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31 O HOMOEROTISMO EM CAIO FERNANDO ABREU ... - FACEVV

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2) exclui da sexualidade legítima todos aqueles indivíduos sociais que não cumprem com as normas do<br />

heterossexismo compulsório;<br />

3) funciona para narrar sua própria inexistência, ao negar a dinâmica da discriminação sexual<br />

(FOSTER apud CALEGARI, 2010, p. 6-7).<br />

No final termina com uma metáfora poética fazendo alusão a morte de um dos personagens: “a queda<br />

lenta de um figo muito maduro, até esborrachar-se contra o chão em mil pedaços sangrentos”. A<br />

metáfora suaviza a discriminação, os rótulos, e a intolerância entre o grupo de pessoas homofóbicas<br />

que violentaram cruelmente um dos personagens homossexuais.<br />

Terça-feira gorda de carnaval: cenário de preconceito e violência<br />

Neste conto surge espaço para as vozes marginalizadas, pois a questão social é enfocada e<br />

centralizada pelo autor. Diante disso faz-se necessário a utilização de um conceito de Hutcheon (1991,<br />

p.170), que segundo ela, “as vozes ex-cêntricas representam as vozes minoritárias quanto à classe<br />

social, raça, etnia, identidade sexual diante de um poder hegemônico branco, masculino, heterossexual<br />

e burguês”. Essas vozes, no conto Terça-feira gorda de carnaval, apresentam personagens centrais<br />

discriminados social e sexualmente, vozes que experienciam situações de desrespeito, intolerância e<br />

violência física até culminar na morte.<br />

A festa de carnaval, considerada a maior festa popular brasileira e a mais grandiosa manifestação<br />

folclórica que envolve um grande público, é um período de exposição do corpo, de valorização da<br />

dança, da fantasia e extrapolação da sexualidade, marcada pela orgia e “liberdade”. A tônica do<br />

carnaval é o “desregramento”, a postura de liberdade e ousadia, própria da cultura carnavalesca, sendo<br />

que as vozes maldosas e irônicas dos personagens no conto adotam uma posição de condenação e<br />

ruptura frente aos homossexuais, levando a narrativa à constatação de um paradoxo social. Nesse<br />

sentido, a proposição de Franco Jr. (apud PORTO; PORTO, 2004, p. 71) e bastante elucidativa: “O<br />

carnaval, em Terça-feira gorda, alegoriza a própria tessitura de violência sombria mesclada a<br />

explosões circunstanciais de euforia e aparente desregramento que caracterizam um modo de ser<br />

alegre irresponsável e brutal.”<br />

A terça-feira é o último dia de carnaval, dia de despedida da orgia, que antecede a quaresma e por<br />

outro lado é chamada de Terça-feira gorda dada ao título do conto porque era o último dia em que os<br />

cristãos comiam carne antes do jejum da quaresma, na qual também havia a abstinência de sexo e até<br />

mesmo das diversões, como circo, teatro ou festas.<br />

Nota-se no conto que o preconceito tem a ver com as circunstâncias em que a discriminação ocorre:<br />

durante uma festa carnavalesca. Frente a esta festividade pondera-se que:<br />

O carnaval é um espetáculo sem ribalta e sem divisão entre atores e espectadores. No<br />

carnaval todos são participantes ativos, todos participam da ação carnavalesca. Não se<br />

contempla e, em termos rigorosos, nem se representa o carnaval, mas vive-se nele, e vivese<br />

conforme as suas leis estas vigoram, ou seja, vive-se uma vida carnavalesca. Esta é<br />

uma vida desviada da sua ordem habitual, em certo sentido uma “vida às avessas”, um<br />

“mundo invertido” (“monde à l’envers) (BAKHTIN, 1981, p. 105).<br />

O autor aponta que o carnaval se caracterizaria por proceder a uma inversão de valores do cotidiano,<br />

ou seja, deveria corresponder à vida desviada de seu curso normal.<br />

Revista <strong>FACEVV</strong> | Vila Velha | Número 5 | Jul./Dez. 2010 | p. <strong>31</strong>-39<br />

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