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HEMORRAGIA DIGESTIVA - Departamento de Cirurgia e Anatomia

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<strong>HEMORRAGIA</strong> <strong>DIGESTIVA</strong><br />

José Sebastião dos Santos 1 , Ajith Kumar Sankarankutty 1 , Wilson Salgado Júnior 1 , José Luís<br />

Pimenta Mó<strong>de</strong>na 1 , Rafael Kemp 2 , Carlos Eduardo Dona<strong>de</strong>lli 2 , Orlando Castro-e-Silva 1.<br />

1- Professor da Divisão <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Digestiva do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong><br />

Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

2- Médico Assistente do Hospital das Clínicas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto da<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo lotado junto à Divisão <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong> Digestiva do <strong>Departamento</strong> <strong>de</strong> <strong>Cirurgia</strong><br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

INTRODUÇÃO: A hemorragia digestiva (HD) é um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> freqüente com<br />

formas <strong>de</strong> apresentação clínica diversificadas. A avaliação e as medidas iniciais frente ao<br />

paciente com HD <strong>de</strong>vem ser garantidas em todos os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do seu<br />

nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> tecnológica. Da mesma forma, todo médico, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da sua atuação<br />

especializada, tem a atribuição <strong>de</strong> manter a estabilida<strong>de</strong> clínica dos pacientes com HD até o<br />

acesso à avaliação e ao tratamento especializado.<br />

A HD origina-se, habitualmente, das vísceras ocas proximais (esôfago, estômago e<br />

duo<strong>de</strong>no) e distais (colon, reto e ânus). Todavia, excepcionalmente, outras partes do trato<br />

digestivo como o intestino <strong>de</strong>lgado e as vias biliares, incluindo vísceras maciças anexas como<br />

o fígado e o pâncreas po<strong>de</strong>m ser fontes hemorragia digestiva (HD).<br />

A incidência <strong>de</strong> HD é <strong>de</strong> aproximadamente 170 casos no ano para cada 100.000<br />

adultos e aumenta com a ida<strong>de</strong>. A HD acomete mais os homens e é responsável por cerca <strong>de</strong> 1<br />

a 2% das admissões hospitalares <strong>de</strong> urgência 1,2 . A avaliação da origem do sangramento e o<br />

tratamento da HD, nas suas distintas necessida<strong>de</strong>s, são multidisciplinares.<br />

A origem do sangramento no trato digestivo, se alta ou baixa, a sua natureza, se<br />

varicosa ou não, a velocida<strong>de</strong> das perdas sanguíneas e o perfil do doente são fatores que<br />

influenciam a adoção das medidas iniciais e <strong>de</strong>finitivas bem como a escolha da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> para avaliação e tratamento da HD.<br />

Nos sistemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços hierarquizados, a abordagem inicial para<br />

avaliação e estabilização dos pacientes po<strong>de</strong> ser feita em unida<strong>de</strong>s fixas ou móveis pré-<br />

hospitalares. Na seqüência, os casos com HD mo<strong>de</strong>rada ou grave <strong>de</strong>vem ser encaminhados<br />

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1


para serviços hospitalares <strong>de</strong> média e elevada complexida<strong>de</strong>. Esse processo po<strong>de</strong> envolver a<br />

participação <strong>de</strong> médicos que atuam na saú<strong>de</strong> da família, na urgência pré-hospitalar e<br />

hospitalar, na regulação, na gastroenterologia clínica, na endoscopia, na terapia intensiva, na<br />

radiologia intervencionista e na cirurgia digestiva.<br />

A origem do sangramento digestivo, em cerca <strong>de</strong> 80% dos casos é alta (localizada<br />

acima do ângulo duo<strong>de</strong>nojejunal- ângulo <strong>de</strong> Treitz). A úlcera péptica e as varizes<br />

esofagogástricas são as causas mais freqüentes. O sangramento digestivo baixo habitualmente<br />

se origina dos colons e as causas mais freqüentes são os divertículos e as lesões<br />

angiodisplásicas. O intestino <strong>de</strong>lgado é a origem da HD em menos <strong>de</strong> 5% dos casos. 1<br />

A HD cessa espontaneamente em cerca <strong>de</strong> 85% dos casos, o que permite, mediante<br />

avaliação criteriosa, a investigação em regime eletivo 1 . Aproximadamente 15% dos pacientes têm<br />

persistência do sangramento e requerem tratamento em hospitais terciários com equipes<br />

multidisciplinares. A intervenção cirúrgica se faz necessária em cerca <strong>de</strong> 5 a 10% dos casos. O<br />

<strong>de</strong>scompasso entre os avanços tecnológicos e a mortalida<strong>de</strong> na HD que ainda supera os 5% po<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>correr do aumento da ida<strong>de</strong> e da morbi<strong>de</strong>z da população tratada 1, 3, 4 .<br />

A HD po<strong>de</strong> se manifestar nas quatro formas clínicas que se seguem:<br />

I - Sangramento do trato digestivo alto que representa mais <strong>de</strong> 80% dos casos <strong>de</strong> HD 1 .<br />

Po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> origem não varicosa (geralmente <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> úlcera péptica) e varicosa<br />

(geralmente <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> varizes do esôfago).<br />

II-Sangramento do trato digestivo baixo: a maioria dos casos tem origem do colon e é<br />

causada por divertículo ou angiodisplasia 1 .<br />

III - Sangramento oculto: não há exteriorização clínica do sangramento e as queixas<br />

são relacionadas à anemia 5 .<br />

IV-Sangramento obscuro: o sangramento se exterioriza, é recorrente, mas a causa não<br />

é i<strong>de</strong>ntificável mediante os exames endoscópicos, habitualmente, empregados 5 .<br />

A <strong>de</strong>terminação do local do sangramento é importante para orientar o tratamento<br />

específico. Todavia, os esforços para localizar a origem da perda sanguínea não <strong>de</strong>vem<br />

prece<strong>de</strong>r as medidas <strong>de</strong> estabilização das funções vitais do paciente.<br />

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2


ABORDAGEM INICIAL – Todo estabelecimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve contar com profissionais e<br />

estrutura mínima para avaliação e adoção das medidas iniciais <strong>de</strong> estabilização das funções<br />

vitais afetadas pela HD. A abordagem do sangramento digestivo alto <strong>de</strong>ve ser orientada pelos<br />

princípios que se seguem 6 :<br />

• Avaliação clínica sumária e estabilização hemodinâmica<br />

• Avaliação da ativida<strong>de</strong> do sangramento<br />

• Diagnóstico e controle do sítio <strong>de</strong> sangramento<br />

• Prevenção da recorrência do sangramento<br />

A anamnese e o exame físico inicial <strong>de</strong>vem ser sumários e simultâneos com a<br />

caracterização da repercussão hemodinâmica, da duração, do local e da causa do sangramento.<br />

O paciente <strong>de</strong>ve permanecer <strong>de</strong>itado até que se obtenha a estabilida<strong>de</strong> hemodinâmica.<br />

