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RONDA ALTA, TERRA DAS ÁGUAS
da região. Outra maneira de reunir as famílias era por meio das celebrações religiosas
que ocorriam uma vez por mês na Igreja da Subida Grande; eram datas
especiais celebradas pelo padre Guilherme durante a madrugada – o leite das
vacas era tirado só após as missas. Com o passar dos meses, a vida da família
melhorou consideravelmente, permitindo que a fome de muitos dias desse lugar
ao necessário para a satisfação de todos. Passou-se então à abundância de
comida, tanto em grãos quanto em carne de porco – conservada junto com as
latas de banha –, de galinha e de pato; além disso, havia o leite produzido pelas
vacas leiteiras. Além disso, com a melhora econômica, tornou-se possível a compra
de camas, colchões de ”clina”, cadeiras e até um fogão a lenha. Infelizmente,
Adão e sua família se mudaram para aquele local já sabendo que algum dia teriam
que sair, pois a água tomaria conta da região em função de uma barragem que
estava sendo construída: a barragem do Rio Passo Fundo; todavia, a informação
da saída propriamente dita – passada de vizinho em vizinho – impactou as
famílias que residiam na região, trazendo a insegurança da mudança para muitos,
pois representava a perda de um meio de produção e sustento seguro que haviam
cultivado durante vários anos. Em função disso, Adão comprou, com uma vaca,
um pequeno terreno na periferia da pequena cidade de Ronda Alta, e, por acordo,
seu sogro Ernesto construiu uma casa de madeira muito simples no local,
sem forro nem mata-junta nas paredes. No dia 27 de julho de 1970, após 3 anos
de muitas experiências, aprendizado, crescimento econômico e humano naquele
rancho, começaram a fazer a mudança para sua nova casa. Após 3 dias seguidos
de idas e vindas, movendo humildes móveis e animais em uma carroça – agora
comprada –, Adão e sua família finalmente deram início a um novo período
embebido na esperança de novas conquistas. Adão, contudo, continuou trabalhando
nas terras próximas ao seu antigo rancho, que agora jazia sob as águas
da represa, carregando em si dias de felicidade, tristeza, medos e conquistas de
sua família. Por muitos anos seu sustento veio da terra, trabalhando de peão dias
a fio em diferentes localidades; seu sonho até hoje (mesmo aposentado e com 80
anos), diz ele, é ter seu próprio pedaço de terra para plantar – um sonho que
ainda mostra evidente por meio de sorrisos de garoto matreiro, os quais são
expressos todas as vezes em que toma o rumo do terreno de seus netos, para
plantar e colher tudo aquilo que lhe dá vontade. Conta ele que, naquele tempo,
acreditavam que a barragem do Rio Passo Fundo teria importância por cerca de
50 anos; ironicamente, hoje, 50 anos após seu aparecimento, a seca está se
apoderando de seus limites, comprometendo o turismo local, e, ao mesmo tempo,
trazendo aos poucos os resquícios de um passado de luta.
Homenagem a Adão José Apolinario, de seu neto
Eduardo Apolinario Fumagalli / junho de 2020.
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