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canudos – tragédia e arte na xilogravura de adir botelho - Arte + Arte

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RICARDO ANTONIO BARBOSA PEREIRA<br />

CANUDOS <strong>–</strong> TRAGÉDIA E ARTE NA XILOGRAVURA DE ADIR BOTELHO<br />

1 volume<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Arte</strong>s Visuais,<br />

Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, como p<strong>arte</strong> dos requisitos<br />

necessários à obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em<br />

<strong>Arte</strong>s Visuais.<br />

Orientador: Professora Doutora Angela Ancora da Luz<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

2012


Pereira, Ricardo A. B.<br />

Canudos <strong>–</strong> Tragédia e <strong>arte</strong> <strong>na</strong> <strong>xilogravura</strong> <strong>de</strong> Adir Botelho. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

UFRJ/EBA, 2012.<br />

350 f. il., 29,7 cm.<br />

Orientador: Angela Ancora da Luz<br />

Dissertação (mestrado) <strong>–</strong> UFRJ/EBA/Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Arte</strong>s<br />

Visuais, 2012. Referências Bibliográficas: f.<br />

277-280.<br />

1. Adir Botelho. 2. Canudos. 3. Xilogravura. 4. <strong>Arte</strong>. I. Luz, Angela Ancora da.<br />

II. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s. III. Título.<br />

2


RICARDO ANONIO BARBOSA PEREIRA<br />

CANUDOS<br />

ARTE E TRAGÉDIA NA XILOGRAVURA DE ADIR BOTELHO<br />

Dissertação <strong>de</strong> Mestrado apresentada ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>Arte</strong>s Visuais, Escola<br />

<strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, como p<strong>arte</strong> dos requisitos necessários à<br />

obtenção do título <strong>de</strong> Mestre em <strong>Arte</strong>s Visuais.<br />

Professora Doutora Angela Ancora da Luz <strong>–</strong> Orientador<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Professora Doutora Helenise Monteiro Guimarães<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Professora Doutora Gláucia Santos da Gama e Silva<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

3


Para minha família, em especial aos meus pais, Dr.<br />

Ermenegildo (postumamente) e D. Zezé, por tudo que<br />

fizeram por mim e por meus irmãos; para Bete, minha<br />

esposa, e Maria Rúbia, minha filha (que <strong>de</strong>u um gran<strong>de</strong><br />

apoio <strong>na</strong> tradução do resumo), pelo interesse e pela<br />

paciência <strong>de</strong> ambas; aos professores que tive em toda<br />

minha vida, em todas as etapas do meu aprendizado até<br />

a atual; e para esta gran<strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>Arte</strong><br />

<strong>na</strong> qual me formei: a EBA/UFRJ.<br />

4


A <strong>arte</strong> é criativa como forma <strong>de</strong> realização, e não <strong>de</strong> distração; como<br />

transfiguração, e não como jogo. É a busca do nosso eu que nos<br />

conduz ao longo da viagem eter<strong>na</strong> (...) que todos temos <strong>de</strong> fazer.<br />

Max Beckmann<br />

5


RESUMO<br />

CANUDOS <strong>–</strong> TRAGÉDIA E ARTE NA XILOGRAVURA DE ADIR BOTELHO<br />

Adir Botelho (1932), artista plástico e professor aposentado da Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>senvolveu sua obra gráfica em séries <strong>de</strong><br />

<strong>xilogravura</strong>s, sendo Canudos, editada em livro pela EBA/UFRJ em 2002, a maior <strong>de</strong>las com 120<br />

obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> formato. Tendo sido discípulo do importante xilogravador brasileiro Oswaldo<br />

Goeldi (1895-1961), Adir também <strong>de</strong>senvolveu uma linguagem artística associada ao<br />

