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ANÁLISE DISCURSIVA DA LITERATURA COMO DISPOSITIVO ...

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trabalho nessa problemática sob a roupagem de intertextualidade e arquitextualidade num<br />

âmbito majoritariamente literário. Estes conceitos, pela teoria de Genette, estão interligados a<br />

uma argumentação maior: a transtextualidade, sendo que esta categoria leva em consideração<br />

diversos elementos que, de alguma forma, transcendem o texto, conforme tentamos assinalar<br />

em linhas anteriores. No entanto, conforme explica Maingueneau, as teorias que se baseiam<br />

nesses aspectos arquitextuais na obra literária costumam acreditar que essas relações existem<br />

com exclusividade na literatura; ao contrário, essas relações dialógicas corroboram-se em<br />

todas as atividades discursivas. E esse deslocamento de apreensão discursiva como um todo<br />

das produções textuais – aqui com um sentido amplo, pinturas, fotografias, músicas – é um<br />

elemento-chave da AD de orientação francesa, bem como um de seus avanços em relação a<br />

outras teorias que tratam dos estudos nesses parâmetros discursivo-textuais. Sendo assim,<br />

levar o estudo do texto literário a uma condição discursiva é tentar restabelecer elementos que<br />

figuram fora do eixo do criador da obra, origem esta que estaria afastada do exterior. É<br />

também levar as obras a espaços em que elas tiveram atestadas suas condições de<br />

possibilidade discursivas de irrupção.<br />

Dessa forma, posicionar o estudo literário sob o olhar discursivo é, em alguma<br />

medida, sair do esquema imposto pelo movimento romântico cujo direcionamento recobria<br />

―direta‖ ou ―indiretamente‖ uma visão de mundo da instância criadora. A enunciação literária,<br />

assim como todas as enunciações, não escapa ao lugar em que surgiu, ao momento em que<br />

seu dizível pôde se expor, a quem ela se dirige etc. Portanto, e assim sendo, o discurso<br />

literário não figuraria mais como ―o‖ discurso acima dos demais discursos socialmente<br />

sustentados; seria, sim, um dispositivo enunciativo de comunicação, com certas<br />

peculiaridades, mas também mais um discurso a ser estudado. Há de se entender que a palavra<br />

do escritor é sempre regulada, seja em termos de norma, de instituição, de a quem se destina,<br />

o que implica, portanto, uma gestão do contexto sociohistórico, seja num âmbito mais<br />

próximo, seja num âmbito mais prolongado. A transcendência da obra, bem como a ideia de<br />

que nisso há um conteúdo a ser transmitido, não pode ser afastada de suas condições de<br />

enunciação.<br />

Assim sendo, não se escolheu ao acaso a obra de Maingueneau Discurso<br />

literário 14 como texto guia para este trabalho, pois, além de em alguma medida filiar-se à<br />

terceira vertente arrolada, com a qual pretendemos montar nossas balizas teóricas e tentar<br />

14 Título da tradução brasileira, editora Contexto, São Paulo, 2006. O título original é Le discours littéraire.<br />

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