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327 ANEXO A ENTREVISTA COM O PROFESSOR ADIR BOTELHO

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<strong>ANEXO</strong> A<br />

<strong>ENTREVISTA</strong> <strong>COM</strong> O <strong>PROFESSOR</strong> <strong>ADIR</strong> <strong>BOTELHO</strong><br />

<strong>327</strong>


<strong>ENTREVISTA</strong> <strong>COM</strong> O <strong>PROFESSOR</strong> <strong>ADIR</strong> <strong>BOTELHO</strong> REALIZADA EM 2011.<br />

Em dezembro de 2010 entregamos ao prof. Adir um questionário com pouco mais de 50<br />

perguntas sobre sua vida profissional, enfocando especialmente sua experiência na EBA desde a<br />

graduação na Pintura na década de 50 até a aposentadoria compulsória em 2002. No meio destas<br />

questões, voltadas mais para a sua experiência como docente, existiam várias outras sobre a<br />

gravura e como ela é encarada pelo artista Adir Botelho, particularmente referentes àquelas<br />

xilogravuras da série Canudos.<br />

Tínhamos uma grande expectativa em relação às respostas que nos seriam fornecidas,<br />

pois sabíamos o quanto seriam importantes para desenvolvermos a nossa pesquisa, afinal elas<br />

viriam da própria fonte primária. Todavia, aproximadamente seis meses após a entrega do dito<br />

questionário, o prof. Adir nos informou que por uma “pane” ou “acidente”, depois de várias<br />

respostas já digitadas, o questionário simplesmente fora “deletado” do seu computador. Como a<br />

realização de uma entrevista gravada estava totalmente fora de questão (pois o prof. Adir não as<br />

concede em hipótese alguma), ele se prontificou a construir um “auto-questionário” (termo<br />

nosso) que atenderia a todas as perguntas colocadas anteriormente.<br />

Algum tempo depois, num de nossos encontros para toca de idéias (sobre a minha<br />

pesquisa, sobre exposições em andamento na cidade, sobre memórias antigas, etc.) ele nos<br />

entregou as respostas deste novo questionário. No lugar das cinqüenta questões anteriormente<br />

formuladas foram-me entregues apenas catorze com suas respectivas respostas, as quais, logo<br />

constatei, abrangiam tudo o que me interessava saber de uma forma muito concisa e direta. Era<br />

mais uma demonstração do poder de síntese do experiente xilogravador ao tratar de um tema<br />

que lhe é caro – o seu trabalho. Contudo, além do que estas respostas informam, muito mais o<br />

prof. Adir nos tem contado informalmente sobre sua longa experiência como artista e professor,<br />

informações valiosas que procuramos aproveitar em vários pontos da nossa dissertação.<br />

Eis, na íntegra, as respostas às nossas indagações – resumidas pelo próprio entrevistado:<br />

1 - Como o Sr. entende a gravura?<br />

R: É possível dizer em poucas palavras como se faz uma gravura, o difícil é compreendê-<br />

la, situá-la, saber seu significado, como se articula no mundo da linguagem plástica. A<br />

gravura ganhou muito espaço, existe maior interesse, mesmo assim é aro alguém<br />

328


apresentar-se como gravador. Entre a idéia e a realização da gravura há uma enorme<br />

distância. Para lidar com gravura você precisa ver gravuras, muitas gravuras, das antigas<br />

às atuais, saber como ela é feita, conhecer, dominar a técnica. Não há restrições na<br />

gravura, você pode inventar e imaginar o que quiser, a essência da busca é sempre a<br />

mesma. O gravador fala das coisas que conhece, é uma figura capaz de sentir os mistérios<br />

e enigmas que existem no Universo, é também um ser disposto a revelar a verdade que as<br />

coisas envolvem. Construir uma gravura, lidar com tintas, goivas e buris, tirar e rever<br />

cópias de estado com vista aos resultados desejados constitui operações que merecem<br />

tanta atenção quanto o debate sobre o rumo das artes no mundo encolhido pela<br />

globalização e tecnologia de hoje.<br />

2 – Por que preferiu a xilogravura?<br />

R: Pela atmosfera de liberdade que ela cria. Gravar na madeira é uma necessidade da<br />

criatividade humana, uma forma de questionar a natureza. Não se pode desinventar a<br />

xilogravura, ela será irresistível enquanto se mantiver fechada sobre o núcleo central de<br />

sua própria força. O gravador jamais diz nunca: os esforços, as experiências na<br />

xilogravura não se dispensam, somam-se. Seu ofício não é em si mais do que um meio,<br />

cada gravador tem seu estilo, sua visão, enfim, os atributos que fazem sua obra ser única.<br />

Gravar na madeira é uma aprendizagem constante de um saber profissional e humano,<br />

tudo nela é expresso de maneira simples e objetiva. Contestatória e livre é coisa para se<br />

ver, ser pensada, discutida. O ato xilográfico escapa ao tempo, é permanente nas coisas<br />

que mudam; o significado que damos a ele é que realmente importa. A xilogravura deve<br />

ser encarada pelo seu enorme poder de expressão, seu poder de multiplicar-se e de atender<br />

parcelas de cultura espalhadas por toda parte.<br />

3 – Como você realiza as suas xilogravuras?<br />

R: Eu me coloco à frente do cavalete, a matriz de madeira na vertical como se fosse uma<br />

tela, e a mão funciona mecanicamente, faço o desenho direto na madeira, tudo de uma vez<br />

só; não corrijo. Uso pincel de cabo longo, pêlos de cerda, e tinta nanquim. Desenho mais<br />

uma ou duas matrizes, levo uma das madeiras para a bancada e começo a gravar com as<br />

goivas, buris e martelos. O desenho mesmo na sombra do inconsciente norteará a imagem<br />

latente da gravura. Em certos casos os excessos do desenho têm emprego legítimo, por<br />

conferir à expressão mais vigor, ou clareza. Os estudos em geral, croquis, anotações,<br />

enquadramentos, esboços de composição são desenvolvidos a nanquim, grafite, caneta-<br />

tinta e carvão. As 120 xilogravuras da série Canudos foram realizadas em madeira canela<br />

ou peroba, com dimensões aproximadas de 50 X 40 cm, cada matriz.<br />

329


4 – Por que Canudos?<br />

Há em Canudos terreno favorável adequado às obras que visam retratar a trajetória<br />

humana pelo ângulo do conflito, dos defeitos e previsões baseadas nas distinções de ordem<br />

social e o fato de viver num clima de loucura. Propagava-se o mito de que Belo Monte, que<br />

o povo de fora chamava de Canudos, era a terra da promissão, onde corria leite e mel e os<br />

barrancos eram de cuscus. Antonio Conselheiro prenunciava o fim dos tempos para 1900<br />

com chuvas de estrelas. A série Canudos/Xilogravuras vive da tensão entre o provisório e o<br />

que não tem princípio nem fim e reduz à imagem xilográfica o que aconteceu naquele<br />

longínquo pedaço do Brasil – é justamente a imagem gravada na madeira que pode, por<br />

sua força, exercer poder e atração e chegar a mais extrema expressão. A violência da<br />

guerra em Canudos transformou cada uma das xilogravuras numa visão de catástrofe, que<br />

oscilou à vertigem das lendas, difícil saber onde acaba o sonho e começa a realidade.<br />

5 – O Sr. dedicou-se por 20 anos ao tema de Canudos; como surgiu o interesse por este<br />

caminho?<br />

A guerra de Canudos e Antonio Conselheiro são, respectivamente, o episódio e o brasileiro<br />

mais estudado na historiografia brasileira. A extensíssima bibliografia sobre a tragédia de<br />

