ao lado da história dos eventos e <strong>das</strong> instituições políticas, a história<br />

de cidades, estados da Federação e regiões também dá continuidade<br />

a orientações básicas da história política: o assenhoreamento de terras,<br />

a fixação de populações, a demarcação de fronteiras. “O povoamento<br />

é e sempre foi o capítulo mais importante de <strong>no</strong>ssa vida coletiva. Afinal<br />

de contas”, diz Caio Prado Junior, “toda a História do <strong>Brasil</strong> não<br />

é senão a história do povoamento e ocupação de um grande território<br />

semideserto.” 19<br />

Os 42 livros que configuram a história <strong>das</strong> regiões, estados e cidades<br />

não são uma exceção, contribuindo para o conhecimento dos percursos<br />

e percalços do povoamento. Mas, certamente, não o narram à luz <strong>das</strong> atividades<br />

econômicas, como faz Caio Prado Junior em sua conferência de<br />

1946. Cidades, estados e regiões, apesar <strong>das</strong> diferenças inerentes a cada<br />

uma dessas categorias, têm sua história reconhecida e registrada na historiografia<br />

dentro dos marcos do conjunto <strong>das</strong> ações que estabeleceram<br />

fronteiras políticas e geográficas do país.<br />

19 Cf. PRADO JR., Caio. Evolução política do <strong>Brasil</strong> e outros estudos. 4 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1963.<br />

p. 217.<br />

75<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Quadro IX<br />

Obras por tema em história de cidades, estados e regiões<br />

1945 - 55 e 1956 - 66<br />

Temas Obras<br />

76<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

História de cidades 20 7 13<br />

História de estados da Federação 13 4 9<br />

História de regiões 9 3 6<br />

Total 42 14 28<br />

A história de cidades apresenta o maior número de obras. No con-<br />

junto, percebe-se uma concentração de trabalhos sobre o Rio de Janeiro,<br />

em número de oito, e a distribuição relativamente proporcional de estudos<br />

sobre cidades mineiras – antigas vilas do século XVIII –, Salvador,<br />

Recife e São Paulo. A importância atribuída a esses centros, principalmente<br />

o Rio de Janeiro, contrasta com o reduzido número de estudos<br />

sobre outras localidades. Excetuando-se as cidades mineiras, cujo desenvolvimento<br />

desigual, caracterizado pelo rápido apogeu e declínio,<br />

não acompanha as mudanças sociais e históricas, pode-se dizer que os<br />

historiadores restringem sua área de interesse aos centros urba<strong>no</strong>s mais<br />

antigos que, ao longo do tempo e ainda <strong>no</strong> período de pesquisa e publicação<br />

desses trabalhos, desempenharam função de destaque na política<br />

de integração nacional.<br />

Na história de cidades <strong>no</strong>ta-se também que o ato de fundação é o evento<br />

mais evidenciado. Dos 20 livros, seis tratam exclusivamente daquele acontecimento.<br />

A importância <strong>das</strong> cidades <strong>no</strong> processo de colonização e povoamento<br />

é acentuada, já que por meio do registro <strong>das</strong> adversidades supera<strong>das</strong> pelos<br />

fundadores e primeiros habitantes, tal relato reafirma os laços de solidariedade<br />

locais e a contribuição <strong>das</strong> comunidades à história nacional.<br />

Por fim, é preciso dizer que o uso da categoria “cidades” corresponde ao<br />

termo utilizado pelos historiadores para designar uma aglomeração, por vezes<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

extremamente pequena, 20 ou 30 moradores, <strong>no</strong>s primórdios da colonização, 20<br />

cuja atividade era principalmente política, administrativa, militar e religiosa.<br />

O sentido político da cidade faz lembrar as considerações de Max Weber<br />

quando aponta a necessidade de separar os traços econômicos dos políticoadministrativos<br />

na elaboração do conceito de cidade, pois algumas localidades<br />

só poderiam valer como cidades se apenas fosse reconhecido seu papel<br />

político-administrativo. 21<br />

São outras as características dos 13 estudos sobre os estados da Federação.<br />

Com exceção de quatro livros, os demais tratam da história de estados<br />

do Nordeste. Compreendem dois tipos de relatos: narra-se a história política<br />

daqueles territórios <strong>no</strong> seu conjunto, ou definindo um de seus períodos,<br />

relacionando o relato com a história geral do país; numa outra orientação,<br />

investiga-se a ocorrência de acontecimentos de importância nacional em nível<br />

estadual. De uma forma ou de outra, ficam salienta<strong>das</strong> as particularidades da<br />

inserção dos estados na história nacional.<br />

O peso dado aos estados do Nordeste e a escassez de trabalhos sobre estados<br />

de outras regiões é <strong>no</strong>tável. Mais adiante voltaremos a mostrar a tendência <strong>das</strong> ciências<br />

sociais a dirigir o olhar para o Nordeste, mostrando que na época de elaboração<br />

desses estudos aquela região mereceu atenção especial dos pesquisadores.<br />

A escolha de um estado da Federação para estudo não está, em princípio,<br />

exposta à discussão e controvérsias como <strong>no</strong> caso da complexa categoria de<br />

“cidade”. O estado é uma unidade territorial, administrativa e política de um<br />

Estado federalista. 22 A definição, de caráter geopolítico, implica a <strong>no</strong>ção de<br />

partes, autô<strong>no</strong>mas <strong>no</strong> que diz respeito a seus negócios próprios, mas ao mesmo<br />

tempo reuni<strong>das</strong> em tor<strong>no</strong> de interesses comuns. A orientação da historiografia<br />

guarda essa idéia quando integra a história estadual à do país, ressaltando<br />

particularidades dos elos entre as partes e o todo. Ademais, esses estudos<br />

condizem com um dos alvos dos historiadores políticos, já registrados, que<br />

pretende caracterizar o movimento de centralização e descentralização, e sua<br />

função <strong>no</strong> processo de integração nacional.<br />

20. Cf. OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. p. 13<br />

21. Cf. WEBER, Max. Wirtschaft und Gesellschaft. Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1985. p.<br />

727-814.<br />

22. Cf. LEVI, Lúcio. Federalismo. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Brasília: Editora Universidade<br />

de Brasília, 1986. p. 480-483.<br />

77<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Convém chamar a atenção para o número restrito de publicações sobre a<br />

história de estados da Federação, se comparado com a incidência de estudos<br />

sobre eventos de repercussão nacional. A historiografia política parece adotar<br />

preferencialmente uma perspectiva central, a partir da qual alcança uma visão<br />

global do processo de dominação diferentemente de uma perspectiva estadual,<br />

que permite apenas uma visão fragmentada.<br />

No conjunto história de regiões destacam-se as publicações sobre a região<br />

amazônica. Dos <strong>no</strong>ve livros que compõem a categoria, sete retratam o <strong>no</strong>rte<br />

amazônico. Versam sobre a formação histórica da região, o traçado de seus limites<br />

e a demarcação de suas fronteiras. Sobre o Nordeste há dois livros apenas.<br />

Por que o <strong>no</strong>rte amazônico merece, <strong>no</strong> período abordado, uma posição<br />

destacada na história política? O reconhecimento político da Amazônia e<br />

a consolidação de suas fronteiras internas e externas se fizeram paulatinamente<br />

durante o Império, em meio às lutas que se seguiram à Independência<br />

e ao embate da Cabanagem. Ao explicar o desinteresse da política<br />

imperial <strong>no</strong> tocante à Amazônia, Arthur Cezar Ferreira Reis afirma que “a<br />

Amazônia era o extremo-<strong>no</strong>rte. E os estadistas do Império eram homens<br />

do Nordeste e do Sul”. 23<br />

Serviria o comentário do autor também para a compreensão do interesse<br />

restrito dos cientistas sociais <strong>no</strong> que respeita aos estudos sobre<br />

a região amazônica? De acordo com a amostra estudada, somente <strong>no</strong><br />

campo da história do <strong>Brasil</strong>, e especificamente na historiografia política,<br />

encontra-se um grupo de livros que trata com exclusividade dessa região.<br />

O interesse dos historiadores <strong>no</strong> registro da história da demarcação <strong>das</strong><br />

fronteiras políticas e geográficas do país poderia explicitar a existência<br />

de tal conjunto. Na realidade, pesquisadores de outras disciplinas e mesmo<br />

de outros ramos da história do <strong>Brasil</strong>, privilegiaram em seus estudos<br />

problemas do Nordeste e do Sul. É possível que os especialistas tenham<br />

julgado estar nessas regiões as questões mais relevantes da sociedade<br />

brasileira naquele período: de um lado, o Sul que se industrializava e<br />

modernizava, de outro, o Nordeste que mantinha as tradições de uma<br />

sociedade “antiga” de base agrária. Tanto uma quanto outra, aquelas<br />

regiões serviram de quadro de referência para muitas pesquisas, sendo o<br />

23. Cf. REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro: Ministério<br />

da Educação e Cultura, 1956. p. 61.<br />

78<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Nordeste visto, de modo geral, como uma região “problemática”. Poderse-ia<br />

supor ainda que, tendo o estudo <strong>das</strong> ciências sociais ocorrido predominantemente<br />

<strong>no</strong>s centros urba<strong>no</strong>s do Sul e do Nordeste, a possibilidade<br />

de pesquisa em região mais distante, como a Amazônia, tenha sido<br />

desestimulada pela falta de recursos a ela indispensáveis. De qualquer<br />

modo, mostra-se aqui a atenção diferenciada dada às regiões brasileiras<br />

<strong>no</strong> estudo <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> período abordado.<br />

Embora limitados, pois favorecem a história dos centros urba<strong>no</strong>s mais<br />

antigos, dos estados do Nordeste e da região amazônica, os trabalhos apresentados<br />

trazem à tona <strong>no</strong>vamente a questão dos limites e <strong>das</strong> fronteiras, mantendo<br />

viva a discussão sobre os interesses em jogo na política de colonização,<br />

assunto característico da história política naquele período.<br />

Quanto ao crescimento do número de obras nesse ramo da história política,<br />

destaca-se <strong>no</strong> conjunto, comparativamente, o aumento em dobro dos<br />

estudos sobre história de cidades, dos a<strong>no</strong>s 1945–1955 para 1956–1966.<br />

Poder-se-ia supor que o acelerado processo de urbanização, característico<br />

daquele contexto histórico, teria motivado o interesse crescente por essa<br />

área temática da história do <strong>Brasil</strong>. Contudo, deve ser lembrado quanto à<br />

história de cidades que o ato de fundação dos principais centros urba<strong>no</strong>s<br />

brasileiros foi o fato que mereceu maior atenção dos estudiosos. Dos 13<br />

livros publicados na categoria, <strong>no</strong> período 1956–1966, seis dentre eles são<br />

dedicados à história da cidade do Rio de Janeiro, cuja fundação se comemorou<br />

em 1965. A escolha dos historiadores não teria resultado, portanto,<br />

de seu interesse pela elucidação de problemas mais amplos da sociedade<br />

brasileira naquele momento, e sim de motivo específico, peculiar à história<br />

política naqueles a<strong>no</strong>s – o de registrar e narrar a história dos eventos que<br />

teriam contribuído para a formação do país.<br />

5.2 História Econômica<br />

A história econômica registra a memória do conjunto de atividades humanas<br />

cuja finalidade é a satisfação de necessidades materiais. Abrange em<br />

seu campo disciplinar um complexo de instituições e medi<strong>das</strong> 24 volta<strong>das</strong><br />

24. Cf. BEUTIN, Ludwig; KELLENBENZ, Hermann. Wirtschaftsgeschichte. Köln: Böhlau Verlag,<br />

1973. p. 1.<br />

79<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

para a produção material. Sua formação corresponde a um processo que se<br />

inaugura <strong>no</strong> século XVIII, com o reconhecimento, <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> do pensamento,<br />

de outras práticas humanas diferentes <strong>das</strong> práticas política e religiosa. No século<br />

XIX, a história econômica se configura como uma área de estudo com<br />

teoria e métodos próprios. Assim como a historiografia política carrega a marca<br />

da antigüidade, o conhecimento histórico da eco<strong>no</strong>mia está vinculado à<br />

época moderna. Dele, resultam <strong>no</strong>vas maneiras de conhecer e interpretar a<br />

história, que consideram o processo produtivo uma instância indispensável<br />

para a compreensão <strong>das</strong> mudanças históricas, ou mesmo uma instância fundamental.<br />

Os contor<strong>no</strong>s da visão histórica da eco<strong>no</strong>mia estão inscritos em 27 publicações<br />

da amostra, que se distribuem em diferentes temas como se vê <strong>no</strong><br />

quadro abaixo:<br />

Quadro X<br />

Obras por tema em história econômica<br />

1945 - 55 e 1956 - 66<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

Formação econômica<br />

80<br />

1956<br />

1966<br />

Características gerais 7 1 6<br />

Características <strong>no</strong> período colonial 4 - 4<br />

Subtotal 11 1 10<br />

Atividades produtivas 6 2 4<br />

(açúcar, mineração, café e pesca)<br />

Política econômica 5 2 3<br />

Industrialização 3 2 1<br />

Sistema bancário 2 1 1<br />

Total 27 8 19<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

O interesse pelos estudos de formação econômica supera os demais, expressando-se<br />

em onze livros que analisam traços fundamentais da eco<strong>no</strong>mia<br />

<strong>no</strong> passado. Como mostra o quadro, esses estudos apresentam dois focos:<br />

sete obras examinam o processo de formação da eco<strong>no</strong>mia do país, sem que<br />

seus títulos distingam um período histórico específico; outros quatro abordam<br />

a formação histórica da eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong> período colonial.<br />

Em seguida, seis obras tratam de aspectos específicos de atividades produtivas<br />

que compreendem: o comércio e a cultura do açúcar na Colônia; a<br />

produção açucareira em Minas Gerais; a atividade pesqueira; o abastecimento<br />

<strong>das</strong> áreas mineradoras <strong>no</strong> século XVIII; especificidades e características da<br />

eco<strong>no</strong>mia cafeeira, restringindo-se um dos estudos às áreas paulistanas e outro<br />

ao Vale do Paraíba. Com exceção <strong>das</strong> pesquisas sobre a produção cafeeira,<br />

as demais têm como quadro de referência a Colônia.<br />

Sobre a política econômica encontram-se estudos cujo foco de interesse<br />

são as características gerais da administração política da eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong> passado;<br />

as medi<strong>das</strong> do Estado português que impediram o surgimento da indústria na<br />

Colônia; a política econômica do gover<strong>no</strong> provincial de Minas Gerais (1835<br />

– 1889); as medi<strong>das</strong> favoráveis à industrialização do país entre 1808 e 1930; e<br />

também aspectos da eco<strong>no</strong>mia internacional, a partir do final do século XIX,<br />

vinculando-os às condições financeiras do país.<br />

No tocante à industrialização, as obras abordam a formação industrial<br />

do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong>s seus primórdios, o surgimento e crescimento <strong>das</strong> indústrias <strong>no</strong><br />

estado de São Paulo, as vias de acesso e o transporte na região Nordeste,<br />

relacionando-os às possibilidades de industrialização daquela região. Quanto<br />

ao sistema bancário, narram-se as tentativas de organizá-lo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e em<br />

Portugal até 1808, além da história do Banco do <strong>Brasil</strong> de 1808 a 1835.<br />

No conjunto sobre temas específicos, ao lado <strong>das</strong> quatro obras gerais<br />

sobre a eco<strong>no</strong>mia colonial, há seis estudos que têm como horizonte de observação<br />

o período da Colônia. Na amostra, quatro livros tratam de atividades<br />

econômicas durante a monarquia, dos quais um se refere aos períodos<br />

monárquico e republica<strong>no</strong> e outro apenas ao período republica<strong>no</strong>. Com dez<br />

obras, esse período aparece como privilegiado pelos historiadores dos temas<br />

econômicos.<br />

Cabe assinalar o lugar que a história econômica ocupa dentro do quadro<br />

geral dos estudos da história do <strong>Brasil</strong>. O número de suas publicações perfaz<br />

8,9% da amostra de livros da disciplina, enquanto a história política se apresenta<br />

com 62,04%.<br />

81<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

O conjunto de obras sobre história econômica, integrante da amostra estudada,<br />

cresce em dobro, de uma fase para outra daquelas aponta<strong>das</strong> <strong>no</strong> quadro<br />

X, fato que não é observado em nenhuma <strong>das</strong> categorias nas quais se dividem<br />

os estudos da história política, e que demonstra a atenção crescente pelo assunto.<br />

Porém, apesar do aumento sensível do número de estudos publicados<br />

em livro, as obras da historiografia econômica não figuram em posição de<br />

relevo <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> publicações <strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong>.<br />

O tratamento dos temas econômicos pelos historiadores foi, portanto,<br />

reduzido <strong>no</strong> contexto histórico dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966. A tradição da historiografia<br />

política cultivada desde o século XIX <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> parece presente de<br />

modo predominante <strong>no</strong> que respeita à quantidade de livros, em um período<br />

histórico cujas transformações econômicas e sociais poderiam, mais do que<br />

outros problemas, despertar o interesse da camada intelectual.<br />

É possível que o campo da história do <strong>Brasil</strong> tenha começado a se diferenciar<br />

(isto é, distinguindo-se os historiadores segundo suas especialidades) por<br />

meio de uma abordagem econômica do tema, <strong>no</strong> mesmo momento em que<br />

as ciências sociais como um todo se desenvolveram e se destacaram como um<br />

ramo do conhecimento específico. Essa diferenciação interna do campo da<br />

história do <strong>Brasil</strong> teria ocorrido, seja pelas condições sociais e econômicas específicas<br />

da sociedade brasileira, em acelerada mudança principalmente a partir<br />

de 1955, seja pela influência de outras disciplinas como a eco<strong>no</strong>mia política<br />

e a sociologia, seja pela formação de historiadores nas faculdades de Filosofia.<br />

25 Cabe aqui, tão somente, chamar a atenção para a composição temática<br />

peculiar da história do <strong>Brasil</strong>, que se evidencia na distribuição nitidamente<br />

desigual <strong>das</strong> publicações <strong>no</strong> que se refere aos fatos políticos e econômicos.<br />

Quanto ao interesse da história econômica pelos estudos de caráter geral,<br />

particularmente o período colonial, evidenciado em publicações data<strong>das</strong> a<br />

partir de 1956, poder-se-ia aqui apenas sugerir que talvez se deva a uma orientação<br />

metodológica, peculiar a esse campo da história naqueles a<strong>no</strong>s, cujo objetivo<br />

era conhecer as características comuns de formas diferentes e varia<strong>das</strong><br />

da produção econômica de um determinado período. Tais características definiriam<br />

então a estrutura econômica do período histórico estudado. 26 A adoção<br />

de tal procedimento metodológico levaria tanto à realização de estudos<br />

25. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publicado<br />

em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.).<br />

Introdução ao estudo da história do <strong>Brasil</strong>, São Paulo, 1971. Cader<strong>no</strong>s do Instituto de Estudos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. p. 23 e 31.<br />

26. Ibidem, p. 27-35.<br />

82<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

interpretativos de caráter geral, como também ao conhecimento do processo<br />

mais profundo de mudança da eco<strong>no</strong>mia, à medida que fossem observa<strong>das</strong>,<br />

<strong>no</strong> decorrer do tempo histórico, estruturas econômicas diferencia<strong>das</strong>.<br />

Em 1961, Nícia Vilela Luz afirmava que o conhecimento do desenvolvimento<br />

industrial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> exigia pesquisas demora<strong>das</strong>, entre outros problemas,<br />

porque tal desenvolvimento deitava suas “raízes” na época colonial. 27<br />

Possivelmente motivados pelas transformações econômicas que ocorriam <strong>no</strong><br />

país e com o intento de compreendê-las, os pesquisadores da história econômica<br />

fizeram uso daquela metodologia e se voltaram para o estudo da estrutura<br />

econômica do passado mais remoto, focalizando sobretudo o período<br />

colonial.<br />

Desse modo, a história econômica embora apresente um número reduzido<br />

de estudos dentro do quadro <strong>das</strong> publicações da história do <strong>Brasil</strong>, contribuiu<br />

para a diferenciação desse campo disciplinar, tanto <strong>no</strong> que concerne a<br />

sua temática quanto a suas orientações metodológicas.<br />

5.3 História Social<br />

As inúmeras definições de história social trouxeram mais problemas do<br />

que permitiram esclarecer os contor<strong>no</strong>s desse campo de estudo. Jean Hecht<br />

reconhece três tendências <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> definições: a primeira considera<br />

história social o estudo da vida e da cultura existentes em sociedades que<br />

desenvolveram-se <strong>no</strong> passado; outra insiste em limitá-la ao conhecimento de<br />

um residuum proveniente da política, da eco<strong>no</strong>mia e de amplas áreas culturais,<br />

tais como crenças religiosas e tec<strong>no</strong>logia; e finalmente, uma terceira corrente<br />

a restringe ao estudo de “um conjunto heterogêneo de instituições domésticas<br />

e comunitárias, costumes, atitudes e artefatos”. 28<br />

Comentários de José Honório Rodrigues também sugerem dificuldades<br />

de definição e mostram como a história social pôs em xeque a extremada<br />

valorização da atividade política e de personalidades influentes na história. “A<br />

teoria do medalhão da história” diz o autor, “seria substituída pela teoria do<br />

povo: estudar a conduta do povo, substituídos os personagens pelos grupos<br />

estruturados em formas sociais e econômicas.” 29 Revela ainda o escritor a<br />

27. LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: DIFEL, 1961. p. 9-10.<br />

28. HECHT, J. Jean. Social History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.<br />

New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 455.<br />

29. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 212.<br />

83<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

proximidade entre história social e história econômica, o que permite a alguns<br />

historiadores considerar o estudo histórico da eco<strong>no</strong>mia dentro do quadro<br />

da história social. Finalmente, ele recomenda aos estudiosos da disciplina fazer<br />

uso do enfoque antropológico para conhecer a evolução e as mudanças<br />

culturais. Embora tecendo esses comentários, o autor não define o objeto da<br />

história social.<br />

Compreendemos aqui a história social como um ramo que trata <strong>das</strong> características<br />

e <strong>das</strong> mudanças de sociedades ou de fatos sociais <strong>no</strong> passado,<br />

com base na apreciação de um conjunto de obras constantes da amostra, cujo<br />

alvo é a análise de características gerais da formação da sociedade brasileira<br />

ou de um de seus aspectos, além do registro da ocorrência de fatos sociais.<br />

O quadro de publicações a seguir mostra as linhas de trabalho que definem a<br />

história social.<br />

Temas<br />

Quadro XI<br />

Número de obras por tema em história social<br />

1945-55 e 1956-66<br />

84<br />

Obras<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Escravidão 6 4 2<br />

Classes e estratos sociais 5 1 4<br />

Formação da sociedade 2 - 2<br />

Outros 5 3 2<br />

Total 18 8 10<br />

Os estudos sobre a escravidão dividem-se em dois tipos de enfoque. Um<br />

deles, traduzido em duas publicações apenas, analisa a escravidão desde suas<br />

origens até a desagregação do sistema, com os problemas da integração dos<br />

negros <strong>no</strong> trabalho livre; o outro registra lutas dos escravos, concentrando-se<br />

<strong>no</strong> Quilombo dos Palmares. Dão prioridade à descrição de eventos históricos<br />

e relegam a segundo pla<strong>no</strong> a análise <strong>das</strong> relações sociais.<br />

A ênfase dada aqui às obras sobre os escravos e o sistema escravocrata<br />

visa sublinhar o contraste entre a relevância do tema para a história do <strong>Brasil</strong><br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

e o tratamento limitado que a ele deram os historiadores, comparativamente<br />

com outros temas focalizados. No conjunto de livros da história<br />

social, o tema da escravidão apresenta um número de obras semelhante<br />

ao <strong>das</strong> classes sociais. Embora não tenham posição de destaque na história<br />

social, é somente neste ramo que adquirem um lugar específico e<br />

delineado. A história política, com 188 obras, apresenta um estudo sobre<br />

a escravidão; <strong>no</strong> conjunto de 27 livros da história econômica não figura<br />

nenhum texto específico sobre o tema. Do quadro geral da história do<br />

<strong>Brasil</strong> (303 obras) constam sete estudos específicos sobre a escravidão,<br />

o que significa apenas 2,3% <strong>das</strong> publicações nesse campo disciplinar,<br />

constantes da amostra estudada.<br />

Os trabalhos sobre classes e estratos sociais investigam a constituição histórica<br />

<strong>das</strong> diversas cama<strong>das</strong> da população. No conjunto, há dois registros de<br />

lutas operárias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Dele fazem parte duas obras sobre a formação da<br />

sociedade brasileira, elabora<strong>das</strong> a partir da análise de suas condições econômicas,<br />

políticas e intelectuais ao longo da história.<br />

O quadro apresenta também cinco estudos que se diferenciam dos demais<br />

ao tratar de assuntos bastante específicos como a relação entre a atividade estudantil<br />

e a vida nacional, a história social do estado do Amazonas, a história<br />

da imprensa e a história da medicina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

De acordo com a amostra estudada, a história social é um ramo pouco<br />

pesquisado <strong>no</strong> contexto dos a<strong>no</strong>s que vão de 1945 a 1966 (28 em 303 obras).<br />

A par disso, o quadro XI mostra que seu estudo não sofreu alterações, constando<br />

da amostra oito livros publicados <strong>no</strong> período de 1945 a 1955, e dez <strong>no</strong>s<br />

a<strong>no</strong>s de 1956 a 1966. Entretanto, apesar da quantidade reduzida de publicações,<br />

sua posição <strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong> foi possivelmente relevante,<br />

na medida em que, ao lado da história econômica, ofereceu um <strong>no</strong>vo horizonte<br />

temático e metodológico aos historiadores, re<strong>no</strong>vando a tradição de<br />

estudos da história do <strong>Brasil</strong>, voltada para os fatos políticos.<br />

5.4 História <strong>das</strong> Idéias<br />

História <strong>das</strong> idéias é a de<strong>no</strong>minação sugerida para os trabalhos que têm<br />

o objetivo de registrar, analisar e historiar resultados da atividade intelectual,<br />

realizada de forma sistemática por cama<strong>das</strong> ou grupos sociais que se habilitam<br />

especificamente para seu exercício; são utilizados também os termos história<br />

85<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

do pensamento e história intelectual. 30 Os textos tratam, em geral, da análise<br />

da constituição <strong>das</strong> idéias, do surgimento e recepção <strong>das</strong> mesmas em determinado<br />

contexto histórico e da relação entre intelectuais, suas idéias e sua<br />

trajetória política e social.<br />

No quadro adiante está a configuração temática da história <strong>das</strong> idéias <strong>no</strong><br />

período estudado:<br />

Quadro XII<br />

Número de obras por tema em história <strong>das</strong> idéias :<br />

1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras<br />

86<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Estudos de caráter geral 4 1 3<br />

Positivismo 3 - 3<br />

Idéias “progressistas” 2 1 1<br />

Idéias socialistas 1 - 1<br />

Idéias políticas 1 1 -<br />

Total 11 3 8<br />

A história <strong>das</strong> idéias é uma área de interesse restrito. Poder-se-ia atribuir<br />

essa característica da historiografia aos percalços da formação de uma camada<br />

intelectual <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e, conseqüentemente, ao seu papel pouco destacado <strong>no</strong><br />

passado. Somente <strong>no</strong> século XIX, a formação daquela camada se emancipa de<br />

Portugal e, paulatinamente, se desvincula <strong>das</strong> influências <strong>das</strong> ordens religiosas.<br />

Com a criação <strong>das</strong> Escolas médico-cirúrgicas (1808), da Academia Real Militar<br />

(1910) e <strong>das</strong> Faculdades de Direito (1827) iniciou-se <strong>no</strong> século XIX a formação<br />

voltada para a preparação profissional de militares, médicos, advogados<br />

e engenheiros. Fernando de Azevedo comenta 31 que apesar da criação de es-<br />

30. BRINTON, Crane. Intellectual History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.<br />

New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 462-467.<br />

31. Cf. AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1958. t. II,<br />

cap. 2, p. 49-52.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

tabelecimentos de ensi<strong>no</strong> superior, a posse de conhecimentos permaneceu<br />

durante longo tempo sendo um distintivo de classe e se apresentava “intelectualista<br />

e literária” como havia sido tradicionalmente na Colônia. Poder-se-ia<br />

supor também que, <strong>no</strong> contexto histórico aqui abordado, entre os temas que<br />

teriam re<strong>no</strong>vado os tradicionais estudos dos fatos políticos, a formação da<br />

eco<strong>no</strong>mia e a formação da sociedade <strong>no</strong> passado foram considera<strong>das</strong> pelos<br />

historiadores mais relevantes para a compreensão <strong>das</strong> transformações que<br />

ocorriam <strong>no</strong> país, do que o conhecimento da formação da camada intelectual<br />

e de suas idéias.<br />

Os estudos de caráter geral tratam da história <strong>das</strong> idéias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Um<br />

deles destaca a representação da sociedade brasileira <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> do pensamento<br />

brasileiro, outro aponta com especificidade as relações entre a constituição<br />

<strong>das</strong> idéias e características do contexto social e histórico de finais do século<br />

XIX e início do século XX. Entre os trabalhos específicos, três focalizam o<br />

positivismo durante o período republica<strong>no</strong>, dois referem-se às idéias progressistas,<br />

um trata <strong>das</strong> idéias socialistas e outro <strong>das</strong> idéias políticas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

O quadro mostra que os textos abordaram em sua maioria as vertentes<br />

do pensamento do final do século XIX e início do século XX.<br />

Através dos títulos, pode-se observar também haver mais interesse<br />

pelas vertentes do pensamento, assim como pelas relações entre as<br />

idéias e o contexto social e histórico, do que pela obra de um autor,<br />

representativo de uma corrente de pensamento e sua trajetória em um<br />

contexto histórico determinado; apenas dois livros <strong>no</strong> conjunto têm<br />

esse tipo de abordagem.<br />

Embora não haja dúvida quanto ao interesse limitado pelo estudo<br />

da história <strong>das</strong> idéias, considerando a amostra pesquisada, não deixa de<br />

ser sugestivo o crescimento do número de livros nessa área, a partir de<br />

meados da década de 1950.<br />

5.5 Conclusão<br />

A julgar pela amostra analisada, a produção <strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong><br />

concentra-se <strong>no</strong> conhecimento dos fatos políticos do passado. Tal conhecimento<br />

focaliza a conquista territorial, o traçado de fronteiras internas e externas<br />

e o povoamento, relacionando esses fatos à formação e à atuação do<br />

poder político <strong>no</strong> país; o conjunto dos trabalhos sugere que os historiadores<br />

tiveram interesse em ressaltar – por meio dos relatos históricos – ações cuja<br />

87<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

conseqüência foi a manutenção da unidade política e geográfica do país. Além<br />

disso, observou-se que a historiografia apresenta estudos <strong>no</strong>s ramos da história<br />

econômica e da história social, que teriam marcado o início de uma diferenciação<br />

temática e disciplinar daquele campo do conhecimento, <strong>no</strong> período<br />

de 1945 a 1966.<br />

A análise da configuração temática da história do <strong>Brasil</strong> demonstra que <strong>no</strong><br />

seu conjunto a disciplina manteve-se fiel à concepção tradicional de história<br />

referida anteriormente, voltando o foco de sua atenção para a continuidade e<br />

repetição de atividades políticas que deram origem à nação brasileira e lograram<br />

manter sua unidade. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que entre os historiadores,<br />

<strong>no</strong> período examinado, poucos se interessaram efetivamente pelas<br />

mudanças ocorri<strong>das</strong> <strong>no</strong> passado, figurando esse problema característico da<br />

concepção moderna de história, como foi possível observar, apenas em obras<br />

da história econômica e da história social.<br />

Certamente, o que mais chama a atenção é a continuidade e a permanência<br />

da história do <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> horizonte temático. Enquanto ocorriam mudanças<br />

socioeconômicas profun<strong>das</strong> na sociedade brasileira, além de modificações <strong>no</strong>s<br />

seus setores político e institucional, os historiadores lograram manter um espaço<br />

temático que, como já foi assinalado, voltava-se sobretudo para o estudo<br />

dos fatos políticos que teriam dado origem e mantido a unidade da nação.<br />

Dedicando-se a essa questão, teriam reatualizado uma tradição de estudos que<br />

se iniciara <strong>no</strong> Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro e seus congêneres<br />

em 1838.<br />

6. Os temas da eco<strong>no</strong>mia política<br />

As definições de eco<strong>no</strong>mia política expõem, como se verifica também em<br />

outras disciplinas, um rol de motivos explicativos da dificuldade de definir.<br />

A identidade da eco<strong>no</strong>mia política está marcada tanto por sua aspiração a<br />

ser disciplina científica, cujo objeto é um complexo de relações sociais próprio<br />

da esfera da produção de bens materiais, quanto pelo fato de constituir-se<br />

fundamento para a explicação da sociedade e da história do homem, numa<br />

<strong>das</strong> vertentes do pensamento moder<strong>no</strong>.<br />

Os limites desse campo de conhecimento adquirem maior amplitude se considerarmos<br />

o pensamento de Karl Marx, para quem o conhecimento da eco<strong>no</strong>mia<br />

política explica a “anatomia” da sociedade civil (bürgeliche Gesellschaft):<br />

88<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Minhas pesquisas chegaram ao resultado de que as relações jurídicas<br />

– assim como as formas de Estado – não podem ser compreendi<strong>das</strong><br />

nem por elas mesmas, nem pela pretendida evolução<br />

geral do espírito huma<strong>no</strong>, mas que ao contrário, têm suas raízes<br />

nas condições de existência material, as quais Hegel, a exemplo dos<br />

ingleses e dos franceses do século XVIII, compreende sob o <strong>no</strong>me<br />

de “sociedade civil” e que a anatomia da sociedade civil deve ser<br />

procurada por sua vez na eco<strong>no</strong>mia política. 32<br />

O uso dos termos eco<strong>no</strong>mia política e eco<strong>no</strong>mia varia de acordo com a<br />

trajetória disciplinar em distintos contextos históricos, institucionais e teóricos.<br />

No final do século XIX, questio<strong>no</strong>u-se a estreiteza do termo eco<strong>no</strong>mia<br />

política para uma disciplina que tratava <strong>das</strong> relações e da mudança da sociedade.<br />

O termo “eco<strong>no</strong>mia” foi consagrado por Alfred Marshall, em 1890, com<br />

a publicação de Principles of Eco<strong>no</strong>mics. Argumentou-se que a disciplina havia<br />

deixado de debater-se com problemas da política econômica e estabelecido<br />

um corpo de princípios e métodos, os quais levaram à nítida separação entre<br />

teoria e prática. 33 Edwin Seligman diz que a eco<strong>no</strong>mia “vem sendo e talvez<br />

continue a ser o campo de batalha de racionalizações de interesses de grupos<br />

e classes (...) Sofreu mais do que qualquer disciplina da enfermidade <strong>das</strong><br />

polêmicas sobre definição e método”. 34 Segundo o autor, mais apropriado é<br />

definir-se eco<strong>no</strong>mia – ele utiliza somente esse termo – como uma “disciplina<br />

científica que trata dos fenôme<strong>no</strong>s sociais relativos ao atendimento de necessidades<br />

materiais para o indivíduo e grupos organizados”.<br />

As obras sobre a eco<strong>no</strong>mia do país, constantes da amostra, como se verá a<br />

seguir, estão particularmente volta<strong>das</strong> para as relações entre eco<strong>no</strong>mia e política<br />

econômica, motivo pelo qual <strong>no</strong>s pareceu mais adequado utilizar o termo<br />

eco<strong>no</strong>mia política para designar o campo disciplinar que integram.<br />

Quando se observam os estudos realizados naquele período, <strong>no</strong>ta-se que<br />

polêmicas sobre objeto e método suscita<strong>das</strong> pelas diferentes correntes do<br />

pensamento econômico – que aliás distinguem, especialmente, os eco<strong>no</strong>mistas<br />

lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s naquele momento – não modificam o grau de interesse<br />

<strong>no</strong> conhecimento e <strong>no</strong> debate do desenvolvimento da eco<strong>no</strong>mia nacional. Para essa<br />

32. O texto de Marx é de 1859. Cf. MARX, Karl. Contribution à la critique de l’éco<strong>no</strong>mie politique. Paris:<br />

Éditions Sociales, 1957. p. 4.<br />

33. Cf. SELIGMAN, Edwin R. A. Eco<strong>no</strong>mics. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New<br />

York: Macmillan, 1948. v. V e VI, p. 345.<br />

34. Ibidem, p. 344-345.<br />

89<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

questão convergem os temas escolhidos pelos especialistas, por maiores que<br />

tenham sido suas discordâncias metodológicas. 35<br />

A eco<strong>no</strong>mia política apresenta nesse período 158 obras que se dividem nas<br />

seguintes áreas de interesse:<br />

Quadro XIII<br />

Número de obras por tema em eco<strong>no</strong>mia política<br />

1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

90<br />

1956<br />

1966<br />

Obras sobre a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos 27 7 20<br />

Manuais e introduções 18 10 8<br />

Avaliação da produção do conhecimento<br />

da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

1 - 1<br />

Subtotal<br />

Obras sobre temas específicos<br />

46 17 29<br />

Desenvolvimento e Política Econômica 59 12 47<br />

Condições históricas da eco<strong>no</strong>mia 14 6 8<br />

Finanças 9 3 6<br />

Comércio exterior 9 1 8<br />

Indústria 8 4 4<br />

Agricultura 6 1 5<br />

Investimentos estrangeiros 6 1 5<br />

Repartição da renda 1 1 -<br />

Subtotal 112 29 83<br />

Total 158 46 112<br />

35. Cf. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento econômico.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1966. p. 11-33; LIMA, Heitor Ferreira. História do pensamento econômico.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976. p. 170-187.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Os problemas concretos relativos à eco<strong>no</strong>mia nacional atraíram muito<br />

mais a atenção dos estudiosos do que os problemas sobre a disciplina, e atingiram<br />

70,88% do total. No entanto, as obras sobre a disciplina não tiveram<br />

quantidade desprezível. Seu número cresceu na maioria dos temas abordados<br />

pelos eco<strong>no</strong>mistas de um período para outro daqueles analisados <strong>no</strong> quadro<br />

XIII. Porém, o índice de aumento dos livros em cada um deles é variável e<br />

evidencia o interesse marcante dos especialistas por certos assuntos.<br />

6.1 Obras sobre a disciplina<br />

Ao refletirem sobre seu campo de trabalho, os eco<strong>no</strong>mistas privilegiaram<br />

a exposição e a discussão de problemas teóricos e metodológicos, o que leva<br />

a supor que <strong>no</strong> período estudado houve grande interesse em esclarecer e delimitar<br />

diferentes pontos de vista relativos aos problemas econômicos. Os<br />

autores dedicaram-se também à elaboração de manuais e introduções, 36 cujo<br />

número poderia ser explicado pela criação <strong>das</strong> Faculdades de <strong>Ciências</strong> Econômicas,<br />

em 1945.<br />

Ao lado disso, <strong>no</strong>te-se <strong>no</strong> quadro XIII que um livro avalia a produção<br />

científica da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Essa linha de trabalho – indispensável para a<br />

continuidade <strong>das</strong> investigações e instauração de <strong>no</strong>vas questões – está presente<br />

<strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong> e, como veremos adiante, de modo acentuado<br />

na sociologia.<br />

Tudo indica que o interesse pela disciplina não motivou os eco<strong>no</strong>mistas<br />

ao balanço de suas próprias atividades enquanto produtores de conhecimento<br />

sobre a eco<strong>no</strong>mia brasileira (uma em 158 obras); ao contrário, eles<br />

concentraram-se em problemas de ordem teórica. Analisando as “obras sobre<br />

a disciplina”, destaca-se a quantidade de trabalhos sobre problemas teóricometodológicos,<br />

ainda que a quantidade de manuais e introduções revele um<br />

interesse bastante desenvolvido pela matéria e por sua divulgação.<br />

Nos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955 e 1956 a 1966, o crescimento do número de<br />

textos sobre “problemas teórico-metodológicos” é de sete para 20, de um<br />

período para outro. Me<strong>no</strong>s prestigiados, os “manuais e introduções” mantêm<br />

número semelhante de estudos. O quadro XIII mostra ainda que somente<br />

<strong>no</strong> período 1956–1966 se publica obra de avaliação da produção do conhe-<br />

36. Indicamos aqui em conjunto os manuais e as introduções, considerando que essas obras, em<br />

definição corrente, tratam <strong>das</strong> <strong>no</strong>ções essenciais de uma disciplina (os manuais) e também da<br />

preparação para o estudo de um ramo do saber, ocupando-se seus autores, portanto, tanto num<br />

quanto <strong>no</strong>utro caso, especialmente da divulgação do corpo teórico-conceitual de uma disciplina.<br />

91<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

cimento da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A julgar pelos dados, os eco<strong>no</strong>mistas não<br />

se interessaram pela reflexão sobre seu campo intelectual, senão depois de<br />

meados dos a<strong>no</strong>s 1950.<br />

Sem dúvida, o que deve ser observado é o rumo tomado pelos estudos<br />

sobre “problemas teórico-metodológicos”.<br />

Quadro XIV<br />

Obras por tema na categoria “problemas<br />

teórico-metodológicos”: 1945-55 e 1956-66<br />

(eco<strong>no</strong>mia política / obras sobre a disciplina)<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

92<br />

1956<br />

1966<br />

Capital e trabalho 7 4 3<br />

Repartição da renda 6 - 6<br />

Desenvolvimento econômico 4 - 4<br />

Cooperativismo 4 1 3<br />

Relações econômicas internacionais 4 1 3<br />

Eco<strong>no</strong>mia agrária 2 1 1<br />

Total 27 7 20<br />

Nota-se que os estudos se dividem de maneira relativamente equilibrada<br />

pelos diversos tópicos, com uma única exceção: a “eco<strong>no</strong>mia agrária”, que<br />

parece ter suscitado me<strong>no</strong>r interesse. A relação entre capital e trabalho e, logo<br />

a seguir, a repartição da renda foram os assuntos que mereceram mais atenção<br />

dos eco<strong>no</strong>mistas. Os temas “desenvolvimento econômico”, “cooperativismo”<br />

e “relações econômicas internacionais” apresentam o mesmo número<br />

de obras.<br />

É interessante ver que o tópico “capital e trabalho” foi aparentemente o<br />

mais pesquisado. Se for levado em conta que essas obras foram publica<strong>das</strong><br />

quando se buscava consolidar a eco<strong>no</strong>mia industrial-capitalista <strong>no</strong> país, percebe-se<br />

que justamente um problema central da eco<strong>no</strong>mia naquele momento<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

figurou entre as preocupações teóricas dos especialistas. Porém, de acordo<br />

com os dados da amostra, os temas “repartição da renda” e “desenvolvimento<br />

econômico” passam a ser privilegiados em livros publicados <strong>no</strong> período<br />

1956–1966, indicativo de que os problemas teóricos vinculados àqueles assuntos<br />

passaram a merecer atenção à medida que se acelerou o processo de<br />

industrialização <strong>no</strong> país.<br />

6.2 Obras sobre temas específicos<br />

O conjunto “obras sobre temas específicos” engloba a maioria dos títulos<br />

da amostra (ver quadro XIII) que se acumulam predominantemente em<br />

“desenvolvimento e política econômica”, perfazendo 52,67% dos livros. A<br />

categoria enfoca quatro assuntos, expostos <strong>no</strong> quadro abaixo:<br />

Quadro XV<br />

Obras por tema na categoria “desenvolvimento e política econômica”:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(eco<strong>no</strong>mia política / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras<br />

93<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Política e expansão econômica 32 4 28<br />

Planejamento econômico 11 4 7<br />

Conjunturas econômicas 10 3 7<br />

Estado e ordem econômica 6 1 5<br />

Total 59 12 47<br />

O interesse pelos temas abordados é desigual, havendo maior número de<br />

trabalhos de caráter geral sobre o desenvolvimento e a política econômica<br />

registrados <strong>no</strong> grupo “política e expansão econômica”. Tratam de questões<br />

sobre o desenvolvimento econômico do país e a política econômica, por meio<br />

de análises de tendências históricas da eco<strong>no</strong>mia, da revisão de políticas go-<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

vernamentais ou de sugestões para a formulação de ações adequa<strong>das</strong> para o<br />

desenvolvimento. A predominância dessas obras sobre as demais é <strong>no</strong>tória,<br />

pois elas somam mais da metade. Essa observação reforça o que já se mencio<strong>no</strong>u<br />

anteriormente a respeito da provável influência dos problemas econômicos<br />

do país sobre os estudos do período examinado; <strong>no</strong>vamente aqui as<br />

publicações parecem tomar igual direção.<br />

Nos textos sobre planejamento econômico destacam-se trabalhos sobre o<br />

planejamento de países subdesenvolvidos, além de obras sobre programas regionais<br />

(principalmente para o Nordeste), municipais, industriais e agropecuários. Os<br />

livros sobre conjunturas econômicas analisam pla<strong>no</strong>s econômicos de gover<strong>no</strong>s<br />

específicos. Já o papel do Estado <strong>no</strong> processo de desenvolvimento do país é discutido<br />

<strong>no</strong>s estudos que figuram <strong>no</strong> conjunto “Estado e ordem econômica”.<br />

Esses trabalhos expressam interess e na conjugação do conhecimento<br />

científico com a prática política, considerando a eco<strong>no</strong>mia política como um<br />

instrumento para a realização do desenvolvimento do país. Embora os projetos<br />

dos cientistas não sejam idênticos, pois divergem quanto às teorias que<br />

informam suas análises e sua concepção de desenvolvimento, 37 estão próximos<br />

quanto à necessidade de uma política econômica que seja adequada às<br />

condições do país.<br />

No sentido restrito da necessidade de intervenção de base científica, portanto<br />

racional, corrigindo a “espontaneidade” da vida econômica, a postura<br />

dos especialistas é característica da sociedade moderna, a qual exige aquele<br />

tipo de ação para controle e domínio do rumo dos fatos. A tendência da eco<strong>no</strong>mia<br />

política é sobretudo examinar os passos da ação do Estado com base<br />

em estudos científicos.<br />

Nos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955, a quantidade de obras em “política e expansão<br />

econômica”, “planejamento econômico” e “conjunturas econômicas”<br />

se apresenta mais ou me<strong>no</strong>s nivelada; <strong>no</strong> período subseqüente,<br />

porém, verifica-se e<strong>no</strong>rme discrepância entre elas, devido ao aumento<br />

do número de livros sobre “política e expansão econômica” de quatro<br />

para 28 obras. O interesse dos eco<strong>no</strong>mistas se voltou primordialmente<br />

para a análise da política responsável pelo crescimento e expansão da<br />

eco<strong>no</strong>mia do país. A produção da eco<strong>no</strong>mia política, naquele contexto<br />

37. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Op. cit.; SUNKEL, Oswaldo; PAZ, Pedro. Os conceitos<br />

de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum, 1974. p. 33-46.<br />

94<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

histórico, se deixou marcar não só pelas influências do <strong>no</strong>tável crescimento<br />

econômico, como pelo propósito de influir na condução política<br />

daquele processo.<br />

Quanto ao segundo tema exposto <strong>no</strong> quadro XIII, “condições históricas da<br />

eco<strong>no</strong>mia” (14 obras), tudo indica que seus pesquisadores acreditam que o planejamento<br />

da eco<strong>no</strong>mia depende da observação <strong>das</strong> características que o país<br />

apresentou <strong>no</strong> passado. A <strong>no</strong>ção de um desenvolvimento planejado se une à visão<br />

histórica dos eco<strong>no</strong>mistas: voltam-se para o futuro, mas apoiados <strong>no</strong> passado.<br />

Embora tratem de assunto semelhante, os trabalhos sobre as “condições<br />

históricas da eco<strong>no</strong>mia” se diferenciam daqueles da história econômica. Ao<br />

contrário dessa, nenhum livro trata com exclusividade de um fato ou evento<br />

econômico do passado, nem da reconstrução de um setor específico da produção,<br />

ciclo econômico ou política especial de um período histórico. Os estudos<br />

buscam esboçar, à luz <strong>das</strong> categorias da eco<strong>no</strong>mia política, as tendências<br />

da “formação”, “evolução” ou “emancipação” da eco<strong>no</strong>mia nacional.<br />

Outro item, as finanças, ocupa parte destacada <strong>no</strong> rol dos interesses dos<br />

eco<strong>no</strong>mistas e é objeto de controvérsias. Os estudos focalizam principalmente<br />

o problema da inflação: causas, política de combate, sua relação com o<br />

desenvolvimento. Algumas obras se ocupam de análises ou da história do<br />

sistema bancário e de caixas econômicas.<br />

Os trabalhos sobre comércio exterior, indústria e agricultura dividem-se<br />

claramente em duas linhas: ou são históricos, ou analisam a política econômica<br />

da época relativa àqueles setores, com vista ao problema do desenvolvimento.<br />

O processo de industrialização, a reforma agrária (é importante lembrar que<br />

<strong>no</strong> período de 1945 a 1964 essa questão foi posta na ordem do dia dos debates<br />

políticos) e problemas relativos à produção e exportação do café constituem o<br />

foco de interesse desses estudos.<br />

Uma outra dimensão do conhecimento da eco<strong>no</strong>mia encontra-se <strong>no</strong>s estudos<br />

sobre investimentos estrangeiros, mostrando o tipo de relação econômica<br />

e política que foi estabelecida com países desenvolvidos, resultante da<br />

escassez de capitais <strong>no</strong> país. Parte dos estudos indica a necessidade de tais<br />

investimentos, sem os quais o desenvolvimento econômico não seria viável,<br />

mas acentuam paralelamente a necessidade de uma política econômica que os<br />

controle e administre. Questões sobre a dívida externa são também aborda<strong>das</strong>.<br />

De outra perspectiva, na qual o eixo da discussão concentra-se <strong>no</strong>s interesses<br />

dos países desenvolvidos, apontam-se os problemas <strong>das</strong> nações “subdesen-<br />

95<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

volvi<strong>das</strong>” diante do quadro da estrutura mundial de dominação imperialista.<br />

Do conjunto “obras sobre temas específicos” (112 obras) faz parte um<br />

livro sobre a repartição da renda, a mostrar que não houve interesse marcante<br />

em tratar desse assunto <strong>no</strong> que respeita à eco<strong>no</strong>mia do país, embora ele figure<br />

entre os “problemas teórico-metodológicos” com seis obras.<br />

Nenhum desses estudos teve crescimento comparável ao conjunto “desenvolvimento<br />

e política econômica”, tampouco à categoria “problemas teórico-metodológicos”,<br />

ainda que as obras sobre “comércio exterior”, “agricultura”,<br />

“investimentos estrangeiros” e “finanças” tenham elevado seu número<br />

da primeira para a segunda fase.<br />

6.3 Conclusão<br />

Quanto aos temas da eco<strong>no</strong>mia brasileira inscritos <strong>no</strong>s estudos do campo<br />

da eco<strong>no</strong>mia política, poder-se-ia dizer que a falta de capitais para empreender<br />

as tarefas do desenvolvimento é o ponto de partida de numerosas obras. A<br />

busca de solução para esse problema não só aparece <strong>no</strong>s estudos sobre a política<br />

econômica e <strong>no</strong> registro <strong>das</strong> tendências históricas da eco<strong>no</strong>mia, mas se<br />

traduz especificamente nas análises sobre investimentos estrangeiros, finanças<br />

públicas, crédito e comércio exterior.<br />

De tal modo o interesse pela questão da falta de capitais segue uma linha<br />

definida de trabalho, que temas como “repartição da renda” ficam em segundo<br />

pla<strong>no</strong>. A ênfase dada pelo pensamento econômico à diferença entre nações<br />

ricas e pobres, atrasa<strong>das</strong> ou desenvolvi<strong>das</strong>, industrializa<strong>das</strong> ou não, contrasta<br />

com o tratamento omisso dado às diferenças de condições de existência da<br />

população do país, provoca<strong>das</strong> pela repartição desigual da renda. Os estudos<br />

revelam o constrangimento <strong>no</strong> que se refere ao estudo da repartição de renda,<br />

constrangimento de tal ordem que relembra o comentário de Fábio Lucas na<br />

introdução de um de seus livros sobre a igualdade e desigualdade da renda; o<br />

assunto não deve ser considerado “tema proibido” ou “tabu”... 38<br />

É possível que teses sobre o desenvolvimento assinalem o problema, postergando<br />

sua solução para o momento posterior ao aumento da renda nacional.<br />

39 O fato é que nesse sentido, o pensamento econômico <strong>no</strong> contexto<br />

38. LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade <strong>das</strong> ren<strong>das</strong>. Belo Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas/UFMG,<br />

1963. p. 12.<br />

39. SINGER, Paul. Curso de introdução à eco<strong>no</strong>mia política. Rio de Janeiro: Forense Universitária,<br />

1975.p. 47-48.<br />

96<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

brasileiro reedita características do pensamento econômico geral, que dedica<br />

capítulos estanques e restritos aos problemas concretos da repartição de renda,<br />

discutindo-os preferencialmente <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> teórico.<br />

Há nas obras sobre eco<strong>no</strong>mia política o que se chamaria de coerência<br />

disciplinar: os temas escolhidos ou o tratamento que lhes é dado convergem<br />

para uma questão – a do desenvolvimento da eco<strong>no</strong>mia nacional. Os eco<strong>no</strong>mistas<br />

buscam solucioná-la por meio da revisão do passado ou da formulação<br />

e controle <strong>das</strong> ações políticas do presente, sobretudo para que visassem à<br />

obtenção de capitais e sua aplicação adequada, a fim de que o atraso do país<br />

fosse superado. É possível que distinguindo-se <strong>das</strong> demais áreas <strong>das</strong> ciências<br />

sociais naquele período, a eco<strong>no</strong>mia política tenha se ocupado da produção de<br />

conhecimento com a finalidade clara de intervir <strong>no</strong> processo político-econômico<br />

que levaria ao desenvolvimento do capitalismo industrial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

7. Os temas da antropologia<br />

Ao distinguir a antropologia de outros ramos do conhecimento, François<br />

Laplantine se refere à disciplina como “um enfoque que consiste <strong>no</strong> estudo<br />

do homem inteiro; <strong>no</strong> estudo do homem em to<strong>das</strong> as sociedades, sob to<strong>das</strong><br />

as latitudes, em todos os seus estados e em to<strong>das</strong> as épocas”. Abarcando tudo<br />

que constitui uma sociedade, desde seus modos de produção econômica e<br />

suas técnicas até suas crenças religiosas e criações artísticas, a antropologia,<br />

segundo o autor, estuda “as culturas da humanidade como um todo em suas<br />

diversidades históricas e geográficas”. 40<br />

O surgimento da antropologia está vinculado à busca de espaços e ao<br />

confronto entre europeus e outros povos <strong>no</strong> que se refere a modos de viver,<br />

produzir e reproduzir, que durante o Renascimento podem ser vistos como<br />

ponto de partida, dentro da tradição européia, para o desenvolvimento dos estudos<br />

antropológicos. Os documentos e os relatos da experiência desse confronto<br />

registram uma visão et<strong>no</strong>cêntrica peculiar aos europeus que durante<br />

longo tempo caracterizou o conhecimento antropológico.<br />

Quando <strong>no</strong> século XIX se constituiu de fato como disciplina autô<strong>no</strong>ma,<br />

a antropologia concentrou o foco de suas análises e reflexões <strong>no</strong>s “povos<br />

primitivos”, preocupando-se em diferenciar os estágios superiores e inferiores<br />

40. Cf. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1988. p. 16, 19 e 20.<br />

97<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

da história da humanidade, e mantendo a visão et<strong>no</strong>cêntrica que já se inscrevera<br />

nas primeiras descrições dos povos “não familiares” aos europeus. Com<br />

raras exceções somente neste século, especialmente por volta dos a<strong>no</strong>s 1950,<br />

desponta <strong>no</strong> campo da antropologia uma crítica sistemática ao et<strong>no</strong>centrismo<br />

característico da disciplina, passando os antropólogos então a refletir sobre o<br />

significado da diversidade cultural.<br />

Até hoje perduram as discussões relativas à “herança et<strong>no</strong>cêntrica” da<br />

antropologia, 41 e também dificuldades quanto ao uso dos termos et<strong>no</strong>grafia, et<strong>no</strong>logia<br />

e antropologia. De modo geral, aceita-se que o termo et<strong>no</strong>grafia designe<br />

a coleta direta e minuciosa dos fenôme<strong>no</strong>s observados pelo pesquisador, procedimento<br />

que passa a ser adotado, segundo François Laplantine, <strong>no</strong> início do século<br />

XX, quando especialistas conferem importância à observação direta efetuada por<br />

eles próprios. Já a utilização dos termos et<strong>no</strong>logia e antropologia corresponde a<br />

diferentes tradições dessa área de estudo, sendo et<strong>no</strong>logia mais usada pelos franceses<br />

para o exame <strong>das</strong> diversas culturas humanas e antropologia pelos especialistas<br />

de países anglo-saxônicos, significando o estudo de gênero huma<strong>no</strong>. 42<br />

No <strong>Brasil</strong>, os estudos antropológicos se iniciam em meados do século XIX<br />

com as pesquisas que focalizam sobretudo os hábitos e costumes indígenas. No<br />

final daquele século <strong>no</strong>vos temas foram abordados, entre eles as tradições populares<br />

e a cultura africana, a exemplo dos estudos europeus, onde era <strong>no</strong>tável o preconceito<br />

racial e cultural dos estudiosos. Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta<br />

que naquela época tal preconceito “se voltava principalmente contra o africa<strong>no</strong><br />

cuja presença <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> da sociedade brasileira era muito mais forte do que a<br />

do indígena”. 43 Contudo, uma <strong>das</strong> características desses estudos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> parece<br />

ter sido também a preocupação com a existência ou não de uma “cultura brasileira”,<br />

unidade cultural que teria se forjado ao longo da história do país, através da<br />

contribuição dos diferentes grupos étnicos integrantes da sociedade.<br />

Tudo indica que os estudos antropológicos relativos ao período que vai de<br />

1945 a 1966, examinados nesse trabalho, em sua maioria reatualizaram os tradicionais<br />

temas e problemas desse ramo do saber <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O quadro abaixo<br />

revela os temas escolhidos pelos especialistas e o número de obras publica<strong>das</strong><br />

sobre cada um deles:<br />

41. A respeito da história da antropologia e da visâo et<strong>no</strong>cêntrica da disciplina, consultar LA-<br />

PLANTINE, François. Op. cit., p. 37-62; VELHO, Gilberto; CASTRO, E. B. Viveiros de.<br />

O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas: uma perspectiva antropológica.<br />

Artefato, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1. jan. 1978.<br />

42. Cf. LAPLANTINE, François. Op. cit., p. 25.<br />

43. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 380.<br />

98<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Quadro XVI<br />

Obras por tema em antropologia: 1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras<br />

Obras sobre a disciplina<br />

99<br />

1945<br />

1955<br />

Problemas teórico-metodológicos 6 2 4<br />

Manuais e introduções 4 1 3<br />

Avaliação da produção de 4 3 1<br />

conhecimento da disciplina<br />

Subtotal 14 6 8<br />

Obras sobre temas específicos<br />

1956<br />

1966<br />

Tradições populares 48 21 27<br />

Grupos étnicos específicos 47 27 20<br />

Formação étnico-cultural 14 7 7<br />

Religiões afro-brasileiras 11 5 6<br />

Cultura rural 7 4 3<br />

Subtotal 127 64 63<br />

Total 141 70 71<br />

7.1 Obras sobre a disciplina<br />

As “obras sobre a disciplina” apresentam uma linha diversificada de trabalhos<br />

que incluem manuais e introduções, ensaios sobre problemas de ordem<br />

teórico-metodológica e trabalhos de avaliação da produção de conhecimentos<br />

sobre antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O número de textos publicados nesse setor não<br />

é expressivo de grande interesse pelo auto-conhecimento do trabalho realizado,<br />

nem pelo papel da antropologia <strong>no</strong> contexto de mudanças peculiar àquele<br />

período histórico; somente 9% da produção se encontra nessa rubrica. Além<br />

de escassos, esses estudos sofrem poucas alterações ao longo <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> fo-<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

caliza<strong>das</strong>. Os livros sobre “problemas teórico-metodológicos” e os “manuais<br />

e introduções” mostram um aumento, enquanto as obras de “avaliação da<br />

produção de conhecimento da disciplina” sofrem uma redução.<br />

7.2 Obras sobre temas específicos<br />

No período analisado, a antropologia recebe e reelabora uma já longa tradição<br />

nacional de estudos sobre as tradições populares e indígenas que, como<br />

mencionamos, se inicia em meados do século XIX. 44 No conjunto <strong>das</strong> “obras<br />

sobre temas específicos”, a contribuição dos trabalhos sobre “tradições populares”<br />

congrega 34,04% dos títulos. Em seguida, as pesquisas sobre os indígenas<br />

chegam a 24,82%. Os temas “formação étnico-cultural” e “religiões<br />

afro-brasileiras” têm alguma expressão, porém bem me<strong>no</strong>r.<br />

Em 1952, Manuel Diégues Jr. já chamava a atenção para a necessidade de<br />

diversificação <strong>das</strong> áreas de estudo, referindo-se especialmente à predominância<br />

dos estudos sobre os indígenas:<br />

O estudo et<strong>no</strong>gráfico <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> andou sempre ligado ao<br />

indígena. Até quase <strong>no</strong>ssos dias, o que se entendia como matéria<br />

de et<strong>no</strong>grafia era o indígena. Isto sucedeu como decorrência <strong>das</strong><br />

próprias condições em que surgiu a et<strong>no</strong>grafia, dedicando-se ao<br />

estudo dos povos ou grupos chamados de primitivos ou naturais.<br />

(...) É certo que, já em 1913 Roquette Pinto mostrava, em<br />

memorável discurso <strong>no</strong> Instituto Histórico, que a “et<strong>no</strong>grafia<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, hoje, não se pode mais prender somente ao aborígene”.<br />

Certo: et<strong>no</strong>grafia não é só indígena; é também o estudo do<br />

negro, dos mestiços, dos grupos imigrados; et<strong>no</strong>grafia é, e deve<br />

ser o estudo <strong>das</strong> populações brasileiras através dos elementos<br />

culturais que as caracterizam. 45<br />

A configuração dos estudos da amostra parece indicar, em primeiro lugar,<br />

que a afirmação do autor já não corresponderia à produção antropológica do<br />

período de 1945 a 1966, se for julgado representativo o conjunto de livros do<br />

acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional.<br />

44. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: um roteiro. BIB – Boletim Informativo e<br />

Bibliográfico de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, Rio de Janeiro, n. 17, 1984.<br />

45. DIÉGUES JR., Manuel. Etnias e culturas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e<br />

Cultura, 1956. p. 9-10.<br />

100<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Na realidade, juntam-se <strong>no</strong>s estudos sobre temas específicos as duas primeiras<br />

questões da antropologia aborda<strong>das</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Efetivamente, a disciplina<br />

começa a esboçar seu campo de trabalho com as pesquisas sobre os indígenas<br />

publica<strong>das</strong> na Revista do Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro, e, em<br />

seguida, se amplia com os estudos sobre as tradições nacionais efetuados por<br />

Sílvio Romero. Esses dois temas mais antigos são justamente os que alcançam<br />

maior número de publicações na amostra analisada.<br />

A categoria “tradições populares” (englobando o folclore) apresenta o<br />

mais elevado número de estudos (48 obras). Utilizamos o termo “tradições<br />

populares” para designar o conjunto de pesquisas que registra e descreve modos<br />

de pensar, crenças, costumes e folguedos que, mantendo suas características<br />

principais e seus significados para uma comunidade específica, teriam<br />

permanecido ao longo do tempo. A diferença <strong>das</strong> “tradições populares” para<br />

outras expressões culturais existentes na mesma sociedade estaria marcada,<br />

não apenas pela sua continuidade <strong>no</strong> tempo, como também pela sua transmissão<br />

oral e pelo seu caráter não elitista, sendo geralmente atribuí<strong>das</strong> às cama<strong>das</strong><br />

inferiores da hierarquia social. A par disso, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> essas tradições costumam<br />

ser vistas como uma instância que caracterizaria aquilo que é “brasileiro”,<br />

servindo assim para delinear os traços da cultura brasileira e diferenciá-la de<br />

outras culturas. 46<br />

Cabe assinalar que os estudos sobre as tradições populares – assim como<br />

aqueles que se ocupam da formação étnico-cultural da sociedade brasileira –<br />

sugerem que os antropólogos se voltam para o passado à procura de traços<br />

culturais que teriam permanecido ao longo do tempo. Essa característica dos<br />

estudos antropológicos aparece também em outros conjuntos temáticos tratados<br />

nesse campo disciplinar <strong>no</strong> período abordado.<br />

Os estudos sobre as “tradições populares” foram reatualizados e estimulados<br />

<strong>no</strong> decorrer da década de 1950. Segundo Edison Carneiro, ao final<br />

da Segunda Guerra Mundial “os estudos de folclore haviam chegado a uma<br />

encruzilhada” 47 e o primeiro passo <strong>no</strong> sentido da sua retomada foi dado com a<br />

criação, em 1947, da Comissão de Folclore vinculada à Unesco, que organizou<br />

subcomissões em todos os estados brasileiros. Àquela Comissão sucedeu, por<br />

sugestão feita <strong>no</strong> I Congresso Nacional do Folclore, em 1951, a campanha<br />

46. Cf. CHAUÍ, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1984; MORAES, Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade <strong>no</strong> Modernismo<br />

brasileiro. Tese de doutoramento, UFRJ, Rio de Janeiro, 1983.<br />

47. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Revista <strong>Brasil</strong>eira de Folclore,<br />

Rio de Janeiro, 1962.<br />

101<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Defesa do Folclore, cujas atividades tiveram início em 1958. Um dos objetivos<br />

da Comissão e, posteriormente, da campanha foi registrar as tradições populares<br />

em todo o território nacional, o que poderia explicar não só a quantidade<br />

de estudos sobre o tema, como a predominância de obras sobre as tradições<br />

populares de localidades ou regiões.<br />

Na realidade, o interesse pela cultura popular era então crescente, sendo<br />

observado não só na criação de instituições volta<strong>das</strong> para a pesquisa do<br />

folclore, mas também em manifestações, movimentos e organizações de<br />

setores estudantis, artísticos e literários, principalmente <strong>no</strong> final da década<br />

de 1950 e início dos a<strong>no</strong>s 1960. Os Centros Populares de Cultura, criados<br />

em 1961, são um exemplo disso. Seja <strong>no</strong> sentido de conhecer as “origens”<br />