Expressionismo. Contudo, seus trabalhos possuem a característica <strong>de</strong> apresentarem esta<br />

linguagem expressionista através <strong>de</strong> um formalismo muito evi<strong>de</strong>nciado. Outra marca <strong>de</strong>stas<br />

obras é a proximida<strong>de</strong> que possuem com a pintura <strong>de</strong>vido a efeitos visuais tipicamente<br />

pictóricos, porém alcançados por meio <strong>de</strong> sua maneira própria <strong>de</strong> lançar com <strong>na</strong>nquim a<br />

composição diretamente sobre a prancha a ser gravada pelos específicos processos xilográficos,<br />

ou seja, através <strong>de</strong> duas matrizes gravadas e sobrepostas ou ape<strong>na</strong>s com uma matriz trabalhada<br />

pelos meios usuais: goivas, formões e outros tipos <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> corte em ma<strong>de</strong>ira. Além<br />

disso, suas gravuras apresentam gran<strong>de</strong> correlação com a <strong>Arte</strong> Popular Brasileira, especialmente<br />

aquela do tipo visível <strong>na</strong>s <strong>xilogravura</strong>s <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l ou em certos tipos <strong>de</strong> escultura realizados pelos<br />

artistas populares, particularmente os <strong>de</strong> origem nor<strong>de</strong>sti<strong>na</strong>. As origens <strong>de</strong>stas características <strong>na</strong><br />

obra <strong>de</strong>ste xilogravador po<strong>de</strong>m ser encontradas em sua formação acadêmica em pintura,<br />

realizada <strong>na</strong> antiga Escola Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s entre 1949 e 1954, <strong>na</strong> influência dos seus<br />

professores <strong>de</strong> gravura <strong>de</strong>sta mesma instituição, Raimundo Cela (1890-1954) e Oswaldo Goeldi<br />

e no seu gran<strong>de</strong> interesse por tudo o que diga respeito à Cultura Brasileira, principal fonte<br />

temática <strong>de</strong> sua obra artística. A série Canudos trata da Guerra <strong>de</strong> Canudos, apresentada<br />

literariamente pela obra Os Sertões, escrita por Eucli<strong>de</strong>s da Cunha em 1902, <strong>na</strong> qual Adir<br />

Botelho buscou p<strong>arte</strong> <strong>de</strong> sua inspiração para criar suas <strong>xilogravura</strong>s, sem, contudo, ter a intenção<br />

<strong>de</strong> realizar ilustrações para aquele texto. Na verda<strong>de</strong>, cada uma das <strong>xilogravura</strong>s da série é uma<br />

obra inteiramente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> estilo pessoal, tendo o objetivo <strong>de</strong> não só <strong>de</strong>nunciar os<br />

horrores perpetrados mutuamente entre soldados e sertanejos durante a referida guerra, mas<br />

possuindo também um alcance universal ao apontar indiretamente, mais <strong>de</strong> forma drástica, a<br />

<strong>tragédia</strong> <strong>de</strong> todas as guerras em todos os tempos e lugares.<br />

Palavras-chaves: Adir Botelho, <strong>arte</strong>, <strong>xilogravura</strong>, gravura, Guerra <strong>de</strong> Canudos, Os Sertões,<br />

Expressionismo, Formalismo, <strong>Arte</strong> Popular Brasileira, EBA.<br />

6


ABSTRACT<br />

CANUDOS <strong>–</strong> TRAGEDY AND ART IN ADIR BOTELHO’S WOODCUT<br />

Adir Botelho (1932), artist and teacher of Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>veloped his graphic work in series of woodcuts, whose Canudos series was<br />

edited in book by EBA/UFRJ. He was disciple of the important Brazilian engraver Oswaldo<br />

Goeldi (1885-1961), Adir also <strong>de</strong>veloped an artistic language associated to the Expressionism.<br />

However, his works have the feature of show this expressionist language through a formalism<br />

very evi<strong>de</strong>nt. Another mark of this works is the nearness from paint, trough visual effects<br />

clearly pictorial, however achieved by usual methods of woodcuts, in other words, with gouge,<br />

chisel, and other types of instruments to cut Wood. Beyond that, they present high correlation<br />

with the Brazilian Popular Art, especially that one visible in the woodcut of cor<strong>de</strong>l or in certain<br />

types of sculpture ma<strong>de</strong> by popular artists, particularly artists from Brazilian northeast. The<br />

origins of this characteristic in Adir’s works can be found in his aca<strong>de</strong>mic formation in painting<br />

