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as organizações sob a metáfora das prisões psíquicas - Unama

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AS ORGANIZAÇÕES SOB A METÁFORA DAS<br />

PRISÕES PSÍQUICAS<br />

RESUMO: O texto analisa a contribuição inovadora<br />

de Gareth Morgan de interpretar os fenômenos que<br />

ocorrem no ambiente organizacional a partir da<br />

<strong>metáfora</strong> d<strong>as</strong> <strong>prisões</strong> psíquic<strong>as</strong>. Em particular referese<br />

à organização como instrumento de dominação.<br />

1 ANÁLISE INTERPRETATIVA DA<br />

METÁFORA DAS PRISÕES<br />

PSÍQUICAS APRESENTADA POR<br />

GARETH MORGAN<br />

Segundo o autor, Prisões Psíquic<strong>as</strong> são<br />

aquel<strong>as</strong> armadilh<strong>as</strong> que os próprios homens<br />

criam para si mesmos, como n<strong>as</strong> <strong>organizações</strong><br />

por exemplo, em que <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> tornam-se<br />

prisioneir<strong>as</strong> de imagens, idéi<strong>as</strong>, pensamentos e<br />

ações, pois aquel<strong>as</strong> são considerad<strong>as</strong> fenômenos<br />

psíquicos, criados por processos conscientes e<br />

inconscientes.<br />

A reflexão de MORGAN <strong>sob</strong>re <strong>as</strong><br />

implicações d<strong>as</strong> Prisões Psíquic<strong>as</strong> nos diversos<br />

níveis e setores da Organização expressa a<br />

singularidade de sua obra no que refere aos<br />

processos inconscientes que permeiam o pensar<br />

e o fazer d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> e que acabam por<br />

determinar o comportamento d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> no<br />

Mundo Organizacional.<br />

Adcontar, Belém, v. 2, nº 1, p. 7-10, maio 2001<br />

Alana da Mota Salgado * 1<br />

Eli<strong>as</strong> Leopoldo Serique * 2<br />

Etiane Maria Borges Arruda * 3<br />

Maria de Fátima de Alencar Macêdo * 4<br />

Para melhor compreender a noção de organização<br />

como prisão psíquica, argumenta-se que o principal<br />

foco dessa análise é o controle exercido pela<br />

organização – realidade socialmente construída –<br />

<strong>sob</strong>re seus membros.<br />

Nesse quadro, visualizamos “Prisões<br />

Psíquic<strong>as</strong>” no ambiente organizacional,<br />

verificando o quanto el<strong>as</strong> influenciam n<strong>as</strong><br />

interfaces d<strong>as</strong> pesso<strong>as</strong> que constroem o ambiente<br />

e a vida organizacional.<br />

As <strong>organizações</strong> são Instituições que<br />

foram criad<strong>as</strong>, constituíd<strong>as</strong> pelos homens e del<strong>as</strong><br />

fazem parte um conjunto de idéi<strong>as</strong>, pensamentos<br />

e ações. Embora el<strong>as</strong> tenham sido criad<strong>as</strong>,<br />

projetad<strong>as</strong> pelo homem, acabam pela própria<br />

natureza, tornando esses homens seus<br />

prisioneiros.<br />

A idéia de prisão psíquica vem desde a<br />

“República” de Platão, no qual Sócrates<br />

relaciona aparência, realidade e conhecimento.<br />

A caverna representa o mundo d<strong>as</strong> aparênci<strong>as</strong> e<br />

a imagem ao exterior dela, a conquista do<br />

conhecimento.<br />

*1 Especialista em docência do 3º grau, Mestranda em Administração de Recursos Humanos pela UNAMA, professora do CCHE e CEAC.<br />

*2 Especialista em Análise Experimental do Comportamento, Mestrando em Administração de Recursos Humanos pela UNAMA,<br />

professor do CCBS e CEAC.<br />

*3 Especialista em Marketing, Mestranda em Administração de Recursos Humanos pela UNAMA.<br />

*4 Especialista em Administração de Recursos Humanos, Mestranda em Administração de Recursos Humanos pela UNAMA, professora<br />

do CSFE.<br />

37


38<br />

Entretanto, muitos de nós resistimos ou<br />

ridicularizamos esforços de esclarecimento,<br />

preferindo permanecer na escuridão do que<br />

enfrentarmos os riscos de exposição a um<br />

mundo novo que ameaça <strong>as</strong> antig<strong>as</strong> crenç<strong>as</strong>.<br />

