Download desta Edição - Cândido
Download desta Edição - Cândido
Download desta Edição - Cândido
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Na cidade<br />
do invisível<br />
Dalton<br />
Trevisan<br />
ANTÔNIO TORRES<br />
Esse ourives de palavras — um<br />
gênio minimalista — foge do assédio<br />
como o diabo da cruz. E nisso faz<br />
lembrar o finado Scott Fitzgerald,<br />
quando dizia que não podia suportar<br />
a visita de celtas, ingleses, políticos,<br />
estrangeiros, virginianos, lojistas,<br />
intermediários em geral, todos os<br />
escritores (evitava os escritores<br />
com o maior cuidado, porque<br />
eles podem perpetuar a agitação<br />
e o desassossego melhor do que<br />
ninguém) – e todas as classes<br />
como classes, a maioria delas<br />
pelos seus membros...<br />
Antônio Torres nasceu no<br />
povoado de Junco (hoje Sátiro<br />
Dias), na Bahia, em 1940. É<br />
autor de romances como Um cão<br />
uivando para a lua (1972), Essa<br />
terra (1976) e Meu querido canibal<br />
(2000). Vive em Itaipava (RJ).<br />
valcanti, este último ilustrador da capa<br />
da décima sétima edição.<br />
“O trabalho gráfico era todo conduzido<br />
por ele. Era dado muito valor às<br />
ilustrações, houve até mesmo uma edição<br />
dedicada especialmente aos ilustradores<br />
[edição 19]. Entre texto e imagem<br />
há um diálogo bastante cerrado.<br />
Para alguns textos, há ilustrações que<br />
chegavam a ocupar a maior parte da<br />
página, e isso gerava um respiro em relação<br />
ao texto. Havia uma busca consciente<br />
por um tipo de equilíbrio gráfi-<br />
co, de forma a tornar a revista sempre<br />
interessante para o leitor. Isso funciona,<br />
tanto que a revista é boa de ler até<br />
hoje”, afirma Fabricio Vaz Nunes, autor<br />
da tese Relações entre literatura e artes<br />
gráficas na revista Joaquim, de 2010,<br />
em que analisa o caráter vanguardista<br />
do periódico de Trevisan.<br />
As ambições gráficas são apontadas<br />
pelo estudioso como inovadoras e<br />
essenciais para o entendimento do projeto<br />
literário de Dalton Trevisan, sempre<br />
comprometido com o desconfor-<br />
to em suas narrativas. “O diálogo entre<br />
texto e imagem era inovador, principalmente<br />
no que se refere à linguagem,<br />
tanto a linguagem textual quanto<br />
a linguagem visual. Os ilustradores da<br />
revista empregaram um estilo voltado<br />
para o expressionismo, no que o uso da<br />
zincografia também contribuiu muito.<br />
Como Poty mesmo afirmava, os personagens<br />
do Dalton têm algo a ver com a<br />
técnica da ponta-seca, com muitas tonalidades<br />
e camadas, e as gravuras captavam<br />
essa característica mordaz e algo<br />
JORNAL DA BIBLIOTECA PÚBLICA DO PARANÁ | CÂNDIDO 15<br />
Conto de Dalton<br />
Trevisan ilustrado por<br />
Poty Lazarotto<br />
incômoda da literatura dele. A Joaquim<br />
expandia essa relação”, explica Nunes.<br />
Onde encontrar<br />
Em 2000, a Imprensa Oficial do<br />
Paraná imprimiu uma edição fac-símile,<br />
de dois mil exemplares, resgatando<br />
o legado artístico de Joaquim. Na Divisão<br />
de Documentação Paranaense da<br />
Biblioteca Pública do Paraná, é possível<br />
encontrar a íntegra do material, essencial<br />
para a compreensão da trajetória<br />
cultural do Estado. g