held in the old Escola Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s between 1949 and 1954, un<strong>de</strong>r the influence of<br />

his woodcut teachers of the same institution, Raimundo Cela (1890-1954) and Oswaldo Goeldi<br />

and in his big interest in everything that concerns to Brazilian Culture, the main source of his<br />

artistic work. The Canudos series is about the Canudos War literary presented by Os Sertões,<br />

written by Eucli<strong>de</strong>s da Cunha in 1902, in which Adir Botelho sought part of his inspiration to<br />

create his woodcuts, without, however, intend to make illustrations for the text. In<strong>de</strong>ed, each of<br />

the series’ woodcuts is a work entirely in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt and with perso<strong>na</strong>l style, whose objective is<br />

not just <strong>de</strong>nunciate the horrors perpetrated mutually between soldiers and sertanejos during this<br />

war, but also possessing a universal scope when it points indirectly, but in a dramatic way, the<br />

tragedy of all wars in all places and times.<br />

Key - words: Adir Botelho, art, woodcut, engraving, Canudos War, Os Sertões, Expressionism,<br />

Formalism, Brazilian Popular Art, EBA.<br />

7


SUMÁRIO<br />

1 NTRODUÇÃO ---------------------------------------------------------------------------------------- 11<br />

2 CAPÍTULO I - A XILOGRAVURA <strong>–</strong> OS PRIMÓRDIOS EUROPEUS, SEU<br />

DESENVOLVIMENTO COMO LINGUAGEM DE ARTE INDEPENDENTE A PARTIR<br />

DO SÉCULO XIX E SUA FORTE PRESENÇA NO MODERNISMO BRASILEIRO NO<br />

QUAL SE INCLUI A OBRA DE ADIR BOTELHO -------------------------------------------- 14<br />

2.1 Gravando imagens <strong>na</strong> aurora dos tempos ---------------------------------------------------------- 14<br />

2.2 A <strong>xilogravura</strong> da Chi<strong>na</strong> do século II à Europa dos séculos XIV e XVI ----------------------- 15<br />

2.3 Os gran<strong>de</strong>s xilogravadores alemães do Re<strong>na</strong>scimento ------------------------------------------- 20<br />

2.4 O ressurgimento da <strong>xilogravura</strong> <strong>na</strong> versão <strong>de</strong> topo e seu uso comercial ---------------------- 24<br />

2.5 Século XIX - a gravura ganha força como linguagem artística in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte --------------- 28<br />

2.6 Século XX <strong>–</strong> o Expressionismo alemão e a <strong>xilogravura</strong> ----------------------------------------- 33<br />

2.7A <strong>xilogravura</strong> e o mo<strong>de</strong>rnismo brasileiro no qual surge Adir Botelho e sua obra<br />

multifacetada ---------------------------------------------------------------------------------------------- 38<br />

2.8 Nasce o Atelier <strong>de</strong> Gravura da ENBA ------------------------------------------------------------- 52<br />

3 CAPÍTULO II - OS SERTÕES <strong>–</strong> A NARRATIVA DE EUCLIDES DA CUNHA COMO<br />

REFERÊNCIA PRINCIPAL À TRAGÉDIA NA SÉRIE CANUDOS ----------------------- 56<br />

3.1 Motivações ------------------------------------------------------------------------------------------ 56<br />

3.2 Um resumo <strong>de</strong> Os Sertões <strong>–</strong> a <strong>de</strong>scrição máxima da <strong>tragédia</strong> <strong>de</strong> Canudos ------------------ 59<br />

3.2.1 O mundo do sertanejo ----------------------------------------------------------------------------- 59<br />

3.2.2 Antonio Conselheiro e Canudos ------------------------------------------------------------------ 65<br />

3.2.3 A guerra ---------------------------------------------------------------------------------------------- 77<br />

3.2.4 Extraordinária Canudos ------------------------------------------------------------------------- 95<br />

3.2.5 Terríveis sofrimentos -------------------------------------------------------------------------- 101<br />

8


3.2.6 O fim da guerra ---------------------------------------------------------------------------------106<br />

4 CAPÍTULO III <strong>–</strong> A LINGUAGEM PLÁSTICA DA SÉRIE CANUDOS:<br />

EXPRESSIONISMO, FORMALISMO E ARTE POPULAR ------------------------------- 117<br />

4.1 O Expressionismo, suas origens e influência <strong>na</strong> <strong>Arte</strong> Oci<strong>de</strong>ntal -------------------------------117<br />