Canudos reúne milhares de referências sobre a temática, entre ensaios, poesias de cordel,<br />

peças teatrais, romances, músicas e inúmeras obras iconográficas de reconhecimento<br />

universal. Uma enquete realizada pela Revista Veja, em novembro de 1994, com quinze dos<br />

mais consagrados intelectuais do país elegeu Os Sertões, de Euclides da Cunha, publicado<br />

em 1902, como a obra mais representativa da cultura popular de todas as épocas. A<br />

epopéia de Canudos é o acontecimento central sobre o qual se apóia Os Sertões, que desde<br />

logo se impôs como obra única em nossa literatura. O drama da cidade santa de Canudos,<br />

em cujo interior a pessoa não morria, sim que passava a engrossar a lista de santos que<br />

ressuscitariam no dia do fim do mundo, como diz Mario Morales, foi gravado na madeira<br />

compacta, maciça. As imagens surgiram naturalmente, uma após a outra, e assim por<br />

vinte anos (1978-1998). Embora o caráter independente de cada uma, as gravuras da série<br />

se interligam formando um conjunto. Em Canudos a dramaticidade permeia tudo, o<br />

tempo artístico é o do Expressionismo, seus excessos e fantasias, uma solução visual, um<br />

estilo adequado à força dos acontecimentos. Antonio Conselheiro, um ser místico, cercado<br />

da fama de santidade, representa algo mágico, símbolo de esperança e de salvação.<br />

Canudos era o caos, o último pouso na travessia de um deserto – a Terra. Os jagunços<br />

errantes ali armavam pela derradeira vez as tendas, na romaria miraculosa para os céus...,<br />

330


escreve Euclides da Cunha. A série Canudos/Xilogravuras propõe uma reflexão do drama<br />

humano, o desastre social que aconteceu no interior do Brasil.<br />

6 – Por que o uso do carvão?<br />

Na série Agonia e morte de Antonio Conselheiro/Desenhos a Carvão, há uma dimensão<br />

carregada de dor e tristeza, a expressão do que existe é infinita. Antonio Conselheiro<br />

aparece não como mártir, sim como um misterioso caminhante cujos conselhos atraiam e<br />

seduziam multidões. Os 22 desenhos da série arrastam consigo divisões de sombra e<br />

mistério, o humor envolve tudo numa atmosfera irreal e fantasmagórica. Do carvão<br />

extraiu-se a obra do único modo como se deixou realizar, uma visão, um ato de<br />

transferência, uma concepção do desenho pronto, ajustado as tonalidades do branco quase<br />

puro até o preto mais carregado. No processo do carvão nada é definitivamente<br />

impossível, o artista age segundo um sistema de reflexos: traços, texturas, manchas podem<br />

ser modificadas quantas vezes for necessário. Desfazer detalhes, renunciar a trechos do<br />

desenho é tarefa simples, basta apagá-los, o que pode ser feito diretamente com a própria<br />

mão, ou material apropriado. O artista pode em seguida retomar o desenho e completá-lo.<br />

Uma das funções do carvão é permitir criar a cada momento as situações para as quais se<br />

inclina a vontade do artista.<br />

7- De que forma o Sr. vê a relação professor-aluno? Qual é seu método de trabalho enquanto<br />

professor de gravura na EBA?<br />

A gravura é especial, exige que você olhe com atenção prova por prova de estado e que<br />

perceba as coisas de modo diferente. Para olhar uma gravura convém libertar-se de todas<br />

as regras. O professor deve ver tudo que o aluno a ele submete, sua crítica deve ser<br />

pormenorizada. A primeira impressão é um tanto vaga, só após análise de todos os<br />

elementos é possível compreender as significações de cada um deles e o trabalho no seu<br />

conjunto. Um jovem que pretende fazer gravura deve antes de tudo indagar a si mesmo: o<br />

que é gravura? Qual a sua função específica? E estar certo que a aprendizagem dura a<br />

vida toda. Deve entender que a gravura é basicamente criativa, tem suas normas, exige<br />

continuidade e disciplina e que apenas o ofício não basta para ser um bom gravador.<br />

Saber que a história da gravura é a história dos que a fazem, dos meios que empregam e<br />

ter consciência da importância da arte como testemunho que cada geração deixa de si<br />

para a história.<br />

8 – Como o Sr. vê a EBA e sua atuação nos dias atuais?<br />

331


A Escola de Belas Artes sempre foi sensível às transformações e aos novos meios<br />

tecnológicos. Os cursos são bem organizados e seguem uma sistemática de ensino com<br />

currículos integrados periodicamente atualizados. Professores e alunos sabem que novas<br />

formas de arte não se impõem, acontecem, podem surgir em qualquer lugar e por<br />

qualquer razão. A arte está nas ruas, em todo lado, alguns movimentos estéticos<br />

rapidamente se tornam conhecidos, outros encontram com o tempo visões simbólicas que<br />

fortalecem sua identidade. Alunos e professores animam-se à liberdade, inventam criam<br />

novas linguagens, dão privilégio a abordagens caracterizadas por uma visão ampla do<br />

mundo.<br />

9 – Como o Sr. vê o cordel?<br />

A literatura de cordel, ornada de xilogravuras, atinge algum ponto sensível do<br />

inconsciente da gente do sertão e dá a esse povo o direito de sonhar, sobretudo o direito à<br />

liberdade de expressar os aspectos de sua natureza, de suas tradições e costumes. O cordel<br />

ainda hoje é a cartilha do povo sertanejo.<br />

10 – Como surgiu a idéia de fazer o Mural da Terra?<br />

As construções da fachada lateral do prédio da Faculdade de letras da Universidade<br />

Federal do Rio de Janeiro formam um espaço organizado e animado, arquitetonicamente<br />

pronto para receber uma obra artística. Para esse espaço desenvolvi os estudos do Mural<br />

da Terra concebido como um mosaico de minúsculas pastilhas de vidro puro estilizando<br />

narrativas e personagens da literatura oral e do imaginário popular brasileiro. Nenhum<br />

saber possui maior espaço de estudo e aproximação humana do que os conhecimentos das<br />

tradições de um povo expressas em suas lendas, crenças populares, canções e costumes. Ao<br />

concluir os estudos do Mural da Terra compreendi que as histórias de um Brasil perdido<br />

estão aí, que elas existem. O verdadeiro poder do Mural da Terra, no entanto, não reside<br />

no simples fato de conter histórias contadas pelos pajés ou pelas mães que amavam repetir<br />

aos filhos as recordações da tribo, mas o de compreender o alcance da educação através da<br />

arte.<br />

11- Raimundo Cela e Oswaldo Goeldi influenciaram a sua maneira de ver e exercer a docência?<br />

Raimundo Cela e Oswaldo Goeldi exerceram o magistério da gravura com dedicação e<br />

entusiasmo, cada um ao seu modo marcou profundamente minha atuação no ensino da<br />

gravura. Cela expressava-se com segurança, submetendo à ação dos ácidos os traços<br />

incisivos que caracterizam suas águas-fortes. Goeldi firmou-se como a mais poderosa<br />

