Trabalho Completo - URI
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eles atestam que toda mudança de país desencadeia uma crise, porque as pessoas se<br />
transformam e se adaptam. Quando se dá uma nova mudança, alguns têm maior<br />
facilidade do que outros para se readaptar, estabelecer relação, se enraizar. 193<br />
O homem, sempre que se desloca e tem de abandonar laços tecidos no espaço e no<br />
tempo, sente uma espécie de desconforto. No entanto, é próprio do ser humano lutar para<br />
sobreviver, mesmo nas condições mais adversas. Segundo Edmilson de Almeida Pereira, a<br />
decisão de lançar-se para além das fronteiras interfere nos campos da percepção do indivíduo.<br />
Assim, o retorno à terra de origem pode gerar conflitos, quando não se reconhece mais o<br />
espaço idealizado; por outro lado, o próprio indivíduo pode não ser reconhecido como um<br />
membro de seu antigo lugar. 194<br />
Catarina não é a única a frustrar-se com a África. Muitos outros afro-brasileiros que<br />
fazem a viagem de volta, durante os anos que se sobrevêm a escravidão, desenvolvem o<br />
mesmo sentimento. Porém, alguns retornam ao Brasil. A respeito disso, Olinto narra em<br />
Brasileiros na África, obra construída a partir da sua experiência na Nigéria:<br />
Na história do regresso de africanos a seu continente houve também a parte dos que,<br />
uma vez lá, resolveram cruzar de novo o Atlântico e voltar ao Brasil. Isto aconteceu<br />
tanto no caso de brasileiros natos – que haviam acompanhado parentes na ida para a<br />
África Ocidental – como no de africanos que não mais se acostumaram com a vida<br />
em Lagos, Badagre, Porto Novo ou Cotonu. 195<br />
Percebe-se que a influência da cultura brasileira nos hábitos dos cidadãos faz com que<br />
muitos destes não se sintam pertencendo mais ao espaço africano. Criam laços com o Brasil e<br />
hibridizam sua cultura. Ao invés de encontrar semelhanças e uma saída para esse conflito<br />
entre costumes, o retorno ao Brasil é a solução para alguns. Na obra A casa da água, esse<br />
regresso ocorre somente com Antônio, irmão de Mariana, o qual se estabelece como<br />
comerciante em solo brasileiro. O restante da família, as mulheres das três gerações<br />
alimentam uma saudade do Brasil, que se torna parte de suas memórias. Porém, a viagem<br />
nunca se concretiza, pois não fazem nenhum esforço para realizá-la, ou seja, manifestam a<br />
vontade, mas não decidem retornar.<br />
Sobre a presença do Brasil na África, em Brasileiros na África, Olinto prossegue:<br />
193 FIGUEIREDO, 2010, p. 246.<br />
194 PEREIRA, 2010, p. 46.<br />
195 OLINTO, 1980, p. 270.<br />
A presença do Brasil na África, senti-a, com o tempo, cada vez mais forte. Paisagens<br />
e gentes se tornavam para mim, naquela costa, familiares. Ganhava facilidade no<br />
entrar na africanidade das coisas. As iorubanas do mercado, com suas roupas de<br />
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