4.2 O Expressionismo Mo<strong>de</strong>rno e suas principais características ------------------------------ 124<br />

4.3 Alguns exemplos comentados --------------------------------------------------------------------- 132<br />

4.4 Escultura expressionista ---------------------------------------------------------------------------- 138<br />

4.4.1 Exemplos africanos ------------------------------------------------------------------------------- 138<br />

4.4.2 Exemplos <strong>de</strong> esculturas expressionistas ou com tendência expressionista <strong>na</strong> <strong>arte</strong> européia a<br />

partir <strong>de</strong> Rodin ------------------------------------------------------------------------------------------- 140<br />

4.5 Prós e contras --------------------------------------------------------------------------------------- 142<br />

4.6 O Formalismo em suas várias vertentes --------------------------------------------------------- 145<br />

4.6.1 Formalismo e Expressionismo <strong>na</strong> obra <strong>de</strong> Adir Botelho ------------------------------------ 145<br />

4.6.2 A forma e a <strong>arte</strong> ----------------------------------------------------------------------------------- 148<br />

4.7 A <strong>Arte</strong> Popular Brasileira <strong>na</strong> série Canudos ----------------------------------------------------- 154<br />

4.7.1 A Cultura --------------------------------------------------------------------------------------------155<br />

4.7.2 A Cultura Popular Brasileira -------------------------------------------------------------------- 156<br />

4.7.3 As origens da <strong>de</strong>scoberta dos artistas populares pelos os artistas eruditos -------------- 162<br />

4.7.4 O imaginário popular ----------------------------------------------------------------------------- 179<br />

4.7.5 Encontros ------------------------------------------------------------------------------------------- 185<br />

5 CAPÍTULO IV <strong>–</strong> A SÉRIE CANUDOS <strong>–</strong> SUA GÊNESE E SUAS CARACTERÍSTICAS<br />

FORMAIS ----------------------------------------------------------------------------------------------- 186<br />

5.1 O aprendizado <strong>na</strong> ENBA dos anos 50 ----------------------------------------------------------- 186<br />

5.1.2 Desenhos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo vivo <strong>–</strong> as “aca<strong>de</strong>mias” -------------------------------------------------- 188<br />

5.1.3 Croquis -------------------------------------------------------------------------------------------- 189<br />

5.1.4 Pinturas --------------------------------------------------------------------------------------------- 191<br />

9


5.1.5 Figuras <strong>na</strong> paisagem ------------------------------------------------------------------------------ 192<br />

5.2 O aprendizado da gravura <strong>–</strong> Raimundo Cela ---------------------------------------------------- 192<br />

5.3 Oswaldo Goeldi e o início da <strong>xilogravura</strong> <strong>na</strong> ENBA ------------------------------------------- 196<br />

5.4 As obras iniciais <strong>de</strong> Adir Botelho ----------------------------------------------------------------- 212<br />

5.4.1 Dos anos 50 aos 70 <strong>–</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma linguagem xilográfica pessoal------- 216<br />

5.4.2 A influência <strong>de</strong> Goeldi -------------------------------------------------------------------------- 216<br />

5.4.3 <strong>–</strong> A introdução da figura como elemento temático principal ------------------------------- 218<br />

5.4.4 <strong>–</strong> Afastando-se cada vez mais dos cânones --------------------------------------------------- 220<br />

5.4.5 Anjos ---------------------------------------------------------------------------------------------- 223<br />

5.4.6 Prenúncios <strong>de</strong> Canudos ------------------------------------------------------------------------- 225<br />

5.4.7 Gestualida<strong>de</strong>: entre o gráfico e o pictórico ---------------------------------------------------- 228<br />