332


presença na arte da xilogravura no país. Raimundo Cela e Oswaldo Goeldi deixaram sua<br />

marca na História da gravura.<br />

12- Como o Sr. imagina as obras que produz?<br />

Tento criar relações entre o mundo da imaginação e o mundo da realidade. Não é nada<br />

fácil tentar entender as coisas para traduzi-las na gravura, você tem que sonhar o tempo<br />

todo, encontrar sentido nas coisas que parecem não significar nada. Gravar na madeira é<br />

encarar em silêncio o que o pensamento em geral pode criar e imaginar.<br />

13- Influências?<br />

Jamais existiu artista algum, diz Gustavo Cochet, por maior e genial que fosse que não tenha<br />

sofrido a influência de seus mestres e de sua época. Partindo da folha de papel em branco,<br />

ou da matriz de madeira pronta para gravar, é ao passado da humanidade, a alguma coisa<br />

perdida no tempo, e às abundantes fontes das tradições que o gravador regressa. A<br />

necessidade de recompor coisas do passado está em todos nós.<br />

14- Como o Sr. entende a possível relação entre a arte considerada “erudita” e aquela tida como<br />

“popular”?<br />

A arte é uma só, ou é boa ou é ruim. O ato intelectual de gravar na madeira reflete algo<br />

que é comum a todos, não importa o tema, a forma, o importante é o que ele tem a dizer.<br />

333


<strong>ANEXO</strong> B<br />

NOTA BIOGRÁFICA – <strong>ADIR</strong> <strong>BOTELHO</strong>: UM <strong>PROFESSOR</strong>-ARTISTA DA ESCOLA<br />

DE BELAS ARTES<br />

334


Adir Botelho – Um Professor-Artista da Escola de Belas Artes<br />

Ricardo A. B. Pereira<br />

IL. 1 <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos, xilogravura, 37,5 X 50,5 cm, 1985.<br />

A história da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro é<br />

conhecida por todos nós que dela somos membros e, acredito, que por grande parte dos<br />

demais agentes culturais externos a ela em nosso país – alunos de outras escolas<br />

superiores, artistas, professores, críticos, historiadores, curadores, etc. – que lidam a<br />

fundo com cultura artística em seu dia-a-dia. Por esta tradicionalíssima instituição de<br />

ensino, desde sua fundação como Escola Real de Artes, Ciências e Ofícios, através de<br />

Decreto-Lei de D. João VI de 1816, têm passado grandes nomes que, como professores<br />

e artistas, deixam marca importante não só no meio acadêmico, mas também na cultura<br />

e arte nacionais. Em alguns casos estas duas carreiras estão tão intimamente interligadas<br />

que, quando alguém quer definir melhor determinados membros do seu quadro docente,<br />

tem dificuldade em separá-las, apontando qual das duas seria a mais importante para<br />

descrever a pessoa em questão. Mas esta separação, diga-se de passagem, não é<br />

fundamental. Contudo, por uma questão de maior clareza e equanimidade em minhas<br />

colocações, é o que buscarei realizar aqui, apenas por um breve momento, nestas notas<br />

biográficas a respeito do professor-artista Adir Botelho.<br />

Nascido em 1932, sua relação com a arte se iniciou bem cedo, quando “ainda<br />

muito jovem descobriu o prazer da representação gráfica vendo seu irmão mais velho<br />

desenhar”. 330 Durante o ginásio, cursado no São Bento, já freqüentava o Liceu de Artes<br />

e Ofícios, sendo aluno das aulas de desenho. Naquela época, década de 40, o prédio do<br />

Liceu (demolido para dar lugar ao atual prédio da Caixa Cultural) ficava a poucos<br />

metros da então Escola Nacional de Belas Artes (onde hoje funciona o Museu Nacional<br />

335


de Belas Artes), sendo visitada com entusiasmo pelo garoto Adir que, contudo, não se<br />

sentia ainda preparado para nela estudar, preferindo aguardar o momento certo para<br />

fazer o vestibular 330 . Desta forma, só em 1949 finalmente ingressa, aos 18 anos, no<br />

tradicional curso de Pintura da ENBA, também “ligando-se desde cedo à redação e<br />

diagramação de jornais e revistas [tendo trabalhado] nos jornais Tribuna da Imprensa, O<br />

Globo, Shoping News, e no Instituto Nacional do Livro”. 330<br />

Porém, ao saber que seria aberto na ENBA um curso de gravura com a duração<br />

de dois anos (que atualmente seria considerado um curso de extensão), Adir Botelho foi<br />

o primeiro aluno a nele se inscrever, antes mesmo de concluir o seu bacharelado em<br />

Pintura. 330 Isto ocorreu “em 1951, quando a Congregação da Escola, em 13/11/1950,<br />

aprovou a indicação de Raimundo Brandão Cela para a regência da cadeira de Gravura<br />

de Talho-Doce, Água-Forte e Xilografia.” 330 Começava aí a sua longa ligação com a<br />

gravura que, suplantando seu interesse inicial pela pintura, o tornou um dos mais<br />

importantes gravadores brasileiros da segunda metade do século XX:<br />

336<br />

Participei do Salão, creio que em 55, 56, com gravura em madeira e não parei mais e<br />

todas as vezes, e sempre, nunca mais expus em pintura, em nenhuma mostra, por menor<br />

que fosse, nem do Rio, nem de fora. Sempre fiz questão de participar de todo e qualquer<br />

evento, sempre e tão somente, com gravura em madeira. Coisa que faço até hoje...” 330<br />

A partir deste momento seu nome fica também indissociável do ensino da<br />

gravura na ENBA. Em 1953, com apenas 20 anos, torna-se auxiliar de Cela, após os 2<br />

anos de estudos requeridos pelo curso, assumindo pouco depois a responsabilidade pela<br />

cadeira durante o internamento daquele mestre por motivos de saúde. Com a morte de<br />

Cela em 1954, Oswaldo Goeldi assumiu a regência da cadeira, tornando-se Adir<br />

também seu auxiliar e discípulo durante 6 anos, até que, com o falecimento deste<br />

segundo mestre em 1961, vê-se efetivado como professor do atelier de gravura da<br />

ENBA por 51 anos ininterruptos, até sua aposentadoria compulsória.<br />

Sob sua orientação, após o impulso inicial dado por Cela e Goeldi, o atelier de<br />

Gravura se tornou um dos setores mais produtivos da ENBA (tornada EBA depois de<br />

1965), recebendo tanto alunos regularmente matriculados quanto “ouvintes” que,<br />

atraídos pela dinâmica imprimida por seu jovem professor, iam ali buscar aprendizado e<br />

desenvolver suas linguagens em plena efervescência político-cultural dos anos 60. Já em<br />

1966, apenas 5 anos depois de ter assumido a regência do atelier de gravura, é publicado


um elogioso artigo no jornal O Globo (na mesma página em que se fala de um evento<br />

muito importante para as artes brasileiras, a exposição Opinião 66) intitulado O<br />