N<strong>as</strong> <strong>organizações</strong>, a realidade não é muito<br />

diferente, <strong>as</strong> pesso<strong>as</strong>, na rotina que estão<br />

acostumad<strong>as</strong> a fazer, acabam se habituando às<br />

ilusões que criam, <strong>as</strong>sim <strong>as</strong> <strong>organizações</strong> se<br />

tornam aprisionad<strong>as</strong> pelo seu próprio processo<br />

inconsciente, cujos significados não são<br />

percebidos.<br />

A <strong>metáfora</strong> da prisão psíquica retrata a<br />

forma como <strong>as</strong> Empres<strong>as</strong> acabam sendo<br />

prisioneir<strong>as</strong> da sua própria forma de raciocínio.<br />

Em sua abordagem, MORGAN (1996),<br />

considera que “a b<strong>as</strong>e para este tipo de<br />

raciocínio é dada por Sigmund Freud, que afirma<br />

que o inconsciente é criado à medida que os seres<br />

humanos reprimem os seus desejos primários e<br />

pensamentos secretos”. (p. 209)<br />

Percebe-se que a visão de FREUD <strong>sob</strong>re<br />

a sexualidade é b<strong>as</strong>tante ampla. Ele acredita que<br />

<strong>as</strong> crianç<strong>as</strong> se desenvolvem através de diferentes<br />

f<strong>as</strong>es, sejam oral, anal, fálica e genital, e ess<strong>as</strong><br />

experiênci<strong>as</strong> podem ser positiv<strong>as</strong> ou negativ<strong>as</strong><br />

na vida adulta e podem influenciar <strong>as</strong> vári<strong>as</strong><br />

form<strong>as</strong> de repressão da sexualidade, pois a<br />

personalidade é moldada à medida que o<br />

indivíduo aprende a lidar com impulsos e desejos<br />

primários de sua vida.<br />

O inconsciente é o reservatório de material<br />

reprimido, memóri<strong>as</strong> doloros<strong>as</strong>, prazeros<strong>as</strong>,<br />

desejos e traum<strong>as</strong>, necessidades não satisfeit<strong>as</strong><br />

que podem a qualquer momento eclodir na vida<br />

organizacional.<br />

O autor de referência relaciona a estrutura<br />

do inconsciente (super ego) com a estrutura da<br />

Adcontar, Belém, v. 2, nº 1, p. 7-10, maio 2001<br />

família patriarcal que serve de força para a<br />

ideologia autoritária, observando que os valores<br />

do sexo m<strong>as</strong>culino como firmeza, coragem,<br />

heroísmo e auto-admiração, tornam-se<br />

instrumentos para compreensão do ambiente<br />

organizacional. Alguns autores opinam que <strong>as</strong><br />

<strong>organizações</strong> seriam muito mais human<strong>as</strong> se<br />

estivessem <strong>sob</strong> a influência de valores matriarcais.<br />

As mulheres tendem a promover a educação e<br />

o trabalho em grupo, desenvolvendo um modelo<br />

de integração no meio organizacional,<br />

transformacional. Esses tipos de valores formam<br />

<strong>organizações</strong> não burocrátic<strong>as</strong>.<br />

BECKER apud MORGAN (1996),<br />

relaciona o ambiente organizacional com a<br />

perspectiva que o homem tem da morte. O<br />

homem vive entre <strong>as</strong> contradições da morte<br />

enquanto matéria e da vida eterna enquanto<br />

espírito.<br />

Os seres humanos p<strong>as</strong>sam boa parte da<br />

vida tentando negar a realidade presente da<br />

morte, remetendo para o inconsciente os seus<br />

medos mórbidos. Assim sendo, muitos dos<br />

artefatos criados dentro de uma organização<br />

nada mais são do que a busca inconsciente da<br />

imortalidade.<br />

Admite-se que a ansiedade vivida em<br />

grupo constitui a necessidade de alguma forma<br />

de liderança, de dependência para resolver<br />

situações, problem<strong>as</strong> que levam o indivíduo a<br />

criar mecanismos de defesa para lidar contra a<br />

ansiedade individual e coletiva, pois <strong>as</strong><br />

<strong>organizações</strong> têm padrões inconscientes que<br />

despertam ansiedades e levam o indivíduo à<br />

ansiedade geral.<br />

Segundo CARL JUNG, arquétipos são<br />

definidos como padrões que estruturam o<br />

pensamento, e <strong>as</strong>sim dão origem e ordem ao<br />

mundo: os arquétipos são experiênci<strong>as</strong> herdad<strong>as</strong><br />

a partir da compreensão que o indivíduo tem do


mundo organizado entre a vida interior e exterior.<br />

A análise Junguiana sugere aos teóricos<br />

da administração organizacional que o indivíduo<br />

pode despertar fontes de energia e criatividade<br />

que levam a organização a tornar-se muito mais<br />

humana e vibrante, m<strong>as</strong> tod<strong>as</strong> ess<strong>as</strong> teori<strong>as</strong><br />

defendem a mesma idéia de que os homens são<br />

prisioneiros de su<strong>as</strong> própri<strong>as</strong> históri<strong>as</strong> pessoais.<br />