5.4.8 Alcançando a essência ---------------------------------------------------------------------------- 230<br />

5.5 As séries xilográficas ------------------------------------------------------------------------------- 232<br />

5.5.1 Pedra Bonita --------------------------------------------------------------------------------------- 232<br />

5.5.2 Catumbi -------------------------------------------------------------------------------------------- 235<br />

5.5.3 Cal<strong>de</strong>irão --------------------------------------------------------------------------------------------237<br />

5.6 Canudos ----------------------------------------------------------------------------------------------- 239<br />

5.6.1 O Expressionismo em Canudos através <strong>de</strong> três exemplos ----------------------------------- 240<br />

5.6.1.1 Primeiro exemplo ------------------------------------------------------------------------------- 243<br />

5.6.1.2 Segundo exemplo ------------------------------------------------------------------------------- 247<br />

5.6.1.3 Terceiro exemplo ------------------------------------------------------------------------------- 249<br />

5.6.2 Três exemplos formalistas em Canudos ------------------------------------------------------- 252<br />

5.6.2.1 Primeiro Exemplo ------------------------------------------------------------------------------ 253<br />

5.6.2.2 Segundo exemplo ------------------------------------------------------------------------------ 257<br />

5.6.2.3 Terceiro exemplo ------------------------------------------------------------------------------- 259<br />

5.6.3 A influência da <strong>Arte</strong> Popular <strong>na</strong>s <strong>xilogravura</strong>s <strong>de</strong> Canudos ---------------------------------261<br />

5.6.3.1 Primeiro exemplo ------------------------------------------------------------------------------- 262<br />

5.6.3.2 Segundo exemplo -------------------------------------------------------------------------------265<br />

5.6.3.3 Terceiro exemplo ------------------------------------------------------------------------------ 267<br />

10


6 CONCLUSÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 273<br />

7 FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ------------------------------------------ 277<br />

ANEXO A <strong>–</strong> Entrevista com o professor Adir Botelho<br />

ANEXO B <strong>–</strong> Nota biográfica - Adir Botelho: um professor-artista da Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s<br />

(Observação: Devido ao acréscimo <strong>de</strong> uma pági<strong>na</strong> para a exposição da Ficha<br />

Catalográfica (p. 2 <strong>de</strong>sta versão em documento único), as pági<strong>na</strong>s apontadas para os<br />

itens no sumário não estão correspon<strong>de</strong>ndo com as do texto. Portanto, a diferença no<br />

posicio<strong>na</strong>mento <strong>de</strong>stes itens é <strong>de</strong> uma pági<strong>na</strong>. Na versão impressa não há este<br />

problema).<br />

11


1 INTRODUÇÃO<br />

As <strong>xilogravura</strong>s <strong>de</strong> Adir Botelho nos impressio<strong>na</strong>ram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tomamos<br />

contato com algumas <strong>de</strong>las no Atelier <strong>de</strong> Gravura da Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro quando lá fomos alunos <strong>de</strong>ste artista-professor<br />

numa discipli<strong>na</strong> complementar do nosso curso <strong>de</strong> graduação em Pintura, em 1985, a<br />

Gravura I.<br />

Aquelas imagens gravadas em gran<strong>de</strong>s tábuas <strong>de</strong> canela, cheias <strong>de</strong> figuras muito<br />

curiosas e <strong>de</strong> efeitos gráficos surpreen<strong>de</strong>ntes, que mais pareciam ter sido realizadas com<br />

pincéis e não com goivas, surgiam para nós como um enigma, cujo significado não<br />

estávamos em condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrar tanto pela nossa falta <strong>de</strong> experiência quanto pelo<br />

fato <strong>de</strong> estarmos concentrados, <strong>na</strong>quele momento <strong>de</strong> aprendizado, em <strong>de</strong>senvolvermos<br />

uma linguagem gráfica própria, sendo, portanto,” temeroso”, assim vagamente nos<br />

pareceu, <strong>de</strong>ixarmo-nos influenciar por tão gran<strong>de</strong> carga <strong>de</strong> informações que, <strong>na</strong> nossa<br />

pressa juvenil, achávamos difíceis <strong>de</strong> assimilar.<br />

Transcorridos 25 anos, após termos <strong>de</strong>senvolvido nossa própria carreira artística<br />