<strong>das</strong> tradições populares brasileiras e buscar preservá-las, ou <strong>no</strong> sentido de<br />

“conscientizar” ou “politizar” as cama<strong>das</strong> populares, discutindo-se então o<br />

papel dos intelectuais frente a elas, fato é que a cultura <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares<br />

foi se destacando cada vez mais <strong>no</strong> rol <strong>das</strong> discussões dos intelectuais<br />

ao longo daqueles a<strong>no</strong>s. Na realidade, as transformações socioeconômicas<br />

não só modificavam as condições de vida <strong>das</strong> populações de baixa renda<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, como permitiam que despontassem <strong>no</strong> horizonte intelectual problemas<br />

relativos à participação daquelas cama<strong>das</strong> <strong>no</strong> processo econômico,<br />

social e político.<br />

No período aqui analisado, esse conjunto de estudos costumava ser de<strong>no</strong>minado<br />

<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes “folclore” e, com me<strong>no</strong>s freqüência, “cultura popular”.<br />

Julgamos mais adequado o termo “tradições populares” porque abrange diversas<br />

manifestações registra<strong>das</strong> <strong>no</strong>s estudos da amostra dessa pesquisa, já que os estudiosos<br />

nem sempre concordaram com a qualidade <strong>das</strong> manifestações defini<strong>das</strong><br />

pelo termo folclore, que para alguns <strong>no</strong>meava tão somente as len<strong>das</strong>, os contos e<br />

os mitos. Além disso, a identidade do folclore – ora objeto de estudo, ora ramo da<br />

antropologia, ora da história social, ora campo específico de estudos – é ponto de<br />

controvérsias, o mesmo ocorrendo com o termo “cultura popular” que adquiriu<br />

mais recentemente um caráter político, vindo representar a expressão da contestação<br />

ou resistência de grupos socialmente desprivilegiados. 48<br />

O quadro XVII revela a diversidade e quantidade dos estudos referentes a<br />

"tradições populares" realizados <strong>no</strong> período.<br />

48. Sobre o conceito de cultura popular, ver ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada. In:___;<br />

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio. Esboço de<br />

um projeto de investigação da produção cultural <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982. Cader<strong>no</strong>s<br />

CERU.<br />

102<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Quadro XVII<br />

Obras por tema na categoria “tradições populares”:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(antropologia / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras<br />

103<br />

1945<br />

1955<br />

Estudos de caráter geral 8 4 4<br />

Mitos, contos e provérbios 9 5 4<br />

Usos e costumes 8 1 7<br />

Folguedos 8 4 4<br />

Tradições populares de regiões, 15 7 8<br />

estados e cidades<br />

1956<br />

1966<br />

Total 48 21 27<br />

Como se vê, os estudos de caráter geral, os trabalhos sobre mitos, contos<br />

e provérbios, os textos sobre usos e costumes e folguedos populares apresentam<br />

aproximadamente o mesmo número de publicações, destacando-se <strong>no</strong><br />

quadro as obras sobre as tradições populares de diferentes regiões, estados ou<br />

cidades brasileiras. A região Nordeste é a mais focalizada, sendo objeto de três<br />

estudos; entre os estados, os mais pesquisados são Alagoas e Santa Catarina,<br />

havendo obras também sobre São Paulo, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul.<br />

A cidade do Rio de Janeiro é foco de interesse de apenas um texto. Em que<br />

medida estados da Federação mais abordados apresentariam peculiaridades<br />

mais marcantes da chamada “cultura popular”? Ou que fatores levariam a tais<br />

trabalhos em determinados locais? Tais perguntas poderiam motivar pesquisas<br />

mais aprofunda<strong>das</strong> sobre o assunto.<br />

As linhas de estudo sobre as tradições populares se mantiveram ao longo do<br />

período analisado. De acordo com a amostra analisada, foi dada preferência às<br />

pesquisas sobre usos e costumes <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares, estudos que tratam <strong>das</strong><br />

atividades mais concretas da vida cotidiana daquelas populações. Os pesquisadores<br />

<strong>das</strong> “tradições populares” parecem pouco motivados pela atmosfera de debates<br />

voltados para os problemas da cultura popular; a abordagem que adotam<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

não se modifica em profundidade, assim como a temática de seus estudos, mas<br />

a quantidade maior de trabalhos indica um aumento de interesse da parte deles e<br />

dos leitores.<br />

O quadro XVI apresenta um grande conjunto de textos sobre “grupos<br />

étnicos específicos”, entre os quais destacam-se os indígenas, os negros e os<br />

imigrantes. O conhecimento elaborado sobre os grupos indígenas evidencia<br />

as seguintes linhas de trabalho:<br />

Quadro XVIII<br />

Obras por tema na categoria “grupos étnicos específicos – indígenas”:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(antropologia / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras 1945<br />

1955 1956<br />

1966<br />

Grupos indígenas <strong>no</strong> seu conjunto 5 5 -<br />

Grupos indígenas específicos 9 6 3<br />

Cultura indígena (religião, mitos, len<strong>das</strong>) 13 9 4<br />

Integração indígena 8 2 6<br />

Total 35 22 13<br />

A quantidade desses estudos <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> obras antropológicas permanece<br />

fiel ao início da antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, que realiza as primeiras pesquisas<br />

sobre os indígenas por volta de 1850.<br />

O interesse principal dos estudiosos na amostra se volta para a reconstrução<br />

de traços culturais exclusivos dos grupos indígenas. Tal interesse fica<br />

demonstrado na quantidade de obras volta<strong>das</strong> para o estudo da cultura, dos<br />

grupos <strong>no</strong> seu conjunto e de grupos indígenas específicos – que somam 27<br />

publicações, enquanto o conhecimento <strong>das</strong> relações entre brancos e índios é<br />

objeto de apenas oito livros.<br />

104<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Essa observação sugere que entre os a<strong>no</strong>s de 1945 e 1966 os especialistas<br />

teriam se ocupado, sobretudo, da construção de uma “memória” indígena. O<br />

interesse em rastrear o modo de vida de “antepassados” da sociedade brasileira<br />

mostra-se coerente com a tendência histórica dos estudos antropológicos<br />

naquele período – que vimos apresentando nessa exposição – e também com<br />

características apresenta<strong>das</strong> por eles desde o século XIX.<br />

O quadro XVIII mostra que o número de textos sobre a cultura indígena<br />

(treze obras) supera os demais. Entre as publicações, a maior parte se volta<br />

para o estudo de mitos, len<strong>das</strong> e religiões (cinco obras), e de línguas indígenas<br />

(quatro obras). A valorização de aspectos simbólicos da vida social dos<br />

indígenas aproxima essa linha de trabalho daquela que registra mitos, contos<br />

e provérbios (treze obras), do conjunto “tradições populares”, e também <strong>das</strong><br />

pesquisas sobre as religiões afro-brasileiras (onze obras), o que demonstra a<br />

atenção dos antropólogos ao pla<strong>no</strong> simbólico da vida social de grupos “diferentes”<br />

ou “não familiares” aos pesquisadores e seu grupo social.<br />

Freqüentes são os trabalhos sobre “grupos indígenas específicos” que buscam<br />

descrever aspectos diversos da vida social de uma tribo. Das <strong>no</strong>ve obras, três tratam<br />

especialmente da organização social daqueles grupos. Sobre “integração indígena”,<br />

oito livros mostram os processos peculiares à inserção dessas populações na estrutura<br />

socioeconômica e política do país, ou especificamente de uma de suas regiões, e as<br />

conseqüências desse “trajeto” para as tribos. A maior parte <strong>das</strong> pesquisas tem como<br />

foco de observação um grupo indígena específico. Ressalte-se o “lugar” <strong>das</strong> análises<br />

sobre “integração indígena” na configuração temática da antropologia, naquele<br />

período, observando que constitui a única categoria de estudos a tratar nitidamente<br />

<strong>das</strong> relações entre grupos étnicos distintos. Os trabalhos sobre grupos indígenas <strong>no</strong><br />

seu conjunto referem-se a essa população em geral, não tendo sido possível verificar<br />

outras características desses livros através de seus títulos.<br />

Sobre os negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>ve obras trazem pesquisas que abordam aspectos<br />

diferenciados da vida do grupo, mas não deixam entrever uma linha<br />

clara de investigação sobre esse assunto. Seria possível assinalar apenas que<br />

os estudiosos não destacaram nesses estudos a dinâmica dos contatos e da<br />

interação entre negros e brancos; do ponto de vista antropológico, as religiões<br />

afro-brasileiras mereceram maior destaque que outros problemas concernentes<br />

às populações negras <strong>no</strong> país.<br />

Os estudos sobre imigrantes (três obras) traduzem uma tentativa de diversificação<br />

<strong>das</strong> áreas de estudo do campo da antropologia. Dois estudos circunscrevem<br />

suas observações a um grupo específico de imigrantes, enquanto<br />

105<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

outro aborda, em seu conjunto, a contribuição cultural dos imigrantes para a<br />

urbanização e industrialização do país.<br />

Quanto ao crescimento desses estudos, destacam-se em quantidade os<br />

livros sobre “cultura indígena” na primeira fase, entre 1945 e 1955; <strong>no</strong> período<br />

de 1956 a 1966, <strong>no</strong> entanto, as publicações sobre o assunto caem de<br />

<strong>no</strong>ve para quatro. Há, também, evidente diminuição do número de textos<br />

sobre “grupos indígenas específicos” e nenhum trabalho apareceu sobre<br />

“grupos indígenas <strong>no</strong> seu conjunto”. O aumento <strong>das</strong> obras sobre “integração<br />

indígena” se destaca duplamente: primeiro, porque é o único tema<br />

que tem aumento; segundo, porque esses trabalhos ocupam uma posição<br />

diferente <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> investigações sobre esses grupos. Enquanto os<br />

demais parecem caracteristicamente descritivos, os últimos questionam e<br />

examinam as relações interétnicas e suas repercussões sobre as condições<br />

socioeconômicas e culturais daquelas populações.<br />

Os estudos sobre o grupo negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, assim como aqueles sobre os<br />

imigrantes, não só se apresentam em número limitado <strong>no</strong> rol <strong>das</strong> obras do<br />

campo da antropologia, como seu número não varia da primeira para a segunda<br />

fase. Constam da amostra quatro obras sobre “negros”, publica<strong>das</strong> <strong>no</strong>s<br />

a<strong>no</strong>s 1945–1955, e cinco <strong>no</strong> período subseqüente; sobre “imigrantes”, há um<br />

livro na primeira fase e dois na segunda.<br />

Na categoria “formação étnico-cultural” (ver quadro XVI), os antropólogos<br />

buscam recompor a diversidade dos traços de uma unidade<br />

cultural que singularizaria a sociedade brasileira. É importante chamar a<br />

atenção para o fato de que essas análises se constituem de dois modos:<br />

de um lado, abordam as características de etnias regionais; de outro, investigam<br />

o processo de formação cultural da sociedade como um todo,<br />

através da trajetória e da contribuição de negros, brancos e indígenas.<br />

Decerto, esse tipo de problema, que se liga a investigações ora sobre a<br />

identidade nacional, ora sobre a identidade regional, foi dos que mais<br />

cedo atraíram a atenção dos estudiosos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, figurando na tradição<br />

dos estudos desde o século XIX.<br />

Outro campo de estudo antropológico são as religiões afro-brasileiras.<br />

No contexto histórico examinado, essa linha de investigação questiona duplamente<br />

as sobrevivências de traços de origem e o processo de aculturação<br />

que teriam levado ao sincretismo religioso. Dos onze textos constantes da<br />

amostra, <strong>no</strong>ve têm como horizonte de observação os traços <strong>das</strong> religiões afrobrasileiras<br />

na região Nordeste; os demais não especificam em seus títulos o<br />

106<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

local onde a pesquisa foi realizada. No tocante às crenças, evidencia-se mais<br />

uma vez <strong>no</strong> período abordado um interesse que já marcara a antropologia<br />

desde os trabalhos de Nina Rodrigues.<br />

O conjunto de estudos sobre “cultura rural” retrata aspectos culturais<br />

peculiares ao sistema econômico que primeiro se consolidou <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e<br />

assentou as bases da colonização portuguesa <strong>no</strong> Nordeste. As pesquisas<br />

focalizam o povoamento da região, a origem e as características do engenho<br />

de açúcar, e outros aspectos da vida rural, configurada pela produção da<br />

cana-de-açúcar e pelo patriarcalismo. Note-se que mais uma vez se utiliza<br />

nesse conjunto a <strong>no</strong>ção de região como área específica onde se desenvolvem<br />

determinados padrões culturais.<br />

O quadro XVI indica que os estudos sobre “formação étnico-cultural”,<br />

“religiões afro-brasileiras” e “cultura rural”, comparativamente me<strong>no</strong>s pesquisados<br />

pelos antropólogos, não sofrem alterações, mantendo uma quantidade<br />

semelhante de livros de uma fase para a outra.<br />

Como se vê, houve poucas modificações <strong>no</strong> escopo temático da antropologia,<br />

o que indica apego por parte dos estudiosos dessa área às suas questões<br />

durante um período de 20 a<strong>no</strong>s. Não foram focalizados <strong>no</strong>vos assuntos, os<br />

livros se dividem entre os mesmos temas nas duas fases estuda<strong>das</strong>.<br />

No período abordado, a necessidade de uma avaliação da produção antropológica<br />

foi assinalada por Florestan Fernandes, em 1953, e por Luís<br />

Aguiar Costa Pinto, em 1963. Florestan Fernandes chamava a atenção para<br />

a importância dos estudos sobre a mudança cultural, nas áreas da cultura<br />

indígena, da cultura afro-brasileira, da cultura campesina e da cultura trazida<br />

pelos imigrantes. Segundo o autor, era preciso medir as reações <strong>das</strong> diversas<br />

culturas às influências <strong>das</strong> transformações socioeconômicas em curso: “há<br />

certa urgência de intensificar os trabalhos deste gênero, porque se sabe que<br />

as oportunidades perdi<strong>das</strong> <strong>no</strong> presente são irremediáveis. A transformação<br />

do cenário é rápida e muitas situações terão que ser descritas agora ou nunca<br />

o serão, o mesmo se podendo dizer sobre a análise dos problemas que elas<br />

colocam à investigação et<strong>no</strong>lógica.” 49<br />

Mas Florestan Fernandes mostrava também que a recepção de <strong>no</strong>vos enfoques<br />

dos estudos et<strong>no</strong>lógicos pelos círculos intelectuais era problemática.<br />

Atribuía à mentalidade “pré-científica” do público leigo dificuldades que desestimulavam<br />

as investigações modernas da antropologia: “embora as publicações<br />

et<strong>no</strong>lógicas encontrem algum público, por causa da curiosidade pelo<br />

49. Cf. FERNANDES, Florestan. A et<strong>no</strong>logia e a sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 38.<br />

107<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

‘índio’, pelo ‘folclore negro’, pelos ‘assuntos brasileiros’ etc., as tendências<br />

à reelaboração intelectual <strong>das</strong> descobertas dos etnólogos são quase nulas.<br />

Mesmo contribuições cujo sentido supra-et<strong>no</strong>lógico seja evidente – para a<br />

interpretação histórica do passado ou para o conhecimento do presente –<br />

permanecem inaproveita<strong>das</strong> ou sofrem severas restrições, o que demonstra<br />

o apego de larga parte do público leigo pelos modos pré-científicos de<br />

concepção do mundo”. 50<br />

É interessante verificar que a crítica de Florestan Fernandes era dirigida<br />

em grande medida ao público leitor. Segundo ele, a falta desse público desestimulava<br />

os pesquisadores. Essa observação é de grande importância porque<br />

expõe o problema da divulgação do conhecimento e seu efeito sobre a elaboração<br />

dos estudos.<br />

Os comentários de Luís Aguiar Costa Pinto revelam uma crítica mais<br />

severa à antropologia. Para o autor, a abordagem culturalista dos estudos<br />

antropológicos, naqueles a<strong>no</strong>s, não tinha rigor conceitual e metodológico<br />

suficientes para efetuar o “estudo científico dos <strong>no</strong>vos aspectos<br />

assumidos pelas relações interétnicas <strong>no</strong> interior de uma sociedade em<br />

mudança”. Na realidade, as reflexões de Costa Pinto terminam por conferir<br />

maior importância à sociologia pelos meios teóricos e metodológicos<br />

de que se dispunha para a compreensão e explicação do processo de<br />

transformações do país. 51<br />

Ambos os autores sugeriam uma revisão dos estudos da antropologia<br />

que levasse em conta as mudanças socioeconômicas do momento, mas, evidentemente,<br />

os comentários críticos dos dois sobre os estudos antropológicos<br />

se diferenciam. Florestan Fernandes aponta os caminhos, segundo<br />

ele, necessários para uma atualização <strong>das</strong> pesquisas <strong>no</strong> campo da antropologia,<br />

ainda que houvesse obstáculos para uma divulgação mais ampla de<br />

seus resultados. Luís Aguiar Costa Pinto é cético quanto às possibilidades<br />

teórico-metodológicas da disciplina <strong>no</strong> que respeita à elucidação dos problemas<br />

étnicos e culturais naquele momento. Os dois comentários abordam,<br />

portanto, o problema da persistência dos temas antropológicos de ângulos<br />

diferentes; porém, eles se completam e levam a compreender um conjunto<br />

50. Ibidem, p. 34.<br />

51. Cf. Pinto, Luís Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1965.p. 78-79.<br />

108<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

de motivos que acarretaram a falta de re<strong>no</strong>vação da configuração temática<br />

da antropologia naquele período.<br />

7.3 Conclusão<br />

Retomando o fio <strong>das</strong> observações feitas sobre a antropologia, poder-se-ia<br />

dizer que as escolhas temáticas e as ênfases da<strong>das</strong> pelos antropólogos ao tratar<br />

de assuntos de sua preferência, indicam que a disciplina apresenta uma tendência<br />

histórica. A perspectiva antropológica de reconstrução do passado parece<br />

sublinhar os traços culturais que teriam permanecido ao longo da história<br />

da sociedade brasileira. Na antropologia, o passado teria sido revisto através<br />

da descrição de modos de vida de grupos étnicos que, tendo participado dos<br />

“primeiros tempos” da formação daquela sociedade, teriam conservado <strong>no</strong>s<br />

seus hábitos, costumes e nas crenças, características culturais de outrora.<br />

Tal interesse da antropologia estaria presente <strong>no</strong>s estudos gerais sobre<br />

a formação étnico-cultural do país, <strong>no</strong>s trabalhos sobre os traços remanescentes<br />

da colonização portuguesa na cultura rural do Nordeste, na insistência<br />

em rastrear as sobrevivências <strong>das</strong> crenças africanas como mostram<br />

trabalhos sobre as religiões afro-brasileiras, e ainda <strong>no</strong>s estudos sobre a<br />

cultura indígena.<br />

Acrescente-se àquela linha de pesquisa sobre os “antepassados” as numerosas<br />

investigações sobre as tradições populares, que também sublinham a<br />

permanência de crenças, hábitos e costumes, distinguindo-se entretanto dos<br />

primeiros porque não tratam de grupos étnicos específicos e sim de cama<strong>das</strong><br />

da população brasileira.<br />

É possível que por meio desses estudos voltados para as “origens” dos<br />

traços culturais peculiares à sociedade brasileira, os estudiosos tenham procurado<br />

delinear as características <strong>das</strong> culturas, seja chamando a atenção para<br />

a diversidade <strong>das</strong> culturas regionais, seja examinando as peculiaridades <strong>das</strong><br />

tradições populares <strong>no</strong> país.<br />

Entretanto, é preciso ressaltar que embora tal conduta possa ter predominado<br />

na pesquisa antropológica <strong>no</strong> período aqui abordado, começou a haver<br />

interesse em revisitar o passado do ponto de vista <strong>das</strong> mudanças, o que os<br />

especialistas teriam feito através da análise de processos de assimilação, aculturação<br />

ou integração de grupos étnicos específicos, análise que caracteriza<br />

alguns dos estudos elaborados.<br />

109<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

8. Os temas da sociologia<br />

Ao se constituir como disciplina científica, <strong>no</strong> decorrer do século XIX,<br />

a sociologia se distingue por três aspectos: o papel que a ela é atribuído de<br />

libertar <strong>das</strong> crenças religiosas e da especulação metafísica o conhecimento<br />

da vida social; a discussão conceitual de seu objeto, a sociedade; e o fato de<br />

identificar-se por excelência como a disciplina “orientadora da sociedade industrial<br />

ocidental”. 52<br />

Para Theodor Ador<strong>no</strong> e Max Horkheimer, a sociedade é o objeto da sociologia.<br />

Eles a definem como “uma espécie de contextura formada entre<br />

todos os homens e na qual uns dependem dos outros sem exceção, na qual<br />

o todo só pode subsistir em virtude da unidade <strong>das</strong> funções assumi<strong>das</strong> pelos<br />

co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa funcional;<br />

e onde todos os indivíduos, por seu tur<strong>no</strong>, estão condicionados, em<br />

grande parte, pela sua participação <strong>no</strong> contexto geral. Assim o conceito de<br />

sociedade define mais as relações entre os elementos componentes e as leis<br />

subjacentes nessas relações do que propriamente os elementos e suas descrições<br />

comuns”. 53<br />

A formulação do objeto da sociologia só foi possível com a ascensão<br />

da burguesia moderna. O surgimento da disciplina está, pois, associado<br />

ao advento de um <strong>no</strong>vo tipo de sociedade: a sociedade urba<strong>no</strong>-industrial<br />

sob sua forma capitalista. A sociologia traz em sua constituição a <strong>no</strong>ção<br />

(e a marca) do <strong>no</strong>vo, da mudança, da transformação. Note-se, portanto,<br />

que tanto os problemas de uma estrutura social sem precedentes na história,<br />

quanto o processo que gerou tal estrutura integram a composição<br />

do campo da disciplina, exigindo a elaboração de um corpo de conhecimentos<br />

próprios.<br />

No <strong>Brasil</strong>, de 1945 a 1966, a sociologia também é vista por seus estudiosos<br />

como uma ciência indispensável à elucidação de problemas característicos<br />

dessa fase, que é justamente de profun<strong>das</strong> transformações sociais e econômicas.<br />

54 Nesse sentido, a ciência reatualiza <strong>no</strong> contexto brasileiro um dos traços<br />

52. A expressão “disciplina orientadora da sociedade industrial ocidental” é usada por Wolf Lepenies<br />

na introdução ao livro LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/M:<br />

Suhrkamp Verlag, 1981. v. I, p. 6.<br />

53. Cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix/USP,<br />

1973. p. 25-26.<br />

54. Cf. como exemplos: PINTO, Luís Aguiar Costa. Op. cit.; FERNANDES, Florestan. A sociologia<br />

numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963; RAMOS, Alberto Guerreiro.<br />

110<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

de origem de sua identidade. É importante, <strong>no</strong> entanto, saber como aquele<br />

traço é reelaborado e como a disciplina busca “orientar as mudanças sociais<br />

de uma sociedade específica”.<br />

Os temas escolhidos convergem, assim, para uma questão – as mudanças<br />

sociais. Os assuntos focalizados mostram ao mesmo tempo de que ângulo<br />

aquela questão foi tratada. Constam da amostra 121 obras de sociologia que<br />

se repartem nas seguintes linhas de investigação:<br />

Quadro XIX<br />

Obras por tema em sociologia: 1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras 1945<br />

1955 1956<br />

1966<br />

Obras sobre a disciplina problemas 24 9 15<br />

teórico-metodológicos<br />

Manuais e introduções 11 4 7<br />

Avaliação da produção de conhecimento<br />

da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

9 2 7<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina 2 1 1<br />

Subtotal<br />

Obras sobre temas específicos<br />

46 16 30<br />

Mudança social, industrialização<br />

e desenvolvimento<br />

21 1 20<br />

Meio rural 21 9 12<br />

Mobilidade histórica e social 19 7 12<br />

Meio urba<strong>no</strong> 8 - 8<br />

Religião 3 1 2<br />

Educação 3 - 3<br />

Subtotal 75 18 57<br />

Total 121 34 87<br />

Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes<br />

Gráficas C. Mendes Júnior, 1954; VILLAS BÔAS, Glaucia. O sentido <strong>das</strong> mudanças na sociologia<br />

dos a<strong>no</strong>s 50. In: ANPOCS, XIII, 1989.<br />

111<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

8.1 Obras sobre a disciplina<br />

Embora não ocupem o lugar de maior destaque (46 em 121 obras, isto é,<br />

38,01% delas) entre as linhas de trabalho do campo da sociologia, as “obras<br />

sobre a disciplina” elabora<strong>das</strong> pelos sociólogos têm uma particularidade <strong>no</strong><br />

conjunto desse tipo de estudo, constante dos diversos ramos do saber que<br />

configuram o quadro geral <strong>das</strong> ciências sociais nessa pesquisa: apresentam<br />

o mais diversificado grupo dessa vertente de textos e também o mais alto<br />

percentual de obras.<br />

Os problemas teórico-metodológicos da sociologia como fonte de<br />

conhecimento aumentam <strong>no</strong> quadro exposto; somando-se aos trabalhos<br />

sobre os procedimentos teórico-metodológicos as introduções e<br />

os manuais, verifica-se que os sociólogos tiveram bastante interesse em<br />

divulgar seu próprio campo de conhecimento e delimitá-lo em relação a<br />

outras disciplinas.<br />

No conjunto <strong>das</strong> 24 obras sobre as questões teórico-metodológicas, é possível<br />

diferenciar uma linha de estudos que vai dos fundamentos epistemológicos<br />

da disciplina às teorias explicativas e técnicas de pesquisa utilizáveis, com<br />

o que os estudiosos oferecem um quadro de como “fazer sociologia”. Ao<br />

lado dessa linha, uma outra se ocupa dos limites do tema, elaborando textos<br />

sobre o campo da sociologia do direito e sobre as relações da sociologia com<br />

a antropologia e a psicanálise.<br />

Outro interesse peculiar aos sociólogos é a importância atribuída à avaliação<br />

de seu próprio campo de trabalho <strong>no</strong> país. Nenhuma outra <strong>das</strong> disciplinas<br />

aqui revistas revela tal interesse. Ao ressaltar a indispensabilidade da ciência<br />

sociológica, os pesquisadores estariam acentuando a essencialidade de sua<br />

ação <strong>no</strong> processo de mudanças sociais nacionais.<br />

Livros sobre as diversas categorias de estudo integrantes <strong>das</strong> “obras sobre<br />

a disciplina” são publicados tanto na primeira, quanto na segunda <strong>das</strong> fases<br />

aponta<strong>das</strong>. De um período para outro, aumentou o número de textos em<br />

todos os temas dessa área, com exceção <strong>das</strong> obras de avaliação do ensi<strong>no</strong> da<br />

disciplina, cuja quantidade permanece inalterada. Saliente-se o aumento de<br />

publicações de “avaliação da produção sociológica”, que apresentam o maior<br />

índice de crescimento <strong>no</strong> subconjunto.<br />

112<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

8.2 Obras sobre temas específicos<br />

Os temas específicos foram abordados em 61,98% <strong>das</strong> obras da amostra.<br />

A proporção é maior do que a <strong>das</strong> obras teórico-metodológicas, mas não se<br />

eleva sobremaneira em relação a essas. Mais uma vez, destaca-se o interesse<br />

dos sociólogos em discutir e divulgar a sua própria disciplina, além de efetuar<br />

pesquisas específicas.<br />

De acordo com as obras do acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, os especialistas<br />

examinaram preferencialmente problemas concernentes à “mudança social,<br />

industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio rural” brasileiro,<br />

figurando cada uma dessas categorias de estudo com 21 livros na amostra.<br />

A questão da mudança social aparece relacionada com o processo de industrialização<br />

e com o desenvolvimento do país, sendo tratada a partir de<br />

uma perspectiva histórica. O conjunto <strong>das</strong> pesquisas e <strong>das</strong> reflexões sobre o<br />

assunto sugere que a passagem de uma sociedade agrária para uma coletividade<br />

urba<strong>no</strong>-industrial foi o fio condutor <strong>das</strong> investigações dos sociólogos<br />

naquele período.<br />

Entre as obras que falam sobre “mudança social, industrialização e desenvolvimento”<br />

distinguem-se quatro linhas de trabalho:<br />

Quadro XX<br />

Obras por tema na categoria “mudança social, industrialização e desenvolvimento”:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(sociologia / obras sobre temas específicos)<br />

Temas<br />

Obras<br />

113<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Estudos de caráter geral 2 - 2<br />

Mudanças sociais 9 - 9<br />

Comunidades 5 1 4<br />

Industrialização 5 - 5<br />

Total 21 1 20<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Os estudos sobre “mudança social, industrialização e desenvolvimento”<br />

enfocam essa questão a partir <strong>das</strong> seguintes perspectivas: os estudos gerais<br />

buscam a síntese de um conjunto de características próprias da sociedade brasileira<br />

em mudança e comparecem com me<strong>no</strong>r número de obras <strong>no</strong> quadro;<br />

ao contrário, predominam <strong>no</strong> conjunto os livros que expõem e discutem a<br />

problemática <strong>das</strong> mudanças sociais <strong>no</strong> país, vinculando-a, em alguns casos, à<br />

necessidade da pesquisa sociológica a fim de esclarecê-la. Nos estudos sobre<br />

comunidades, os sociólogos dedicaram-se à reconstrução de um complexo de<br />

relações próprias de uma comunidade, abrangendo seu setor rural e urba<strong>no</strong> e<br />

analisando em universo delimitado e restrito os efeitos <strong>das</strong> mudanças. Além<br />

disso, efetuaram pesquisas sobre peculiaridades do processo de industrialização<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

As linhas de trabalho acima cita<strong>das</strong> mostram que o interesse dos sociólogos<br />

pela caracterização de um processo geral de transformações se<br />

expressa numa seqüência que vai da síntese à descrição minuciosa <strong>das</strong> transformações<br />

<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> restrito <strong>das</strong> “comunidades”. Paralelamente, mostram a<br />

importância atribuída à sociologia na elucidação de problemas decorrentes<br />

<strong>das</strong> mudanças sociais.<br />

Da amostra de livros consta apenas um estudo sobre comunidades, publicado<br />

<strong>no</strong> período entre 1945 e 1955; os demais trabalhos, sem exceção, foram<br />

divulgados <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1956 a 1966. Ainda que as pesquisas sobre a questão <strong>das</strong><br />

“mudanças, industrialização e desenvolvimento” tenham sido elabora<strong>das</strong> alguns<br />

a<strong>no</strong>s antes da data de sua publicação em livro, variando o tempo necessário para<br />

seu lançamento <strong>no</strong> mercado, não pareceu constituir objeto de interesse dos estudiosos<br />

num primeiro momento a elaboração de trabalhos <strong>no</strong> campo da sociologia.<br />

A análise da amostra revela que o assunto foi sendo investigado à medida<br />

que se acelerava o crescimento da eco<strong>no</strong>mia brasileira e se acirravam os debates<br />

sobre o desenvolvimento econômico; a questão teria permanecido como alvo<br />

de investigação sociológica ainda durante as crises econômica e política que se<br />

seguiram aos a<strong>no</strong>s de mudanças efervescentes, começando a se esboçar em<br />

finais da década de 1950. As obras da sociologia teriam conquistado um público<br />

amplo, o que possivelmente estimulou o aprofundamento e a continuidade <strong>das</strong><br />

pesquisas sobre o tema.<br />

Os trabalhos sobre o meio rural tratam de problemas de diversas ordens desse<br />

setor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Observe-se <strong>no</strong> quadro abaixo como se dividem esses estudos:<br />

114<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Quadro XXI<br />

Obras por tema na categoria “meio rural”<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(sociologia / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

Características gerais 3 3 -<br />

Condições e relações de trabalho 8 2 6<br />

Relações políticas 4 2 2<br />

Movimentos e conflitos religiosos 3 - 3<br />

Tradições populares 1 - 1<br />

Outros 2 2 -<br />

115<br />

1956<br />

1966<br />

Total 21 9 12<br />

As obras que apresentam “características gerais” do meio rural revelam<br />

aspectos diferenciados que vão desde as condições e organização do trabalho<br />

agrícola, habitação rural, migração e educação, até o tipo de assistência governamental<br />

dada ao “homem do campo”.<br />

As pesquisas referentes ao conjunto “condições e relações de trabalho”<br />

descrevem e analisam tanto as condições de existência, quanto as relações<br />

específicas de patriarcas, senhores de engenho, coronéis, jagunços, parceiros,<br />

arrendatários e trabalhadores rurais. Na seqüência dessas categorias focaliza<strong>das</strong><br />

pelos estudos, observa-se que são delinea<strong>das</strong> “velhas” e “<strong>no</strong>vas” relações<br />

sociais, entrelaçando o conhecimento de relações de trabalho, da propriedade<br />

rural e de funções produtivas, com o estudo de aspectos políticos e culturais<br />

próprios do meio rural.<br />

O exame desse meio rural leva os sociólogos a estudar especificamente<br />

as ligações políticas próprias daquele ambiente e suas influências na vida<br />

política nacional; são focalizados particularmente os elementos políticos<br />

do coronelismo, a influência política dos senhores de engenho, transformados<br />

em usineiros ao longo do tempo, os vínculos entre o poder político<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

e os laços familiares, e as lutas <strong>das</strong> ligas camponesas. Essas pesquisas privilegiam<br />

a região Nordeste.<br />

Outra categoria de estudos – “os movimentos e conflitos religiosos” –<br />

analisa movimentos messiânicos e averigua as causas sociais e econômicas de<br />

tais lutas <strong>no</strong> meio rural.<br />

Completam o quadro dos estudos da sociologia sobre o meio rural uma<br />

obra sobre as tradições populares, um trabalho sobre a abertura <strong>das</strong> vias de<br />

comunicação naquela área e outro sobre o problema da seca <strong>no</strong> Nordeste.<br />

Tanto o número de livros, quanto a diversificação temática <strong>no</strong>s levam a<br />

supor que os textos sobre o meio rural tenham sido significativos para os sociólogos,<br />

seja porque ali repercutiam, <strong>no</strong> período analisado, as transformações<br />

ocorri<strong>das</strong> nas cidades, seja porque daquele ambiente dependesse o sucesso do<br />

processo urba<strong>no</strong> de industrialização. Fato é que o campo parece ter sido um<br />

locus privilegiado de estudo, locus <strong>no</strong> qual o tempo passado, peculiar a uma sociedade<br />

em mudança, ainda poderia ser analisado, para que se avaliassem suas<br />

conseqüências <strong>no</strong> presente e <strong>no</strong> futuro.<br />

Não esquecer também que nesse período a maior quantidade da população<br />

brasileira habitava o campo e se compunha de coletividades que ali encontravam<br />

suas possibilidades de subsistência; por outro lado, a riqueza brasileira era<br />

criada muito mais pelos produtos agrícolas do que pela produção de outras<br />

fontes. É curioso estabelecer esse paralelismo entre as condições específicas<br />

do período que se escolheu para a amostra e as obras específicas de sociologia<br />

que nela figuram. A observação feita anteriormente, de que os sociólogos em<br />

geral encaram a sociologia como uma ciência indispensável à elucidação dos<br />

problemas sociais, <strong>no</strong>vamente encontra apoio nessa análise temática <strong>das</strong> obras<br />

então publica<strong>das</strong>.<br />

Seguindo o quadro XXI, é importante assinalar características da evolução<br />

<strong>das</strong> pesquisas sobre o “meio rural”. A posição desses estudos <strong>no</strong> conjunto dos<br />

livros publicados <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955 é <strong>no</strong>tadamente relevante; a continuidade<br />

e certa intensificação dessa linha de trabalho – traduzida em acréscimo de<br />

obras edita<strong>das</strong> <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s subseqüentes – atestam que o tema permaneceu sendo<br />

alvo de interesse sociológico. Porém, sua posição <strong>no</strong> conjunto já não era tão<br />

destacada, devido à diversificação <strong>das</strong> linhas temáticas da disciplina.<br />

Embora os estudos sobre o meio rural tenham tido maior importância<br />

num primeiro momento da produção sociológica, tudo indica que continuaram<br />

sendo pesquisados de modo dinâmico, o que se torna evidente com a<br />

abertura de <strong>no</strong>vas linhas de investigação. Os textos sobre as características<br />

116<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

gerais <strong>das</strong> condições de existência <strong>no</strong> meio rural e a categoria “outros” desaparecem<br />

<strong>no</strong> período entre 1956 e 1966; em compensação, pesquisas sobre<br />

“movimentos e conflitos religiosos” aparecem na amostra somente em livros<br />

publicados naquela fase, o mesmo ocorrendo com o trabalho sobre “tradições<br />

populares” <strong>no</strong> meio rural. Ressalte-se, ainda, que as pesquisas sobre “condições<br />

e relações de trabalho” aumentam muito o número de suas publicações<br />

de um período para o outro.<br />

Outra categoria de estudos quantitativamente relevante (19 em 75 obras<br />

sobre temas específicos) é representativa do interesse sociológico pelo tema<br />

da “mobilidade histórica e social”:<br />

Quadro XXII<br />

Obras por tema na categoria “mobilidade histórica e social”<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(sociologia / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras<br />

117<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Negros 8 4 4<br />

Migrantes 7 3 4<br />

Imigrantes 4 - 4<br />

Total 19 7 12<br />

Esse conjunto descreve e analisa as mudanças ou as possibilidades, em<br />

uma duração de tempo, de mudança de posição de grupos sociais <strong>no</strong> sistema<br />

de estratificação social, adquirindo assim um caráter histórico. Observa-se que<br />

os sociólogos examinaram sobretudo a inserção e a posição dos grupos estudados<br />

<strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> atividades produtivas, mas incluíram <strong>no</strong> horizonte de<br />

observação de suas pesquisas características raciais, culturais e nacionais dos<br />

mesmos. No período aqui analisado, colocaram em foco os seguintes grupos<br />

sociais: os negros, os migrantes e os imigrantes. Embora o elo que interliga esses<br />

estudos seja, como apontamos, a questão da mobilidade histórica e social,<br />

o conhecimento de cada um dos grupos apresenta traços específicos.<br />

As pesquisas sociológicas sobre os negros investigam a mobilidade social e<br />

histórica desse grupo, ressaltando as diferenças raciais, as relações raciais entre<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

negros e brancos e o passado dos negros enquanto força escrava de trabalho.<br />

Percebe-se que alguns estudos buscam analisar com maior ênfase a qualidade<br />

dos contatos raciais e o preconceito de cor, relacionando-os com as possibilidades<br />

de ascensão social do grupo negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>; outros averiguam destacadamente<br />

a modalidade de inserção dos negros – ex-escravos – <strong>no</strong> sistema de<br />

trabalho livre, característico da sociedade brasileira depois da Abolição.<br />

Os trabalhos sobre os migrantes pretendem registrar e avaliar as causas e<br />

os efeitos sociais e econômicos do deslocamento espacial de populações do<br />

meio rural. Note-se que quatro dos sete textos da amostra expõem o progressivo<br />

movimento <strong>das</strong> populações rurais em direção aos centros urba<strong>no</strong>s, sendo<br />

as cidades de São Paulo e Recife focaliza<strong>das</strong> especificamente. Dois outros<br />

livros analisam o deslocamento de grupos <strong>no</strong> espaço social compreendido<br />

pelas zonas agropastoris, e apenas um aborda a migração interna em seu conjunto.<br />

Em algumas dessas obras, ressalta-se a atenção especial aos migrantes<br />

nas grandes cidades e coloca-se ênfase na necessidade de medi<strong>das</strong> políticas<br />

governamentais que visem à solução do problema.<br />

Ao determinar as condições de vida de populações rurais, os motivos de<br />

seu movimento migratório e os problemas que enfrentam tanto <strong>no</strong> campo<br />

quanto nas cidades, esses estudos, tudo indica, trouxeram à tona diferenças<br />

sociais e culturais existentes entre as populações brasileiras do meio rural e<br />

do meio urba<strong>no</strong>. Levando em consideração o interesse sociológico <strong>no</strong> estudo<br />

dos processos de urbanização e industrialização, poder-se-ia supor também<br />

que tenham contribuído para caracterizar e apontar os problemas de grupos<br />

sociais que vieram integrar a força de trabalho urba<strong>no</strong>-industrial <strong>no</strong> momento<br />

de sua formação.<br />

Os sociólogos estenderam o exame da mobilidade social a grupos de imigrantes<br />

de diferentes nacionalidades. Os textos constantes da amostra enfocam<br />

aspectos da trajetória histórica e espacial, <strong>das</strong> condições de existência e<br />

do processo de “assimilação” cultural e política de japoneses, alemães, síriolibaneses<br />

e italia<strong>no</strong>s fixados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Ao buscar conhecer o processo de mudanças sociais, característico do período<br />

a que se refere a amostra, a sociologia destaca três atores – os negros,<br />

os migrantes e os imigrantes – como agentes sociais que histórica, social e espacialmente<br />

transitam. A história da inserção social desses atores como força<br />

de trabalho, as características de sua mobilidade e fixação, e a diversificação de<br />

118<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

suas atividades produtivas tornam-se objeto de pesquisa. Contudo, importa<br />

ressaltar ainda uma vez que nesses trabalhos surgem questões de ordem racial,<br />

cultural e nacional.<br />

Os estudos sobre “mobilidade histórica e social” se destacam <strong>no</strong> primeiro<br />

conjunto da produção sociológica, de 1945 a 1955. Os sociólogos mantiveram<br />

seu interesse pela análise <strong>das</strong> mudanças ou possibilidades de mudança de posição<br />

de grupos sociais <strong>no</strong> sistema de estratificação social. Os livros sobre a mobilidade<br />

social dos imigrantes, que aparecem na amostra publicados <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s entre 1956 e<br />

1966, evidenciam tal interesse. Porém, a posição desses textos se torna mais discreta<br />

à medida que se diversificam os temas abordados pela sociologia.<br />

O quadro XIX dos temas da sociologia mostra que os trabalhos específicos<br />

sobre o meio urba<strong>no</strong> (oito obras), quando comparados àqueles do meio<br />

rural (21 títulos), são sem dúvida limitados; também o são se levarmos em<br />

conta o interesse prioritário dos sociólogos em conhecer o processo de transformações<br />

de caráter industrial e urba<strong>no</strong>.<br />

As pesquisas sobre o meio urba<strong>no</strong> tratam da formação do operariado, do<br />

surgimento de sindicatos e sua organização, e de conflitos e greves, mostrando<br />

dessa forma aspectos <strong>das</strong> condições e <strong>das</strong> relações de trabalho na cidade.<br />

Ao lado desses estudos encontram-se trabalhos sobre as condições de moradia<br />

<strong>no</strong>s centros urba<strong>no</strong>s, cujo interesse específico são as favelas, os mocambos<br />

e os alagados; consta também da relação um texto sobre hábitos e costumes<br />

populares na cidade de São Paulo.<br />

Na amostra, os livros sobre “meio urba<strong>no</strong>” datam do período 1956–<br />

1966. Esse dado é significativo, pois mostra que os sociólogos voltaram sua<br />

atenção para os problemas <strong>das</strong> condições e relações de trabalho na cidade,<br />

principalmente o operariado, e para as difíceis condições de moradia <strong>no</strong>s<br />

centros urba<strong>no</strong>s, numa “segunda fase” da produção sociológica <strong>no</strong> contexto<br />

histórico abordado.<br />

Dos três estudos específicos sobre religião, dois abordam aspectos<br />

do catolicismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e mostram a necessidade de estimular esse<br />

campo de análises; outro trabalho trata de crenças religiosas sem que<br />

tenha sido possível nele distinguir outras características. Não houve<br />

maior interesse pelo exame da “religião” naquele período, sendo escassas<br />

as publicações sobre o assunto tanto numa, quanto <strong>no</strong>utra <strong>das</strong><br />

fases aponta<strong>das</strong>.<br />

119<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Finalmente, as obras sobre educação vinculam essa questão ao problema<br />

<strong>das</strong> mudanças sociais brasileiras. São textos de caráter geral, exceto um<br />

deles que analisa as relações entre estudantes e as transformações do país.<br />

Diversificando suas opções temáticas, os sociólogos teriam dado preferência<br />

às pesquisas sobre as características da educação <strong>no</strong> país. Note-se que os estudos<br />

sobre educação se fazem representar na amostra por meio de três livros<br />

datados do período de 1956 a 1966.<br />

8.3 Conclusão<br />

A configuração temática da sociologia leva a repensar seus traços peculiares<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966. Já se observou que os sociólogos, mais<br />

do que os demais especialistas <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais, destacaram<br />

em suas linhas de trabalho a reflexão sobre seu próprio métier. Enquanto<br />

isso, dedicaram-se a temas diversos, vinculando a maioria deles à questão<br />

<strong>das</strong> mudanças sociais.<br />

É possível que a tentativa dos sociólogos de estabelecer os limites de<br />

sua disciplina, diferenciando-a da história do <strong>Brasil</strong> e dos estudos antropológicos,<br />

os tenha levado a privilegiar a estrutura e a dinâmica <strong>das</strong> relações<br />

de trabalho como fator relevante para o conhecimento dos processos históricos<br />

e sociais. As diversas categorias de estudo acima descritas revelam<br />

que os sociólogos buscaram elucidar a questão <strong>das</strong> mudanças sociais adotando<br />

como fundamento de suas investigações as atividades produtivas<br />

do trabalho.<br />

No entanto, a disciplina ressalta diversidades de ordens varia<strong>das</strong>: diferenças<br />

históricas (entre o passado e o presente da sociedade brasileira);<br />

diferenças raciais, culturais, nacionais e regionais; e diferenças entre meio<br />

urba<strong>no</strong> e meio rural. O conjunto temático sugere que os sociólogos, naquele<br />

período, diag<strong>no</strong>sticam a sociedade brasileira em fase de transição.<br />

Ela se moderniza e destaca-se do passado à medida que industrialização<br />

e urbanização modificam seu sistema de estratificação social, dentro do<br />

quadro de suas particularidades históricas, raciais e culturais.<br />

Seria válido indagar se o interesse constante e regular dos sociólogos<br />

pela reflexão sobre seu campo de trabalho, além do fato de conceberem a<br />

sociologia como parte integrante do processo de mudanças, teriam influ-<br />

120<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ído na vitalidade que a disciplina apresentou naquele período, buscando e<br />

iniciando <strong>no</strong>vas linhas de estudo. Como se observou, num primeiro momento,<br />

as pesquisas sobre “meio rural” e “mobilidade histórica e social”<br />

foram privilegia<strong>das</strong>, mas logo a seguir os sociólogos se dedicaram com<br />

maior interesse à investigação dos problemas relativos às “mudanças sociais,<br />

industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio urba<strong>no</strong>”,<br />

destacando desse modo o processo de transformação <strong>das</strong> condições de<br />

existência da população brasileira, que marcava a passagem de uma sociedade<br />

agrária para uma sociedade industrial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Por outro lado,<br />

caberia perguntar também em que medida os meios teóricos e metodológicos<br />

da disciplina concorreram, realmente, para o seu desenvolvimento<br />

naquele período.<br />

É possível que o crescimento da sociologia naquele contexto histórico<br />

tenha sido estimulado pela conjugação de dois fatores: de um lado o apreço<br />

dos pesquisadores pela disciplina, de outro as características dos meios teóricos<br />

e metodológicos de que dispunham para o diagnóstico de peculiaridades<br />

históricas daquele momento. Essa conjugação teria então favorecido a<br />

sociologia na disputa pela conquista de um público para suas obras.<br />

9. Os temas da ciência política<br />

A caracterização do campo da ciência política enfrenta dificuldades<br />

maiores do que as observa<strong>das</strong> em outras disciplinas. Em um primeiro momento,<br />

essas dificuldades parecem resultar da grande proximidade entre<br />

os estudos da ciência política, da ciência do direito e da história política.<br />

Logo se verifica, entretanto, que suas raízes se encontram na construção<br />

histórica da identidade disciplinar.<br />

Hermann Heller acredita que desde a Antigüidade clássica se vem produzindo<br />

conhecimento sobre o que hoje se entende por ciência política. Mas<br />

para ele é impossível formular uma definição devido à qualidade eminentemente<br />

compreensiva do conhecimento da disciplina, que não se presta a explicações<br />

fundamenta<strong>das</strong> em lei. 55<br />

55. Cf. HELLER, Hermann. Political Science. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New<br />

York: Macmillan, 1948. v. VI e VII, p. 207-224.<br />

121<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Ao buscar compreender os motivos que geram a tardia definição de ciência<br />

política, os alemães Ferdinand Hermens e Rudolf Wildemann concordam<br />

com Carl J. Friedrich, para quem a ciência política só poderia se configurar<br />

como campo de estudo em um contexto social e histórico <strong>no</strong> qual houvesse<br />

um Estado de essência “livre” (freien Staatswesen), já que a disciplina questiona<br />

justamente aquilo que os agentes condutores do sistema de dominação<br />

prefeririam manter em sigilo. Para os autores, a ciência política é uma expressão<br />

<strong>das</strong> liberdades democráticas <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> do conhecimento, tendo florescido<br />

tanto nas cidades-estado da Antigüidade, quanto em países de regime democrático<br />

<strong>no</strong>s séculos XIX e XX. 56<br />

Essa maneira de pensar se prende ao fato de que desde a Antigüidade clássica,<br />

os escritores políticos, a exemplo de Platão, se preocuparam em descrever<br />

o que deve ser a melhor organização política de uma sociedade. O ponto<br />

de vista <strong>no</strong>rmativo era dominante. Ainda <strong>no</strong> século XVIII, embora os eco<strong>no</strong>mistas<br />

já admitissem que a sociedade também era regida por “leis físicas” que<br />

precisavam ser descobertas, o que existia era uma filosofia política assentada<br />

numa filosofia da história, largamente pesquisada por muitos pensadores. Somente<br />

<strong>no</strong> século XIX a <strong>no</strong>ção criada <strong>no</strong> domínio econômico é transportada<br />

para domínio político.<br />

A partir dessa época se admite então que também <strong>no</strong> domínio político há<br />

relações constantes que se impõem aos homens. Além disso, as estruturas de<br />

poder não derivam exclusivamente da vontade de líderes ou da inteligência<br />

de pensadores e filósofos; estão também domina<strong>das</strong> por maneiras de ser que<br />

a eles se impõem e provêm da própria sociedade. No entanto, as dúvi<strong>das</strong> a<br />

respeito ainda permanecem.<br />

Hermann Heller, por exemplo, afirma que o “campo político”, <strong>no</strong> sentido<br />

mais amplo, não é passível de abordagem empírica. O cientista político está fadado<br />

a limitar-se ao exame, em termos descritivos, de atividades políticas e formas<br />

institucionais de atividades que pressupõem o exercício independente do poder,<br />

não definido ou predeterminado por rígido e <strong>no</strong>rmativo conjunto de leis. 57<br />

Apesar <strong>das</strong> ambigüidades e imprecisões que reconhecem, Hermens e Wildemann<br />

buscam definir o objeto da ciência política. Ela estudaria a “função<br />

56. Cf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Politische Wissenschaft. In: HAND-<br />

WÖRTERBUCH der Sozialwissenschaften. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 8, p. 388.<br />

57. Vf. HELLER, Hermann. Op. cit., p. 209.<br />

122<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ordenadora <strong>das</strong> formas políticas” e estaria assim intimamente ligada aos problemas<br />

de poder e ao que modernamente se chama Estado. O poder formado<br />

socialmente desempenha tal papel na ciência política, que os <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s<br />

a de<strong>no</strong>minam “ciência do poder”. 58<br />

David Easton comenta que o “longo fracasso” da ciência política em estabelecer<br />

coerentemente o conteúdo de sua matéria levou pesquisadores a<br />

negar-lhe mesmo a possibilidade de tornar-se uma disciplina científica como<br />

a sociologia e a antropologia. Entretanto, diz ele, tais estudiosos não perceberam<br />

a “grande revolução” que tomou conta da disciplina, especificamente<br />

depois da Segunda Guerra: “nas últimas déca<strong>das</strong> a ciência política deu passos<br />

firmes e bem articulados na direção de sua reconstrução como disciplina<br />

teórica”. 59 Ele é, pois, me<strong>no</strong>s cético do que Hermann Heller, e tenta responder<br />

ao desafio da definição de ciência política afirmando que para isso podese<br />

utilizar, mesmo que inicial e precariamente, a <strong>no</strong>ção de sistema político.<br />

Define o sistema político como conjunto de interações que, primordialmente,<br />

fornecem meios estáveis e regulares para a manutenção do establishment e a<br />

ordem em uma sociedade. O sistema político compreende então um conjunto<br />

de procedimentos para a tomada de decisões e a realização de ações, às quais<br />

os membros de uma sociedade atribuem um caráter de autoridade. Para o autor,<br />

o sistema político busca em última instância manter determinados valores<br />

que não correspondem necessariamente aos valores de todos os membros de<br />

uma sociedade.<br />

Os comentários de David Easton sobre as mudanças ocorri<strong>das</strong> <strong>no</strong> campo<br />

da ciência política após 1945 coincidem, em certa medida, com os de Fernando<br />

Henrique Cardoso e Bolívar Lamounier sobre a bibliografia da disciplina<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> período de 1949 a 1974:<br />

À primeira vista, a bibliografia sobre política brasileira<br />

<strong>no</strong>s últimos vinte e cinco a<strong>no</strong>s imediatamente posteriores<br />

ao fim da Segunda Guerra Mundial é abrumadora. Análise<br />

cuidadosa mostra que nem tanto. Os principais temas<br />

organizaram-se em tor<strong>no</strong> do fato <strong>no</strong>vo fundamental: a re-<br />

58. Vf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Op. cit., p. 390-391.<br />

59. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.<br />

New York: Macmillan, 1968. v. XII, p. 282, 285-288.<br />

123<br />

FBN_RG_vocacao_02 a.indd 123 5/3/2009 09:48:39


Glaucia Villas Bôas<br />

democratização que ocorreu de 1945 em diante. Discute-se<br />

sobretudo se existiam bases sociais para sustentá-la. Derrubando<br />

o Estado Novo, a questão dos partidos e <strong>das</strong> eleições<br />

empolgou a muitos. A Ciência Política respondeu ainda que<br />

timidamente, a esta temática. 60<br />

O quadro abaixo indica os temas tratados <strong>no</strong> campo da ciência política,<br />

constantes da amostra estudada:<br />

Quadro XXIII<br />

Obras por tema em ciência política: 1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras<br />

Obras sobre a disciplina<br />

124<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Problemas teórico-metodológicos 12 3 9<br />

Subtotal 12 3 9<br />

Obras sobre temas específicos<br />

Instituições políticas 39 12 27<br />

Ideologias políticas 17 3 14<br />

Formação social e 6 1 5<br />

histórica do poder político<br />

Análise de crises políticas 6 1 5<br />

Perfis presidenciais 3 - 3<br />

Subtotal 71 17 54<br />

Total 83 20 63<br />

60. LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. A bibliografia de ciência política<br />

sobre o <strong>Brasil</strong> (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, p. 3, 1978.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

9.1 Obras sobre a disciplina<br />

Em um conjunto de 83 obras, os doze livros dedicados à disciplina<br />

concentram-se em problemas de ordem teórico-metodológica. Os títulos<br />

estão na sua maioria voltados para as questões do pensamento político<br />

que se desenvolve desde a Antigüidade clássica até a emergência do<br />

Estado moder<strong>no</strong>; tratam, sobretudo, da história do pensamento político,<br />

embora alguns deles focalizem o campo da ciência política propriamente<br />

dita. Não há na amostra estudada manuais e introduções nem obra<br />

que examine o papel da disciplina ou da produção do conhecimento<br />

nessa área, assim como não se verifica nenhum estudo sobre o ensi<strong>no</strong><br />

da ciência política, da mesma forma que ocorre em outras disciplinas<br />

como a sociologia. Poder-se-ia dizer que não houve, <strong>no</strong> período analisado,<br />

interesse marcante em delimitar o campo da ciência política ao lado<br />

de outros, nem controlar e avaliar suas atividades dentro do grupo <strong>das</strong><br />

ciências sociais.<br />

O conjunto de “obras sobre a disciplina” mostra, portanto, que o campo da<br />

ciência política não atraiu grande atenção por parte de seus estudiosos. A variação<br />

do número de publicações numa e <strong>no</strong>utra <strong>das</strong> fases aponta<strong>das</strong> pelo quadro XXIII<br />

revela que os cientistas políticos insistiram nas pesquisas sobre problemas teóricometodológicos<br />

da disciplina, mas não diversificaram essa linha de trabalho.<br />

9.2 Obras sobre temas específicos<br />

O conjunto de “obras sobre temas específicos” (85,54% do total)<br />

mostra que os estudiosos cultivaram a disciplina e se dedicaram a diferentes<br />

problemas relativos ao poder político <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A maior parte<br />

dos textos da ciência política aborda procedimentos legais e legítimos<br />

que fazem parte do sistema político brasileiro, isto é, suas instituições. 61<br />

No seu conjunto, essa linha de trabalho se caracteriza por entrelaçar<br />

uma perspectiva jurídica de investigação <strong>das</strong> práticas políticas institucionaliza<strong>das</strong><br />

com os fundamentos sociais e históricos <strong>das</strong> mesmas. Esses<br />

trabalhos constituem 54,92% do total, o que mostra a importância<br />

conferida ao tema pelos pesquisadores. Nesse tópico, destacam-se os<br />

61. Sobre os conceitos de legitimidade e legalidade ver LANDSHUT, Siegfried. Legitimät und<br />

Legalität. In: WÖRTERBUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (org.). Frankfurt a/M: Fischer<br />

Taschenbuch Verlag, 1976. p. 494-496.<br />

125<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

estudos referentes à escolha dos governantes, sendo que as eleições<br />

tiveram aí o maior relevo.<br />

O quadro a seguir aponta os assuntos que integram a categoria “instituições<br />

políticas” e a quantidade de publicações sobre cada um deles:<br />

Quadro XXIV<br />

Obras por tema na categoria “instituições políticas”:<br />

1945-55 e 1956-66<br />

(ciência política / obras sobre temas específicos)<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

Escolha de governantes<br />

126<br />

1956<br />

1966<br />

Eleições 9 2 7<br />

Partidos políticos 5 3 2<br />

Subtotal 14 5 9<br />

Diplomacia e política externa 8 3 5<br />

Formas de gover<strong>no</strong> parlamentarista 7<br />

e presidencialista<br />

- 7<br />

Constituição jurídica e social <strong>das</strong><br />

instituições políticas<br />

5 3 2<br />

Forças Arma<strong>das</strong> 4 1 3<br />

Administração político-burocrática 1 - 1<br />

Subtotal 25 7 18<br />

Total 39 12 27<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

O conjunto de estudos “escolha de governantes” focaliza características<br />

<strong>das</strong> eleições e dos partidos políticos <strong>no</strong> país. Quanto às “eleições”, os especialistas<br />

apreciam <strong>no</strong>tadamente seus aspectos jurídico-legais, examinando nesse<br />

pla<strong>no</strong> questões relativas ao sistema de representação. Alguns estudos tomam<br />

como exemplo pleitos ocorridos <strong>no</strong> país <strong>no</strong> período observado. Paralelamente,<br />

foram elaborados, em me<strong>no</strong>r número (duas em <strong>no</strong>ve obras), estudos que<br />

analisam o comportamento eleitoral de grupos sociais. Dos cinco títulos sobre<br />

partidos políticos, dois tratam de suas características <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e os demais<br />

delineiam a formação e a atuação de partidos políticos nacionais específicos.<br />

A instituição diplomática é focalizada em oito trabalhos que se dividem em<br />

duas linhas de investigação: há os que abordam características da política externa<br />

brasileira <strong>no</strong> passado, e os que fazem uma análise <strong>das</strong> relações exteriores<br />

<strong>no</strong> presente, questionando a qualidade da política externa adotada pelo país.<br />

Esses textos revelam a importância atribuída à inserção da unidade política<br />

nacional na ordem política internacional. Observa-se que na história política,<br />

especialmente <strong>no</strong> conjunto de obras sobre a história diplomática, e em estudos<br />

de eco<strong>no</strong>mia política sobre as relações econômicas do <strong>Brasil</strong> com países<br />

estrangeiros também foi encontrada esta linha de trabalho.<br />

Apresentando característica analítica, a tônica <strong>das</strong> obras sobre as formas<br />

de gover<strong>no</strong> parlamentarista e presidencialista, além de descrever e comparar<br />

os dois sistemas, mostra suas raízes <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, com vistas a definir as vantagens<br />

e as desvantagens de um ou outro sistema de gover<strong>no</strong> para o país. Alguns<br />

estudos fazem referência à adoção daqueles sistemas em outros países,<br />

comparando-os com o <strong>Brasil</strong>. O assunto esteve em voga <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s<br />

1960, quando em 1961, o Ato Adicional à Carta de 1946 instaurou sistema<br />

parlamentarista de gover<strong>no</strong>, porém sem maior duração.<br />

Nas pesquisas sobre a “constituição jurídica e social <strong>das</strong> instituições políticas”,<br />

a perspectiva de análise jurídica se faz <strong>no</strong>tar de modo nítido. O conjunto<br />

contém trabalhos sobre o Estado brasileiro e sobre o regime democrático;<br />

um deles enfatiza especialmente a participação do trabalhador nesse regime, e<br />

outro examina o sistema federalista do gover<strong>no</strong>.<br />

Quanto às Forças Arma<strong>das</strong>, os especialistas abordam principalmente o papel<br />

dessa instituição a partir de diferentes ângulos de análise: um livro enfoca<br />

o papel conferido às armas pela constituição do país, os demais investigam<br />

sua atuação seja na manutenção da segurança nacional, seja na solução de<br />

crises políticas e consolidação do regime democrático.<br />

127<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Da amostra consta um texto sobre as mudanças dos meios administrativoburocráticos<br />

do Estado brasileiro, que demonstra terem os governantes buscado<br />

adequá-los às características do processo de industrialização dos a<strong>no</strong>s de<br />

1930 a 1950.<br />

A categoria “ideologias políticas” agrupa trabalhos que “discutem um<br />

conjunto de idéias e valores a respeito da ordem política, cuja função é orientar<br />

comportamentos coletivos”. 62 O tema preferencial dessas obras é o nacionalismo,<br />

seus valores e ideais; esses estudos o associam <strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes ao<br />

desenvolvimento econômico do país. A ciência política se aproxima aqui da<br />

eco<strong>no</strong>mia política, distanciando-se da história política que busca <strong>no</strong> direito e<br />

na geopolítica as bases da construção da nação. Embora integre o campo da<br />

ciência política, a geopolítica o faz de modo discreto.<br />

Nos textos que definem a categoria “formação social e histórica do poder<br />

político” encontram-se pesquisas que analisam as bases históricas e sociais<br />

de formação do sistema de poder <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Esses estudos, nitidamente históricos,<br />

discutem problemas que dizem respeito ao comportamento político<br />

tradicional existente <strong>no</strong> país, seja rastreando características do legado político<br />

português, seja examinando as bases agrárias do sistema político; ao lado destes,<br />

outras obras investigam as mudanças ocorri<strong>das</strong> <strong>no</strong> comportamento político<br />

de classes e grupos sociais motiva<strong>das</strong> pelo desenvolvimento econômico.<br />

O quadro temático da ciência política apresenta também trabalhos que<br />

analisam as crises políticas que teriam culminado na tomada do poder pelos<br />

militares em 1964. De um conjunto de seis obras, quatro focalizam esse tema,<br />

delineando características do regime democrático <strong>no</strong> país; dois dos estudos,<br />

entretanto, estão voltados para uma análise do conjunto dos problemas da<br />

política brasileira após os a<strong>no</strong>s 1930. Em uma outra linha de investigação o<br />

exame da política é feito através de textos sobre a atuação de presidentes da<br />

República que ocuparam o cargo durante o período entre 1945 e 1964, traçando<br />

os seus perfis.<br />

O estudo dos temas abordados pela ciência política se intensificou naqueles<br />

a<strong>no</strong>s como mostram os quadros XXIII e XXIV. Sem dúvida, destaca-se o<br />

interesse crescente pela análise <strong>das</strong> “ideologias políticas”, porém o tema <strong>das</strong><br />

instituições políticas mereceu maior atenção dos especialistas, a julgar pelo<br />

<strong>no</strong>tável aumento de suas publicações. No que respeita às instituições políticas,<br />

62. STOPPINO, Mário. Ideologia. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Norberto Bobbio<br />

(Org.). Brasília: Ed. UNB, 1986. p. 385.<br />

128<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

o crescimento na maioria dos tópicos focalizados não é espetacular, com uma<br />

exceção: “formas de gover<strong>no</strong> parlamentarista e presidencialista” que não aparece<br />

na primeira fase e surge com sete obras na segunda, isto é, com a maior<br />

quantidade de publicações nesse período. Tal quantidade somente é igualada<br />

pelos estudos sobre “eleições”, que, <strong>no</strong> entanto, já alcançavam duas publicações<br />

na fase anterior. Percebe-se que os assuntos privilegiados <strong>no</strong> campo<br />

da ciência política atenderam em larga medida a problemas peculiares àquele<br />

contexto histórico.<br />

9.3 Conclusão<br />

A configuração temática da ciência política não deixa entrever uma<br />

questão básica que tenha <strong>no</strong>rteado os estudos de sua preferência <strong>no</strong> período<br />

de 1945 a 1966, como ocorre com nitidez <strong>no</strong> campo da sociologia,<br />

cujos temas estão vinculados à questão <strong>das</strong> mudanças sociais, e da eco<strong>no</strong>mia<br />

política, voltada para a elucidação do problema do desenvolvimento<br />

econômico nacional.<br />

Vista <strong>no</strong> seu conjunto, a configuração temática da disciplina mostra<br />

que os estudiosos se ocuparam basicamente de duas ordens de problemas.<br />

A primeira trata <strong>das</strong> características específicas <strong>das</strong> relações entre governantes<br />

e governados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Para examiná-las, os cientistas políticos<br />

fizeram dois percursos: de um lado, voltaram-se para o passado a fim de<br />

compreender traços do comportamento político tradicional e assim questionar<br />

suas possíveis modificações frente às mudanças que ocorriam <strong>no</strong><br />

país; de outro, registraram e analisaram a atuação de instituições políticas,<br />

focalizando nesses estudos tanto seu aspecto legal como suas bases sociais<br />

e históricas. A segunda delas, diz respeito às ideologias políticas. Nessa<br />

linha de trabalho eles ressaltaram a importância do nacionalismo, sobretudo<br />

o nacionalismo fundamentado <strong>no</strong> desenvolvimento econômico, como<br />

um valor que justificaria medi<strong>das</strong>, decisões e comportamentos políticos <strong>no</strong><br />

período aqui abordado.<br />

Muito embora não seja possível por meio da observação <strong>das</strong> escolhas temáticas<br />

dos cientistas políticos perceber uma problemática central da disciplina,<br />

tais escolhas revelam alguns indícios de que os especialistas buscaram averiguar<br />

as possibilidades de adequação <strong>das</strong> ideologias e <strong>das</strong> instituições políticas<br />