ATELIER DE GRAVURA DA ESCOLA NACIONAL DE BELAS ARTES, o qual,<br />

devido a sua importância para a história desta escola e do seu curso de Gravura,<br />

reproduzirei na íntegra:<br />

337<br />

Foi fundado há quinze anos o “atelier” de gravura da Escola nacional de Belas- Artes,<br />

onde Goeldi lecionou durante muito tempo. Agora, é Adir Botelho que tem a seu cargo<br />

ensinar as várias técnicas de gravura em metal e madeira, aos alunos ali matriculados,<br />

cujo número é, em média, de cinqüenta e cinco. Eles não precisam pertencer a ENBA,<br />

nem seguir horários rígidos. Entram e saem quando querem, trazendo seu próprio<br />

material. O que impressiona logo quem visita o “atelier” é o espírito de cooperação<br />

entre o mestre e os alunos e a maneira porque estes consultam uns aos outros – trocando<br />

sugestões – comparando experiências. As provas estendidas no chão são criticadas em<br />

comum. Adir Botelho é consultado com freqüência indicando, aqui, o motivo pelo qual<br />

não foi possível obter o efeito desejado, sugerindo, ali, a solução mais indicada,<br />

ajudando uns e outros a encontrar os seus próprios caminhos. São muitos os artistas, já<br />

hoje consagrados, que por ali passaram. A maior parte deles permanece fiel à gravura,<br />

porém, mesmo os que enveredaram por outros caminhos, como Antonio Dias, e<br />

Gerchman, por exemplo, devem, em parte, à técnica difícil da gravura sua disciplina<br />

artística. Os alunos encontram ali, um ambiente tão propício ao trabalho e uma<br />

orientação tão válida que freqüentam o “atelier” durante largo espaço de tempo – alguns<br />

até dez anos. Por várias vezes, trabalhos por eles executados vêm figurando em<br />

coletivas aqui e no estrangeiro. Agora mesmo, Adir Botelho já selecionou dez que<br />

participam da Bienal de Córdoba. Outras exposições de gravura executadas por alunos<br />

do “atelier” da ENBA foram realizadas no estrangeiro – uma, no Uruguai, ainda sob a<br />

orientação de Goeldi, outra, no Paraguai, com Livio Abramo. Uns encontram, na<br />

gravura em madeira, a modalidade mais adequada as suas concepções. Há outros para<br />

os quais a gravura em metal fornece os elementos que melhor se adaptam à sua<br />

linguagem pictórica. Muitos trabalham quase um ano em preto em branco antes de<br />

serem solicitados ao uso da cor. Todos consideram que as exigências apresentadas por<br />

uma técnica árdua são amplamente compensadas pela satisfação que encontram no<br />

trabalho, pelas perspectivas que este lhes oferece, e pela disciplina artística obtida<br />

através dele. E há, sobretudo, o momento decisivo – que é mais esperado – o que<br />

compensa plenamente as longas horas – os longos dias – os longos anos de trabalho: o<br />

momento da prova. Agora a atividade do ”atelier” ainda é maior do que de costume. É<br />

que, a 5 de setembro, vai ser realizada a grande feira de gravura dos alunos: cem<br />

trabalhos, ao todo, cujo preço não ultrapassará a casa dos vinte mil cruzeiros. A<br />

qualidade dos trabalhos reunidos demonstrará o que vem realizando, graças ao que


338<br />

aprenderam no “atelier” de gravura da Escola Nacional de Belas Artes, e à cooperação<br />

de todos os que ali trabalham, os alunos de Adir Botelho. 330<br />

Pelo que se depreende da leitura deste artigo, podemos perceber o quanto o<br />

processo de ensino levado a cabo por Adir Botelho se diferenciava da tradicional forma<br />

de ensino da maioria dos professores com os quais estudara durante sua graduação em<br />

Pintura. Aqueles, sempre muito formais, mantinham certa distância de seus alunos, os<br />

quais não tinham muita liberdade para proporem exercícios diferentes daqueles<br />

estipulados pelo mestre. Da mesma maneira, não havia muito intercâmbio interno,<br />

sendo difícil, fora do ambiente das salas, um aluno pedir opiniões sobre seus trabalhos a<br />

professores de outras disciplinas que encontrassem pelos corredores da EBA. 330 Uma<br />

das exceções ficou por conta do próprio Goeldi, cujo método de ensino vem descrito,<br />

por ele mesmo, desta forma:<br />

Não sou propriamente um professor, mas sim um orientador. Há uma parte técnica em<br />

toda manifestação artística que deve ser ensinada por quem tem mais experiência; mas a<br />

parte da criação é puramente interior e querer guiá-la ou dar-lhe orientação seria mutilar<br />

a personalidade do artista. Faço assim não só com as crianças da Escolinha [de Arte de<br />

Augusto Rodrigues], mas também com os alunos da Escola Nacional de Belas Artes.<br />

Cada um deve seguir as suas próprias tendências, sem se apegar a escolas e grupos. 330<br />

Esta maneira de Goeldi entender seu trabalho como professor – totalmente<br />

modesto e não invasivo - foi herdada por seu discípulo Adir que, como vimos no artigo<br />

do Globo, sempre a colocava em prática durante suas aulas e avaliações. Fui testemunha<br />

disto, pois pude me beneficiar dela quando, por meu turno, freqüentei a Oficina de<br />

Gravura como aluno do curso de Pintura, pelos idos de 1985. Naquela época o atelier de<br />

gravura não mais estava no tradicional ambiente do antigo prédio da ENBA, no centro<br />

do Rio, mas numa grande sala térrea, nos fundos de um longo corredor do prédio da<br />

Reitoria da UFRJ, construído na Ilha do Fundão, para o qual a Escola fora transferida na<br />

segunda metade da década de 70, onde funciona até hoje. Mas lá ainda se formava a<br />

mesma roda de alunos a discutirem as gravuras uns dos outros sob os olhares atentos do<br />

próprio professor Adir Botelho e dos professores Marcos Varela e Kazuo Hia. O clima<br />

era sempre bastante descontraído e cooperativo, de estimulo a troca de idéias e<br />

experiências, entrando o professor Adir, sempre no momento certo, para instigar nos<br />

alunos a reflexão sobre o que estes haviam criado durante as aulas do semestre e a


vontade de sempre se superarem. Às vezes, quando necessário para dar uma “cutucada”,<br />

colocava um toque de ironia na sua fala, mas sempre respeitosamente, com atenção,<br />

objetividade e profunda clareza nas observações. Muitas vezes também pude vê-lo<br />

solicitar opiniões (de quantos estivessem no atelier, ou que, de improviso, entrassem<br />

naquele momento), sobre um determinado resultado obtido por alguém, visando sempre<br />

colher nestas respostas um apoio (obtendo, às vezes, até discordâncias) sobre sua<br />

própria opinião relativa àquele trabalho em discussão. Ou a insistir com outro aluno que<br />

estivesse mais inseguro dos seus resultados para que nunca desistisse do trabalho, que<br />

tentasse de novo quantas vezes fossem necessárias até atingir o resultado esperado; ou<br />

ainda para que os alunos nunca desvalorizassem suas próprias criações, guardando<br />

mesmo o mais simples estudo para consultas comparativas futuras, ainda que fosse<br />

apenas para “mostrar aos seus netos”; que experimentassem este ou aquele método para<br />

solucionar um problema técnico, etc.<br />

Além disso, esta troca de opiniões por ele sempre muito estimulada, que se<br />

aplicava, inclusive, a seu próprio trabalho de xilogravador, mais uma vez pude<br />

presenciar quando, recentemente (em maio de 2011), estive no mesmo atelier da EBA.<br />

Neste dia, durante um encontro que havíamos ali marcado para uma conversa sobre meu<br />

projeto de mestrado, o professor Adir, mostrando sobre uma mesa de trabalho várias<br />

opções de capas por ele criadas para um dos seus livros mais recentes, ainda a ser<br />

lançado, pedia a todos, alunos e professores presentes, que opinassem, comentassem e<br />

escolhessem aquelas que considerassem as melhores, ajudando-o em sua decisão.<br />