(<strong>na</strong> pintura, <strong>na</strong> cerâmica e um pouco <strong>na</strong> <strong>xilogravura</strong>) e também como professor da EBA<br />

(<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1995, como substituto) chegou o momento, no contexto do mestrado, <strong>de</strong><br />

encararmos aquele antigo enigma que tanto nos atraiu e, ao mesmo tempo, <strong>de</strong>vemos<br />

confessar, também nos intimidou um pouco por sua estranha beleza em preto e branco.<br />

Por isso, cabe-nos agora indagar: que enigma é este que nos impressionou tanto<br />

<strong>na</strong>s <strong>xilogravura</strong>s <strong>de</strong> Adir Botelho? Na verda<strong>de</strong>, hoje percebemos, ele tem relação com<br />

três aspectos importantes e fundamentais em toda obra <strong>de</strong> <strong>arte</strong>: o técnico, o estilístico e<br />

o semântico. Mas só agora temos condições <strong>de</strong> formular com clareza cinco perguntas<br />

cujas respostas po<strong>de</strong>m contribuir senão para esclarecê-lo completamente, pelo menos<br />

para nos abrir um caminho cognitivo por entre sua riquíssima poética:<br />

1 - por que motivo gran<strong>de</strong> p<strong>arte</strong> <strong>de</strong>stas imagens, apesar <strong>de</strong> serem produzidas<br />

xilograficamente, tem uma aparência tão próxima <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos feitos a <strong>na</strong>nquim,<br />

algumas <strong>de</strong>las possuindo efeitos <strong>de</strong> textura que muito lembram os que vemos <strong>na</strong> técnica<br />

da pintura?<br />

12


2 - como suas figuras po<strong>de</strong>m possuir um caráter tão expressionista e, ao mesmo<br />

tempo, terem uma aparência tão rigorosamente construída, racio<strong>na</strong>l e formalista?<br />

3 - o que significam alguns daqueles seres que parecem, em alguns casos, saídos<br />

<strong>de</strong> pesa<strong>de</strong>los, não sem uma dose <strong>de</strong> ironia e, em gran<strong>de</strong> p<strong>arte</strong>, ostentando uma forte<br />

semelhança com as criações da <strong>Arte</strong> Popular?<br />

4 - como se dá esta ligação entre um artista erudito, professor da mais tradicio<strong>na</strong>l<br />

escola universitária <strong>de</strong> <strong>arte</strong> do país com este universo da Cultura Popular Brasileira?<br />

5 <strong>–</strong> Por que Canudos?<br />

Para respon<strong>de</strong>r a estas perguntas percebemos, logo <strong>de</strong> saída, que <strong>de</strong>vido à vasta<br />

produção do professor Adir, que abrange muito mais do que suas <strong>xilogravura</strong>s, seria<br />

necessário que fizéssemos um recorte em sua obra, caso contrário correríamos o risco <strong>de</strong><br />

não chegarmos a um bom termo. Por isso, escolhemos <strong>de</strong>ntro do seu trabalho<br />

xilográfico a série Canudos como nosso tema central. Este conjunto possui 120 obras<br />

que foram integralmente reproduzidas em 2002 num livro, totalmente <strong>de</strong>senvolvido pelo<br />

próprio xilogravador e editado pela EBA/UFRJ. Portanto, esta é a sua série mais<br />

conhecida (as outras são Cal<strong>de</strong>irão, Pedra Bonita e Catumbi). Nela buscaremos<br />

encontrar todos os termos fundamentais <strong>de</strong> sua obra xilográfica, aqueles que nos<br />

suscitaram as perguntas formuladas acima, as quais nos esforçaremos para respon<strong>de</strong>r no<br />

transcorrer <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Por isso, para melhor conduzirmos e apresentarmos este estudo, o dividimos em<br />

quatro capítulos nos quais apresentaremos:<br />

Capítulo I - uma concisa contextualização histórica da gravura e, em especial da<br />