às mudanças socioeconômicas daquele momento. Nesse sentido, são exemplares<br />

os trabalhos que buscam rever os ideais nacionalistas, atribuindo-lhes<br />

129<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

um fundamento socioeconômico, e também aqueles que têm por finalidade<br />

reatualizar o nacionalismo de base geopolítica. Da mesma forma, são igualmente<br />

importantes os estudos que indagam sobre os aspectos legais e sociais<br />

do sistema eleitoral, os trabalhos que sugerem a revisão da política externa, os<br />

textos que questionam o papel <strong>das</strong> Forças arma<strong>das</strong>, as obras que focalizam as<br />

modificações dos meios político-burocráticos ou as vantagens e desvantagens<br />

de formas de gover<strong>no</strong>. Ao mesmo tempo, há as pesquisas de caráter histórico<br />

que procuram compreender as tradições políticas brasileiras.<br />

É possível que a ciência política não se tenha atribuído a tarefa de observar<br />

fatos de uma “<strong>no</strong>va” ordem política – de fato, a redemocratização do país<br />

após 1945 estabeleceu um regime político que já havia existido –, mas teria<br />

buscado acompanhar e refletir sobre as modificações possíveis <strong>das</strong> instituições<br />

políticas sob o prisma <strong>das</strong> transformações socioeconômicas que ocorriam<br />

naquele período histórico.<br />

10. Os temas da geografia humana<br />

No que se refere a sua definição, a geografia humana tem sido objeto de<br />

polêmicas como as demais disciplinas, sendo, portanto, controvertida. Uma<br />

<strong>das</strong> tônicas <strong>das</strong> discussões é a cisão entre geografia física e geografia humana,<br />

que, segundo Camille Vallaux, 63 não teria ocorrido <strong>no</strong>s primórdios do conhecimento<br />

geográfico, quando havia uma só geografia descritiva da superfície<br />

terrestre e da atividade humana nessa mesma superfície. Embora considera<strong>das</strong><br />

partes interliga<strong>das</strong> da unidade que é o conhecimento geográfico, a diferenciação<br />

entre a geografia física e a geografia humana é bastante definida <strong>no</strong><br />

campo da pesquisa.<br />

Não me<strong>no</strong>s discuti<strong>das</strong> foram as relações entre a geografia humana e outras<br />

disciplinas que compõem as ciências sociais, como a história e a sociologia, e<br />

algumas questões duram até hoje. No período examinado por esse trabalho<br />

ainda se discutia uma geografia cujos fenôme<strong>no</strong>s eram regidos por um forte<br />

determinismo geográfico, uma geografia em que o espaço, sua configuração<br />

e sua paisagem eram constantemente trabalhados pelas coletividades, de tal<br />

modo que para compreender como se apresentavam era necessário recorrer<br />

63. Cf. VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New<br />

York: Macmillan, 1948. p. 624.<br />

130<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

também à história, à eco<strong>no</strong>mia, à sociologia. A primeira vertente se originara<br />

na Alemanha, a segunda nascera na França.<br />

A partir do fato de que se buscam nesse trabalho diversas visões, por meio<br />

<strong>das</strong> quais as relações sociais foram conheci<strong>das</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, foram selecionados<br />

somente os trabalhos de geografia humana. Ernst Winkler define a disciplina<br />

como o estudo de um complexo de relações recíprocas entre sociedade e meio<br />

físico (a paisagem, a superfície terrestre). Outras definições de geografia econômica,<br />

geografia social, geografia cultural não contrariam o conceito mais<br />

amplo de Winkler, apenas acentuam um aspecto daquelas relações. 64<br />

A produção da geografia humana registrada em livros nacionais <strong>no</strong> período<br />

abordado é limitada. Apresenta um total de 43 obras, assim distribuí<strong>das</strong>:<br />

Quadro XXV<br />

Obras por tema em geografia humana<br />

1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras 1945<br />

1955<br />

131<br />

1956<br />

1966<br />

Obras sobre a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos 5 3 2<br />

Manuais e introduções 5 2 3<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina 2 - 2<br />

Subtotal 12 5 7<br />

Obras sobre temas específicos<br />

Regiões brasileiras 13 9 4<br />

Meio rural 10 1 9<br />

Condições socioeconômicas 6 3 3<br />

Meio urba<strong>no</strong> 2 - 2<br />

Subtotal 31 13 18<br />

Total 43 18 25<br />

64. Cf. WINKLER, Ernst. Sozialgeographie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft.<br />

Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 9, p. 435; SAUER, Carl. Cultural Geography; SAPPER,<br />

Karl. Eco<strong>no</strong>mic Geography; VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAE-<br />

DIA of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948. p. 621-629.<br />

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10.1 Obras sobre a disciplina<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

No quadro temático é destacado o número de “obras sobre a disciplina”.<br />

Os geógrafos brasileiros que se dedicam, <strong>no</strong> período, ao conhecimento de sua<br />

própria atividade se interessam pela divulgação <strong>das</strong> <strong>no</strong>ções básicas da geografia<br />

humana, sobretudo por seu aspecto econômico. Os problemas teóricos<br />

e metodológicos discutem a utilização prática do conhecimento geográfico,<br />

a problemática <strong>das</strong> cidades na paisagem e aspectos do desenvolvimento da<br />

ciência ao longo do tempo. Dois estudos tratam da especificidade do ensaio<br />

da geografia, mas não se encontra na amostra livro que avalie a produção da<br />

disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

10.2 Obras sobre temas específicos<br />

O estudo <strong>das</strong> regiões brasileiras é, sem dúvida, o mais representativo.<br />

Região é uma categoria consagrada pela geografia. Trata da fixação e<br />

conformação de fenôme<strong>no</strong>s sociais em um espaço físico que se caracteriza<br />

por uma certa unidade interna. Nesse sentido, o conhecimento<br />

<strong>das</strong> regiões brasileiras define uma <strong>das</strong> orientações da geografia humana<br />

<strong>no</strong> período aqui abordado. Alguns trabalhos fazem referência acentuada<br />

às características do povoamento de regiões brasileiras específicas,<br />

voltando-se para o passado com vistas a compreender, <strong>no</strong> presente, as<br />

características da região estudada. Outros textos enfatizam as atividades<br />

agrícolas e industriais ocorri<strong>das</strong> em determina<strong>das</strong> regiões <strong>no</strong> período em<br />

análise. Contudo, não se observa trabalho que questione particularmente<br />

o aspecto da diversidade regional <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. O Sudeste e o Nordeste são<br />

as regiões privilegia<strong>das</strong> <strong>no</strong>s livros.<br />

Outras pesquisas realiza<strong>das</strong> tratam de condições gerais do meio rural e<br />

parte delas aborda especificamente a região Nordeste. De modo geral, tratam<br />

do sistema de propriedade, do nível de vida, da habitação e do transporte<br />

<strong>no</strong> meio rural, referindo-se a maioria delas às repercussões da industrialização<br />

naquele ambiente. Nos limites do quadro temático, chama a atenção a<br />

preocupação dos geógrafos com a questão do meio rural, o que relembra as<br />

escolhas dos sociólogos <strong>no</strong> mesmo período. A categoria “condições socioeconômicas”<br />

privilegia obras de caráter geral que registram as relações <strong>das</strong><br />

atividades humanas com a terra, o meio físico. Nota-se nesse conjunto que a<br />

132<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

região Nordeste merece um lugar de destaque e que os aspectos econômicos<br />

são os mais abordados.<br />

A diferença entre os estudos sobre o meio rural (dez em 43 livros) e sobre<br />

o meio urba<strong>no</strong> (duas em 43 obras) é marcante. Um dos textos sobre o meio<br />

urba<strong>no</strong> destaca a cidade do Recife, enquanto o outro faz uma retrospectiva<br />

<strong>das</strong> vilas e cidades brasileiras <strong>no</strong> período colonial. Reflexão já efetuada sobre<br />

os trabalhos de sociologia cabe também aqui: o <strong>Brasil</strong> era, naquele período,<br />

um país rural demográfica e eco<strong>no</strong>micamente, e esta circunstância parece<br />

refletir-se <strong>no</strong>s conjuntos de trabalhos <strong>das</strong> duas disciplinas.<br />

A julgar pelos temas registrados nas publicações constantes da amostra,<br />

os geógrafos se dedicaram com maior freqüência aos estudos sobre as regiões<br />

brasileiras e sobre o meio rural. No conjunto, destaca-se também seu interesse<br />

na divulgação <strong>das</strong> <strong>no</strong>ções básicas e dos problemas teóricos da própria<br />

disciplina.<br />

É curioso que a produção da geografia humana se tenha voltado de modo<br />

proporcionalmente acentuado (12 em 43 obras) para a reflexão sobre a própria<br />

disciplina, sugerindo com isso uma preocupação desse campo de conhecimento<br />

junto aos demais, embora, <strong>no</strong> entanto, apresente um número comparativamente<br />

restrito de trabalhos de pesquisa.<br />

Em artigo que data de 1945, Caio Prado Junior reclama do descuido quanto<br />

aos estudos geográficos:<br />

Aliás o interesse pela matéria sempre foi aqui muito peque<strong>no</strong>.<br />

Entre outros sintomas estão aí o Instituto Histórico e Geográfico<br />

<strong>Brasil</strong>eiro e seus congêneres provinciais, que apesar do <strong>no</strong>me e de<br />

terem sido quase até este século os únicos institutos <strong>no</strong>minalmente<br />

voltados para a Geografia, nunca se ocuparam seriamente do assunto.<br />

Os estudos geográficos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> não foram assim felizes.<br />

Submetidos a influências pouco progressistas, eles marcaram passo<br />

durante quase um século. E é por isso que ainda hoje o que de melhor<br />

existe sobre a geografia brasileira <strong>no</strong>s vem de fora. 65<br />

Realmente, a fundação, <strong>no</strong> Rio de Janeiro, do Instituto Histórico e Geográfico<br />

<strong>Brasil</strong>eiro data de 1838, e sua revista surge um a<strong>no</strong> depois. Em di-<br />

65. PRADO JR., Caio. Op. cit. 1963. p. 185.<br />

133<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

versas províncias, institutos semelhantes não tardaram a ser fundados, com<br />

suas respectivas revistas. Parecia haver então certo interesse pela matéria.<br />

Na verdade, quando se analisam os artigos dessas revistas verifica-se a predominância<br />

dos temas de história, antropologia e outras disciplinas, ficando<br />

a geografia (embora figure <strong>no</strong> título) relegada a segundo pla<strong>no</strong>. A observação<br />

de Caio Prado Junior é inteiramente justa.<br />

Acresce que somente cem a<strong>no</strong>s depois, em 1938, foi criado o Instituto<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, demonstrando que o interesse teria então<br />

sido despertado. Porém, a pouca quantidade de publicações encontrada<br />

na <strong>Biblioteca</strong> Nacional revela uma limitação da curiosidade pela disciplina e<br />

coincide com a observação de Caio Prado Junior.<br />

O Conselho Nacional de Geografia – órgão criado em 1937 e incorporado<br />

ao IBGE em 1938, que desenvolveu importantes atividades <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

1950 – tinha como objetivo “reunir, coordenar e promover a articulação de<br />

Serviços Oficiais, Instituições Particulares e dos profissionais que se ocupem<br />

da Geografia do <strong>Brasil</strong>”, com a finalidade precípua de atender às deman<strong>das</strong><br />

da administração pública, ainda que promovesse também estudos<br />

de base, desvinculados de interesses práticos imediatos. 66<br />

As escolhas temáticas mostram a tendência da geografia humana em<br />

focalizar as condições socioeconômicas em geral, o que a aproxima da sociologia<br />

e da eco<strong>no</strong>mia política, mostrando a influência da vertente francesa<br />

de estudos. Poder-se-ia ainda indagar em que medida o ponto de vista geográfico<br />

teria podido atender às deman<strong>das</strong> de explicação e compreensão <strong>das</strong><br />

mudanças sociais que ocorriam naquele momento e que tanto chamaram a<br />

atenção, porém não há dados para uma resposta.<br />

O crescimento do número de obras <strong>no</strong> campo da geografia humana não é<br />

destacado. Embora os geógrafos tenham se dedicado ao estudo sobre sua disciplina,<br />

essa linha de investigação não foi intensificada. Note-se, todavia, que<br />

aparecem na segunda fase trabalhos sobre o ensi<strong>no</strong> da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

No que respeita aos problemas brasileiros abordados, foram privilegiados<br />

os estudos sobre as regiões do país <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955, mas <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

subseqüentes o número desses trabalhos decresceu, elevando-se em compensação<br />

o total de textos sobre o meio rural. As pesquisas de caráter mais geral,<br />

como aquelas sobre as condições socioeconômicas do país, na perspectiva da<br />

66. Ver PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A Geografia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. In: AZEVEDO, Fernando de<br />

(Org.). As ciências <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1956. cap. VII, p. 402-405.<br />

134<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

geografia, não sofreram alterações. Somente <strong>no</strong> conjunto de obras publica<strong>das</strong><br />

<strong>no</strong> período entre 1956 e 1966 figuram livros sobre o meio urba<strong>no</strong>.<br />

Ainda que a produção da geografia humana não tenha aumentado como a<br />

de outras áreas <strong>das</strong> ciências sociais, <strong>no</strong> período abordado, a análise dos dados<br />

sugere que nesse campo do saber houve alguma modificação <strong>das</strong> linhas temáticas.<br />

O empenho em investigar problemas relativos ao meio rural e também, ainda<br />

que discretamente, ao meio urba<strong>no</strong> parece fazer surgir <strong>no</strong>vas orientações.<br />

10.3 Conclusão<br />

As observações de Caio Prado Junior, formula<strong>das</strong> em 1945, e a pequena<br />

quantidade de pesquisas sobre o meio geográfico nacional, observada <strong>no</strong>s<br />

trabalhos da amostra, revelam que a disciplina permanecera, <strong>no</strong> país, ligada<br />

à sua antiga feição descritiva e enumerativa. Com efeito, a presença na Universidade<br />

de São Paulo dos geógrafos Pierre Deffontaines, primeiramente, e<br />

Pierre Monbeig, em seguida, desencadeou verdadeiras expedições de geografia<br />

humana, implantando profundamente a pesquisa na disciplina. No Rio de<br />

Janeiro, o mesmo ocorria sob a influência de Francis Ruellan e Leo Waibel,<br />

<strong>no</strong> âmbito do IBGE. 67 Mas os resultados ainda não aparecem com freqüência<br />

na amostra. Que obstáculos editoriais estariam dificultando publicações que<br />

incluiriam forçosamente quantidade de mapas e gráficos?<br />

11. Os temas da demografia<br />

A demografia é o estudo quantitativo <strong>das</strong> populações humanas. Busca<br />

medir e conhecer certas uniformidades <strong>no</strong>s processos huma<strong>no</strong>s básicos do<br />

crescimento populacional, dos movimentos da população, do nascimento e<br />

da morte. Segundo Kirk Dudley, a demografia faz uma ponte entre as ciências<br />

sociais e as biológicas ao tratar <strong>das</strong> configurações biológicas <strong>das</strong> populações<br />

do ponto de vista socioeconômico. 68<br />

67. Cf. relatório de pesquisa de Jorge Morrot Hemerly Os geógrafos, o Estado e a Universidade;<br />

aspectos da produção da Geografia <strong>no</strong> Rio de Janeiro (1945-1964), agosto de 1991. Núcleo de<br />

Pesquisa em Sociologia da Cultura/LPS, UFRJ.<br />

68. DUDLEY, Kirk. Population. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New<br />

York: Macmillan, 1968.<br />

135<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

O trabalho do inglês Jonh Graunt, Natural and political observations upon the<br />

bills of mortality, de 1662, e o tratado sobre “aritméticas políticas”, de 1670, de<br />

Graunt e William Petty, são considerados marcos iniciais dos estudos demográficos,<br />

na medida em que observam acontecimentos constantes da vida <strong>das</strong><br />

populações e relacionam fatos biológicos e sociais. A obra de Thomas Robert<br />

Malthus, principalmente o seu polêmico Essay on the Principle of Population,<br />

publicado em 1798, estabelece as bases da disciplina <strong>no</strong> campo científico ao<br />

tentar formular as leis <strong>das</strong> condições de existência da população. No entanto,<br />

foi realmente o belga Quételet quem, em 1836, deu forma à demografia, efetuando<br />

pesquisas sobre nupcialidade, criminalidade, suicídio, além de natalidade<br />

e mortalidade que já vinham sendo estuda<strong>das</strong> antes dele.<br />

O campo específico da demografia, portanto, surge, expande-se e cresce<br />

<strong>no</strong> contexto histórico <strong>das</strong> mudanças socioeconômicas que levam à constituição<br />

da sociedade moderna. Ela enfrenta particularmente problemas decorrentes<br />

da explosão demográfica como causas do aumento e diminuição<br />

de população <strong>no</strong>s países desenvolvidos e não desenvolvidos, planejamento<br />

familiar e controle da natalidade.<br />

Característica importante da demografia é seu entrelaçamento com outras<br />

disciplinas, sobretudo com a sociologia e a eco<strong>no</strong>mia política. Esse traço é<br />

ressaltado por Karl Martin Bolk e Gehardt Mackenroth 69 quando mostram<br />

que as relações quantitativas entre mortalidade, natalidade, casamento e família,<br />

por exemplo, só são compreendi<strong>das</strong> dentro de um contexto histórico e<br />

social. Diga-se, entretanto, que a ligação da demografia com outras disciplinas<br />

é objeto de numerosas controvérsias e, como se verifica <strong>no</strong> artigo de Fernand<br />

Braudel, “A demografia e as dimensões da ciência do homem”, pode se tornar<br />

motivo para que se lhe atribua o papel de simples disciplina auxiliar. 70<br />

Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz, 71 logo após a criação da Faculdade<br />

de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de São Paulo e da<br />

Escola de Sociologia e Política, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1930, houve naquela cidade um<br />

aumento <strong>no</strong>tável de pesquisas de abordagem demográfica sobre populações<br />

brasileiras que, num primeiro momento, estavam volta<strong>das</strong> eminentemente<br />

para a solução de problemas práticos. Nas déca<strong>das</strong> de 1940 e 1950, segundo<br />

69. BOLK, Karl Martin; MACKENROTH, Gehardt. Bevölkerung. In: HANDWÖRTERBUCH<br />

der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 2. p. 153-154.<br />

70. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 177-215. (Debates).<br />

71. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia demográfica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. In: ___ (Coord.). Introdução<br />

ao estudo da sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: IEB/USP, 1971. p. 34-37.<br />

136<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

a autora, as pesquisas adquirem um caráter mais desinteressado, e <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

1960 voltam a ser <strong>no</strong>rtea<strong>das</strong> por objetivos práticos. No Rio de Janeiro, a<br />

partir dos a<strong>no</strong>s 1940, destacou-se a contribuição do demógrafo de origem<br />

italiana Giorgio Mortara.<br />

Na amostra, são 23 os livros que definem a demografia:<br />

Quadro XXVI<br />

Obras por tema em demografia: 1945-55 e 1956-66<br />

Temas Obras<br />

Obras sobre a disciplina<br />

137<br />

1945<br />

1955<br />

1956<br />

1966<br />

Problemas teórico-metodológicos 3 2 1<br />

Subtotal 3 2 1<br />

Obras sobre temas específicos<br />

Condições socioeconômicas da 10 3 7<br />

população<br />

Mortalidade 4 4 -<br />

Crescimento da população urbana 3 - 3<br />

Padrão de vida <strong>no</strong> meio rural 3 1 2<br />

Subtotal 20 8 12<br />

Total 23 10 13<br />

11.1 Obras sobre a disciplina<br />

Os três livros sobre demografia explicitam questões teóricas relevantes,<br />

referindo-se dois deles a elementos constitutivos da análise da população,<br />

como distribuição da população, crescimento, migração, natalidade, equilíbrio<br />

dos sexos; uma outra obra discute os instrumentos teóricos e metodológicos<br />

próprios da disciplina para a análise do crescimento urba<strong>no</strong>.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

11.2 Obras sobre temas específicos<br />

O quadro XXVI mostra que a demografia priorizou a pesquisa <strong>das</strong> condições<br />

socioeconômicas da população brasileira, integrando-se dessa forma<br />

ao rol <strong>das</strong> disciplinas que, naquele período, voltaram sua atenção para essa<br />

ordem de problemas. No conjunto <strong>das</strong> pesquisas demográficas sobre as condições<br />

socioeconômicas da população distinguem-se as seguintes maneiras de<br />

abordar o problema: dos dez estudos, cinco procuram relacionar as condições<br />

de crescimento, a distribuição de contingentes populacionais e as condições<br />

socioeconômicas; duas obras têm como horizonte de observação o estado da<br />

Bahia e um livro trata da região amazônica. Os outros cinco textos focalizam<br />

o mesmo problema, mas <strong>no</strong>ta-se neles ênfase especial às características do povoamento<br />

e da colonização <strong>das</strong> regiões examina<strong>das</strong>, bem como às correntes<br />

de migração externa.<br />

A mortalidade chamou a atenção dos demógrafos. Talvez os problemas<br />

de saúde que desde cedo preocuparam médicos e cientistas do país estejam<br />

na base dessas pesquisas, enquanto se <strong>no</strong>ta que os trabalhos sobre natalidade<br />

são inexistentes.<br />

Observa-se ainda que as preocupações com o meio urba<strong>no</strong> e o meio rural<br />

levaram à publicação de três obras em cada caso, mas os temas são diversos. O<br />

crescimento da população urbana motivou três estudos. Um dos textos registra<br />

características da população concentrada nas capitais brasileiras <strong>no</strong> início<br />

dos a<strong>no</strong>s 1950, os demais examinam aspectos da população <strong>das</strong> cidades do<br />

Recife e do Rio de Janeiro. É bom lembrar que, naquele período, registrava-se<br />

tanto um aumento da população, quanto um movimento progressivo <strong>das</strong> populações<br />

rurais para os centros urba<strong>no</strong>s – em 1950, dos 51.944.000 habitantes,<br />

63,81% viviam <strong>no</strong> campo, enquanto em 1960 aquele percentual diminui<br />

para 55,23% dos 70.090.000 habitantes.<br />

Com relação aos estudos sobre o meio rural, o padrão de vida foi o seu foco<br />

e as condições pe<strong>no</strong>sas de existência dos habitantes motivaram, sem dúvida, as<br />

pesquisas. Dos três trabalhos constantes da amostra, um examina o padrão de<br />

vida da população do estado da Bahia, um segundo tem como finalidade conhecer<br />

exclusivamente o padrão de vida do trabalhador rural da Zona da Mata, e o terceiro,<br />

além de discutir as metodologias utiliza<strong>das</strong> em pesquisas de padrão de vida <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, enumera as análises feitas em municípios rurais.<br />

Como se vê <strong>no</strong> quadro XXVI, o reduzido grau de interesse pelas “obras<br />

sobre a disciplina” não se alterou ao longo daqueles a<strong>no</strong>s. Porém, o conjunto<br />

de “obras sobre temas específicos” revela algumas modificações nesse campo<br />

138<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

do saber. Os estudos sobre as “condições socioeconômicas” de populações<br />

brasileiras se elevam; as pesquisas sobre “mortalidade” figuram apenas <strong>no</strong><br />

primeiro período, desaparecendo em seguida. O “crescimento da população<br />

urbana” passou a figurar na segunda fase.<br />

A julgar pelos livros publicados e constantes da amostra examinada, a produção<br />

de conhecimento nessa área manteve sem grandes alterações sua posição<br />

discreta. Entretanto, a demografia mostra, por meio de modificações nas<br />

suas linhas temáticas, que o grupo de seus especialistas apresentou vitalidade<br />

suficiente para intensificar o estudo de certos assuntos e formular problemas<br />

que resultaram <strong>no</strong> surgimento de <strong>no</strong>vas linhas de pesquisa.<br />

11.3 Conclusão<br />

O número de publicações sobre demografia constantes da amostra é reduzido,<br />

comparativamente às demais disciplinas analisa<strong>das</strong> (23 em 872 obras,<br />

isto é, 2,63% delas). Quanto ao interesse pelos estudos demográficos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

naquele período, leve-se em conta, <strong>no</strong> seu conjunto, duas características dessa<br />

disciplina: a inexistência de cursos específicos de formação de demógrafos<br />

nas universidades, o que exigia dos interessados um esforço duplo para a aquisição<br />

de conhecimentos específicos da matéria, após formação em campo de<br />

conhecimento próximo à demografia; e a controvertida identidade cognitiva<br />

da disciplina, vinculada com freqüência à matemática e à estatística, às ciências<br />

médicas e biológicas, ou à sociologia e à eco<strong>no</strong>mia política. Se admitirmos<br />

que esses fatores possam ter ocasionado dificuldades para o desenvolvimento<br />

desse campo do conhecimento, as obras seleciona<strong>das</strong> na <strong>Biblioteca</strong> Nacional,<br />

embora em número limitado, sem dúvida traduzem certo interesse pelo conhecimento<br />

sistemático da população brasileira.<br />

139<br />

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As características da produção <strong>das</strong> ciências sociais em livros publicados <strong>no</strong><br />

período de 1945 a 1966, apresenta<strong>das</strong> <strong>no</strong> capítulo anterior, podem ser agora<br />

aprecia<strong>das</strong> em seus vínculos com o contexto histórico e social dos a<strong>no</strong>s de<br />

1945 a 1966, cujas especificidades delineiam-se a seguir.<br />

Os a<strong>no</strong>s que vão de 1945 a 1966 assinalam na história política do país o<br />

regime democrático de gover<strong>no</strong> que se seguiu ao térmi<strong>no</strong> do Estado Novo,<br />

após a deposição do presidente Getulio Dornelles Vargas, em 29 de outubro<br />

de 1945, e se manteve entre crises e tensões até o golpe de estado que, em<br />

primeiro de abril de 1964, estabeleceu o gover<strong>no</strong> militar, sob a chefia do Marechal<br />

Humberto de Alencar Castello Branco.<br />

Se as datas delimitam importante período de ordem democrática, intercalado<br />

entre dois regimes autoritários de gover<strong>no</strong>, os decênios transcorridos<br />

entre elas se caracterizam, sobretudo, pelas mudanças econômicas<br />

associa<strong>das</strong> à implantação definitiva do capitalismo industrial <strong>no</strong> país.<br />

O processo de modificação da estrutura da eco<strong>no</strong>mia nacional vinha<br />

ocorrendo desde 1930. Porém, há um alto grau de consenso entre os<br />

estudiosos 1 de que, a partir do período que vai de 1955 a 1966, as estratégias<br />

de financiamento da industrialização adota<strong>das</strong> pelos governantes,<br />

privilegiando em larga medida o capital estrangeiro e incentivando particularmente<br />

o setor de bens de consumo duráveis, levaram à consolidação<br />

do capitalismo industrial.<br />

1. A esse respeito ver COHN, Gabriel. Problemas da industrialização <strong>no</strong> século<br />

XX. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). <strong>Brasil</strong> em perspectiva. São Paulo:<br />

Difel, 1969; MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e eco<strong>no</strong>mia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:<br />

opções de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. 39-59; OLIVEI-<br />

RA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Padrões de acumulação,<br />

oligopólios e Estado <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: 1950-1976. In: MARTINS, Carlos Estevam<br />

(Org.). Estado e capitalismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Hucitec / CEBRAP, 1977.<br />

141<br />

III<br />

Os An O s d e 1945 A 1966<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Na realidade, os rumos tomados pela industrialização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, naqueles<br />

a<strong>no</strong>s, estiveram estreitamente relacionados com os pla<strong>no</strong>s e as medi<strong>das</strong> políticas<br />

dos diferentes gover<strong>no</strong>s democráticos. Dessa forma, também sofreram<br />

as influências da “política de massas” aplicada pelos governantes, que ora se<br />

sensibilizavam com as pressões populares, ora buscavam controlar os movimentos<br />

reivindicatórios de diversos setores e grupos sociais. As transformações<br />

econômicas daquele período e suas repercussões na sociedade brasileira<br />

estiveram de tal modo liga<strong>das</strong> à política levada a cabo pelas autoridades, que<br />

não seria possível, senão para efeito de análise, distinguir as características<br />

entre a industrialização e a intervenção governamental <strong>no</strong> setor econômico,<br />

que se estabeleceu e tomou vulto naquela época.<br />

O desenvolvimento industrial em ritmo acelerado repercutiu em diversos<br />

setores da sociedade. A industrialização se constituiu, naquele período, em<br />

um núcleo dinâmico que possibilitava uma constelação de mudanças, seja <strong>no</strong><br />

perfil demográfico, seja na estratificação social, seja nas instituições políticas,<br />

ou <strong>no</strong>s hábitos e modos de pensar de grupos sociais.<br />

Particularmente, junto aos meios culturais e intelectuais, as mudanças geraram<br />

expectativas relativas às possibilidades efetivas de modernização do país,<br />

o que levou grupos daqueles setores não só a debates e polêmicas, como a<br />

iniciativas relevantes que vieram realmente modificar a feição da vida cultural<br />

e intelectual brasileira, <strong>no</strong> tocante a suas instituições, produção e divulgação<br />

de bens culturais e intelectuais.<br />

Este capítulo tem como objetivo, portanto, delinear aspectos característicos<br />

daqueles a<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s quais, como já se viu, houve um aumento da produção<br />

de estudos em ciências sociais. Inicialmente, são destacados traços gerais do<br />

período entre 1945 e 1966; posteriormente, as modificações ocorri<strong>das</strong> <strong>no</strong>s<br />

meios culturais relativas aos investimentos feitos na área de divulgação da<br />

produção cultural; há referência também à efervescência que tomou conta<br />

de grupos vinculados à produção artística e literária; e, finalmente, são ressaltados<br />

o desenvolvimento do sistema universitário, as lutas estudantis e as<br />

iniciativas da comunidade acadêmico-científica.<br />

1. Características gerais<br />

De 1945 a 1966 a população brasileira cresceu de 46.177.000 para 79.837.000<br />

habitantes. Se forem observados os censos demográficos de 1940 a 1960, vê-se<br />

que o aumento da população foi mais acentuado na década de 1950:<br />

142<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Quadro I<br />

<strong>Brasil</strong>: população residente (1940-1960)<br />

Temas População<br />

1940 41.236.315<br />

1950 51.944.397<br />

1960 70.090.457<br />

Fonte: Estatísticas históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográcas e sociais,<br />

1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.<br />

No decênio de 1940 a 1950, o número de habitantes aumentou 25,96%,<br />

mas <strong>no</strong> período seguinte o acréscimo foi de 34,90%. O significativo aumento<br />

da população ocorreu na época em que o crescimento econômico alcançava<br />

suas taxas mais eleva<strong>das</strong>, chegando à média anual de 7% entre 1957 e 1961. 2<br />

Entretanto, o crescimento da população se intensificou e concentrou-se nas<br />

regiões Nordeste e Sudeste do país, acentuando as desigualdades já existentes entre<br />

as áreas de maior e me<strong>no</strong>r densidade demográfica, como mostra o quadro II.<br />

Quadro II<br />

<strong>Brasil</strong>: população residente por região (1940 – 1960)<br />

Região 1940 1950 1960<br />

Norte 1.462.420 1.844.655 2.561.782<br />

Nordeste 14.434.080 17.973.413 22.181.880<br />

Sudeste 18.345.831 22.548.494 30.630.728<br />

Sul 5.735.305 7.840.870 11.753.075<br />

Centro-Oeste 1.258.679 1.736.965 2.942.922<br />

Fonte: Estatísticas históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográficas e sociais,<br />

1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.<br />

2. Ver FURTADO, Celso. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964. p.102.<br />

143<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

As regiões rarefeitas do Norte e do Centro-Oeste contrastam com as regiões<br />

Nordeste e Sudeste, que concentram a maior parte da população brasileira.<br />

O número de habitantes do Sul corresponde a me<strong>no</strong>s da metade <strong>das</strong><br />

regiões mais povoa<strong>das</strong> e, <strong>no</strong> entanto, supera em muito o <strong>das</strong> regiões Norte e<br />

Centro-Oeste. No Sudeste, área em que se localizavam os “pólos” mais importantes<br />

da industrialização, a taxa de crescimento é a mais destacada entre<br />

os a<strong>no</strong>s de 1950 e 1960.<br />

Contudo, os dados disponíveis, <strong>no</strong> quadro III mostram que até os a<strong>no</strong>s<br />

1960, a maior parte da população ainda habitava o meio rural.<br />

Quadro III<br />

Distribuição da população<br />

(1940 – 1960)<br />

A<strong>no</strong> População rural População urbana<br />

1940 28.356.133 12.880.183<br />

1950 33.161.506 18.782.891<br />

1960 38.767. 423 31.302.934<br />

Fonte: Estatísticas históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográficas e sociais,<br />

1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.<br />

Com efeito, ambos os contingentes da população urbana e rural cresceram<br />

naqueles a<strong>no</strong>s. Porém, o aumento <strong>das</strong> coletividades que se estabeleceram <strong>no</strong><br />

meio urba<strong>no</strong> aconteceu de forma mais rápida do que <strong>no</strong> meio rural, principalmente<br />

a partir dos a<strong>no</strong>s 1950, modificando assim o perfil da população<br />

brasileira, ao constituir um numeroso agrupamento urba<strong>no</strong>, concentrado em<br />

áreas que ofereciam maiores atrativos para a força de trabalho.<br />

O caso da cidade de Volta Redonda, <strong>no</strong> estado do Rio de Janeiro, ilustra<br />

bem a concentração da população em localidades mais prósperas. Segundo<br />

Regina Lúcia de Moraes Morel, 3 “na década de 50, Volta Redonda se converte<br />

3. Cf. MOREL, Regina Lúcia de Moraes. A ferro e fogo: construção e crise na família siderúrgica<br />

(1941 – 1968). Tese de doutoramento em sociologia. Universidade de São Paulo, São Paulo,<br />

144<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

num pólo de atração do fluxo migratório para o Estado do Rio de Janeiro,<br />

devido não só à criação da CSN, mas também devido à expansão de outras<br />

indústrias e do setor de serviços. Em 1940, pouco antes da chegada da Companhia<br />

Siderúrgica Nacional, a população da localidade era de 2.782 habitantes;<br />

já na década seguinte esta cifra chegava a 35.964 e, em 1960, a 88.740.”<br />

De acordo com a autora, a migração foi o principal fator responsável pelo<br />

crescimento de 146% da população da cidade entre os a<strong>no</strong>s 1950 e 1960 –<br />

taxa três vezes mais elevada do que aquela correspondente ao crescimento da<br />

população em nível nacional <strong>no</strong> mesmo período.<br />

Convém lembrar, entretanto, que cidades não industrializa<strong>das</strong>, como Recife<br />

<strong>no</strong> Nordeste, também receberam levas de migrantes que, com mais freqüência,<br />

vinham de pequenas cidades da região e jamais haviam se dedicado a<br />

atividades agrícolas, como revela Levy Cruz em pesquisa sobre os problemas<br />

migratórios naquela região. 4 A par disso, referindo-se ao período entre 1950<br />

e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta que “o êxodo <strong>das</strong> cama<strong>das</strong><br />

inferiores da população tem sido freqüentemente estudado; porém a mobilidade<br />

espacial <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias e superiores, que também não é para desdenhar,<br />

não mereceu até hoje atenção”. 5<br />

O aumento da população urbana se fazia realmente de modo bastante<br />

desequilibrado. Em 1960, na região Sudeste, por exemplo, uma população<br />

urbana estimada em 17.460.897 habitantes já superava aquela do meio rural,<br />

de apenas 13.169.831 pessoas, enquanto as demais regiões permaneciam com<br />

a maioria de seus moradores <strong>no</strong> meio rural. Entre os estados da Federação, o<br />

que mais chama a atenção é o Rio de Janeiro – possivelmente porque nele se<br />

localizasse a capital do país até 1960 –, pelo fato de que em 1940 sua população<br />

urbana, em tor<strong>no</strong> de 2.212.211 habitantes, representava quase o dobro de<br />

sua população rural, que contava então com 1.399.687 residentes. Em 1960,<br />

a população urbana do estado do Rio de Janeiro atingia a cifra de 5.214.809<br />

moradores, enquanto o contingente que residia <strong>no</strong> meio rural diminuíra para<br />

1.395.939 habitantes. No estado de São Paulo, em 1960, a população urbana<br />

de 8.019.743 pessoas supera em muito a população rural que somava<br />

4.789.488 habitantes. Ao invés disso, um estado como Minas Gerais, sujeito<br />

1989. p. 241-242.<br />

4 Cf. CRUZ, Levy. As migrações para o Recife – IV (Caracterização Social). Recife: Instituto Joaquim<br />

Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong> / Ministério da Educação e Cultura, 1961. p. 58-69.<br />

5 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Classes sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: 1950 – 1960. In: ___. Cultura,<br />

sociedade rural, sociedade urbana <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo:<br />

EDUSP, 1978. p. 98.<br />

145<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

a constante êxodo de seus habitantes, sobretudo para as frentes pioneiras de<br />

expansão agrícola, apresenta uma população urbana estimada em 3.847.601<br />

pessoas, em 1960, que correspondia quase à metade de sua população rural de<br />

6.064.906 residentes. Esses exemplos 6 demonstram que o crescimento total<br />

da população, com suas particularidades <strong>no</strong>s meios rural e urba<strong>no</strong>, se dava<br />

de modo extremamente desigual, entre as cidades, os estados da Federação e as<br />

regiões do país.<br />

Os dados relativos à ocupação da população eco<strong>no</strong>micamente ativa em<br />

atividades agrícolas e não-agrícolas confirmam, ao lado <strong>das</strong> cifras sobre as<br />

populações rural e urbana, a predominância do meio rural até os a<strong>no</strong>s 1960;<br />

ao mesmo tempo, demonstram que as mudanças se operavam <strong>no</strong> sentido do<br />

crescimento e da expansão do meio urba<strong>no</strong>, sobretudo a partir dos a<strong>no</strong>s 1950.<br />

Observe-se o quadro IV, a seguir:<br />

Quadro IV<br />

<strong>Brasil</strong>: população eco<strong>no</strong>micamente ativa (1000 pessoas)<br />

(1940/1960)<br />

A<strong>no</strong> Atividades agrícolas Atividades não-agrícolas<br />

1940 9.844.2 4.914.3<br />

1950 10.369.9 6.747.5<br />

1960 12.408.3 10.341.8<br />

Fonte: Estatísticas Históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográficas e sociais,<br />

1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.<br />

Nos dados do IBGE, a categoria atividades agrícolas inclui as atividades<br />

volta<strong>das</strong> para a agricultura, pecuária, extração vegetal, caça e pesca; a categoria<br />

atividades não-agrícolas compreende ocupações liga<strong>das</strong> às indústrias de transformação,<br />

construção, comércio, bancos e finanças. As cifras indicam que a<br />

6 As cifras menciona<strong>das</strong> se encontram nas seguintes fontes: ESTATíSTICAS históricas do <strong>Brasil</strong>:<br />

séries econômicas, demográficas e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990;<br />

CENSO Demográfico 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1965.<br />

146<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

maior parte da força de trabalho ocupava-se de atividades agrícolas até os<br />

a<strong>no</strong>s 1960. No entanto, deixam claro também que o contingente da população<br />

ativa responsável pelas atividades agrícolas pouco se altera em comparação<br />

com o número cada vez mais elevado de indivíduos ocupados com atividades<br />

não-agrícolas.<br />

Outro fato importante relativo à população brasileira, naquele período,<br />

foram as migrações internas. Mencionando os casos específicos de Volta Redonda<br />

e Recife, vimos como muitos indivíduos deixaram seu local de origem<br />

na esperança de melhorar suas condições de vida, interferindo decisivamente<br />

<strong>no</strong> crescimento e na concentração da população <strong>das</strong> localidades para as quais<br />

se dirigiram.<br />

A mobilidade espacial de grupos huma<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> vinha apresentando<br />

sinais de intensificação desde os a<strong>no</strong>s 1930, mas o movimento aumentou depois<br />

da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Analisando os fluxos migratórios<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1950, Juarez Brandão Lopes diz que “o mais volumoso origina-se<br />

de Minas Gerais, da Bahia e dos Estados Nordesti<strong>no</strong>s para São Paulo, Rio de<br />

Janeiro (inclusive a Capital Federal) e Paraná. Outros fluxos me<strong>no</strong>res constituem-se<br />

de populações em demanda do Maranhão, provindos do Piauí e do<br />

Ceará, e do Rio Grande do Sul para Santa Catarina e Paraná”. 7<br />

Segundo o autor, as zonas pioneiras de expansão agrícola que mais se<br />

destacaram foram o <strong>no</strong>rdeste do Paraná, incluindo o sul do Mato Grosso e de<br />

Goiás, para onde se estima tenham se dirigido dois milhões de pessoas, entre<br />

1950 e 1960, devido à expansão do café; o sudoeste do Paraná e pequenas<br />

áreas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde predominava a pequena<br />

agricultura diversificada, que atraiu cerca de meio milhão; e a região central do<br />

Maranhão, que teria mobilizado cerca de 600 mil pessoas. 8<br />

O deslocamento de grupos huma<strong>no</strong>s ocorria, portanto, naquela época,<br />

dentro do próprio meio rural, ou dele em direção às cidades, sendo este o fluxo<br />

mais volumoso; verificava-se também o êxodo de habitantes de pequenas<br />

cidades para os centros urba<strong>no</strong>s. Os fatores que provocaram a mobilidade<br />

espacial de tantos indivíduos são de ordem diversa. Certamente, o desenvolvimento<br />

industrial atraiu contingentes da população, principalmente para as<br />

áreas do Sudeste, que concentravam seus núcleos mais dinâmicos. Contudo,<br />

7. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social. 5 ed. São Paulo: Nacional,<br />

1980. p. 50.<br />

8. Ibidem, p. 52.<br />

147<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

o movimento de populações foi motivado também pelas más condições de<br />

trabalho <strong>no</strong> campo, pelos baixos salários dos trabalhadores rurais, pelas secas,<br />

pela falta de terras etc. E também pelo desejo de indivíduos de cama<strong>das</strong> médias,<br />

que viviam em cidades de peque<strong>no</strong> porte, de melhorar suas condições<br />

de existência. Some-se a isso o fato de que, sobretudo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1950, foram<br />

cria<strong>das</strong> melhores condições para esses fluxos migratórios, quando se construiu<br />

uma importante rede de rodovias e transportes, diminuindo as distâncias<br />

entre as longínquas regiões do país.<br />

Os dados e exemplos mencionados acima indicam que <strong>no</strong> período de 1945<br />

a 1966 o perfil demográfico da população brasileira se modificava. O número<br />

de habitantes crescia de modo significativo. Até os a<strong>no</strong>s 1960 (a maior<br />

parte do período focalizado nesse trabalho), a maioria da população ainda<br />

habitava o meio rural e grande parte dos indivíduos eco<strong>no</strong>micamente ativos<br />

se dedicava a atividades agrícolas. No entanto, uma importante mudança se<br />

operava, especialmente a partir dos a<strong>no</strong>s 1950, <strong>no</strong> sentido do crescimento da<br />

população urbana e aumento <strong>das</strong> ocupações não-agrícolas. Diversos grupos<br />

huma<strong>no</strong>s que habitavam o meio rural deixaram seu local de origem e partiram<br />

para outras localidades, principalmente para o Sudeste do país, à procura de<br />

melhores condições de vida. As mudanças, como já se analisou, aconteciam<br />

de modo bastante desigual entre as cidades, os estados da Federação e as regiões<br />

brasileiras, sendo esta talvez uma de suas características mais relevantes.<br />

As migrações e o crescimento da população urbana se intensificaram nas<br />

déca<strong>das</strong> de 1950 e 1960, justamente quando as transformações econômicas<br />

tomaram maior vulto, havendo portanto uma correspondência entre as modificações<br />

que ocorreram nesses dois setores. No decorrer daqueles a<strong>no</strong>s, mais<br />

precisamente a partir de 1955, a tomada de <strong>no</strong>vas medi<strong>das</strong> governamentais,<br />

visando a fortalecer a eco<strong>no</strong>mia, levarão a um grande incremento do processo<br />

de industrialização.<br />

Estudiosos da história econômica desse período costumam distinguir duas<br />

“fases” do processo de implantação do capitalismo industrial <strong>no</strong> país. A primeira<br />

delas se estende de 1930 a 1954; a segunda começa em 1955 e, apesar<br />

<strong>das</strong> crises que se iniciam em 1961, suas características básicas teriam permanecido<br />

ao me<strong>no</strong>s até 1976, o que extrapola o intervalo abordado nesse estudo.<br />

No período entre 1930 e 1954 (que inclui o gover<strong>no</strong> de Getulio Vargas, de<br />

1930 a 1945, o gover<strong>no</strong> democrático do Mal. Eurico Gaspar Dutra, de 1946<br />

a 1950, e o segundo de Getulio Vargas, de 1951 a 1954), os esforços gover-<br />

148<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

namentais estiveram voltados para a acumulação de capitais indispensáveis<br />

para a industrialização do país, ainda que, de acordo com Sônia Mendonça, 9<br />

não mostrassem um propósito nitidamente “industrialista”. A crise de 1929<br />

e, logo a seguir, a Segunda Guerra Mundial restringiram as importações brasileiras<br />

e favoreceram uma política econômica que, em linhas gerais, buscava<br />

repassar o excedente do setor agroexportador para o setor industrial, através<br />

de mecanismos cambiais, a fim de obter financiamento exter<strong>no</strong>. Prevalecia,<br />

então, o interesse em manter sob o controle do Estado os setores básicos da<br />

indústria. Daí, surgem os projetos e a criação de grandes empresas estatais<br />

como a Cia. Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Cia. Vale do Rio Doce, a<br />

Cia. Nacional de Álcalis etc. Outra característica <strong>das</strong> medi<strong>das</strong> governamentais,<br />

segundo Francisco de Oliveira e Frederico Mazzucchelli, “residia numa contenção<br />

relativa do salário real dos trabalhadores, atenuada pela função que se<br />

assinava às empresas do Estado: produzir certos bens e, sobretudo, serviços<br />

abaixo do custo, transferindo em parte, por essa forma, poder de compra para<br />

os assalariados”. 10<br />

A segunda fase do processo de industrialização inicia-se sob a presidência<br />

de João Café Filho (1954/1955), e atinge seu ápice durante o gover<strong>no</strong> de Jusceli<strong>no</strong><br />

Kubitschek de Oliveira (1956/1960), entrando em crise logo a seguir,<br />

durante os gover<strong>no</strong>s de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961/1964).<br />

Nesse período, os centros capitalistas, refeitos dos pla<strong>no</strong>s de reconstrução do<br />

pós-guerra, adquiriram um grau de estabilidade econômica que os levava a<br />

buscar <strong>no</strong>vas oportunidades lucrativas de exportação de capitais. Entre outros<br />

fatores, o <strong>no</strong>vo contexto econômico internacional veio a influir na política<br />

econômica brasileira. A partir de 1955, o Estado redefine suas regras com<br />

vistas à industrialização. Em primeiro lugar, a <strong>no</strong>va política permite que se<br />

recorra abertamente ao capital estrangeiro, sob forma de investimento direto,<br />

de capital de risco. Naquele a<strong>no</strong>, ficou famosa a “instrução 113” da SUMOC<br />

– Superintendência da Moeda e do Crédito, que liberou os investimentos diretos<br />

de empresas estrangeiras. Ao mesmo tempo, a inflação passou a ser, por<br />

excelência, a forma de financiamento inter<strong>no</strong> do crescimento econômico, não<br />

havendo nenhum interesse dos diversos gover<strong>no</strong>s em tomar medi<strong>das</strong> fiscais<br />

ou cambiais redistributivas que atingissem as classes proprietárias e seus lucros.<br />

A segunda característica importante da política econômica, levada a cabo<br />

a partir de 1955, foi o incentivo dado ao setor de bens de consumo duráveis,<br />

9. Cf. MENDONÇA, Sônia Regina de. Op. cit., p. 23-24.<br />

10. Cf. OLIVEIRA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Op. cit., p. 113-114.<br />

149<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

cuja expansão foi surpreendente. Entre 1955 e 1961, a produção física da indústria<br />

de transportes (inclusive automóveis) cresceu 550%, e a indústria de<br />

material elétrico e de comunicação (inclusive eletrodomésticos) cresceu 368%.<br />

Os segmentos do setor industrial mais voltados para o consumo popular tiveram<br />

aumento me<strong>no</strong>r. A indústria alimentícia, por exemplo, cresceu 47% e a<br />

têxtil 29%, o que evidencia a relevância atribuída aos segmentos que permitiam<br />

maior acumulação de capital e satisfaziam necessidades de grupos de renda mais<br />

elevada. 11 Em terceiro lugar, os salários reais permaneceram constantes, vindo<br />

mesmo a diminuir em alguns setores. Enquanto a eco<strong>no</strong>mia se expandia,<br />

ampliavam-se as oportunidades de emprego, o que compensava, ao me<strong>no</strong>s temporariamente,<br />

os efeitos negativos da inflação sobre o custo de vida.<br />

Todavia, ao térmi<strong>no</strong> do gover<strong>no</strong> de Jusceli<strong>no</strong> Kubitschek de Oliveira, começaram<br />

a surgir sinais da primeira crise gerada pelas decisões governamentais<br />

relativas ao desenvolvimento industrial do país. Embora fomentassem<br />

o crescimento econômico, elas levavam à concentração de renda e redução<br />

drástica do poder aquisitivo dos salários. Os gover<strong>no</strong>s seguintes, especialmente<br />

o de João Goulart, durante o qual se elaborou o Pla<strong>no</strong> Trienal, cujo objetivo<br />

era corrigir as eleva<strong>das</strong> pressões inflacionárias e restabelecer o processo de<br />

acumulação, não obtiveram o resultado esperado, intensificando-se as crises<br />

econômica e política que marcaram o início dos a<strong>no</strong>s 1960 e culminaram <strong>no</strong><br />

golpe de estado de 1964.<br />

Os rumos da industrialização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> foram marcados definitivamente<br />

pela política econômica adotada em meados da década de 1950. O acelerado<br />

crescimento da eco<strong>no</strong>mia brasileira baseou-se então na consolidação e forte<br />

expansão do setor industrial, liderada particularmente pela produção de<br />

bens de consumo duráveis, dirigidos às cama<strong>das</strong> com mais altos rendimentos.<br />

A modalidade, por meio da qual se implantou o capitalismo industrial<br />

<strong>no</strong> país, trouxe poucos frutos para a maioria de sua população, acentuando<br />

as desigualdades socioeconômicas. Além disso, agravou os desequilíbrios regionais,<br />

favorecendo a região Sudeste, onde somente o estado de São Paulo<br />

concentrou 70% do capital investido, através dos benefícios da “instrução<br />

113” da SUMOC. 12 As disparidades se fizeram sentir também <strong>no</strong> que respeita<br />

aos meios rural e urba<strong>no</strong>: a taxa de crescimento da produção agrícola entre<br />

11. Cf. SINGER, Paul. A crise do milagre: interpretação crítica da eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Paz e Terra, 1976. p. 102. apud CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro:<br />

Livraria Francisco Alves, 1983. p. 38.<br />

12. Cf. IANNI, Octavio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. p. 90. apud<br />

CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 42.<br />

150<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

os a<strong>no</strong>s de 1947 e 1961 foi de 4,6%, aumentando para 4,8% entre os a<strong>no</strong>s de<br />

1957 a 1961; <strong>no</strong> mesmo período a taxa de crescimento da produção industrial<br />

foi de 9,6% entre 1947 e 1961, elevando-se para 12,7% de 1957 a 1961. 13<br />

Embora tomasse uma “via” concentradora e excludente, a industrialização<br />

resultou <strong>no</strong> surgimento de um leque de <strong>no</strong>vas profissões e oportunidades de<br />

emprego, que possibilitaram a redistribuição dos indivíduos na escala social,<br />

imprimindo outra feição à estratificação social do país. No meio urba<strong>no</strong>, o<br />

empresariado industrial, as cama<strong>das</strong> médias e o operariado não só cresceram,<br />

mas, principalmente, passaram a ocupar uma posição de maior importância<br />

na ordem social, na vida econômica e política. Questiona-se, entretanto, se o<br />

<strong>no</strong>tável crescimento econômico levou de fato a uma mudança de vulto na democratização<br />

<strong>das</strong> oportunidades de vida relativas aos diversos estratos sociais.<br />

Nesse sentido, aparentemente as mudanças não foram profun<strong>das</strong>.<br />

Estudos sobre esse problema, que abordem o período em foco e apresentem<br />

uma visão de conjunto, são escassos, o que dificulta sua apreciação.<br />

Convém lembrar, entretanto, as observações feitas por Maria Isaura Pereira<br />

de Queiroz 14 a respeito dos estratos sociais <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1950 e 1960. Segundo a<br />

autora, a industrialização se inscreveu numa sociedade diversificada em múltiplos<br />

estratos superpostos e não numa sociedade dividida em duas partes,<br />

uma moderna e outra tradicional, correspondendo cada uma delas a um tipo<br />

de estratificação social. Na realidade, diferentes tipos de estratificação social<br />

entrelaçavam-se, quer fosse nas “regiões modernas”, quer fosse nas “regiões<br />

arcaicas”. Baseando-se em dados censitários, a autora mostra que nas grandes<br />

cidades e <strong>no</strong> interior <strong>das</strong> regiões de mo<strong>no</strong>cultura de exportação havia uma estratificação<br />

socioeconômica “ortodoxa”. As classes sociais me<strong>no</strong>s numerosas<br />

e mais privilegia<strong>das</strong> se situavam <strong>no</strong> topo, enquanto as mais desfavoreci<strong>das</strong> e<br />

numerosas situavam-se na base, havendo entre elas cama<strong>das</strong> intermediárias<br />

que cresciam naquele período; já nas cidades de peque<strong>no</strong> porte e nas áreas em<br />

que conviviam fazendeiros e sitiantes, a estratificação social se apresentava<br />

bem distinta, com pequenas cama<strong>das</strong> <strong>no</strong> topo e uma grande camada intermediária<br />

de trabalhadores independentes auxiliados pela mão-de-obra familiar,<br />

que coexistia com uma pequena camada inferior de trabalhadores subordinados,<br />

assalariados ou não.<br />

Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que o <strong>Brasil</strong> se aproximava, naqueles<br />

a<strong>no</strong>s, do modelo de uma “sociedade de classes”, à medida que, cada<br />

13. Cf. FURTADO, Celso. Op. cit., p. 102.<br />

14. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit.<br />

151<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

vez mais, cresciam em importância o nível de renda, o nível de instrução e<br />

o prestígio <strong>das</strong> profissões para a classificação dos indivíduos na hierarquia<br />

social; ao mesmo tempo, a mobilidade vertical e horizontal (sendo esta a mais<br />

freqüente), e a hereditariedade da classe social eram traços que revelavam a<br />

emergência daquele tipo de sociedade <strong>no</strong> país. Ela, entretanto, argumenta que<br />

uma sociedade de classes se define também pelo conflito de interesses e pelas<br />

tensões existentes entre seus diferentes estratos socioeconômicos e, nesse<br />

sentido, as evidências eram raras:<br />

Os indivíduos não chegavam a pôr em questão a estrutura social<br />

na qual estavam integrados e a avaliavam de maneira muito<br />

otimista. Se a existência se tornava difícil, não era devido às injustiças<br />

da estrutura social global, mas à ineficiência ou à malícia dos<br />

governantes, não preparados para dirigir a barca do Estado. Tentar<br />

por mudanças sucessivas, instalar um “bom gover<strong>no</strong>”, mobilidade<br />

de superfície que não implicava nenhuma mudança profunda da<br />

estratificação social, seria uma solução mais correta para as dificuldades<br />

administrativas, políticas e econômicas. Este raciocínio era<br />

compreendido por to<strong>das</strong> as classes sociais. 15<br />

De modo geral, os motivos que levaram a depositar <strong>no</strong>s “bons governantes”<br />

a solução para os graves problemas sociais, naqueles a<strong>no</strong>s, são atribuídos<br />

ora à melhoria relativa <strong>das</strong> condições de vida <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias urbanas<br />

e do operariado, ora às alianças feitas entre a classe empresarial burguesa e<br />

o operariado, ora à política “populista” que procurava, em parte, atender às<br />

reivindicações ou prometia atendê-las em um futuro mais próspero, ora a uma<br />

“cultura” autoritária (própria dos diferentes estratos sociais), cujos valores<br />

privilegiavam o consenso em detrimento dos conflitos e <strong>das</strong> diferenças.<br />

Caberia esmiuçar em outros estudos os motivos da quase ausência de conflitos<br />

provocados pelos interesses divergentes dos diferentes estratos sociais. Pode-se<br />

dizer, entretanto, que não resultaram diretamente, naqueles a<strong>no</strong>s, de medi<strong>das</strong> repressivas<br />

toma<strong>das</strong> por um regime autoritário. Ao contrário, as mudanças transcorriam<br />

dentro de uma ordem político-democrática que tornara possível, depois de quinze<br />

a<strong>no</strong>s de gover<strong>no</strong> autoritário, a participação popular <strong>no</strong> sistema de representação política.<br />

A Constituição de 1946 restituiu ao cidadão brasileiro o direito de eleger seus<br />

representantes, legalizou a existência dos partidos políticos e aboliu a censura.<br />

15. Ibidem, p. 126.<br />

152<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Os partidos políticos, de acordo com a Constituição de 1946, deveriam<br />

ser nacionais, com o que se evitavam os particularismos e regionalismos<br />

políticos e se fortalecia o gover<strong>no</strong> federal. Surgiram então diversas organizações<br />

partidárias, destacando-se o Partido Trabalhista <strong>Brasil</strong>eiro (PTB), o<br />

Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN).<br />

Note-se, contudo, que já em 1947 o Partido Comunista do <strong>Brasil</strong> foi declarado<br />

ilegal, embora continuasse atuando na clandestinidade ao longo daqueles<br />

a<strong>no</strong>s. Somaram-se a ele outras organizações como a Ação Popular, a<br />

Política Operária etc.<br />

Por outro lado, o direito de voto que assegurava a participação popular <strong>no</strong><br />

processo democrático ficou restrito à população alfabetizada (medida incluída<br />

<strong>no</strong> Código Eleitoral de 1945 e mantida pela Constituição de 1946), o que<br />

se levantava, claramente, como uma barreira impeditiva daquela participação,<br />

pois o índice de analfabetismo era extremamente alto <strong>no</strong> país, como mostra<br />

o quadro a seguir:<br />

Quadro V<br />

<strong>Brasil</strong>: população alfabetizada, população analfabeta<br />

(1940 – 1960)<br />

A<strong>no</strong> Total<br />

Acima de<br />

cinco a<strong>no</strong>s<br />

153<br />

Alfabetizados Analfabetos<br />

Não<br />

declarantes<br />

1940 41.236.315 34.796.665 13.292.605 21.295.490 208.570<br />

1950 51.944.397 43.573.517 18.588.722 24.907.596 77.199<br />

1960 70.070.457 58.997.981 31.362.783 27.578.971 56.227<br />

Fonte: Censo Demográfico 1940, 1950 e 1960. IBGE.<br />

Nos a<strong>no</strong>s de 1940 e 1950, mais da metade da população acima de cinco<br />

a<strong>no</strong>s era analfabeta; a situação se inverte <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1960, com o aumento do<br />

número de pessoas que sabiam ler e escrever. Ainda assim, a taxa de analfabetismo<br />

permanece alta. No meio rural, nem mesmo <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1960 o número<br />

de alfabetizados ultrapassou a quantidade de indivíduos que não sabiam ler<br />

e escrever: de um total de 27.578.971 habitantes com mais de cinco a<strong>no</strong>s,<br />

apenas 12.472.269 eram alfabetizados, enquanto os demais 19.804.055 eram<br />

analfabetos; já <strong>no</strong> meio urba<strong>no</strong>, entre 31.362.783 habitantes maiores de cinco<br />

a<strong>no</strong>s, 19.215.514 entre homens e mulheres sabiam ler e escrever, e 7.774.916<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

eram analfabetos. A restrição de voto ao analfabeto penalizou, portanto, principalmente<br />

a população rural, impedindo-a de maior participação <strong>no</strong> processo<br />

democrático.<br />

A despeito <strong>das</strong> evidentes restrições à participação política popular, por<br />

meio do voto, dados do IBGE 16 mostram que o eleitorado brasileiro cresceu<br />

durante aquele período.<br />

Nas eleições de 1945, foram habilita<strong>das</strong> a votar 7.459.849 pessoas e, em<br />

1962, o total de eleitores foi de 18.528.847. A queda gradativa da taxa de<br />

analfabetos nas cidades e a inclusão de um contingente de votos femini<strong>no</strong>s<br />

(direito instituído <strong>no</strong> Código Eleitoral de 1932 e mantido pela Constituição<br />

de 1946) são fatores que podem ter influído <strong>no</strong> crescimento do número de<br />

eleitores. A par disso, os debates sobre as questões políticas nacionais foram<br />

tomando espaço nas cidades, promovidos freqüentemente por associações<br />

não-partidárias que assumiam a condução de lutas político-reivindicatórias,<br />

como a União Nacional dos Estudantes, o Comando Geral dos Trabalhadores,<br />

a Ação Católica e outros. Referindo-se aos a<strong>no</strong>s que vão de 1955 a<br />

1966, Octavio Ianni diz que “todos os grandes acontecimentos políticos da<br />

última década, particularmente dos últimos a<strong>no</strong>s, desenvolveram-se com ativa<br />

e muitas vezes decisiva participação <strong>das</strong> uniões de estudantes universitários,<br />

sindicatos do proletariado, grupos parlamentares extra-partido”. 17 O clima de<br />

discussão sobre os desti<strong>no</strong>s do país, que se configurou naquela época, possivelmente<br />

também contribuiu para uma maior participação através do voto.<br />

Entretanto, o aumento do eleitorado é explicado pela intensificação de<br />

mecanismos utilizados pelas lideranças políticas para estabelecer contato com<br />

grupos urba<strong>no</strong>s, sobretudo os de baixa renda, através dos “cabos eleitorais”.<br />

Esses intermediários entre os representantes políticos e seus eleitores buscavam<br />

conseguir os votos indispensáveis para a eleição de “seu” candidato,<br />

atendendo ou prometendo atender a reivindicações e pedidos (de empregos,<br />

vagas em escolas etc.) de pessoas com quem mantinham contato próximo.<br />

Segundo Juarez Brandão Lopes, esta prática permitia que representantes de<br />

grupos econômicos pudessem “comprar diretamente ou indiretamente os cabos<br />

eleitorais, e se elegerem”. 18<br />

16. A respeito do crescimento do eleitorado ver LAMOUNIER, Bolívar; MUSZyNSKI, Judith.<br />

Resultados eleitorais. In: ESTATíSTICAS históricas do <strong>Brasil</strong>: séries econômicas, demográficas<br />

e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 631-632.<br />

17. Cf. IANNI, Octavio. Processo político e desenvolvimento econômico. In: ___ et al. Política e<br />

revolução social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. p. 44.<br />

18. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 89.<br />

154<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Em que pesem as influências dos fatores que atuavam positiva ou negativamente<br />

<strong>no</strong> perfil do eleitorado brasileiro, não se pode ig<strong>no</strong>rar que <strong>no</strong> período<br />

entre 1945 e 1964 foi possível a participação popular por meio do voto. Além<br />

disso, foram cria<strong>das</strong> e mobiliza<strong>das</strong> organizações não-partidárias para reivindicar<br />

a solução de problemas graves, <strong>no</strong>tadamente nas cidades, como já mencionado,<br />

e também <strong>no</strong> meio rural. As ligas camponesas cria<strong>das</strong> <strong>no</strong> Nordeste,<br />

em 1955, são um exemplo disso.<br />

Outro aspecto, porém, viria marcar o quadro político daqueles a<strong>no</strong>s: a<br />

intensificação do processo de burocratização civil e militar do Estado. Diversos<br />

órgãos foram criados e postos em funcionamento: <strong>no</strong> setor de eco<strong>no</strong>mia<br />

e finanças, entre outros, o Conselho Nacional de Eco<strong>no</strong>mia, instituído<br />

pela Constituição de 1946 e regulamentado em 1949, o Banco Nacional de<br />

Desenvolvimento da Eco<strong>no</strong>mia e o Banco do Nordeste, criados em 1952,<br />

a Superintendência do Pla<strong>no</strong> de Valorização Econômica da Amazônia, em<br />

1953 etc. Durante o segundo gover<strong>no</strong> Getulio Vargas, a Lei nº 1920, de 25 de<br />

julho de 1953, criava o Ministério da Saúde; na área da Educação, assistia-se<br />

à federalização <strong>das</strong> universidades, entre outras medi<strong>das</strong>, como veremos mais<br />

adiante. Em 1947, foram criados a Escola Superior de Guerra e o Instituto<br />

Tec<strong>no</strong>lógico da Aeronáutica. A criação dessas instituições revela as mudanças<br />

por que passavam os meios militares. Finalmente, a transferência da capital<br />

federal para Brasília, em 1960, atesta, entre outros motivos, o interesse em<br />

ampliar o controle político do Estado sobre o território nacional.<br />

Ao concentrar os meios administrativos indispensáveis ao desenvolvimento,<br />

o Estado adquiria mais poder, sobretudo o Executivo, que mais facilmente<br />

podia fazer uso daqueles meios em <strong>no</strong>me dos interesses gerais da nação,<br />

justificada, <strong>no</strong>tadamente naquela época, pelo projeto de desenvolvimento<br />

nacional. Além disso, a burocratização dos setores civil e militar foi criando<br />

uma classe de funcionários “técnicos”, qualificados especificamente para o<br />

exercício de <strong>no</strong>vas funções volta<strong>das</strong> para a modernização (engenheiros, eco<strong>no</strong>mistas,<br />

agrô<strong>no</strong>mos, geógrafos etc.), que adquiria <strong>no</strong>va posição <strong>no</strong>s processos<br />

decisórios dos meios político-administrativos. Desse modo, o Estado não<br />

só passava a intervir devidamente na vida econômica do país, colocando em<br />

funcionamento um programa administrativo que julgava indispensável à modernização<br />

e industrialização, como criava uma infra-estrutura que fortalecia<br />

seus meios de dominação.<br />

É preciso frisar, então, que ao lado <strong>das</strong> possibilidades de maior participação<br />

popular <strong>no</strong> processo político e democrático, assistia-se à expansão dos<br />