Também dei meu palpite e fiquei feliz por ter podido de alguma forma contribuir com<br />

aquela obra. Relato isto porque vejo nesta atitude uma prova da natural modéstia do<br />

professor Adir, jamais deixada de lado apesar do seu grande talento, saber e inúmeras<br />

láureas alcançadas em sua longa e profícua carreira. É por estes e outros motivos que a<br />

ex-diretora da EBA, professora Angela Ancora da Luz, tendo sido também aluna de<br />

Adir Botelho, ao apresentar a série Canudos, editada em livro pela EBA/UFRJ em<br />

2002, assim se refere ao seu antigo mestre:<br />

339<br />

Assim como há uma caligrafia própria para cada xilogravador, que nos leva facilmente a<br />

perceber que o traço de Adir não pode ser confundido com o de Goeldi, na mesma<br />

relação de identidade entre autor e obra, encontramos também as marcas do mestre<br />

sobre o aluno. Observo, então, a importância de Adir na formação de tantos gravadores<br />

formados pela Escola de Belas Artes. Hoje o corpo docente do ateliê de gravura da EBA


340<br />

é composto por professores que foram seus discípulos, ou seja, não apenas alunos, mas<br />

seguidores. Cada um com sua identidade e sua inclinação técnica dentro da gravura,<br />

numa fraternidade rara de acontecer no mundo contemporâneo em que vivemos. 330<br />

Além de professor e Coordenador do Curso de Gravura, Adir Botelho assumiu a<br />

importante função de Coordenador do Departamento Artes Base. E sob sua coordenação<br />

o atelier de gravura passou por uma grande reformulação em 1969, vindo a se tornar,<br />

em 1970, o atuante curso de graduação que conhecemos. Na atualidade o Curso de<br />

Gravura da EBA tem como professores Marcos Varela, Kazuo Hia e Pedro Sanchez,<br />

seguindo firme a trilha aberta lá nos anos 50 por Cela, continuada por Goeldi e<br />

solidificada por Adir Botelho. Agora, estando aposentado como Professor Adjunto, o<br />

mestre dedica-se a escrever tanto sobre sua própria produção quanto a respeito da<br />

imensa produção gráfica brasileira. Como ensaísta escreveu Raimundo Cela pioneiro<br />

da gravura no Brasil para o livro Raimundo Cela (1890-1954). 330 Sobre sua própria<br />

obra produziu Canudos xilogravuras e Canudos: agonia e morte de Antonio<br />

Conselheiro (ambas editadas pela EBA/UFRJ em 2002 e 2006), estando em fase de<br />

produção um trabalho a respeito das outras 3 séries de suas xilogravuras (Caldeirão,<br />

Pedra Bonita e Catumbi), conjuntamente intituladas Adir Botelho: xilogravuras.<br />

Sobre a obra de Goeldi está praticamente finalizado o livro Romance de Goeldi,<br />

contendo comentários em forma de ensaios e contos sobre desenhos e gravuras do seu<br />

antigo professor. E sobre a história da gravura brasileira, também em fase final de<br />

produção, termina Teatro da Gravura no Brasil, um diálogo teatral sobre a história da<br />

nossa gravura, mas contendo inúmeras referências a gravadores estrangeiros e à arte em<br />

geral. Na apresentação desta obra, a professora Angela Ancora afirma que:<br />

Adir Botelho nos contempla com mais uma de suas obras, desta vez trazendo uma<br />

contribuição que nos permite compreender a história da gravura brasileira em<br />

profundidade, com informações que só encontramos neste texto o que, a priori, já o<br />

torna uma referência para artistas e pesquisadores interessados nos assunto. Contudo, se<br />

a significação deste trabalho não motivasse o leitor por seu próprio objeto, “Teatro da<br />

Gravura no Brasil” é uma grande encenação em tempo atual, cuja ação é brasileira. É o<br />

drama, como ação que imita os comportamentos humanos. [...] Ao tomar o drama como<br />

ferramenta com o qual vai gravar a sua história do teatro, Adir escolhe o método<br />

dialético para desenvolver a narrativa. 330


Completando toda esta grande produção de livros, dá os retoques finais em Adir<br />

Botelho: estudos a bico de pena e carvão sobre a obra de Guimarães Rosa. Quando<br />

lançadas, dado o profundo conhecimento de seu autor sobre o tema, com certeza tais<br />

obras enriquecerão muito o acervo atual da literatura sobre a arte brasileira.<br />

Para concluir esta parte sobre o Adir professor, menciono agora a obra Mural<br />

da Terra, um projeto de dimensões gigantescas que começou a tomar concretude, a se<br />

tornar conhecido, quando do lançamento do calendário da UFRJ de 2007, no qual foram<br />

estampadas as várias seções desta riquíssima e feliz criação pictórica. Faço esta menção<br />

aqui, ainda ao tratar da carreira docente de Adir Botelho, porque se trata de uma idéia<br />

que envolve a participação dos alunos da EBA, os quais, sob a orientação do mestre,<br />

executarão o referido mural em pastilhas de vidrotil. Portanto, é um importante projeto<br />

acadêmico que traz a tona o primeiro Adir - o Adir pintor - que após décadas<br />

expressando-se graficamente em preto e branco, subitamente reaparece numa explosão<br />

de cores e texturas dignas dos mais renomados muralistas do século XX, no mesmo pé<br />

de igualdade com os mestres mexicanos e com o próprio Portinari. Quando estiver<br />

realizado, o mural cobrirá toda a empena sudeste do prédio da Faculdade de Letras da<br />

UFRJ com o variadíssimo universo do folclore brasileiro, visto através da linguagem<br />

expressionista do professor, xilogravador e pintor Adir Botelho. Vejamos sobre este<br />

projeto um trecho da apresentação redigida pelo gabinete do reitor, que consta do<br />

referido calendário:<br />

341<br />

Serão ao todo onze magníficos painéis, concebidos como um mosaico de minúsculas<br />

pastilhas de vidro, estilizando narrativas e personagens que informam nossa literatura<br />

oral e habitam o imaginário popular. Bruxas, pajés, bichos estranhos, fantasmas de<br />

escravos, curupiras, boiúnas e lobisomens se entrecruzam na obra do artista que, em<br />

luzes e sombras, cores e texturas que nos são muito próprias, acaba por nos dar um<br />

amoroso testemunho do seu apego às coisas do Brasil. Anima-a, também, a profunda<br />

convicção de que a universidade, a casa dos saberes eruditos, não pode, sobretudo em<br />

um país como o nosso, que almeja oferecer oportunidades culturais e educacionais<br />

contemporâneas a contingentes cada vez mais numerosos, descartar modos diversos de<br />

ver e compreender o real. Nas palavras do próprio artista: “Nenhum saber possui maior<br />

espaço de estudo e aproximação humana do que o conhecimento das tradições de um<br />

povo, expressas em suas lendas, crenças populares, canções e costumes. Elas, como diz<br />

Câmara Cascudo, folclorista brasileiro, ‘vêm carregadas na confidência arrebatada,<br />

ressuscitando todas as glórias gerais e domésticas’. Ao concluir o projeto Mural da


342<br />

Terra, compreendi que as histórias de um Brasil perdido estão aí, que elas existem. O<br />

verdadeiro poder dele, no entanto, não reside no simples fato de conter histórias<br />

contadas pelos pajés ou pelas mães que amavam repetir aos filhos as recordações da<br />

tribo, mas o de compreender o alcance da educação através da arte e da estética.”<br />

