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Memética - Instituto Superior de Agronomia - Universidade Técnica ...

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Departamento <strong>de</strong> Engenharia Florestal<br />

Biodiversida<strong>de</strong> e Conservação<br />

Universida<strong>de</strong> <strong>Técnica</strong> <strong>de</strong> Lisboa<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>Superior</strong> <strong>de</strong> <strong>Agronomia</strong><br />

Docente: Professora Doutora Maria Helena Almeida<br />

<strong>Memética</strong><br />

A memória evolui!<br />

João Miguel Gonçalves Ribeiro 17 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2007<br />

<strong>Memética</strong><br />

1


Resumo:<br />

A memória evolui!<br />

Este trabalho apresenta <strong>de</strong> forma simplificada, um dos temas controversos abordados por<br />

Richard Dawkins no seu livro The Selfish Gene. Compreen<strong>de</strong>-se o meme e a memética, por<br />

analogia ao gene e à genética. É abordado o conceito <strong>de</strong> meme como unida<strong>de</strong> básica do<br />

conhecimento e comportamento, retratando-se ainda a perspectiva evolutiva do meme por<br />

analogia à evolução genética. Um tema complexo, com uma evolução estonteantemente rápida,<br />

com a qual diariamente lidamos e influenciamos e da qual muito raramente nos apercebemos.<br />

Palavras chave: meme, memética, evolução, Richard Dawkins, The Selfish Gene.<br />

<strong>Memética</strong><br />

2


Perspectiva<br />

A memória evolui!<br />

Edward Wilson, biólogo conhecido pelo seu trabalho com ecologia, evolução e<br />

sociobiologia, apresenta no seu livro Sociobiology: The New Synthesis uma visão sobre a herança<br />

cultural abordando o seu papel fundamental como ligação entre as ciências naturais e sociais.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, este autor e o biólogo Charles J. Lums<strong>de</strong>n publicam uma teoria <strong>de</strong> co-evolução <strong>de</strong><br />

genes e cultura, no livro Genes, Mind, and Culture: The Coevolutionary Process. Defen<strong>de</strong>ndo que<br />

as unida<strong>de</strong>s fundamentais biológicas da cultura <strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r a re<strong>de</strong>s neuronais que<br />

funcionam como conexões <strong>de</strong> memória semântica. Mas é o, etólogo e evolucionista, Richard<br />

Dawkins, que no seu controverso bestseller, The Selfish Gene apresenta <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>talhada<br />

o conceito <strong>de</strong> meme.<br />

“Um novo tipo <strong>de</strong> replicador emergiu recentemente neste mesmo planeta. Está a<br />

olhar-nos <strong>de</strong> frente. Ainda está na sua infância, ainda vagueia <strong>de</strong>sajeitadamente no seu<br />

caldo primitivo, mas já está a conseguir uma mudança evolutiva, a uma velocida<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>ixa muito para trás o velho gene ofegante. [...]”<br />

(Dawkins, R. 1976)<br />

“Durante mais <strong>de</strong> 3000 milhões <strong>de</strong> anos o DNA foi o único replicador digno <strong>de</strong><br />

menção no Mundo. Mas isso não significa que ele mantenha eternamente esses direitos <strong>de</strong><br />

monopólio. [...]”<br />

(Dawkins, R. 1976)<br />

“Nós biólogos, assimilamos tão profundamente a i<strong>de</strong>ia da evolução genética que<br />

temos tendência para esquecer que ela é apenas um dos vários tipos <strong>de</strong> evolução possível.<br />

[...]”<br />

Memes : os novos replicadores...<br />

(Dawkins, R. 1976)<br />

3


O meme apresenta-se como sendo para a memética o análogo do gene na genética, isto<br />

é, a sua unida<strong>de</strong> básica. Consi<strong>de</strong>rado como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação que se multiplica <strong>de</strong><br />

cérebro em cérebro é, no que respeita à sua funcionalida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rado como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

evolução cultural que po<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma forma autopropagar-se. Tal como a evolução biológica é<br />

guiada pela sobrevivência dos genes melhor adaptados a um <strong>de</strong>terminado meio, a evolução<br />

cultural po<strong>de</strong> ser guiada pelos memes melhor adaptados a esse meio. Os memes apresentam-se<br />

assim, como i<strong>de</strong>ias ou partes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, línguas, sons, <strong>de</strong>senhos, capacida<strong>de</strong>s, valores estéticos e<br />

morais, ou qualquer outra “coisa” que possa ser aprendida e transmitida enquanto unida<strong>de</strong><br />

autónoma. O estudo <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los evolutivos <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> informação é conhecido como<br />