HISTÓRIA CLÍNICA 5, 6 :<br />

Após avaliação da gravida<strong>de</strong> da HD e início da recomposição volêmica, a<br />

história clínica e o exame físico po<strong>de</strong>m auxiliar na i<strong>de</strong>ntificação do local do sangramento (se<br />

alto ou baixo), da etiologia e <strong>de</strong> condições mórbidas associadas que po<strong>de</strong>m estar relacionadas<br />

com o sangramento ou agravar a evolução do paciente. Os itens que se seguem <strong>de</strong>vem ser<br />

pesquisados:<br />

• Hematêmese, melena e hematoquezia são as manifestações mais<br />

freqüentes da HD aguda. Hematêmese é o vômito <strong>de</strong> sangue vermelho<br />

vivo ou escuro e geralmente indica HD alta. O sangramento nasal ou da<br />

faringe po<strong>de</strong>, raramente, cursar com hematêmese. A melena se refere a<br />

fezes pastosas <strong>de</strong> cor escura e cheiro fétido e também é sinal <strong>de</strong> HD<br />

alta. A melena resulta da ação do acido gástrico, <strong>de</strong> enzimas digestivas<br />

e bacterianas do intestino <strong>de</strong>lgado que convertem a hemoglobina em<br />

hematina. O sangramento do intestino <strong>de</strong>lgado distal e do colon direito<br />

po<strong>de</strong> também se manifestar como melena, se o trânsito digestivo estiver<br />

lento. Deve ser enfatizado que a ingestão <strong>de</strong> alcaçuz, chumbo, e ferro<br />

po<strong>de</strong> produzir fezes com as características <strong>de</strong> melena. A hematoquezia<br />

é a evacuação <strong>de</strong> sangue vermelho vivo misturado ou não com fezes e<br />

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EXAME FÍSICO 5,6 :<br />

em geral ocorre no sangramento <strong>de</strong> origem do colon distal. A HD alta<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> monta po<strong>de</strong> acelerar o trânsito intestinal e produzir<br />

hematoquezia.<br />

• Perdas crônicas e ocultas po<strong>de</strong>m produzir anemia com manifestações<br />

não digestivas (síncope, angina e mesmo infarto do miocárdio)<br />

• Antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> tabagismo (risco <strong>de</strong> doença péptica) e etilismo<br />

(gastrite e varizes <strong>de</strong> esôfago)<br />

• Uso <strong>de</strong> drogas (aspirina, esterói<strong>de</strong>s, anticoagulantes, antiinflamatórios)<br />

• Passado <strong>de</strong> cirurgia digestiva ou vascular (úlceras <strong>de</strong> boca<br />

anastomótica, fístulas enterovasculares)<br />

• Sintomas <strong>de</strong> doença péptica<br />

• Doenças associadas (doenças isquêmicas do coração e cérebro,<br />

diabetes, hipertensão doenças hematológicas e insuficiência renal)<br />

• Náuseas e vômitos (laceração esofagogástrica: Síndrome <strong>de</strong> Mallory-<br />

Weiss)<br />

• Anorexia e perda <strong>de</strong> peso (câncer)<br />

• Alteração do ritmo intestinal (constipação ou diarréia)<br />

• Sinais vitais: nível <strong>de</strong> consciência, padrão respiratório, freqüência <strong>de</strong><br />

pulso (FP), pressão arterial (PA), presença <strong>de</strong> sudorese, pali<strong>de</strong>z<br />

cutâneo-mucosa. A presença <strong>de</strong> obnubilação, agitação e hipotensão<br />

(pressão sístólica menor que 90 mmHg) associada a pali<strong>de</strong>z e<br />

extremida<strong>de</strong>s frias são indicativas <strong>de</strong> choque hemorrágico e sugerem<br />

perda <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 40% do volume <strong>de</strong> sangue. O teste <strong>de</strong> Green-<br />

Matheney consiste na verificação da PA e da FP com o paciente na<br />

posição supina e 3 minutos após estar sentado ou em posição ereta: -<br />

aumento na FP maior que 25 batimentos/minuto e/ou diminuição na<br />

PA <strong>de</strong> 15 mmHg são sugestivos <strong>de</strong> hemorragia grave. Alterações<br />

posturais <strong>de</strong> 10 mmHg na PA e freqüência <strong>de</strong> pulso acima <strong>de</strong> 120<br />

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5, 6<br />

MEDIDAS INICIAIS<br />

batimentos por minuto sugerem perdas volêmicas <strong>de</strong> 20 a 25%. Deve<br />

ser enfatizado que alguns pacientes com hemorragia grave po<strong>de</strong>m<br />

apresentar bradicardia por reflexo vagal e ainda, os idosos e os<br />

usuários <strong>de</strong> B-adrenérgicos po<strong>de</strong>m não apresentar alterações<br />

hemodinâmicas significativas com a perda <strong>de</strong> sangue.<br />

• Inspeção da pele para verificar a presença <strong>de</strong> icterícia (hepatopatia),<br />

equimoses (alterações da coagulação) e teleangiectasias<br />

• Presença <strong>de</strong> massas abdominais e ascite; evidência <strong>de</strong> hepatopatia<br />

(hepatomegalia, esplenomegalia, ginecomastia, aranhas vasculares,<br />

atrofia testicular)<br />

• Inspeção anal e toque retal para verificação da presença <strong>de</strong> massas,<br />

hemorróidas, estenoses, melena ou sangue vermelho vivo no reto.<br />

• Garantir a permeabilida<strong>de</strong> das vias aéreas e do padrão respiratório são<br />

as priorida<strong>de</strong>s<br />

• Punção venosa periférica com “abocath”calibroso no membro superior<br />

(Fig 1).Logo após a coleta <strong>de</strong> sangue, inicia-se a infusão <strong>de</strong> solução<br />

isotônica (sôro fisiológico ou Ringer lactato). O volume <strong>de</strong> fluídos a<br />

ser infundido <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da perda estimada <strong>de</strong> sangue (tabela 1), da<br />

condição clínica e história <strong>de</strong> doença cardiovascular incluindo<br />

insuficiência cardíaca congestiva.<br />

• Tipagem sanguínea e prova cruzada para 2 a 8 bolsas <strong>de</strong> papa <strong>de</strong><br />

hemáceas, na <strong>de</strong>pendência das perdas estimadas e da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transfusão.<br />

• Avaliação da hemoglobina (Hb) e do hematócrito (Ht). Esses valores<br />

não são representativos das perdas sanguíneas no início da hemorragia.<br />

O valor inicial do Ht po<strong>de</strong> ser enganoso no sangramento agudo, pois<br />

em função da perda igual <strong>de</strong> plasma e hemácias, o percentual <strong>de</strong><br />

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hemácias não se modifica no volume do plasma. Após 24 a 72 horas,<br />

com o reabastecimento do espaço intravascular, pelo equilíbrio que se<br />

estabelece com o extravascular e pelo acréscimo dos líquidos<br />

infundidos, o valor do Ht reduz-se. O Ht reduz-se aproximadamente 2<br />

ou 3 pontos e a Hb 1 ponto para cada 500 mililitros <strong>de</strong> sangue perdido.<br />