155<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

meios de dominação tec<strong>no</strong>crática do Estado. Esses dois processos, em si<br />

conflitantes, pois o Estado buscava defender os interesses “gerais” do desenvolvimento<br />

nacional, ao passo que a participação política popular trazia<br />

à tona reivindicações nem sempre convergentes com aqueles interesses, possivelmente<br />

levaram à estratégia populista dos governantes naquele período.<br />

Como não podiam ig<strong>no</strong>rar as reivindicações populares e, de outro lado, não<br />

tinham interesse em atendê-las, procuraram estabelecer um contato direto<br />

com os indivíduos indiferenciados na “massa”, levando-os, na interpretação<br />

de Francisco Weffort, 19 a um fascínio pelo poder do Estado, que se traduzia<br />

na figura de suas lideranças. Em um de seus aspectos, o quadro político<br />

<strong>das</strong> déca<strong>das</strong> focaliza<strong>das</strong> mostrava – <strong>no</strong> estilo populista de seus governantes –<br />

os limites possíveis entre a participação popular democrática e a dominação<br />

política e tec<strong>no</strong>crática dos meios administrativos do Estado, voltados para a<br />

modernização e a industrialização do país, que, na realidade, atendia aos interesses<br />

de poucas classes e cama<strong>das</strong> sociais eleva<strong>das</strong> da população brasileira,<br />

beneficiando-as.<br />

Não resta dúvida de que os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 delimitam um período de<br />

grande efervescência na vida política, social e econômica brasileira; uma época<br />

que se destaca pelas expectativas que gerou quanto às possibilidades efetivas<br />

de melhoria de vida da população em decorrência da industrialização.<br />

2. Mudanças na vida cultural<br />

Os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1964 modificaram em diversos aspectos a vida cultural<br />

do país. Destacamos dois fatos significativos dessas mudanças: os empreendimentos<br />

<strong>no</strong> campo da difusão da cultura e os movimentos de re<strong>no</strong>vação da<br />

produção cultural.<br />

2.1 Empreendimentos <strong>no</strong> campo da difusão da cultura<br />

No contexto histórico examinado, houve um crescimento sensível de segmento<br />

industrial voltado para a produção de bens estreitamente relacionados<br />

com atividades culturais, tais como a imprensa periódica, a edição de livros e<br />

19. Cf. WEFFORT, Francisco C. Política de massas. In: IANNI, Octavio et al. Op. cit., p. 171 e<br />

176.<br />

156<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

folhetos, a indústria cinematográfica, a indústria fo<strong>no</strong>gráfica, a radiodifusão,<br />

a produção de instrumentos musicais e a produção de espetáculos de artes<br />

cênicas e de música. Os dados disponíveis sobre o crescimento desse setor<br />

ainda são bastante raros, segundo pesquisa realizada pela <strong>Fundação</strong> João Pinheiro.<br />

20 Entretanto, a despeito <strong>das</strong> dificuldades enfrenta<strong>das</strong>, o levantamento<br />

revela que o setor manufatureiro da indústria cultural atingiu uma taxa média<br />

de crescimento de 5,49% entre 1949 e 1959, expandindo-se ainda <strong>no</strong> período<br />

que vai de 1959 a 1970, com um percentual de 14,07%.<br />

Paralelamente, o crescimento <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias urbanas aumentava a<br />

possibilidade de acesso aos bens culturais por parte de um grupo quantitativamente<br />

mais significativo, e, sobretudo, mais diferenciado de indivíduos, <strong>no</strong><br />

que respeita ao grau de instrução, à profissão e aos níveis de renda, criando-se<br />

assim condições para a formação de um público mais diversificado quanto ao<br />

interesse pelos bens culturais.<br />

São mencionados a seguir exemplos que indicam características da formação<br />

da indústria e do mercado cultural naqueles a<strong>no</strong>s. A imprensa periódica<br />

é um deles. Instituída oficialmente pelo ato real de 31 de maio de 1808, desempenhou<br />

um papel político e doutrinário de relevância durante o regime<br />

monárquico e <strong>no</strong>s primeiros tempos da República, circunscrevendo-se, entretanto,<br />

às cama<strong>das</strong> letra<strong>das</strong>. A fundação da Associação <strong>Brasil</strong>eira de Imprensa,<br />

em 1908, confirma a importância dessa atividade, que, naquela época, já<br />

apresentava sinais de diversificação, fazendo circular periódicos literários para<br />

mulheres, semanários e gazetas volta<strong>das</strong> para problemas operários etc.<br />

Não obstante, a imprensa periódica adquire um caráter empresarial capitalista,<br />

passando a significar um investimento em si mesma, e vincula-se com os<br />

demais setores da produção através da publicidade, <strong>no</strong>tadamente de empresas<br />

estrangeiras, <strong>no</strong> período abordado nesse estudo. Em A história da imprensa <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, Nelson Werneck Sodré chama a atenção para esse fato. Segundo ele, o<br />

artigo 160 da Constituição de 1946 “determinava que as empresas jornalísticas<br />

deviam ser nacionais, ficando os estrangeiros proibidos de mantê-las”. 21<br />

No entanto, ele argumenta que o artigo não era cumprido, porque, na realidade,<br />

o crescimento dos jornais resultava <strong>das</strong> vultosas somas investi<strong>das</strong> por<br />

empresas <strong>no</strong>rte-americanas, através de agências de publicidade. Referindo-se<br />

20. Cf. FUNDAÇãO JOãO PINHEIRO. Centro de Eco<strong>no</strong>mia Aplicada. Eco<strong>no</strong>mia da cultura:<br />

reflexões sobre as indústrias culturais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Brasília: Instituto de Promoção Cultural, 1988.<br />

p. 45-46.<br />

21. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1966. p. 455.<br />

157<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

a relatórios de Comissão Parlamentar de Inquérito acerca do controle estrangeiro<br />

exercido sobre a imprensa brasileira, levada ao Congresso em 1957, diz<br />

que somente <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1953 empresas como a Coca-Cola, Esso Standard do<br />

<strong>Brasil</strong>, The Jonhson & Jonhson, Colgate-Palmolive etc. investiram um bilhão<br />

e 197 milhões de cruzeiros em jornais brasileiros. Mais de 50% <strong>das</strong> matérias<br />

publica<strong>das</strong> em jornais eram dedica<strong>das</strong> a elas, enquanto dados da UNESCO<br />

mostravam uma média de 21,8% do espaço concedido pela imprensa parisiense<br />

à propaganda. 22<br />

A par disso, o Estado favoreceu o crescimento da indústria jornalística<br />

através de empréstimos feitos pelo Banco do <strong>Brasil</strong>, Caixa Econômica e institutos<br />

previdenciários, além de subsídio à importação do papel, através do<br />

disposto na Lei nº 1.386, de 1951. Dez a<strong>no</strong>s depois, em 1961, esse subsídio foi<br />

cortado, provocando a falência de vários periódicos que não podiam se manter<br />

devido ao alto custo do papel importado. Quanto a isso, são sugestivos<br />

os dados do IBGE: em 1944, circulavam nas capitais brasileiras 192 jornais<br />

diários; a cifra se eleva para 261, em 1954, porém, em 1962, ela cai para 245<br />

e, em 1964, para 227. 23<br />

Analisando a penetração da imprensa nas diversas regiões do país, Juarez<br />

Brandão Lopes aponta outros obstáculos relativos à divulgação <strong>das</strong> <strong>no</strong>tícias.<br />

A tiragem média dos diários e gazetas nas capitais e zonas do interior apresentava<br />

índices bastante desiguais. Em 1960, a relação de exemplares por cem<br />

habitantes revelava esses desníveis: “mesmo nas áreas mais urbaniza<strong>das</strong>, <strong>no</strong><br />

Centro-sul e <strong>no</strong> Sul, onde a taxa para o Rio e São Paulo é quatorze e dezoito<br />

vezes a <strong>das</strong> zonas do interior; <strong>no</strong> caso <strong>das</strong> outras capitais essa razão é de seis<br />

a sete vezes”. 24 O analfabetismo, segundo o autor, era responsável em boa<br />

medida pelas diferenças, mas não as explicava inteiramente. Possivelmente,<br />

resultavam também do pouco interesse <strong>das</strong> empresas em investir em áreas<br />

cujo retor<strong>no</strong> lucrativo era duvidoso ou limitado.<br />

Ao adquirir caráter empresarial <strong>no</strong>s moldes capitalistas, sob forte influência<br />

<strong>das</strong> empresas estrangeiras, a partir de meados da década de 1950 a imprensa<br />

começou a re<strong>no</strong>var a forma de divulgar a <strong>no</strong>tícia, modificando-se a técnica<br />

de redação <strong>das</strong> matérias. O estilo mais informativo e direto aproximava-se<br />

então daquele dos jornais <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Surgia <strong>no</strong>s meios jornalísticos o<br />

22. Cf. Ibidem. A respeito da publicidade e dos investimentos estrangeiros na imprensa brasileira<br />

ver p. 463-467.<br />

23. Os dados do IBGE se encontram <strong>no</strong>s Anuários Estatísticos de 1945, 1955, 1964 e 1966.<br />

24. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 171-173.<br />

158<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

interesse pela formação da “opinião pública”, e ao mesmo tempo reformavase<br />

o padrão gráfico dos periódicos. 25<br />

A expansão da imprensa periódica não se restringiu aos jornais diários,<br />

incluindo semanários e revistas como O Cruzeiro, cujo número de exemplares<br />

– 300 mil em 1948 e 550 mil em 1952 – superava, em muito, índices<br />

atingidos até então por jornais e revistas. 26 Outro periódico de grande circulação<br />

foi a Seleções do Reader´s Digest, de empresa <strong>no</strong>rte-americana e, por<br />

isso, alvo de constantes denúncias de penetração estrangeira na imprensa<br />

brasileira naqueles a<strong>no</strong>s.<br />

A indústria do livro também cresceu e se expandiu. Sua implantação, porém,<br />

apresenta especificidades que não são observa<strong>das</strong> <strong>no</strong>s empreendimentos<br />

voltados para a imprensa periódica. A impressão de livros, desde que foi permitida<br />

oficialmente em 1808, se desenvolveu muito lentamente até os a<strong>no</strong>s<br />

1930. Somente nessa década, as restrições à importação de livros portugueses<br />

e franceses, devido à crise de 1929, e, logo depois, à Segunda Guerra Mundial,<br />

favoreceram um surto editorial que levou a um conjunto de transformações<br />

nas atividades de produção do livro – compra de maquinaria, emprego de<br />

pessoal qualificado, projetos editoriais etc. A cidade de São Paulo que concentrava,<br />

em boa medida, a produção livreira editou 117 títulos, entre livros e<br />

folhetos, em 1931, e 338 livros em 1941. A edição de <strong>no</strong>vos títulos, sobretudo<br />

autores brasileiros da área da literatura, tomou vulto naqueles a<strong>no</strong>s, mas a<br />

produção livreira ainda era bastante limitada. 27<br />

Nos a<strong>no</strong>s que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, a política<br />

econômica não beneficiou a atividade editorial emergente <strong>no</strong> país, provocando<br />

o aumento rápido da importação de obras estrangeiras. Tornava-se <strong>no</strong>vamente<br />

mais barato importar livros do que comprar papel para imprimi-los.<br />

Um longo memorial de editores e livreiros, datado de 1944, já chamava a<br />

atenção para as dificuldades, sugerindo o barateamento do papel nacional ou<br />

facilidades para a sua importação, apoio para aquisição de equipamentos e<br />

melhoria do serviço de distribuição. O documento estimava como “irrisória a<br />

25. Um dos primeiros jornais a re<strong>no</strong>var o estilo da redação do <strong>no</strong>ticiário foi o Diário Carioca, em<br />

1951. Ver a propósito da re<strong>no</strong>vação da linguagem jornalística e <strong>das</strong> reformas gráficas SODRÉ,<br />

Nelson Werneck. Op. cit., p. 452-454; depoimento de TINHORãO, José Ramos. Jornal do<br />

<strong>Brasil</strong>, Rio de Janeiro, 03 abr. 1991. 1º Cader<strong>no</strong>, p. 9.<br />

26. Cf. ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1988. p. 43.<br />

27. A respeito do surto editorial na década de 1930, ver MICELI, Sergio. Intelectuais e classe dirigente<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (1920 – 1945). São Paulo: Difel, 1979. p. 75-88; em HALLEWELL, Laurence. O livro<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz / EDUSP, 1985, p. 238-239, encontram-se os<br />

dados sobre a edição de livros na cidade de São Paulo.<br />

159<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

produção anual de oito milhões de exemplares, ameaçada por publicações em<br />

língua portuguesa impressas <strong>no</strong> exterior”. 28<br />

A despeito dos obstáculos, a indústria editorial se manteve e retomou sua<br />

curva de crescimento. Sua sobrevivência é atribuída, em relatório do Grupo<br />

Executivo da Indústria do Livro (GEIL), datado de 1967, a um programa<br />

internacional do gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, criado em 1950, que tinha como<br />

propósito orientar a seleção de textos, encarregar-se da obtenção de direitos<br />

de tradução, custeá-los se houvesse interesse, e mesmo, em alguns casos, financiar<br />

os custos da edição e a propaganda do livro. As obras edita<strong>das</strong> através<br />

desse programa abordavam, em geral, assuntos políticos que variavam <strong>das</strong><br />

denúncias ao regime comunista, até os debates sobre o subdesenvolvimento.<br />

Em pesquisa sobre a história do livro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, Laurence Hallewell comenta<br />

que o Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL), 29 ao apreciar as condições<br />

do mercado livreiro daqueles a<strong>no</strong>s, julgou as obras financia<strong>das</strong> pelo<br />

programa <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> de pouco interesse para o leitor brasileiro, mas o<br />

considerou útil “para provar que existia, afinal, um mercado brasileiro para<br />

obras sérias sobre assuntos como eco<strong>no</strong>mia, sociologia, crítica literária, matemática<br />

e psicologia”. Muitas editoras foram financia<strong>das</strong> para produzir manuais<br />

indispensáveis a estudantes universitários.<br />

Para Laurence Hallewell, contudo, os interesses <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s não seriam<br />

suficientes para explicar a permanência e retomada do crescimento da<br />

indústria editorial ainda naqueles a<strong>no</strong>s. Em O livro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: sua história, ele<br />

mostra que as editoras que ocupavam posições destaca<strong>das</strong>, nas déca<strong>das</strong> de<br />

1930 e 1940, mantiveram a sua liderança, além do que <strong>no</strong>vos grupos empresariais<br />

surgiram <strong>no</strong> mercado com diferentes estratégias de expansão. As enciclopédias<br />

começaram a ser produzi<strong>das</strong> <strong>no</strong> país, assim como os livros de coletâneas<br />

de textos. Entre as alternativas para enfrentar as dificuldades, destacou-se,<br />

naquela época, a venda de livros a prestação, que se tor<strong>no</strong>u extremamente<br />

vantajosa para os editores.<br />

Não resta dúvida, entretanto, que o crescimento real do mercado do livro<br />

se deu a partir de meados da década de 1950. Diversas medi<strong>das</strong> favoreceram<br />

28. Cf. ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2. ed. Rio de Janeiro: Cátedra;<br />

Brasília: INL, 1978. p. 23.<br />

29. O Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL) foi criado em 9 de junho de 1959, <strong>no</strong> âmbito<br />

do Ministério da Educação. Em 1967, apresentou relatório sobre características da produção<br />

de livros <strong>no</strong> país, o qual é comentado por Laurence Hallewell. Em 1971, o GEIL foi absorvido<br />

pelo Instituto Nacional do Livro. O comentário encontra-se em HALLEWELL, Laurence. Op.<br />

cit., p. 435; dados sobre o GEIL estão na p. 444.<br />

160<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

a produção do livro brasileiro, entre elas a isenção do pagamento de imposto<br />

para o setor livreiro (exceto o imposto de renda), a extinção, em 1959, da taxa<br />

de câmbio favorável à importação de livros e a redução do preço do papel.<br />

Nesses a<strong>no</strong>s, vale <strong>no</strong>tar, criaram-se condições efetivas para a publicação de<br />

traduções a preços competitivos com os originais estrangeiros, aumentandose<br />

assim, <strong>no</strong>tadamente, a quantidade de obras em Português. A par disso, os<br />

projetos editoriais se diversificaram, incluindo obras de autores nacionais de<br />

diferentes ramos do conhecimento. As reformas gráficas acompanhavam essas<br />

mudanças. As capas dos livros tornaram-se mais atraentes (com desenhos<br />

a cores) e as páginas refila<strong>das</strong> permitiam que as obras fossem folhea<strong>das</strong> nas<br />

livrarias. Os editores passaram a investir na publicidade, setor que até então<br />

pouco integrara seus orçamentos. O número de títulos, entre livros e folhetos,<br />

publicados <strong>no</strong> país é indicativo do crescimento da indústria livreira: em 1943,<br />

o total é de 2.105; em 1953, 2.985; dez a<strong>no</strong>s depois, em 1963, 4.010. 30<br />

O <strong>no</strong>tável progresso editorial, todavia, não se fez acompanhar de uma melhoria<br />

efetiva na distribuição dos livros, tampouco de um aumento proporcional<br />

da tiragem média <strong>das</strong> edições. A distribuição permaneceu sendo um dos pontos<br />

críticos do processo de produção. A maioria <strong>das</strong> obras não chegava aos consumidores<br />

da maior parte <strong>das</strong> cidades brasileiras. Para os editores, concentrados<br />

<strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São Paulo, era mais lucrativo promover “queimas” e<br />

“feiras” de livros para liquidar os estoques, do que enfrentar os custos e problemas<br />

da distribuição. Por outro lado, o aumento da tiragem média <strong>das</strong> edições,<br />

que levaria potencialmente à diminuição dos preços, foi bem limitado, comparativamente<br />

ao crescimento do número de títulos. Nesse caso, era preferível distribuir<br />

o risco dos investimentos pela edição de uma maior e mais diversificada<br />

quantidade de textos. Esses problemas, apontados tanto por Olímpio de Souza<br />

Andrade, como por Laurence Hallewell, 31 ao estudar a produção de livros <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, sugerem que a expansão da indústria livreira, ao me<strong>no</strong>s naqueles a<strong>no</strong>s,<br />

não foi proporcional ao aumento do mercado consumidor <strong>das</strong> obras, concentrando-se<br />

<strong>no</strong>s centros como Rio de Janeiro e São Paulo.<br />

Naqueles a<strong>no</strong>s, o rádio tor<strong>no</strong>u-se o meio de comunicação mais popular<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Implantado em 1922, organiza-se inicialmente em bases não comerciais.<br />

As emissoras eram sociedades e clubes, cujas programações tinham,<br />

sobretudo, um caráter erudito e lítero-musical. 32 Na década de 1930, a produ-<br />

30. Cf. HALLEWELL, Laurence. Op. cit., p. 426.<br />

31. Cf. Ibidem. p. 478-479 e 515-534; ANDRADE, Olímpio de Souza. Op. cit., p. 65-77.<br />

32. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 39-41.<br />

161<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

ção de rádios com válvulas, barateando o custo do aparelho, possibilitou sua<br />

difusão junto a um público mais amplo. Porém, o grande impulso da radiodifusão<br />

<strong>no</strong> país se deu através da publicidade, quando uma regulamentação<br />

federal, em 1952, liberou cota de 20% da programação diária <strong>das</strong> emissoras<br />

para a publicidade, duplicando o percentual permitido, em 1932, que era de<br />

10% apenas. As empresas <strong>no</strong>rte-americanas como Coca-Cola, Esso Standard<br />

do <strong>Brasil</strong>, Colgate-Palmolive e outras, que investiam na imprensa periódica,<br />

foram responsáveis pelas maiores inversões na publicidade radiofônica.<br />

A partir dos a<strong>no</strong>s 1950, a publicidade fomentou um crescimento surpreendente<br />

do número de emissoras. Em 1945, elas eram 111, em 1953, 447<br />

e, em 1964, 944. A programação <strong>das</strong> rádios era bastante variada, incluindo<br />

música erudita e popular, programas humorísticos, infanto-juvenis, femini<strong>no</strong>s,<br />

instrutivos, cursos, programas políticos e também os de auditório. Os<br />

programas de música popular eram os preferidos. Dados do IBGE para o<br />

a<strong>no</strong> de 1953 mostram que um total de 391 empresas transmitiu, naquele a<strong>no</strong>,<br />

1.488.753 horas; mais da metade (794.636 horas) foi dedicada à música, cabendo<br />

707.027 horas à música popular e ligeira, e 87.609 horas à música “de<br />

classe”. Das restantes 694.117 horas de transmissão, os “programas falados”<br />

ocuparam 307.816 horas e os textos de propaganda comercial foram ouvidos<br />

durante outras 386.301 horas. Entre os “programas falados”, o maior número<br />

de transmissões era sobre esporte (50.748 horas), <strong>no</strong>tícias e comentários jornalísticos<br />

(51.524 horas). Logo em seguida, vinham as representações teatrais<br />

(25.888 horas) e os programas de auditório (38.153 horas).<br />

Estudando a expansão radiofônica <strong>no</strong> país, João Baptista Borges Pereira 33<br />

diz que a música popular não só ocupou uma posição de e<strong>no</strong>rme destaque<br />

nas programações de época, como, em grande medida, o rádio foi responsável<br />

pelo processo, por meio do qual a música negra “clandestina e mal vista<br />

na vida urbana incipiente do começo do século” se espraiou, segundo ele,<br />

pelo país e pelo exterior com o rótulo de música popular brasileira, ainda que<br />

com ela coexistissem a música popular estrangeira e as composições de cunho<br />

nitidamente rural. Comentários de Nelson Werneck Sodré 34 também confirmam<br />

o sucesso da música popular, que, ao lado do futebol e dos comentários<br />

políticos, tomaram cada vez mais a preferência do público ouvinte a partir de<br />

1945. A par disso, cabe lembrar que as “representações teatrais” incluíam as<br />

33. Cf. PEREIRA, João Baptista Borges. Cor, profissão e mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo.<br />

São Paulo: Pioneira / EDUSP, 1967. p. 194-200.<br />

34. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da cultura brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1974. p. 92-97.<br />

162<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

radio<strong>no</strong>velas, produto cultural introduzido em 1941, que mereceu a atenção<br />

crescente dos ouvintes do rádio na década de 1950.<br />

No contexto de expansão da indústria cultural naqueles a<strong>no</strong>s, Juarez Brandão<br />

Lopes ressalta 35 que a “influência do rádio é, bem possivelmente, a que<br />

mais se faz sentir entre as populações interioranas. Entre <strong>no</strong>ssos índices, o<br />

número de estações de rádio foi o único a exibir sensível desconcentração<br />

territorial. Ele é pouco limitado pela difusão desigual da educação, embora<br />

mesmo neste caso esta deva também ter o seu efeito, pela transformação de<br />

idéias, valores e de mundo mental que acarreta”.<br />

Com efeito, a implantação e expansão da indústria e do mercado cultural<br />

se fizeram de modo desigual, variando de acordo com as especificidades<br />

de cada área da produção. A criação da indústria cinematográfica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

por exemplo, apresenta características bem peculiares. A despeito de outros<br />

problemas (alto custo dos investimentos, tec<strong>no</strong>logia e pessoal qualificado), a<br />

indústria cinematográfica não enfrentava diretamente as barreiras decorrentes<br />

dos altos índices de analfabetismo da população brasileira para fazer circular<br />

e exibir seus produtos, mas, decerto, teve como grande obstáculo a poderosa<br />

concorrência <strong>das</strong> grandes produtoras <strong>no</strong>rte-americanas que aqui exibiram maciçamente<br />

seus filmes naqueles a<strong>no</strong>s.<br />

A nacionalização do serviço de Censura Cinematográfica para Educação<br />

Popular pelo Decreto-Lei nº 21.240, de 4 de maio de 1932, e a criação<br />

do Conselho Nacional de Cinematografia, <strong>no</strong> Departamento de Imprensa<br />

e Propaganda (DIP), pelo Decreto-Lei nº 4.064, de 29 de janeiro de 1942,<br />

demonstram que o alcance do cinema já era relevante naquelas déca<strong>das</strong>. Os<br />

empreendimentos para fundar e desenvolver a indústria cinematográfica resultaram<br />

na criação <strong>das</strong> empresas Atlântida, em 1941, e Vera Cruz, em 1949.<br />

Mais adiante, em 1952, a copiagem obrigatória de filmes estrangeiros por laboratórios<br />

brasileiros serviu de forte impulso à implantação de infra-estrutura<br />

indispensável ao desenvolvimento do cinema, ainda que, em 1954, a SUMOC<br />

tenha reduzido pela metade aquela obrigatoriedade.<br />

Na realidade, o volume de “negócios” relativo ao cinema cresceu <strong>no</strong> setor<br />

da exibição de filmes. É surpreendente o aumento do número <strong>das</strong> telas de<br />

exibição (cineteatro ou cinema), não havendo àquela época nenhuma capital<br />

brasileira que não possuísse um daqueles estabelecimentos. Sua quantidade<br />

elevou-se de 1.317 em 1944, para 2.932 em 1954, chegando a 3.234 em 1964,<br />

35. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 175.<br />

163<br />

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o que mostra a existência de um público crescente. 36 A maioria dos filmes<br />

exibidos era de origem <strong>no</strong>rte-americana.<br />

Produtores e profissionais ligados à cinematografia, reunidos em congressos<br />

e através da imprensa, buscaram defender os interesses da indústria<br />

cinematográfica nacional. No II Congresso Nacional do Cinema <strong>Brasil</strong>eiro,<br />

reunido na cidade de São Paulo, em 1953, reivindicou-se a fixação de cotas<br />

máximas de importação de filmes estrangeiros e a revisão periódica da lei de<br />

proporcionalidade, que era de um filme brasileiro para oito estrangeiros, de<br />

acordo com o desenvolvimento da indústria nacional. A remessa dos lucros<br />

<strong>das</strong> distribuidoras estrangeiras era alvo de várias discussões divulga<strong>das</strong> pela<br />

imprensa. Ainda assim, em 1958, a lei permitia remeter 70% desses lucros ao<br />

câmbio livre e 30% ao câmbio oficial.<br />

Nos áureos tempos dos filmes hollywoodia<strong>no</strong>s, os obstáculos à implantação<br />

da indústria cinematográfica <strong>no</strong> país foram de grande monta. Contudo, <strong>no</strong> início<br />

dos a<strong>no</strong>s 1960, as propostas de um grupo de jovens cineastas, traduzi<strong>das</strong><br />

<strong>no</strong> movimento do “Cinema Novo”, que examinaremos mais adiante, repercutiam<br />

em festivais internacionais, onde a qualidade dos filmes brasileiros era<br />

reconhecida e premiada, como foi o caso de Vi<strong>das</strong> Secas, de Nelson Pereira<br />

dos Santos, <strong>no</strong> XVIII Festival de Cannes, em 1964.<br />

Vale <strong>no</strong>tar, entretanto, que na época em que se buscavam alternativas para<br />

a produção de cinema <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, uma quantidade <strong>no</strong>tável de filmes <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s<br />

para a televisão entrava <strong>no</strong> país. Em 1963, foram submetidos à censura<br />

581 filmes brasileiros e 1966 <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s, de curta e longa-metragem;<br />

<strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong>, foram examinados 1.876 filmes <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s para a televisão,<br />

não constando nenhum filme brasileiro deste gênero. 37 A televisão fora<br />

implantada <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> na década de 1950, sendo a primeira transmissão realizada<br />

pela TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1951. Apresentava programas humorísticos<br />

precários, programas de calouros e filmes <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s. Não se<br />

tor<strong>no</strong>u um meio de comunicação relevante naquele período, embora a evolução<br />

do número de aparelhos em uso seja indicativa de seu paulati<strong>no</strong> estabelecimento:<br />

3.500 aparelhos em 1951, 141.000 em 1955 e 593.000 em 1959. 38<br />

A partir dos dados expostos, depreende-se que os a<strong>no</strong>s 1950 e o início dos<br />

a<strong>no</strong>s 1960 marcam o surgimento da indústria e do mercado brasileiro de bens<br />

36. Os dados sobre o número de salas de exibição de filmes se encontram <strong>no</strong>s Anuários Estatísticos<br />

do IBGE de 1945, 1955 e 1966.<br />

37. Cf. Anuário Estatístico do IBGE de 1964.<br />

38. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 46.<br />

164<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

culturais. É relevante assinalar, ainda uma vez, que as transformações não se<br />

deram do mesmo modo, diferenciando-se de acordo com as especificidades<br />

de cada setor cultural, as quais não poderíamos examinar detalhadamente <strong>no</strong>s<br />

limites desse trabalho.<br />

De todo modo, observa-se que houve interesse de empresários brasileiros<br />

em investir na indústria cultural, buscando, provavelmente, <strong>no</strong>vo espaço<br />

de valorização de seus investimentos. As inversões de capitais estrangeiros<br />

não foram nada desprezíveis, intensificando-se ora na comercialização, ora na<br />

industrialização, ora na publicidade, variando segundo objetivos políticos ou<br />

econômicos. Aparentemente, o setor público se ocupou com mais destaque<br />

do controle da propriedade dos capitais investidos, da censura e do estabelecimento<br />

de <strong>no</strong>rmas relativas ao funcionamento dos meios de comunicação<br />

<strong>no</strong> país.<br />

Uma segunda observação diz respeito à grande influência que o estilo<br />

de vida, os valores e os padrões culturais <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s exerceram sobre<br />

os modos de vida e de pensar de cama<strong>das</strong> da população brasileira, através<br />

de livros, revistas, filmes e canções que aqui eram então consumidos. Essa<br />

influência se fazia sentir também na forma de produzir <strong>no</strong>ticiários de jornais,<br />

programas radiofônicos etc. Certamente, não impediu que expressões culturais<br />

brasileiras tomassem vulto e se destacassem naquele período, porém não<br />

se pode ig<strong>no</strong>rar o seu peso <strong>no</strong> setor cultural <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s analisados.<br />

Finalmente, o surgimento de um mercado de bens culturais, ainda que de<br />

modo geral limitado às grandes cidades e às faixas de população com maior<br />

grau de instrução e nível de renda, possivelmente levou a uma <strong>no</strong>va relação<br />

entre os integrantes dos setores artísticos e intelectuais e o público, ao qual se<br />

destinavam suas criações. A “conquista” de um público se tor<strong>no</strong>u cada vez<br />

mais relevante. A acolhida e reconhecimento <strong>das</strong> obras produzi<strong>das</strong> passou a<br />

depender de modo mais decisivo da atitude favorável ou desfavorável do público,<br />

o que, por sua vez, influía mais diretamente nas escolhas e orientações<br />

adota<strong>das</strong> <strong>no</strong> âmbito da produção.<br />

2.2 Movimentos de re<strong>no</strong>vação da produção cultural<br />

Ao lado da implantação da indústria e do mercado cultural, o contexto<br />

histórico dos a<strong>no</strong>s que vão de 1945 a 1966 se caracterizou por uma atmosfera<br />

de debates efervescentes <strong>no</strong>s meios culturais. A experiência histórica daqueles<br />

a<strong>no</strong>s motivou indivíduos de diferentes áreas da cultura a se reunirem na busca<br />

165<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

de alternativas para re<strong>no</strong>var a linguagem artística, literária, cinematográfica. O<br />

propósito re<strong>no</strong>vador desses grupos colocava em xeque, sob diferentes aspectos, o<br />

papel social da produção dos setores artísticos e literários e se deixou traduzir<br />

em eventos, grupos de vanguarda, manifestos, organização de instituições.<br />

Em janeiro de 1945, a Associação <strong>Brasil</strong>eira de Escritores promovia na cidade<br />

de São Paulo o I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro de Escritores. O evento reuniu diversas<br />

figuras proeminentes do mundo literário e intelectual dos vários estados<br />

brasileiros. 39 Dele, participaram tanto pessoas dedica<strong>das</strong> à produção literária,<br />

stricto sensu, como especialistas em direito, antropologia, sociologia, história. Na<br />

reunião, foram discutidos assuntos tão variados como a relação do rádio com a<br />

literatura, os direitos autorais de escritores e jornalistas, a necessidade de reforma<br />

agrária <strong>no</strong> país, a re<strong>no</strong>vação da literatura infantil, a edição de livros “instrutivos”,<br />

a criação de bibliotecas ambulantes etc. Apesar da diversidade dos assuntos<br />

abordados, percebe-se que os escritores estavam voltados para a questão da<br />

democratização da cultura, através do que avaliavam, sobretudo, as condições<br />

de divulgação de seu trabalho; mas buscavam também se posicionar frente a<br />

problemas sociais e políticos, discutindo temas como a reforma agrária.<br />

A questão do papel social e político do escritor se evidencia, claramente,<br />

em um dos itens do manifesto entregue por um grupo de congressistas à Associação<br />

<strong>Brasil</strong>eira de Escritores:<br />

[...] que embora não se deva confundir agitação, propaganda<br />

e literatura com a obra de arte e não seja possível atingir o<br />

escritor o máximo de sua força, na língua e <strong>no</strong> estilo, senão<br />

entregando-se na plenitude da liberdade, à sua própria inspiração,<br />

tenham presente os escritores a idéia de que somente a<br />

literatura e a arte que desempenham um papel social, servem<br />

à coletividade de seu tempo e se alimentam e se re<strong>no</strong>vam em<br />

contato com to<strong>das</strong> as cama<strong>das</strong> sociais, podem realizar a comunhão<br />

fecunda entre o povo e os criadores da cultura. 40<br />

As discussões que ocorreram <strong>no</strong> I Congresso <strong>Brasil</strong>eiro de Escritores deixam<br />

entrever o interesse pelo exame e pela redefinição do valor atribuído à<br />

produção cultural, a partir da perspectiva de sua inserção na sociedade. Re-<br />

39. Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática,<br />

1978.p. 137-140.<br />

40. Ibidem, p. 146.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

alizado <strong>no</strong> contexto histórico e político que marca o térmi<strong>no</strong> do regime do<br />

Estado Novo, o evento antecipa a “linha” dos debates e <strong>das</strong> discussões que<br />

vão distinguir os movimentos liderados por grupos jovens a partir de meados<br />

dos a<strong>no</strong>s 1950.<br />

Naqueles a<strong>no</strong>s, o concretismo marcou sua presença <strong>no</strong>s campos da literatura<br />

e <strong>das</strong> artes plásticas, exprimindo o caminho tomado pelas vanguar<strong>das</strong><br />

naquelas áreas da cultura. A poesia concreta fez sua estréia nas antologias<br />

Noigrandes, publica<strong>das</strong> em 1955, 1956 e 1958. Nessa última, apresentava-se<br />

um pla<strong>no</strong> piloto para a poesia concreta. Diz Alfredo Bosi 41 que os poetas<br />

concretos buscavam “abandonar polemicamente o verso” por uma linha de<br />

sintaxe espacial. O grupo “concretista” concebia a arte como uma atividade<br />

produtora, um “objeto de linguagem”, por meio do qual se opunha às vertentes<br />

intimistas da poesia.<br />

Um dos objetivos do movimento era provocar uma crise <strong>no</strong>s hábitos cognitivos<br />

do leitor, através de uma estrutura estética inspirada na imagem. O<br />

“tema” não era tido como relevante, mas os poemas concretos expunham,<br />

<strong>no</strong> mais <strong>das</strong> vezes, aspectos da sociedade capitalista, focalizando mercadorias,<br />

anúncios publicitários, o comércio dos sentimentos. Na realidade, a proposta<br />

de re<strong>no</strong>vação da linguagem poética deixava transparecer o despertar para as<br />

mudanças que então ocorriam: de um lado, valia-se da imagem e de seus efeitos<br />

sobre o leitor, recurso cada vez mais usado para a comunicação <strong>no</strong>s meios<br />

industriais capitalistas, de outro, privilegiava nas suas referências fatos que<br />

começavam a se tornar corriqueiros na vida cotidiana dos grandes centros<br />

urba<strong>no</strong>s do país naquela época.<br />

O movimento concretista evidenciou-se também nas artes plásticas. O projeto<br />

de um grupo de artistas plásticos – que se consideravam então “produtores<br />

da forma” – se aproximava daquele dos poetas, à medida que visava a manipular<br />

a forma de tal modo que ela produzisse uma <strong>no</strong>va organização visual, a qual<br />

atuaria sobre os hábitos tradicionais do espectador. A reprodução <strong>das</strong> criações<br />

deixou de ser censurada; afinal, buscava-se inserir a arte na sociedade, para que<br />

deixasse de ser um mero objeto de fruição. Nos a<strong>no</strong>s 1950, o concretismo levava<br />

“a arte brasileira a ingressar <strong>no</strong> campo daqueles movimentos que mais<br />

radicalizaram as possibilidades abertas pela ‘arte moderna’ ”. 42<br />

41. Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 528. Os<br />

comentários feitos sobre o movimento concretista na literatura se encontram nas p. 528-536.<br />

42. Cf. ZILIO, Carlos. Da antropologia à tropicália. In: ZILIO, Carlos; TAFETÁ, João Luiz;<br />

LEITE, Lígia Chiappine Moraes. Artes plásticas e literatura. 2 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1983. p.<br />

22-23.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

A mesma busca de uma linguagem artística que atuasse sobre o público,<br />

provocando a modificação de seus hábitos e despertando-o para problemas<br />

ou mudanças de ordem social, ocorreu <strong>no</strong> teatro, ainda que este guar<strong>das</strong>se suas<br />

especificidades. As experiências feitas por grupos como o Arena e o Oficina,<br />

em São Paulo, o Opinião, <strong>no</strong> Rio de Janeiro, o Teatro Popular do Nordeste,<br />

em Recife, e o Teatro de Equipe, em Porto Alegre, confirmam o empenho da<br />

classe teatral em pesquisar e modificar a escrita cênica. O Oficina, criado por<br />

um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,<br />

exemplifica bem o interesse em romper com o estilo do teatro tradicional<br />

a partir da experiência vivida num contexto histórico específico.<br />

Uma <strong>das</strong> características da tentativa de re<strong>no</strong>vação dos grupos ligados ao<br />

teatro foi a escolha de temas que chamassem a atenção para problemas de<br />

ordem social e política, especialmente característicos da sociedade brasileira,<br />

típicos de países “subdesenvolvidos” ou comuns à sociedade burguesa e capitalista<br />

de modo geral. Em 1960, o Oficina encenava duas peças. Uma de autor<br />

brasileiro inédito, tratava de problemas dos trabalhadores rurais do Paraná; a<br />

outra de autor estrangeiro tematizava a questão da libertação dos países lati<strong>no</strong>america<strong>no</strong>s,<br />

sempre ameaçados por regimes políticos autoritários. O propósito<br />

de mudança não se limitava, entretanto, aos temas, mas incluía a procura de <strong>no</strong>vas<br />

modalidades de comunicação com o público, o que exigia intensa pesquisa<br />

de interpretação, feita em laboratório, com exercícios especiais.<br />

Em 1962, o Oficina já se manifestava sobre as mudanças que vinham sendo<br />

postas em prática. Para o grupo a re<strong>no</strong>vação <strong>no</strong> campo do teatro havia dado<br />

um grande passo, “com o aparecimento do autor nacional, a desofisticação<br />

do estilo de interpretação, e com a introdução dos temas políticos e sociais”. 43<br />

Porém, era preciso dar continuidade às i<strong>no</strong>vações. Identificando-se como o<br />

grupo mais jovem a perceber que uma etapa do movimento havia se esgotado,<br />

o Oficina clamava pela necessidade de dar andamento a <strong>no</strong>vos experimentos,<br />

o que o levou não só a encenar temas problematizados em diferentes épocas<br />

e lugares, como também às pesquisas que resultaram na proposta de uma<br />

<strong>no</strong>va relação palco/platéia. Almejava-se uma linguagem cênica que deixasse o<br />

público dividido e em “crise”, impedindo que se identificasse com aquilo que<br />

via, atitude mais costumeira na sua relação com o teatro.<br />

O clima dos meios culturais estimulava e propiciava as mudanças e re<strong>no</strong>vações.<br />

O comentário de Glauber Rocha, transcrito a seguir, é bem sugestivo: “em<br />

43. Cf. PEIXOTO, Fernando. Teatro Oficina (1958 – 1982): trajetória de uma rebeldia cultural. São<br />

Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1982. p. 30-31.<br />

168<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

1957-58, eu, Miguel Borges, Cacá Diegues, David Neves, Mário Carneiro, Paulo<br />

César Sarraceni, Leon Hirszman, Marcos Farias e Joaquim Pedro (todos mal<br />

saídos da casa dos vinte) <strong>no</strong>s reuníamos em bares de Copacabana e do Catete<br />

para discutir os problemas do cinema brasileiro. Havia uma revolução <strong>no</strong> teatro,<br />

o concretismo agitava a literatura e as artes plásticas, em arquitetura a cidade de<br />

Brasília evidenciava que a inteligência do país não encalhara. E o cinema?” 44<br />

A resposta dos cineastas brasileiros se fez sentir através do movimento conhecido<br />

como “Cinema Novo”. A I Convenção da Crítica Cinematográfica,<br />

realizada em São Paulo, em 1960, representou mais um passo na definição <strong>das</strong><br />

alternativas que já vinham sendo busca<strong>das</strong> pelo jovem grupo. Suas propostas<br />

para a produção de um cinema nacional independente, de bases não empresariais,<br />

ficam mais claras. O cinema de “autor” tor<strong>no</strong>u-se um meio efetivo<br />

para enfrentar os problemas da grande produção. Os cineastas engajados <strong>no</strong><br />

movimento passaram a valorizar na estrutura estética de suas criações a pobreza<br />

<strong>das</strong> técnicas que utilizavam, seja como uma escolha de estilo, seja como<br />

um meio para manter a independência do cinema nacional; 45 os temas de<br />

sua preferência focalizavam prioritariamente problemas de ordem social. No<br />

início dos a<strong>no</strong>s 1960, o “Cinema Novo” ganhava decididamente um lugar de<br />

destaque <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> da produção cultural brasileira.<br />

Os movimentos de “re<strong>no</strong>vação” <strong>no</strong>s campos da literatura, <strong>das</strong> artes plásticas,<br />

do teatro e do cinema espelham a efervescência que caracterizou os<br />

meios culturais de meados da década de 1950 até o início dos a<strong>no</strong>s 1960. Em<br />

sua maioria, eclodiram <strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo liderados por<br />

grupos jovens. As “soluções” que encontraram para romper com expressões<br />

artísticas tradicionais <strong>no</strong>s seus diferentes campos de atuação tinham em comum<br />

a relevância atribuída à inserção da produção cultural na sociedade. Fosse<br />

ela sublinhada numa temática específica que retratasse problemas sociais,<br />

fosse enfatizada na busca de uma estrutura estética que atingisse os costumes<br />

e hábitos do público – despertando-o para as mudanças, de um modo ou de<br />

outro –, questionava-se uma faceta da produção cultural que dizia respeito a<br />

seu papel social.<br />

Ao lado da crescente efervescência dos jovens grupos atuantes <strong>no</strong> campo<br />

da cultura, o início dos a<strong>no</strong>s 1960 assistiu ao recrudescimento <strong>das</strong> lutas dos<br />

estudantes universitários, volta<strong>das</strong> para a solução dos problemas educacionais<br />

44. Cf. HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos Augusto. Cultura e participação<br />

<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 60. 5 ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1986. p. 35.<br />

45. Cf. GALANO, Ana Maria. Die Revolutionäre Illusion des Cinema Novo. Filstudio, n. 56, Aachen,<br />

s/d., p. 26-27.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

e nacionais, como veremos mais adiante. Os Centros Populares de Cultura<br />

(CPCs) surgem, justamente, num contexto em que muitos dos jovens – que<br />

tinham acesso a bens privilegiados de educação e cultura – irrompiam <strong>no</strong><br />

cenário cultural e político à procura de alternativas para os graves problemas<br />

que assolavam a grande maioria da população brasileira. O primeiro CPC foi<br />

organizado <strong>no</strong> Rio de Janeiro por um grupo, também jovem, de intelectuais e<br />

artistas e filiou-se em 1961 à União Nacional dos Estudantes, ganhando logo<br />

relevância. A UNE encarregou-se de criar outros centros semelhantes ao do<br />

Rio de Janeiro vinculando-se às Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) em<br />

diversos estados brasileiros. Os integrantes dos CPCs pretendiam atuar junto<br />

às cama<strong>das</strong> populares da população brasileira – trabalhadores de baixa renda,<br />

operários, camponeses –, <strong>no</strong> sentido de lhes possibilitar a compreensão política<br />

da origem social de seus problemas imediatos (baixos salários, exploração,<br />

fome, miséria), por meio da divulgação de filmes, livros, cader<strong>no</strong>s de poesia,<br />

música etc., cujo conteúdo estivesse estreitamente relacionado ao esclarecimento<br />

político daqueles problemas. Os CPCs desenvolveram uma atividade<br />

intensa <strong>no</strong> início dos a<strong>no</strong>s 1960, encenando peças em porta de fábricas, favelas,<br />

sindicatos, publicando livros, financiando filmes, gravando discos.<br />

Além dessas atividades, o movimento dos CPCs difundiu e aprofundou a discussão<br />

sobre o compromisso político e social dos setores artísticos e intelectuais com<br />

os problemas <strong>das</strong> desigualdades de classe e da independência nacional frente à<br />

dominação imperialista liderada pelos Estados Unidos. A experiência dos CPCs,<br />

baseada na prática, motivou, inicialmente, a reflexão sobre os limites de uma produção<br />

cultural e artística comprometida politicamente, e de modo posterior, sobre<br />

a eficiência e também a validade da utilização daquela produção como meio de<br />

levar as cama<strong>das</strong> populares ao esclarecimento político de seus problemas.<br />

Como ocorre com freqüência <strong>no</strong>s movimentos liderados por jovens, a<br />

posição transitória que antecede seu ingresso <strong>no</strong> mundo adulto e do trabalho<br />

lhes permite atitudes despoja<strong>das</strong>, aspirações ousa<strong>das</strong>, às vezes controverti<strong>das</strong><br />

e nem sempre realizáveis. É possível que o mesmo tenha ocorrido com os<br />

CPCs. Ainda assim, eles “marcaram época”, senão junto às cama<strong>das</strong> populares,<br />

certamente <strong>no</strong>s meios intelectuais e artísticos, ao abordar uma de suas<br />

questões mais caras e polêmicas – o sentido social e político de suas obras.<br />

Sem dúvida, a atmosfera de inquietação, debates e polêmicas que se apodera<br />

de grupos atuantes <strong>no</strong> campo da cultura mostra seu empenho na definição<br />

do sentido social e político da produção daquele setor. Tal inquietação ocorre<br />

justamente em um contexto histórico complexo, <strong>no</strong> qual a industrialização e<br />

170<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

o desenvolvimento do país não só se tornam as justificativas mais relevantes<br />

do projeto de dominação política <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> dirigentes, como efetivamente<br />

passam a influir nas condições de vida de parcelas da população, trazendo à tona<br />

tanto as desigualdades sociais existentes, quanto a posição, privilegiada ou desprivilegiada,<br />

dos grupos na hierarquia social. Nessa configuração específica, os<br />

artistas e intelectuais questionam os meios utilizados para a elaboração de suas<br />

obras e os efeitos de sua divulgação junto ao público, exprimindo dessa forma<br />

seu despertar para o problema da inserção social da produção cultural.<br />

3. Mudanças na vida intelectual<br />

Ao lado <strong>das</strong> mudanças que ocorriam <strong>no</strong>s meios culturais, a expansão <strong>das</strong><br />

universidades, as lutas estudantis e a participação da comunidade acadêmicocientífica<br />

vão marcar definitivamente a vida intelectual do país <strong>no</strong> contexto<br />

dos a<strong>no</strong>s que vão de 1945 a 1966.<br />

3.1 A expansão <strong>das</strong> universidades<br />

No período analisado, verifica-se uma expansão <strong>no</strong>tável da rede de ensi<strong>no</strong><br />

superior <strong>no</strong> país. Basta dizer que o número de alu<strong>no</strong>s matriculados em escolas<br />

de ensi<strong>no</strong> superior se eleva de 27.253 em 1945, para 142.386 em 1964. 46 Houve,<br />

portanto, uma demanda crescente pelos títulos universitários de cunho<br />

profissional. O desenvolvimento dos setores burocráticos <strong>das</strong> empresas e a<br />

modernização dos meios políticos e administrativos do Estado criavam <strong>no</strong>vas<br />

oportunidades de emprego, exigindo profissionais em áreas especializa<strong>das</strong>.<br />

O crescimento desse setor do mercado de trabalho repercutia, por sua vez,<br />

na definição dos campos de formação profissional oferecidos pelos estabelecimentos<br />

de ensi<strong>no</strong> superior. Áreas do conhecimento que tradicionalmente<br />

eram ministra<strong>das</strong> <strong>no</strong> país, como a engenharia, ampliaram seus ramos de especialização;<br />

outras adquiriam independência, como é o caso da eco<strong>no</strong>mia. A<br />

disciplina foi ministrada primeiro nas Faculdades de Direito e nas Escolas de<br />

Engenharia, depois <strong>no</strong>s cursos de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> de Faculdades de Filosofia,<br />

e a partir de 1945 tor<strong>no</strong>u-se uma área de formação específica com a criação<br />

<strong>das</strong> Faculdades de Eco<strong>no</strong>mia.<br />

46. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. p. 93.<br />

171<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

A procura pela educação universitária costuma ser atribuída também às<br />

oportunidades que as cama<strong>das</strong> médias urbanas tiveram, naquela época, de<br />

realizar seus anseios de ascensão social por meio da conquista de um grau<br />

mais elevado de instrução. No <strong>Brasil</strong>, desde o século XIX, a instrução era<br />

valorizada como símbolo de prestígio social e um fator de ascensão social. O<br />

grau universitário não só assegurava maiores possibilidades de prestígio social,<br />

como um nível de renda superior àquele oferecido pelos demais graus de ensi<strong>no</strong>.<br />

A par disso, os diplomados em escolas superiores possuíam privilégios<br />

legais relativos ao exercício profissional, ocupação de cargos e outros.<br />

No período em foco, as cama<strong>das</strong> médias urbanas foram sendo favoreci<strong>das</strong><br />

pela política econômica que lhes assegurava, comparativamente a outras<br />

parcelas da população, um nível de renda mais elevado. Assim, famílias<br />

pertencentes àquelas cama<strong>das</strong> puderam retardar o ingresso de seus filhos <strong>no</strong><br />

mundo profissional; ao mesmo tempo, as <strong>no</strong>vas oportunidades de emprego<br />

na burocracia pública e privada, exigindo grau universitário, justificavam suas<br />

expectativas. Em tais condições, tor<strong>no</strong>u-se ainda mais significativo o valor<br />

atribuído à instrução como um importante fator de diferenciação e distinção<br />

de classe, visto então como um meio para as cama<strong>das</strong> médias se aproximarem<br />

dos contingentes mais ricos <strong>no</strong> meio urba<strong>no</strong>. Analisando as classes sociais <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1950 e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que a<br />

“instrução constituía ao mesmo tempo uma <strong>das</strong> vias de ascensão social, quanto<br />

uma <strong>das</strong> barreiras que a impediam, e <strong>das</strong> mais importantes do país”. 47<br />

Diversas medi<strong>das</strong> governamentais foram toma<strong>das</strong> para atender à demanda<br />

que provinha, de um lado, da expansão do mercado de trabalho <strong>no</strong>s setores<br />

da burocracia pública e privada, e de outro, <strong>das</strong> expectativas de ascensão social<br />

<strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias urbanas. A aglutinação de escolas isola<strong>das</strong> e a organização<br />

de <strong>no</strong>vas universidades foi facilitada por dois Decretos-Lei: o primeiro deles,<br />

nº 8.457, de dezembro de 1945, promulgado pelo presidente provisório, José<br />

Linhares, modificou as exigências estabeleci<strong>das</strong> pelo Estatuto <strong>das</strong> Universidades<br />

<strong>Brasil</strong>eiras, de 1931, facilitando em grande medida a organização de<br />

<strong>no</strong>vas universidades. O decreto permitia que uma universidade se organizasse<br />

com base em três faculdades, duas <strong>das</strong> quais deveriam ser escolhi<strong>das</strong> dentro<br />

<strong>das</strong> áreas da Filosofia, Direito, Medicina e Engenharia, diferentemente do<br />

Estatuto de 1931, que exigia a inclusão de três dentre aquelas áreas de formação<br />

profissional. Desse modo, tornava-se possível fundar uma universidade<br />

sem que fosse preciso investir nas custosas áreas de Medicina e Engenharia.<br />

47. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 124.<br />

172<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

O segundo Decreto-Lei, nº 1.254, de 1950, federalizava estabelecimentos de<br />

ensi<strong>no</strong> superior mantidos pelos estados, por municípios ou por particulares,<br />

efetivando os professores como funcionários públicos, com remuneração e<br />

privilégios iguais ao da antiga Universidade do <strong>Brasil</strong>.<br />

Ao lado <strong>das</strong> medi<strong>das</strong> governamentais que facilitavam a criação <strong>das</strong> universidades<br />

<strong>no</strong> país, outras foram toma<strong>das</strong> para facilitar o acesso dos estudantes àquelas<br />

instituições. Conheci<strong>das</strong> como “leis de equivalência”, os Decretos-Lei nº 1.076, de<br />

1950, nº 1.821, de 1953 e nº 34.330, de 1953, visavam a fazer a equivalência dos<br />

cursos profissionais, comercial, industrial, <strong>no</strong>rmal ou agrícola ao antigo curso secundário,<br />

para efeito de progressão <strong>no</strong> sistema escolar. Outra medida diz respeito<br />

à gratuidade do ensi<strong>no</strong>. A Constituição de 1946 estabelecia que o ensi<strong>no</strong> superior<br />

oficial deveria ser pago pelos estudantes, exceto aqueles que, demonstrando suas<br />

habilidades, fossem carentes de recursos financeiros. Porém, embora as taxas de<br />

pagamento nunca tivessem sido aboli<strong>das</strong>, elas foram manti<strong>das</strong> em seu valor <strong>no</strong>minal,<br />

de tal modo que a inflação as desvalorizou, não valia a pena cobrá-las.<br />

As medi<strong>das</strong> governamentais que fomentaram a expansão da rede de ensi<strong>no</strong> superior<br />

foram adota<strong>das</strong>, em sua maioria, durante o período <strong>no</strong> qual tramitou <strong>no</strong> Congresso<br />

a famosa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O anteprojeto de lei<br />

dava cumprimento à determinação da Constituição de 1946 de regulamentar, em nível<br />

nacional, todos os níveis de ensi<strong>no</strong>, inclusive as universidades. O estudo foi formulado<br />

na gestão do Ministro da Educação, Clemente Mariani, e entregue ao Congresso em<br />

1948. Durante treze a<strong>no</strong>s, o anteprojeto suscitou profundos debates e opiniões de tal<br />

modo divergentes, oriun<strong>das</strong> de grupos atuantes <strong>no</strong> campo da educação, que somente<br />

em 1961 foi aprovado pelo Congresso. O fato é bastante sugestivo. Mostra, de um<br />

lado, que a demanda pela educação universitária foi <strong>no</strong>tável a ponto de pressionar a<br />

adoção de medi<strong>das</strong> governamentais, sem que houvesse uma diretriz consensual para o<br />

conjunto <strong>das</strong> atividades educacionais <strong>no</strong> país; por outro lado, indica que o crescimento<br />

<strong>das</strong> universidades se fez à revelia de um projeto para essas instituições, e de um pla<strong>no</strong><br />

que abrangesse e integrasse os diferentes graus de ensi<strong>no</strong>.<br />

O resultado <strong>das</strong> deman<strong>das</strong> pela educação universitária e <strong>das</strong> medi<strong>das</strong> toma<strong>das</strong><br />

pelo gover<strong>no</strong> federal se fizeram sentir, principalmente, a partir de meados<br />

da década de 1950.<br />

Segundo Luiz Antônio Cunha, <strong>no</strong> período de 1954 a 1964 o ensi<strong>no</strong> superior<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> organizou-se de forma predominantemente universitária, contribuindo<br />

as universidades com cerca de 63% do total de matrículas. 48 O processo de federalização,<br />

iniciado em 1950, concorreu para que escolas isola<strong>das</strong> manti<strong>das</strong> pela<br />

48. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 97.<br />

173<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

União, em diversas capitais brasileiras, se reunissem e se transformassem em universidades.<br />

No período em estudo, somente a Universidade de Brasília escapou<br />

desse processo de aglutinação. Criada em 1961, em regime de fundação de direito<br />

público, pretendia ser um modelo para o ensi<strong>no</strong> superior <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, capaz de influir<br />

na estrutura de outras universidades e escolas superiores.<br />

Em 1954, havia 16 universidades <strong>no</strong> país, com cinco delas manti<strong>das</strong> por<br />

instituições confessionais e 11 pelo Estado, através do gover<strong>no</strong> federal e de<br />

gover<strong>no</strong>s estaduais. De 1955 a 1964, foram cria<strong>das</strong> 21 universidades, sendo<br />

cinco manti<strong>das</strong> por instituições religiosas e as demais pelo Estado. Em 1964,<br />

havia 30 universidades <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Entretanto, esse crescimento surpreendente<br />

não foi suficiente para equilibrar a oferta e a demanda do ensi<strong>no</strong> superior. Em<br />

1964, o número de candidatos ao vestibular era 2,5 vezes maior do que em<br />

1946, e o número de vagas 2,1. A relação de candidatos por vagas continuava<br />

a crescer, mas variava muito de acordo com os cursos: “enquanto a relação<br />

candidato/vagas dos cursos de Direito se mantinha <strong>no</strong> nível de 1,7, a dos<br />

cursos de Engenharia aumentava de 2,9 para 3,6 e de Medicina de 5,4 para<br />

7,6”, diz Luiz Antônio Cunha. 49 A par disso, crescia o número de candidatos<br />

aprovados <strong>no</strong> vestibular que não podiam matricular-se devido à limitação <strong>das</strong><br />

vagas, surgindo nesse contexto a figura do “excedente”.<br />

3.2 As lutas estudantis<br />

Enquanto o Estado tomava medi<strong>das</strong> <strong>no</strong> sentido de ampliar o número de<br />

universidades e abrir os canais de acesso ao ensi<strong>no</strong> superior, a partir da segunda<br />

metade da década de 1950, irromperam lutas contínuas dos estudantes<br />

universitários que reivindicavam melhores condições de estudo nas universidades<br />

e, tomando posições políticas com relação a graves problemas sociais,<br />

terminaram questionando a ordem social do país.<br />

Criada em 1938, a União Nacional dos Estudantes (UNE) reuniu universitários<br />

de diversos estados brasileiros através <strong>das</strong> Uniões Estaduais de Estudantes<br />

(UEES). Sua influência na condução <strong>das</strong> lutas estudantis foi decisiva.<br />

Durante a década de 1940, fizeram parte da UNE estudantes que apoiavam<br />

o movimento socialista, ou pertenciam ao Partido Socialista <strong>Brasil</strong>eiro. No<br />

entanto, o peso político dos jovens filiados à União Democrática Nacional<br />

(UDN) foi, certamente, responsável pelas decisões toma<strong>das</strong> pela entidade em<br />

49. Ibidem, p. 97.<br />

174<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

seus primeiros a<strong>no</strong>s. Somente a partir de 1955, a atuação de grupos de estudantes<br />

socialistas e comunistas se destacou, vindo então a marcar os rumos<br />

políticos do movimento estudantil. A UNE empreendeu campanhas contra<br />

a inflação e contra as influências <strong>no</strong>rte-americanas <strong>no</strong>s “negócios” políticos<br />

do país. Paralelamente, empenhou-se na organização de seminários cujo objetivo<br />

era discutir questões relativas à democratização do ensi<strong>no</strong>, tema central<br />

do I Seminário Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong> de Reforma e Democratização do Ensi<strong>no</strong><br />

Superior, realizado em 1960 na cidade de Salvador. Além disso, a entidade<br />

tratou também da reforma universitária, cujos debates se iniciaram em 1961,<br />

<strong>no</strong> I Seminário Nacional de Reforma Universitária, reunido em Salvador. O<br />

temário dessa reunião incluiu tópicos como exame vestibular, administração<br />

da universidade e participação do corpo discente, auto<strong>no</strong>mia universitária,<br />

cátedra vitalícia, tempo integral para o corpo docente, mercado de trabalho e<br />

função da universidade.<br />

Contudo, foram os debates e as resoluções do II Seminário Nacional de<br />

Reforma Universitária, reunido em Curitiba em março de 1962, que levaram<br />

os estudantes a direcionar os rumos de seu movimento com base em posições<br />

toma<strong>das</strong> frente a problemas políticos de maior amplitude. Durante o seminário,<br />

foram discuti<strong>das</strong> questões como a divisão do mundo em dois blocos políticos,<br />

as desigualdades socioeconômicas <strong>das</strong> populações dos países subdesenvolvidos<br />

e o papel da universidade nessas sociedades. A partir do encontro, os estudantes,<br />

sob a liderança da UNE, passaram a defender a realização de reformas imediatas<br />

que, efetivamente, conduzissem o país ao desenvolvimento, posicionando-se<br />

então a favor <strong>das</strong> classes sociais desprivilegia<strong>das</strong> e questionando a posição “alienada”<br />

da universidade diante dos problemas reais do país.<br />

A definição de <strong>no</strong>vas perspectivas e alvos políticos resultou, de um lado,<br />

em um maior empenho do movimento estudantil pela reforma universitária,<br />

e de outro, na intensificação <strong>das</strong> ações volta<strong>das</strong> para o esclarecimento político<br />

<strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares.<br />

As lutas pela reforma universitária influíram nas decisões que vieram a ser<br />

toma<strong>das</strong> pelos órgãos governamentais responsáveis pelas mudanças <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong><br />

superior, seja <strong>no</strong> período de foco, seja <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s seguintes, quando se completou<br />

o pla<strong>no</strong> da reforma universitária em 1968. Porém, as reivindicações dos<br />

estudantes, entre elas a participação estudantil <strong>no</strong> processo decisório relativo à<br />

vida universitária, não foram atendi<strong>das</strong> de acordo com suas expectativas.<br />

Entretanto, a atuação dos estudantes junto às cama<strong>das</strong> populares tomou<br />

grande vulto e repercutiu em diferentes setores da sociedade, vindo a marcar,<br />

175<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

definitivamente, a polêmica sobre o papel político da camada intelectual e artística.<br />

Essa observação já havia sido feita em item anterior, quando tratamos<br />

dos Centros Populares de Cultura filiados à UNE. Note-se, contudo, que os<br />

estudantes não se limitaram a fazer uso de meios culturais em seu propósito<br />

de levar as classes populares à consciência política de seus problemas.<br />

Ocuparam-se também, intensamente, da educação de adolescentes e adultos,<br />

visando sobretudo alfabetizá-los. A partir de março de 1961, muitos jovens<br />

se integraram em programas de alfabetização, organizados pelo Movimento<br />

de Educação de Base (MEB), instituído pelo gover<strong>no</strong> federal através do Decreto-Lei<br />

nº 50.370. A UNE criou uma Comissão de Alfabetização em outubro<br />

do mesmo a<strong>no</strong>. Após o II Seminário Nacional de Reforma Universitária,<br />

reunido em 1962, a entidade dispôs-se a promover uma ampla campanha de<br />

alfabetização de adultos, definindo assim a educação popular como uma de<br />

suas principais metas. Para a consecução de seus objetivos utilizou os Centros<br />

Populares de Cultura que havia criado em diversos estados brasileiros. 50<br />

No início dos a<strong>no</strong>s 1960, os estudantes universitários questionaram a estrutura<br />

social do país e tomaram o partido <strong>das</strong> classes subalternas, sujeitas à<br />

exploração contínua de sua força de trabalho. O despertar para esse problema<br />

provocou e<strong>no</strong>rme efervescência <strong>no</strong>s meios estudantis, levando seus integrantes<br />

a intensas atividades em diversos pontos do país.<br />

3.3 A participação da comunidade acadêmico-científica<br />

A expansão <strong>das</strong> universidades e as lutas estudantis se fizeram acompanhar<br />

de grande mobilização de cientistas e professores universitários brasileiros.<br />

Como ocorria em outros setores dos meios intelectuais e artísticos, a redemocratização<br />

do país e a experiência <strong>das</strong> mudanças sociais e econômicas estimularam<br />

muitos deles à participação ativa, quer na organização de instituições de<br />

pesquisa, criação de órgãos de apoio à ciência ou associações volta<strong>das</strong> para a<br />

divulgação do conhecimento científico, quer em movimentos cujo objetivo<br />

era a reforma do ensi<strong>no</strong> superior.<br />

Os esforços e as iniciativas de grupos dos meios acadêmicos e científicos,<br />

<strong>no</strong> contexto que vai de 1945 a 1964, mostram a importância e o valor que<br />

passou a ser atribuído à cultura e formação técnico-científica em detrimento<br />

50. Sobre os movimentos voltados para a educação popular ver MANFREDI, Silvia Maria. Política:<br />

educação popular. São Paulo: Símbolo, 1978. p. 43-59.<br />

176<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

da formação letrada clássica, baseada em estudos humanísticos tradicionais,<br />

que, predominante <strong>no</strong>s meios intelectuais brasileiros, vai de fato assumir uma<br />

posição de me<strong>no</strong>r destaque e prestígio, justamente naquele período. Por outro<br />

lado, a importância da produção e formação científica era justificada pelos benefícios<br />

que a ciência poderia trazer ao desenvolvimento social e econômico<br />

do país. Ao analisar a formação da comunidade científica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, Simon<br />

