RECOLHA DE CAUSOS E ELABORAÇÃO DE ... - Unitau
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<strong>RECOLHA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CAUSOS</strong> E <strong>ELABORAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>DE</strong>POIMENTOS:<br />
PROMOVENDO A REFLEXÃO SOBRE O USO DA LÍNGUA ENTRE ACADÊMICOS<br />
<strong>DE</strong> MEDICINA<br />
Isabel Rosângela dos Santos FERREIRA 1<br />
Instituto Básico de Humanidades - Universidade de Taubaté - UNITAU<br />
No convívio diário, os seres humanos se comunicam quase o tempo todo, quer<br />
por uso de gestos, expressões faciais, sinais, quer pelo uso da linguagem articulada.<br />
Esta última, que se realiza por meio de uma grande diversidade de línguas, é usada<br />
nas mais variadas culturas para que as pessoas possam interagir socialmente.<br />
A Língua, sistema de signos organizados a partir de certas combinações ou<br />
regras, existe para expressar a cultura, visto que por meio dela é que grande parte das<br />
aquisições culturais é ensinada e transmitida. Assim, das relações entre língua e cultura,<br />
é possível dizer que a primeira resulta da segunda. É função da língua englobar a<br />
cultura, comunicá-la e transmiti-la através das gerações.<br />
Seja qual for a língua materna, ela sempre possuirá registros diferentes – do<br />
mais formal (culto) ao mais informal (coloquial), tanto na modalidade oral quanto na<br />
modalidade escrita. Cumpre notar que embora registros e modalidades sejam em geral<br />
apresentados como polos opostos, eles são na verdade manifestações de um mesmo<br />
continuum que se realiza no uso da língua. Nas palavras de Koch (1977):<br />
O que se verifica, na verdade, é que existem textos escritos que se<br />
situam, no contínuo, mas próximos ao polo da fala conversacional<br />
(bilhetes, cartas familiares, textos de humor, por exemplo), ao passo<br />
que existem textos falados que mais se aproximam do polo da escrita<br />
forma (conferências, entrevistas profissionais para altos cargos<br />
administrativos e outros), existindo ainda tipos mistos, além de muitos<br />
outros intermediários (KOCH, 1977, p. 32).<br />
O registro formal utilizado pelas pessoas escolarizadas em situações formais de<br />
fala ou de escrita caracteriza-se pelo maior rigor no uso do vocabulário e obediência às<br />
regras ditadas pela norma culta. Já o registro coloquial é a maneira informal de se<br />
comunicar no dia-a-dia, tanto na modalidade oral, quanto na modalidade escrita.<br />
1 Pesquisa orientada pelo Prof. Ms.Johel Abdala.
Para o registro formal o usuário da língua segue a gramática normativa do<br />
padrão culto, aproximando-se de um ideal linguístico, próprio do senso crítico e<br />
científico; para o registro coloquial o usuário da língua segue a gramática interior,<br />
intuitiva, própria de seu grupo ou região, aproximando-se do senso comum.<br />
Ressalte-se que um registro não é melhor ou pior que o outro. Tudo vai<br />
depender da adequação ao momento comunicativo, uma vez que importa ao indivíduo<br />
saber adequar o tipo de registro (mais formal, menos formal) à situação em que esse<br />
registro será empregado. O objetivo de um indivíduo é falar para ser bem compreendido<br />
pelo seu interlocutor – para isso, precisa conhecer as várias possibilidades de<br />
organização da mensagem, pois isso o capacita a comunicar-se adequadamente com<br />
interlocutores de formação variada e em situações diversas.<br />
O Roteiro GELP (Grupo de Estudos da Língua Portuguesa), utilizado como<br />
material didático nas aulas de Português Instrumental em todos os cursos de<br />
graduação da Universidade de Taubaté, trata em sua unidade I, Reflexões sobre o uso<br />
da Língua, do tema modalidades e registros da língua, conforme apresentado acima.<br />
Atuando como professora da disciplina de PI no primeiro ano do curso de<br />
Medicina, consciente da importância do assunto na formação dos alunos uma vez que,<br />
como acadêmicos e mais tarde como futuros médicos, terão contato com os mais<br />
diversos usos da língua, tanto oral quanto escrita, propus, como trabalho de bimestre, a<br />
recolha e transcrição de causos entre seus familiares e conhecidos, seguida da<br />