O objetivo é manter o Ht igual ou maior que 30 nos idosos e igual ou<br />

maior que 20 nos jovens saudáveis<br />

• Dosagem <strong>de</strong> uréia e creatinina: a elevação da uréia po<strong>de</strong> indicar a<br />

gravida<strong>de</strong> do sangramento; a relação uréia/creatinina maior que 36 e<br />

sugestivo <strong>de</strong> sangramento gastrintestinal alto.<br />

• Tempo <strong>de</strong> protronmbina (Internacional Normalized Ratio-INR), tempo<br />

parcial <strong>de</strong> tromboplastina e plaquetas auxiliam no diagnóstico dos<br />

distúrbios hematológicos e <strong>de</strong>vem ser solicitados antes da realização <strong>de</strong><br />

procedimentos invasivos <strong>de</strong> natureza endoscópica, cirúrgica e<br />

radiológica. Pacientes com INR>1,5 <strong>de</strong>vem receber transfusão <strong>de</strong><br />

plasma fresco e aqueles com contagem <strong>de</strong> plaquetas (< 50.000) <strong>de</strong>vem<br />

receber transfusão <strong>de</strong> plaquetas.<br />

• Na <strong>de</strong>pendência da condição do paciente, a dosagem <strong>de</strong> eletrólitos, os<br />

testes <strong>de</strong> função hepática, a glicemia e a contagem <strong>de</strong> glóbulos brancos<br />

<strong>de</strong>vem ser solicitados.<br />

• Eletrocardiograma: para excluir infarto do miocárdio secundário à<br />

anemia grave.<br />

• Sondagem nasogástrica (Fig 1):: recomendada para pacientes com<br />

suspeita <strong>de</strong> sangramento alto, que não apresentam hematêmese ou têm<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso à endoscopia. O aspirado do conteúdo gástrico<br />

po<strong>de</strong> auxiliar no diagnóstico da origem e da ativida<strong>de</strong> do sangramento.<br />

• Acesso venoso central por meio <strong>de</strong> punção da jugular interna (Fig 1):<br />

para auxiliar a reposição volêmica e proporcionar a verificação<br />

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periódica da pressão venosa (PVC) nos casos <strong>de</strong> sangramento ativo<br />

e/ou instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica<br />

• Colocação <strong>de</strong> cateter vesical (Fig 1): nos pacientes com choque<br />

hipovolêmico, para monitorar a resposta da reposição <strong>de</strong> fluídos por<br />

meio da perfusão renal.<br />

Após a estabilização do paciente, a anamnese e o exame físico são<br />

complementados , busca-se o diagnóstico, e se houver indicação, segue-se a hemostasia<br />

endoscópica.<br />

Fig 1: Abordagem inicial <strong>de</strong> paciente com hemorragia digestiva. Após<br />

passagem <strong>de</strong> sonda nasogástrica e aspiração do conteúdo gástrico verifica-se o retorno <strong>de</strong><br />

sangue vivo (A). Punção venosa periférica com “abocath”calibroso no membro superior para<br />

infusão <strong>de</strong> solução isotônica(B) Colocação <strong>de</strong> cateter vesical para monitorar a resposta da<br />

reposição <strong>de</strong> fluído (C). Acesso venoso central por meio <strong>de</strong> punção da jugular interna (D)<br />

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ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO. Nem todo caso <strong>de</strong> HD requer admissão hospitalar ou<br />

avaliação <strong>de</strong> urgência. Um paciente com sangramento retal <strong>de</strong> pequena monta po<strong>de</strong> ser tratado<br />

em serviços não hospitalares. Alguns pacientes com HD branda, após admissão, tratamento<br />

clínico, observação e interrupção da hemorragia po<strong>de</strong>m ser avaliados por meio <strong>de</strong> endoscopia<br />

em condições eletivas. Vários fatores prognósticos estão associados à evolução <strong>de</strong>sfavorável,<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento cirúrgico e óbito 6 e po<strong>de</strong>m orientar na seleção do local mais<br />

a<strong>de</strong>quado para o tratamento (Quadro 1).<br />

QUADRO 1 FATORES DE RISCO PARA MORBIDEZ E<br />

MORTALIDADE NA <strong>HEMORRAGIA</strong> <strong>DIGESTIVA</strong> AGUDA<br />

- ida<strong>de</strong> > 60 anos<br />

- comorbi<strong>de</strong>z<br />

• Falência renal<br />

• hepatopatia<br />

• Insuficiência respiratória<br />

• Cardiopatia<br />

Magnitu<strong>de</strong> da hemorragia<br />

• Pressão sanguínea sistólica< 100 mmHg, na admissão<br />

• Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusão<br />

- Hemorragia persistente ou recorrente<br />

- Início da hemorragia durante a hospitalização<br />

- necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento cirúrgico<br />

A análise conjunta <strong>de</strong> dados do exame físico e dos exames laboratoriais oferece<br />

subsídios para avaliar a magnitu<strong>de</strong> da HD e assim classificar <strong>de</strong> forma padronizada a<br />

gravida<strong>de</strong> do sangramento 6 (Tabela 1).<br />

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Tabela 1 – Gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hemorragia<br />

Hemorragia<br />

FP<br />

(bat/min)<br />

PA sistólica<br />

(mmHg)<br />

PARÂMETROS<br />

GV (nº/mm 3 )<br />

Hb<br />

(g%)<br />

Ht<br />

(%)<br />

Maciça > 110 < 80 < 2.500.000 < 8 < 20<br />

Mo<strong>de</strong>rada 100 – 110 80 – 110 2.500.000 – 3.5000.000 8 – 11 20 – 30<br />

Branda < 100 > 100 > 3.500.000 > 11 > 30<br />

Inaparente Sem alteração hemodinâmica<br />

ATIVIDADE DO SANGRAMENTO - Sangue vivo, na forma <strong>de</strong> hamatênese ou<br />

através do reto (enterorragia) é indicação <strong>de</strong> sangramento ativo. O risco <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong><br />

aumenta 2 a 3 vezes se houver sangramento ativo, durante a admissão do paciente no hospital,<br />

o que traduz nessa situação, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar o ritmo da avaliação e da intervenção<br />

terapêutica urgente.<br />

O aspirado do estômago por sonda nasogástrica constitui parâmetro útil <strong>de</strong><br />

avaliação simples e rápida da ativida<strong>de</strong> do sangramento, se bem que po<strong>de</strong> ser negativo nas<br />

úlceras duo<strong>de</strong>nais sangrantes, se não houver refluxo <strong>de</strong> sangue para o estômago. A<br />

mortalida<strong>de</strong> está correlacionada com o aspecto do aspirado gástrico, <strong>de</strong> 6% nos pacientes com<br />

aspirado claro, <strong>de</strong> 10% com o aspecto <strong>de</strong> “borra <strong>de</strong> café”, <strong>de</strong> 18% com sangue vermelho<br />