Diante de tanta energia e profusa manifestação de criatividade aos 79 anos, só<br />

posso afirmar, sem medo de estar exagerando, que a aposentadoria do professor Adir é<br />

uma das mais ativas e produtivas, dentre professores e artistas, de que tenho notícia<br />

nestes meus 30 anos de relacionamento com a EBA.<br />

Adir, o xilogravador e desenhista<br />

Mas falando agora sobre sua carreira artística como xilogravador, ela foi<br />

construída paralelamente às suas atividades de professor, designer de decoração<br />

carnavalesca para as avenidas do Rio de Janeiro (pela qual o artista Adir Botelho<br />

também é bastante lembrado), diagramador e ilustrador, tendo seu trabalho xilográfico<br />

sido premiado em eventos nacionais e internacionais de grande importância. Recebeu<br />

críticas e comentários de nomes de peso no campo das artes e tem sua obra representada<br />

em acervos como os do MASP, Itaú Cultural, Museu Nacional de Belas Artes,<br />

Biblioteca Nacional e MAM do Rio de Janeiro. Seu currículo completo tomaria muito<br />

espaço do número pequeno de páginas de que disponho para escrever, no entanto posso<br />

citar, entre os muitos eventos de que participou e prêmios que recebeu, os seguintes:<br />

expositor na V, VI, VII, VIII e IX Bienais de São Paulo; expositor no Salão Nacional de<br />

Arte Moderna, de 1954 a 1972 (Prêmios de Isenção de Júri e Viagem ao País, em 1958<br />

e 1959); Salão de Arte Moderna do Paraná, 1962, (Prêmio de Melhor Gravador<br />

Nacional) 330 etc. Como afirmei, a lista é longa...<br />

E dentre as suas séries de xilogravuras, a mais conhecida é Canudos, já citada<br />

acima, composta por 120 xilogravuras e realizada em 20 anos de trabalho sem<br />

interrupção (1978 a 1998). Baseada na Guerra de Canudos, descrita na imortal obra de<br />

Euclides da Cunha, Os Sertões, estas gravuras são estilisticamente associadas ao<br />

Expressionismo, contudo com evidente preocupação com uma profunda pesquisa da<br />

forma, aliada a uma técnica derivada, em parte, dos meios pictóricos, os quais o artista<br />

domina completamente. Mas passo a palavra mais uma vez à professora Angela, que<br />

descreve desta maneira a série:


343<br />

A série Canudos, na gravura de Adir Botelho é, na acepção da palavra uma verdadeira<br />

campanha, tanto em sua extensão como na seqüência de operações que registra dos<br />

sertões de nossa terra. [...] é composta de 120 xilogravuras realizadas entre 1978 e 1998.<br />

Percebemos a obra como uma estrutura completa e que deve ser vista enquanto<br />

totalidade. Cada parte tem uma função no todo. Adir constrói uma gestalt para nos<br />

colocar em contato com aqueles extraordinários patrícios dos quais, separados por<br />

uma coordenada histórica – o tempo, somos, segundo Euclides da Cunha, mal unidos<br />

pelo solo em parte desconhecido. 330 O artista nos obriga a refluir para o passado e ir ao<br />

encontro dessa gente que, ...”carregando bacamartes, garruchas, espingardas, pistolas<br />

e facões; de cartucheira à cinta e gorro à cabeça, na atitude de quem vai à guerra 330<br />

são os heróis anônimos de todos os tempos onde injustiças sociais, a miséria e a fome<br />

contrapõem, à debilidade dos corpos, a força da resistência até o limite extremo. A luta,<br />

o desconhecimento ilógico da rendição, o poder da vida atravessando a condição da<br />

morte aparecem nos registros comuns de uma humanidade debilitada mas não<br />

vencida. 330<br />

Portanto, a série Canudos é uma tradução muito pessoal daquilo que Euclides<br />

da Cunha narra sobre os horrores daquela guerra que vitimou milhares de pessoas, tanto<br />

sertanejos, quanto soldados, revelando toda a insensatez que pode tomar conta da mente<br />

humana quando esta se vê diante de situações de grave discórdia. Mas é também uma<br />

poderosa manifestação de criatividade, pois mescla várias tendências estilísticas que vão<br />

surgindo no transcorrer da elaboração das gravuras, numa busca contínua pela forma<br />

mais original e, ao mesmo tempo, mais condizente com o desejo do artista de expressar<br />

o que sente perante aquilo que ocorreu em Canudos.<br />

E todas estas tendências são manifestas de maneiras diferentes na construção das<br />

imagens, alternando linhas grossas com texturas mais densas, linhas finas e grossas<br />

contra fundos inteiramente brancos ou, ainda, efeitos de características claramente<br />

pictóricas, derivadas do seu processo de lançamento do desenho sobre a prancha com a<br />

utilização de nanquim a pincel, gerando manchas que são, muitas vezes, criteriosamente<br />

respeitadas pelo corte afiado das goivas. É um pouco do pintor - que jamais foi<br />

esquecido - presente na obra do xilogravador (embora este tenha sempre mantido em<br />

sua produção uma linguagem gráfica totalmente original e independente). Mas tais<br />

efeitos pictóricos também são alcançados por processos puramente gráficos; é o caso da<br />

sobreposição de duas ou mais matrizes, procedimento normalmente utilizado quando o<br />

gravador quer acrescentar cor a seus trabalhos (para cada cor utiliza-se uma matriz<br />

diferente). Só que Adir Botelho, ao invés da cor, cria texturas que, cruzadas pela


sobreposição, valorizam determinados setores da gravura ou criam sutis efeitos de<br />

sombra e luz. Diante da ampla riqueza visual alcançada por esta técnica, podemos ter<br />

também uma clara idéia de que além do trabalho criativo, um grande esforço físico e<br />

largo tempo despendido foram necessários para a execução de cada matriz,<br />

principalmente se levarmos em conta que todas as suas xilogravuras foram realizadas<br />

sobre tábuas de grande formato (mediam em média 50 X 40 cm, enquanto as matrizes<br />

de Goeldi, por exemplo, ficavam, em média, abaixo de 20 X 15 cm), sempre de canela,<br />

uma das madeiras mais duras que existem<br />

Porém, outras pesquisas formais por uma linguagem sempre mais intensa podem<br />

ser vistas no decorrer da série Canudos. Nelas se percebe a influência de outros<br />

gravadores brasileiros e até, em alguns momentos, do mexicano Posada. Inclusive a<br />

cultura popular brasileira, através da xilogravura de cordel, também exerce sua<br />

influência nestes trabalhos, não só no tipo de abordagem das cenas da Guerra de<br />

Canudos como também estilisticamente. Paulo Herkenhoff se manifesta com muita<br />

lucidez sobre este tópico ao afirmar:<br />

344<br />

Nesse ponto, é necessário indicar que Adir Botelho encontra, como proveito possível, a<br />

sabedoria comunicacional do cordel. A modéstia técnica das capas da xilo não<br />

perturbam sua responsabilidade de produzir índices do imaginário. Para Botelho – há<br />

uma certa redução das figuras humanas em sua Canudos – o cordel é o anúncio, por<br />

vezes epifânico, do fato extraordinário. Essa crença no potencial de comunicação da<br />

tecnologia simples da madeira gravada é a política da linguagem. A xilo, que<br />

historicamente é a narrativa popular do Nordeste, da Bahia ao Pará, parece estar na<br />

matriz semiológica da série. Para Adir Botelho, era necessário recuperar a história e<br />

inventar um modo consistente de sua escritura. O que é relato se converte, sob o corte<br />

de Botelho, em história. Sendo tudo isto artes visuais, cada expectador é deixado na<br />

iminência de convocação como testemunha ocular da história recalcada. 330<br />

Mas retomando o grande interesse de Adir pela forma, por uma elaboração da<br />

figura e da composição que seja capaz de não só sustentar todo o drama de Canudos,<br />

mas que tenha valor em si mesma, no seu contexto puro de elemento visual belo e digno<br />

de interesse, cabe aqui registrarmos mais um trecho do texto de apresentação da<br />

professora Angela, no qual ela se volta para este tema:


345<br />

Observa-se, na série, a preocupação formativista do artista. Há uma intencionalidade<br />

que se manifesta na estrita vontade de “formar”, onde o pensamento e a ação intervêm<br />

na forma. Esta se apresenta com duas soluções. Uma, como carimbo, recortada do<br />

fundo, onde ela própria se tornará o suporte das inserções do artista. Outra, dissimulada,<br />

deixando que o testemunho da prancha de madeira se visualize nos limites retangulares.<br />

É neste espaço que as imagens são registradas, não havendo destaque para a figura e<br />

fundo. Tudo torna-se forma. 330<br />

Passando agora ao outro livro do xilogravador Adir Botelho, editado pela<br />

EBA/UFRJ, Canudos: agonia e morte de Antonio Conselheiro, vemos como o<br />

interesse do artista se volta para outro material que como veículo para expressão<br />

artística é um dos mais simples, mas que contem em si um potencial muito vasto de<br />

tratamentos plásticos – o carvão. Com este, talvez, mais antigo instrumento do<br />

desenhista, através do qual o gráfico e o pictórico se harmonizam sem se anularem,<br />

mantendo cada um sua energia própria, é recriada a face de Antonio Conselheiro em seu<br />

ultramístico ambiente sertanejo, cercado por um cortejo de beatas, vaqueiros, jagunços,<br />

sertanejos, anjos, demônios, monstros e animais de toda espécie, incluindo até girafas e<br />

elefantes. Sua linguagem expressionista, já extremamente poderosa na técnica da<br />

xilogravura, aqui se expande ainda mais, ora mergulhando fundo no reino das sombras,<br />

ora desmaterializando as figuras pela ação da mais sutil transparência gráfica. Neste<br />

universo, seus habitantes em contínua agitação histérica, possuídos pela palavra mágica<br />

do Conselheiro, tornam-se tanto criaturas densas, porém famelicamente frágeis, com sua<br />

viscosa carne macilenta e seus sujos ossos aparentes, quanto figuras lineares tão<br />

diáfanas como almas penadas.<br />

Ao olharmos para estas criações, somos inapelavelmente transportados para o<br />

interior deste mundo estranhíssimo de Canudos e, num certo sentido, nos sentimos até<br />

acariciados pela brandura com que a figura de Antonio Conselheiro é tocada, em alguns<br />

momentos, por seus seguidores fanatizados; brandura esta plenamente expressa na<br />

maciez dos esfumados propiciados pela magistral técnica de Adir no manuseio do<br />

carvão. Mas em outras ocasiões somos atingidos pelo horror da morte violenta em meio<br />

à guerra e ao desespero, onde monstruosos seres armados com paus, fuzis e facas,<br />

corpos muitas vezes constituídos apenas de ossos chacoalhantes, ou mistura de homens<br />

com animais, parecem sair das trevas do inferno para nos carregarem à força para seu<br />

mundo de pesadelo. Enfim, não há como escapar a este torvelinho de sensações e


sentimentos que nos transporta freneticamente de um ponto a outro, através das sombras<br />

e da luz, pelo seio, pela alma, pelo extraordinário sentimento místico do povo de<br />

Canudos sempre guiado pelo seu inigualável e irresistível profeta. Mas leiamos algumas<br />

palavras dos comentaristas da obra sobre estes impressionantes desenhos a carvão:<br />

346<br />

Mas a força da expressão poética e plástica que transpira de Canudos – Agonia e Morte<br />

de Antonio Conselheiro – certamente constituirá novo marco na bibliografia sobre a<br />

figura de Antonio Conselheiro, ao reunir matéria histórica e arte em um nível de<br />

qualidade difícil de ser superado. 330<br />

A estética expressionista, marcada pelo individualismo subjetivo de seus artistas, se<br />

alimenta do sentimento da crise, de agonia, de ação e de heroísmo. O homem se re-<br />

humaniza na procura de um elemento fundamental: o próprio homem. Por tal razão o<br />

artista expressionista é um reformador que sonha provocar a humanidade para acordá-la<br />

de seu sonho letárgico. Como salvador do mundo, ele escolhe seus temas e constrói o<br />

homem, procurando torná-lo melhor, pela dor, pela solidão e pela generosa doação da<br />

vida, como na saga de Antônio Conselheiro, salvador e vítima, lendário e real, morto,<br />

mas vivente, em sua eterna agonia. [...] Como se fôssemos atingidos pela descarga de<br />

um fio de alta tensão, somos exauridos, catarticamente, de nossas próprias emoções e<br />

nos defrontamos com o trágico. A evidência do herói então se manifesta para autenticar<br />

toda a dramaturgia do artista. Ali está o Antônio Conselheiro criado por Adir, que<br />

confere ao herói traços próprios, a ponto de nos permitir identificá-lo ao longo da série<br />

de desenhos a carvão. [...] À medida que nossos olhos se habituam, conseguimos ver no<br />

carvão, a multiplicidade de elementos que compõem a morte do herói. Animais<br />

simbólicos se misturam a homens; figuras cheias se contrapõem a desenhos mais<br />

lineares, abertos, como se fossem deixados sem preenchimento para a evidência do<br />

traço e o inacabado da agonia. As soluções não se repetem. Em algumas obras, as<br />

fantasmagorias nos fazem pensar em Ensor; em outras, a tensão romântica e as<br />

distorções da forma nos colocam frente a frente com um novo Goya, tão forte, tão<br />

macabro e tão seguro na técnica como o primeiro. As figuras de terror se mesclam a<br />

outras mais simbólicas. De repente, percebemos elefantes, girafas, cavalos, junto a<br />

homens, numa estanha romaria onde todos procuram universalizar o mesmo<br />

sentimento. 330<br />

Noutra série relacionada a Canudos, Adir Botelho trabalha o conflito através do<br />

desenho. As técnicas proliferam ou se contaminam. Riscos, traços, linhas, manchas – os<br />

signos reunidos através de procedimentos e cargas matéricas diversificadas, se<br />

acumulam como carga pulsional. Não se trata aqui de levantar o eu expressionista de<br />

Adir Botelho, mas de compreender a necessidade de expressividade nas figuras desta


347<br />

tragédia-fábula. O ar sombrio, a obscuridade em que se passam certos momentos do<br />

drama, o lócus de onde extrair a memória – tudo converge para uma demanda de<br />

expressão. Se a xilogravura é o mecanismo de relato da história, o desenho se propõe<br />

por suas texturas psicológicas. 330<br />

Escolhida a técnica do Desenho, a matéria originária e ativa destas obras é o carvão.<br />

Matéria da queima – substância noturna – da qual Adir extraiu a imagística da agonia e<br />

morte do messias de Canudos. Optando por uma visão trágica para retirar do carvão<br />

história e lenda do nosso profeta-sertanejo, Adir Botelho dá sentido próprio ao<br />

expressionismo, interpretando-o como modo de emergência da verdade estética e estofo<br />

plástico visceral das imagens, registrando em carne, osso e sangue a tragédia de Antônio<br />

