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Trabalho Completo - URI

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dos negros. Todavia, com várias contradições, pois critica e, ao mesmo tempo, considera a<br />

incapacidade de convertê-los. Conforme França, não hesitava “em defender a importação de<br />

escravos de Angola para substituir a mão de obra indígena”. 76<br />

As opiniões desencontradas de Vieira podem ser observadas no trecho em que declara<br />

não acreditar na catequização dos negros: “sendo rebelados e cativos, estão e perseveram em<br />

pecado contínuo e atual, de que não podem ser absoltos, nem receber a graça de Deus, nem se<br />

restituírem ao serviço e obediência de seus senhores, o que de nenhum modo hão de fazer”. 77<br />

Porém, em outros escritos, suas opiniões voltam a ser contraditórias, como em uma carta,<br />

escrita em1652, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, quando se refere aos habitantes da ilha:<br />

São todos pretos, mas somente neste acidente se distinguem dos europeus. Têm<br />

grande juízo e habilidade, e toda a política que cabe em gente sem fé e muitas<br />

riquezas [...]. Há aqui clérigos e cônegos tão negros com o azeviche, mas tão<br />

compostos, tão autorizados, tão doutos, tão grandes músicos, tão discretos e bem<br />

morigerados, que podem fazer inveja aos que lá vemos nas nossas catedrais. 78<br />

Percebe-se, aqui, o juízo inconstante de Vieira a respeito do africano. Suas obras, ao<br />

mesmo tempo em que desqualificam a figura do negro, afirmando que convertê-los é<br />

praticamente impossível, somente com a liberdade, o que ocasionaria prejuízos ao Brasil, por<br />

outro lado, criticam o caráter degradante do comércio de escravos.<br />

O século XVII também marca a presença do homem negro nos versos satíricos de<br />

Gregório de Matos Guerra. Em “Epílogos”, estende a crítica a todas as classes da sociedade<br />

baiana de seu tempo, incluindo os negros e os mulatos.<br />

Que falta nesta cidade?... Verdade.<br />

Que mais por sua desonra?... Honra.<br />

Falta mais que se lhe ponha... Vergonha.<br />

O demo a viver se exponha,<br />

Por mais que a fama a exalta<br />

Numa cidade onde falta<br />

Verdade, honra e vergonha. [...]<br />

Quem são seus doces objetos?... Pretos.<br />

Tem outros bens mais maciços?... Mestiços.<br />

Quais destes lhe são mais gratos?... Mulatos.<br />

Dou ao demo os insensatos,<br />

Dou ao demo a gente asnal,<br />

Que estima por cabedal<br />

Pretos, mestiços, mulatos. [...] 79<br />

76 FRANÇA, 1998, p. 16.<br />

77 VIEIRA, 1926, p. 621 apud FRANÇA, 1998, p. 16-17.<br />

78 VIEIRA, 1926, p. 295 apud FRANÇA, 1998, p. 18.<br />

79 MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1976, p. 37.<br />

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