(6) .<br />

rutilante<br />

RECOMPOSIÇÃO DAS FUNÇÕES VITAIS 5, 6 - A hipóxia e a hipovolemia com<br />

má-perfusão são os eventos da HD que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam a insuficiência <strong>de</strong> múltiplos órgãos e<br />

suas complicações. Trata-se da principal causa <strong>de</strong> óbito na HD e, portanto relacionada com a<br />

reposição ina<strong>de</strong>quada das perdas sanguíneas. Os pacientes com HD grave <strong>de</strong>vem ser tratados<br />

nas salas <strong>de</strong> estabilização clínica ou em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> terapia intensiva. A intubação e a<br />

ventilação <strong>de</strong>vem ser iniciadas precocemente frente à <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> qualquer comprometimento<br />

respiratório. Em pacientes com instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica, o acesso a duas veias periféricas,<br />

<strong>de</strong> grosso calibre, nos membros superiores <strong>de</strong>ve ser obtido. Logo após a punção faz-se a<br />

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coleta <strong>de</strong> sangue para as <strong>de</strong>terminações laboratoriais <strong>de</strong> urgência e infun<strong>de</strong>m-se expansores do<br />

plasma, conforme a situação. Os pacientes instáveis po<strong>de</strong>m receber dois litros <strong>de</strong> solução<br />

cristalói<strong>de</strong> em bolus. (soro fisiológico ou Ringer lactato), enquanto se <strong>de</strong>fine a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

transfusão <strong>de</strong> sangue.<br />

O rítimo <strong>de</strong> infusão <strong>de</strong> líquidos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> das condições <strong>de</strong> cada paciente e da<br />

resposta frente ao primeiro litro administrado. A PVC é importante na avaliação da resposta<br />

ao tratamento <strong>de</strong> reposição das perdas, principalmente nos idosos que têm antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

infarto do miocárdio, nos pacientes que apresentam dor torácica simultânea à HD, nos<br />

pneumopatas e nefropatas.<br />

A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> se fazer a reposição <strong>de</strong> componentes e/ou <strong>de</strong>rivados do sangue<br />

(concentrado <strong>de</strong> hemácias, <strong>de</strong> plaquetas e plasma fresco congelado e fatores específicos da<br />

coagulação) <strong>de</strong>ve ser individualizada, com base no sangramento adicional previsto, na<br />

estabilida<strong>de</strong> hemodinâmica, nos <strong>de</strong>feitos da coagulação e nas condições subjacentes.<br />

A transfusão <strong>de</strong> concentrado <strong>de</strong> hemácias, quando indicada, <strong>de</strong>ve ser feita <strong>de</strong><br />

modo a manter a PA em níveis normais e o Ht acima <strong>de</strong> 30% nos idosos e acima <strong>de</strong> 20 nos<br />

jovens. A transfusão <strong>de</strong> plasma fresco congelado para corrigir eventuais <strong>de</strong>ficiências <strong>de</strong><br />

fatores <strong>de</strong> coagulação é indicada após reposições maiores que 4 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> concentrado <strong>de</strong><br />

hemáceas e mais precocemente em cirróticos.<br />

O controle do sangramento e da resposta à terapêutica transfusional é feito<br />

basicamente pelas <strong>de</strong>terminações periódicas <strong>de</strong> P, PA, PVC, Ht e débito urinário. O débito<br />

urinário e a PVC são bons indicadores das condições volêmicas e servem <strong>de</strong> guia para a<br />

infusão <strong>de</strong> líquidos. A PVC é um parâmetro sensível das alterações do volume sangüíneo; é<br />

notadamente útil na avaliação da resposta ao tratamento <strong>de</strong> reposição sangüínea e no<br />

diagnóstico precoce da recidiva hemorrágica.<br />

DIAGNÓSTICO DA FONTE DE SANGRAMENTO - O diagnóstico da causa e do local<br />

do sangramento, geralmente, é feito pela endoscopia digestiva alta ou baixa, pois é um exame<br />

que fornece dados para terapêutica mais racional e específica.<br />

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No sangramento oculto, on<strong>de</strong> as queixas são relacionadas somente à anemia e<br />

não há manifestações digestivas, faz-se, na atenção básica, a pesquisa <strong>de</strong> sangue oculto nas<br />

fezes. Em caso positivo, no nosso meio, realiza-se inicialmente a endoscopia digestiva alta<br />

dada a prevalência do câncer gástrico; na ausência <strong>de</strong> lesão alta proce<strong>de</strong>-se a colonoscopia.<br />

Os casos que se apresentam com hematêmese, sem náusea e com estabilida<strong>de</strong><br />

clínica, a sondagem nasogástrica po<strong>de</strong> ser dispensada e proce<strong>de</strong>-se a realização da endoscopia<br />

digestiva alta. Nas <strong>de</strong>mais circunstâncias, on<strong>de</strong> há hematêmese <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> monta, melena e<br />

hematoquezia faz-se a sondagem nasogástrica. O aspirado po<strong>de</strong> auxiliar na <strong>de</strong>finição da altura<br />

do sangramento e orientar a seqüência <strong>de</strong> investigação endoscópica, além <strong>de</strong> manter o<br />

estômago livre <strong>de</strong> coágulos e facilitar o exame (Fig 2). Deve ser enfatizado que cerca <strong>de</strong> 20%<br />

dos pacienntes com aspirado negativo po<strong>de</strong> ter sangramento digestivo alto. Em pacientes com<br />

melena e ou hematoquezia por úlcera duo<strong>de</strong>nal e piloro competente não há refluxo. Desta<br />

forma, nos casos <strong>de</strong> hemorragia grave, mesmo com aspirado gástrico negativo recomenda-se a<br />

realização <strong>de</strong> endoscopia digestiva alta 2, 5 .<br />

A endoscopia é, geralmente, o primeiro e o único exame a ser feito para o<br />

diagnóstico da fonte <strong>de</strong> sangramento na maioria dos casos <strong>de</strong> HD e <strong>de</strong>ve ser realizada, <strong>de</strong><br />

preferência, após a reposição volêmica e a estabilização clínica inicial. A endoscopia<br />

realizada nas primeiras 12 a 24 horas após o sangramento aumenta a probabilida<strong>de</strong> do<br />

diagnóstico <strong>de</strong> certeza da causa e da se<strong>de</strong> da hemorragia, reduz as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transfusão,<br />

cirurgia e internação hospitalar 5 .<br />

A endoscopia <strong>de</strong> urgência é feita quando há suspeita <strong>de</strong> fonte varicosa da<br />

hemorragia, ou sangramento ativo, manifestado por hematênese, aspirado gástrico <strong>de</strong> sangue<br />

vermelho rutilante ou ainda se houve gran<strong>de</strong> sangramento, que cessou, mas, tornou necessária<br />

transfusão igual ou maior que 3 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sangue. Para os pequenos sangramentos, com<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusão <strong>de</strong> 2 unida<strong>de</strong>s ou menos <strong>de</strong> sangue e que já cessaram, a avaliação<br />

endoscópica po<strong>de</strong> ser eletiva.<br />

O exame endoscópico nos pacientes com choque circulatório e agitação po<strong>de</strong><br />

ser feito mediante manutenção do tratamento do choque, proteção das vias aéreas e suporte<br />

respiratório.<br />

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maciça alta ou baixa (Fig 2).<br />