<strong>xilogravura</strong>, partindo dos seus primórdios, mostrando seus <strong>de</strong>senvolvimentos mais<br />

importantes, seu valor para os diversos momentos da cultura européia e brasileira até<br />

chegarmos ao surgimento <strong>de</strong> Adir como discípulo <strong>de</strong> Raimundo Cela e Oswaldo Goeldi<br />

<strong>na</strong> Escola Nacio<strong>na</strong>l <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s, em que veio a se tor<strong>na</strong>r professor;<br />

Capítulo II <strong>–</strong> um resumo dos momentos mais impactantes <strong>de</strong> Os Sertões <strong>de</strong><br />

Eucli<strong>de</strong>s da Cunha, do qual Adir tirou muita <strong>de</strong> sua inspiração para criar suas<br />

<strong>xilogravura</strong>s. Buscaremos dimensio<strong>na</strong>r, através <strong>de</strong> citações comentadas <strong>de</strong> alguns<br />

trechos da escrita jor<strong>na</strong>lístico-poética daquele importante autor brasileiro, toda a<br />

13


<strong>tragédia</strong> da Guerra <strong>de</strong> Canudos mencio<strong>na</strong>da no título <strong>de</strong>ste nosso trabalho, para<br />

mostrarmos como ela fica artisticamente circunstanciada <strong>de</strong> forma muito contun<strong>de</strong>nte e<br />

clara <strong>na</strong> série xilográfica <strong>de</strong> Canudos.<br />

Capítulo III <strong>–</strong> uma sucinta discussão teórica, baseada em alguns teóricos do<br />

assunto, a respeito das origens e características do Expressionismo, do Formalismo e da<br />

Cultura Popular Brasileira, e <strong>de</strong> como todos estes itens estilísticos se mesclam <strong>na</strong><br />

constituição da série Canudos;<br />

Capítulo IV <strong>–</strong> o aprendizado <strong>de</strong> Adir Botelho como aluno do curso <strong>de</strong> pintura da<br />

ENBA, como discípulo <strong>de</strong> Cela e <strong>de</strong> Goeldi <strong>na</strong> mesma instituição, as suas primeiras<br />

experiências xilográficas, os seus <strong>de</strong>senvolvimentos posteriores, a criação <strong>de</strong> suas séries<br />

até chegar em Canudos, quando comentaremos, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta última série, três<br />

exemplos marcadamente expressionistas, três formalistas e três “populares” buscando<br />

interpretá-los formal e semanticamente.<br />

Visando maior clareza em nossos comentários e proposições, lançaremos mão <strong>de</strong><br />

muitas ilustrações retiradas não só da obra <strong>de</strong> Adir, mas também da obra <strong>de</strong> muitos<br />

outros artistas brasileiros ou estrangeiros, gravadores, pintores e escultores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

primórdios até a atualida<strong>de</strong>. As comparações através das imagens serão muito úteis 1 ,<br />

pois nos permitirão alcançar uma maior objetivida<strong>de</strong> sem que tenhamos que nos alongar<br />

<strong>de</strong>masiadamente em nosso texto.<br />

Por fim, ao concluirmos este trabalho, além <strong>de</strong> ter respondido as questões que<br />

foram acima colocadas, ficaremos muito satisfeitos se também o mesmo venha a servir<br />

como uma home<strong>na</strong>gem a Adir Botelho não só como o importante artista que é para a<br />

<strong>Arte</strong> Brasileira, mas também por sua atuação como um professor cuja <strong>de</strong>dicação ao<br />

ensino <strong>na</strong> Escola <strong>de</strong> Belas <strong>Arte</strong>s é exemplar. Foi praticamente uma vida inteira vivida<br />

no interior <strong>de</strong>sta Escola (50 anos), a maior p<strong>arte</strong> do tempo atuando num esforço<br />

contínuo e incansável para transmitir o máximo <strong>de</strong> conhecimento da maneira mais<br />

objetiva e eficiente possível às diversas gerações com as quais travou contato em suas<br />

profícuas docência e carreira artística. A nossa esperança é a <strong>de</strong> que nossos esforços<br />

façam justiça à importância cultural e acadêmica <strong>de</strong> tais obras.<br />

14

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