Schwartzman comenta que “a <strong>no</strong>ção de que a ciência e o ensi<strong>no</strong> deveriam voltar-se<br />

mais decisivamente para problemas econômicos e sociais da realidade<br />

brasileira era, evidentemente, bastante difundida entre cientistas e professores<br />

universitários brasileiros do pós-guerra o que levava a um contínuo debate<br />

sobre a melhor forma de organizar e estimular o sistema de educação superior<br />

e a pesquisa científica <strong>no</strong> país”. 51<br />

O empenho em fazer reconhecer o valor da ciência como um instrumento<br />

indispensável para o desenvolvimento socioeconômico de base industrial<br />

se traduz em diversas iniciativas toma<strong>das</strong> por integrantes da comunidade<br />

acadêmico-científica. Uma delas, foi a criação da Sociedade <strong>Brasil</strong>eira para o<br />

Progresso da Ciência (SBPC), em 1948, na cidade de São Paulo. 52 A SBPC foi<br />

um dos marcos mais importantes da formação da comunidade acadêmica <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>, promovendo desde sua criação reuniões anuais em diferentes cidades<br />

do país e publicando a revista Ciência e Cultura, desde 1949.<br />

No decorrer daqueles a<strong>no</strong>s, foram criados também institutos e centros<br />

de pesquisa. Em 1949, organizava-se o Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Físicas<br />

(CBPF), como um órgão autô<strong>no</strong>mo que, inicialmente, recebeu subvenções<br />

vota<strong>das</strong> pelas Câmaras Federal e Municipal, além de contribuições da Confederação<br />

Nacional da Indústria. O CBPF foi a alternativa encontrada para<br />

51. Ver SCHWARTZMAN, Simon. Formação da comunidade científica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Nacional;<br />

Rio de Janeiro: Financiadora de Estudos e Projetos, 1979. p. 287.<br />

52. A SBPC tinha por objetivos: “a) a justificação da ciência, mostrando ao público seus progressos,<br />

seus métodos de trabalho, suas aplicações e até mesmo suas limitações buscando criar<br />

em to<strong>das</strong> as classes, e conseqüentemente na administração pública, atitude de compreensão,<br />

apoio e respeito para as atividades de pesquisa; b) robustecimento da organização científica<br />

nacional, pela melhor articulação dos cientistas, pelo seu mais íntimo conhecimento mútuo,<br />

numa tentativa de unir as diversas especialidades e dissipar eventuais incompreensões por meio<br />

de ações conjuntas, pelo incentivo à formação de <strong>no</strong>vos pesquisadores e ainda pela remoção<br />

de entraves que se oponham ao progresso da ciência; c) pela manutenção de elevados padrões<br />

de conduta científica, e ao mesmo tempo, combate à pseudo e à meia ciência, que tantas vezes<br />

tomam posições que deveriam pertencer à verdadeira ciência; d) assumir atitude definida e ativa<br />

de combate, <strong>no</strong> sentido de assegurar, contra possíveis incompreensões, a liberdade de pesquisa,<br />

o direito do pesquisador aos meios indispensáveis de trabalho, a estabilidade para a realização<br />

de seus programas de investigação, ao ambiente favorável à pesquisa desinteressada”. Cf. Ciência<br />

e Cultura , v. 1, n. 1, São Paulo: SBPC, 1949. p. 1-2. apud: MOREL, Regina Lúcia de Moraes.<br />

Ciência e estado: a política científica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979. p. 42.<br />

177<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

superar as dificuldades de ordem administrativa e financeira existentes na antiga<br />

Universidade do <strong>Brasil</strong>, que impediam o desenvolvimento da pesquisa<br />

naquela instituição. Na área da física, foram criados também o Instituto de<br />

Pesquisas Radioativas, em 1953, em Minas Gerais, e o Instituto de Energia<br />

Atômica, junto à Universidade de São Paulo, em 1956.<br />

Iniciativas semelhantes ocorriam em outros ramos do conhecimento científico,<br />

demonstrando que o interesse e o esforço despendido para a implantação<br />

de condições indispensáveis para a produção científica não constituíram,<br />

naquele contexto, um fato isolado. No campo <strong>das</strong> ciências sociais, por<br />

exemplo, surgiram naquela época diversas instituições, entre elas o Instituto<br />

Joaquim Nabuco, em 1949, em Recife, o Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Estudos Políticos,<br />

em 1953, que se transforma em Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros<br />

(ISEB), em 1955, e o Centro Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong> de Pesquisas em <strong>Ciências</strong><br />

<strong>Sociais</strong> (CLAPS), em 1957, <strong>no</strong> Rio de Janeiro.<br />

Quer se constituíssem como órgãos autô<strong>no</strong>mos como o CBPF, quer<br />

fossem vinculados ao gover<strong>no</strong> federal como o ISEB, a organismos internacionais<br />

como o CLAPS, ligado à UNESCO ou a uma universidade, como o<br />

Instituto de Energia Atômica, multiplicaram-se as instituições volta<strong>das</strong> para<br />

a pesquisa e com elas, conseqüentemente, o número de congressos, seminários,<br />

reuniões científicas e revistas especializa<strong>das</strong>. As ações empreendi<strong>das</strong><br />

por professores universitários e cientistas deram <strong>no</strong>va feição às atividades<br />

volta<strong>das</strong> para a produção de conhecimento científico, que <strong>no</strong> decorrer daqueles<br />

a<strong>no</strong>s deixavam de ser fruto de esforços individuais isolados e passavam<br />

a ser vistas como resultado de empreendimentos coletivos e custosos.<br />

As medi<strong>das</strong> que levaram, em 1951, à criação do Conselho Nacional de<br />

Pesquisa, cujo <strong>no</strong>me mudou para Conselho Nacional de Desenvolvimento<br />

Científico e Tec<strong>no</strong>lógico (CNPq), e da Campanha de Aperfeiçoamento do<br />

Pessoal de Ensi<strong>no</strong> Superior, atualmente de<strong>no</strong>minada Coordenação de Aperfeiçoamento<br />

de Pessoal de Nível Superior (CAPES), institucionalizando <strong>no</strong><br />

país uma política científica, 53 atestam, ainda uma vez, o teor <strong>das</strong> mudanças<br />

que se efetuavam <strong>no</strong>s meios científicos. Enquanto o CNPq tinha por finalidade<br />

estimular o desenvolvimento da investigação científica e tec<strong>no</strong>lógica<br />

em qualquer domínio do conhecimento, a CAPES pretendia promover<br />

“uma campanha para a melhoria do ensi<strong>no</strong> superior <strong>no</strong> país e a realização<br />

de medi<strong>das</strong> destina<strong>das</strong> a assegurar a existência de um quadro de técnicos,<br />

cientistas e humanistas suficientes para atender às necessidades dos empre-<br />

53. Ver MOREL, Regina Lúcia de Moraes. Op. cit., p. 43-50.<br />

178<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

endimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento econômico<br />

e cultural do <strong>Brasil</strong>”. 54<br />

A obtenção de apoio e recursos financeiros para a formação de pesquisadores<br />

e produção de conhecimento resultaram, também, de acordos assinados<br />

entre o Ministério da Educação e Cultura e o gover<strong>no</strong> <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>, ou<br />

instituições priva<strong>das</strong> como a <strong>Fundação</strong> Ford e a <strong>Fundação</strong> Rockfeller. Entre<br />

as áreas mais beneficia<strong>das</strong> por esses recursos destaca-se o Instituto Tec<strong>no</strong>lógico<br />

da Aeronáutica, que deu início às suas atividades em 1947, e ocupou as<br />

instalações em São José dos Campos em 1950, com o propósito de dinamizar<br />

o ensi<strong>no</strong> superior, vinculando-se à pesquisa e à investigação tec<strong>no</strong>lógica.<br />

Contudo, os maiores investimentos foram feitos <strong>no</strong> campo da agro<strong>no</strong>mia na<br />

antiga Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, na Universidade de<br />

São Paulo e na Universidade do Rio Grande do Sul, em programas que pretendiam<br />

conjugar o ensi<strong>no</strong> e a pesquisa com o intuito de favorecer o crescimento<br />

da produção agrícola. 55<br />

Ao lado dessas iniciativas e medi<strong>das</strong>, grupos da comunidade acadêmicocientífica<br />

participaram de movimentos voltados para a melhoria do ensi<strong>no</strong> <strong>no</strong><br />

país, como mostra sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública<br />

que eclodiu em São Paulo, em 1959. Manifestos, artigos e editoriais veiculados<br />

por jornais de grande circulação, comícios e convenções fizeram parte da<br />

campanha, cujo objetivo era a expansão e consolidação do ensi<strong>no</strong> público em<br />

todos os níveis, visto então como uma condição necessária à democracia e ao<br />

desenvolvimento industrial <strong>no</strong> país.<br />

Sem dúvida, as mudanças socioeconômicas fomenta<strong>das</strong> pela industrialização<br />

possibilitaram o conjunto <strong>das</strong> ações empreendi<strong>das</strong> <strong>no</strong>s meios universitários<br />

e científicos, que visavam a edificar as bases indispensáveis para a<br />

produção científica e a formação de profissionais qualificados.<br />

54. Ibidem, p. 46.<br />

55. Ver CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 191.<br />

179<br />

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Em que medida o contexto histórico do período que vai de 1945 a 1966<br />

possibilitou à produção <strong>das</strong> ciências sociais expandir-se e modificar seu horizonte<br />

temático, assim como suas abordagens? O objetivo desse capítulo é, inicialmente,<br />

confrontar as características <strong>das</strong> pesquisas <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências<br />

sociais, observa<strong>das</strong> <strong>no</strong> conjunto de livros constante do acervo da <strong>Biblioteca</strong><br />

Nacional, com as especificidades históricas e sociais daquele período; e, posteriormente,<br />

com base <strong>no</strong> resultado desse confronto, apontar questões relativas<br />

ao processo de desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

As relações entre o conhecimento e as condições histórico-sociais despertaram<br />

a atenção de estudiosos europeus <strong>no</strong> decorrer do século XIX, levandoos<br />

a expor os problemas concernentes à constituição social e histórica de<br />

diferentes modalidades do saber. Na realidade, as transformações provenientes<br />

da revolução industrial-capitalista, atingindo as relações entre indivíduos<br />

e grupos, como também as verdades secularmente estabeleci<strong>das</strong>, criaram, naquele<br />

período, possibilidades para um duplo questionamento: da formação e<br />

organização da vida social, da constituição e validade do conhecimento. Por<br />

isso, ao examinar as origens e o desenvolvimento da sociologia do conhecimento,<br />

Georges Gurvitch diz que, de certo modo, ela é “tão antiga quanto a<br />

própria Sociologia” 1 mostrando que sua problemática específica estava presente<br />

nas obras dos fundadores da sociologia, Augusto Comte e Karl Marx,<br />

entre outros.<br />

Nas primeiras déca<strong>das</strong> desse século, a sociologia do conhecimento ganhou<br />

<strong>no</strong>vo impulso e passou a ser vista como uma área de especialização, destacando-se<br />

entre os esforços feitos nesse sentido a obra de Karl Mannheim.<br />

Referindo-se particularmente ao desenvolvimento <strong>das</strong> disciplinas <strong>das</strong> ciências<br />

1 Cf. GURVITCH, Georges. Traité de Sociologie. Paris: PUF, 1960. t. II. p. 103.<br />

181<br />

IV<br />

Co n t I n u I d a d e e Mu d a n ç a<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

sociais, afirmava o sociólogo, em 1929, que uma <strong>das</strong> tarefas da sociologia do<br />

conhecimento era a de <strong>no</strong>s capacitar para ver porque a Sociologia e a Eco<strong>no</strong>mia<br />

se formaram mais recentemente, e porque progrediram em um país e foram<br />

acossa<strong>das</strong> por tantos obstáculos em outros. Igualmente possibilitaria resolver um<br />

problema que sempre permaneceu sem resposta, ou seja, porque não presenciamos<br />

ainda o desenvolvimento da Ciência Política. 2<br />

Às preocupações de Karl Mannheim foram acrescenta<strong>das</strong> mais recentemente<br />

as de Wolf Lepenies. 3 Na década de 1980, ao questionar a história<br />

da sociologia, ele retoma o mesmo problema, observando, porém, que o<br />

diagnóstico de uma disciplina não deve prescindir da observação, primeiro,<br />

do estudo preferencial de um grupo de disciplinas em certos países,<br />

sendo indispensável, portanto, levar em conta o significado do caráter<br />

nacional (expressão usada pelo autor) na análise dos diferentes campos<br />

disciplinares; segundo, <strong>das</strong> relações que as disciplinas estabelecem entre si,<br />

ora de vizinhança, ora de concorrência, sendo algumas “modelo”, enquanto<br />

outras são reconheci<strong>das</strong> como “auxiliares”. Segundo o autor, somente<br />

a análise dessas relações em um contexto histórico nacional poderia fornecer<br />

a base para o exame do desenvolvimento do trabalho intelectual <strong>no</strong><br />

âmbito <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Voltando-se para a mesma questão em épocas distintas, o exemplo desses<br />

sociólogos revela aqui apenas que a sociologia não só deu continuidade ao<br />

estudo <strong>das</strong> relações entre conhecimento e condições histórico-sociais, como<br />

vem se ocupando particularmente com as características do desenvolvimento<br />

<strong>das</strong> ciências sociais. Com efeito, outros especialistas como Florian Znaniecki,<br />

Robert Merton, Anthony Giddens e Pierre Bourdieu apresentaram contribuições<br />

relevantes para ampliar o acervo <strong>das</strong> pesquisas nessa área. 4<br />

No <strong>Brasil</strong>, o interesse dos cientistas sociais em avaliar a produção de seu<br />

campo intelectual vem se esboçando desde finais da década de 1940. Já foi<br />

visto que <strong>no</strong> período entre 1945 e 1966 há livros sobre o assunto, a maioria <strong>no</strong><br />

campo da sociologia, o que demonstra a atenção para esse tema, muito embora<br />

as obras sejam pouco numerosas. A partir da década de 1970, começam a<br />

2 Cf. MANNHEIM, Karl. Ideologia y Utopia. 2 ed. Madrid: Aguilar, 1966. p. 166-167.<br />

3 Ver a introdução de Wolf Lepenies, Estudos sobre a identidade cognitiva, social e histórica da<br />

sociologia. In: LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/Main: Suhrkamp<br />

Verlag, 1981, v. I. p. 1-35.<br />

4 ZNANIECK, Florian. Social role of the man of k<strong>no</strong>wledge. New York: Columbia University Press,<br />

1940; MERTON, Robert K. Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968; GIDDENS,<br />

Anthony. Capitalism and modern social theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1971;<br />

BOURDIEU, Pierre. A eco<strong>no</strong>mia <strong>das</strong> trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.<br />

182<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

aparecer com mais freqüência pesquisas visando ao exame seja do pensamento<br />

social, seja especificamente da produção <strong>das</strong> ciências sociais. 5<br />

Observando as questões trata<strong>das</strong> nesses trabalhos, em artigo intitulado<br />

“Desenvolvimento <strong>das</strong> <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> na América Latina e contribuição européia:<br />

o caso brasileiro”, Maria Isaura Pereira de Queiroz diz que as investigações<br />

sobre as ciências sociais feitas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e em outros países da América<br />

Latina, de modo geral, seguiram o ponto de vista da “história <strong>das</strong> idéias” ou<br />

fundamentaram suas análises na diferença entre os países desenvolvidos e os<br />

países subdesenvolvidos. Segundo a autora,<br />

Deixam-se assim completamente de lado as peculiaridades <strong>das</strong><br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> em diversos países lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s e também<br />

as condições internas do país cuja produção científica se analisa.<br />

O pendor mais forte dos estudiosos é para descobrir as correntes<br />

do pensamento oriun<strong>das</strong> do exterior e sua influência sobre os<br />

pesquisadores nacionais. Mesmo que se reconheça ser necessário<br />

analisar a situação interna do país, não se leva adiante uma investigação<br />

que esclareça qual é ela e se pode ou não exercer uma função<br />

determinante. 6<br />

Outra linha de investigação sobre a produção intelectual brasileira privilegia<br />

o exame de seus “conteúdos” ideológicos. Para esses autores, os estudos<br />

5 Ver entre outros estudos publicados a partir da década de 1970: QUEIROZ, Maria Isaura Pereira<br />

de (Coord.). Introdução ao estudo da sociologia. São Paulo: IEB/USP, 1971; da mesma autora: Desenvolvimento<br />

<strong>das</strong> ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro.<br />

Ciência e Cultura, v. 41, n. 4, abr. 1989; FERNANDES, Florestan. A sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Petrópolis:<br />

Vozes, 1977; IANNI, Octavio. Sociologia da sociologia lati<strong>no</strong>-americana. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1971; do mesmo autor: Sociologia e sociedade <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Alfa-Omega, 1975;<br />

LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. Bibliografia de ciência política<br />

sobre o <strong>Brasil</strong> (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, 1978; MOTA, Carlos Guilherme.<br />

Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1978; PEIRANO, Mariza. Anthropology<br />

of anthropology: the brazilian case. 1980. Tese de doutoramento. Harvard University; MORAES,<br />

Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade <strong>no</strong> modernismo. 1983. Tese de doutoramento.<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro; MACIEL, Maria Lúcia. La recherche en Sciences Sociales<br />

et son contexte politique – Brésil 1968-1982. 1985. Tese de doutoramento. Université de Paris VII;<br />

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1990;<br />

MELATTI, Julio Cezar. A antropologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: um roteiro. BIB – Revista <strong>Brasil</strong>eira de Informação<br />

Bibliográfica em <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, n. 17, 1984; MICELI, Sergio (Org.). A história <strong>das</strong> ciências sociais<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1989.<br />

6 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. 1989. Op. cit., p. 378-379.<br />

183<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

ideológicos se distinguem dos estudos científicos, uma vez que, carentes de<br />

evidências empíricas, apresentam na sua formulação um comprometimento<br />

com idéias e ideais políticos voltados para a construção e desenvolvimento da<br />

nação. De acordo com essa linha de investigação, a intenção de justificar projetos<br />

ideais para a sociedade brasileira precedera e acompanhara o processo de<br />

realização de diversos trabalhos, e impedira o distanciamento necessário para<br />

o cumprimento <strong>das</strong> regras do labor científico. Em Ideologia da Cultura <strong>Brasil</strong>eira<br />

(1933-1974), por exemplo, Carlos Guilherme Mota focaliza aspectos ideológicos<br />

da produção intelectual <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> num importante período da vida política<br />

e cultural; Caio Navarro de Toledo aprofunda a discussão sobre o tema,<br />

analisando estudos elaborados por integrantes do antigo Instituto Superior de<br />

Estudos <strong>Brasil</strong>eiros (ISEB). 7<br />

Constituem com freqüência o foco de análise de pesquisas que procuram<br />

medir a evolução <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> instituições volta<strong>das</strong> tanto<br />

para a produção de estudos e pesquisas, quanto para a formação de cientistas<br />

sociais, averiguando-se sua auto<strong>no</strong>mia com relação ao campo <strong>das</strong> ações,<br />

idéias e ideais políticos. Consideram esses estudos que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> a formação<br />

da camada intelectual esteve estreitamente vinculada aos anseios e ideais de<br />

ordem política, e questionam, na realidade, as possibilidades de formação e<br />

consolidação de instituições adequadamente volta<strong>das</strong> para a produção de conhecimento<br />

científico existente <strong>no</strong> país. Textos que integram o livro História<br />

<strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, 8 organizado por Sergio Miceli, oferecem uma visão<br />

dessa perspectiva que dá prioridade ao conhecimento de características de<br />

instituições brasileiras volta<strong>das</strong> para as ciências sociais.<br />

Reconsiderando esses problemas, sob outro ângulo, Mariza Peira<strong>no</strong> analisa<br />

a trajetória e as obras de cientistas sociais brasileiros, e mostra em Anthropology<br />

of anthropology: the brazilian case, 9 como em um contexto social e histórico<br />

particular os conteúdos ideológicos podem estar presentes e caracterizar especificidades<br />

de estudos em ciências sociais, sem prejuízo do valor científico<br />

desses trabalhos.<br />

De modo geral, entretanto, a contribuição da maioria dos estudos tem<br />

sido relevante para medir os avanços da institucionalização <strong>das</strong> ciências sociais<br />

<strong>no</strong> país. Porém, ao avaliar em que medida os projetos ideais para a sociedade<br />

7 Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Op. cit.; TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: Fábrica de ideologias.<br />

São Paulo: Ática, 1977.<br />

8 Cf. MICELI, Sergio. Op. cit<br />

9 Cf. PEIRANO, Mariza. Op. cit.<br />

184<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

brasileira estiveram presentes seja na organização de instituições, seja na mentalidade<br />

de grupos de cientistas sociais, interferindo <strong>no</strong> processo de conhecimento<br />

científico da sociedade, esses estudos deixam entrever que a análise<br />

<strong>das</strong> questões aborda<strong>das</strong> se faz em grande medida sob o prisma de um “padrão<br />

ideal” para a ciência. 10<br />

Como se vê, <strong>no</strong> contexto brasileiro, a análise da produção de conhecimento<br />

<strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais parece tomar duas direções básicas. A primeira<br />

delas tem como ponto de partida a posição do país <strong>no</strong> sistema mundial de dominação<br />

política e termina por questionar as características dos estudos de autores<br />

brasileiros à luz do padrão da produção científica de países econômica, política e<br />

culturalmente mais desenvolvidos; a segunda faz convergir o foco da análise para<br />

as instituições brasileiras volta<strong>das</strong> para as ciências sociais ou para grupos de cientistas,<br />

com o propósito de averiguar o grau de auto<strong>no</strong>mia do campo da produção<br />

científica frente ao campo dos ideais e <strong>das</strong> ações políticas.<br />

O presente estudo faz parte, assim, de um conjunto de pesquisas e indagações<br />

sobre as peculiaridades e o desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Nele, entretanto, buscou-se examinar a evolução desse campo do saber<br />

contemplando sua produção efetiva <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966. Para tanto,<br />

delineia-se de início o perfil dos estudos em ciências sociais do ponto de vista<br />

de seus temas e disciplinas; em seguida, são apresentados os traços específicos<br />

do contexto histórico e social <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> em foco. Nesse capítulo, passa-se a<br />

examinar em que medida as circunstâncias histórico-sociais constituíram um<br />

fator relevante para a compreensão <strong>das</strong> características que as ciências sociais<br />

apresentaram <strong>no</strong> período abordado.<br />

1. O desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais<br />

Ao ser examinada a produção <strong>das</strong> ciências sociais, do ponto de vista de<br />

sua divulgação em livro <strong>no</strong> período entre 1945 e 1966, vê-se que os meados<br />

da década de 1950 constituíram um marco significativo <strong>no</strong> processo de desenvolvimento<br />

daquele campo do saber <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. A partir daquela data, veio<br />

a público um conjunto quantitativamente relevante de obras, apresentando<br />

10 A respeito desse problema, Norbert Elias comenta que as teorias sociológicas da ciência que<br />

para ele postulam um ideal, relegam a um segundo pla<strong>no</strong> a pesquisa efetiva de seu processo<br />

social de desenvolvimento e acabam correndo o risco de retirar de seu foco de análise as<br />

profun<strong>das</strong> diferenças inerentes àquele processo. Ver ELIAS, Norbert. Was ist Soziologie? 5 ed.<br />

Weinheim/Muenchen: Juventa Verlag, 1986. p. 51-74.<br />

185<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

um leque de assuntos bem mais diversificado se comparado àquele publicado<br />

na década anterior. As ciências sociais asseguraram naquela ocasião, a julgar<br />

pelos dados analisados, uma forma de difusão acessível a um público mais<br />

amplo e diferenciado, garantindo e ampliando o diálogo entre gerações interessa<strong>das</strong><br />

<strong>no</strong> conhecimento da vida social.<br />

A produção <strong>das</strong> ciências sociais se expande, portanto, <strong>no</strong> período histórico<br />

em que a industrialização toma seu rumo definitivo <strong>no</strong> país. Viu-se que, a partir<br />

de meados da década de 1950, as mudanças na infra-estrutura socioeconômica<br />

relativas à consolidação e integração do setor industrial levaram à modificação de<br />

outros setores da vida nacional que vinham esboçando sinais de transformação,<br />

mas somente naqueles a<strong>no</strong>s apresentaram mudanças efetivas. Tais modificações<br />

se evidenciaram <strong>no</strong> aumento da população, na expansão <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> médias, na<br />

importância da classe operária <strong>no</strong> cenário econômico e social, nas modificações<br />

havi<strong>das</strong> na estrutura burocrática do Estado, <strong>no</strong>s movimentos políticos <strong>no</strong> campo<br />

e na cidade, na radiodifusão, <strong>no</strong> cinema, na publicidade. A experiência dessas mudanças<br />

gerava um <strong>no</strong>vo horizonte de expectativas com relação aos desti<strong>no</strong>s do<br />

país, que decerto favorecia duplamente a produção e recepção do conhecimento,<br />

criando assim um terre<strong>no</strong> fértil para a expansão <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Sem dúvida, esse quadro de mudanças criou possibilidades materiais para a<br />

ampliação de um mercado para as ciências sociais. O número de universidades<br />

e estudantes cresceu <strong>no</strong>tadamente, intensificando-se a participação dos cientistas<br />

na construção da comunidade científica. Tal crescimento incrementava<br />

o aparecimento de maior quantidade de editoras e a expansão <strong>das</strong> livrarias. Paralelamente,<br />

cresciam também as chances intelectuais propícias, provenientes<br />

da vivência <strong>das</strong> transformações que marcavam aquela época. A transformação<br />

econômica e, principalmente, industrial do país era concomitante com uma<br />

ampliação de produção cultural <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

A situação histórica e social emergente naqueles a<strong>no</strong>s, criando uma demanda<br />

comum de conhecimentos que explicassem os fatos observados e vivenciados,<br />

aproximava cientistas sociais e leitores. Nessas circunstâncias, as<br />

chances de abordar assuntos voltados para a elucidação <strong>das</strong> mudanças específicas<br />

e profun<strong>das</strong> da vida nacional ultrapassavam a escolha de temas relativos<br />

ao desenvolvimento do conhecimento científico em si mesmo.<br />

A par disso, outro fator vantajoso para a expansão <strong>das</strong> ciências sociais naquela<br />

época foi o caloroso debate sobre o papel social e político da produção<br />

cultural, incentivado por setores atuantes <strong>no</strong>s meios culturais e intelectuais.<br />

Na realidade, a partir de meados da década de 1950, as discussões sobre os<br />

186<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

compromissos da camada intelectual com os problemas do desenvolvimento<br />

e <strong>das</strong> desigualdades sociais ganharam tal relevância que chegaram a influir em<br />

iniciativas e empreendimentos, como a criação dos Centros Populares de Cultura,<br />

dos movimentos de alfabetização, <strong>no</strong> aparecimento do Cinema Novo,<br />

que não só trouxeram <strong>no</strong>vas perspectivas culturais, educacionais e intelectuais,<br />

como marcaram definitivamente os seus rumos. Os debates que se traduziam<br />

em seguida em ações efetivas davam vantagens às ciências sociais sobre outras<br />

formas de conhecimento, uma vez que, de certo modo, realçavam o caráter<br />

instrumental de seus estudos. Pois não se destinavam eles a ser um meio específico<br />

de compreensão dos fatos sociais, cujos resultados poderiam vir a<br />

ser utilizados na reformulação de idéias e na orientação da ação de grupos<br />

sociais? O sentido social que caracteriza a identidade <strong>das</strong> ciências sociais ia ao<br />

encontro de um <strong>no</strong>vo modo de encarar o sentido e a utilidade da produção<br />

cultural que se expandia naqueles a<strong>no</strong>s, por mais distintas que tenham sido as<br />

direções toma<strong>das</strong> pelos debates.<br />

A partir de meados da década de 1950, conjugaram-se, pois, quatro fatores<br />

favoráveis ao desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais: a ampliação do público<br />

universitário e letrado do país; a consolidação da indústria do livro; uma demanda<br />

de conhecimentos oriunda <strong>das</strong> mudanças que imprimiam uma <strong>no</strong>va<br />

feição à sociedade brasileira; e a consciência de que a produção cultural, <strong>no</strong>s<br />

seus mais diversos aspectos, poderia exercer um papel atuante na solução de<br />

problemas de ordem social e política.<br />

As circunstâncias histórico-sociais emergentes <strong>no</strong>s meados dos a<strong>no</strong>s 1950<br />

permitiram que as ciências sociais tivessem um lugar de maior relevo <strong>no</strong> conjunto<br />

da produção intelectual do país, do que na fase anterior. Tal posição resultava<br />

de um longo processo iniciado quando surgiram os primeiros estudos<br />

de autores brasileiros neste campo do saber e, a partir da década de 1930, o<br />

impulso dado pela formação de cientistas sociais nas Faculdades de Filosofia foi<br />

um passo decisivo para que, na década de 1950, a expansão <strong>das</strong> ciências sociais<br />

permitisse que elas aparecessem já com relevo <strong>no</strong> sistema de produção de bens<br />

culturais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, vindo a fazer parte importante dos debates intelectuais.<br />

2. A relevância dos problemas brasileiros<br />

Um dos traços que sobressai <strong>no</strong> conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais,<br />

tal como analisada <strong>no</strong> segundo capítulo, é a importância dada pelos cientistas<br />

sociais e seus leitores a questões concretas da sociedade brasileira. Os<br />

187<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

estudos de caráter teórico/abstrato ou teórico/metodológico ficam relegados<br />

a segundo pla<strong>no</strong>. Ao distinguir as “obras sobre a disciplina” <strong>das</strong> “obras<br />

sobre temas específicos” (quadro I, cap. 2), se pode ver que a grande maioria<br />

dos estudos da amostra converge para a investigação de problemas existentes<br />

dentro dos limites da sociedade nacional, quer seja <strong>no</strong> primeiro conjunto de<br />

livros publicados <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1945–1955, quer seja nas obras data<strong>das</strong> dos a<strong>no</strong>s<br />

1956–1966.<br />

Este dado é importante uma vez que, com base em material de análise,<br />

confirma observações feitas por pesquisadores <strong>das</strong> ciências sociais a partir de<br />

outras informações. Abordando essa questão, Maria Isaura Pereira de Queiroz<br />

mostra que as investigações feitas por autores brasileiros, desde meados do século<br />

XIX até os a<strong>no</strong>s 1930, formaram um acervo já importante; evidenciavase<br />

que “o <strong>Brasil</strong> fora e continuava sendo o grande enigma a ser decifrado em<br />

seus aspectos sócio-antropológicos, étnicos e culturais”, 11 sugerindo a autora<br />

que a busca de identidade fora um móvel importante para a evolução <strong>das</strong><br />

ciências sociais.<br />

Retomando o assunto, Mariza Peira<strong>no</strong> sublinha que a produção <strong>das</strong> ciências<br />

sociais, após os a<strong>no</strong>s 1930, ter-se-ia deixado marcar pelos ideais de “construção<br />

da nação”, de que estavam imbuídos seus especialistas; a pesquisa antropológica<br />

se circunscrevera predominantemente aos problemas nacionais,<br />

não fazendo parte de seu foco de interesse as questões mais gerais e abstratas,<br />

cultiva<strong>das</strong> habitualmente por cientistas europeus. 12<br />

Os motivos que tornam compreensível a relevância conferida pelas ciências<br />

sociais aos problemas concretos do país, de acordo com esses dois<br />

trabalhos, costumam ser atribuídos ora ao desejo de conhecer a identidade<br />

brasileira, ora às idéias de “construção da nação”.<br />

A análise efetuada aqui partiu de outro ponto de vista: primeiramente, conhecer<br />

as características da produção científica expressa <strong>no</strong>s livros publicados<br />

em determinado período; em seguida, delinear as condições socioeconômicas,<br />

culturais e históricas em que se desenvolveram e foram publicados os trabalhos.<br />

Verifica-se que <strong>no</strong> que respeita à produção <strong>das</strong> ciências sociais, a julgar<br />

pelos dados analisados, não se modificou a posição dos estudos de caráter<br />

mais abstrato que questionassem os fundamentos daquela área do saber, seus<br />

preceitos e valores. A importância atribuída aos problemas concretos da sociedade<br />

brasileira permaneceu inalterada; ela parece, pois, uma constante <strong>no</strong><br />

11 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit. 1989. p. 383.<br />

12 PEIRANO, Mariza. Op. cit. p. 6-10.<br />

188<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

processo de desenvolvimento <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> país, parte integrante de<br />

suas características, que se reatualiza e re<strong>no</strong>va de acordo com as diferentes<br />

condições históricas, sociais e econômicas.<br />

3. O processo de diferenciação dos estudos em<br />

ciências sociais<br />

Muito embora as circunstâncias históricas relativas aos a<strong>no</strong>s que vão de<br />

1945 a 1966 não tenham alterado o valor primordial atribuído aos estudos<br />

sobre a sociedade brasileira, elas influíram na escolha de enfoques e temas, nas<br />

pesquisas sobre aspectos da experiência social e histórica do país, como se observa<br />

na análise efetuada. No conjunto de trabalhos sobre questões teóricometodológicas,<br />

embora sua quantidade fosse bem me<strong>no</strong>r, a mesma influência<br />

é observada.<br />

3.1 Os estudos teórico-metodológicos<br />

To<strong>das</strong> as disciplinas <strong>das</strong> ciências sociais aborda<strong>das</strong> nesse trabalho – história<br />

do <strong>Brasil</strong>, eco<strong>no</strong>mia política, antropologia, sociologia, ciência política,<br />

geografia humana e demografia – elaboraram estudos de caráter teórico-metodológico<br />

<strong>no</strong> decorrer do período entre 1945 e 1966. Uma visão de conjunto<br />

desses textos evidencia, <strong>no</strong> entanto, que as diferentes áreas do saber contribuíram<br />

de modo bastante desigual para a investigação e divulgação dos recursos<br />

científicos para a pesquisa. Naquela época, o interesse da eco<strong>no</strong>mia e da sociologia<br />

pelo assunto foi sem dúvida o mais destacado. Na amostra analisada,<br />

essas duas disciplinas apresentaram praticamente o mesmo número de livros<br />

e juntas concorrem com mais da metade dos estudos sobre o tema, tanto na<br />

primeira como na segunda fase do período examinado.<br />

Dos 53 livros publicados de 1945 a 1955, a eco<strong>no</strong>mia política se apresenta<br />

com 17 e a sociologia com 16 obras (quadro XIV e XIX, cap. 2). Com respeito<br />

à visível demanda de perspectivas teóricas e metodológicas nesses dois<br />

ramos do conhecimento, convém lembrar as modificações que transcorriam<br />

<strong>no</strong>s setores socioeconômico, político e educacional, naquela fase. No período<br />

de 1945 a 1955, os governantes deram continuidade a medi<strong>das</strong> que vinham<br />

sendo toma<strong>das</strong> desde os a<strong>no</strong>s 1930, visando à solução de problemas sociais e<br />

econômicos do país, agravados profunda e sucessivamente pela crise de 1929<br />

e pela Segunda Guerra Mundial. O setor modificava-se em função da política<br />

189<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

voltada para a acumulação de capitais e expansão <strong>das</strong> indústrias de base; paralelamente,<br />

ampliavam-se os órgãos burocráticos do Estado incumbidos do<br />

maior controle da eco<strong>no</strong>mia nacional. A consciência da importância dos fatos<br />

socioeconômicos e a necessidade de especialistas produziram efeitos <strong>no</strong> quadro<br />

do ensi<strong>no</strong> superior, levando à criação dos cursos de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong> <strong>no</strong>s<br />

a<strong>no</strong>s 1930, e, pouco depois, à reorganização do ensi<strong>no</strong> da Eco<strong>no</strong>mia Política<br />

e fundação da primeira Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas, em 1945, <strong>no</strong> Rio<br />

de Janeiro. Se, de um lado, os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955 assistiam à continuidade de<br />

medi<strong>das</strong> volta<strong>das</strong> para a superação de problemas de ordem socioeconômica,<br />

de outro lado, neles surgiam os primeiros resultados de iniciativas toma<strong>das</strong><br />

com o mesmo propósito <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s anteriores. Assim como <strong>no</strong> setor industrial,<br />

em que a Companhia Siderúrgica Nacional, já instalada desde 1946, só entrou<br />

em ple<strong>no</strong> funcionamento em 1952, na área educacional e científica os recémformados<br />

cientistas sociais começaram a exercer suas atividades profissionais<br />

<strong>no</strong> final da década de 1930 e início dos a<strong>no</strong>s 1940; muito jovens ainda, irão, <strong>no</strong><br />

entanto, realizar suas pesquisas, publica<strong>das</strong> somente ao longo <strong>das</strong> déca<strong>das</strong> de 1940<br />

e 1950. É compreensível que, nessas circunstâncias, os recursos científicos para o<br />

estudo e entendimento dos fatos socioeconômicos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tenham se tornado<br />

não apenas relevantes, mas indispensáveis, apresentando-se já em meados dos<br />

a<strong>no</strong>s 1940 possibilidades para a publicação de livros sobre o assunto.<br />

Na fase seguinte, o conjunto dos textos em foco cresceu de 53 para 92, permanecendo<br />

a posição de liderança com a eco<strong>no</strong>mia política e a sociologia. O rápido<br />

crescimento industrial, que levou às mudanças socioeconômicas entre 1956<br />

e 1966, criou condições ainda mais propícias do que as da década anterior para a<br />

divulgação de perspectivas de trabalho daquelas duas disciplinas.<br />

A eco<strong>no</strong>mia política e a sociologia, apresentando um aumento na produção<br />

de estudos de caráter teórico-metodológico, respondiam a uma demanda<br />

específica resultante de mudanças socioeconômicas que se operavam tanto na<br />

primeira, quanto na segunda fase. Embora a quantidade ainda seja moderada<br />

nas publicações sobre aqueles assuntos, as demais disciplinas aqui examina<strong>das</strong><br />

não apresentaram a mesma expansão e não demonstraram uma correspondência<br />

tão nítida entre os estudos efetuados e as circunstâncias socioeconômicas<br />

específicas daquela época.<br />

As modificações ocorri<strong>das</strong> na vida política decorrentes da reinstalação<br />

do sistema democrático de gover<strong>no</strong> em 1945 não despertaram interesse da<br />

ciência política <strong>no</strong> conjunto dos estudos teórico-metodológicos. Embora a<br />

quantidade desses trabalhos tenha se elevado um pouco a partir de meados<br />

dos a<strong>no</strong>s 1950, sua temática permaneceu voltada para aspectos do pensa-<br />

190<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

mento político clássico. Ao longo dos vinte a<strong>no</strong>s focalizados, nenhuma obra<br />

constante da amostra abordou, à luz <strong>das</strong> mudanças que ocorriam, o problema<br />

<strong>das</strong> fronteiras da ciência política, de um lado com a ciência do direito, de<br />

outro lado com a história política, área que se ocupava tradicionalmente com<br />

o estudo dos fatos políticos do país, a partir de perspectivas de análise bem<br />

delimita<strong>das</strong>.<br />

No campo da história do <strong>Brasil</strong>, porém, houve certo interesse em questionar<br />

as concepções, teorias e métodos característicos da produção historiográfica<br />

brasileira em ambos os períodos aqui abordados. Seu número, entretanto,<br />

foi muito restrito e permaneceu inalterado de uma fase para outra.<br />

Em ambas as déca<strong>das</strong>, poucas obras foram publica<strong>das</strong> na área da antropologia<br />

sobre questões teórico-metodológicas. O número desses textos não se<br />

alterou de um período para o outro. A par disso, não se observa, entre eles,<br />

uma orientação clara dos especialistas <strong>no</strong> tocante a uma revisão de seus instrumentos<br />

de pesquisa naquele contexto de mudanças históricas e sociais.<br />

Também escassos <strong>no</strong> campo da geografia humana, os estudos indicam,<br />

contudo, que os geógrafos se interessaram pelo desenvolvimento de enfoques<br />

que contemplassem principalmente os aspectos socioeconômicos dos fatos<br />

abordados pela sua disciplina. As obras sobre as questões teórico-metodológicas<br />

elabora<strong>das</strong> pelos demógrafos também são limita<strong>das</strong> em números em<br />

ambas as fases, mas sugerem interesse pela discussão de problemas analíticos<br />

específicos daquele ramo do saber.<br />

Observa-se assim que o efeito <strong>das</strong> circunstâncias histórico-sociais do período<br />

que vai de 1945 a 1966 variou de acordo com cada uma <strong>das</strong> disciplinas<br />

aborda<strong>das</strong>, sobressaindo a relação entre as mudanças socioeconômicas e a elaboração<br />

e publicação destacada <strong>das</strong> obras em eco<strong>no</strong>mia política e em sociologia<br />

naquelas duas déca<strong>das</strong>, bem como o seu crescimento a partir de meados<br />

dos a<strong>no</strong>s 1950. Pode-se dizer que o conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais,<br />

voltado para problemas teórico-metodológicos, ficou marcado pela difusão<br />

dos instrumentais dessas duas disciplinas. Valeria indagar, se ao lado <strong>das</strong> circunstâncias<br />

históricas, a divulgação daqueles instrumentos de análise levou<br />

ao crescimento de pesquisas <strong>no</strong> campo da sociologia e da eco<strong>no</strong>mia política,<br />

motivando também perspectivas <strong>no</strong>vas de trabalho em outras áreas.<br />

3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira<br />

A seguir, observa-se a produção de estudos sobre a sociedade brasileira<br />

nas duas déca<strong>das</strong> entre 1945 e 1966, ressaltando: primeiro, as mudanças ha-<br />

191<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

vi<strong>das</strong> nas pesquisas e sua relação com o crescimento <strong>das</strong> obras; segundo, a<br />

persistência <strong>no</strong> cultivo de enfoques e temas, e seus efeitos sobre a difusão <strong>das</strong><br />

pesquisas em livro.<br />

3.2.1 A abordagem de <strong>no</strong>vos problemas e o crescimento de obras<br />

Nessa vertente de pesquisas distinguem-se dois conjuntos: o primeiro<br />

apresenta os estudos cujas modificações corresponderam a um crescimento<br />

do número de obras; o segundo mostra as pesquisas que não aumentaram<br />

em quantidade, muito embora tenham tido altera<strong>das</strong> as suas perspectivas de<br />

trabalho <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s em foco.<br />

3.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro<br />

a. Política econômica e desenvolvimento<br />

O desenvolvimento da eco<strong>no</strong>mia nacional constituiu o alvo principal dos<br />

trabalhos sobre a sociedade brasileira efetuados sob o enfoque da eco<strong>no</strong>mia<br />

política <strong>no</strong> decorrer dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966. O crescimento <strong>no</strong>tável dessas<br />

obras a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950, muito provavelmente, assinalou uma<br />

etapa significativa da evolução daquela disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> que respeita à<br />

produção e divulgação de seu conhecimento.<br />

Ao apreciar os temas abordados pelos eco<strong>no</strong>mistas com o propósito de<br />

elucidar aquela questão, observa-se que entre os múltiplos aspectos da realidade<br />

que se transformavam naquela época os especialistas se interessaram<br />

particularmente pelas relações entre o desenvolvimento e política econômica.<br />

Na primeira fase do período abordado, entre 1945 e 1955, a relação entre<br />

o desenvolvimento e a política econômica figurou com certa importância <strong>no</strong><br />

conjunto dos estudos da eco<strong>no</strong>mia política. O “comprometimento” da disciplina<br />

já se esboçava em livros que contemplavam, de modo relativamente<br />

equilibrado, assuntos como política e expansão econômica, conjunturas econômicas,<br />

planejamento, Estado e ordem econômica. Contudo, a análise <strong>das</strong><br />

condições econômicas do passado sobressaía entre os estudos, que se voltavam,<br />

também, embora em me<strong>no</strong>r escala, para aspectos do comércio exterior,<br />

da indústria, da agricultura (quadro XIII, cap. 2). Os temas escolhidos eram<br />

apreciados ora do ponto de vista histórico, ora do ponto de vista <strong>das</strong> medi<strong>das</strong><br />

governamentais, porém o objetivo principal dos eco<strong>no</strong>mistas era elucidar os<br />

fatos <strong>no</strong> seu presente.<br />

192<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

Na década seguinte, o aumento expressivo do número de livros se fez<br />

acompanhar de uma visível concentração <strong>das</strong> pesquisas sobre desenvolvimento<br />

e política econômica. Basta lembrar que esses estudos passaram a perfazer<br />

mais da metade <strong>das</strong> publicações, devido em grande parte ao intenso cultivo de<br />

estudos sobre política e expansão econômica, que se elevaram de 4 para 28. Tornando-se<br />

o assunto de maior interesse dos eco<strong>no</strong>mistas e do público leitor, os<br />

demais aspectos daquela questão, focalizados <strong>no</strong> decênio anterior, mereceram<br />

me<strong>no</strong>r destaque. Assim, também os estudos sobre os demais temas apresentaram<br />

um crescimento comparativamente irrelevante. De uma década para<br />

outra, não há <strong>no</strong>vos temas <strong>no</strong> campo da eco<strong>no</strong>mia política, caracterizando-se<br />

seu crescimento, portanto, pela convergência <strong>no</strong>tória dos estudos para o exame<br />

<strong>das</strong> ações e medi<strong>das</strong> políticas concernentes à expansão econômica.<br />

Como foi assinalado anteriormente, o crescimento industrial, resultando<br />

de pla<strong>no</strong>s e medi<strong>das</strong> governamentais, tornara-se o núcleo dinâmico <strong>das</strong> transformações<br />

socioeconômicas que repercutiram <strong>no</strong>s mais diversos setores da<br />

sociedade brasileira. Não surpreende, pois, que acontecimento de tamanha<br />

importância para a vida social do país tenha provocado efeitos sobre a produção<br />

da eco<strong>no</strong>mia política. Porém, chama a atenção a ênfase dada pelos<br />

eco<strong>no</strong>mistas à atuação governamental em detrimento de outros aspectos da<br />

industrialização, como a distribuição da renda, por exemplo. Na realidade, à<br />

medida que a intervenção governamental se estabelecia e suas conseqüências<br />

se tornavam visíveis, os estudos da eco<strong>no</strong>mia política foram utilizados cada<br />

vez mais para a formulação de políticas e pla<strong>no</strong>s econômicos, assim como<br />

para a avaliação crítica do resultado dessas medi<strong>das</strong>. Adquirindo uma feição<br />

essencialmente pragmática, a importância da disciplina crescia juntamente<br />

com o mercado para suas obras. Seu saber específico foi visto então como um<br />

instrumento indispensável para o desenvolvimento econômico do país.<br />

Em Perspectivas da eco<strong>no</strong>mia brasileira, Celso Furtado afirmava que era preciso<br />

analisar as principais tendências da eco<strong>no</strong>mia brasileira, projetá-las e buscar<br />

conhecer fatores que impediam um ritmo adequado de desenvolvimento. Para<br />

o autor, a finalidade do conhecimento de um “modelo” espontâneo da eco<strong>no</strong>mia<br />

era traçar uma política de controle dos elementos que retardavam o<br />

desenvolvimento:<br />

... desse esboço de “modelo” de crescimento espontâneo partiremos<br />

paradeterminar os elementos de uma política sistemática<br />

de desenvolvimento. Política de tal natureza toma corpo num pro-<br />

193<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

grama e pressupõe um conhecimento porme<strong>no</strong>rizado do sistema<br />

econômico (...), a identificação clara <strong>das</strong> tendências, a definição de<br />

objetivos claros a alcançar <strong>no</strong>s setores estratégicos da produção,<br />

a mobilização de meios adequados de defesa contra os desequilíbrios<br />

inter<strong>no</strong>s ou exter<strong>no</strong>s demasiadamente acentuados, a capacidade<br />

política e administrativa para alcançar ao mesmo tempo todos<br />

estes objetivos. 13<br />

O comentário deixa pouca dúvida quanto aos fins políticos e pragmáticos<br />

da disciplina àquela época. Distinguindo-se por essa característica, a produção<br />

da eco<strong>no</strong>mia política não só focalizou a ação governamental com vistas ao<br />

desenvolvimento econômico, como serviu de base para ela. A análise desses<br />

estudos mostra assim seus estreitos vínculos com as circunstâncias específicas,<br />

que levaram à implantação do capitalismo industrial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

b. Desigualdades socioeconômicas e mudanças sociais, temas<br />

preferênciais da sociologia<br />

As mudanças ocorri<strong>das</strong> entre 1945 e 1966 trouxeram à tona problemas da<br />

sociedade brasileira, as diferenças socioeconômicas de seus estratos e as características<br />

<strong>das</strong> relações trava<strong>das</strong> entre eles, suas crenças e expectativas, movimentos<br />

e conflitos. A sociologia exami<strong>no</strong>u aspectos da realidade brasileira que emergiam<br />

com aquelas transformações, registrando e analisando em suas obras as peculiaridades<br />

do advento da sociedade industrial capitalista <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Duas questões se impuseram aos sociólogos na primeira década do período<br />

aqui examinado. A primeira delas dizia respeito às características do<br />

meio rural brasileiro e foi então a mais estudada. Em um contexto <strong>no</strong> qual<br />

as mudanças começavam paulatinamente a modificar a feição do meio rural,<br />

onde habitava a maioria da população brasileira e dos indivíduos eco<strong>no</strong>micamente<br />

ativos, os sociólogos focalizaram em suas pesquisas, principalmente,<br />

os aspectos “<strong>no</strong>vos” e “tradicionais” <strong>das</strong> condições e relações de trabalho<br />

<strong>no</strong> campo, e, em me<strong>no</strong>r quantidade, as peculiaridades de sua vida política. O<br />

peso do meio rural <strong>no</strong>s setores político, social e econômico do país naquela<br />

época explica a escolha dos estudiosos. Tanto mais, que o meio urba<strong>no</strong> viera<br />

se modificando anteriormente ao período aqui estudado, e acentuava-se um<br />

13 Cf. FURTADO, Celso. Perspectivas da eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro: ISEB, 1958. p. 9-10.<br />

194<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

descompasso entre as grandes cidades modernas e um meio rural que não<br />

parecia seguir essas modificações.<br />

Outro problema que motivou a pesquisa sociológica nessa primeira fase<br />

se inscreve <strong>no</strong>s textos que averiguaram, <strong>no</strong> passado e <strong>no</strong> presente, a inserção<br />

dos negros em um sistema de trabalho livre. Questionando o passado<br />

escravocrata e as relações raciais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, esses estudos atingiam grande<br />

parte da população constituída por negros, justamente numa fase em que a<br />

industrialização começara a acenar com <strong>no</strong>vas oportunidades de emprego e<br />

melhoria da posição dos indivíduos na escala socioeconômica. Num outro<br />

enfoque, as chances de elevação do padrão de vida foram avalia<strong>das</strong> com base<br />

na trajetória dos migrantes na direção do Sudeste e <strong>das</strong> cidades, assunto cuja<br />

escolha se vincula à intensificação dos fluxos migratórios em 1945. Em que<br />

pesem as diferenças específicas dos grupos sociais submetidos à análise pelos<br />

sociólogos, o problema característico dessas pesquisas permanecia o mesmo:<br />

constituía uma indagação sobre as oportunidades efetivas de melhoria de vida<br />

da população.<br />

Observando os temas e questões dessa primeira fase, percebe-se o interesse<br />

da sociologia em examinar características de uma sociedade de base<br />

agrária, que começava lentamente a se modificar. Em 1954, Alberto Guerreiro<br />

Ramos 14 reclamava da falta de estudos sobre a industrialização do ponto de<br />

vista sociológico. Realmente, a análise efetuada leva a concordar que o assunto<br />

não fora alvo de estudos específicos até aquela data. Contudo, indaga-se aqui<br />

se os efeitos <strong>das</strong> mudanças nas atividades produtivas, que pouco a pouco se<br />

faziam <strong>no</strong>tar, não teriam influído desde aquela época na importância que, em<br />

suas pesquisas, os sociólogos atribuíram às especificidades do trabalho que<br />

lhes servia de fundamento para apontar as diferenças socioeconômicas dos<br />

indivíduos e grupos, assim como para compará-las com aquelas existentes <strong>no</strong><br />

passado.<br />

Essa problemática, aliás, aparece de modo bem mais claro <strong>no</strong>s textos da<br />

década seguinte, fase em que a disciplina abordou <strong>no</strong>vos assuntos, ampliando<br />

seu quadro temático. Os estudos se <strong>no</strong>rtearam para as mudanças sociais, cujo<br />

número se elevou surpreendentemente de um para vinte. Pesquisas sobre o<br />

processo de industrialização e urbanização <strong>no</strong> contexto brasileiro aparecem<br />

somente a partir de 1956, o mesmo ocorrendo com as investigações sobre o<br />

meio urba<strong>no</strong>, volta<strong>das</strong>, sobretudo, para a formação e características do ope-<br />

14 RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de<br />

Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.<br />

195<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

rariado brasileiro. Tratava-se de problemas que vinham se formando desde<br />

antes do período estudado, amadureceram ao longo do tempo e puderam<br />

então despertar a curiosidade dos pesquisadores. 15<br />

A vitalidade da disciplina evidencia-se na abordagem desses <strong>no</strong>vos assuntos,<br />

bem como na intensificação e re<strong>no</strong>vação dos temas que foram dominantes<br />

na primeira fase. O desenvolvimento da pesquisa sobre o meio rural se<br />

evidenciou <strong>no</strong> aprofundamento <strong>das</strong> pesquisas sobre as condições e relações<br />

de trabalho, e também <strong>no</strong> aparecimento de investigações sobre movimentos e<br />

conflitos religiosos. Igual estímulo para o estudo de <strong>no</strong>vos assuntos em áreas<br />

que já vinham sendo objeto de atenção é percebido nas publicações sobre a<br />

mobilidade social de imigrantes de diferentes nacionalidades.<br />

Não resta dúvida de que as modificações ocorri<strong>das</strong> <strong>no</strong> setor industrial<br />

entre 1956 e 1964, afetando a vida <strong>das</strong> coletividades que habitavam os meios<br />

rural e urba<strong>no</strong>, realçaram suas diferentes condições de vida, hábitos, costumes<br />

e expectativas. As possibilidades de “sucesso” nas cidades, onde oportunidades<br />

de instrução e emprego contrastavam então com as precárias condições<br />

de existência <strong>no</strong> campo, intensificavam as migrações para a cidade. Nessas<br />

circunstâncias, foi sob o prisma <strong>das</strong> mudanças sociais em curso que a sociologia<br />

expandiu o acervo dos conhecimentos sobre o meio rural e ofereceu a um<br />

público interessado em pesquisas sobre o meio urba<strong>no</strong>.<br />

A experiência social vivenciada pelos sociólogos se expressou em sua produção<br />

intelectual, tanto na escolha quanto <strong>no</strong> enfoque dos assuntos tratados.<br />

À medida que o crescimento industrial provocava uma diferenciação cada vez<br />

maior <strong>das</strong> funções e atividades produtivas entre campo e cidade, salientando<br />

as posições socioeconômicas de indivíduos e grupos, ressaltava, também, suas<br />

diferenças <strong>no</strong> passado e <strong>no</strong> presente. Comparando os fatos entre passado e<br />

presente, a sociologia questio<strong>no</strong>u as desigualdades socioeconômicas da população<br />

brasileira numa perspectiva que enfatizava o exame <strong>das</strong> descontinuidades<br />

sociais possíveis através do tempo.<br />

c. As instituições políticas em foco<br />

A produção da ciência política, <strong>no</strong> período estudado, se distingue pela<br />

abordagem de fatos que atingiam a opinião do grande público, como eleições,<br />

15 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Cultura, sociedade rural, sociedade urbana <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1978.<br />

196<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

discussão de formas de gover<strong>no</strong> presidencialista e parlamentarista etc. Essa<br />

característica muito possivelmente concorreu para que seu crescimento em<br />

livros fosse dos mais destacados, entre as diversas disciplinas, muito embora<br />

<strong>no</strong> conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais não tenha sido tão <strong>no</strong>tável. A<br />

quantidade de obras encontra<strong>das</strong> triplica de uma década para outra.<br />

No decênio de 1945 a 1955, a restauração do regime democrático repercutiu<br />

naquele ramo do saber, levando seus especialistas a questionar o “processo de<br />

escolha dos governantes” em obras sobre eleições e partidos políticos. Após 15<br />

a<strong>no</strong>s de gover<strong>no</strong> autoritário, tratava-se certamente de assunto de grande interesse.<br />

A possibilidade de participação <strong>no</strong> processo democrático gerava expectativas,<br />

motivando grupos de diferentes matizes políticos a calcular suas chances<br />

de permanecer ou alcançar maior poder dentro <strong>das</strong> <strong>no</strong>vas circunstâncias. Outro<br />

tema de relevância abordado pelos especialistas, relacionava-se com as leis constitucionais<br />

promulga<strong>das</strong> em 1946, e dizia respeito às características jurídicas e<br />

sociais <strong>das</strong> instituições políticas brasileiras. A atualidade da disciplina nesta fase<br />

mostrou-se ainda <strong>no</strong>s estudos sobre diplomacia e política externa, elaborados e<br />

publicados quando o país se inseria em uma <strong>no</strong>va ordem internacional ao térmi<strong>no</strong><br />

da Segunda Guerra Mundial. Esses foram os temas da primeira década.<br />

O paralelismo desses estudos com os fatos se mostra ainda mais nas obras publica<strong>das</strong><br />

a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950, em que a ciência política continuou dando<br />

prioridade à análise <strong>das</strong> instituições políticas nacionais. Entretanto, o exame do<br />

“processo de escolha dos governantes” não se destacou tanto; a atenção se voltou<br />

para o estudo de formas de gover<strong>no</strong> parlamentarista e presidencialista. Os debates<br />

provocados pela renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, que resultou <strong>no</strong><br />

Ato Institucional à Carta de 1946, instaurando o sistema parlamentarista de gover<strong>no</strong>,<br />

liga-se a tais publicações. A par disso, as investigações sobre a diplomacia brasileira<br />

e a política externa cresciam também; o país dava então os primeiros passos <strong>no</strong><br />

sentido da distensão da “guerra fria” e o gover<strong>no</strong> brasileiro se aproximava do “bloco<br />

comunista”. Esta circunstância dava lugar a discussões sobre as possibilidades de<br />

uma política externa independente, o que é registrado <strong>no</strong>s livros.<br />

Esse mesmo interesse pelos fatos políticos na sua atualidade levou os estudiosos<br />

a focalizar o problema <strong>das</strong> “ideologias políticas” a partir de meados<br />

de 1950. A propagação do ideal nacionalista se associava às iniciativas volta<strong>das</strong><br />

para o desenvolvimento econômico, e a quantidade de livros sobre esse assunto<br />

quintuplicou, embora sua quantidade não fosse <strong>das</strong> mais importantes <strong>no</strong><br />

conjunto <strong>das</strong> publicações. Aumentaram também, embora em me<strong>no</strong>r escala, as<br />

pesquisas sobre a formação social e econômica do poder político.<br />

197<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

A produção da ciência política cresceu, portanto, e se diversificou a partir de<br />

meados dos a<strong>no</strong>s 1950, voltando-se para os fatos políticos de maior importância<br />

naquele período. Houve uma ligação imediata entre as ocorrências políticas<br />

e o crescimento do número de obras com elas relaciona<strong>das</strong>. No entanto, dominavam<br />

os estudos sobre a atuação da classe política dirigente e sobre a funcionalidade<br />

<strong>das</strong> instituições. Procuravam os pesquisadores conhecê-los na sua<br />

atualidade, relacionando-os com as condições sociais e econômicas, numa compreensão<br />

dos fatos que associava a ciência política à eco<strong>no</strong>mia e à sociologia.<br />

Essa característica da abordagem dos fatos políticos ocorria quando a ação<br />

dos governantes e a atuação dos órgãos burocráticos do Estado tornavam-se<br />

cada vez mais intensas e decisivas na condução dos meios institucionais voltados<br />

para o desenvolvimento. Quando, em meados dos a<strong>no</strong>s 1950, as transformações<br />

<strong>no</strong> setor industrial se aceleraram graças à intervenção dos dirigentes políticos,<br />

as relações entre a ação política e as atividades econômicas se tornaram<br />

muito mais evidentes. Seu entrelaçamento cada vez maior, muito possivelmente,<br />

motivou a ampliação da abordagem dos fatos políticos naquela época; eles deixaram<br />

de ser encarados isoladamente, ou apenas em seus aspectos jurídicos, e<br />

foram sendo relacionados com a ordem social e econômica vigente.<br />

Porém, se coube à ciência política reatualizar o enfoque dado aos fatos<br />

políticos, inserindo-os em seu contexto sociopolítico, os trabalhos se voltaram<br />

preferencialmente para o conhecimento da atuação e do papel da classe<br />

política dirigente, como se somente esta atuação fosse digna de atenção. Convém<br />

lembrar que outros fatos como a importância crescente <strong>das</strong> cidades na<br />

vida política nacional, a participação de <strong>no</strong>vos grupos e cama<strong>das</strong> sociais nas<br />

atividades políticas, a organização de associações e sindicatos e a reivindicação<br />

pela ampliação <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares <strong>no</strong> processo democrático compunham<br />

uma face <strong>das</strong> mudanças em curso nessa época. Contudo, a julgar pelos dados<br />

dessa pesquisa, os temas não foram objeto de preferência dos especialistas.<br />

3.2.1.2 Os temas de me<strong>no</strong>r divulgação em livro<br />

a. Os fatores socioeconômicos e a modificação da paisagem<br />

brasileira<br />

A configuração temática da geografia humana indica que de 1945 a 1966<br />

o interesse primordial da disciplina foi investigar as modificações da paisagem<br />

brasileira, o que deu lugar a um conjunto restrito de livros, me<strong>no</strong>r do que o<br />

198<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

da maioria <strong>das</strong> disciplinas aqui aborda<strong>das</strong> como já se viu. Aventou-se anteriormente<br />

a hipótese de que os altos custos de edição desses estudos, com<br />

muitos mapas e gráficos, poderiam ter influído na me<strong>no</strong>r publicação de obras<br />

dessa área. Contudo, caberia investigar em estudos mais específicos se foram<br />

esses os motivos que influenciaram a produção da disciplina naquela época,<br />

ou se não teria sido ela causada por pequena quantidade de pesquisadores<br />

trabalhando.<br />

Na temática dos estudos geográficos entre 1945 e 1955 sobressai a importância<br />

conferida às características <strong>das</strong> regiões brasileiras, principalmente o<br />

Nordeste e o Sudeste do país. As pesquisas focalizando traços específicos do<br />

povoamento e <strong>das</strong> atividades agrícolas e industriais superaram em número,<br />

nessa primeira fase, aquelas que se voltavam para as condições socioeconômicas<br />

gerais. No entanto, qualquer que fosse a direção tomada na investigação<br />

dos problemas regionais, pode-se dizer que os geógrafos lançaram seu olhar<br />

para as mudanças que começavam a surgir <strong>no</strong>s setores socioeconômicos, porém<br />

se mantiveram ainda ligados à feição descritiva da disciplina, que prevalecera<br />

em períodos anteriores àquele aqui focalizado.<br />

É sugestivo que na década seguinte os estudiosos tenham sublinhado a<br />

ação dos fatores socioeconômicos sobre o meio físico, demonstrando com<br />

isso as influências que as transformações acelera<strong>das</strong> exerceram sobre sua produção<br />

intelectual. A mudança na prioridade dada a esses fatores, se torna<br />

evidente quando observamos que o maior número de publicações tratou de<br />

problemas do meio rural brasileiro, havendo em contrapartida uma diminuição<br />

sensível <strong>das</strong> pesquisas sobre a questão regional. Os geógrafos buscaram<br />

avaliar os efeitos da industrialização sobre o meio rural, orientação que, sem<br />

dúvida, revela uma alteração na abordagem dos fatos pela disciplina. Além<br />

disso, essas pesquisas sobressaíram <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> ciências sociais, pois,<br />

excetuando-se as pesquisas sociológicas, poucos textos em outras disciplinas<br />

focalizaram as profun<strong>das</strong> conseqüências <strong>das</strong> migrações e da industrialização<br />

sobre o meio rural brasileiro naqueles a<strong>no</strong>s. Diversificando o enfoque de seus<br />

estudos, a geografia humana se voltou também para <strong>no</strong>vo assunto, apresentando<br />

trabalhos sobre o meio urba<strong>no</strong>. Em que pesem as dificuldades para<br />

transmitir seus conhecimentos através dos livros naqueles a<strong>no</strong>s, é inegável que<br />

a disciplina apresentou um dinamismo capaz de modificar sua abordagem dos<br />

fatos, iniciando o estudo de <strong>no</strong>vos temas.<br />

A produção da geografia humana exami<strong>no</strong>u, portanto, as modificações<br />

que ocorriam na paisagem brasileira, averiguando a ação dos fatores socioe-<br />

199<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

conômicos sobre ela. Desse modo, contribuiu para formar uma <strong>no</strong>va vertente<br />

<strong>das</strong> ciências sociais, que parecia responder assim a deman<strong>das</strong> de conhecimentos<br />

específicos que eram simultâneas às transformações características do período<br />

que vai de 1945 a 1966.<br />

b. A população e as transformações socioeconômicas<br />

O crescimento da população brasileira, as migrações internas, o <strong>no</strong>tável<br />

aumento dos contingentes urba<strong>no</strong>s aparecem <strong>no</strong>s estudos efetuados <strong>no</strong> campo<br />

da demografia <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966. Os obstáculos inerentes à constituição<br />

desse ramo do saber, muitas vezes considerado mero “auxiliar” de<br />

outros trabalhos em ciências sociais, podem ter diminuído a difusão de seus<br />

conhecimentos, mas não impediram que a disciplina diversificasse sua produção<br />

em livros <strong>no</strong> período estudado.<br />

Na primeira <strong>das</strong> duas fases, as investigações examinaram as condições<br />

de existência de populações brasileiras, relacionando-as com o problema da<br />

mortalidade. Foi este o assunto de maior destaque, embora <strong>no</strong>s livros sejam<br />

encontrados também estudos que analisam as influências de fatores socioeconômicos<br />

<strong>no</strong> crescimento e distribuição dos contingentes populacionais.<br />