A angiografia e a cirurgia po<strong>de</strong>m ser necessárias diante dos casos <strong>de</strong> HD<br />

Fig 2 Fluxograma para abordagem da hemorragia digestiva<br />

ECG: eletrocardiograma; SNG: sonda nasogástrica<br />

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Tratamento – Há uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opções terapêuticas para HD em função das diversas<br />

etiologias possíveis. Os tratamentos farmacológicos, endoscópicos e cirúrgicos são mais<br />

específicos. As técnicas angiográficas incluem o cateterismo seletivo com infusão <strong>de</strong> agentes<br />

vasoconstrictores e a embolização.<br />

A HD é autolimitada, na maioria das vezes, e o tratamento se restringe à<br />

prevenção da recorrência do sangramento. O sangramento ativo excepcionalmente intenso,<br />

persistente ou recorrente ocorre em cerca <strong>de</strong> 15% dos casos. Há situações, felizmente raras,<br />

em que a hemorragia profusa é <strong>de</strong> tal vulto que o paciente <strong>de</strong>ve ir sem <strong>de</strong>mora para a sala <strong>de</strong><br />

operação, on<strong>de</strong> a própria endoscopia, se disponível, po<strong>de</strong> ser realizada sob anestesia geral,<br />

prece<strong>de</strong>ndo a cirurgia. Nestas condições, o exame endoscópico fornece informações que<br />

auxiliam o planejamento da cirurgia, e reduzem o tempo operatório.<br />

Tratamento da HD Alta. Cerca <strong>de</strong> 80% das HD são <strong>de</strong> origem alta. A HD alta po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong><br />

origem não varicosa (cerca <strong>de</strong> 80% dos casos), on<strong>de</strong> as causas mais freqüentes são as úlceras<br />

duo<strong>de</strong>nal e gástrica e varicosas (cerca <strong>de</strong> 20% dos casos) causadas pelas varizes esôfago-<br />

gástricas que aparecem, principalmente, nos pacientes cirróticos 5 . As neoplasias digestivas<br />

são causas menos freqüentes <strong>de</strong> sangramento. (tabela 2)<br />

Em geral 20 a 35% dos pacientes submetidos a endoscopia digestiva alta<br />

requerem terapêutica endoscópica e 5 a 10% necessitarão <strong>de</strong> cirurgia 8 . A origem do<br />

sangramento na HD alta grave não é estabelecida em cerca <strong>de</strong> 1 a 2% dos casos 9 e a<br />

angiografia nos pacientes estáveis po<strong>de</strong> ser o próximo passo, assim como a cirurgia nos casos<br />

<strong>de</strong> choque circulatório sem resposta às medidas clínicas.<br />

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13


Tabela 2: Causas mais freqüentes <strong>de</strong> HD alta<br />

Natureza do Sangramento<br />

Não Varicoso 80% Varicoso 20%<br />

Úlcera péptica 30 – 50% Varizes esofagogástricas 9%<br />

Mallory Weiss 15 – 20% Gastropatia Hipertensiva < 5%<br />

Gastrite / Duo<strong>de</strong>nite 10 – 15% Varizes gástricas Raro<br />

Esofagite 5 – 10%<br />

Malformações arteriovenosas 5%<br />

Tumores 2%<br />

Outros 5%<br />

Adaptado <strong>de</strong> Ferguson CB, Mitchel RM. Nonvariceal upper gastrointestinal bleeding: Standard and new<br />

treatment: Gastroenterol Clin.North Am34: 607-621, 2005<br />

TRATAMENTO DA HD POR ÚLCERA PÉPTICA: As úlceras pépticas<br />

complicam-se com sangramento em cerca <strong>de</strong> 15% dos casos, e representam aproximadamente<br />

40% das HD altas 2 . A hemorragia mais grave ocorre quando a úlcera duo<strong>de</strong>nal atinge ramos<br />

da artéria gastroduo<strong>de</strong>nal e a úlcera gástrica compromete ramos da artéria gástrica esquerda.<br />

A abordagem terapêutica (Fig 3) é orientada pelos estigmas endoscópicos das<br />

lesões sangrantes i<strong>de</strong>ntificadas à endoscopia e agrupadas em categorias, que permitem prever<br />

as úlceras com maior risco <strong>de</strong> um novo sangramento (11) (Tabela 3)<br />

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14


Não<br />

Pesquisa p/<br />

H.pylori<br />

Tratar IBP<br />

Repetir endoscopia<br />

p/ úlcera gástrica<br />

Não<br />

Endoscopia digestiva alta confirma<br />

úlcera péptica sangrante<br />

Achados endoscópicos: Forest<br />

Ia, Ib, Iia, IIb<br />

Sim<br />

Terapia<br />

endoscópica<br />

Sangramento persistente<br />

Não<br />

Monitoramento<br />

Ressangramento<br />

Repetir<br />

terapia<br />

endoscópica<br />

Sangramento persistente ?<br />

Monitorar<br />

Ressangramento<br />

Sim<br />

Sim<br />

<strong>Cirurgia</strong><br />

Fig 3: Fluxograma para diagnostico e abordagem terapêutica do sangramento digestivo alto<br />

não varicoso. IBP: inibidores s da bomba <strong>de</strong> prótons<br />

O sangramento ativo ou presença <strong>de</strong> vaso visível são estigmas endoscópicos<br />

associados a alto risco <strong>de</strong> ressangramento e justificam terapêutica endoscópica Fig 4. Por<br />

outro lado, há outros fatores potencialmente importantes, que não raramente <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser<br />

a<strong>de</strong>quadamente valorizados, como doenças associadas, uso <strong>de</strong> medicamentos, coagulapatia e<br />

localização da úlcera.<br />

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15


Tabela 3 – Risco <strong>de</strong> novo sangramento, com base na classificação <strong>de</strong> Forrest dos achados<br />

endoscópicos<br />

Tipo <strong>de</strong> sangramento Forrest Risco <strong>de</strong> novo<br />

16<br />

sangramento (%)<br />

Sangramento ativo Ia (em jato) 100<br />

Ib (em gotejamento) 20 – 30<br />

Sangramento recente IIa (vaso visível) 50<br />

IIb (coágulo sangüíneo a<strong>de</strong>rido) 5 - 10<br />

Sem sangramento III (base limpa) 0 - 1<br />

A hemostasia endoscópica representa um gran<strong>de</strong> avanço terapêutico da úlcera<br />

péptica sangrante. A combinação da terapia térmica e <strong>de</strong> injeção <strong>de</strong> substâncias obtém a<br />

hemostasia em cerca <strong>de</strong> 90% dos casos.<br />

Fig 4 - Classificação <strong>de</strong> Forrest: A - Forrest Ia: sangramento ativo pulsátil; B - Forrest Ib: sangramento ativo<br />

não pulsátil; C - Forrest IIa: vaso visível não sangrante; D - Forrest IIb: coágulo a<strong>de</strong>rido; E - Forrest IIc: úlcera<br />

com fibrina e hematina; F - Forrest III: úlcera com fundo limpo.<br />

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Os benefícios da terapêutica endoscópica das úlceras pépticas sangrantes, com<br />

redução na taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> hospitalar, são evi<strong>de</strong>ntes apenas em pacientes com estigmas<br />

endoscópicas <strong>de</strong> sangramento ativo ou vaso visível não sangrante; pacientes com outros<br />

achados endoscópicos não se beneficiam <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> tratamento. No ressangramento, o<br />

paciente po<strong>de</strong> ser submetido a outro tratamento endoscópico e há relato <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> 75%<br />

dos casos 13 . O tratamento com inibidor da bomba <strong>de</strong> prótons <strong>de</strong>ve ser iniciado na admissão,<br />

assim como a eliminação do Helicobacter pylori, pois são medidas que reduzem a recorrência<br />

do sangramento.<br />

A indicação <strong>de</strong> tratamento cirúrgico da úlcera hemorrágica ocorre em cerca <strong>de</strong><br />

