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A Semana - Unama

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www.nead.unama.br<br />

— Onde está o orador?<br />

— Esperam o orador.<br />

— Que orador? que meeting? Ouça calado. O senhor parece ter o mau<br />

costume de vir apanhar as palavras dentro da boca dos outros. Sossegue e escute.<br />

— Sou todo ouvidos.<br />

— Este é o célebre encilhamento.<br />

— Ah!<br />

— Vê? Há mais tempo teria tido o gosto dessa admiração, se me ouvisse<br />

calado. Este é o encilhamento.<br />

— Não sabia que era assim.<br />

— Assim como?<br />

— Na rua. Cuidei que era uma vasta sala ou um terreno fechado, particular ou<br />

público, não este pedaço de rua estreita e aborrecida. E olhe que nem há meio de<br />

passar; eu quis romper, pedi licença... Entretanto, creio que temos a liberdade de<br />

circulação.<br />

— Não.<br />

— Como não?<br />

— Leia a Constituição, meu senhor, leia a Constituição. O art. 70 é o que<br />

compendia os direitos dos nacionais e estrangeiros; são trinta e um parágrafos:<br />

nenhum deles assegura o direito de circulação... O direito de reunião, porcm7 é<br />

positivo. Está no § 8.°: "A todos é lícito reunirem-se livremente e sem armas, não<br />

podendo intervir a polícia, senão para manter a ordem pública". Estes homens que<br />

aqui estão trazem armas?<br />

— Não as vejo.<br />

— Estão desarmados. não perturbam a ordem pública, exercem um direito, e,<br />

enquanto não infringirem as duas cláusulas constitucionais só a violência os poderá<br />

tirar daqui. Houve já uma tentativa disso. Eu, se fosse comigo, recorria aos tribunais,<br />

onde há justiça. Se eles ma negassem, pedia o júri, onde ela é indefectível, como na<br />

velha Inglaterra. Note que a violência da polícia já deu algum lucro. Como as<br />

moléculas do encilhamento, por uma lei natural, tendiam a unir-se logo depois de<br />

dispersados, a polícia, para impedir a recomposição fazia disparar de quando em<br />

quando duas praças de cavalaria. Mal sabiam elas que eram simples animais de<br />

corrida. As pessoas que as viam correr, apostavam sobre qual chegaria primeiro a<br />

certo ponto. — É da esquerda. — É a da direita. — Quinhentos mil-réis. — Aceito. —<br />

Pronto.<br />

— Chegou a da esquerda: dê cá o dinheiro.<br />

— De maneira que a própria autoridade...<br />

— Exatamente. Ah! Meu caro, dinheiro é mais forte que amor. Veja o negócio<br />

do chocolate. Chocolate parece que não convida a falsificação: tem menos uso que<br />

o café. Pois o chocolate é hoje tão duvidoso como O café. Entretanto, ninguém dirá<br />

que os falsificadores sejam homens desonestos nem inimigos públicos. O que os<br />

leva a Falsificar a bebida não é o ódio ao homem. Como odiar o homem, se no<br />

homem está o freguês? É o amor da pecúnia.<br />

— Pecúnia? Chocolate?<br />

— Sim, senhor. Um negócio que se descobriu há dias. O senhor, ao que<br />

parece, não sabe o que se passa em torno de nós. Aposto que não teve notícia da<br />

revolução de Niterói?<br />

— Tive.<br />

— Eu tive mais que notícia, tive saudades. Quando me falaram em revolução<br />

de Niterói, lembrei-me dos tempos da minha mocidade, quando Niterói era Praia<br />

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