Uma única pesquisa dessa fase chama a atenção para o padrão de vida <strong>no</strong><br />

meio rural.<br />

As obras que vieram a público a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950 mostram<br />

que foi tomada outra direção, pois da amostra analisada não constam mais<br />

estudos sobre a mortalidade. Elevou-se o número de trabalhos sobre as condições<br />

socioeconômicas da população, ampliando-se o leque dos assuntos relativos<br />

ao crescimento e distribuição da população, tratados na primeira fase.<br />

Textos sobre o meio rural foram publicados também.<br />

Note-se que a elaboração e publicação desses estudos correspondem a<br />

uma fase em que a industrialização em ritmo acelerado influiu <strong>no</strong> crescimento,<br />

na distribuição e <strong>no</strong> padrão de vida da população brasileira. A migração<br />

rural-urbana se expandiu concomitante com a abertura do leque <strong>das</strong> ocupações<br />

citadinas. Nos a<strong>no</strong>s 1960, o contingente da população urbana superou<br />

o da população rural, alterando profundamente o perfil demográfico do país.<br />

Apreciando as pesquisas demográficas, observa-se que seu quadro temático se<br />

modificou em estreita relação com as mudanças ocorri<strong>das</strong> nessa fase.<br />

A análise da produção da demografia, entre 1945 e 1966, sugere, portanto,<br />

que as pesquisas efetua<strong>das</strong> registraram e analisaram fatos de importância para<br />

200<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

a compreensão dos efeitos <strong>das</strong> transformações sociais e econômicas sobre a<br />

população brasileira naquela época.<br />

3.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas<br />

Durante os a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, quantidade considerável de estudos, cujo<br />

peso <strong>no</strong> conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais se faz <strong>no</strong>tar tanto na primeira,<br />

quanto na segunda fase daquele período, não apresentou modificações que alterassem<br />

efetivamente sua perspectiva dominante de trabalho e cultivo prioritário<br />

de certos temas.<br />

3.2.2.1 O exame dos fatos políticos do passado<br />

A história do <strong>Brasil</strong>, com diferentes orientações, foi o campo do saber que<br />

apresentou maior número de livros sobre a sociedade brasileira, atingindo 40,02%<br />

da amostra estudada. As publicações cresceram e a disciplina manteve sua liderança<br />

sobre as demais nas duas déca<strong>das</strong> do período que vai de 1945 a 1966, ainda<br />

que sua contribuição <strong>no</strong> conjunto da produção <strong>das</strong> ciências sociais tenha sido um<br />

pouco me<strong>no</strong>r a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950, quando comparada ao aumento<br />

expressivo de pesquisas realiza<strong>das</strong> em outras áreas.<br />

Os estudos convergiram majoritariamente para a investigação dos fatos políticos<br />

do passado, fossem obras de caráter geral, específico ou biográfico. Os livros<br />

que versavam sobre assuntos políticos (235 em 291) mostravam ter um mercado<br />

seguro nas duas déca<strong>das</strong> em foco. Somente numa escala numericamente bem<br />

me<strong>no</strong>s significativa (56 em 291), a produção historiográfica se voltou para fatos<br />

econômicos, fatos sociais ou aspectos da vida intelectual brasileira.<br />

Observando os assuntos políticos de interesse dos historiadores vimos que de<br />

1945 a 1955 os estudos se repartiam nas três amplas linhas que compunham a história<br />

política: a história dos eventos políticos, a história <strong>das</strong> instituições políticas e a<br />

história <strong>das</strong> cidades, estados da Federação e regiões. Esses trabalhos tinham como<br />

alvo registrar a história da conquista do território brasileiro. Assim, descreviam e<br />

analisavam a ação dos governantes e a atuação <strong>das</strong> instituições políticas <strong>no</strong> processo<br />

de construção e manutenção da unidade política do país. Como já se ressaltou <strong>no</strong><br />

segundo capítulo, a orientação que os historiadores davam a seus estudos tinha<br />

como base uma concepção tradicional da história, que via <strong>no</strong>s eventos e ações políticas<br />

fatos “extraordinários” que moviam a história de povos e nações. O enfoque<br />

201<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

fora utilizado em períodos anteriores ao aqui abordado e se manteve nesta primeira<br />

fase, correspondente aos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955. É interessante ver também que <strong>no</strong><br />

leque dos temas focalizados, nenhum deles demonstra, particularmente, a curiosidade<br />

dos especialistas em perscrutar <strong>no</strong> passado as origens ou características de<br />

acontecimentos políticos que distinguiam aquele período – da amostra estudada<br />

não consta estudo que aborde, por exemplo, o regime democrático que vigorara na<br />

Primeira República. Naqueles a<strong>no</strong>s, não houve, portanto, interesse dos trabalhadores<br />

em reavaliar fosse o enfoque, fosse a temática de sua preferência.<br />

Esse distanciamento dos historiadores em relação aos acontecimentos e mudanças<br />

em curso aparece com maior clareza ainda na década seguinte. A partir de<br />

meados dos a<strong>no</strong>s 1950, a produção da história política em livro cresceu, embora<br />

não muito. O crescimento mais significativo se observa <strong>no</strong> campo da história<br />

dos eventos, em que aparecem mais livros do que na década anterior sobre os<br />

conflitos relativos à quebra e manutenção da unidade política na República, sobressaindo,<br />

entre eles, os estudos sobre a Campanha de Canudos. As obras sobre<br />

a Independência também aumentaram um pouco. Poder-se-ia dizer que as crises<br />

políticas e os ideais nacionalistas que marcaram a pauta de debates políticos a<br />

partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950 tenham incentivado a elaboração de alguns desses<br />

trabalhos. Na maioria <strong>das</strong> obras da história política, porém, não se percebe<br />

<strong>no</strong> crescimento <strong>das</strong> obras uma re<strong>no</strong>vação efetiva da perspectiva de trabalho que<br />

prevalecera na primeira década.<br />

Na realidade, <strong>no</strong> campo da história do <strong>Brasil</strong>, somente nas áreas da história<br />

econômica, história social e história <strong>das</strong> idéias, verificam-se mudanças temáticas que<br />

se associam às condições histórico-sociais específicas do período de 1945 a 1966.<br />

Entre elas, a história econômica foi privilegiada, ampliando seus estudos da primeira<br />

para a segunda fase. A crescente demanda pelo conhecimento dos fatos econômicos<br />

se fez sentir principalmente <strong>no</strong> <strong>no</strong>tável aumento dos textos sobre a formação<br />

econômica do país, cujas publicações se elevam de uma para dez. A relevância desse<br />

tema em detrimento daqueles que focalizavam apenas um setor <strong>das</strong> atividades produtivas<br />

<strong>no</strong> passado, a exemplo do açúcar e do café, deixa evidente que o desenvolvimento<br />

do capitalismo industrial, a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950, criava não só<br />

uma demanda de saber específico sobre os fatos socioeconômicos, como motivava<br />

especialmente estudos interpretativos de caráter geral que indicassem as características<br />

mais profun<strong>das</strong> do processo de mudanças da eco<strong>no</strong>mia brasileira.<br />

O interesse pelo exame dos fatos <strong>no</strong> seu passado e <strong>no</strong> seu presente, com vistas<br />

a averiguar as continuidades e descontinuidades existentes entre eles, é percebido<br />

também <strong>no</strong> campo da história social, embora em me<strong>no</strong>r escala. O número de<br />

202<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

obras não se eleva muito, porém sua configuração temática muda expressivamente,<br />

deixando os historiadores de abordar episódios da vida de grupos sociais e<br />

passando a investigar a formação histórica da sociedade brasileira com suas classes<br />

e estratos sociais.<br />

Ao lado disso, é sugestivo que a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950 as pesquisas<br />

na área da história <strong>das</strong> idéias tenham crescido em número, além de apresentar<br />

<strong>no</strong>vos temas. A maior divulgação <strong>das</strong> idéias através da imprensa periódica e dos<br />

livros conjugava-se a um clima de debates sobre o país, que naquela fase punha<br />

em relevo o papel da camada intelectual brasileira. Muito provavelmente, estas<br />

circunstâncias estimularam os historiadores a averiguar as características e a evolução<br />

<strong>das</strong> idéias elabora<strong>das</strong> <strong>no</strong> passado.<br />

Com relação à história do <strong>Brasil</strong>, é a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950, com as<br />

mudanças socioeconômicas em curso, que se observa um aumento do número de<br />

obras, bem como um desenvolvimento da pesquisa nas áreas que investigavam as<br />

atividades econômicas, sociais e intelectuais do passado da sociedade brasileira.<br />

Em que pesem as modificações que se fazem <strong>no</strong>tar na produção da história do<br />

<strong>Brasil</strong> em livro, nessa segunda fase, as linhas de estudo próprias da disciplina que<br />

possibilitavam abordar diferentes aspectos da realidade social, não foram contempla<strong>das</strong><br />

de modo equilibrado. Os historiadores privilegiaram <strong>no</strong> estudo dos<br />

fatos políticos um enfoque que destacava a continuidade dos meios de dominação<br />

política ao longo do tempo. Desse modo, em um contexto socioeconômico de<br />

mudanças, fizeram figurar na sua produção um conjunto expressivo de textos que<br />

enfatizava a permanência e a continuidade <strong>das</strong> ações dos governantes, e também<br />

da atuação <strong>das</strong> instituições políticas, considerando-as o móvel principal da construção<br />

do país. É muito interessante verificar que, enquanto se processavam grandes<br />

modificações socioeconômicas <strong>no</strong> país, era observado um aumento de obras<br />

sobre história do <strong>Brasil</strong>, de um modo geral; mas as características dos enfoques<br />

dos historiadores não parecem diretamente afeta<strong>das</strong> pelas mudanças do mundo<br />

em que viviam. Pelo contrário, há como que um “distanciamento” de tais mudanças,<br />

que se inscreve <strong>no</strong> interesse predominante por temas ligados ao continuísmo<br />

social e à manutenção <strong>das</strong> estruturas de poder existentes.<br />

3.2.2.2 As características dos estudos sobre as questões étnico-<br />

culturais<br />

As peculiaridades étnicas e culturais do país chamaram, muito cedo, a<br />

atenção dos pesquisadores brasileiros. Sendo tão <strong>no</strong>táveis e complexas, es-<br />

203<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

sas características levaram à ênfase da questão da “identidade brasileira”. Elas<br />

adquiriram e<strong>no</strong>rme relevância, sendo vistas, <strong>no</strong> entanto, ora como obstáculo<br />

ao processo do país, ora como elemento constitutivo essencial de sua identidade,<br />

dependendo as opiniões <strong>das</strong> circunstâncias histórico-sociais da época. O<br />

conjunto de estudos sobre fatos e questões étnico-culturais, descritos anteriormente,<br />

não deixa dúvi<strong>das</strong> quanto à continuidade daquelas questões, que decerto<br />

permaneciam também <strong>no</strong> horizonte de expectativas do público leitor. A maior<br />

parte <strong>das</strong> obras concentrou-se em trabalhos sobre as tradições populares e sobre<br />

os diferentes grupos étnico-culturais, focalizando estes últimos, principalmente,<br />

os indígenas e em me<strong>no</strong>r escala os grupos negros e imigrantes.<br />

A dificuldade em ampliar o alcance dos estudos sobre os fatos culturais<br />

se faz <strong>no</strong>tar, mais claramente, <strong>no</strong> crescente número de pesquisas sobre as<br />

tradições populares, que se elevam de 21 para 27 de uma década para outra.<br />

Aparentemente, tanto na primeira quanto na segunda fase, esses trabalhos<br />

foram incentivados pelo movimento a favor do registro e documentação do<br />

folclore brasileiro, que, como já foi visto, levou a reuniões como o I Congresso<br />

Nacional do Folclore, em 1951, e à Campanha de Defesa do Folclore, em<br />

1958. Acreditava-se então que a cultura popular era a “fonte da brasilidade”. 16<br />

A partir dos a<strong>no</strong>s 1960, ampliou-se muito a discussão sobre assunto com a<br />

criação dos Centros Populares de Cultura, que propunham a utilização <strong>das</strong><br />

manifestações culturais <strong>das</strong> cama<strong>das</strong> populares como meio de conscientizar<br />

politicamente aqueles grupos, a fim de que pudessem lutar por melhores condições<br />

de vida. É interessante observar que na segunda fase aqui abordada,<br />

muito embora o tema da cultura popular sobressaísse cada vez mais nas discussões<br />

da camada intelectual, acentuando-se seu valor político, nenhuma <strong>das</strong><br />

pesquisas em foco apresenta traço indicando interesse em estudar aquelas<br />

manifestações sob o prisma de seu valor político; como na primeira fase, as<br />

pesquisas se orientaram primordialmente pela investigação <strong>das</strong> origens <strong>das</strong><br />

tradições populares.<br />

Outra observação, diz respeito ao habitual privilégio conferido aos estudos<br />

sobre as populações indígenas, ao contrário do que acontecia com os estudos<br />

sobre as populações negras <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Ainda que o número de pesquisas sobre<br />

os grupos indígenas tenha diminuído a partir de 1955, de 22 para 13, data em<br />

16 Cf. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Revista <strong>Brasil</strong>eira de<br />

Folclore, Rio de Janeiro, 1962.<br />

204<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

que também começam a apresentar sinais de re<strong>no</strong>vação voltando-se para a<br />

questão da integração daquelas populações na sociedade nacional, continuaram<br />

tendo uma importância <strong>no</strong>tável <strong>no</strong> conjunto dos livros. O mesmo não<br />

ocorreu <strong>no</strong> tocante aos estudos sobre os negros, escassos tanto na primeira<br />

quanto na segunda <strong>das</strong> fases aborda<strong>das</strong>, assim como em todo o leque da produção<br />

<strong>das</strong> ciências sociais, aqui analisado, muito embora a população negra<br />

enfrentasse conflitos e tensões de caráter racista, denunciados em associações,<br />

reuniões e congressos já anteriormente aos a<strong>no</strong>s pesquisados. Não faltaram<br />

considerações críticas a respeito desse assunto. Assim, em 1954, reavaliando<br />

as pesquisas sobre o negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, Guerreiro Ramos dizia que<br />

O negro tem sido estudado entre nós como palha ou múmia. A quase totalidade<br />

dos estudos sobre o tema implica a idéia de que a Abolição tenha sido uma<br />

resolução definitiva do problema <strong>das</strong> massas de cor. Depois daquele cometimento<br />

espetacular nada haveria que fazer senão estudar o negro do ponto de vista estático.<br />

E assim os especialistas entraram na pista dos trabalhos de reconstrução<br />

histórica, do folclore, e de certa Antropologia descritiva por excelência. 17<br />

O conhecimento da experiência vivida pelos negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> atraiu muito<br />

pouco, naquela época, a camada intelectual, e Guerreiro Ramos tinha razão na<br />

sua observação. O número <strong>no</strong>tadamente restrito desses estudos, justamente<br />

na vertente do saber que trata dos problemas de ordem étnica e cultural, imprime<br />

uma dimensão ainda mais significativa a tal lacuna. Caberia aprofundar<br />

o exame dos motivos que levaram a este visível desinteresse <strong>no</strong> país.<br />

Dentro dos limites de um quadro histórico voltado para o desenvolvimento<br />

socioeconômico, o número de estudos sobre as questões étnicas e culturais<br />

permaneceu inalterado de uma década para outra <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s entre 1945 e 1966.<br />

O contato com uma herança tão relevante não levou os pesquisadores à reavaliação<br />

daquele acervo sob o impacto da força transformadora <strong>das</strong> situações<br />

<strong>no</strong>vas. Os estudos continuaram sendo realizados e divulgados em livro, como<br />

se fizessem parte de uma herança cultural que se transmite de geração para<br />

geração sem grandes alterações. A continuidade parece assim ter sido a marca<br />

característica dessa vertente <strong>das</strong> ciências sociais. O interesse pela historiografia<br />

dos primeiros tempos da sociedade brasileira como um meio para a compreensão<br />

de seu caráter peculiar continuou atraindo pesquisadores e leitores<br />

<strong>das</strong> ciências sociais.<br />

17 RAMOS, Alberto Guerreiro. Op. cit. p. 165.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Em larga medida, os estudos dessa vertente se voltaram, pois, para o passado,<br />

à procura <strong>das</strong> origens étnico-culturais da sociedade brasileira, através do<br />

registro dos modos de vida e <strong>das</strong> crenças dos “antepassados” e da permanência<br />

de traços culturais ao longo do tempo. Aparentemente, mantinham uma<br />

abordagem comum aos estudos antropológicos que vigoraram, sobretudo, do<br />

final do século XIX até os a<strong>no</strong>s vinte <strong>no</strong>s países anglo-saxões, e que registravam<br />

a memória <strong>das</strong> culturas indígenas “não modifica<strong>das</strong>” (unmodified), como se<br />

não houvesse nenhum contato dos grupos estudados com a cultura européia. 18<br />

Todavia, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o registro minucioso da memória dos diferentes grupos étnico-culturais<br />

adquiriu uma dimensão específica. Os pesquisadores brasileiros<br />

faziam suas investigações dentro de seu próprio país e o relato resultava de um<br />

acervo sobre grupos huma<strong>no</strong>s que não tinham sofrido o impacto da cultura européia.<br />

Desses estudos dependia, justamente, a compreensão de uma formação<br />

cultural que, à influência predominante de elementos da cultura européia, não se<br />

enquadrava <strong>no</strong>s padrões <strong>no</strong>rmativos exclusivamente europeus.<br />

4 Conclusão<br />

O confronto da produção científica com o contexto dos a<strong>no</strong>s de 1945 a<br />

1966 mostra que a dinâmica <strong>das</strong> mudanças ocorri<strong>das</strong>, acarretando um processo<br />

de diferenciação socioeconômica, política e cultural nas estruturas da<br />

época, se traduzia <strong>no</strong> campo <strong>das</strong> ciências sociais, permitindo nele a convivência<br />

de diferentes deman<strong>das</strong> de conhecimento, fossem aquelas que davam<br />

continuidade a problemas há tempos considerados relevantes para a camada<br />

intelectual, fossem as que se voltavam para questões suscita<strong>das</strong> pelas circunstâncias<br />

peculiares daqueles a<strong>no</strong>s.<br />

A análise minuciosa <strong>das</strong> características dos textos de caráter teóricometodológico,<br />

assim como dos estudos que se voltaram para problemas<br />

concretos da sociedade brasileira, efetuados <strong>no</strong>s campos da história do <strong>Brasil</strong>,<br />

eco<strong>no</strong>mia política, antropologia, sociologia, ciência política, geografia<br />

humana e demografia evidenciou que, naqueles a<strong>no</strong>s, o crescimento ou a<br />

diminuição do número de obras, assim como a persistência e a modificação<br />

na orientação do trabalho de pesquisa, ocorreram de modo desigual, fosse<br />

18 Vf. BEALS, Ralph. Acculturation. In: ANTHROPOLOGY Today, A. L. Kroeber (Org.). 7 ed.<br />

Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965. p. 622.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

<strong>no</strong>s dois amplos conjuntos em que se repartem os trabalhos, fosse <strong>no</strong> que<br />

respeita à contribuição <strong>das</strong> diferentes disciplinas para a produção de investigações<br />

em cada um deles.<br />

No período de 1945 a 1955, a redemocratização e o aparecimento dos primeiros<br />

resultados <strong>das</strong> iniciativas governamentais volta<strong>das</strong> para a industrialização<br />

marcaram o cenário histórico e social. A experiência histórica dos a<strong>no</strong>s de<br />

1945 a 1955 não causou grande impacto na produção <strong>das</strong> ciências sociais. As<br />

pesquisas mais interessa<strong>das</strong> <strong>no</strong>s fatos daquela atualidade apresentaram um número<br />

bem reduzido, compara<strong>das</strong> às obras dos historiadores e dos antropólogos<br />

sobre a sociedade brasileira, que se mantiveram, principalmente, volta<strong>das</strong><br />

para a construção da unidade política do país, assim como para a investigação<br />

de suas complexas características étnico-culturais. A concomitância entre a<br />

ocorrência de modificações políticas e econômicas e a permanência de obras<br />

cuja temática principal, ao que parece, vinha sendo examinada regularmente<br />

em períodos anteriores ao aqui abordado, demonstra que a repercussão dessas<br />

modificações sobre o público leitor não foi imediata.<br />

O crescimento do número de livros na década de 1956 a 1966 aconteceu,<br />

em larga medida, com obras sobre a sociedade brasileira que se voltaram para<br />

os fatos da atualidade, a exemplo da eco<strong>no</strong>mia política, sociologia e ciência<br />

política, cujo aumento foi <strong>no</strong>tável naqueles a<strong>no</strong>s. As pesquisas sobre o país,<br />

nas áreas da geografia humana e da demografia se re<strong>no</strong>varam, sem, todavia,<br />

aumentarem em quantidade. Paralelamente, observa-se o crescimento <strong>das</strong><br />

obras teórico-metodológicas correspondendo a uma diversificação <strong>das</strong> investigações<br />

sobre questões sociais e econômicas. De um modo geral, o crescimento<br />

dos livros associava-se às mudanças <strong>no</strong> rumo <strong>das</strong> investigações. Dessa<br />

forma, a produção <strong>das</strong> ciências sociais ampliou o acervo de suas pesquisas e,<br />

o que é mais importante, modificou muito as características apresenta<strong>das</strong> na<br />

década anterior. As mudanças ocorri<strong>das</strong> na produção dos diversos estudos<br />

apresentavam um traço comum: o interesse em aprofundar o conhecimento dos<br />

fatos e <strong>das</strong> relações sociais e econômicas, fosse através da escolha de temas,<br />

fosse por meio da adoção de perspectivas analíticas.<br />

Contudo, naquele contexto de mudanças, as pesquisas na área da história do<br />

<strong>Brasil</strong>, volta<strong>das</strong> para os fatos políticos do passado, e os estudos antropológicos<br />

sobre as origens dos traços étnico-culturais do país mantiveram praticamente<br />

inalterada tanto a quantidade de obras, quanto sua temática e enfoques preferenciais.<br />

É bem verdade que <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s que vão de 1956 a 1966, as pesquisas<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

sobre as atividades econômicas, sobre a formação da sociedade brasileira e sobre<br />

aspectos da vida intelectual <strong>no</strong> passado se diversificaram e cresceram em<br />

número; porém, as modificações não alteraram o peso predominante <strong>das</strong> obras<br />

características da produção da história do <strong>Brasil</strong> nas duas déca<strong>das</strong> analisa<strong>das</strong>. As<br />

pesquisas antropológicas, por sua vez, mantiveram o enfoque e os temas que<br />

vigoraram na década anterior, como também o número de suas obras. A falta<br />

de re<strong>no</strong>vação desses estudos, ao lado da concorrência com as demais disciplinas<br />

que multiplicaram o número de seus livros, os levou a perder o papel de relevo<br />

que os distinguia na primeira década, embora continuassem sendo os mais apreciados,<br />

ao lado dos estudos da eco<strong>no</strong>mia política e da sociologia.<br />

Este segundo período aqui examinado coincidia com grandes modificações<br />

socioculturais do país, além do incremento da industrialização que ampliava<br />

e<strong>no</strong>rmemente a urbanização e a migração rural-urbana, já inicia<strong>das</strong> na<br />

década anterior. Nos a<strong>no</strong>s de 1956 a 1966, os investimentos <strong>no</strong> setor da difusão<br />

cultural foram sensíveis, ampliando-se as atividades liga<strong>das</strong> ao rádio, cinema,<br />

imprensa periódica etc. O progresso editorial foi <strong>no</strong>tável e a indústria do<br />

livro consolidou-se <strong>no</strong> país. A expansão deu-se ao mesmo tempo em que se<br />

ampliava o número de universidades e de estudantes, aumentando rapidamente<br />

um público jovem, cuja inserção <strong>no</strong>s cursos superiores era muitas vezes realizada<br />

com sacrifícios. O interesse pelos estudos de problemas sociopolíticos<br />

e econômicos é concomitante com a ampliação de uma coletividade estudantil<br />

que estava profundamente envolvida com iniciativas que resultavam não só de<br />

sua atenção para os problemas do presente, mas, principalmente, do futuro.<br />

As disciplinas que podiam satisfazer tal curiosidade foram as mais atingi<strong>das</strong><br />

pelo aumento de pesquisas e sua publicação.<br />

Note-se que as possibilidades de expansão da produção científica encontravam-se<br />

apoia<strong>das</strong> na formação de professores universitários ligados a <strong>no</strong>vas<br />

disciplinas, que tiveram tempo de amadurecer. Funda<strong>das</strong> as primeiras universidades<br />

na década de 1930, elas acolheram em seus postos, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 1940, jovens<br />

por elas formados. Todo o efeito dessa mudança profunda na obtenção<br />

de conhecimentos vai repercutir somente a partir de meados dos a<strong>no</strong>s 1950<br />

na produção livreira. A força transformadora <strong>das</strong> situações emergentes não<br />

concorreu, contudo, para que fossem reavaliados os enfoques e os temas em<br />

to<strong>das</strong> as áreas <strong>das</strong> ciências sociais. Os meados dos a<strong>no</strong>s 1950 delimitam uma<br />

maior diferenciação da produção <strong>das</strong> ciências sociais, que se caracterizou pela<br />

elaboração de um conjunto de pesquisas volta<strong>das</strong> para as questões sociais e<br />

208<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais<br />

econômicas. Tais estudos foram os que mais impulsionaram a divulgação em<br />

livro da produção científica a partir daquela data.<br />

A expansão e o desenvolvimento dos estudos ocorreram, portanto, conjuntamente<br />

na fase em que, ao lado do <strong>no</strong>tável crescimento do público<br />

letrado e da indústria do livro, setores dos meios culturais e intelectuais<br />

debatiam os problemas <strong>das</strong> mudanças sociais e econômicas <strong>no</strong> país, o que<br />

os levava a <strong>no</strong>vas iniciativas e empreendimentos. A crescente difusão <strong>das</strong><br />

ciências sociais acompanhou, portanto, a sua re<strong>no</strong>vação, e esteve vinculada<br />

a acontecimentos marcantes daquela época, destacando-se a influência<br />

do desenvolvimento <strong>das</strong> universidades na formação e <strong>no</strong> crescimento do<br />

número de pesquisadores, assim como a ampliação de um público interessado<br />

em problemas da atualidade.<br />

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O objetivo de averiguar as características <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> contexto<br />

brasileiro dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966 <strong>no</strong>s levou a escolher o livro como objeto<br />

que privilegiaria mais apropriadamente a instância da produção de conhecimento.<br />

Retomamos aqui esta proposição básica que <strong>no</strong>rteou a pesquisa a fim<br />

de avaliar o percurso feito.<br />

No início desse trabalho, ressaltou-se que o grande desenvolvimento que<br />

as ciências sociais conheceram <strong>no</strong> mundo, a partir do século XIX, devia-se ao<br />

fato de terem sido compreendi<strong>das</strong> como um programa para ampliar a possibilidade<br />

de melhorar as condições de vida humana, tanto material quanto<br />

mentalmente, dando-lhe formas de intervir <strong>no</strong> curso da história. Duas de suas<br />

características observa<strong>das</strong> como fundamento da configuração <strong>das</strong> ciências sociais<br />

foram a diversidade <strong>das</strong> disciplinas que encerra – produto da divisão do<br />

trabalho intelectual – e a existência de diferentes pontos de vista de conhecimento<br />

e de análise <strong>das</strong> relações sociais entre os indivíduos e as coletividades.<br />

O exame aqui realizado permite ver mais de perto como a partilha se<br />

opera. Ela não se deu ao acaso <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, nem foi fruto de mentalidades privilegia<strong>das</strong>.<br />

A expansão diferenciada que as disciplinas sofreram <strong>no</strong> decorrer dos<br />

a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, cotejada com as modificações que a sociedade nacional<br />

apresentou, mostrou a convergência entre ambas. Isso permite dizer que a<br />

expansão da eco<strong>no</strong>mia política e da sociologia se relacionava intimamente<br />

com o desenvolvimento social e industrial na primeira década estudada, e com<br />

o avanço sociocultural <strong>no</strong> segundo período. O aumento dos estudos se tor<strong>no</strong>u<br />

possível devido à ampliação universitária que, num primeiro momento, deu formação<br />

sistemática a um maior número de futuros pesquisadores e professores e<br />

numa fase seguinte mostrou, de um lado, sua atuação na difusão <strong>das</strong> pesquisas<br />

registra<strong>das</strong> em livros e, de outro, a existência de um público maior para consumir<br />

esses textos, representado pelo crescimento da quantidade de universitários.<br />

211<br />

V<br />

Co n s i d e r a ç õ e s Finais<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Essas observações encontram também um reforço quando se analisa <strong>no</strong>vamente<br />

a tabela IV do primeiro capítulo: as duas cidades em que a criação<br />

de universidades teve lugar na década de 1930 – São Paulo e Rio de Janeiro<br />

– apresentaram uma quantidade muito maior de obras publica<strong>das</strong> do que as<br />

demais capitais estaduais. Além disso, quando é destacada a publicação com<br />

fins lucrativos, a produção em ambas é extraordinária, dominando completamente<br />

a publicação sem fins lucrativos (isto é, edição de órgãos do gover<strong>no</strong><br />

federal, institutos, universidades etc.). A influência do meio universitário para<br />

o incremento da produção de livros parece irrecusável.<br />

Poder-se-ia perguntar: uma vez que a fundação <strong>das</strong> universidades foi praticamente<br />

concomitante <strong>no</strong> Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo que nesta<br />

última cidade foi ela efetuada com alguma precedência e com grande ênfase,<br />

representada pela contratação de grande elenco de professores europeus nas<br />

mais diversas matérias, por que razão o número de publicações <strong>no</strong> Rio de<br />

Janeiro, tanto com fins lucrativos, quanto sem eles, superou bastante o de São<br />

Paulo – ambos sobrepujando muitíssimo a publicação nas outras capitais? A<br />

condição dessas duas cidades nas déca<strong>das</strong> estuda<strong>das</strong> provavelmente explica a<br />

diferença: o Rio de Janeiro era então não apenas a capital do país, mas também<br />

uma cidade cosmopolita e muito intelectualizada, enquanto São Paulo, me<strong>no</strong>r<br />

em vulto, constituía, comparativamente, uma cidade ainda provinciana. Uma<br />

comparação entre a produção de textos em ciências sociais, após a passagem<br />

da capital do Rio para Brasília, confrontando <strong>no</strong>vamente Rio de Janeiro e São<br />

Paulo, pode revelar em que condições a segunda cidade foi adquirindo maior<br />

prestígio intelectual, exemplificado pelo aumento do número de livros.<br />

Afirmou-se também <strong>no</strong> início do trabalho que as oportunidades de acesso<br />

às publicações são avalia<strong>das</strong> pelas condições sociais, econômicas e políticas<br />

existentes. A influência do Rio de Janeiro, demonstrada acima, se encontra<br />

<strong>no</strong>vamente encarecida por essas circunstâncias. Sem dúvida, era esta cidade<br />

que apresentava as melhores condições econômicas, sociais e de nível de escolaridade<br />

para aumentar o público de leitores e, por outro lado, permitir a<br />

expansão da indústria do livro. São Paulo aparece em segundo lugar e ambas<br />

se distanciam muito <strong>das</strong> demais capitais.<br />

Um aspecto que merece destaque, relacionado agora com as diversas disciplinas<br />

que compõem as ciências sociais, diz respeito ao peso que a idade<br />

da disciplina e seu reconhecimento, como um valor cultural, podem ter na<br />

importância que ela adquire <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> demais. Nas déca<strong>das</strong> estuda<strong>das</strong>,<br />

a história do <strong>Brasil</strong> sobressaiu a to<strong>das</strong> as outras, contando com a maior quantidade<br />

de livros. Poder-se-ia atribuir essa característica ao fato de que a criação<br />

212<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

do Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro, <strong>no</strong> Rio de Janeiro, logo seguido<br />

pela criação de outras instituições semelhantes nas demais regiões do país,<br />

datou de 1838. No entanto, a geografia humana, que também era marcada por<br />

essa origem, não teve o mesmo desenvolvimento, ocupando o penúltimo lugar<br />

na publicação de obras. Essa diferença não encontra sugestões <strong>no</strong> material<br />

estudado que permitam achar uma explicação, e o problema fica em aberto.<br />

Pode-se supor que a história tem sido desde largo tempo apontada como o<br />

princípio explicativo fundamental da existência e do desenvolvimento <strong>das</strong> sociedades<br />

humanas, o que determinaria sua importância maior entre nós desde<br />

tempos antigos. Todavia, trata-se apenas de uma sugestão para pesquisas futuras<br />

em relação à própria disciplina e seu desenvolvimento <strong>no</strong> país.<br />

Um outro dado que chama atenção é a permanência da geografia humana<br />

e da demografia em lugar sem nenhum destaque <strong>no</strong> conjunto <strong>das</strong> obras. No<br />

entanto, durante esse período a transformação demográfica que leva à diminuição<br />

da população rural brasileira e a descida de correntes de migrantes para<br />

o Sudeste do país constituem fatos da maior importância que não parecem<br />

atrair o interesse de estudiosos. A geografia humana, uma <strong>das</strong> primeiras disciplinas<br />

<strong>das</strong> ciências sociais a merecer <strong>no</strong> país um tratamento específico, pois figura<br />

<strong>no</strong>s Institutos criados em 1838, continua, juntamente com a demografia,<br />

em situação de inferioridade nas duas déca<strong>das</strong> estuda<strong>das</strong>. A maior exigência de<br />

formação matemática e de um instrumental sofisticado, tanto na realização de<br />

trabalhos de pesquisa, quanto na publicação de livros (exigência a que o país<br />

dificilmente faria face), poderiam explicar esse comportamento específico <strong>das</strong><br />

duas disciplinas? É também indagação que necessitaria ser investigada.<br />

É interessante ver que o confronto <strong>das</strong> obras com as circunstâncias histórico-sociais<br />

mostra justamente que na segunda década do período que vai<br />

de 1945 a 1966, uma vertente de estudos modificou seus enfoques e temas,<br />

orientando sua perspectiva de trabalho para o maior conhecimento dos fatos<br />

e <strong>das</strong> relações socioeconômicas. Foram esses, de modo geral, os estudos<br />

que mais cresceram em livro naquela fase. Percebeu-se assim que a expansão<br />

<strong>das</strong> ciências sociais correspondeu a uma re<strong>no</strong>vação dos textos que em larga<br />

medida traduziam em seus temas e análises problemas específicos daquela<br />

época. Os pesquisadores questionavam o desenvolvimento econômico do<br />

país, as chances de melhoria de vida da população, as precárias condições de<br />

existência <strong>no</strong> meio rural, as desigualdades socioeconômicas. Essas questões<br />

eram discuti<strong>das</strong> <strong>no</strong>s meios literários, artísticos e também <strong>no</strong> meio estudantil.<br />

A re<strong>no</strong>vação <strong>das</strong> ciências sociais vinculava-se assim a uma demanda de conhecimento<br />

proveniente dos problemas enfrentados naqueles a<strong>no</strong>s.<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Observando os vínculos <strong>das</strong> pesquisas com o contexto histórico, verificouse,<br />

entretanto, que um considerável número de trabalhos persistiu na investigação<br />

de seus temas preferenciais de uma década para outra. Eram pesquisas<br />

volta<strong>das</strong> para a continuidade dos fatos políticos <strong>no</strong> passado, ou para as origens<br />

étnico-culturais da população brasileira, que prevaleceram na produção <strong>das</strong><br />

ciências sociais <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1945 a 1955, mas que a partir de meados dos a<strong>no</strong>s<br />

1950 não reatualizaram suas perspectivas de trabalho à luz <strong>das</strong> situações e dos<br />

fatos <strong>no</strong>vos que emergiam <strong>no</strong> contexto brasileiro. A falta de re<strong>no</strong>vação dessas<br />

pesquisas correspondeu a um crescimento inexpressivo de seu conjunto.<br />

Considera-se que os meados dos a<strong>no</strong>s 1950 foram um marco importante<br />

para as ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Ao apontar tanto a mudança, quanto a<br />

continuidade em um amplo conjunto de pesquisas, a data delimita uma maior<br />

diferenciação da produção científica, que resultava de estudos cujo interesse era<br />

atender a uma demanda específica de conhecimentos proveniente <strong>das</strong> mudanças<br />

sociais, econômicas, culturais e intelectuais características daquela época.<br />

Uma observação realizada de outro ângulo também é interessante. Considerou-se<br />

desde o início do trabalho, com base em pesquisa de outros especialistas,<br />

que a grande massa de estudos históricos <strong>no</strong> acervo analisado, em que é secundada,<br />

em terceiro lugar, pela antropologia, corresponderia à busca de identidade<br />

nacional que, pelo me<strong>no</strong>s desde a Independência, parece marcar os estudiosos<br />

do país. Se tal for o caso, então a busca de identidade passaria pelo passado e<br />

pelos componentes não europeus, não entrando a geografia humana em linha<br />

de conta. Em que medida uma sondagem em épocas anteriores à escolhida<br />

teria resultados semelhantes? A vastidão e a falta de conhecimento <strong>das</strong> diversas<br />

regiões deveriam ser incentivos para indagações, suscitando tanta curiosidade<br />

da parte dos pesquisadores, quanto os aspectos ig<strong>no</strong>rados da história. As exigências<br />

de investigações custosas e longas, com inúmeros percalços de toda<br />

ordem, poderiam constituir obstáculos para trabalhos nessa disciplina (a famosa<br />

expedição de que foi promotor D. Pedro II e que se reduziu à parte mínima do<br />

que fora programado, devido à indignação levantada nas Câmaras e <strong>no</strong>s jornais<br />

pelo desperdício que representava, é disso um exemplo).<br />

Mas por que razão vem a eco<strong>no</strong>mia política em segundo lugar nas publicações<br />

da <strong>Biblioteca</strong> Nacional, logo após a história do <strong>Brasil</strong>? Teria sido sempre<br />

assim? Ou as crises consecutivas que a eco<strong>no</strong>mia do país veio sofrendo<br />

através do tempo, nas várias regiões, teriam muito cedo despertado a atenção<br />

dos pesquisadores? Nessa disciplina também, um prolongamento da pesquisa<br />

para o passado permitiria verificar em que medida esses trabalhos se ligariam<br />

a momentos difíceis da nação.<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

Verifica-se, pois, que haveria interesse em prolongar para o passado o tipo<br />

de pesquisa aqui inaugurado, para esclarecer diversos pontos obscuros. Também<br />

seria muito gratificante uma extensão para o presente, que mostrasse<br />

como a intensificação de vários problemas nacionais e o aparecimento de<br />

outros poderiam influir em trabalhos <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Se o estudo leva a maior compreensão dos vínculos da produção científica<br />

com o contexto histórico dos a<strong>no</strong>s de 1945 a 1966, não esclarece, como<br />

se vê, to<strong>das</strong> as questões suscita<strong>das</strong> ao longo de sua elaboração. Dentre elas,<br />

destacamos aqui a continuidade de pesquisas que se voltaram <strong>no</strong>tadamente<br />

para o problema da identidade do país, fosse ela vista sob o prisma políticogeográfico,<br />

fosse apreciada do ponto de vista étnico-cultural. Certamente, a<br />

maior diferenciação dos diversos setores da sociedade brasileira, provocada<br />

pelas mudanças ocorri<strong>das</strong> naquela época, justificava em parte a existência de<br />

“antigas” e “<strong>no</strong>vas” deman<strong>das</strong> de conhecimento nas ciências sociais. Ainda<br />

assim, parece-<strong>no</strong>s relevante em outras pesquisas aprofundar os motivos que<br />

levaram à continuidade daqueles problemas.<br />

Revendo o percurso feito, vemos que a análise da produção <strong>das</strong> ciências<br />

sociais em livro possibilitou o conhecimento de um amplo e diversificado<br />

conjunto de estudos peculiares ao período de 1945 a 1966, e concorreu para a<br />

análise daquela produção sob a óptica de seu contexto histórico. Com base nas<br />

obras, evidenciou-se a importância que as circunstâncias econômicas, sociais,<br />

políticas e culturais tiveram para o desenvolvimento e transmissão daquela<br />

área do saber naquela época; paralelamente, pôde-se demonstrar que aquelas<br />

condições específicas não pareceram constituir instâncias “condicionadoras”<br />

ou “determinantes” da totalidade de um conjunto da produção intelectual.<br />

Finalmente, observou-se <strong>no</strong> início desse trabalho que os apreciadores do<br />

conhecimento erudito habitualmente compõem um grupo privilegiado, cujo<br />

saber prestigiado não costuma ser posto à disposição da maioria da coletividade.<br />

Essa consideração, válida de maneira geral, não impede porém que o<br />

conhecimento tenda também a se expandir, isto é, a se alargar por cama<strong>das</strong> e<br />

grupos mais diversos da população.<br />

Não era possível nessa pesquisa distinguir quais os grupos que foram sendo<br />

abarcados pela publicação de obras de ciências sociais, as quais foram se<br />

ampliando em número nas duas déca<strong>das</strong> estuda<strong>das</strong>. Fica patente, <strong>no</strong> entanto,<br />

que sua restrição a uma pequena quantidade de pessoas foi sendo modificada<br />

pela emergência de variados fatores que favoreceram a difusão do conhecimento.<br />

Se por um lado, a preocupação com o desenvolvimento industrial<br />

e político amplia a curiosidade do público restrito já existente, levando-o a<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

consumir mais livros, não é me<strong>no</strong>s verdade que a expansão universitária e o<br />

desenvolvimento citado acima constituem formas de influir para que os limites<br />

à difusão se alarguem. Desse modo, o crescimento da produção livreira<br />

mostra que as fronteiras da coletividade que tinham acesso ao conhecimento<br />

erudito foram sendo claramente alarga<strong>das</strong>.<br />

Além dos problemas que estão a merecer atenção dos estudiosos, cumpre<br />

não esquecer que as ciências sociais são apenas parte do conhecimento huma<strong>no</strong>,<br />

e que um desvendamento do que ocorre com a difusão do saber <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,<br />

através do tempo, demandaria uma indagação aos campos <strong>das</strong> ciências naturais<br />

e exatas, da filosofia e da literatura. Ela poderia seguir rumos semelhantes<br />

ao dessa pesquisa, o que permitiria um confronto. Ademais, os conjuntos de<br />

saber citados são sempre analisados em função de seu desenvolvimento em<br />

si mesmo, e não em correlação com a ampliação de seu público (por meio da<br />

publicação de livros), além <strong>das</strong> circunstâncias sociopolíticas e culturais vigentes<br />

<strong>no</strong> país <strong>no</strong> momento específico em que se situava o material estudado.<br />

216<br />

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VI<br />

LI V r o s d e CI ê n C I a s so C I a I s n o aC e r V o<br />

d a BI B L I o t e C a na C I o n a L<br />

A listagem subseqüente dos livros em ciências sociais do<br />

acervo da <strong>Biblioteca</strong> Nacional está ordenada de acordo com a<br />

classificação apresentada <strong>no</strong> capítulo sobre temas e disciplinas.<br />

Chamo a atenção para o fato de que, em alguns poucos casos,<br />

as fichas de referência indicavam que o livro estava na sua<br />

segunda ou terceira edição, alguns reeditados <strong>no</strong> período de<br />

1945 a 1966 e outros depois de 1966. Tive o cuidado de procurar<br />

a data da primeira edição dos títulos reeditados sempre que<br />

eu dispunha da informação, obtida em outras fontes, de que a<br />

primeira edição de uma obra havia sido publicada <strong>no</strong> período<br />

considerado neste estudo.<br />

Certamente, alguns livros não foram arrolados porque eu<br />

não obtive aquela informação. Procurar a primeira edição de<br />

um livro não é tarefa fácil. Ao me<strong>no</strong>s naquela época, eram exceções<br />

as obras que registravam a primeira edição. No entanto,<br />

para o estudioso <strong>das</strong> idéias e dos livros é essencial saber o<br />

a<strong>no</strong> exato da primeira edição e de to<strong>das</strong> as suas reedições. Isto<br />

porque, entre tantos outros motivos, é comum haver mudanças<br />

<strong>no</strong>s textos, retira<strong>das</strong> ou acréscimos de capítulos e imagens,<br />

mudanças nas introduções e prefácios, alterações, enfim, que<br />

revelam <strong>no</strong>vas orientações de seus autores ou mudança nas<br />

suas redes de relação.<br />

Fica aqui, pois, não somente uma advertência aos leitores,<br />

que poderão encontrar imprecisões em algumas referências,<br />

quanto um apelo aos editores para que registrem os a<strong>no</strong>s <strong>das</strong><br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

edições anteriores da obra que estão republicando. Finalmente,<br />

vale dizer que foram feitas diversas revisões nas referências<br />

dos livros, mas é possível encontrar aqui e ali algum equívoco<br />

ou erro, o qual, espero, não prejudique a contribuição que este<br />

estudo pode oferecer aos pesquisadores <strong>das</strong> ciências sociais.<br />

História do <strong>Brasil</strong><br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Avaliação da produção historiográfica<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o <strong>Brasil</strong>. Coleção Conhecimento<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Leitura, 1945. 262 p.<br />

RODRIGUES, José Honório. Historiografia e bibliografia do domínio holandês <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Coleção do Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro: Departamento<br />

de Imprensa Nacional, 1949. 489 p. il.<br />

RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: sua evolução e problemas<br />

atuais. <strong>Biblioteca</strong> Popular <strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro: Instituto Nacional<br />

do Livro, Departamento de Imprensa Oficial, 1952. 286 p.<br />

MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasiliana: a bibliographical essay on<br />

rare books about Brazil published from 1504 to 1900 and works of brazilian<br />

authors published abroad before the Independence of Brazil in 1822.<br />

Rio de Janeiro: Colibris, 1958.<br />

JOSÉ, Oiliam. Historiografia mineira - esboço. Coleção Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. Belo<br />

Horizonte: Itatiaia, 1959. 216 p.<br />

CIDADE, Francisco de Paula. Síntese de três séculos de literatura militar brasileira.<br />

Rio de Janeiro: Ed. do Batalhão Gal. Caeta<strong>no</strong> de Farias, 1959. 607 p.<br />

RODRIGUES, José Honório. História e historiadores do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Fulgor,<br />

1965. 183 p.<br />

218<br />

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Problemas teórico-metodológicos<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

PRADO JR., Caio. Dialética do conhecimento. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1952.<br />

RODRIGUES, José Honório. Teoria da história do <strong>Brasil</strong>: introdução metodológica.<br />

2ª ed. revisada, documentada e ilustrada. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1957. 2 v. il.Primeira edição: São Paulo: Instituto<br />

Progresso Editorial, 1949.<br />

MENEZES, Djacir. O sentido antropóge<strong>no</strong> da história. Rio de Janeiro: Organização<br />

Simões, 1958. 284 p.<br />

IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Imprensa<br />

da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina<br />

HOLANDA, Guy de. Um quarto de século de programas e compêndios de história para<br />

o ensi<strong>no</strong> secundário. Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais,<br />

1957. 292 p.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s h i s t ó r i c O s g e r a i s<br />

História do <strong>Brasil</strong><br />

RIBEIRO, Joaquim. Capítulos inéditos na história do <strong>Brasil</strong>. Coleção Rex. Rio de<br />

Janeiro: Organização Simões, 1954. 184 p. il.<br />

TAPAJÓS, Vicente. História do <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong> do Espírito Moder<strong>no</strong>. São Paulo:<br />

Cia. Ed. Nacional, 1956. 532 p. il. Primeira edição: São Paulo: CEN, 1944.<br />

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização brasileira. Organização<br />

de Sérgio Buarque de Holanda com a colaboração de Pedro Moacyr Campos.<br />

São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960.<br />

VIANNA, Hélio. História do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1961. il.<br />

MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A história do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Tec<strong>no</strong>print,<br />

1963. 390 p.<br />

TOURINHO, Eduardo. Esse continente chamado <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1964. 267 p.<br />

219<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

LACOMBE, Américo Jacobina. Resumo de história do <strong>Brasil</strong>. 3 a ed. São Paulo:<br />

Cia. Ed. Nacional, 1977. 148 p. Primeira edição: Um passeio pela História do<br />

<strong>Brasil</strong>, 1943; revisada com <strong>no</strong>vo título em segunda edição de 1966.<br />

História da Colônia<br />

ENNES, Ernesto José Biza<strong>no</strong>. Estudos sobre história do <strong>Brasil</strong>. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1947. 266 p. il.<br />

VIANNA, Hélio. Estudos de história colonial. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1948. 318 p.<br />

CORREIA, C. Cunha. Serra da saudade. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,<br />

1948. 296 p. il.<br />

História do império<br />

VIANNA, Hélio. Estudos de história imperial. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1950. 328 p.<br />

SANT’ANA, Nuto. Documentário histórico. São Paulo: Departamento de Cultura,<br />

1950. 3 v.<br />

SAN MARTIN, Olyntho. Imagens da história. Porto Alegre: Ed. A Nação, 1951.<br />

219 p.<br />

MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo. O Império em chinelos. Rio de Janeiro:<br />

Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1957. 314 p. il.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. A democracia coroada: teoria política do<br />

Império do <strong>Brasil</strong>. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1957. 589 p. il.<br />

SOUSA, Octávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do <strong>Brasil</strong>. Rio<br />

de Janeiro: José Olympio, 1957-1958. 10 v. il.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. Do gover<strong>no</strong> régio. <strong>Biblioteca</strong> de Cultura Católica.<br />

Petrópolis: Vozes, 1958. 156 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. História do Império. Rio de Janeiro: Record,<br />

1963. 91 p. il.<br />

LYRA, Heitor. História da queda do Império. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1964. 2v.<br />

220<br />

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História da república<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

SODRÉ, Fábio de Azevedo. A luta pelo ‘‘Poder do Estado’’ na República: ensaios de<br />

psicologia social. Rio de Janeiro: Tipografia Baptista de Souza, 1946. 170 p.<br />

DANTAS, Manuel. Um político da ‘‘reação republicana’’. Coleção Estudos Sergipa<strong>no</strong>s.<br />

Aracaju: Livraria Regina, 1946. 120 p.<br />

MOREIRA, Antônio Ilha. Proclamação e fundação da República. Rio de Janeiro:<br />

Imprensa Nacional, 1947. 175 p. il.<br />

MELO, Olbia<strong>no</strong> de. A marcha da revolução social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: ensaio histórico-sociológico<br />

do período 1922 a 1954. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957. 222 p.<br />

MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A queda do Império: história da proclamação<br />

e consolidação da República. Rio de Janeiro: Record, 1963. 92 p.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s h i s t ó r i c O s e s p e c í f i c O s<br />

História Política<br />

História dos eventos políticos<br />

Descobrimento<br />

CORTESÃO, Jaime. Cabral e as origens do <strong>Brasil</strong>: ensaio de topografia histórica.<br />

Rio de Janeiro: Ministério <strong>das</strong> Relações Exteriores, 1944. 167 p. il.<br />

SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. O descobrimento do <strong>Brasil</strong>: estudo crítico<br />

de acordo com a documentação histórica, cartográfica e náutica. Coleção<br />

<strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 381 p. il.<br />

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso: os motivos edênicos <strong>no</strong> descobrimento<br />

e colonização do <strong>Brasil</strong>. 3ª ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

Secretaria da Cultura, Ciência e Tec<strong>no</strong>logia, 1977. 360 p. Primeira edição:<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.<br />

SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. Algumas achegas à história dos descobrimentos<br />

marítimos: críticas e controvérsias. São Paulo: Ed. Herder, 1958. 280 p.<br />

SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Org.). A carta de Pero Vaz de Caminha: estudo<br />

crítico de J. F. de Almeida Prado. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 120 p.<br />

221<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

Ocupação territorial: capitanias e sistema de sesmarias<br />

PRADO, João Fernando de Almeida. A Bahia e as capitanias do centro do <strong>Brasil</strong><br />

(1530 – 1626): história da formação da sociedade brasileira. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945.<br />

CORDEIRO, José Pedro Leite. Braz Cubas e a capitania de São Vicente. São<br />

Paulo: s/e, 1951. 238 p. il.<br />

DIAS, Demóstenes de Oliveira. Formação territorial do <strong>Brasil</strong>: origem e evolução.<br />

Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1956. 137 p. il.<br />

STUDART FILHO, Carlos. Fundamentos geográficos e históricos do estado do Maranhão e<br />

Grão-Pará: com breve estudo sobre a origem e evolução <strong>das</strong> capitanias feudais<br />

do <strong>no</strong>rte e meio <strong>no</strong>rte. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1959. 359 p.<br />

PRADO, João Fernando de Almeida. São Vicente e as capitanias do sul do <strong>Brasil</strong>:<br />

as origens (1501 – 1531). Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1961. 513 p.<br />

PORTO, José da Costa. Duarte Coelho. Cader<strong>no</strong>s de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério<br />

da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 104 p.<br />

PORTO, José da Costa. Estudos sobre sistema sesmarial. Recife: Instituto Joaquim<br />

Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, Imprensa Universitária, 1965. 197 p.<br />

Invasões estrangeiras<br />

MELO NETO, José Antônio Gonçalves de. Tempo dos flamengos: influência da<br />

ocupação holandesa na vida e na cultura do <strong>no</strong>rte do <strong>Brasil</strong>. Prefácio de<br />

Gilberto Freyre. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1947. 335 p.<br />

ANDRADA, Laércio Caldeira de. A “Igreja dos fiéis”: Coligny <strong>no</strong> feudo de Villegaig<strong>no</strong>n.<br />

Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Publicidade, 1947. 149 p. il.<br />

VAN DER DUSSEN, Adrien. Relatório sobre as capitanias conquista<strong>das</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

pelos holandeses (1639): suas condições econômicas e sociais. Tradução, introdução<br />

e <strong>no</strong>tas de José Antônio Gonçalves de Melo Neto. Rio de Janeiro:<br />

Instituto do Açúcar e do Álcool, 1947. 168 p.<br />

CASTRO, Américo Mendes de Oliveira. Maurício de Nassau contra a integridade<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: A Noite, 1948. 260 p. il.<br />

222<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CORDEIRO, José Pedro Leite. São Paulo e a invasão holandesa <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São<br />

Paulo: Gráfica Bentivegna, 1949. 244 p. il.<br />

PORTO, José da Costa. História popular da restauração. Recife: Prefeitura Municipal,<br />

Departamento de Documentação e Cultura, 1954. 70 p.<br />

RODRIGUES, Lysias Augusto. Formação da nacionalidade brasileira: história resumida<br />

<strong>das</strong> guerras holandesas ao <strong>no</strong>rte do <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong> do Exército.<br />

Rio de Janeiro: Laemmert, 1954. 472 p. il.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia do <strong>Brasil</strong> holandês: documentação e gravuras<br />

flamengas. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1956. 303 p. il.<br />

MENDONÇA, Renato de. Fronteira em marcha: ensaio de geopolítica brasileira.<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1956. 273 p.<br />

NUÑEZ, Aron P. Os três Felipes da Espanha que foram reis do <strong>Brasil</strong>: um capítulo<br />

esquecido da história do <strong>Brasil</strong>. Reivindicação histórica dos 60 a<strong>no</strong>s de<br />

período filipi<strong>no</strong>. São Paulo: Edigraf., 1957. 302 p. il.<br />

SALEMA, Sílvio. Um bárbaro cruel na história do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Livraria<br />

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Record, 1963. 92 p. il.<br />

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SANTOS, Francisco Ruas. Memórias de um mosqueteiro francês: os holandeses na<br />

Bahia em 1624 e 1625. Rio de Janeiro: Record, 1964. 98 p. il.<br />

GUERRA, Flávio. A guerra da restauração. Rio de Janeiro: Record, 1964. 91 p. il.<br />

QUINTILIANO, Aílton. A guerra dos tamoios. Rio de Janeiro: Reper, 1965. 247 p. il.<br />

Ocupação territorial: entra<strong>das</strong> e bandeiras<br />

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MIRANDA, Salm de. Expansão para o <strong>no</strong>rte. <strong>Biblioteca</strong> Militar. Rio de Janeiro:<br />

Bedeschi, 1946. 152 p.<br />

223<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 223 5/3/2009 10:15:13


Glaucia Villas Bôas<br />

SAN MARTIN, Olyntho. Bandeirantes <strong>no</strong> sul do <strong>Brasil</strong>. Porto Alegre: Ed. A<br />

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MAGALHÃES, João Batista de. A compreensão da unidade do <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong><br />

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GOLGHER, Isaías. Guerra dos emboabas: a primeira guerra civil nas Américas.<br />

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BRITO, Lasinha Luís Carlos de Cal<strong>das</strong>. Heróis da sombra: os que não viram a<br />

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HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. Coleção Documentos<br />

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GOULART, José Alípio. Tropas e tropeiros na formação do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

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LEITE, Mario. Paulistas e mineiros, plantadores de cidades. Prefácio do Embaixador<br />

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OLIVEIRA, Almir de. Gonzaga e a inconfidência mineira. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1948. 274 p.<br />

CAÚ, Sílvio de Melo. A revolução nativista pernambucana de 1817. <strong>Biblioteca</strong> do<br />

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PRADO, João Fernando de Almeida. Tomas Ender, pintor austríaco na corte de<br />

D. João VI <strong>no</strong> Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente<br />

brasileira, 1817-1818. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.<br />

224<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

LIMA JÚNIOR, Augusto de. Pequena história da inconfidência de Minas Gerais.<br />

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DORES, Manuel Moreira da Paixão. Diário da Armada da Independência. Coleção<br />

Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. Salvador: Câmara Municipal da Cidade de Salvador,<br />

Livraria Progresso, 1957. 130 p.<br />

ALBUQUERQUE, Arci Tenório d’. A maçonaria e a independência do <strong>Brasil</strong>. Rio<br />

de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1958. 302 p. il.<br />

GERSON, <strong>Brasil</strong>. Pequena história da inconfidência. Rio de Janeiro: Ministério da<br />

Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1959. 74 p.<br />

AGUIAR, Manuel Pinto de. A abertura dos portos: Cairu e os ingleses. Coleção<br />

Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 180 p. il.<br />

PINTO, Teixeira. A maçonaria na independência do <strong>Brasil</strong> 1812 – 1823. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Salogan, 1961. 114 p.<br />

REIS, Paulo Pereira dos. O colonialismo português e a conjuração mineira: esboço<br />

de uma perspectiva histórica dos fatores econômicos que determinaram a<br />

conjuração mineira. Prefácio de T. O. Marcondes de Souza, apresentação<br />

de J. F. de Almeida Prado. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. Rio de Janeiro: Cia. Ed.<br />

Nacional, 1964. 140 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 274 p.<br />

Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / Império<br />

BOITEUX, Lucas Alexandre. Marinha imperial versus cabanagem. Rio de Janeiro:<br />

Imprensa Naval, 1945. 409 p. il.<br />

SOUSA, José Conceição Pereira Coelho de. O sentido e o espírito da revolução<br />

farroupilha. Porto Alegre: Ed. Globo, 1945. 100 p.<br />

QUINTAS, Amaro Soares. O sentido social da revolução praieira. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1967. 166 p.Primeira edição:<br />

Recife: Imprensa Universitária do Recife, 1961.<br />

SERRA, Astolfo. A balaiada. <strong>Biblioteca</strong> Militar. Rio de Janeiro: Bedeschi,<br />

1946. 308 p.<br />

SEGISMUNDO, Fernando. História popular da revolução praieira. Rio de Janeiro:<br />

Vitória, 1949. 106 p.<br />

225<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

PERETTI, João de Medeiros. O movimento praieiro: ensaio sobre a revolta de<br />

1848. Recife: Imprensa Oficial, 1950. 90 p.<br />

BRITO, Francisco de Sá. Memória da guerra dos farrapos. Prefácio, introdução<br />

biográfica e <strong>no</strong>tas explicativas de Pauli<strong>no</strong> Jacques. Rio de Janeiro: Gráfica<br />

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THIOLLIER, René de Castro. A república rio grandense e a guerra paulista de 1932.<br />

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OLIVEIRA, Ramos de. O conflito maçônico religioso de 1872. Petropólis: Vozes, 1952. 238 p.<br />

GUERRA, Flávio. A questão religiosa do segundo Império brasileiro: fundamentos<br />

históricos. Prefácio de Barbosa Lima Sobrinho. Rio de Janeiro: Irmãos<br />

Pongetti, 1952. 265 p.<br />

VARELA, Alfredo. O solar brasílico, remate <strong>no</strong>s muros austríacos. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Instituto América, 1953. 2 v.<br />

VARELA, Alfredo. Índice alfabético e remissivo da história da grande revolução. Rio<br />

de Janeiro: AGUS, 1955. 209 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Sousa. A insurreição praieira (1848–1849).<br />

Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 253 p. il.<br />

SPALDING, Walter. A epopéia farroupilha. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército,<br />

1963. 319 p.<br />

PALHA, Américo. Os precursores da abolição. Prefácio de Pedro Calmon. Rio de<br />

Janeiro: Record, 1965. 90 p. il.<br />

ANDRADE, Manuel Correia de. A guerra dos caba<strong>no</strong>s. Coleção Temas <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: Conquista, 1965. 273 p. il.<br />

REIS, Gustavo Morais Rêgo. A cabanagem: um episódio histórico de guerra insurrecional<br />

na Amazônia (1835–1839). Prefácio de Arthur César Ferreira<br />

Reis. Manaus: Gover<strong>no</strong> do Estado do Amazonas, 1965. 119 p. il.<br />

Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / República<br />

VALADÃO, Alfredo. Campanha da Princeza. Rio de Janeiro: Ed. Leuzinger,<br />

1937-1945. 4 v. il.<br />

BERFORD, Álvaro Bittencourt. O estado nacional e a constituição de <strong>no</strong>vembro de 1937.<br />

Rio de Janeiro: Ed. do Departamento de Imprensa e Propaganda, 1944. 239 p.<br />

226<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ALMEIDA, Júlio Barbosa de. A revolução paulista e a polícia espírito-santense:<br />

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1945. 160 p.<br />

MAGALHÃES, João Batista de. A consolidação da República: ensaio para a filosofia<br />

da história do <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert,<br />

1947. 264 p.<br />

DUARTE, Paulo. Palmares pelo avesso. Coleção Iguassu. São Paulo: Instituto<br />

Progresso Editorial, 1947. 422 p.<br />

LANDUCCI, Ítalo. Cenas e episódios da coluna Prestes: com 24 fotografias inéditas.<br />

São Paulo: <strong>Brasil</strong>ense, 1947. 119 p. il.<br />

LOBATO FILHO, João Bernardo. A última <strong>no</strong>ite da Escola Militar da Praia<br />

Vermelha: contribuição para a história. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,<br />

1948. 127 p.<br />

OLIVEIRA, Benedito Fernandes de. Revolução paulista de 1932. São Paulo: Revista<br />

dos Tribunais, 1950. 132 p. il.<br />

FRANÇA, Antônio. A<strong>no</strong>s de resistência. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante<br />

do <strong>Brasil</strong>, 1950. 163 p. il.<br />

JOBIM, Rubens Maio Caggia<strong>no</strong>. Vento leste <strong>no</strong>s campos gerais: o cerco da Lapa.<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1952. 167 p. il.<br />

CUNHA, Heitor Xavier Pereira da. A revolta na esquadra brasileira em <strong>no</strong>vembro e<br />

dezembro de 1910. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1953. 108 p. il.<br />

MARINS, Francisco. A aldeia sagrada. São Paulo: Melhoramentos, 1953. 100 p. il.<br />

OLIVEIRA, Clóvis. A indústria e o movimento constitucionalista de 1932. São Paulo:<br />

Centro e Federação <strong>das</strong> Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de<br />

Publicações, 1956. 320 p. il.<br />

OLIVEIRA, Nelson Tabajara de. 1924: a revolução de Isidoro. São Paulo:<br />

Cia. Ed. Nacional, 1956. 200 p.<br />

PEREGRINO, Umberto. Os “Sertões” como história militar. Coleção Taunay. Rio<br />

de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1956. 75 p.<br />

ARAÚJO, Lourenço. A coluna Gwyer <strong>no</strong> túnel: a revolução de 1932. Niterói:<br />

Tipografia J. Gonçalves, 1958. 53 p. il.<br />

227<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 227 5/3/2009 10:15:14


Glaucia Villas Bôas<br />

NOGUEIRA FILHO, Paulo. O partido democrático e a revolução de 1930. São<br />

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MELO, Dante de. A verdade sobre “Os Sertões”: análise reivindicatória da campanha<br />

de Canudos. <strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro<br />

de Geografia e Estatística, 1958. 257 p.<br />

LAFAYETTE, Pedro. Saldanha da Gama. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Souza,<br />

1959. 2v. il.<br />

CALASANS, José. No tempo de Antônio Conselheiro: figuras e fatos da campanha<br />

de Canudos. Salvador, Universidade da Bahia, 1959. 121 p.<br />

ROCHA NETO, Bento Munhoz da. Radiografia de <strong>no</strong>vembro. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1960. 158 p.<br />

ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições militares contra Canudos: seu aspecto<br />

marcial. Rio de Janeiro, Imprensa do Exército, 1960. 286 p. il.<br />

RODRIGUES, José Honório. Aspirações nacionais: interpretação histórico-política.<br />

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FONTOURA, João <strong>das</strong> Neves da. A aliança liberal e a revolução de 30. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Globo, 1963. 500 p.<br />

MACEDO, Nertan. Memorial de Vila<strong>no</strong>va. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1964.<br />

162 p.<br />

CARONE, Edgard. Revoluções do <strong>Brasil</strong> contemporâneo 1922-1938. Coleção Buriti.<br />

São Paulo: Desa, 1965. 174 p. il.<br />

GARCIA, Manuel Funchal. Do litoral ao sertão: viagens pelo interior do <strong>Brasil</strong>,<br />

inclusive na região de Canudos. Coleção Gal. Benício. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong><br />

do Exército, 1965. 365 p.<br />

NOGUEIRA FILHO, Paulo. A guerra cívica – 1932. Rio de Janeiro: José Olympio,<br />

1965.<br />

SILVA, Hélio. 1926: A grande marcha. Coleção Documentos da História Contemporânea.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 972 p. il.<br />

SILVA, Hélio. 1930 – A revolução traída. Coleção Documentos da História<br />

Contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1966. 505 p. il.<br />

228<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 228 5/3/2009 10:15:14


História Militar<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FERREIRA, Aurélio Alves de Souza. História militar do <strong>Brasil</strong>: regime colonial.<br />

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SOUZA, Pedro Luís Pereira de. Militarismo e República (crítica e história): subsídios<br />

para a preservação do exército e manutenção da ordem <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São<br />