10% dos casos, sobretudo frente ao sangramento maciço e contínuo <strong>de</strong> úlceras gran<strong>de</strong>s com<br />

mais <strong>de</strong> 2 cm <strong>de</strong> diâmetro e presença <strong>de</strong> estigmas endoscópicos.<br />

QUADRO 2 INDICAÇÕES DE CIRURGIA NA <strong>HEMORRAGIA</strong><br />

<strong>DIGESTIVA</strong> AGUDA<br />

- Instabilida<strong>de</strong> hemodinâmica após tratamento vigoroso (> 6 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

transfusão)<br />

- Falha do tratamento endoscópico<br />

- Recorrência da hemorragia após duas tentativas <strong>de</strong> tratamento<br />

endoscópico<br />

- Choque associado com hemorragia recorrente<br />

- Sangramento contínuo com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusão <strong>de</strong> 3 unida<strong>de</strong>s/dia<br />

A operação mais empregada para o tratamento da úlcera péptica duo<strong>de</strong>nal<br />

hemorrágica é a piloroduo<strong>de</strong>notomia anterior seguida <strong>de</strong> sutura do vaso sangrante (ramo ou a<br />

própria artéria gastroduo<strong>de</strong>nal), localizado habitualmente na base <strong>de</strong> úlcera da pare<strong>de</strong><br />

posterior do duo<strong>de</strong>no. O procedimento <strong>de</strong>ve ser acrescentado <strong>de</strong> vagotomia troncular, seletiva<br />

ou superseletiva, que em função da or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> duração é selecionado em função das<br />

condições clínicas do doente. Para o tratamento cirúrgico das úlceras gástricas sangrantes<br />

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indica-se a excisão ou sutura do vaso com biópsia; esse procedimento po<strong>de</strong> ser acrescentado<br />

<strong>de</strong> vagotomia mais piloroplastia. As ressecções gástricas tanto para a úlcera duo<strong>de</strong>nal quanto<br />

gástrica são alternativas para pacientes com boas condições clínicas.<br />

TRATAMENTO DAS LESÕES AGUDAS EM MUCOSA<br />

GASTRODUODENAL 5,6 : As lesões agudas <strong>de</strong> mucosa gastroduo<strong>de</strong>nal (LAMGD) são<br />

erosões superficiais e geralmente difusas, capazes <strong>de</strong> produzir hemorragia gástrica e/ou<br />

duo<strong>de</strong>nal maciça. A LAMGD está associada geralmente a condições predisponentes como o<br />

estresse fisiológico, com lesão provocada pelo ácido e pela pepsina no contexto da isquemia e<br />

hipoperfusão. As lesões provocadas pelo emprego <strong>de</strong> agentes antiinflamatórios não-esterói<strong>de</strong>s<br />

(AINES), ingestão <strong>de</strong> álcool e hipertensão portal são semelhantes.<br />

O estresse fisiológico, como causa da LAMGD, acompanha os gran<strong>de</strong>s<br />

traumatismos, as queimaduras (úlceras <strong>de</strong> Curling), a sepse, o choque circulatório, as lesões<br />

neurológicas graves (úlceras <strong>de</strong> Cushing), a insuficiência renal, ou outras doenças graves que<br />

tornam necessária a internação em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia intensiva. A principal conduta para o<br />

controle das LAMGD é a prevenção. No entanto, uma vez <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada, a hemorragia por<br />

LAMGD é tratada tanto com medidas <strong>de</strong> suporte ao paciente, quanto com medidas dirigidas à<br />

cicatrização do dano mucoso. A maioria da HDA por LAMGD, resolve-se espontaneamente.<br />

De maneira geral, o tratamento conservador da LAMGD é semelhante ao da<br />

úlcera péptica. Os pacientes com LAMGD, entretanto, constituem um <strong>de</strong>safio em <strong>de</strong>corrência<br />

<strong>de</strong> suas doenças subjacentes e do potencial para sangramento difuso.<br />

A terapêutica conservadora medicamentosa para a LAMGD envolve o<br />

tratamento da causa ou da doença subjacente, a redução a<strong>de</strong>quada da aci<strong>de</strong>z gástrica,<br />

mediante administração <strong>de</strong> inibidores da bomba <strong>de</strong> prótons, e a proteção da mucosa com<br />

sucralfato. Na falha <strong>de</strong>sta terapêutica a administração <strong>de</strong> octreotida ou vasopresina<br />

seletivamente através da artéria gástrica esquerda, a terapia endoscópica ou mesmo a<br />

angiografia com embolização são as alternativas.<br />

Quando se faz o diagnóstico endoscópico po<strong>de</strong>-se seguir com a terapia por essa<br />

via se o local <strong>de</strong> sangramento é <strong>de</strong>finido precisamente; a endoscopia terapêutica po<strong>de</strong> ser<br />

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eficaz no estancamento da hemorragia se são poucos os pontos <strong>de</strong> sangramento. Todavia,<br />

levando-se em conta que po<strong>de</strong> haver múltiplos locais <strong>de</strong> sangramento ou uma friabilida<strong>de</strong><br />

difusa da mucosa, com hemorragia em “lençol”, o endoscopista po<strong>de</strong>rá ser incapaz <strong>de</strong><br />

controlar o sangramento.<br />

Ocasionalmente, quando a hemorragia é profusa e persistente apesar do<br />

tratamento conservador, a cirurgia é a única alternativa É difícil formular estratégia precisa<br />

para tratamento operatório <strong>de</strong>finitivo, mas é preferível a seleção individualizada do tipo <strong>de</strong><br />

cirurgia. Para lesões agudas da mucosa duo<strong>de</strong>nal indica-se, principalmente, vagotomia e<br />

ploroplastia. Para lesões agudas <strong>de</strong> mucosa gástrica, alguns advogam a ressecção da área<br />

sangrante com anastomose gastroduo<strong>de</strong>nal; outros preferem vagotomia, em associação com<br />

piloroplastia ou com antrectomia.<br />

Há ainda, os que indicam a gastrectomia quase total ou gastrectomia total que,<br />

na verda<strong>de</strong>, é o único tratamento isento <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recidiva hemorrágica por lesão<br />

aguda da mucosa. Embora pareça paradoxal, a gastrectomia total esta indicada,<br />

particularmente, nos pacientes <strong>de</strong> risco maior, dada a baixa tolerância <strong>de</strong> eventual recidiva<br />

hemorrágica após ressecção parcial.<br />

TRATAMENTO DA SÍNDROME DE MALLORY-WEIS: Consiste em<br />

laceração longitudinal da mucosa gástrica junto à cardia ou da junção gastroesofágica<br />

induzida por náuseas violentas ou vômitos; a laceração po<strong>de</strong> ocorrer, também,<br />

circunferencialmente na cárdia, na extensão <strong>de</strong> 0,3 a 4cm. A síndrome <strong>de</strong> Mallory-Weiss<br />

correspon<strong>de</strong> a 5 a 15% das HDA 2 . A apresentação clássica é a <strong>de</strong> náuseas intensas e vômitos<br />

repetidos, seguidos <strong>de</strong> hematêmese precedidas <strong>de</strong> ingestão alcoólica.<br />

