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31 O HOMOEROTISMO EM CAIO FERNANDO ABREU ... - FACEVV

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pronunciadas não pela recusa ao dizer, mas para se aprender com o corpo. Os olhares são<br />

físicos, não de voyeur. Olhares não se desviam, falam (LOPES apud MARQUES FILHO;<br />

CAMARGO, 2007, p. 80).<br />

Por um lado é esse olhar físico que fala tudo o que as palavras ocultam dizer neste momento é que<br />

causa a sedução, o desejo, a vontade de ficarem juntos a um estado homoafetivo e homoerótico entre<br />

os dois personagens. Por outro lado, o olhar homofóbico dos “outros” que não respeitam a identidade e<br />

liberdade dos homossexuais fica atrelada a uma manifestação de vozes que julgam e condenam-nos<br />

como mostra o fragmento a seguir:<br />

passou a mão pela minha barriga. Passei a mão pela barriga dele. Apertou, apertamos. As<br />

nossas carnes duras tinham pêlos na superfície e músculos sob as peles morenas de sol.<br />

Ai-ai, alguém falou em falsete, olha as loucas, e foi embora. Em volta, olhavam (<strong>ABREU</strong>,<br />

2005, p. 57).<br />

Fica evidente que mesmo numa festa de carnaval em que é permitido culturalmente agir de uma<br />

maneira livre, nesses momentos é que se percebe como a sociedade age hipocritamente em que<br />

critica as pessoas por não terem sua liberdade sexual tolhida. Estes personagens não usavam<br />

máscaras para se esconder e disfarçar as suas identidades sexuais, ao contrário poderiam utilizar da<br />

festa de carnaval para cobrir o rosto e o perigo de suas escolhas. A máscara vem do italiano,<br />

maschera, trata-se de um objeto utilizado em bailes de máscaras e serve para enfeitar o rosto e<br />

propiciar uma dissimulação. A máscara simboliza o sentido de assumir-se socialmente (posições,<br />

emoções) para quem não as utiliza. O fragmento a seguir ilustra a como o carnaval apesar de ser<br />

considerado um período de liberdade total, perpassa por momentos de repressão e violência diante da<br />

falta de máscara dos amantes:<br />

veados, a gente, ainda ouviu, recebendo na cara o vento frio do mar. A música era só um<br />

tumtumtum de pés e tambores batendo. Eu olhei para cima e mostrei olha as Plêiades, só o<br />

que eu sabia ver, que em raquete de tênis suspensa no céu. Você vai pegar um resfriado,<br />

ele falou com a mão no meu ombro. Foi então que percebi que não usávamos máscara.<br />

Lembrei que tinha lido em algum lugar que a dor é a única emoção que não usa máscara.<br />

Não sentíamos dor, mas aquela emoção daquela hora ali sobre nós, e eu nem sei se era<br />

alegria, também não usava máscara. Então pensei devagar que era proibido ou perigoso<br />

não usar máscara, ainda mais no Carnaval (<strong>ABREU</strong>, 2005, p. 58).<br />

Esses personagens não escondiam atrás das máscaras a sua sexualidade, o seu desejo, o medo do<br />

olhar reprovador “dos outros” que denigre a escolha alheia. Eles se assumiram, e procuraram viver com<br />

intensidade e liberdade aquele momento de satisfação que estavam sentindo um pelo outro, num<br />

período de regime militar onde as marcas são a repressão e opressão.<br />

Nesse conto os personagens são construídos a partir de uma não identidade, isto é, eles se conhecem,<br />

se aceitam sem saberem pelo nome, idade, profissão e moradia um do outro, pois o que importa para<br />

eles é desfrutar o prazer, o corpo, o momento amoroso que estão compartilhando juntos. Observa-se<br />

através do trecho no conto essa não-identificação de ambas os personagens: “...não vou perguntar teu<br />

nome, nem tua idade,teu telefone, teu signo ou endereço, ele disse... [...] O que você mentir eu<br />

acredito, eu disse, que nem marcha antiga de Carnaval” (<strong>ABREU</strong>, 2005, p. 59).<br />

À medida que eles se entregam plenamente na praia, a narrativa adquire uma linguagem homoerótica<br />

referente à união e fusão dos dois corpos em um, de forma que nessa entrega completa através do ato<br />

pleno de amor como demonstrado no fragmento abaixo:<br />

Revista <strong>FACEVV</strong> | Vila Velha | Número 5 | Jul./Dez. 2010 | p. <strong>31</strong>-39<br />

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