Paulo: Nova Jurisprudência, 1945. 184 p.<br />

LORETO, Aliatar. Capítulos de história militar do <strong>Brasil</strong>: colônia-rei<strong>no</strong>. <strong>Biblioteca</strong><br />

do Exército. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> Militar, 1946. 189 p. il.<br />

LOPES, Teodorico Francisco. Ministros da guerra do <strong>Brasil</strong> 1808-1945. Rio de<br />

Janeiro: Irmãos Pongetti, 1946. 392 p. il.<br />

CIDADE, Francisco de Paula. Lutas ao sul do <strong>Brasil</strong>, com os espanhóis e seus descendentes<br />

(1680-1828): <strong>no</strong>tas de história militar brasileira, reexame de questões<br />

políticas e militares. <strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> Militar,<br />

1948. 324 p. il.<br />

SOUZA JÚNIOR, Antonio de. Caminhos históricos da invasão. <strong>Biblioteca</strong> do<br />

Exército. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 142 p. il.<br />

BARRETO, Aníbal. Fortificações do <strong>Brasil</strong>: resumo histórico. <strong>Biblioteca</strong> do Exército.<br />

Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1958. 337 p. il.<br />

MAGALHÃES, João Batista. A evolução militar do <strong>Brasil</strong>: a<strong>no</strong>tações para a história.<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1958.<br />

408 p.<br />

OLIVEIRA, João Pereira. Vultos e fatos de <strong>no</strong>ssa história. Rio de Janeiro: Imprensa<br />

do Exército, 1959. 187. p. il.<br />

SOUZA JÚNIOR, Antonio de. O <strong>Brasil</strong> e a terceira guerra mundial: ensaio de<br />

interpretação da história <strong>das</strong> guerras <strong>no</strong> século XX. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong><br />

do Exército, 1959. 341 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. Narrativas militares: seleção, organização e <strong>no</strong>tas<br />

biográficas. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1959. 283 p. il.<br />

LIMA JÚNIOR, Augusto de. Crônica militar. Belo Horizonte: s/e, 1960. 235 p. il.<br />

229<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

MAIA, João do Prado. D.N.O.G. (Divisão Naval em Operação de Guerra) 1914-<br />

1918: uma página esquecida da história da Marinha brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Marinha, Serviço de Documentação, 1961. 253 p. il.<br />

MAIA, João do Prado. A marinha de guerra do <strong>Brasil</strong> na colônia e <strong>no</strong> Império: tentativa<br />

de reconstituição histórica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. Cátedra, 1975.<br />

340 p. il. Primeira edição: Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro:<br />

José Olympio, 1965.<br />

TAVARES, Aurélio de Lira. A engenharia militar portuguesa na construção do <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Estado Maior do Exército, 1965. 188 p. il.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do <strong>Brasil</strong>. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 439 p.<br />

História diplomática<br />

JORGE, Artur Guimarães de Araújo. Introdução às obras do Barão do Rio Branco.<br />

Rio de Janeiro: Ministério <strong>das</strong> Relações Exteriores, 1945. 233 p.<br />

VIANNA, Hélio. História <strong>das</strong> fronteiras do <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong> do Exército. Rio de<br />

Janeiro: Laemmert, 1948. 333 p.<br />

ALMEIDA, Mário Monteiro de. Episódios históricos da formação geográfica do <strong>Brasil</strong>:<br />

fixação <strong>das</strong> raias com o Uruguai e o Paraguai. Rio de Janeiro: Irmãos<br />

Pongetti, 1951. 636 p.<br />

SOARES, Álvaro Teixeira. Diplomacia do Império <strong>no</strong> Rio da Prata (até 1865). Rio<br />

de Janeiro: Ed. Brand, 1955. 293 p.<br />

PRADO, João Fernando de Almeida. O <strong>Brasil</strong> e o colonialismo europeu. Coleção<br />

<strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 484 p.<br />

SOARES, Álvaro Teixeira. O gigante e o rio: ação de Mauá <strong>no</strong> Uruguai e Argentina<br />

(1851-1878). Rio de Janeiro: Cia. <strong>Brasil</strong>eira de Artes Gráficas, 1957. 335 p.<br />

VIANNA, Hélio. História diplomática do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1958. 211 p. il.<br />

CARVALHO, Carlos Delgado de. História diplomática do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1959. 409 p. il.<br />

VALADÃO, Alfredo. <strong>Brasil</strong> e Chile na época do Império: amizade sem exemplo.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 321 p. il.<br />

230<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

RODRIGUES, José Honório. <strong>Brasil</strong> e África, outro horizonte: relações e política<br />

brasileiro-africana. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1961. 359 p.<br />

RODRIGUES, José Honório. Interesse nacional e política externa. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1966. 232 p.<br />

História administrativa<br />

ANDRADE, Almir. Contribuição à história administrativa do <strong>Brasil</strong> na República até<br />

o a<strong>no</strong> de 1945. Rio de Janeiro: José Olympio, 1950. 2 v.<br />

GURGEL, Heitor. O gover<strong>no</strong> Amaral Peixoto 1937-1945: subsídios para a história<br />

político-administrativa do estado do Rio. Niterói: s/e, 1950. 158 p.<br />

JESUS, Jupira S. Palha<strong>no</strong> de. Viação e Obras Públicas: elementos para a história<br />

do ministério. Coleção Mauá. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras<br />

Públicas, Serviço de Documentação, 1955. 260 p.<br />

SOUZA, Antônio Manuel Braga de. História do Ministério do Trabalho, Indústria<br />

e Comércio - MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de<br />

Documentação, 1955.<br />

TAPAJÓS, Vicente et al. História administrativa do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Departamento<br />

Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação,<br />

1956. 8 v.<br />

BESOUCHET, Lídia. História da criação do Ministério do Trabalho: ensaio de interpretação<br />

do MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do<br />

Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1957. 76 p.<br />

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Processo administrativo ibero-america<strong>no</strong>: aspectos<br />

socioeconômicos do período colonial. Coleção Gal. Benício. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1962. 570 p. il.<br />

História constitucional<br />

ALECRIM, Otacílio. Idéias e instituições <strong>no</strong> Império: influências francesas. Rio de<br />

Janeiro, Jornal do Commercio, 1952. 240 p.<br />

CÂMARA, José. Subsídios para a história do direito pátrio. Rio de Janeiro: Instituto<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, 1954. 3 v.<br />

231<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

SOUZA, José Pedro Galvão de. Introdução à história do direito político brasileiro.<br />

São Paulo: Reconquista, 1954. 134 p.<br />

MOIRA, Augusto. Tirania dos erros, questões constitucionais. Rio de Janeiro: Irmãos<br />

Pongetti, 1960. 367 p.<br />

LEAL, Hamilton. História <strong>das</strong> instituições políticas do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: s/e, 1962. 599 p.<br />

RODRIGUES, José Honório. Conciliação e reforma <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: um desafio histórico-cultural.<br />

Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1965. 246 p.<br />

SOUZA, José Pedro Galvão de. Raízes históricas da crise política brasileira. Petrópolis:<br />

Vozes, 1965. 148 p.<br />

História eclesiástica<br />

PIRES, Heliodoro de Souza. Temas de história eclesiástica do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: São<br />

Paulo Ed., 1946. 518 p. il.<br />

CAMARGO, Paulo Florêncio da Silveira. História eclesiástica do <strong>Brasil</strong>. Petrópolis:<br />

Vozes, 1965. 414 p.<br />

VERISSIMO, Inácio José. Pombal, os jesuítas e o <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Imprensa<br />

do Exército, 1961. 440 p.<br />

TERRA, Pedro. A catequese: seus feitos <strong>no</strong>táveis, seus heróis eter<strong>no</strong>s. Rio de<br />

Janeiro: Record, 1963. 92 p. il.<br />

História dos partidos políticos<br />

BOEHRER, George C. Da monarquia à república: história do Partido Republica<strong>no</strong><br />

do <strong>Brasil</strong> (1870–1899). Tradução de Berenice Xavier. Rio de Janeiro: Ministério<br />

da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1954. 300 p. il.<br />

SANTOS, José Maria dos. Bernardi<strong>no</strong> de Campos e o Partido Republica<strong>no</strong> Paulista:<br />

subsídios para a história da República. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. 285 p. il.<br />

História de cidades, estados da Federação e regiões<br />

História de cidades<br />

SETE, Mário. Arruar, história pitoresca do Recife antigo. Rio de Janeiro: Ed. da<br />

Casa do Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1948. 407 p. il.<br />

232<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FALCÃO, Edgar de Cerqueira. A fundação da cidade de Salvador em 1549. São<br />

Paulo: Revista dos Tribunais, 1949. 102 p.<br />

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro: <strong>no</strong>tícia histórica e descritiva da cidade.<br />

Prefácio de Gilberto Freyre, 2 a ed. revisada pelo autor. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 2 v. il. Primeira<br />

edição: Rio de Janeiro: José Olympio, 1949.<br />

BRUNO, Ernani Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Prefácio de<br />

Gilberto Freyre. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1953-1954. 3 v. il.<br />

FERREIRA, Augusto Maurício de Queiroz. O que ficou do passado. <strong>Biblioteca</strong><br />

do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954. 167 p. il.<br />

CORTESÃO, Jaime. A fundação de São Paulo, capital geográfica do <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Livros de Portugal, 1955. 275 p. il.<br />

COSTA, Osmani Emboaba. História da fundação de Ribeirão Preto. São Paulo:<br />

Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras, Universidade de São Paulo,<br />

1955. 112 p. il.<br />

SILVA, ALBERTO. A cidade de Salvador: aspectos seculares. Coleção de Estudos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros, Série Marajoara. Salvador: Prefeitura Municipal, Livraria<br />

Progresso, 1957. 226 p. il.<br />

VIANA, Hermógenes. A fundação do Recife. Recife: Imprensa Industrial, 1959. 62 p.<br />

GUIMARÃES, Fábio Nelson. <strong>Fundação</strong> histórica de São João del-Rei: com subsídios<br />

para a história da cidade de Tiradentes em suas origens. São João<br />

del-Rei: São João del-Rei Artes Gráficas, 1961. 100 p. il.<br />

OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Ilustrações de Percy Lau. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. 344 p. il.<br />

LIMA JÚNIOR, Augusto de. As primeiras vilas de ouro. Belo Horizonte: Santa<br />

Maria, 1962. 137 p.<br />

FIGUEIREDO FILHO, José de. História do Cariri. Crato: Instituto de Estudo<br />

Superior do Cariri, Faculdade de Filosofia do Crato, 1964.<br />

ANTUNES, Deoclécio de Paranhos. Estudos de história carioca. Rio de Janeiro:<br />

Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura,<br />

1965. 186 p. il.<br />

233<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

BELCHIOR, Elísio de Oliveira. Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro. Rio<br />

de Janeiro: Ed. <strong>Brasil</strong>iana, 1965. 528 p.<br />

DINIZ, Sílvio Gabriel. Pesquisando a história de Pitangui. Belo Horizonte: Imprensa<br />

Oficial do Estado de Minas Gerais, 1965. 292 p.<br />

GERSON, <strong>Brasil</strong>. História <strong>das</strong> ruas do Rio. 4ª ed. revisada, ampliada e ilustrada.<br />

Rio de Janeiro: Ed. <strong>Brasil</strong>iana, 1965. 580 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro:<br />

Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria da Educação e Cultura, 1954.<br />

PINHEIRO, Maciel. O Rio de Janeiro através da revista. Revista do Instituto Histórico<br />

e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro. Rio de Janeiro: Ed. <strong>Brasil</strong>iana, 1965. 307 p.<br />

RHEINGANTZ, Carlos G. Primeiras famílias do Rio de Janeiro (séculos XVI e<br />

XVIII). Rio de Janeiro: Ed. <strong>Brasil</strong>iana, 1965.<br />

TROTA, Frederico. A fundação da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitura<br />

do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1965. 158 p.<br />

História de estados da Federação<br />

MARIZ, Celso. Cidades e homens. João Pessoa: A União, 1945. 284 p. il.<br />

ANDRADE, Delmiro Pereira de. Evolução histórica da Paraíba do Norte. Rio de<br />

Janeiro: Minerva, 1946. 313 p. il.<br />

LIMA JÚNIOR, Félix. Mapirunga. Maceió: Casa Ramalho Ed., 1954. 221 p. il<br />

PORTO, Carlos Eugênio. Roteiro do Piauí. Rio de Janeiro: Ministério da Educação<br />

e Cultura, Serviço de Documentação, 1955. 186 p. il.<br />

CARVALHO, Daniel Serapião. A formação histórica <strong>das</strong> Minas Gerais. Cader<strong>no</strong>s<br />

de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de<br />

Documentação, 1956. 60 p.<br />

COSTA, Luiz Monteiro da. Na Bahia colonial: apontamentos para a história<br />

militar da cidade do Salvador. Coleção de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, Série Marajoara.<br />

Salvador: Livraria Progresso, 1958. 168 p. il.<br />

STUDART FILHO, Carlos. Estudos de história seiscentista. Fortaleza: Tipografia<br />

Minerva, 1959. 194 p. il.<br />

JOSÉ, Oiliam. A propaganda republicana em Minas. Belo Horizonte: Universidade<br />

de Minas Gerais, Faculdade de Direito, 1960. 180 p.<br />

234<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

STUDART FILHO, Carlos. A revolução de 1817 <strong>no</strong> Ceará e outros estudos. Fortaleza:<br />

Tipografia Minerva, 1961. 258 p.<br />

TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre. Prefácio de Arthur César<br />

Ferreira Reis. Rio de Janeiro: Conquista, 1961. 3 v. il.<br />

JOSÉ, Oiliam. A abolição em Minas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962. 169 p.<br />

CRUZ, Ernesto. História do Pará. Belém: Universidade do Pará, 1963. 2 v.<br />

NOVAIS, Maria Estela. A escravidão e a abolição <strong>no</strong> Espírito Santo: história e folclore.<br />

Vitória: Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, 1963. 166 p.<br />

História de regiões<br />

REIS, Arthur César Ferreira. Estadistas portugueses na Amazônia. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Dois Mundos, 1948. 202 p.<br />

REIS, Arthur César Ferreira. Limites e demarcações na Amazônia brasileira. Rio de<br />

Janeiro: Imprensa Nacional, 1947. 2 v. il.<br />

IGLÉSIAS, Francisco de Assis. Caatingas e chapadões: <strong>no</strong>tas, impressões e reminiscências<br />

do meio-<strong>no</strong>rte brasileiro 1912-1919. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1951. 638 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Sousa. A conquista da Amazônia. Coleção Mauá. Rio<br />

de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas, Serviço de Documentação,<br />

1956. 114 p.<br />

REIS, Arthur César Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 128 p.<br />

TOCANTINS, Leandro. Amazônia, natureza, homem e tempo. Coleção Temas<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 245 p. il.<br />

GUERRA, Flávio. História colonial do Nordeste. Rio de Janeiro: Record, 1963.<br />

89 p. il.<br />

MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazônia na era pombalina. São Paulo:<br />

Instituto Histórico e Geográfico <strong>Brasil</strong>eiro, 1963. 3v. il.<br />

REIS, Arthur César Ferreira. Aspectos da experiência portuguesa na Amazônia. Manaus:<br />

Gover<strong>no</strong> do Estado da Amazonas, 1966. 321 p.<br />

235<br />

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História Econômica<br />

Formação econômica<br />

Características gerais<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

PRADO JR., Caio. História econômica do <strong>Brasil</strong>. 2ª ed. Coleção Grandes Estudos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1949. 332 p. Primeira edição: São Paulo:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1945.<br />

FRANCO, Afonso Ari<strong>no</strong>s de Melo. Síntese da história econômica do <strong>Brasil</strong>. Salvador:<br />

Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1958. 95 p.<br />

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Introdução à história social da eco<strong>no</strong>mia précapitalista<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 192 p. il.<br />

LOBO, Roberto Haddock. Pequena história da eco<strong>no</strong>mia. 2ª ed. São Paulo: Livraria<br />

Martins, 1959. 376 p. il.<br />

AGUIAR, Manuel Pinto de. Ensaios de história e eco<strong>no</strong>mia. Salvador: Livraria<br />

Progresso, 1960.<br />

TOURINHO, Eduardo. Breve história da formação econômica do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Irmãos Pongetti, 1962. 154 p.<br />

GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. 3ª ed. Rio de Janeiro:<br />

Paz e Terra, 1975. 255 p. Primeira edição: São Paulo: Fulgor, 1964.<br />

Características <strong>no</strong> período colonial<br />

DORNAS FILHO, João. Aspectos da eco<strong>no</strong>mia colonial. 2ª ed. Coleção Estudos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959. 272 p. il. Primeira edição: Belo<br />

Horizonte: Itatiaia, 1956.<br />

BRUNO, Ernani Silva. Viagem ao país dos paulistas: ensaio sobre ocupação<br />

da área vicentina e a formação de sua eco<strong>no</strong>mia e de sua sociedade <strong>no</strong>s<br />

tempos coloniais. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1966. 151 p. il.<br />

MARÇAL, Heitor. Marinha e sertão: fundamentos da eco<strong>no</strong>mia colonial. 2ª ed.<br />

Rio de Janeiro: Ed. GRD, 1966. 169 p.<br />

BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do <strong>Brasil</strong>: dores de crescimento de uma<br />

sociedade colonial. Tradução de Nair de Lacerda. Prefácio de Carlos Rizzi-<br />

236<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ni. 2ª ed. revisada. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969.<br />

390 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: Sociedade de Estudos Históricos<br />

Dom Pedro II, 1963.<br />

Atividades produtivas: açúcar, mineração, café e pesca<br />

ELLIS JÚNIOR, Alfredo. O café e a paulistânia. São Paulo: Faculdade de Filosofia,<br />

<strong>Ciências</strong> e Letras, Universidade de São Paulo, 1951. 699 p. il.<br />

MAGALHÃES, Basílio de. O açúcar <strong>no</strong>s primórdios do <strong>Brasil</strong> colonial. Rio de Janeiro:<br />

Instituto do Açúcar e do Álcool, 1953. 204 p.<br />

ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> colonial. São Paulo: S.C.P.,<br />

1958. 126 p. il.<br />

STEIN, Stanley J. Grandeza e decadência do café <strong>no</strong> Vale do Paraíba com referência<br />

especial ao município de Vassouras. Tradução de Edgar Magalhães. Capa de<br />

Luis Ventura. Rio de Janeiro: <strong>Brasil</strong>iense, 1961. 372 p. il.<br />

ELLIS, Myriam. Contribuição ao estudo do abastecimento <strong>das</strong> áreas mineradoras do<br />

<strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> século XVIII. Cader<strong>no</strong>s de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da<br />

Educação e Cultura, 1962. 68 p.<br />

COSTA FILHO, Miguel. A cana-de-açúcar em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Instituto<br />

do Açúcar e do Álcool, 1963. 415 p. il.<br />

Política econômica<br />

TAUNAY, Alfredo d’Escrag<strong>no</strong>lle. História administrativa e econômica do <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Organização Simões, 1955. 101 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. O tratado de Methuen. Rio de Janeiro: Instituto Superior<br />

de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1957. 50 p.<br />

IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do gover<strong>no</strong> provincial mineiro (1835-1889).<br />

Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1958. 231 p.<br />

LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do <strong>Brasil</strong> (1808-1930). Prefácio de<br />

João Cruz Costa. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão<br />

Européia do Livro, 1961. 216 p.<br />

LIMA, Heitor Ferreira. Do imperialismo à libertação colonial: análise da eco<strong>no</strong>mia<br />

mundial de 1890 a 1960. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1965. 168 p.<br />

237<br />

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Industrialização<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

PINTO, Estevão. História de uma estrada de ferro do Nordeste. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. il.<br />

LIMA, Heitor Ferreira. Evolução industrial de São Paulo: esboço histórico. São<br />

Paulo: Livraria Martins, 1954. 196 p. il.<br />

LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do <strong>Brasil</strong>: período colonial. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 327 p.<br />

Sistema bancário<br />

AGUIAR, Manuel Pinto de. Bancos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> colonial: tentativas de organização<br />

bancária em Portugal e <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> até 1808. Coleção de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros,<br />

Série Marajoara. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 120 p. il.<br />

FRANCO, Afonso Ari<strong>no</strong>s de Melo; PACHECO, Cláudio. História do Banco<br />

do <strong>Brasil</strong>: primeira fase 1808 – 1835. São Paulo: Instituto de Eco<strong>no</strong>mia da<br />

Associação Comercial, 1947. 350 p.<br />

História social<br />

Escravidão<br />

CARNEIRO, Edison de Sousa. O quilombo dos Palmares, 1630-1695. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1947. 246 p. Primeira edição: Guerra de los Palmares. Tradução do original<br />

inédito por Tomás Muñoz Molina. México: Fondo de Cultura Eco<strong>no</strong>mica, 1946.<br />

GOULART, Maurício. Escravidão africana <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: <strong>das</strong> origens à extinção do<br />

tráfico. São Paulo: Livraria Martins, 1949. 300 p.<br />

MOREL, Edmar. O dragão do mar, o jangadeiro da abolição. Rio de Janeiro: Edições<br />

do Povo, 1949. 222 p. il.<br />

FREITAS, Mário Martins de. Rei<strong>no</strong> negro de Palmares. <strong>Biblioteca</strong> do Exército.<br />

Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954.<br />

COSTA, Emília Viotti da. Escravidão nas áreas cafeeiras: aspectos econômicos e<br />

ideológicos da desagregação do sistema escravista. São Paulo: Faculdade<br />

de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras, Universidade de São Paulo, 1964. 3 v.<br />

238<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>.<br />

São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 497 p. il.<br />

Classes e estratos sociais<br />

LINHARES, Hermínio. Contribuição à história <strong>das</strong> lutas operárias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Ed. Batista de Souza, 1955. 130 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. As classes sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1957. 51 p.<br />

DIAS, Everardo. História <strong>das</strong> lutas sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Edaglit, 1962. 330 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. História da burguesia brasileira. Coleção Retratos do<br />

<strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1964. 318 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. Estratificação social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: suas origens<br />

históricas e suas relações com a organização política do país. Coleção Corpo<br />

e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 222 p.<br />

Formação da sociedade<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à revolução brasileira. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 257 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do <strong>Brasil</strong>. 2ª ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1963. 417 p. Primeira edição: São Paulo, <strong>Brasil</strong>iense, 1962.<br />

Outros<br />

VIANNA, Hélio. Contribuição à história da imprensa brasileira (1812-1862). Rio de<br />

Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. 664 p. il.<br />

PASSOS, Alexandre. A imprensa <strong>no</strong> período colonial. Cader<strong>no</strong>s de Cultura. Rio<br />

de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação,<br />

1952. 72 p.<br />

BAHIA, Renato. O estudante na história nacional. Salvador: Livraria Progresso,<br />

1954. 217 p.<br />

MONTEIRO, Mário Ypiranga. O regatão (<strong>no</strong>ticia histórica): subsídios para a<br />

história social do Amazonas. Coleção Muiraquitã. Manaus: Ed. Planície,<br />

1958. 158 p. il.<br />

239<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Pequena história da medicina brasileira. Coleção<br />

Buriti. São Paulo: São Paulo Ed., 1966. 150 p. il.<br />

História <strong>das</strong> idéias<br />

Estudos de caráter geral<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. Orientações do pensamento brasileiro: Azevedo Amaral,<br />

Gilberto Freyre, Oliveira Viana, Fernando de Azevedo, Gracilia<strong>no</strong> Ramos,<br />

José Lins do Rego, Jorge Amado, Lúcio Cardoso. Rio de Janeiro: Casa Ed.<br />

Vecchi, 1952. 190 p.<br />

MENEZES, Djacir. O <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Nacional de Estudos Pedagógicos, 1957. 276 p.<br />

SODRÉ, Nelson Werneck. A ideologia do colonialismo: seus reflexos <strong>no</strong> pensamento<br />

brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto<br />

Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1961. 275 p.<br />

COSTA, João Cruz. Esbozo de una historia de las ideas en el <strong>Brasil</strong>. Tradução de<br />

Jorge López Pérez. Coleccion Tierra Firme. México: Fondo de Cultura<br />

Económica, 1957. 175 p. Edição em português: Esboço de uma história <strong>das</strong><br />

idéias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1966.<br />

Positivismo<br />

COSTA, João Cruz. O positivismo na República: <strong>no</strong>tas sobre a história do positivismo<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956.<br />

203 p.<br />

MENEZES, Djacir. Evolucionismo e positivismo na crítica de Farias Brito. Fortaleza:<br />

Imprensa Universitária do Ceará, 1962. 98 p.<br />

BASTOS, Tocari Assis. O positivismo e a realidade brasileira. Belo Horizonte: Revista<br />

<strong>Brasil</strong>eira de Estudos Políticos, Universidade Federal de Minas Gerais,<br />

1965. 171 p.<br />

Idéias “progressistas”<br />

BRANDÃO, Otávio. Os intelectuais progressistas: Tavares Bastos, Tobias Barreto,<br />

Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Lima Barreto. Coleção Rex. Rio de<br />

Janeiro: Organização Simões, 1956. 164 p.<br />

240<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

PINHO, Luís. Idéias e pensamentos de Tavares Bastos. Rio de Janeiro: Minerva,<br />

1946. 191 p. il.<br />

Idéias socialistas<br />

CHACON, Vamireh. História <strong>das</strong> idéias socialistas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 416 p.<br />

Idéias Políticas<br />

CALMON, Pedro. História <strong>das</strong> idéias políticas. Rio de Janeiro: Livraria Freitas<br />

Bastos, 1952. 480 p.<br />

Obras Biográficas<br />

BESOUCHET, Lídia. José Maria Paranhos, Vizconde do Rio Branco: ensayo histórico-biográfico.<br />

Tradução de Luis M. Bandizzone. Collection Estudios <strong>Brasil</strong>eños. Bue<strong>no</strong>s<br />

Aires: Viau, 1944. 269 p. il. Edição em português: Rio de Janeiro: Z. Valverde, 1945.<br />

BESOUCHET, Lídia. O pensamento vivo de Mauá. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1945. 195 p. il.<br />

DELGADO, Luís. Rui Barbosa: tentativas de compreensão e de síntese. Coleção<br />

Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 276 p.<br />

LINS, Álvaro. Rio-Branco (O Barão do Rio-Branco) 1845-1912. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 2v. il.<br />

SOUSA, Octávio Tarquínio de. José Bonifácio 1763-1838. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 320 p. il.<br />

CARNEIRO, Davi. Tiradentes. Curitiba: Gerpa, 1946. 141 p. il.<br />

MAGALHÃES, João Batista de. Osório: símbolos de um povo, síntese de uma<br />

época. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 527 p. il.<br />

QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Uma garganta e alguns níqueis: história de Silva<br />

Jardim, o herói da publicidade republicana. Rio de Janeiro: Ed. Aurora,<br />

1947. 178 p. il.<br />

VIANA FILHO, Luís. Rui e Nabuco: ensaios. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 230 p. il.<br />

241<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

GABAGLIA, Laurita Pessoa Raja. Epitácio Pessoa (1865 -1942). Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 2 v. il.<br />

SOUSA, Octávio Tarquínio de. A vida de dom Pedro I. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 3 v. il.<br />

FRANCO, Afonso Ari<strong>no</strong>s de Melo. Um estadista da República: Afrânio de Melo<br />

Franco e seu tempo. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1955. 3 v. il.<br />

TINOCO, Brígido Fernandes. As duas paixões de Caxias. <strong>Biblioteca</strong> do Exército.<br />

Rio de Janeiro: Laemmert, 1956. 253 p. il.<br />

SILVA, Paulo Lopes da. Caxias e o <strong>Brasil</strong>: estudo quase biográfico. São Paulo:<br />

s/e, 1958. 81 p.<br />

GREGORY, Francisca Rodrigues. Joaquim José da Silva Xavier “o tiradentes”. Rio<br />

de Janeiro: Minerva, 1959. 112 p. il.<br />

VIANA FILHO, Luís. A vida do Barão do Rio Branco. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 458 p. il.<br />

PEIXOTO, Alzira Vargas do Amaral. Getúlio Vargas, meu pai. Porto Alegre:<br />

Ed. Globo, 1960. 429 p.<br />

MASCARENHAS, Nelson Laje. Um jornalista do Império: Firmi<strong>no</strong> Rodrigues<br />

Silva. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 469 p. il.<br />

SOARES, Álvaro Teixeira. O Marquês de Pombal: a lição do passado e a lição do<br />

presente. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1961. 270 p.<br />

TINOCO, Brígido Fernandes. A vida de Nilo Peçanha. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. 291 p. il.<br />

AZEVEDO, Aroldo de. Cochranes do <strong>Brasil</strong>: a vida e a obra de Thomas Cochrane<br />

e Ignácio Cochrane. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1965. 343 p. il.<br />

VITA, Luís Washington. Alberto Sales, ideólogo da República. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 201 p.<br />

OLIVEIRA, José Felicia<strong>no</strong> de. Tiradentes, o herói da independência brasileira. São<br />

Paulo: Livraria Martins, 1966.<br />

242<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ECo<strong>no</strong>Mia PolítiCa<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

Capital e trabalho<br />

MENEZES, Djacir. Das leis econômicas: sua estrutura lógica analisada particularmente<br />

nas relações da oferta e da procura, sua “naturalidade” e “historicidade”,<br />

outros aspectos. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1945.<br />

SCIOTTI, José. A capitalização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Edigraf, 1948. 155 p.<br />

BARROS, Alamiro Bica Buys de. O trabalho, o capital e seus conflitos: breve estudo.<br />

Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1951. 218 p.<br />

FONSECA, Geraldo. Evolução da conjuntura econômica: inversões, renda, eco<strong>no</strong>mia.<br />

São Paulo: Saraiva, 1954. 207 p. il.<br />

FENELON, João Pessoa Ribeiro. O aumento do capital <strong>no</strong>minal da empresa. Belo<br />

Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade de Minas<br />

Gerais, 1959. 122 p.<br />

CHACON, Vamireh. O fato econômico <strong>no</strong> marxismo: alienação e libertação. Recife:<br />

Faculdade de Direito da Universidade do Recife, Imprensa Nery da<br />

Fonseca, 1960. 95 p.<br />

ANTUNES, José Pinto. A produção sob o regime da empresa: as razões da iniciativa<br />

privada, eco<strong>no</strong>mia e direito. São Paulo: Saraiva, 1964. 260 p.<br />

Repartição da renda<br />

LOBO, Lúcio Gusmão. Histórico <strong>das</strong> participações <strong>no</strong>s lucros. Coleção Lindolfo<br />

Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço<br />

de Documentação, 1958. 79 p.<br />

PEDRÃO, Fernando Cardoso. A distribuição da renda e o desenvolvimento econômico.<br />

Salvador: Livraria Progresso, 1958. 101 p.<br />

LUCAS, Fábio. A remuneração do trabalhador. Belo Horizonte: Faculdade de<br />

<strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.<br />

243<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

LUCAS, Fábio. Introdução ao estudo da repartição da renda. Belo Horizonte: Faculdade<br />

de <strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 102 p.<br />

VILELA, Aníbal. Renda nacional e contabilidade social. Salvador: Universidade da<br />

Bahia, 1959. 88 p. il.<br />

LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade <strong>das</strong> ren<strong>das</strong>. Belo Horizonte: Faculdade de<br />

<strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1963. 129 p.<br />

Desenvolvimento econômico<br />

PEDRÃO, Fernando Cardoso. Breve curso de desenvolvimento econômico. Salvador:<br />

Imprensa Vitória, 1959. 137 p.<br />

CHACON, Vamireh. Utilitarismo e desenvolvimento econômico: influência do utilitarismo<br />

<strong>no</strong> classicismo econômico, neoliberalismo e marxismo. Recife: Faculdade de Direito<br />

da Universidade do Recife, Imprensa Nery da Fonseca, 1961. 250 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. <strong>Biblioteca</strong> Fundo<br />

Nacional de Cultura. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 268 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Fundo de Cultura, 1964. 173 p.<br />

Cooperativismo<br />

CÂMARA, Nilo Vieira. Cooperativismo e política econômica. Rio de Janeiro: Centro<br />

Nacional de Estudos Cooperativos, 1953.<br />

SILVA, Pedro Ferreira da. Cooperativa sem lucros: uma experiência anarquista<br />

dentro da sociedade capitalista. Série Doutrina e Filosofia. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Germinal, 1958. 147 p.<br />

CAMARGO, Lenita Correa. O cooperativismo e a formação dos preços. São Paulo:<br />

Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas e Administrativas da Universidade de<br />

São Paulo, 1959. 200 p. il.<br />

CHACON, Vamireh. Cooperativismo e comunitarismo: estudo de organização socioeconômica.<br />

Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. 111 p.<br />

Relações econômicas internacionais<br />

HABELER, Gottfried. Problemas de conjuntura e de política econômica. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, 1948. 222 p.<br />

244<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CARNEIRO, Otávio Augusto Dias. Movimentos internacionais do capital e desenvolvimento<br />

econômico. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de<br />

Pernambuco, 1961. 148 p.<br />

MONTEIRO, Sílvio. Como atua o imperialismo ianque? Cader<strong>no</strong>s do Povo <strong>Brasil</strong>eiro.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 199 p.<br />

BAHIANA, Henrique Paulo. Política alemã de auxílio ao desenvolvimento. Rio de<br />

Janeiro: Gráfica Olímpica, 1966. 163 p.<br />

Eco<strong>no</strong>mia agrária<br />

RAMOS, Júlio Barroso. Eco<strong>no</strong>mia rural. Rio de Janeiro: Serviço de Informação<br />

Agrícola, 1948. 144 p. il.<br />

LUIZ FILHO, Fábio. Crédito agrícola e problema agrário. São Paulo: Revista dos<br />

Tribunais, 1958. 305 p. il.<br />

Manuais e introduções<br />

MEDEIROS, Tarquínio de. Elementos de eco<strong>no</strong>mia política: <strong>no</strong>ções gerais. Niterói:<br />

Oficina Gráfica do Diário Oficial, 1946. 162 p.<br />

MENEZES, Djacir. Curso de eco<strong>no</strong>mia política. Rio de Janeiro: Livraria Freitas<br />

Bastos, 1947. 367 p. il.<br />

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Princípios de eco<strong>no</strong>mia política. São Paulo: Saraiva,<br />

1949. 238 p.<br />

GOMES, Luís Sousa. O que devemos conhecer da eco<strong>no</strong>mia política e <strong>das</strong> finanças. Rio<br />

de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950.<br />

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. <strong>Ciências</strong> econômicas e sociais. São Paulo: Saraiva,<br />

1953. 349 p.<br />

MENEZES, Djacir. ABC da eco<strong>no</strong>mia. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1953. 199 p.<br />

PEREIRA, Armando Temperani. Introdução à eco<strong>no</strong>mia política. 2ª ed. Porto<br />

Alegre: Livraria Sulina, 1954. 312 p. il. Primeira edição: Porto Alegre: Ed.<br />

Globo, 1946.<br />

ALVIM, Décio Ferraz. História <strong>das</strong> doutrinas econômicas. São Paulo: Saraiva,<br />

1955. 111 p.<br />

ANDRADE, Sudá de. Lições de eco<strong>no</strong>mia política. Rio de Janeiro: Haddad, 1955. 121 p.<br />

245<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

BARROS, Alamiro Bica Buys de. Instituições de eco<strong>no</strong>mia política. Rio de Janeiro:<br />

José Konfi<strong>no</strong>, 1955. 2 v.<br />

CORRÊA, Oscar Dias. Introdução crítica à eco<strong>no</strong>mia política. Belo Horizonte: Estabelecimentos<br />

Gráficos Santa Maria, 1957. 273 p.<br />

GOMES, Alfredo. Introdução à eco<strong>no</strong>mia: subsídios históricos e doutrinários. Rio de<br />

Janeiro: Agir, 1958. 217 p.<br />

BULHÕES, Octávio Gouvêa de. Eco<strong>no</strong>mia e política econômica. Rio de Janeiro:<br />

Agir, 1960. 183 p. il.<br />

VIEIRA, Dorival Teixeira. Eco<strong>no</strong>mia e sociedade: pa<strong>no</strong>rama da ciência econômica<br />

contemporânea. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 421 p.<br />

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Eco<strong>no</strong>mia política e eco<strong>no</strong>mia brasileira. São Paulo:<br />

Saraiva, 1962. 339 p.<br />

ALVIM, Décio Ferraz. Eco<strong>no</strong>mia política. São Paulo: Saraiva, 1962. 114 p.<br />

MELO, Olbia<strong>no</strong> de. Eco<strong>no</strong>mia política: fundamentos básicos, doutrinas econômicas.<br />

São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963. 181 p.<br />

MENEZES, Djacir. Iniciação à eco<strong>no</strong>mia. 2ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Cia<br />

Ed. Nacional, 1965. 212 p. Primeira edição: São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953.<br />

Avaliação da produção do conhecimento da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento<br />

econômico: uma reformulação teórica. Rio de Janeiro: Record, 1966. 240 p. il.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Desenvolvimento e Política Econômica<br />

Política e expansão econômica<br />

RIO, José Pires do. Realidades econômicas do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: José Olympio,<br />

1945. 395 p.<br />

LEVY, Herbert. O <strong>Brasil</strong> e os <strong>no</strong>vos tempos: considerações sobre o problema de<br />

reestruturação política, econômica e social do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Livraria<br />

Martins, 1946. 88 p.<br />

246<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

LEVY, Herbert. A batalha de produção e outros problemas nacionais. São Paulo:<br />

Livraria Martins, 1948. 145 p.<br />

TEJO, Aurélio de Limeira. Retrato sincero do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1950. 285 p.<br />

MACIEL, Paulo Frederico. Um informe sobre alguns problemas do Nordeste. Recife:<br />

Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1956. 70 p.<br />

TEIXEIRA, Aníbal. Ideologia e eco<strong>no</strong>mia: uma introdução ao nacionalismo econômico.<br />

Belo Horizonte: Itatiaia, 1956. 90 p.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Três falácias do momento brasileiro. Coleção Fórum<br />

Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação <strong>das</strong> Indústrias do<br />

estado de São Paulo, Serviço de Publicações, 1957. 59 p.<br />

RANGEL, Inácio. Introdução ao estudo do desenvolvimento econômico brasileiro. Salvador:<br />

Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1957. 125 p.<br />

ALENCASTRE, Amílcar. Interpretação realista de problemas econômicos. Coleção<br />

Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio,<br />

Serviço de Documentação, 1958. 90 p.<br />

COSTA, Vasco Ribeiro da. Considerações e idéias sobre o problema econômico nacional.<br />

Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público,<br />

Serviço de Documentação, 1958. 191 p. il.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Perspectivas da eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1958. 80 p.<br />

RIBEIRO, Carlos José de Assis. Introdução ao estudo <strong>das</strong> estruturas econômicas nacionais.<br />

Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1958. 182 p.<br />

SOUSA, Roberto Pinto de. Eco<strong>no</strong>mia brasileira: problemas de estrutura, conjuntura<br />

e desenvolvimento. São Paulo: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas<br />

e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1958. 297 p.<br />

FISCHLOWITZ, Estanislau. O mercado de trabalho e o comércio. Rio de Janeiro:<br />

Serviço Social do Comércio, 1959. 101 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. A operação <strong>no</strong>rdeste. Rio de Janeiro: Ministério da<br />

Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1959. 78 p.<br />

GUIMARÃES, Barreto. O sentido nacional dos problemas do Nordeste brasileiro. Rio<br />

de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público, Instituto<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de <strong>Ciências</strong> Administrativas, 1959. 154 p.<br />

247<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

RIOS, José de Almeida. Análise e crítica da renda nacional frente a um desenvolvimento harmônico<br />

agropecuário e industrial. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1959. 99 p. il.<br />

BASBAUM, Leôncio. Caminhos brasileiros do desenvolvimento: análise e perspectivas<br />

da situação brasileira. São Paulo: Fulgor, 1960. 296 p.<br />

BASTOS, Humberto. Experiência ou imprevidência. Rio de Janeiro: Centro de<br />

Cultura Econômica, 1960. 224 p. il.<br />

PAULA, Luís Nogueira de. Problemas fundamentais da eco<strong>no</strong>mia brasileira: soluções<br />

da técnica econômica e objetivos da política nacionalista. Rio de Janeiro:<br />

Irmãos Pongetti, 1960. 106 p.<br />

RANGEL, Inácio. Recursos ociosos na eco<strong>no</strong>mia rural. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1960. 62 p.<br />

SÁ, Antonio Lopes de. Aspectos do desenvolvimento econômico do <strong>Brasil</strong>. Belo Horizonte:<br />

Gráfica Santa Maria, 1960. 99 p.<br />

CAMARGO, José Francisco de. Níveis de desenvolvimento de uma eco<strong>no</strong>mia e sua abordagem<br />

política: considerações sobre alguns elementos relevantes para a formulação de<br />

uma política de desenvolvimento econômico. São Paulo: Faculdade de <strong>Ciências</strong><br />

Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1962. 350 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. A pré-revolução brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Fundo<br />

de Cultura, 1962. 116 p.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Ensaios de história econômica e sociologia. Rio de<br />

Janeiro: APEC Ed., 1963. 198 p.<br />

MENEZES, Adolfo Justo Bezerra de. Subdesenvolvimento e política internacional.<br />

Rio de Janeiro: GRD, 1963. 223 p.<br />

NERI, Adalgisa. Retrato sem retoque. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 167 p.<br />

BARROS, Manuel de Sousa. Matolão de pau-de-arara. Prefácio de Manuel Bandeira.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Quipapa, 1964. 193 p. il.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. A moeda, o gover<strong>no</strong> e o tempo. Prefácio de Gilberto<br />

Amado. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1964. 232 p.<br />

MELO, Francisco <strong>das</strong> Chagas. Desenvolvimento econômico e realidade nacional. Rio<br />

de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, 1964. 83 p.<br />

248<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina.<br />

Coleção Nossa América. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1966. 127 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Um projeto para o <strong>Brasil</strong>. 2 a ed. Rio de Janeiro:<br />

Saga, 1968. 132 p. Primeira edição: Rio de Janeiro, 1966.<br />

Planejamento econômico<br />

SIMONSEN, Roberto Cochrane. O planejamento da eco<strong>no</strong>mia brasileira. São Paulo:<br />

1945. 99 p.<br />

OLIVEIRA, Américo Leonides Barbosa. O desenvolvimento planificado na eco<strong>no</strong>mia<br />

brasileira. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos, 1946. 123 p. il.<br />

AVILINE, Nelson. Planejamento industrial do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ed. Aurora,<br />

1947. 202 p.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Planejamento do desenvolvimento econômico de países<br />

subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Escola <strong>Brasil</strong>eira de Administração Pública,<br />

<strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, 1952. 79 p.<br />

AGUIAR, Manuel Pinto de; FRIEDMANN, John. Conceito de região de planejamento.<br />

Salvador: Imprensa Vitória, 1958. 77 p.<br />

AGUIAR, Manuel Pinto de. <strong>Brasil</strong>, integração e desenvolvimento econômico. Prefácio<br />

de Aliomar Baleeiro. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 119 p. il.<br />

CAVALCANTI, José Maria dos Santos Araújo. Desenvolvimento econômico e social<br />

dos municípios. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço<br />

Público, Serviço de Documentação, 1959. 701 p.<br />

MURTA, Domício de Figueiredo. Política de colonização e pla<strong>no</strong> de colonização.<br />

Belo Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade de<br />

Minas Gerais, 1959. 99 p. il.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Eco<strong>no</strong>mia, planejamento e nacionalismo. Rio de<br />

Janeiro: APEC Ed., 1963. 324 p.<br />

HOFFMANN, Helga. Como planejar <strong>no</strong>sso desenvolvimento? Cader<strong>no</strong>s do Povo<br />

<strong>Brasil</strong>eiro. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 123 p.<br />

DELFIM NETTO, Antonio. Planejamento para o desenvolvimento econômico. São<br />

Paulo: Livraria Pioneira, 1966. 127 p. il.<br />

249<br />

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Conjunturas econômicas<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

BASTOS, Humberto. Produção ou pauperismo: crítica e sugestões sobre a atual<br />

crise brasileira. Prefácio de Dante Costa. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1946. 215 p.<br />

LOURENÇO, João de. Educação sobre a política econômico-financeira em situação<br />

de conjuntura. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério da<br />

Educação e Saúde, 1946. 86 p.<br />

BOUÇAS, Valentim Fernandes. Estudos econômicos e financeiros: meio século de<br />

trabalho. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1953-1955.<br />

PEIXOTO, João Batista; PEIXOTO, Walter. Produção, transporte e energia <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1957. 464 p. il.<br />

RANGEL, Inácio. Apontamentos para o 2º programa de metas. Recife: Comissão<br />

de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1961. 66 p.<br />

MATOS, Paulo da Cruz. Reformas de base. Belo Horizonte: Livraria Minas Gerais,<br />

1963. 265 p.<br />

SINGER, Paulo Israel; ALVES, Mário. Análise do Pla<strong>no</strong> Trienal. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Universitária UNE, 1963. 90 p.<br />

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Política econômica e mitos políticos. Rio de Janeiro:<br />

APEC Ed., 1965. 56 p.<br />

GUDIN, Eugênio. Análise de problemas brasileiros: coletânea de artigos 1958-<br />

1964. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 512 p.<br />

GASPARIAN, Fernando. Em defesa da eco<strong>no</strong>mia nacional. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Saga, 1966. 266 p.<br />

Estado e ordem econômica<br />

ANDRADE, Dercy Bessone de Oliveira. O papel do estado <strong>no</strong> domínio da eco<strong>no</strong>mia<br />

capitalista. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1944. 173 p.<br />

VIEIRA, Oldegar Franco. O estado e a ordem econômica. Salvador: Universidade<br />

da Bahia, 1958. 92 p.<br />

LUCAS, Fábio. Conteúdo social nas constituições brasileiras. Belo Horizonte: Faculdade<br />

de <strong>Ciências</strong> Econômicas, Imprensa da Universidade de Minas Gerais,<br />

1959. 82 p.<br />

250<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

SOUZA, Ruy de. Abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong><br />

Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 93 p.<br />

SOUZA, Washington Peluso Albi<strong>no</strong> de. Do econômico nas constituições vigentes.<br />

Belo Horizonte: Revista <strong>Brasil</strong>eira de Estudos Políticos, 1961. 2v.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estado democrático. Recife: Comissão<br />

de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1962. 52 p.<br />

Condições históricas da eco<strong>no</strong>mia<br />

BASTOS, Humberto. A eco<strong>no</strong>mia brasileira e o mundo moder<strong>no</strong>: ensaio geopolítico<br />

sobre a estruturação do capitalismo brasileiro. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1948. 290 p.<br />

ROLLEMBERG, Luis Dias. Emancipação econômica do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Livraria<br />

Martins, 1948. 151 p.<br />

BASTOS, Humberto. Posição econômica do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1951. 142 p. il.<br />

LEVY, Herbert. Curso de eco<strong>no</strong>mia brasileira. São Paulo: Livraria Freitas Bastos,<br />

1951. 304 p.<br />

LYRA FILHO, João. Angústia social: problemas brasileiros de reconstrução<br />

econômica e financeira. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1951. 256 p.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. A eco<strong>no</strong>mia brasileira: contribuição à analise do<br />

seu desenvolvimento. Rio de Janeiro: A Noite, 1954. 246 p.<br />

RANGEL, Inácio. Dualidade básica da eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1957. 109 p.<br />

SALADINI, Mário. Presença econômica do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy,<br />

1958. 215 p. il.<br />

FURTADO, Celso Monteiro. Formação econômica do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Fundo de Cultura, 1959. 291 p.<br />

FREIRE, J. Salgado. Para onde vai o <strong>Brasil</strong>? Grandezas e misérias do <strong>no</strong>sso desenvolvimento.<br />

Rio de Janeiro: Conquista, 1959. 319 p.<br />

MAGALHÃES, Sérgio. Problemas de desenvolvimento econômico. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1960. 284 p.<br />

251<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

MELO, Mario Lacerda de (et alli) As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1961. 4 v. il.<br />

MARTINS, Ivan Pedro. Introdução à eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1961. 257 p.<br />

BASTOS, Humberto. Desenvolvimento ou escravidão: aspectos de influências externas<br />

na formação econômica do <strong>Brasil</strong>. 2 a ed. São Paulo: s/e, 1964. Primeira<br />

edição: 1962<br />

Finanças<br />

BRITO, José do Nascimento. Eco<strong>no</strong>mia e finanças do <strong>Brasil</strong> 1822-1940. Rio de<br />

Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1945. 195 p.<br />

CARVALHO, Daniel Serapião. Estudo de eco<strong>no</strong>mia e finanças. Prefácio de Eugênio<br />

Gudin. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 358 p.<br />

LYRA FILHO, João. O estado monetário: introdução à história <strong>das</strong> caixas econômicas<br />

brasileiras. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1948. 282 p.<br />

LAFER, Horácio. O crédito e o sistema bancário <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Imprensa<br />

Nacional, 1948. 228 p.<br />

MACHADO NETO, Brasílio. Inflação e outros estudos. Rio de Janeiro: José<br />

Olympio, 1956. 410 p.<br />

CARNEIRO, Otavio Augusto Dias. Estudos de educação econômico-social do <strong>Brasil</strong>.<br />

São Paulo: Instituto de Sociologia, 1957. 187 p.<br />

SAMPAIO, Alde Feijó. Temas econômicos da atualidade brasileira: processo de<br />

combate à inflação, conjuntura atual do <strong>Brasil</strong>, produto nacional bruto,<br />

quadros estatísticos. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1966.<br />

GUIMARÃES, Alberto Passos. Inflação e mo<strong>no</strong>pólio <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: por que sobem os<br />

preços? Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1963. 181 p.<br />

MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Inflação e desenvolvimento. Rio de Janeiro:<br />

Ed. GRD, 1964. 106 p. il.<br />

Comércio exterior<br />

VILLAS BOAS, Abelardo. Efeitos <strong>das</strong> desvalorizações cambiais. Rio de Janeiro:<br />

Livraria Freitas Bastos, 1950. 305 p. il.<br />

252<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ALENCASTRE, Amílcar. Comércio exterior de pré e pós-guerra. Coleção Lindolfo<br />

Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço<br />

de Documentação, 1957. 64 p.<br />

ANDRADE, Olímpio de Souza. Pequena introdução ao estudo do comércio exterior<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público,<br />

Imprensa Nacional, 1957. 87 p.<br />

ALENCASTRE, Amílcar. Novas áreas de comércio. Coleção Lindolfo Collor. Rio<br />

de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação,<br />

1959. 105 p.<br />

DELFIM NETTO, Antonio. O problema do café <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Faculdade<br />

de <strong>Ciências</strong> Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo,<br />

Departamento de Publicação, 1959. 349 p. il.<br />

PEREIRA, Alceu Martins. Uma geração entre duas crises do café. Santos: Revista<br />

dos Tribunais, 1959. 179 p.<br />

MELO, Francisco Chagas. O comércio exterior e a inflação brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação,<br />

1960. 88 p.<br />

MARTINS, Araguaia Feitosa. Mutirão Cafeeiro. 2 a ed. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1962. 150 p. Primeira edição: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro do Café, 1961.<br />

SILVEIRA, Cid. Café, um drama na eco<strong>no</strong>mia nacional: análise do mercado exportador.<br />

Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1962. 98 p.<br />

Indústria<br />

LODI, Euvaldo. A indústria e a eco<strong>no</strong>mia nacional. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,<br />

1949. 121 p.<br />

STREET, Ernesto Jorge. A indústria têxtil <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Departamento<br />

Econômico da Confederação Nacional da Indústria, 1950. 135 p. il.<br />

CUNHA, Mario Wagner Vieira da. A burocratização <strong>das</strong> empresas industriais. São<br />

Paulo: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas e Administrativas da Universidade<br />

de São Paulo, 1951. 161 p.<br />

SCHLESINGER, Hugo. O <strong>Brasil</strong> não pode parar: pa<strong>no</strong>rama e desenvolvimento<br />

da indústria nacional. Rio de Janeiro: Ed. Andes, 1954. 170 p.<br />

253<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 253 5/3/2009 10:15:19


Glaucia Villas Bôas<br />

GUIMARÃES NETO, Luiz. Indústrias rurais caseiras. Rio de Janeiro: Universidade<br />

Rural do Rio de Janeiro, 1956. 146 p.<br />

PAIM, Gilberto. Industrialização e eco<strong>no</strong>mia natural. Rio de Janeiro: Ministério da<br />

Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros,1957. 119 p.<br />

PIERRO, Mário Francisco di. A indústria, o estado e a eco<strong>no</strong>mia nacional. São Paulo:<br />

Centro e Federação <strong>das</strong> Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de<br />

Publicação, 1962. 62 p.<br />

BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Tradução<br />

de Paulo de Almeida Rodrigues. Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong> Getulio Vargas,<br />

Serviço de Publicações, 1966. 315 p.<br />

Agricultura<br />

CLEOPHAS, João. A mecanização agrícola <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ministério<br />

da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1954. 70 p.<br />

AZEVEDO, Newton Pires de. Características agrárias da Amazônia. Rio de Janeiro:<br />

Superintendência do Pla<strong>no</strong> de Valorização da Amazônia, 1958.<br />

CAVALCANTI, Joaquim Nunes Coutinho. Um projeto de reforma agrária. Rio de<br />

Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1959. 208 p.<br />

COUTINHO, Antônio Rodrigues. Contribuição ao estudo da estrutura da eco<strong>no</strong>mia<br />

agrária brasileira segundo o censo de 1960. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura,<br />

Serviço de Eco<strong>no</strong>mia Rural, 1960. 63 p.<br />

TOURINHO, Eduardo. Agricultura na formação econômica do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1961. 56 p.<br />

RANGEL, Inácio. A questão agrária brasileira. Recife: Comissão de Desenvolvimento<br />

Econômico de Pernambuco, 1962. 106 p.<br />

Investimentos estrangeiros<br />

MOURA, Aristóteles. Capitais estrangeiros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1959. 382 p.<br />

FERREIRA, Luiz Pinto. Capitais estrangeiros e dívida externa do <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1965. 230 p.<br />

SANTOS, Ma<strong>no</strong>el da Costa. Os investimentos estrangeiros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Fórum<br />

Roberto Simonsen. São Paulo: Saraiva, 1958. 68 p.<br />

254<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

MONTEIRO, João dos Santos. O despertar do gigante. Porto Alegre: 1963. 157 p.<br />

GOMES, Luis Souza. Livre empresa, capital estrangeiro, desenvolvimento. São Paulo:<br />

Livraria Martins, 1964. 96 p.<br />

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Máquinas para transformar cruzeiros<br />

em dólares. São Paulo: Fulgor, 1963. 63 p.<br />

Repartição da renda<br />

LEITE, Ma<strong>no</strong>el Marques. Distribuição da renda nacional: a satisfação dos aspectos<br />

sociais e as limitações econômicas. Porto Alegre: Universidade do Rio Grande<br />

do Sul, Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas, Tipografia do Centro, 1955.<br />

antroPologia<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Cultura e folclore: bases científicas do folclore.<br />

Prefácio de Roger Bastide. Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore,<br />

1954. 302 p.<br />

RUBINGER, Marcos Magalhães. Antropologia e ciência política: a utilidade da antropologia<br />

na solução dos problemas políticos. Belo Horizonte: Imprensa<br />

Oficial, 1958. 51 p.<br />

AZEVEDO, Thales de. Ensaios de antropologia social. Salvador: Universidade da<br />

Bahia, 1959. 182 p.<br />

AZEVEDO, Thales de. Antecedentes do homem. Salvador: Universidade da<br />

Bahia, 1961. 76 p.<br />

WILLEMS, Emílio. Antropologia social. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo:<br />

Difusão Européia do Livro, 1962. 158 p.<br />

ALMEIDA, Renato. Manual de coleta folclórica. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica,<br />

1965. 216 p. il.<br />

255<br />

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Manuais e introduções<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

MACHADO FILHO, Aires da Mata. Curso de folclore. Rio de Janeiro: Livros de<br />

Portugal, 1951. 167 p.<br />

RAMOS, Arthur. Estudos de folk-lore: definição e limites, teorias de interpretação.<br />

Prefácio de Roger Bastide. Coleção Gaivota. Rio de Janeiro: Ed. da<br />

Casa do Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1952. 191 p.<br />

ÁVILA, José Bastos. Antropologia física: introdução. Prefácio de A. Fróes da<br />

Fonseca. Rio de Janeiro: Agir, 1958. 324 p.<br />

CARVALHO, Geraldo A. de. Notas de aula relativas aos dez primeiros pontos do<br />

programa da cadeira de et<strong>no</strong>grafia (1ª série). Rio de Janeiro: Museu Histórico<br />

Nacional, 1959. 120 p. il.<br />

Avaliação da produção do conhecimento da disciplina<br />

RONDON, Cândido Maria<strong>no</strong> da Silva. A et<strong>no</strong>grafia e a et<strong>no</strong>logia do <strong>Brasil</strong> em revista.<br />

Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. 60 p.<br />

PINTO, Estevão. A antropologia brasileira. Recife: Ed. Nordeste, 1952. 45 p.<br />

BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da et<strong>no</strong>logia brasileira. São Paulo: Comissão<br />

do IV Centenário da Cidade de São Paulo, Serviço de Comemorações<br />

Culturais, 1954. 859 p.<br />

RIBEIRO, Darcy. O indigenista Rondon. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e<br />

Cultura, Serviço de Documentação, 1969. 75 p.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Tradições populares<br />

Estudos de caráter geral<br />

LIRA, Mariza. Migalhas folclóricas. Rio de Janeiro: Laemmert, 1951. 200 p.<br />

BETTENCOURT, Gastão de. O folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Prefácio de João de Castro<br />

Osório. Salvador: Universidade da Bahia, 1952. 342 p.<br />

256<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Nacional do Livro, 1954. 660 p.<br />

LIRA, Mariza. Estudos do folclore luso-brasileiro. Rio de Janeiro: Laemmert, 1954.<br />

230 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro, séculos XVI,<br />

XVII, XVIII, XIX, XX: os cronistas coloniais, os viajantes estrangeiros,<br />

os estudiosos do <strong>Brasil</strong>, bibliografia e <strong>no</strong>tas. São Paulo: Livraria<br />

Martins, 1956. 628 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Souza. A sabedoria popular. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Nacional do Livro, 1957. 230 p.<br />

ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional: com fotografias do autor, desenhos<br />

de Oswaldo Storni, Osny Azevedo, do autor e de outras fontes. São<br />

Paulo: Melhoramentos, 1964. 3 v. il. mus.<br />

CARNEIRO, Edison de Souza. Dinâmica do folclore. Coleção Perspectivas do<br />

Homem. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 187 p. il.<br />

Mitos, contos e provérbios<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do <strong>Brasil</strong>: confrontos e <strong>no</strong>tas.<br />

Coleção Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro: Américo Ed., 1946. 405 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 467 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Anubis e outros ensaios: mitologia e folclore. Rio<br />

de Janeiro: O Cruzeiro, 1951. 281 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 465 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Cinco livros do povo: introdução ao estudo da <strong>no</strong>velística<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Pesquisas e <strong>no</strong>tas, textos <strong>das</strong> cinco tradicionais <strong>no</strong>velas<br />

populares: Donzela Teodora, Roberto do Diabo, Princesa Magalona, Imperatriz<br />

Porcina, João de Calais. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de<br />

Janeiro: José Olympio, 1953. 443 p.<br />

ALMEIDA, Renato. Inteligência do folclore. Rio de Janeiro: Livros de Portugal,<br />

1957. 310 p. il.<br />

257<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições e costumes: pesquisas e <strong>no</strong>tas de et<strong>no</strong>grafia<br />

brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Antunes, 1958. 260 p. il.<br />

SILVA, Raimundo Nonato da. Estórias de lobisomem: regionalismo e folclore.<br />

Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1959. 155 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Coisas que o povo diz. Rio de Janeiro: Bloch Ed.,<br />

1963. 206 p.<br />

Usos e costumes<br />

CALASANS, José. Cachaça, moça branca: um estudo de folclore. Salvador: S/A<br />

Artes Gráficas, Museu da Bahia, 1951. 112 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Jangada: uma pesquisa et<strong>no</strong>gráfica. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1957.<br />

161 p. il.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Jangadeiros: documentário da vida rural. Rio de<br />

Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1957. 60 p. il.<br />

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. A medicina teológica e as benzedeiras: suas raízes<br />

na história e sua persistência <strong>no</strong> folclore. São Paulo: Departamento de<br />

Cultura, 1958. 204 p.<br />

SANTOS, Luiz Cristóvão dos. <strong>Brasil</strong> de chapéu-de-couro (folclore). Coleção Vera<br />

Cruz. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1958. 176 p. il.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Rede de dormir: uma pesquisa et<strong>no</strong>gráfica. Rio<br />

de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,<br />

1959. 242 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Made in Africa: pesquisas e <strong>no</strong>tas. Rio de Janeiro:<br />

Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 193 p.<br />

MONTEIRO, Mário Ipiranga. Antropologia do guaraná. Manaus: Instituto Nacional<br />

de Pesquisas da Amazônia, 1965. 84 p.<br />

Folguedos<br />

BETTENCOURT, Gastão de. Os três santos de junho <strong>no</strong> folclore brasílico. Rio de<br />

Janeiro: Agir, 1947. 163 p. il.<br />

ARAÚJO, Alceu Maynard; FRANCESCHINI, Manuel Antônio. Danças e ritos<br />

populares de Taubaté. São Paulo: s/e, 1947. 52 p. il.<br />

258<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CALASANS, José. O ciclo folclórico do Bom Jesus Conselheiro: contribuição ao estudo<br />

da Campanha de Canudos. Salvador: Tipografia Beneditina, 1950. 97 p.<br />

LAYTANO, Dante de. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Rio de Janeiro:<br />

Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Educação, Ciência e Cultura, Comissão Nacional<br />

de Folclore, Comissão Estadual de Folclore do Rio Grande do Sul, 1955.<br />

128 p. il.<br />

ARAÚJO, Alceu Maynard. Festas. São Paulo: Escola de Sociologia e Política de<br />

São Paulo, 1957. 187 p. il.<br />

BRANDÃO, Théo. Autos e folguedos populares de Alagoas: o fandango. Maceió:<br />

Comissão Alagoana de Folclore, 1957. 91 p. il.<br />

ALMEIDA, Renato. Tablado folclórico. São Paulo: Record, 1961. 176 p. il.<br />

BRANDÃO, Théo. Folguedos natali<strong>no</strong>s de Alagoas: estudo introdutório e descrição.<br />

Maceió: Divulgação do Departamento Estadual de Cultura, 1961. 209 p. il.<br />

Tradições populares de regiões, estados e cidades<br />

RIBEIRO, Joaquim. Folklore dos bandeirantes. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 212 p.<br />

BRANDÃO, Théo. Folclore de Alagoas. Coleção Autores Alagoa<strong>no</strong>s. Maceió:<br />

Casa Ramalho, 1949. 191 p. il.<br />

BRASILEIRO, Francisco. Mo<strong>no</strong>grafia folclórica sobre o Rio <strong>das</strong> Garças. São Paulo:<br />

Departamento de Cultura, 1951. 393 p.<br />

MELO, Manuel Rodrigues de. Cavalo de pau. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti,<br />

1953. 157 p.<br />

PIAZZA, Walter Fernando. Aspectos folclóricos catarinenses. Coleção Folclore.<br />

Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1953. 138 p. il.<br />

LIRA, Mariza. Calendário folclórico do Distrito Federal. Rio de Janeiro: Prefeitura<br />

do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1954. 431 p.<br />

SPALDING, Walter. Tradições e superstições do <strong>Brasil</strong>-Sul: ensaios de folclore. Rio<br />

de Janeiro: Organização Simões, 1955. 223 p.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. Tradições populares da pecuária <strong>no</strong>rdestina. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1956. 78 p. il.<br />

259<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

RIBEIRO, Joaquim. Folclore baia<strong>no</strong>. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e<br />

Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 59 p. il.<br />

BOITEUX, Lucas Alexandre. Poranduba catarinense. Florianópolis: Comissão<br />

Catarinense de Folclore, 1957. 196 p.<br />

LACERDA, Regina. Vila Boa: folclore. São Paulo: Revista dos Tribunais,<br />

1957. 159 p. il.<br />

CAMPOS, Eduardo. Folclore do Nordeste. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1960. 183 p.<br />

PIAZZA, Walter Fernando. Folclore de Brusque: estudo de uma comunidade.<br />

Brusque: Ed. da Sociedade Amigos de Brusque, 1960. 223 p. il.<br />

ARAÚJO, Alceu Maynard. Escorço do folclore de uma comunidade. São Paulo: Secretaria<br />

de Educação e Cultura, Divisão do Arquivo Histórico, 1962. 472 p. il.<br />

MONTEIRO, Mário Ipiranga. Roteiro do folclore amazônico. Manaus: Ed. Sérgio<br />

Cardoso, 1964. il.<br />

Grupos étnicos específicos<br />

Grupos indígenas <strong>no</strong> seu conjunto<br />

RAMOS, Arthur. A organização dual entre os índios brasileiros. Rio de Janeiro:<br />

Mendes Júnior, 1945. 67 p.<br />

RONDON, Cândido Maria<strong>no</strong> da Silva. Índios do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Conselho<br />

de Proteção dos Índios, 1946. 3 v.<br />

FERREIRA, Manuel Rodrigues. Cenas da vida indígena: álbum dos índios do Xingu.<br />

Apresentação de Herbert Baldus. São Paulo: Melhoramentos, 1952. 51 p. il.<br />

SAMPAIO, Teodoro; TESCHAUER, Carlos. Os naturalistas viajantes dos séculos<br />

XVIII e XIX e a et<strong>no</strong>grafia indígena. Coleção Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. Salvador:<br />

Livraria Progresso, 1955. 305 p. il.<br />

RIBEIRO, Darcy. Culturas e línguas indígenas do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Centro<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1957. 102 p.<br />

Grupos indígenas específicos<br />

BOGGIANI, Guido. Os caduveos: um estudo histórico e antropológico. Prefácio<br />

de Herbert Baldus e tradução de Amadeu Amaral Júnior. São Paulo:<br />

Livraria Martins, 1945. 310 p.<br />

260<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

MACHADO, Othon Xavier de Brito. Os carajás (inan-sou-uéra): contribuição<br />

ao estudo dos indígenas brasileiros. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de<br />

Proteção aos Índios, Imprensa Nacional, 1947. 128 p. il.<br />

FERNANDES, Florestan. Organização social dos tupinambá. São Paulo: Instituto<br />

