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ANÁLISE DISCURSIVA DA LITERATURA COMO DISPOSITIVO ...

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tem-se talvez um exemplo para essa ideia de consagração da visão de mundo do autor como o<br />

ditame maior das obras, assim como estas obras serem ―o todo complexo de sentido‖, a partir<br />

a estética romântica, no fato de que, durante as disciplinas de estudos literários, textos, por<br />

exemplo, de Jorge Amado eram vistos como literatura ―menor‖, textos de pouco prestígio,<br />

assim como os de Bernardo Guimarães, Júlio Diniz, entre outros.<br />

Longe disso, a AD não se prende a uma divisão que separaria a água do óleo<br />

ou que incitaria a repartir as duas faces de uma folha. Dizemos isso porque a divisão que se<br />

pensa existir entre textos ―profanos‖, pertencentes a ciências sociais e humanas, e textos<br />

―sagrados‖ da literatura é de certa maneira tudo que a AD tenta escapar, apreendendo, para<br />

isso, as múltiplas discursividades, ao explorar e tentar explicar, em um mesmo movimento, o<br />

texto – unidade – em toda a sua singularidade, e todas as formas que o discurso adquire, seja<br />

numa visada de pré-construídos, efeitos ideológicos, gênero do discurso, cena enunciativa,<br />

imagens de si e de outros na representação discursiva. Assim, a AD ―(...) não se contenta com<br />

a mobilização de noções tomadas à Psicanálise, à Sociologia, à Antropologia etc. para ‗aplicá-<br />

-las‘ a textos literários: não se trata de projetar um universo (as ciências humanas) noutro (a<br />

literatura) que lhe seria estranho, mas de explorar o universo do discurso.‖<br />

(MAINGUENEAU, 2006b, p.38)<br />

A segunda dessas posições diz respeito ao desenvolvimento de teorias que têm<br />

como objeto principal o discurso, e, tal como o pretendemos descrever aqui, reconfigura-se<br />

também a distribuição de ―papéis‖, ao dizer de Maingueneau, entre ciências da linguagem e<br />

estilística epistemologicamente e institucionalmente. Isso devido ao fato de que o estilista<br />

clássico mobiliza o arcabouço teórico da linguística para dar determinações técnico-científicas<br />

às inferências e às intuições que ele depreende de determinada obra que está a analisar. O<br />

valor heurístico, ou seja, o caminho e a validação dos sentidos buscados para o texto em<br />

análise, viria do saber intuitivo do estilista, e não da linguística, embora este analista que fala<br />

do mirante da estilística mais clássica esteja lidando com uma materialidade textual. No<br />

entanto, na perspectiva analítico-teórica em que nos inscrevemos, a da AD, portanto, busca-se<br />

uma direção diametralmente oposta: a de que a ciência da linguagem não é mera coadjuvante.<br />

Ratificamos o dito à linha anterior com as palavras do mentor teórico da perspectiva<br />

epistemológica de que falamos sobre um estudo do discurso literário:<br />

O recurso à linguística não é mero uso de ferramentas elementares ou, como no<br />

caso do estruturalismo, de alguns princípios de organização sobremodo gerais; ela<br />

constitui um verdadeiro de investigação: em vez de se contentar em validar mediante<br />

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