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A Semana - Unama

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www.nead.unama.br<br />

as fecundeis — a conselho meu, — agitai-vos, meus caros eleitores, agitai-vos um<br />

tanto mais.<br />

Por hoje, leitor amigo, vai tranqüilamente dar o teu voto. Vai anda, vai<br />

escolher os intendentes que devem representar-nos e defender os interesses<br />

comuns da nossa cidade. Eu, se não estiver meio adoentado, como estou, não<br />

deixarei de levar a minha cédula. Não leias mais ainda, porque é bem possível que<br />

eu nada mais escreva, ou pouco. Vai votar; o teu futuro está nos joelhos dos deuses,<br />

e assim também o da tua cidade; mas por que não os ajudarás com as mãos?<br />

Outra cousa que está nos joelhos dos deuses é saber se a terceira<br />

prorrogação que o Congresso Nacional resolveu decretar, é a última e definitiva.<br />

Pode haver quarta e quinta. Daqui a censurar o Congresso é um passo, e passo<br />

curto; mas eu prefiro ir à Constituinte, que é o mesmo Congresso avant la lettre. Por<br />

que diabo fixou a Constituinte em quatro meses a sessão anual legislativa, isto é, o<br />

mesmo prazo da Constituição de 1824? Devia atender que outro é o tempo e outro o<br />

regímen.<br />

Felizmente, li esta semana que vai haver uma revisão de Constituição no ano<br />

próximo. Boa ocasião para emendar esse ponto, e ainda outros, se os há, e creio<br />

que há. Nem faltará quem proponha o governo parlamentar. Dado que esta última<br />

idéia passe, é preciso ter já de encomenda uma casaca, um par de colarinhos, uma<br />

gravata branca, uma pequena mala com alocuções brilhantes e anódinas, para as<br />

grandes festas oficiais, — e um Carnot, mas um Carnot autêntico, que vista e profira<br />

todas aquelas cousas sem significação política. Salvo se arranjarmos um meio de<br />

combinar os presidentes e os ministros responsáveis, um Congresso que mande um<br />

ministério seu ao presidente, para cumprir e não cumprir as ordens opostas de<br />

ambos. Enfim, esperemos. O futuro está nos joelhos dos deuses.<br />

Mas não me faças ir adiante, leitor amado. Adeus vai votar. Escolhe a tua<br />

intendência e ficarás com o direito de gritar contra ela. Adeus.<br />

[110]<br />

[6 novembro]<br />

Vou contar às pressas o que me acaba de acontecer.<br />

Domingo passado, enquanto esperava a chamada dos eleitores, saí à Praça<br />

do Duque de Caxias (vulgarmente Largo do Machado) e comecei a passear defronte<br />

da igreja matriz da Glória. Quem não conhece esse templo grego, imitado da<br />

Madalena, com uma torre no meio, imitada de cousa nenhuma? A impressão que se<br />

tem diante daquele singular conúbio, não é cristã nem pagã; faz lembrar, como na<br />

comédia, "o casamento do Grão — Turco com a república [de] Veneza". Quando ali<br />

passo, desvio sempre os olhos e o pensamento. Tenho medo de pecar duas vezes,<br />

contra a torre e contra o templo, mandando-os ambos ao diabo, com escândalo da<br />

minha consciência e dos ouvidos das outras pessoas.<br />

Daquela vez, porém, não foi assim. Olhei, parei e fiquei a olhar. Entrei a<br />

cogitar se aquele ajuntamento híbrido não será antes um símbolo. A irmandade que<br />

mandou fazer a torre, pode ter escrito, sem o saber, um comentário. Supôs batizar<br />

uma sinagoga (devia crer que era uma sinagoga), e fez mais, compôs uma obra<br />

representativa do meio e do século. Não há ali só um sino para repicar aos<br />

domingos e dias santos, com afronta dos pagãos de Atenas e dos cristãos de Paris,<br />

— há talvez uma página de psicologia social e política.<br />

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