Conselheiro, numa poética da terra-raiz do vegetal transformado em carvão –<br />

concentrando-se na simbologia do solo de papel, seguindo as andanças desse profeta do<br />

sertão da Bahia. Nessa perspectiva expressionista, Adir define procedimentos gráficos<br />

singulares, dando qualidades hápticas ao desenho sem reduzi-lo a traços e riscos. Com<br />

procedimentos técnicos implícitos à poética da matéria, o artista amplia o campo da arte<br />

de desenhar, diluindo, dilatando, espraiando riscos, e dando-lhes qualidades visuais e<br />

táteis como contigüidade e expansão, qualidades que o transformam em manchas,<br />

sombras, áreas de granulosidade, entre meandros e nervuras de carvão. Em virtude da<br />

peculiar densidade material, o carvão cedeu – às mãos do artista – suas entranhas e pele,<br />

para criar a saga da Agonia e Morte de Antônio Conselheiro, nestes passos da paixão<br />

em campo de papel. 330<br />

E nas palavras do próprio Adir Botelho:<br />

O engrandecimento dos fatos dramáticos que deram origem a este trabalho, a fatalidade,<br />

o desfecho da guerra de Canudos, enfim, todos os elementos que constituem a tragédia<br />

ocorrida no sertão brasileiro correspondem a palpitantes interrogações e são, por<br />

excelência, criação estética. O ensaio Canudos – Agonia e Morte de Antonio<br />

Conselheiro é uma produção visual puramente espiritual, intuitiva, quer quanto à<br />

possibilidade da sua conceituação, quer quanto à possibilidade de criar e recriar sonhos<br />

e fantasias. O projeto em questão consiste numa seqüência de desenhos a carvão sobre<br />

papel, um sistema de produção de imagens com uma longa e extraordinária história. O<br />

carvão permite considerar simultaneamente o caráter do modelo, a sua expressão<br />

humana, a qualidade da luz que o rodeia, a sua ambiência e tudo aquilo que só o<br />

desenho pode exprimir [MATISSE, Henri – Escritos e reflexões sobre arte. Textos e<br />

notas estabelecidos por Dominique Fourcale. Trad. Maria Teresa Tendeiro. Ed.<br />

Ulisséia,p. 150]. 330


Quero encerrar estas breves notas biográficas trazendo mais 2 imagens retiradas<br />

de Canudos; é pouco diante de tão vasta produção, contudo é o que é possível colocar<br />

dentro do espaço de que disponho.<br />

Aproveito para também dizer da minha imensa admiração não só pela<br />

importante obra do excelente artista plástico e do ótimo professor, mas também pela<br />

grande figura humana que é Adir Botelho, do qual desde nosso primeiro contato,<br />

quando fui seu aluno na Gravura I, pude auferir não só conhecimentos que muito me<br />

tem sido úteis, como nele perceber toda a sua imensa paciência e generosidade em<br />

ministrá-los. Com certeza para mim (e certamente que para muitas outras pessoas<br />

também) Adir será sempre um exemplo de ser humano, professor e artista a ser seguido,<br />

inspirando-me continuamente no trilhar da minha própria senda como artista e<br />

professor.<br />

IL. 2 <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Jagunços, xilogravura, 52 X 34,5 cm, 1985.<br />

348


IL. 3 <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Caminho de Canudos, xilogravura, 40,5 X 51,5 cm, 1986.<br />

Notas<br />

330 Retirado do resumo biográfico contido no calendário da UFRJ de 2007 dedicado ao Mural da Terra.<br />

330 Informação que me foi cedida pelo próprio professor Adir Botelho em conversa informal.<br />

330 Retirado do texto biográfico contido no calendário da UFRJ de 2007 dedicado ao Mural da Terra.<br />

330 Informação que me foi cedida pelo próprio professor Adir Botelho em conversa informal, o qual<br />

acrescentou que na mesma época, 1951/1952, ingressou em mais um curso novo da ENBA: Arte da<br />

Publicidade e do Livro com o professor Valdomiro Gonçalves Christino, e numa disciplina também nova:<br />

Arte Decorativa com o professor Quirino Campofiorito.<br />

330 MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, Rio de Janeiro. Adir Botelho: xilogravuras. Apres. de<br />

Alcídio Mafra de Souza. Textos de Adir Botelho e Alex Gama. 1988. 24 p., il. (catálogo de exposição)<br />

330 FUNDAÇÃO RIO. Gravura no Brasil: anos 60. Apres. Gerardo Mello Mourão. Texto de Adir<br />

Botelho e 26 gravadores. 1974. 32 p. il. (catálogo de exposição)<br />

330 UNGER, Edyla Mangabeira. O Atelier de gravura da Escola Nacional de Belas Artes. O Globo. Rio<br />

de Janeiro, 31 de ago. 1966. Artes Plásticas, p. 5.<br />

330 Informação que me foi cedida pelo próprio professor Adir Botelho em conversa informal,<br />

considerando o fato apenas como uma das características naturais da EBA na época em que nela fora<br />

aluno.<br />

330 JUNIOR, José Maria dos Reis. Goeldi. Rio de janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 43.<br />

330 LUZ, Angela Ancora da in <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos: xilogravuras, Rio de Janeiro: Escola de Belas<br />

Artes: Universidade Federal do Rio de janeiro, 2002, p. 8.<br />

330 <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Raimundo Cela pioneiro da gravura no Brasil. In ESTRIGAS, Nilo de Brito<br />

Firmeza (Org.). Raimundo Cela (1890-1954). Rio de Janeiro: Pinakotheke,2009.<br />

330 LUZ, Angela Ancora da. In Teatro da gravura no Brasil (obra ainda a ser editada).<br />

330 MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, Rio de Janeiro. Adir Botelho: xilogravuras. Apres. de<br />

Alcídio Mafra de Souza. Textos de Adir Botelho e Alex Gama. 1988. 24 p., il. (catálogo de exposição)<br />

349


330<br />

CUNHA, 1902 apud LUZ, 2002 p. 8.<br />

330<br />

Id. p. 157.<br />

330<br />

<strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos xilogravuras. Rio de Janeiro: Escola de Belas Artes: Universidade<br />

Federal do Rio de janeiro, 2002, p. 9-10.<br />

330<br />

HERKENHOFF, Paulo. In <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos: agonia e morte de Antonio Conselheiro. Rio<br />

de Janeiro: Escola de Belas Artes: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006, p. 29-30.<br />

330<br />

LUZ, Angela Ancora da. In <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos: xilogravuras, Rio de Janeiro: Escola de<br />

Belas Artes: Universidade Federal do Rio de janeiro, 2002, p. 10.<br />

330<br />

TEIXEIRA, Aloísio. In <strong>BOTELHO</strong>, Adir. Canudos: agonia e morte de Antonio Conselheiro. Rio de<br />

Janeiro: Escola de Belas Artes: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006, p. 7<br />

330<br />

LUZ, Angela Ancora da. In op. cit., p. 21-22<br />

330 HERKENHOFF, Paulo. In op. cit.,p. 30.<br />

330 CARVALHO, Mirian. In op. cit.,p.34<br />

330 <strong>BOTELHO</strong>, Adir. In op. cit., p. 52<br />

O Autor<br />

Ricardo Antonio Barbosa Pereira<br />

Pintor, ceramista, xilogravador<br />

graduado em Pintura na EBA e Mestre<br />

em Artes Visuais (História e Crítica da<br />

Arte) – PPGAV – EBA/UFRJ.<br />

350

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