elaboração de um depoimento do aluno sobre a sua experiência no trato com os<br />
diferentes falares e com o ato da transcrição.<br />
Primeiramente os alunos estudaram a Unidade I do Roteiro GELP; em seguida,<br />
tiveram uma aula sobre recolha de textos orais e transcrição de fala. Para ilustrar o<br />
momento apresentei-lhes informações sobre trabalho pioneiro dos Irmãos Grimm que,<br />
entre 1812 e 1815, realizaram uma grande recolha de histórias contadas pelo povo,<br />
para, em seguida, combinar estilos e versões e adaptar seus textos para crianças. Ao<br />
publicar Contos da infância e do lar, os autores inauguraram a Literatura Infantil, tal<br />
como hoje a conhecemos. Trabalhos assim permitem a defesa do patrimônio histórico-
cultural e ratificam a importância da fixação das histórias orais por meio da escrita para<br />
que jamais sejam esquecidas.<br />
Os 78 alunos recolheram e transcreveram cerca de 150 causos e outras<br />
narrativas, contados por familiares e conhecidos. Na seqüência, em sala de aula, cada<br />
aluno elaborou um depoimento sobre sua experiência. Os resultados demonstraram<br />
que os alunos, em geral: a) tiveram certa dificuldade para lidar com algumas das<br />
variantes lingüísticas utilizadas pelos falantes; b) reconheceram a necessidade de<br />
refletir sobre a língua de modo a perceber as suas diferentes realizações, respeitar as<br />
variantes lingüísticas e se preparar para lidar com os diversos falares de seus futuros<br />
pacientes; c) entenderam que promover o contato e o trato com pessoas das mais<br />
diversas idades e condições sócio-econômica-culturais, por meio da língua, em<br />
situações reais fora da sala de aulas e do ambiente acadêmico contribui para promover<br />
a humanização dos alunos, médicos em formação, e para a construção da identidade<br />
profissional de cada um pelo aperfeiçoamento de perfis e habilidades propostos pela<br />
graduação, numa visão transdisciplinar.<br />
Referências<br />
FERREIRA, I. R. S. Projeto de Contação de histórias no Balbi: um resgate da importância de<br />
ler, ouvir e contar histórias que deu certo. In: Programa 56ª Reunião Anual SBPC, 2004, Mato<br />
Grosso - Cuiabá/MT. Programas e Resumos. Mato Grosso – Cuiabá, 2004. p. 50.<br />
______. O uso social da Língua Portuguesa pelo dentista em contextos acadêmicos e<br />
profissionais: um estudo para adequação do material didático – Apostila GELP-UNITAU.<br />
Taubaté, out., 2002. (não publicado)<br />
FERREIRA, I. R. S. ; RENDA, V. L. B. S. . Histórias contadas e recontadas: A importância da<br />
sua fixação pela escrita. In: VIII Encontro de Iniciação Científica da Universidade de Taubaté,<br />
2003, Taubaté. Programas e Resumos, 2003. v. 01. p.72.<br />
FERREIRA, I. R. S. ; SANTOS, D. V. ; RENDA, V. L. B. S. . Projeto de contação de histórias no<br />
Balbi: Um resgate da importância de ler, ouvir e contar histórias que deu certo. In: VIII Encontro<br />
de Iniciação Científica da Universidade de Taubaté, 2003, Taubaté. Programas e Resumos,<br />
2003. v. 1. p. 72.<br />
FERREIRA, I. R. S. ; GIL, R. R. ; SACHS, S. C. V. . Importância da Experiência Literária Infantil<br />
Anterior ao Letramento. In: VII Encontro de Iniciação Científica e III Mostra de Pós - graduação<br />
da Universidade de Taubaté, 2002. Programas e Resumos. 2002. v. 1. p. 62.<br />
KOCH, Ingedore G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 1997.
LOPES-ROSSI, Maria A. G. O desenvolvimento de habilidades de leitura a partir de<br />
características específicas dos gêneros discursivos. In: CASTRO, Solange. T. R. de. (Org.)<br />
Pesquisas em Lingüística Aplicada: novas contribuições. Taubaté: Cabral Editora e Livraria<br />
Universitária, 2003. p.141-164.<br />
______. Projetos pedagógicos para a produção escrita nas aulas de língua portuguesa. In:<br />
SILVA, E. R., LOPES-ROSSI, M. A. G. (Org.). Caminhos para a construção da prática<br />
docente. Taubaté: Cabral, 2003. p. 93-117.<br />
______. Gêneros discursivos no ensino da leitura e produção de texto. Taubaté: Cabral<br />
Editora Universitária, 2002. In: Anais do III SIGET - SIMPÓSIO INTERNACIONAL <strong>DE</strong><br />
ESTUDOS DOS GÊNEROS TEXTUAIS – UFSM – RS. 2005. ISS1808 7655.