Progresso Editorial, 1949. 325 p. il.<br />

PEREIRA, Manuel Nunes. Os índios maué. Rio de Janeiro: Organização Simões,<br />

1954. 171 p. il.<br />

PINTO, Estevão. Et<strong>no</strong>logia brasileira: fulniô - os últimos tapuia. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 305 p. il.<br />

FRANCIS, Huxley. Selvagens amáveis: um antropologista entre os índios urubus.<br />

Tradução de Japi Freire. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1963. 321 p. il.<br />

BALDUS, Herbert. Tapirapé, tribo tupi <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> central. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1970. 510 p. il. Primeira edição: São Paulo: Revista<br />

do Arquivo Municipal, vol. XCVI, 1944.<br />

FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. 2 a ed. São Paulo:<br />

Livraria Pioneira, 1970. 425 p. Primeira edição: São Paulo: Museu Paulista, 1952.<br />

MUSSOLINI, Gioconda. Ensaios de antropologia indígena e caiçara. Organização<br />

de Edgard Carone e prefácio de Antônio Cândido. Coleção Estudos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 289 p. Primeira edição: 1955.<br />

Cultura indígena: religião, mitos e len<strong>das</strong><br />

BALDUS, Herbert. Len<strong>das</strong> dos índios do <strong>Brasil</strong>: seleciona<strong>das</strong> e comenta<strong>das</strong>. São<br />

Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1946. 121 p.<br />

CARNEIRO, José Fernando Domingues. A antropofagia entre os indígenas do <strong>Brasil</strong>.<br />

Coleção <strong>Brasil</strong>eira de Divulgação. Rio de Janeiro: Ministério da Educação<br />

e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. 50 p.<br />

MUSSOLINI, Gioconda. Os meios de defesa contra a moléstia e a morte em duas tribos<br />

brasileiras: Kaingang de Duque de Caxias e Bororo oriental. São Paulo:<br />

Departamento de Cultura, 1946. 152 p.<br />

RONDON, Cândido Maria<strong>no</strong> da Silva. Esboço gramatical e vocabulário da língua<br />

bororo: algumas len<strong>das</strong> e <strong>no</strong>tas et<strong>no</strong>gráficas da mesma tribo. Rio de Janeiro:<br />

Imprensa Nacional, 1948. 209 p. il.<br />

261<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

RONDON, Cândido Maria<strong>no</strong> da Silva. Esboço gramatical e vocabulário: len<strong>das</strong> e cânticos<br />

dos índios Ariti (Pareci). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, Conselho<br />

Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura, 1948. 110 p.<br />

RONDON, Cândido Maria<strong>no</strong> da Silva. Glossário geral <strong>das</strong> tribos silvícolas de Mato<br />

Grosso e outras da Amazônia e do <strong>no</strong>rte do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Imprensa<br />

Nacional, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura,<br />

1948. 255 p. il.<br />

CARVALHO, José Cândido de Melo. Observações zoológicas e antropológicas na<br />

região dos formadores do Xingu. Por José C. M. Carvalho, Pedro E. de Lima,<br />

Eduardo Galvão. Introdução de Heloísa Alberto Torres. Rio de Janeiro:<br />

Imprensa Nacional, 1949. 48 p. il.<br />

MÉTRAUX, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as demais tribos<br />

tupi-guaranis. Prefácio, tradução e <strong>no</strong>tas de Estevão Pinto. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1950. 421 p. il.<br />

RIBEIRO, Darcy. Religião e mitologia kadiweu. Rio de Janeiro: Serviço de Proteção<br />

aos Índios, 1950. 222 p. il.<br />

SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: Faculdade<br />

de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade de São Paulo, 1954.<br />

216 p. il.<br />

PINTO, Odorico Pires. Arte primitiva brasileira. São Paulo: Revista do Arquivo<br />

Municipal, 1955. 246 p. il.<br />

SCHADEN, Egon. A mitologia heróica de tribos indígenas do <strong>Brasil</strong>: ensaio et<strong>no</strong>sociológico.<br />

Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de<br />

Documentação, 1959. 183 p.<br />

CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Matoso. Introdução às línguas indígenas brasileiras.<br />

3 a ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1977. 228 p. Primeira<br />

edição: 1958.<br />

Integração indígena<br />

SOUZA, Lincoln. Os xavantes e a civilização: ensaio histórico. Rio de Janeiro:<br />

Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, 1953. 58 p.<br />

OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O processo de assimilação dos terena. Rio de Janeiro:<br />

Museu Nacional, 1960. 160 p.<br />

262<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

WAGLEY, Charles; GALVÃO, Eduardo. Os índios tenetehara: uma cultura em<br />

transição. Coleção Vida <strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação<br />

e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 235 p.<br />

SCHADEN, Egon. Índios, caboclos e colo<strong>no</strong>s: páginas de et<strong>no</strong>grafia, sociologia e<br />

folclore. São Paulo: Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras da Universidade<br />

de São Paulo, 1963. 101 p.<br />

MALCHER, José Maria da Gama. Índios: grau de integração na comunidade<br />

nacional, grupo lingüístico, localização. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura,<br />

Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Imprensa Nacional ,<br />

1964. 264 p. il.<br />

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O índio e o mundo dos brancos: a situação dos<br />

turuna do Alto Solimões. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

Difusão Européia do Livro, 1964. 143 p. il.<br />

LIMA, Luís. Resistência do índio à dominação do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Leitura,<br />

1965. 151 p.<br />

GALVÃO, Eduardo Enéas. Encontro de sociedades: índios e brancos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Prefácio de Darcy Ribeiro. Coleção Estudos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro:<br />

Paz e Terra, 1979. 300 p. il. Primeira edição: Santos e visagens. São Paulo:<br />

Cia. Ed. Nacional, 1955.<br />

Negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

VIANA FILHO, Luís. O negro na Bahia. Prefácio de Gilberto Freyre. Coleção<br />

Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 167 p.<br />

RODRIGUES FILHO, Mário. O negro <strong>no</strong> futebol brasileiro. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1947. 295 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Souza. Antologia do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Globo, 1950. 432 p.<br />

SOUZA, Ivanildo de. Posição do negro <strong>no</strong> direito brasileiro: contribuição ao estudo<br />

sociológico do negro nas Américas. Recife: Ed. Nordeste, 1954. 62 p.<br />

AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de<br />

Charles Wagley. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1955. 203 p.<br />

263<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

RAMOS, Arthur. O negro na civilização brasileira. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do<br />

Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1956. 246 p.<br />

MELO, Antônio da Silva. Estudos sobre o negro. Rio de Janeiro: José Olympio,<br />

1958. 231 p.<br />

FREYRE, Gilberto. O escravo <strong>no</strong>s anúncios de jornais brasileiros do século XIX: tentativa<br />

de interpretação antropológica através de anúncios de jornais. Prefácio<br />

de A. da Silva Melo. Recife: Imprensa Universitária, 1963. 224 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Souza. Ladi<strong>no</strong>s e crioulos: estudos sobre o negro <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong>. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1964. 240 p.<br />

Imigrantes<br />

WILLEMS, Emílio. A aculturação dos alemães <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: estudo antropológico<br />

dos imigrantes alemães e seus descendentes <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção <strong>Brasil</strong>iana.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 609 p. il.<br />

ALBERSHEIN, Úrsula. Uma comunidade teuto-brasileira (Jarim). Rio de Janeiro:<br />

Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 228 p. il.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Imigração, urbanização e industrialização: estudo<br />

sobre alguns aspectos da contribuição cultural do imigrante <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio<br />

de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1964. 385 p.<br />

Formação étnico-cultural<br />

LEÃO, Antônio Carneiro. O sentido da evolução cultural do <strong>Brasil</strong>. Prefácio de M.<br />

B. Lourenço Filho. Rio de Janeiro: Ministério <strong>das</strong> Relações Exteriores,<br />

1946. 217 p. il.<br />

FREYRE, Gilberto. Interpretação do <strong>Brasil</strong>: aspectos da formação social brasileira<br />

como processo de amalgamento de raças e culturas. Introdução e<br />

tradução de Olívio Montenegro. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros, 56. Rio<br />

de Janeiro: José Olympio, 1947. 323 p. Primeira edição: Brazil: an interpretation.<br />

New York: Alfred A. K<strong>no</strong>pf, 1945.<br />

264<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

ORNELAS, Ma<strong>no</strong>elito de. Gaúchos e beduí<strong>no</strong>s: a origem étnica e a formação<br />

social do Rio Grande do Sul. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de<br />

Janeiro: José Olympio, 1948. 188 p.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O banguê nas Alagoas: traços da influência do<br />

sistema econômico do engenho de açúcar na vida e na cultura regional.<br />

Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool,<br />

1949. 288 p. il.<br />

BEZERRA, Felte. Etnias sergipanas: contribuição ao seu estudo. Prefácio de<br />

Emílio Willems. Coleção Estudos Sergipa<strong>no</strong>s. Aracaju: Livraria Regina,<br />

1950. 269 p.<br />

BRASILIANO, Rúbio. Conceitos sobre a formação brasileira: pa<strong>no</strong>rama étnicosocial.<br />

Rio de Janeiro: Erechim Tipografia Modelo, 1952. 251 p.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Estudos <strong>das</strong> relações de cultura <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Cader<strong>no</strong>s<br />

de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de<br />

Documentação, 1955. 67 p.<br />

OTT, Carlos B. Formação e evolução étnica da cidade de Salvador: o folclore bahia<strong>no</strong>.<br />

Salvador: Tipografia Manú, 1955-1957. 2v. il.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Etnias e culturas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Vida <strong>Brasil</strong>eira,<br />

5. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de<br />

Documentação. 1956. 120 p.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Regiões culturais do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Centro<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 535 p.<br />

FREYRE, Gilberto. Homem, cultura e trópico. Recife: Faculdade de Medicina,<br />

Instituto de Antropologia Tropical, Imprensa Universitária, 1962. 234 p.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O <strong>Brasil</strong> e os brasileiros: ensaio sobre alguns aspectos<br />

<strong>das</strong> características humanas <strong>das</strong> populações brasileiras. São Paulo:<br />

Livraria Martins, 1964. 103 p.<br />

FREYRE, Gilberto. Brasis, <strong>Brasil</strong> e Brasília: sugestões em tor<strong>no</strong> de problemas<br />

brasileiros de unidade e diversidade e <strong>das</strong> relações de alguns deles com<br />

265<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

problemas gerais de pluralismo étnico e cultural. Coleção Presença <strong>Brasil</strong>eira.<br />

Rio de Janeiro: Record, 1968. 271 p. Primeira edição: Lisboa: Livros<br />

do <strong>Brasil</strong>, 1960.<br />

AZEVEDO, Thales de. Cultura e situação racial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Retratos do<br />

<strong>Brasil</strong>, 42. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1966. 199 p.<br />

Religiões afro-brasileiras<br />

BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste místico em branco e preto. Rio de Janeiro: O<br />

Cruzeiro, 1945. 247 p.<br />

PEREIRA, Manuel Nunes. A casa <strong>das</strong> minas: contribuição ao estudo <strong>das</strong> sobrevivências<br />

daomeanas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Introdução de Arthur Ramos. Rio de<br />

Janeiro: Sociedade <strong>Brasil</strong>eira de Antropologia e Et<strong>no</strong>logia, 1947. 45 p.<br />

CARNEIRO, Edison de Souza. Candomblés da Bahia: com ilustrações fotográficas,<br />

desenhos de Paulo Flores e transcrições musicais de Marshall Levins.<br />

Salvador: Secretaria de Educação e Saúde, Museu da Bahia, 1948. 140 p. il.<br />

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sincretismo religioso afro-brasileiro. Prefácio<br />

de Amaro Quintas. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1955. 173 p. il.<br />

RIBEIRO, René. Religião e relações sociais. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de<br />

Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,<br />

1956. 241 p.<br />

BASTIDE, Roger. Sociologia do folclore brasileiro. São Paulo: Ed. Anhembi, 1959. 321 p.<br />

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução de Maria Isaura<br />

Pereira de Queiroz. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1961. 370 p.<br />

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Misticismo e região: aspectos de sebastianismo<br />

<strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1963. 120 p.<br />

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sobrevivências daomeanas <strong>no</strong>s grupos de culto<br />

afro-<strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, Ministério<br />

da Educação e Cultura, 1964. 46 p. il.<br />

266<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

LANDES, Ruth. A cidade <strong>das</strong> mulheres. Tradução de Maria Lúcia do Eirado Silva.<br />

Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1967.<br />

316 p. Primeira edição em inglês: The city of women. New York: Macmilliam,<br />

1947. 248 p.<br />

RIBEIRO, René. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social.<br />

Prefácio de Roberto Motta. 2ª ed. Recife: Instituto Joaquim Nabuco<br />

de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1978. 160 p. Primeira edição: Recife: Instituto Joaquim<br />

Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1952.<br />

Cultura rural<br />

RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira. Coleção Estudos <strong>Brasil</strong>eiros.<br />

Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1943-1947. 2 v. il.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O engenho de açúcar <strong>no</strong> Nordeste. Rio de Janeiro:<br />

Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1952. 68 p. il.<br />

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. População e açúcar <strong>no</strong> Nordeste do <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Comissão Nacional de Alimentação, 1954. 236 p.<br />

MELO, Manuel Rodrigues de. Patriarcas e carreiros: influências do coronel e do<br />

carro de boi na sociedade rural do Nordeste. 2 a ed. Rio de Janeiro: Irmãos<br />

Pongetti, 1954. 272 p. il.<br />

SILVA, Raimundo Nonato da. Figuras e tradições do Nordeste. Rio de Janeiro:<br />

Irmãos Pongetti, 1958. 170 p.<br />

FREYRE, Gilberto. Açúcar: em tor<strong>no</strong> da et<strong>no</strong>grafia, da história e da sociologia<br />

do doce <strong>no</strong> Nordeste canavieiro do <strong>Brasil</strong>. Com numerosas receitas raras<br />

de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, com algumas de<br />

outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa) reuni<strong>das</strong><br />

e seleciona<strong>das</strong> pelo autor. 2 a ed. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do<br />

Álcool, 1969. 286 p. Primeira edição: Açúcar: algumas receitas de doces e<br />

bolos dos engenhos do Nordeste. Com ilustrações de Manuel Bandeira.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1939.<br />

FREYRE, Gilberto (et alli). Cana e reforma agrária. 2 a ed. Recife: Instituto Joaquim<br />

Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1970. 369 p.<br />

267<br />

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soCiologia<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

LINS, Mário. A transformação da lógica conceitual da sociologia: bases para uma<br />

reestruturação da sistemática sociológica. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio,<br />

1947. 127 p.<br />

PIERSON, Donald. Leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo: Livraria<br />

Martins, 1948. 672 p.<br />

LINS, Mario. A evolução lógico-conceitual da ciência. Rio de Janeiro: Jornal do<br />

Commercio, 1954. 73p.<br />

PAGLIARINI, Mauro Fernandes. O fato social e sua influência coercitiva na realidade:<br />

conceituação dinâmica. São Paulo: J. A. Pereira, 1956. 119 p.<br />

SANTOS, Mário Ferreira dos. Sociologia fundamental e ética fundamental. São Paulo:<br />

Livraria Ed. Logos, 1957. 246 p.<br />

MÜLLER, Antônio Rubbo. Teoria da organização humana. São Paulo: <strong>Fundação</strong><br />

Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1958.<br />

MARINHO, Sérgio. Aspectos de sociologia. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército,<br />

1958. 166 p.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. A redução sociológica: introdução ao estudo da razão<br />

sociológica. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros,<br />

1958. 169 p.<br />

AZEVEDO, Thales de (et alli). Atualidade de Durkheim. Salvador: Universidade<br />

da Bahia Imprensa Vitória, 1959. 112 p.<br />

FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959. 378 p.<br />

FERNANDES, Florestan. Ensaios de sociologia geral e aplicada. <strong>Biblioteca</strong> Pioneira<br />

de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>. São Paulo: Livraria Pioneira, 1960. 423 p.<br />

PIMENTA, Joaquim. Sociologia jurídica do trabalho. 3 a ed. Rio de Janeiro: Ed. Nacional<br />

de Direito, 1948. 300 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Forense, 1944.<br />

268<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

BASTIDE, Roger. Sociologia e psicanálise. Coleção Minerva. São Paulo: Instituto<br />

Progresso Editorial, 1948. 277 p.<br />

MORAES FILHO, Evaristo de. O problema de uma sociologia do direito. Rio de<br />

Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 264 p.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. Sociologia do orçamento familiar. Rio de Janeiro: Departamento<br />

de Imprensa Nacional, 1950. 89 p.<br />

MORAES FILHO, Evaristo de. Relações humanas na indústria: lições de sociologia<br />

industrial. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço<br />

Público, Serviço de Documentação, 1955. 115 p.<br />

MORAES FILHO, Evaristo de. Do delito ao direito de greve, um quarto de século na<br />

vida italiana. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho,<br />

Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1956. 61 p.<br />

MACHADO NETO, Antônio Luís. Sociedade e direito na perspectiva da razão vital.<br />

Salvador: Livraria Progresso, 1957. 290 p.<br />

DONATO, Messias Pereira. O movimento sindical operário <strong>no</strong> regime capitalista.<br />

Belo Horizonte: UMG, 1959. 134 p.<br />

CHACON, Vamireh. Introdução ao problema da sociologia do direito. Recife: Universidade<br />

do Recife, Faculdade de Direito, 1959. 118 p.<br />

MACHADO NETO, Antônio Luís; MACHADO NETO, Zahidé. O direito<br />

e a vida social: leituras básicas de sociologia jurídica. São Paulo: Cia. Ed.<br />

Nacional, 1966. 210 p.<br />

FERREIRA, Francisco de Paula. As técnicas da pesquisa social. Petrópolis: Vozes,<br />

1947. 160 p.<br />

CRUZ, José. Pesquisa social: suas técnicas. Aracaju: Livraria Regina, 1960. 183 p.<br />

NOGUEIRA, Oracy. Pesquisa social: introdução às suas técnicas. 3 a ed. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1975. 195 p. Primeira edição: Comissão Paulista<br />

de Folclore, 1951. São Paulo.<br />

Manuais e introduções<br />

FONTOURA, Afro Amaral. Sociologia educacional. Rio de Janeiro: Gráfica Ed.<br />

Aurora, 1951. 273 p.<br />

269<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: Serviço<br />

de Documentação do Departamento Administrativo do Serviço Público,<br />

1959. 241 p.<br />

BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira (et alli). Pequena antologia sociológica.<br />

Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Aurora, 1955. 202 p.<br />

BRANDÃO, Geraldo. Noções de sociologia geral: para as cadeiras do curso pedagógico<br />

dos institutos de educação do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Ed. do <strong>Brasil</strong>, 1955. 180 p.<br />

PIMENTA, Joaquim. Enciclopédia de cultura: sociologia e ciências correlatas.<br />

Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1955. 412 p.<br />

CORRÊA, Carlos Pinto (et alli). Estudos de sociologia. Belo Horizonte: Universidade<br />

de Minas Gerais, Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas, Imprensa da<br />

Universidade, 1957. 170 p. il.<br />

BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira. Peque<strong>no</strong> tratado de relações humanas.<br />

Niterói: J. Gonçalves, 1957. 215 p.<br />

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Teorias sociológicas. Rio de Janeiro: Ed. Fundo<br />

de Cultura, 1962. 306 p.<br />

ALVIM, Décio Ferraz. Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1963. 216 p.<br />

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Manual de sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Fundo<br />

de Cultura, 1963. 255 p.<br />

NÓBREGA, J. Flóscolo da. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: J. Konfi<strong>no</strong>,<br />

1965. 125 p.<br />

Avaliação da produção de conhecimento da disciplina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

RAMOS, Alberto Guerreiro Ramos; GARCIA, Evaldo da Silva. Notícias sobre<br />

as pesquisas e os estudos sociológicos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (1940-1949): com especial referência<br />

a migrações, contatos de raça, colonização e assuntos correlatos. Rio<br />

de Janeiro: Conselho de imigração e colonização, 1950.<br />

PINTO, Luís Aguiar Costa; CARNEIRO, Edison. As ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensi<strong>no</strong> Superior - CAPES, 1955. 111 p.<br />

BAZZANELLA, Waldemiro. Estratificação e mobilidade social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: fontes bibliográficas.<br />

Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1956. 116 p.<br />

270<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Andes, 1957. 216 p.<br />

LEÃO, Antônio Carneiro. Pa<strong>no</strong>rama sociológico do <strong>Brasil</strong> (curso realizado em<br />

francês na Sorbonne, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> letivo de 1950-1951 e reescrito em português).<br />

Prefácio de George Davy. Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas<br />

Educacionais, 1958. 204 p.<br />

FERNANDES, Florestan. A et<strong>no</strong>logia e a sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Ed.<br />

Anhembi, 1958. 327 p. il.<br />

BAZZANELLA, Waldemiro. Problemas de urbanização na América Latina: fontes<br />

bibliográficas. Rio de Janeiro: Centro Lati<strong>no</strong>-America<strong>no</strong> de Pesquisas em<br />

<strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, 1960. 123 p.<br />

FERNANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>,<br />

12. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963. 378 p.<br />

AZEVEDO, Thales de. As ciências sociais na Bahia: <strong>no</strong>tas para sua história. Salvador:<br />

Universidade da Bahia, Instituto de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, 1964. 81 p.<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina<br />

CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Didática <strong>das</strong> ciências sociais: observações<br />

críticas acerca do ensi<strong>no</strong> de Sociologia por Emílio Willems. Belo<br />

Horizonte: Secretaria de Educação, Imprensa Oficial, 1949.<br />

FRIEDMANN, John. Esquema de um curso de leituras de ciências sociais. Tradução<br />

de Rubens Doval. Salvador: Livraria Progresso, 1957. 62 p.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Mudança social, industrialização e desenvolvimento<br />

Estudos de caráter geral<br />

BASTIDE, Roger. <strong>Brasil</strong>, terra de contrastes. Tradução de Maria Isaura Pereira de<br />

Queiroz. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1959. 253 p.<br />

LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos<br />

– INEP, Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1959. 288 p.<br />

271<br />

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Mudanças sociais<br />

Glaucia Villas Bôas<br />

FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 2 v. il.<br />

WAGLEY, Charles. A revolução brasileira: uma análise da mudança social desde<br />

1930. Tradução de Archimedes P. Guimarães. Salvador: <strong>Fundação</strong> para o<br />

Desenvolvimento da Ciência na Bahia, Livraria Progresso, 1959. 78 p.<br />

FERNANDES, Florestan. Mudanças sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: aspectos do desenvolvimento<br />

da sociedade brasileira. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São<br />

Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960. 401 p. il.<br />

PINTO, Luís de Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento, temas e problemas de <strong>no</strong>sso tempo.<br />

Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 314 p.<br />

BELTRÃO, Pedro Caldeira. Sociologia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Globo, 1965. 159 p. il.<br />

MORAIS, José Xavier Pessoa de. Sociologia da revolução brasileira, análise e interpretação do<br />

<strong>Brasil</strong> hoje. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Ed. Leitura, 1965. 343 p.<br />

PEREIRA, Luís. Trabalho e desenvolvimento <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Corpo e Alma do<br />

<strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 302 p.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e estratégia do desenvolvimento: elementos<br />

de uma sociologia da administração. Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong> Getulio<br />

Vargas, 1966. 453 p.<br />

FERNANDES, Florestan. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. 2 a ed.<br />

Revisada pelo autor. Petrópolis: Vozes, 1979. 410 p. Primeira edição: São<br />

Paulo: Ed. Anhembi, 1961. 475 p.<br />

Comunidades<br />

WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem <strong>no</strong>s trópicos.<br />

Tradução de Clotilde da Silva Costa. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo:<br />

Cia Ed. Nacional, 1957. 312 p. il.<br />

SILVA, Fernando Altenfelder. Análise comparativa de alguns aspectos da estrutura<br />

social de duas comunidades do Vale do São Francisco. Curitiba: Universidade do<br />

Paraná, Faculdade de Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras, 1954. 219 p. il.<br />

272<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 272 5/3/2009 10:15:22


A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

WILLEMS, Emílio. Uma vila brasileira, tradição e transição. Prefácio de Nelson Werneck<br />

Sodré. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão Européia do Livro,<br />

1961. 222 p. Primeira edição: Cunha. Tradição e transição em uma cultura rural do <strong>Brasil</strong>.<br />

São Paulo: Secretaria de Agricultura, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1947.<br />

NOGUEIRA, Oracy. Família e comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga.<br />

Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 541 p. il.<br />

PIERSON, Donald. Cruz <strong>das</strong> almas. Com a colaboração de Carlos Borges Teixeira e outros.<br />

Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros, Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. 458 p. il.<br />

Industrialização<br />

AZEVEDO, Fernando de. A cidade e o campo na civilização industrial e<br />

outros estudos. São Paulo: Melhoramentos, 1962. 267 p.<br />

IANNI, Octávio. Industrialização e desenvolvimento social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Retratos<br />

do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 269 p.<br />

LOPES, Juarez Rubens Brandão. Sociedade industrial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Prefácio de Mário<br />

Wagner Vieira da Cunha. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

Difusão Européia do Livro, 1964. 186 p.<br />

CARDOSO, Fernando Henrique. Empresário industrial e desenvolvimento econômico<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão Européia<br />

do Livro, 1964. 196 p.<br />

IANNI, Octávio. Estado e capitalismo, estrutura social e industrialização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 270 p.<br />

Meio rural<br />

Características gerais<br />

SCHIMIDT, Carlos Borges. O meio rural: investigações e estudos <strong>das</strong> suas condições<br />

sociais e econômicas. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio<br />

do estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1946. 182 p. il.<br />

CARVALHO, Hernani. Sociologia da vida rural brasileira: subsídios para o seu<br />

estudo. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1951. 396 p. il.<br />

273<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

LEÃO, Antônio Carneiro. A sociedade rural, seus problemas e sua educação. Rio de<br />

Janeiro: Ed. A Noite, 1953. 368 p. il.<br />

Condições e relações de trabalho<br />

TORRES, João Batista de Vasconcelos. Condições de vida do trabalhador na agroindústria<br />

do açúcar. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1945. 277 p. il.<br />

CALDEIRA, Clóvis. Arrendamento e parceria <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Comissão<br />

Nacional de Política Agrária, 1955. 54 p.<br />

SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Uma comunidade rural do <strong>Brasil</strong> Antigo:<br />

aspectos da vida patriarcal <strong>no</strong> sertão da Bahia <strong>no</strong>s séculos XVIII e XIX.<br />

Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 447 p. il.<br />

CALDEIRA, Clóvis. Mutirão, formas de ajuda mútua <strong>no</strong> meio rural. Coleção <strong>Brasil</strong>iana,<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 222 p. il.<br />

GALVÃO, Hélio. O mutirão <strong>no</strong> Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura,<br />

Serviço de Informação Agrícola, 1959. 75 p. il.<br />

CALDEIRA, Clóvis. Me<strong>no</strong>res <strong>no</strong> meio rural: trabalho e escolarização. Rio de<br />

Janeiro: INEP, Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 190 p.<br />

MORAIS, Valfrido. Jagunços e heróis: a civilização do diamante nas lavras da Bahia.<br />

Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 212 p.<br />

CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e<br />

a transformação dos seus meios de vida. Coleção Documentos Históricos.<br />

Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. 239 p. il.<br />

Relações políticas<br />

AZEVEDO, Fernando. Canaviais e engenhos na vida política do <strong>Brasil</strong>: ensaio sociológico<br />

sobre o elemento político na civilização do açúcar e do álcool.<br />

Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1948. 243 p.<br />

PINTO, Luís de Aguiar Costa. Lutas de famílias <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: introdução ao seu<br />

estudo. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Ed. Nacional, 1949. 194 p.<br />

BARRETO, Leda. Julião, <strong>no</strong>rdeste, revolução. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 145 p.<br />

274<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

VILAÇA, Marcos Vinícios; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Coronel,<br />

coronéis. Rio de Janeiro: Ed. Tempo <strong>Brasil</strong>eiro, 1965. 222 p. il.<br />

Movimentos e conflitos religiosos<br />

FACÓ, Rui. Cangaceiros e fanáticos, gênese e lutas. 2 a ed. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>.<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 226 p. il. Primeira edição:<br />

Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963.<br />

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O messianismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> mundo. São<br />

Paulo: Dominus, 1965. 373 p.<br />

QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e conflito social (a guerra sertaneja do<br />

Contestado: 1912-1916). Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1966. 353 p.<br />

Tradicões populares<br />

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia e folclore, a dança de São Gonçalo<br />

num povoado baia<strong>no</strong>. Salvador: <strong>Fundação</strong> para o Desenvolvimento da Ciência;<br />

Livraria Progresso, 1958. 121 p. il.<br />

Outros<br />

ANDRADE, Lopes de. Introdução à sociologia <strong>das</strong> secas. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1948. 189 p. il.<br />

AZEVEDO, Fernando de. Um trem corre para o oeste: estudo sobre o <strong>no</strong>roeste<br />

e seu papel <strong>no</strong> sistema de viação nacional. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1950. 375 p. il.<br />

Mobilidade histórica e social<br />

Negros<br />

PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo de contato racial. Com<br />

introduções de Arthur Ramos e Robert E. Park. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945. 486 p.<br />

PINTO, Luís de Aguiar Costa. O negro <strong>no</strong> Rio de Janeiro: relações de raças numa sociedade<br />

em mudança. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953. 355 p.<br />

275<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de<br />

Charles Wagley. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.<br />

BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Relações raciais entre negros e brancos<br />

em São Paulo: ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os<br />

efeitos do preconceito de cor <strong>no</strong> município de SP. São Paulo: Ed. Anhembi,<br />

UNESCO, 1955. 554 p.<br />

CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octávio. Cor e mobilidade social em<br />

Florianópolis: aspectos <strong>das</strong> relações entre negros e brancos numa comunidade<br />

do <strong>Brasil</strong> meridional. Prefácio de Florestan Fernandes. Coleção <strong>Brasil</strong>iana,<br />

307. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 286 p. il.<br />

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> meridional:<br />

o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. 2 a ed. Coleção<br />

Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 19. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 303 p. Primeira<br />

edição: São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.<br />

IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravatura <strong>no</strong><br />

<strong>Brasil</strong> meridional. Coleção Corpo e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão<br />

Européia do Livro, 1962. 312 p.<br />

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 3 a ed. São Paulo:<br />

Ática, 1978. 2 v. Primeira edição: São Paulo: Dominus, Edusp, 1965. 2 v.<br />

Migrantes<br />

TORRES, João Batista de Vasconcelos. A mobilidade rural brasileira. Rio de<br />

Janeiro: Livraria Clássica <strong>Brasil</strong>eira, 1950. 144 p. il.<br />

ALMEIDA, Vicente Unzer de; SOBRINHO, Otávio Teixeira Mendes. Migração<br />

rural-urbana: aspectos da convergência de população do interior e<br />

outras localidades para a capital do estado de São Paulo (com um estudo<br />

sobre zonas de colonização do estado de São Paulo). São Paulo: Secretaria<br />

de Agricultura do Estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola,<br />

1951. 147 p. il.<br />

BORGES, Thomas Pompeu Accioly. Migrações internas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Comissão Nacional de Política Agrária, 1955. 42 p.<br />

276<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

TORRES, João Batista de Vasconcelos. Movimentos migratórios <strong>das</strong> populações rurais<br />

brasileiras. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1957. 180 p.<br />

CAMARGO, José Francisco de. Êxodo rural <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: formas, causas e conseqüências<br />

econômicas principais. Prefácio de Paul Hugon. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Conquista, 1960. 253 p. il.<br />

CRUZ, Levy. As migrações para o Recife: caracterização social. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1961. 1 v. il.<br />

LACERDA DE MELO, M. As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1961. 2 v.<br />

FISCHLOWITZ, Estanislau. Principais problemas da migração <strong>no</strong>rdestina. Rio de<br />

Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação,<br />

1965. 181 p.<br />

Imigrantes<br />

RIOS, Arthur. Aspectos políticos da assimilação de italia<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

<strong>Fundação</strong> Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1959.<br />

AULER, Guilherme Martinez. A companhia de operários 1839-1843: subsídios<br />

para o estudo da emigração germânica <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Prefácio de Gilberto<br />

Freyre. Recife: Arquivo Público Estadual, Imprensa Oficial, 1959. 109 p.<br />

KNOWLTON, Clark S. Sírios e libaneses: mobilidade social e espacial. Tradução<br />

de Yolanda Leite. São Paulo: Ed. Anhembi, 1960. 202 p. il.<br />

SAITO, Hiroshi. O japonês <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: estudo de mobilidade e fixação. São Paulo:<br />

<strong>Fundação</strong> Escola de Sociologia e Política, 1961. 238 p. il.<br />

Meio urba<strong>no</strong><br />

REIS, Nélio. Problemas sociológicos do trabalho. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,<br />

1964. 272 p.<br />

HUTCHINSON, Bertram A. Mobilidade e trabalho: um estudo na cidade de<br />

São Paulo. Colaboradores Juarez Brandão Lopes, Carolina Martuscelli e<br />

Carlo Castaldi. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,<br />

Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 451p. il.<br />

277<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

MEDINA, Carlos Alberto de. A favela e o demagogo. São Paulo: Ed. Martins,<br />

1964. 101 p.<br />

BEZERRA, Daniel Uchôa Cavalcanti. Alagados, mocambos e mocambeiros. Recife:<br />

Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1965. 115 p.<br />

RODRIGUES, Leôncio Martins. Conflito social e sindicalismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Corpo<br />

e Alma do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 222 p.<br />

SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas relações na formação do proletariado de<br />

São Paulo. São Paulo: Dominus, 1966. 245 p.<br />

MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindicato único <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: seus fundamentos<br />

sociológicos. Prefácio de Paulo Sergio Pinheiro. 2 a ed. São Paulo:<br />

Alfa Ômega, 1978. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1952.<br />

Religião<br />

BOER, Nicolas. Introdução à sociologia religiosa: peque<strong>no</strong> esboço para os estudos<br />

sociológicos sobre as religiões. São Paulo: Ed. Herder, 1955. 286 p.<br />

AZEVEDO, Thales de. O catolicismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, um campo para a pesquisa social.<br />

Cader<strong>no</strong>s de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura,<br />

Serviço de Documentação, 1956. 70 p.<br />

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de (et alli). Estudos de sociologia e história. São<br />

Paulo: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, Ed. Anhembi,<br />

1957. 301 p.<br />

Educação<br />

PEREIRA, Luís; FORACCHI, Marialice Mencarini. Educação e sociedade (Leituras<br />

de sociologia da educação). São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 449 p. il.<br />

FORACCHI, Marialice Mencarini. O estudante e a transformação da sociedade brasileira.<br />

São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 318 p.<br />

FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Dominus,<br />

1966. 614 p.<br />

278<br />

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CiênCia PolítiCa<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

SAMPAIO, Nélson de Souza. A desumanização da política. Salvador: Livraria<br />

Progresso, 1951. 155 p.<br />

SAMPAIO, Nelson de Souza. Ideologia e ciência política. Salvador: Livraria Progresso,<br />

1953. 336 p.<br />

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Quatro estudos. A ciência política. O sistema<br />

constitucional. O poder político. O sistema federal. Rio de Janeiro: Instituto de<br />

Direito Público e <strong>Ciências</strong> Políticas, <strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, 1954. 109 p.<br />

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Teoria do Estado. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Borsoi, 1958. 532 p.<br />

JAGUARIBE, Hélio. Condições institucionais do desenvolvimento. Rio de Janeiro:<br />

Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1958. 53 p.<br />

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Introdução à ciência política: a ciência<br />

política, a evolução do pensamento político, o Estado, problemas de estrutura.<br />

Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, Instituto de Direito Público<br />

e Ciência Política,1958. 126 p.<br />

CASTRO, José Olegário Ribeiro de. Introdução ao estudo <strong>das</strong> instituições políticas<br />

gregas. Belo Horizonte: Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas da Universidade<br />

de Minas Gerais, 1959. 102 p.<br />

DEBRUN, Michel. Ideologia e realidade. Rio de Janeiro: Instituto Superior de<br />

Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1959. 284 p.<br />

SALDANHA, Nelson Nogueira. As formas de gover<strong>no</strong> e o ponto de vista histórico.<br />

Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1960. 94 p.<br />

SAMPAIO, Nelson de Souza. Prólogo à teoria do Estado: ideologia e ciência política.<br />

2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960. 359 p.<br />

CAVALCANTI, Themístocles Brandão (et alli). Estudos em homenagem a Jean Jacques<br />

Rousseau / 200 a<strong>no</strong>s do «Contrato Social», 1762-1962. Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong><br />

Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, 1962.<br />

279<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

OLIVEIRA, Ives Orlando Tito de. Atualidades <strong>das</strong> ciências políticas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. <strong>Biblioteca</strong><br />

de Sociologia e Política. Salvador: <strong>Fundação</strong> DACO, 1965. 102 p.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Instituições políticas<br />

Escolha de governantes<br />

Eleições<br />

FARIA, Hermínio Augusto. Três pesquisas: o voto do analfabeto, a lei de diretrizes<br />

de bases, a divisão da Guanabara em municípios. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1964. 159 p.<br />

CAVALCANTI, Themístocles Brandão; DUBNIC, Reisky. Comportamento eleitoral<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, Serviço de Publicações,<br />

1964. 277 p.<br />

VASCONCELOS, José Lobo. Política, eleição e fraude. Belo Horizonte: B. Alvares,<br />

1962. 224 p. il.<br />

GOMES NETO, Francisco Antônio. A realidade democrática. São Paulo: Ed.<br />

Fulgor, 1962. 207 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. Harmonia política. Belo Horizonte: Itatiaia,<br />

1961. 290 p.<br />

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Estudos constitucionais, sistemas<br />

eleitorais e partidos políticos. Rio de Janeiro: <strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, Instituto<br />

de Direito Público e Ciência Política, 1956. 110 p.<br />

MARTINS, Rui Nogueira. Tentativas para organizar o <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Instituto<br />

de Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado, 1956. 81 p.<br />

BLOEM, Rui. A crise da democracia e a reforma eleitoral. São Paulo: Livraria Martins,<br />

1955. 196 p.<br />

GOMES NETO, Francisco Antônio. O direito eleitoral e a realidade democrática.<br />

Rio de Janeiro: J. Konfi<strong>no</strong>, 1953. 148 p.<br />

280<br />

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Partidos políticos<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FRANCO, Virgílio Alvim de Melo. A campanha da UDN (1944-1945). Rio de<br />

Janeiro: Z. Valverde, 1946. 445 p.<br />

CARMO, José Arimatéia Pinto do. Diretrizes partidárias (UDN, PRD PSD,<br />

PTB, PRP, PL, PR, PSP, POC, POT, PST, PTN, PCB). Rio de Janeiro: Pongetti<br />

Ed., 1948. 329 p.<br />

CARVALHO, Orlando Magalhães. A crise dos partidos nacionais. Belo Horizonte:<br />

Ed. Kriterion, 1950. 50 p.<br />

PEREIRA, Astrogildo. Formação do PCB, 1922/1928: <strong>no</strong>tas e documentos. Rio<br />

de Janeiro: Ed. Vitória, 1962. 145 p. il.<br />

CASCUDO, Luís da Câmara. História da República <strong>no</strong> Rio Grande do Norte: da<br />

propaganda à primeira eleição direta para governador. Rio de Janeiro: Ed.<br />

Val, 1965. 306 p.<br />

Diplomacia e política externa<br />

BRAGA, Pedro de Souza. O <strong>Brasil</strong> e o mundo ibérico. Rio de Janeiro: Ministério<br />

<strong>das</strong> Relações Exteriores, Instituto Rio Branco - IRB, 1951. 104 p.<br />

ANDRADE, Rodrigo Melo Franco. Rio Branco e Gastão da Cunha. Rio de Janeiro:<br />

Ministério <strong>das</strong> Relações Exteriores, Instituto Rio Branco, 1953. 281 p. il.<br />

RICARDO, Cassia<strong>no</strong>. O tratado de Petrópolis. Rio de Janeiro: Ministério <strong>das</strong><br />

Relações Exteriores, 1954. 2 v.<br />

FREYRE, Gilberto. Sugestões em tor<strong>no</strong> de uma <strong>no</strong>va orientação para as relações internacionais<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e<br />

Federação <strong>das</strong> Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicações,<br />

1958. 88 p.<br />

FREYRE, Gilberto. Uma política transnacional de cultura para o <strong>Brasil</strong> de hoje. Belo Horizonte:<br />

Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, 1960. 117 p.<br />

ALENCASTRE, Amílcar. Oswaldo Aranha, o mundo afro-asiático e a paz. Coleção<br />

Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério<br />

do Trabalho e Previdência Social, 1961. 163 p.<br />

DANTAS, Francisco Clementi<strong>no</strong> de San Thiago. Política externa independente. Coleção<br />

Retratos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1962. 258 p.<br />

281<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

CHACON, Vamireh. Qual a política externa conveniente ao <strong>Brasil</strong>? Cader<strong>no</strong>s do<br />

Povo <strong>Brasil</strong>eiro. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 92 p.<br />

Formas de gover<strong>no</strong> parlamentarista e presidencialista<br />

LUCENA, Humberto. Política e problemas: programa de metas, parlamentarismo,<br />

Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio,<br />

Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, Serviço de<br />

Documentação, 1960. 54 p.<br />

FREITAS, Byron Torres de. O Estado moder<strong>no</strong> e o parlamentarismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio<br />

de Janeiro: Gráfica Ed. Amora, 1961. 89 p.<br />

LOUREIRO JÚNIOR, José. Parlamentarismo e presidencialismo. São Paulo: Revista<br />

dos Tribunais, 1962. 201 p.<br />

REALE, Miguel. Parlamentarismo brasileiro. São Paulo: Ed. Saraiva, 1962. 144 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. O presidencialismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Ed. O Cruzeiro, 1962. 284 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. Cartilha do parlamentarismo. Belo Horizonte:<br />

Ed. Itatiaia, 1962. 95 p.<br />

CARNEIRO, Levi Fernandes. Uma experiência de parlamentarismo. São Paulo:<br />

Ed. Martins, 1965. 312 p.<br />

Constituição jurídica e social <strong>das</strong> instituições políticas<br />

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Instituições políticas brasileiras: os problemas<br />

brasileiros da ciência política. Rio de Janeiro, José Olympio, 1949. 2 v.<br />

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Direito do trabalho e democracia social: o problema da<br />

incorporação do trabalhador <strong>no</strong> estado. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 179 p.<br />

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Problemas de organização e problemas de<br />

direção: o povo e o gover<strong>no</strong>. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 181 p.<br />

HORTA, Raul Machado (et alli). Perspectivas do federalismo brasileiro. Belo Horizonte:<br />

Universidade de Minas Gerais, 1958. 171 p.<br />

TORRES, J. Camilo de Oliveira. A formação do federalismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coleção<br />

<strong>Brasil</strong>iana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 301 p.<br />

282<br />

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Forças Arma<strong>das</strong><br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FAGUNDES, Miguel Seabra. As Forças Arma<strong>das</strong> na constituição. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1955. 85 p.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. Ideologia e segurança nacional. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1957. 50 p.<br />

TAVARES, Aurélio de Lyra. Segurança nacional, antagonismos e vulnerabilidades.<br />

Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1958. 247 p. il.<br />

FERREIRA, Oliveiros S. As Forças Arma<strong>das</strong> e o desafio da revolução. Rio de Janeiro:<br />

Ed. GRD, 1964. 152 p.<br />

Administração político-burocrática<br />

CUNHA, Mário Wagner Vieira da. O sistema administrativo brasileiro, 1930-1950. Rio<br />

de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1963. 179 p.<br />

Ideologias políticas<br />

JAGUARIBE, Hélio. O problema do desenvolvimento econômico e a burguesia nacional.<br />

Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação <strong>das</strong><br />

Indústrias do estado de São Paulo, 1956. 68 p.<br />

JAGUARIBE, Hélio. O nacionalismo na atualidade brasileira. Rio de Janeiro: Instituto<br />

Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1958. 305 p.<br />

CORBISIER, Roland. Brasília e o desenvolvimento nacional. Rio de Janeiro: Ministério<br />

da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros, 1960. 74 p.<br />

MARQUES, Aguinaldo Nepomuce<strong>no</strong>. Fundamentos do nacionalismo. Prefácio de<br />

Oswaldo Costa. São Paulo: Fulgor, 1960. 236 p.<br />

PEREIRA, Osni Duarte. Estudos nacionalistas: considerações à margem do<br />

<strong>Brasil</strong> contemporâneo. São Paulo: Fulgor, 1960. 2 v. il.<br />

PASSOS, Gabriel de Rezende. Temas nacionalistas. São Paulo: Fulgor, 1961. 215 p.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. A crise do poder <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: problemas da revolução<br />

nacional brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1961. 197 p.<br />

CHACON, Vamireh. A revolução <strong>no</strong> trópico: nacionalismo, marxismo e desenvolvimento.<br />

Rio de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Estudos Afro-Asiáticos,<br />

1962. 134 p.<br />

283<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

JAGUARIBE, Hélio. Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Fundo de Cultura, 1962. 224 p.<br />

ALMEIDA, Cândido Antônio Mendes de. Nacionalismo e desenvolvimento. Rio<br />

de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1963. 398 p.<br />

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Desde quando somos nacionalistas? Cader<strong>no</strong>s<br />

do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1963. 126 p.<br />

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SILVA, Golberi do Couto e. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Cia. Ed.<br />

Americana, <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1955.<br />

TAVARES, Aurélio de Lyra. Território nacional, soberania e domínio de Estado. Rio<br />

de Janeiro: Cia. Ed. Americana, <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1955. 262 p. il.<br />

SILVA, Golberi do Couto e. Aspectos geopolíticos do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong><br />

do Exército, 1957. 81 p. il.<br />

CARTAXO, Otacílio Dantas. O problema geopolítico brasileiro: teoria e prática de uma<br />

revolução nacionalista. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1965. 341 p. il.<br />

BARROS, Manuel de Souza. Subdesenvolvimento, Nordeste e nacionalismo. Prefácio<br />

de Heitor Ferreira Lima. São Paulo: Fulgor, 1966. 118 p.<br />

Formação social e histórica do poder político<br />

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo<br />

<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Com <strong>no</strong>ta do professor Basílio de Magalhães. Rio de<br />

Janeiro: Revista Forense, 1948. 311 p.<br />

BLONDEL, Jean. As condições da vida política <strong>no</strong> estado da Paraíba. Tradução e <strong>no</strong>tas<br />

de Alcântara Nogueira. Prefácio de Orlando Carvalho. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Fundação</strong> Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política,<br />

1957. 168 p. il.<br />

RAMOS, Alberto Guerreiro. Condições sociais do poder nacional. Rio de Janeiro:<br />

Instituto Superior de Estudos <strong>Brasil</strong>eiros - ISEB, 1957. 38 p.<br />

284<br />

FBN_RG_vocacao_06.indd 284 5/3/2009 10:15:25


A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

FAORO, Raimundo. Os do<strong>no</strong>s do poder: formação do patronato político brasileiro.<br />

Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1958. 271 p.<br />

MOTA, Albérico. Classes sociais e poder político: hipóteses sobre o caso brasileiro. Salvador:<br />

Universidade Federal da Bahia, Instituto de <strong>Ciências</strong> <strong>Sociais</strong>, 1966. 107 p.<br />

MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: contribuição ao estudo<br />

da formação brasileira. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>. 2 a ed. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1972. 235 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1965.<br />

Análise de crises políticas<br />

BASTOS, Aguiar. Prestes e a revolução social: fatos políticos, condições sociais e<br />

causas econômicas de uma fase revolucionária do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Calvi<strong>no</strong>, 1946. 366 p.<br />

BANDEIRA, Luís Alberto Moniz. O caminho da revolução brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Melso, 1962. 187 p.<br />

TORRES, João Camilo de Oliveira. Razão e desti<strong>no</strong> da revolução. Petrópolis: Vozes,<br />

1964. 329 p.<br />

FRANCO, Afonso Ari<strong>no</strong>s de Melo. Evolução da crise brasileira. São Paulo: Cia.<br />

Ed. Nacional, 1965. 265 p.<br />

MOREL, Edmar. O golpe começou em Washington. Coleção Retratos do <strong>Brasil</strong>, v.<br />

34. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1965. 276 p.<br />

PEDROSA, Mário. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira,<br />

1966. 311 p.<br />

Perfis presidenciais<br />

LIMA, Cláudio de Araújo. Mito e realidade de Vargas. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1955. 130 p.<br />

BARBOSA, Francisco de Assis. Jusceli<strong>no</strong> Kubitschek: uma revisão na política<br />

brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. il.<br />

CABRAL, Carlos Castilho. Tempos de Jânio e outros tempos. Coleção Retratos do<br />

<strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Civilização <strong>Brasil</strong>eira, 1962. 319 p.<br />

285<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

gEograFia HuMana<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimentação<br />

e de população do mundo. Prefácio de Lord John Boyd Orr. Rio de<br />

Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do <strong>Brasil</strong>, 1951. 288 p.<br />

ZARUR, Jorge. Precisão e aplicabilidade na geografia. Rio de Janeiro: Colégio Pedro<br />

II, 1955. 153 p. il.<br />

MOREIRA, Eidorfe. Idéias para uma concepção geográfica da vida. Belém: Barrah,<br />

1960. 148 p.<br />

AZEVEDO, Aroldo de. O mundo antigo, expansão geográfica e evolução da Geografia.<br />

Coleção Buriti. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1965. 173 p. il.<br />

SANTOS, Milton. A cidade <strong>no</strong>s países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Civilização<br />

<strong>Brasil</strong>eira, 1965. 175 p.<br />

Manuais e introduções<br />

CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. A excursão geográfica (guia do professor).<br />

Notas do professor Pierre Monbeig. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de<br />

Geografia, 1945. 84 p.<br />

GICOVATE, Moisés. Manual de geografia humana (para uso em cursos de faculdades<br />

de filosofia). São Paulo: Melhoramentos, 1947. 174 p. il.<br />

NUNES, Alberto R. Geografia humana do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Livraria Francisco<br />

Alves, 1950. 138 p. il.<br />

LOBO, Roberto Haddock. Geografia econômica. São Paulo: Ed. Atlas, 1988. 321 p. il.<br />

CARDOSO, Lamartine. Geografia econômica do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Ed. Crédito<br />

<strong>Brasil</strong>eiro do Livro, 1972. 231 p. il.<br />

Avaliação do ensi<strong>no</strong> da disciplina<br />

FONSECA, James Braga Vieira da. O ensi<strong>no</strong> da geografia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Instituto Pan-america<strong>no</strong> de Geografia e História, 1956. 160 p.<br />

286<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CAMPOS, Antônio Pedro de Souza; DOTTORI, Clóvis Bittencourt. Roteiro<br />

de geografia do <strong>Brasil</strong>. Para os cursos de orientação da Campanha de Aperfeiçoamento<br />

e Difusão do Ensi<strong>no</strong> Secundário. Rio de Janeiro: CADES,<br />

1961. 2v. il.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Regiões brasileiras<br />

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e o brejo. <strong>Biblioteca</strong> Geográfica <strong>Brasil</strong>eira.<br />

Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e<br />

Estatística, 1945. 204 p. il.<br />

BENCHIMOL, Samuel. O cearense na Amazônia. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,<br />

1946. 89 p.<br />

CORREA FILHO, Virgílio. Pantanais mato-grossenses (devassamento e ocupação).<br />

<strong>Biblioteca</strong> Geográfica <strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia<br />

e Estatística, 1946. 170 p. il.<br />

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a restinga. <strong>Biblioteca</strong> Geográfica <strong>Brasil</strong>eira.<br />

Rio de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, 1946. 227 p. il.<br />

ZARUR, Jorge. A bacia do médio São Francisco: uma análise regional. <strong>Biblioteca</strong><br />

Geográfica <strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro: Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e<br />

Estatística, 1947. 187 p.<br />

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a serra. <strong>Biblioteca</strong> Geográfica <strong>Brasil</strong>eira.<br />

Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e<br />

Estatística - IBGE, 1950. 350 p. il.<br />

AZEVEDO, Aroldo de. Regiões e paisagens do <strong>Brasil</strong>. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1952. 271 p. il.<br />

LINHARES, Temístocles. Paraná vivo, um retrato sem retoques. Coleção Documentos<br />

<strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. 360 p. il.<br />

MOTA, Mauro. Paisagem <strong>das</strong> secas. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas<br />

<strong>Sociais</strong>, 1958. 145 p. il.<br />

ABREU, Sílvio Fróis. O Distrito Federal e seus recursos naturais. <strong>Biblioteca</strong> Geográfica<br />

<strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro<br />

de Geografia e Estatística, 1957. 318 p. il.<br />

287<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

MOREIRA, Eidorfe. Amazônia o conceito e a paisagem. Rio de Janeiro: Superintendência<br />

do Pla<strong>no</strong> de Valorização da Amazônia - SPVEA, 1960. 90 p.<br />

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem <strong>no</strong> Nordeste. São Paulo: Ed.<br />

<strong>Brasil</strong>iense, 1963. 249 p. il.<br />

CASTRO, Josué de. Sete palmos de terra e um caixão: ensaios sobre o Nordeste,<br />

área explosiva. São Paulo, Ed. <strong>Brasil</strong>iense, 1965. 222 p.<br />

Meio rural<br />

CARNEIRO, José Fernando Domingues. Imigração e colonização <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de<br />

Janeiro: Universidade do <strong>Brasil</strong>, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950.<br />

GEIGER, Pedro Pinchas; MESQUITA, Myriam Gomes Coelho. Estudos rurais da<br />

Baixada Fluminense (1951-1953). <strong>Biblioteca</strong> Geográfica <strong>Brasil</strong>eira. Rio de Janeiro:<br />

Serviço Gráfico do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, 1956. 208 p. il.<br />

ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental I: o rio Ceará-Mirim.<br />

Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, Imprensa Oficial, 1957. 59 p. il.<br />

ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental III: o rio<br />

Paraíba do Norte. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>,<br />

Imprensa Oficial, 1957. 154 p. il.<br />

ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental II: o rio<br />

Mamanguape. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, Ministério<br />

da Educação e Cultura - MEC, 1957. 71 p. il.<br />

WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia tropical e do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Instituto<br />

<strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística, 1958. 307 p. il.<br />

ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental IV: os<br />

rios Coruripe, Jiquiá, e São Miguel. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de<br />

Pesquisas <strong>Sociais</strong>, Imprensa Oficial, 1959. 96 p. il.<br />

LACERDA DE MELO, Mário. As migrações para o Recife: I Estudo Geográfico.<br />

Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1961.<br />

VALVERDE, Orlando. Geografia agrária do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Centro <strong>Brasil</strong>eiro<br />

de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1964. 2 v. il.<br />

ANDRADE, Manuel Correia de. Paisagens e problemas do <strong>Brasil</strong>: aspectos da<br />

vida rural brasileira frente à industrialização e o crescimento econômico.<br />

4ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Ed. <strong>Brasil</strong>iense, 1973. 277 p.<br />

288<br />

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Condições socioeconômicas<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

CASTRO, Josué de. Geografia da fome, a fome <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Gráfica O<br />

Cruzeiro, 1946. 354 p. il.<br />

MARQUES, Antônio Nonato. Geografia do fumo na Bahia. Salvador: Centro de<br />

Estudos Ruralistas Nonato Marques, 1954. 85 p.<br />

MONBEIG, Pierre. O <strong>Brasil</strong>. Tradução de Dirceu Li<strong>no</strong> de Mattos. São Paulo:<br />

Difusão Européia do Livro, 1954. 159 p. il.<br />

MONBEIG, Pierre. Novos estudos de geografia humana brasileira. São Paulo: Difusão<br />

Européia do Livro, 1957. 236 p. il.<br />

WANDERLEY, Alberto. Estudos de geografia econômica. Belo Horizonte: Universidade<br />

de Minas Gerais, Faculdade de <strong>Ciências</strong> Econômicas, 1959. 85 p.<br />

AZEVEDO, Aroldo de (Org.). <strong>Brasil</strong>, a terra e o homem. Coleção <strong>Brasil</strong>iana. São<br />

Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1968. il.<br />

Meio urba<strong>no</strong><br />

AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do <strong>Brasil</strong> colonial: ensaio de geografia<br />

urbana retrospectiva. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de<br />

Filosofia, <strong>Ciências</strong> e Letras, 1956. 96 p. il.<br />

CASTRO, Josué de. Ensaios de geografia humana. São Paulo: Ed. <strong>Brasil</strong>iense, 1957.<br />

dEMograFia<br />

Ob r a s s O b r e a disciplina<br />

Problemas teórico-metodológicos<br />

LAMBERT, Jacques; PINTO, Luís Aguiar Costa. Problèmes démographiques contemporains.<br />

Rio de Janeiro: Atlântica Ed., 1944. il.<br />

SMITH, Thomas Lynn. Introdução à análise <strong>das</strong> populações. Rio de Janeiro: Universidade<br />

do <strong>Brasil</strong>, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950. 100 p. il.<br />

289<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

PEREIRA, Jorge dos Santos. A previsão do crescimento <strong>das</strong> populações urbanas. Salvador:<br />

Universidade da Bahia, Imprensa Vitória, 1958. 100 p. il.<br />

Ob r a s s O b r e t e m a s e s p e c í f i c O s<br />

Condições socioeconômicas da população<br />

BARRETO, Adolfo Castro Paes. Estudos brasileiros de população. Rio de Janeiro:<br />

Ed. Z. Valverde, 1944. 232 p.<br />

MORTARA, Giorgio. Pesquisa sobre populações americanas. Rio de Janeiro: Kosmos,<br />

1947. 227 p.<br />

BARRETO, Adolfo Castro Paes. Povoamento e população, política populacional<br />

brasileira. Coleção Documentos <strong>Brasil</strong>eiros. Rio de Janeiro: José Olympio,<br />

1951. 411 p.<br />

FRIEDMANN, John R.; LEAL, José. População e mão-de-obra na Bahia. Salvador:<br />

Livraria Progresso, 1957. 70 p. il.<br />

URUGUAY, Aguinaldo Dias. A demografia na evolução do <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1957. 244 p. il.<br />

CAMARGO, José Francisco de. Demografia econômica: variáveis demográficas<br />

do desenvolvimento econômico. Salvador: Universidade da Bahia, 1959.<br />

127 p. il.<br />

BETENCOURT, José de Souza. Aspecto demográfico social da Amazônia <strong>Brasil</strong>eira.<br />

Coleção Araújo Lima. Rio de Janeiro: Superintendência do Pla<strong>no</strong> de<br />

Valorização da Amazônia, 1960. 77 p. il.<br />

BARRETO, Adolfo Castro Paes. População, riqueza e segurança. Coleção General<br />

Benício. Rio de Janeiro: <strong>Biblioteca</strong> do Exército, 1961. 332 p.<br />

BARRETO, Adolfo Castro Paes. O homem valor dos valores: ensaios e perfis. Rio<br />

de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1962. 147 p.<br />

BATISTA FILHO, Olavo. População e desenvolvimento: interpretação da dinâmica<br />

demográfica. São Paulo: Livraria Pioneira, 1965. 137 p.<br />

290<br />

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Mortalidade<br />

A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

MORTARA, Giorgio. Pesquisas demo-eco<strong>no</strong>métricas: I. O custo de produção do<br />

homem adulto e sua variação em relação à mortalidade. Rio de Janeiro:<br />

Kosmos, 1946. 152 p.<br />

LOPES, Júlio Cavalcanti; ALMEIDA, Maria Eugenia de; LESSA, Gustavo.<br />

Aspectos da mortalidade infantil em Santa Catarina. Rio de Janeiro: Imprensa<br />

Nacional, 1948. 71 p.<br />

MORTARA, Giorgio. Análise comparativa de diversos critérios aplicáveis <strong>no</strong> estudo<br />

biométrico do desenvolvimento de caracteres coletivamente típicos em função da idade.<br />

Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística<br />

- IBGE, 1948. 57 p. il.<br />

PARAIM, Orlando. Contribuição ao estudo da mortalidade infantil <strong>no</strong> Recife: fatores<br />

econômico-sociais. Recife: Polícia Militar, 1953. 107 p. il.<br />

Crescimento da população urbana<br />

FREITAS FILHO, Lincoln de. Análise bioestatística <strong>das</strong> capitais brasileiras 1940-<br />

1954. Rio de Janeiro: Serviço Social do Comércio, 1956. 50 p.<br />

MOTA, Luís de Melo. Aspécts démographiques: Rio de Janeiro, Brésil, 1940-1957.<br />

Rio de Janeiro: Departamento de Geografia e Estatística da Prefeitura do<br />

Distrito Federal, 1959. 69 p.<br />

GONÇALVES, Antônio Caroli<strong>no</strong>. As migrações para o Recife. Recife: Instituto<br />

Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1961. 2v.<br />

Padrão de vida <strong>no</strong> meio rural<br />

GOULART, José Alípio. Pesquisa de padrão de vida <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Jornal do Commercio, 1955. 86 p.<br />

PEDRÃO, Fernando Cardoso. Renda e níveis de vida na Bahia. Salvador: Livraria<br />

Progresso, 1957. 97 p.<br />

MACIEL, Telmo Frederico do Rego. Nível de vida do trabalhador rural da Zona da Mata,<br />

1961. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong>, 1964. 58 p.<br />

291<br />

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ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia.<br />

São Paulo: Cultrix/USP, 1973.<br />

ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. Castelos na areia: dilemas da<br />

institucionalização <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> Rio de Janeiro (1930 –<br />

1964). BIB – Revista <strong>Brasil</strong>eira de Informação Bibliográfica em <strong>Ciências</strong><br />

<strong>Sociais</strong>, n. 24, 1987.<br />

ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2 ed. Rio de Janeiro:<br />

Cátedra; Brasília: INL, 1978.<br />

ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979.<br />

AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos,<br />

1958. t. II, cap. II e IV.<br />

______(Org.). As ciências <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Melhoramentos, 1956.<br />

AZEVEDO, Thales. As ciências sociais na Bahia: <strong>no</strong>tas para a sua história. Salvador:<br />

Universidade da Bahia, 1964.<br />

BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da et<strong>no</strong>logia brasileira. São Paulo: Comissão<br />

do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954.<br />

BEALS, Ralph. Acculturation. In: ANTHROPOLOGY Today, A. L. Kroeber<br />

(Org.). 7 ed. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965.<br />

BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. History. In: ENCYCLOPAEDIA of Social<br />

Sciences. New York: Macmillan, 1948. v. VII e VIII.<br />

BEUTIN, Ludwig; KELLENBENZ, Hermann. Wirtschaftsgeschichte. Köln:<br />

Böhlau Verlag, 1973.<br />

293<br />

VII<br />

BIBlIografIa<br />

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Glaucia Villas Bôas<br />

BOOK. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica. Chicago: Encyclopaedia Britanica<br />

INC., 1972. v. II.<br />

BOLK, Karl Martin; MACKENROTH, Gehardt. Bevölkerung. In: HAND-<br />

WÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung<br />

Rupert & Co., 1956-1964. v. 2.<br />

BOMENY, Helena; BIRMAN, Patrícia (Org.). As assim chama<strong>das</strong> ciências sociais.<br />

Rio de Janeiro: UERJ/Relume Dumará, 1991.<br />

BORGES, Jorge Luis. O livro. Humanidades, v. I, n. 1, p. 18, out.-dez. 1982.<br />

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980.<br />

BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978.<br />

BRINTON, Crane. Intellectual History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia<br />

of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. VI.<br />

HOLANDA, Sergio Buarque de; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia<br />

Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do <strong>Brasil</strong>. São Paulo: IEB/<br />

USP, 1971.<br />

BOURDIEU, Pierre. A eco<strong>no</strong>mia <strong>das</strong> trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.<br />

CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia.<br />

In: HOLANDA, Sergio Buarque de; CANABRAVA, Alice Piffer;<br />

LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do <strong>Brasil</strong>. São Paulo:<br />

IEB/USP, 1971.<br />

CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense,<br />

1986.<br />

CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Revista <strong>Brasil</strong>eira<br />

de Folclore, Rio de Janeiro, 1962.<br />

CASTELO BRANCO, Lúcio. Staat, Raum und Macht in <strong>Brasil</strong>ien. Muenchen:<br />

Fink Verlag, 1983.<br />

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; VILHENA, Luis Rodolfo<br />

da Paixão. Traçando fronteiras: o folclore na década de 1950. In: Reunião<br />

Anual da Anpocs, Xiii, 1989.<br />

CHAUÍ, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São<br />

Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1984.<br />

294<br />

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A vocação <strong>das</strong> ciências sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong><br />

COHN, Gabriel. Problemas da industrialização <strong>no</strong> século XX. In: MOTA,<br />

Carlos Guilherme (Org.). <strong>Brasil</strong> em perspectiva. São Paulo: DIFEL, 1969.<br />

CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA, I., 1955, São Paulo.<br />

Anais. São Paulo: Sociedade <strong>Brasil</strong>eira de Sociologia.<br />

COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. São Paulo: <strong>Brasil</strong>iense, 1987.<br />

CRUZ, Levy. As migrações para o Recife – IV (Caracterização Social). Recife:<br />

Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas <strong>Sociais</strong> / MEC, 1961.<br />

CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983.<br />

CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paris: PUF, 1963. t. II.<br />

DIÉGUES JR., Manuel. Etnias e culturas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Rio de Janeiro: Ministério da<br />

Educação e Cultura, 1956.<br />

DOELLINGER, Carlos. A controvérsia do planejamento na eco<strong>no</strong>mia brasileira. Rio<br />

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DUDLEY, Kirk. Population. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social<br />

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of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968. v. XII.<br />

ELIAS, Norbert. Was ist Soziologie? 5 ed. Weinheim/Muenchen: Juventa Verlag,<br />

1986.<br />

REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de<br />

Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956.<br />

FERNANDES, Florestan. A et<strong>no</strong>logia e a sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. São Paulo: Anhambi,<br />

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________. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional,<br />

1963.<br />

________. A sociologia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Petrópolis: Vozes, 1977.<br />

FREYER, Hans. Teoria da época atual. Rio de Janeiro: Zahar, 1965.<br />

295<br />

FBN_RG_vocacao_07.indd 295 5/3/2009 10:04:14


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Este livro foi composto com Garamond 10,5/14 pt<br />

e impresso em papel Off-set 90g/m 2<br />

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