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quase a única amiga de Dona Romana hoje em dia?,<br />
a velhinha já não lhe disse tantas vezes que gostaria<br />
de poder retribuir o que faz por ela?, que melhor retribuição<br />
que essa?, seria como um empréstimo, um<br />
empréstimo intelectual, que não faria mal a ninguém,<br />
pelo contrário, faria bem ao revelar ao público uma<br />
obra daquele calibre!, e apenas abriria as portas para<br />
que seu próprio gênio pudesse abrir as asas. Mas é<br />
claro que é brincadeira, Alícia está só brincando<br />
com uma possibilidade, coisa de ficcionista que não<br />
pode resistir a um exercício de imaginação, porque<br />
ela, uma mulher verdadeira como ela, jamais, jamais!,<br />
prefere morrer desconhecida do que aceitar<br />
um segundo sequer de falsa glória. Imagine, nem<br />
pensar!, só brincar com a idéia já seria uma sombra<br />
no caráter de Alícia... mas que para Dona Romana<br />
não faria a menor diferença, ah, isso não faria.<br />
Os cadernos já voltaram há muito para sua gaveta,<br />
seu túmulo?, porque Alícia jamais faria uma<br />
coisa dessas, mas tem estado tão ocupada com Dona<br />
Romana, cada dia mais fraquinha, que deixa o dilema<br />
rolar na cabeça e nem tem energias para combatê-lo.<br />
Nestes últimos meses, desde que foi obrigada a<br />
freqüentar muito mais o apartamento vizinho, duas<br />
ou três vezes viu chegar o Senhor Kafka, com quem<br />
nunca trocou mais do que cumprimentos formais<br />
embora, com esse nome, a encha de curiosidade e<br />
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