327 ANEXO A ENTREVISTA COM O PROFESSOR ADIR BOTELHO
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sobreposição, valorizam determinados setores da gravura ou criam sutis efeitos de<br />
sombra e luz. Diante da ampla riqueza visual alcançada por esta técnica, podemos ter<br />
também uma clara idéia de que além do trabalho criativo, um grande esforço físico e<br />
largo tempo despendido foram necessários para a execução de cada matriz,<br />
principalmente se levarmos em conta que todas as suas xilogravuras foram realizadas<br />
sobre tábuas de grande formato (mediam em média 50 X 40 cm, enquanto as matrizes<br />
de Goeldi, por exemplo, ficavam, em média, abaixo de 20 X 15 cm), sempre de canela,<br />
uma das madeiras mais duras que existem<br />
Porém, outras pesquisas formais por uma linguagem sempre mais intensa podem<br />
ser vistas no decorrer da série Canudos. Nelas se percebe a influência de outros<br />
gravadores brasileiros e até, em alguns momentos, do mexicano Posada. Inclusive a<br />
cultura popular brasileira, através da xilogravura de cordel, também exerce sua<br />
influência nestes trabalhos, não só no tipo de abordagem das cenas da Guerra de<br />
Canudos como também estilisticamente. Paulo Herkenhoff se manifesta com muita<br />
lucidez sobre este tópico ao afirmar:<br />
344<br />
Nesse ponto, é necessário indicar que Adir Botelho encontra, como proveito possível, a<br />
sabedoria comunicacional do cordel. A modéstia técnica das capas da xilo não<br />
perturbam sua responsabilidade de produzir índices do imaginário. Para Botelho – há<br />
uma certa redução das figuras humanas em sua Canudos – o cordel é o anúncio, por<br />
vezes epifânico, do fato extraordinário. Essa crença no potencial de comunicação da<br />
tecnologia simples da madeira gravada é a política da linguagem. A xilo, que<br />
historicamente é a narrativa popular do Nordeste, da Bahia ao Pará, parece estar na<br />
matriz semiológica da série. Para Adir Botelho, era necessário recuperar a história e<br />
inventar um modo consistente de sua escritura. O que é relato se converte, sob o corte<br />
de Botelho, em história. Sendo tudo isto artes visuais, cada expectador é deixado na<br />
iminência de convocação como testemunha ocular da história recalcada. 330<br />
Mas retomando o grande interesse de Adir pela forma, por uma elaboração da<br />
figura e da composição que seja capaz de não só sustentar todo o drama de Canudos,<br />
mas que tenha valor em si mesma, no seu contexto puro de elemento visual belo e digno<br />
de interesse, cabe aqui registrarmos mais um trecho do texto de apresentação da<br />
professora Angela, no qual ela se volta para este tema: