Trabalho Completo - URI
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- Eu?!<br />
- O senhor é um homem de cor!... Infelizmente esta é a verdade... 97<br />
Quando descobre o motivo que o impede de ser feliz com a prima, Raimundo lamenta<br />
e finalmente compreende “todos os mesquinhos escrúpulos que a sociedade do Maranhão<br />
usara para com ele”. 98 Porém, não consegue esquecer as palavras de Manuel; sente-se mais só<br />
do que nunca:<br />
E tudo por quê?... pensava ele, porque sucedera sua mãe não ser branca!...Mas do<br />
que servira então ter-se instruído e educado com tanto esmero? [...] E Raimundo<br />
revoltava-se. Pois, melhores que fossem as suas intenções, todos ali o evitavam,<br />
porque a sua pobre mãe era preta e fora escrava? Mas que culpa tinha ele em não ser<br />
branco e não ter nascido livre?... [...] Amaldiçoada fosse aquela maldita raça de<br />
contrabandistas que introduziu o africano no Brasil! Maldita! Mil vezes maldita!<br />
Com ele quantos desgraçados não sofriam o mesmo desespero e a mesma<br />
humilhação sem remédio? 99<br />
Em O Mulato, o autor expõe as mazelas da sociedade, que explora o trabalho escravo<br />
e nutre um profundo preconceito contra os negros e mestiços. Denuncia o preconceito para<br />
com os escravos, mostrando a consequência trágica desse relacionamento: a morte de<br />
Raimundo pelo rival branco. Ana Rosa aborta o filho que espera de Raimundo, casa-se com o<br />
assassino e torna-se uma típica mãe de família burguesa. Mais uma vez, o branco sobrepõe-se<br />
ao negro, e este é eliminado.<br />
Muitos outros autores dessa época dedicam versos ao negro, dentre eles o maranhense<br />
Manuel Odorico Mendes, com “Hino à tarde” (1844); Teixeira e Sousa, com um poema<br />
chamado “A Independência do Brasil” (1847); José Bonifácio de Andrada, na década de 50,<br />
com “Calabar” e “Saudades do escravo”; Joaquim Norberto de Sousa e Silva, “Os Palmares”,<br />
poema épico de 1851 e Bernardo Guimarães, com o livro de poesias Cantos da solidão<br />
(1852), o qual traz um poema consagrado ao africano: “À sepultura de um escravo”. 100<br />
Contudo, é com Castro Alves que a presença do negro é vista com mais frequência na<br />
literatura nacional, mais precisamente na poesia. Considerado o poeta dos escravos, o autor<br />
retira o tema da escravidão do anonimato, colocando o tipo negro como figura constante nos<br />
escritos, mas com personagens que são a representação da realidade: jardineiros, cozinheiras,<br />
etc. Seus textos poetizam a vida do negro escravo, apresentando-o como ser humano digno a<br />
uma sociedade que o mercantiliza:<br />
97<br />
AZEVEDO, Aluísio. O mulato. São Paulo: Ática, 1996, p. 166.<br />
98<br />
Ibidem, p. 167.<br />
99<br />
Ibidem, p. 185.<br />
100<br />
FRANÇA, 1998, p. 38-41.<br />
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