Admite-se, em geral, que as lacerações são resultantes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s gradientes<br />

transitórios entre as pressões intragástrica e intratorácica na junção gastroesofágica, em<br />

<strong>de</strong>corrência do esforço do vômito.<br />

O tratamento <strong>de</strong> manutenção geralmente é suficiente e, em cerca <strong>de</strong> 90% dos<br />

casos, o sangramento cessa espontaneamente. A quase totalida<strong>de</strong> dos pacientes po<strong>de</strong> ser<br />

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controlada pelo tratamento conservador incluindo o endoscópico, sem cirurgia. Quando essas<br />

medidas falham o tratamento cirúrgico consiste <strong>de</strong> gastrotomia alta e sutura da laceração.<br />

TRATAMENTO DA HD VARIZES DE ESÔFAGO: A HD relacionada à<br />

hipertensão portal frequentemente resulta do sangramento das varizes Fig.5. As veias<br />

dilatadas da submucosa do esôfago e estômago representam um caminho para aliviar a<br />

hipertensão do sistema porta na circulação venosa sistêmica. A abordagem terapêutica e a<br />

<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> prognóstico dos pacientes que sangram por varizes <strong>de</strong> esôfago ou <strong>de</strong> estômago<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da causa da hipertensão portal. Na doença resultante <strong>de</strong> hiperfluxo por fístula entre<br />

artéria e veia esplênica e do bloqueio pré-hepático do sangue portal, a função hepática é<br />

geralmente normal e o prognóstico é bem melhor do que na cirrose hepática.<br />

No bloqueio intra-hepático, a diferenciação diagnóstica entre cirrose e<br />

esquistossomose também é muito importante. O diagnóstico endoscópico da causa e do local<br />

do sangramento é indispensável mesmo em pacientes sabidamente portadores <strong>de</strong> varizes<br />

esofágicas, particularmente nos cirróticos, on<strong>de</strong> aproximadamente meta<strong>de</strong> dos casos sangra<br />

por outra lesão que não as varizes. De maneira geral, na esquistossomose são as varizes que<br />

sangram, há resposta do tratamento conservador e boa tolerância ao tratamento cirúrgico,<br />

quando indicado.<br />

Fig 5: A - esôfago normal; B - varizes esofágicas <strong>de</strong> médio calibre; C - varizes esofágicas <strong>de</strong> grosso calibre.<br />

A HD alta <strong>de</strong> origem varicosa, na comparação com a não varicosa é associada<br />

com aumento do risco <strong>de</strong> ressangramento, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transfusão, aumento da<br />

permanência hospitalar e mortalida<strong>de</strong>. Apesar da melhoria dos recursos terapêuticos, a taxa <strong>de</strong><br />

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mortalida<strong>de</strong> nas 6 semanas subseqüentes ao primeiro episódio <strong>de</strong> sangramento, na cirrose, é<br />

<strong>de</strong> aproximadamente 20% 14. Os fundamentos para tratamento da HD <strong>de</strong>corrente da<br />

hipertensão portal estão <strong>de</strong>stacados na Fig 6.<br />

Fig 6: Fluxograma para diagnóstico e abordagem da HD causada por hipertensão portal:<br />

TIPS: <strong>de</strong>rivação portosistêmica intra-hepática transjugular, do inglês transjugular<br />

intrahepatic potosistemic shunt<br />

A recomposição volêmica na HD por varizes é imperativa, mas exige cautela<br />

porque esses pacientes frequentemente apresentam hiperaldosteronismo com retenção <strong>de</strong><br />

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fluido e ascite. Assim a reposição <strong>de</strong>ve ser monitorada pela PVC e a admissão precoce na<br />

terapia intensiva <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada nas perdas graves.. Nos esquistossomóticos,<br />

sangramentos brandos po<strong>de</strong>m ser compensados com concentrado <strong>de</strong> glóbulos vermelhos e<br />

soluções cristalói<strong>de</strong>s balanceadas; sangramentos maiores requerem transfusão <strong>de</strong> concentrado<br />

<strong>de</strong> hemácias, eventualmente complementada com a <strong>de</strong> plasma e plaquetas.<br />

Nos cirróticos, os <strong>de</strong>feitos da coagulação são freqüentes e precisam ser tratados<br />

com vigor. Recomenda-se transfusão <strong>de</strong> concentrado <strong>de</strong> hemácias e plasma fresco com fatores<br />

ativos <strong>de</strong> coagulação, e se necessário plaquetas.<br />

A maioria dos pacientes cirróticos com HD <strong>de</strong>corrente das varizes apresenta<br />

infecção subjacente, o que po<strong>de</strong> agravar a hipertensão portal. Desta forma, na admissão os<br />

pacientes <strong>de</strong>vem receber antibiótico <strong>de</strong> largo espectro que se esten<strong>de</strong> por uma semana. A<br />

administração <strong>de</strong> quinolona, nesse esquema, reduz em cerca <strong>de</strong> 50% a taxa <strong>de</strong><br />

ressangramento 15 .<br />

A administração <strong>de</strong> agentes vasoconstritores como a terlipressina em bolus <strong>de</strong><br />

1 a 2 mg a cada 4 ou 6 horas intravenoso, mais somatostatina ou seu análogo sintético<br />

(octreotida) reduzem as taxas <strong>de</strong> resangramento precoce em função da redução do fluxo<br />

sangüíneo esplâncnico e consequentemente da pressão portal 16 . O controle temporário do<br />

sangramento por meio <strong>de</strong>sses agentes permite a recomposição volêmica, a investigação<br />

diagnóstica e a abordagem terapêutica.<br />

A endoscopia, além dos fins diagnósticos possibilita a injeção transendoscópica<br />

<strong>de</strong> agentes esclerosantes, intra ou peri vascular, é técnica que po<strong>de</strong> ser utilizada no tratamento<br />

das varizes sangrantes, tão logo sejam reconhecidas ao exame endoscópico. O método não é<br />

isento <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong>; o estancamento inicial o sangramento é bem sucedido<br />

em 80 a 90% dos casos 2 . Após a sessão <strong>de</strong> escleroterapia inicial para controlar o sangramento<br />

agudo, recomenda-se a repetição <strong>de</strong>stinada à obliteração das varizes esofágicas.<br />