MORGAN (1996) explicita que pelos<br />

processos conscientes e inconscientes criamos<br />

idéi<strong>as</strong>, crenç<strong>as</strong>, mitos e desejos que<br />

exteriorizamos quando revelamos no rigor da<br />

disciplina, do controle, do planejamento, <strong>as</strong><br />

necessidades pessoais e organizacionais de<br />

sermos reconhecidos e/ou admirados pelos<br />

“outros”.<br />

O Universo organizacional é um “Universo<br />

Público Interno” que suscita diálogo, atividade<br />

essencial do comportamento humano, que<br />

explicita sentimento, pensar, fazer, ou seja, o agir<br />

humano.<br />

A busca pela visibilidade do trabalho só<br />

pode efetivamente ser alcançada pela<br />

exteriorização d<strong>as</strong> maneir<strong>as</strong> de fazer, somente<br />

pel<strong>as</strong> relações de trabalho explicitad<strong>as</strong> na<br />

inteligibilidade, confiança, transparência e<br />

reconhecimento: o campo da ética d<strong>as</strong> relações<br />

de trabalho pode, enfim, ser exercida.<br />

Podemos, como seres concretos, ativos<br />

e reflexivos, interferir na vida organizacional à<br />

medida que constituímos o ser social pelo<br />

reconhecimento, prazer e sofrimento, satisfação<br />

ou não dos desejos que construímos na relação<br />

social estabelecida com o outro.<br />

O universo organizacional é um dos<br />

campos de vida social quando ao indivíduo nele<br />

inserido é possibilitada a oportunidade de revelar<br />

<strong>as</strong> su<strong>as</strong> interpretações e percepções do<br />

ambiente. A “ressonância simbólica” foi plena-<br />

Adcontar, Belém, v. 2, nº 1, p. 7-10, maio 2001<br />

mente <strong>as</strong>segurada, porque a ação do indivíduo<br />

livre em su<strong>as</strong> interpretações da vida social precisa<br />

que a visão que ele elabora do mundo, da<br />

posição que ele ocupa na ordem social, seja<br />

produto de su<strong>as</strong> circunstânci<strong>as</strong> sociais, produto<br />

da ação do homem.<br />

“As <strong>organizações</strong> não são condicionad<strong>as</strong><br />

somente pelos seus respectivos ambientes, são<br />

também moldad<strong>as</strong> por interesses inconscientes<br />

dos seus membros e pel<strong>as</strong> forç<strong>as</strong> inconscientes<br />

que determinam <strong>as</strong> sociedades n<strong>as</strong> quais el<strong>as</strong><br />

existem” (MORGAN, 1996, p.216).<br />

Sendo a organização um espaço particular<br />

da experiência humana, o comportamento<br />

organizacional coloca em relevo dimensões como<br />

poder, cultura, afetividade, prazer e sofrimento<br />

no trabalho, ou seja, a realidade social determina,<br />

influencia e molda a vida organizacional.<br />

O autor propõe em seu estudo da vida<br />

organizacional a compreensão e a interpretação<br />

d<strong>as</strong> construções sociais dos seres psíquicos: em<br />

sua abordagem do mundo da gestão elucida o<br />

quanto a dinâmica psíquica contribui na leitura<br />

d<strong>as</strong> relações que “unem” o homem à organização.<br />

Para MORGAN (1996), os processos<br />

intrapsiquícos como projeção, introspecção e<br />

transparência permeiam a vida organizacional<br />

cujo ambiente é impregnado por “espectros” que<br />

“acompanham” <strong>as</strong> identidades individuais e<br />

sociais.<br />

O inconsciente dos membros da<br />

organização é “mediado” por categori<strong>as</strong> que<br />

permeiam a ordem social, como a dependência,<br />

alienação e antagonismo: est<strong>as</strong> categori<strong>as</strong><br />

estando presentes em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> relações sociais,<br />

vão afetar a subjetividade humana e também<br />

“povoar” o espaço organizacional, espaço de<br />

encontro de homens que constróem consciente<br />

e inconscientemente a atividade humana,<br />

seguindo os seus desejos, m<strong>as</strong> também<br />

39


40<br />

respondendo às determinações “emanad<strong>as</strong>” da<br />

ordem social.<br />

Por uma questão de <strong>sob</strong>revivência, <strong>as</strong><br />

pesso<strong>as</strong> “projetam” n<strong>as</strong> outr<strong>as</strong> su<strong>as</strong> dificuldades,<br />

seus conflitos, su<strong>as</strong> atribuições não resolvid<strong>as</strong>.<br />

Ressalta-se, também, a identificação de um outro<br />

mecanismo de defesa: a idealização, considerada<br />

de uma certa forma como “positivo” à<br />

semelhança da sublimação, e que consiste na<br />

valorização de <strong>as</strong>pectos positivos de uma<br />

situação para proteger-se dos <strong>as</strong>pectos negativos.<br />

No momento em que a organização busca<br />

mecanismos ou estratégi<strong>as</strong> de valorização de seu<br />

pessoal, ressaltando seus valores, seus<br />

potenciais, evitando, <strong>as</strong>sim, níveis preocupantes<br />

de frustração, desinteresse e até de sofrimento,<br />

está procurando garantir a <strong>sob</strong>revivência de uma<br />

série de fatores de seu ambiente interno, num<br />

contexto mais amplo de ambiente geral, com<br />

influência de variáveis sociais, polític<strong>as</strong>, culturais,<br />

religios<strong>as</strong> e outr<strong>as</strong>.<br />

2 BIBLIOGRAFIA<br />

MORGAN, Gareth. Imagens da<br />

Organização. São Paulo: Atl<strong>as</strong>, 1996.<br />

Adcontar, Belém, v. 2, nº 1, p. 7-10, maio 2001

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