A ligadura endoscópica das varizes que, em princípio, é semelhante à<br />

bandagem elástica das hemorróidas internas, é pelo menos tão eficaz quando a esclerose<br />

endoscópica..<br />

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O Balão <strong>de</strong> Sengstaken – Blakemore que é uma sonda gástrica com um balão<br />

gástrico e outro esofágico é empregado quando os recursos farmacológicos e endoscópicos<br />

falharam na contenção do sangramento. O controle inicial do sangramento tem sido alcançado<br />

em aproximadamente em 90% dos casos, mas a taxa alta <strong>de</strong> recidiva hemorrágica, após a<br />

retirada do balão, aliada às suas eventuais complicações têm limitado sua aplicação. As<br />

complicações incluem pneumonia por aspiração, rotura esofágica e gástrica, necroses nasal e<br />

da mucosa esofágica, e dor torácica. O tamponamento com o balão, embora no início seja<br />

eficaz, não é a<strong>de</strong>quado para controle a longo prazo. A hemostasia permanente é relatada como<br />

sendo <strong>de</strong> 30 a 50% 5,6 .<br />

Em aproximadamente 10% dos pacientes com HD por varizes , o sangramneto<br />

não é coibido com as medidas adotadas. Desta forma, torna-se necessária a <strong>de</strong>scompressão<br />

porto sistêmica intra-hepática, por meio <strong>de</strong> punção trasjugular (TIPS) as iniciais <strong>de</strong><br />

transjugular intrahepatic potosistemic shunt. Consiste na cateterização da veia hepática, por<br />

via transjulgar, e no estabelecimento, através do parênquia hepático, <strong>de</strong> comunicação com um<br />

dos principais ramos da veia porta, que é mantida por endoprótese <strong>de</strong> calibre suficiente para<br />

reduzir a pressão portal em 10 a 20 mmHg.. O TIPS controla o sangramento em cerca <strong>de</strong> 95%<br />

dos casos e o ressangramento e <strong>de</strong> aproximadamente 20% no primeiro mês. Esse método é,<br />

provavelmente, o melhor para os candidatos a transplante hepático.<br />

Nas situações em que o tratamento com vasocontrictores e a terapêutica<br />

endoscópica falham e o TIPS não está acessível ou não interrompeu o sangramento, a<br />

terapêutica cirúrgica po<strong>de</strong> ser uma alternativa. A indicação da cirurgia emergencial tem se<br />

tornado progressivamente, menos freqüente para o sangramento varicoso agudo.<br />

O cirurgião tem à sua disposição opções <strong>de</strong> técnicas operatórias diversas para a<br />

abordagem terapêutica do sangramento por varizes esfagogástricas e, em princípio, <strong>de</strong>ve<br />

selecionar um dos procedimentos com o qual esteja familiarizado, que possa realizar<br />

rapidamente, e que seja a<strong>de</strong>quado às condições do paciente.<br />

Na <strong>de</strong>pendência da avaliação conjunta <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> parâmetros, pré e intra-<br />

operatórios, tais como etiologia da hipertensão portal, função hepática, associação com<br />

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hiperesplenismo clínico e/ou laboratorial grave, doenças associadas, calibre da veia esplênica,<br />

sentido no sangue da veia porta, seleciona-se o tipo <strong>de</strong> intervenção cirúrgica.<br />

A anastomose portossistêmica é muito eficaz em coibir a hemorragia e prevenir<br />

novo sangramento, porém apresenta taxas elevadas <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e morbi<strong>de</strong>z, principalmente<br />

nos grupos <strong>de</strong> pacientes com função hepática comprometida. A anastomose esplenorrenal<br />

distal (cirurgia <strong>de</strong> Warren-Zeppa) é uma boa opção para o tratamento eletivo da hipertensão<br />

portal por cirrose.<br />

A abordagem cirúrgica final para paciente com cirrose não alcoólica, com<br />

sangramento varicoso intratável, é o transplante <strong>de</strong> fígado.<br />

:<br />

SANGRAMENTO DIGESTIVO BAIXO: Na maioria dos casos <strong>de</strong> HD baixa, a origem do<br />

sangramento é o colon (Tabela 4). As lesões vasculares e a doença diverticular acometem<br />

adultos e idosos. Em criança a intussuscepção é a causa mais freqüente, enquanto o<br />

divertículo <strong>de</strong> Meckel é observado, habitualmente, no adulto jovem.<br />

Tabela4: Causas freqüentes <strong>de</strong> sangramento digestivo baixo<br />

SANGRAMENTO<br />

Colônico (>95%) Intestino <strong>de</strong>lgado (5%)<br />

Doença diverticular 30 – 40% Angioplastia<br />

Isquemia 5 – 10% Úlceras<br />

Doenças anorretal 5 – 15% Doença <strong>de</strong> Crohn<br />

Neoplasia 5 – 10% Radiação<br />

Colite infecciosa 3 – 8% Divertículo <strong>de</strong> Meckel<br />

Pós-polipectomia 3 – 7% Neoplasia<br />

Doença inflamatória 3 – 4% Fístula aorto-entérica<br />

Angiodisplasia 3%<br />

Outros 1 – 5%<br />

Desconhecido 10 -25%<br />

Adaptado <strong>de</strong> Strate LL. Lower Gastrointestinal bleeding: Epi<strong>de</strong>miology and Diagnosis:<br />

Gastroenterol Clin.North Am 34: 643-664, 2005 16<br />

O algorítimo para abordagem da HD baixa está na Fig.7 Após recomposição<br />

volêmica, o exame retal, a anuscopia e retosigmoidoscopia <strong>de</strong>vem ser realizados. No<br />

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sangramento mínimo ou mo<strong>de</strong>rado que não foi elucidado com os exames anteriores, proce<strong>de</strong>-<br />

se a colonoscopia que permite o diagnóstico em 95% dos pacientes 17 . Nos casos<br />

remanescentes, o estudo com hemáceas colhidas do próprio paciente, marcadas com tcnécio -<br />

99m e reinjetadas, são extravazadas e <strong>de</strong>tectadas mediante estudo cintilográfico. Todavia, a<br />

limitação para avaliação do local <strong>de</strong>sse extravazamento diminui a acurácia do método. A<br />

arteriografia tem indicação restrita como recurso diagnóstico e terapêutico <strong>de</strong> sangramentos<br />

agudos <strong>de</strong> difícil controle em pacientes com risco cirúrgico elevado.<br />

A HD <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sangramento por divertículo e angiodisplasia, em geral, é<br />

autolimitada; na persistência do sangramento a injeção <strong>de</strong> substâncias esclerosantes por meio<br />

da colonoscopia é a alternativa inicial. Nos casos <strong>de</strong> insucesso, os agentes vasocnstritores ou a<br />

embolização po<strong>de</strong> ser realizada por meio da arteriografia. Por fim, as ressecções segmentares<br />

ou ampliadas do colon são alternativas para o sangramento recorrente.<br />

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Fig 7 Abordagem para o diagnóstico e tratamento do sangramento digestivo baixo<br />

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26


BIBLIOGRAFIA<br />

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