memética.<br />

A evolução memética, tal como o seu equivalente genético, pressupõe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mutações e <strong>de</strong> um mecanismo Darwinista <strong>de</strong> selecção natural para que possa ocorrer. Sendo as<br />

mutações o factor chave, tornam-se por isso responsáveis pela emergência <strong>de</strong> variações<br />

essenciais, pelo que as mais eficazes em replicar se tornam, por <strong>de</strong>finição, mais comuns,<br />

possuindo uma maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> permanecerem na população. No entanto, e <strong>de</strong> forma<br />

diferente da evolução genética, a evolução memética não se apoia em algo exterior, análogo ao<br />

genótipo. Se um roedor per<strong>de</strong>r a sua cauda, ou um culturista levantar pesos, por exemplo, a<br />

informação no DNA do seu genótipo permanecerá inalterada, e aquando da replicação não irá<br />

passar as referidas características adquiridas. Na memética, por outro lado, o fenótipo coinci<strong>de</strong><br />

com o genótipo e <strong>de</strong>sta forma as mudanças no último são transmitidas quando for replicado.<br />

Assim a memética po<strong>de</strong> ser encarada como um conceito Lamarckista, pela herança <strong>de</strong><br />

caracteres adquiridos, o que possui a sua dose <strong>de</strong> ironia, já que consi<strong>de</strong>ráveis esforços e <strong>de</strong>bates<br />

vieram provar que a evolução genética não o era. É <strong>de</strong> admitir que as mutações dos memes<br />

tenham conduzido a linguagem a uma evolução cultural que, começando com umas poucas<br />

sílabas primitivas, permitiu tornar-se hoje uma fusão <strong>de</strong> idiomas e dialectos, não obstante as<br />

várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> variação simbólica no interior <strong>de</strong> cada dialecto. O mesmo raciocínio po<strong>de</strong><br />

ser aplicado aos sistemas <strong>de</strong> linguagem: a escrita, o Braille, a linguagem gestual, sendo a<br />

linguagem apenas um exemplo entre muitos existentes. A moda no vestuário, a alimentação, as<br />

cerimónias e os costumes, a engenharia e a tecnologia, tudo evolui no tempo histórico <strong>de</strong> uma<br />

forma que se assemelha à evolução genética, mas altamente acelerada, <strong>de</strong>stacando-se <strong>de</strong> forma<br />

4


clara da evolução genética. Contudo, tal como na evolução genética as mudanças ocorrem <strong>de</strong><br />

forma progressiva.<br />

Evolução <strong>Memética</strong><br />

Dawkins observou que as culturas po<strong>de</strong>m evoluir <strong>de</strong> modo muito similar ao das<br />

populações <strong>de</strong> organismos vivos. Entre as gerações po<strong>de</strong>m ser passadas i<strong>de</strong>ias, com potencial<br />

para aumentar ou diminuir a sobrevivência dos indivíduos que as obtêm e usam. A esse processo<br />

vem associado um mecanismo <strong>de</strong> selecção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, que são <strong>de</strong>sta forma transmitidas às<br />

gerações futuras.<br />

Segundo Dawkins o melhor exemplo que se conhece da sua ocorrência entre os animais<br />

foi <strong>de</strong>scrito por P.F. Jenkins e diz respeito ao canto <strong>de</strong> uma ave, Creadion carunculatus, que vive<br />

nas ilhas da Nova Zelândia.<br />

Nessas ilhas, o repertório completo das aves consistia em cerca <strong>de</strong> nove canções<br />

distintas. Cada macho cantava apenas uma ou algumas <strong>de</strong>ssas canções, sendo por isso<br />

classificados em grupos <strong>de</strong> dialectos. Por exemplo, um grupo <strong>de</strong> oito machos, com territórios<br />

vizinhos, cantava uma canção particular, chamada canção CC. Outros grupos, com outros<br />

dialectos, cantavam canções diferentes. Registou-se que algumas vezes, os membros <strong>de</strong> um<br />

grupo com um <strong>de</strong>terminado dialecto partilhavam mais <strong>de</strong> uma canção. Posteriormente, Jenkins,<br />

comparando as canções <strong>de</strong> pais e filhos, mostrou que os padrões das canções não eram<br />

herdados geneticamente. Cada jovem macho, provavelmente, adoptava, por imitação, canções <strong>de</strong><br />

outras aves <strong>de</strong> territórios vizinhos, <strong>de</strong> uma forma análoga áquilo que se passa com a linguagem<br />

humana. Registou-se um número limitado <strong>de</strong> canções nas ilhas, uma espécie <strong>de</strong> “pool <strong>de</strong><br />

canções”, do qual cada macho jovem escolhia o seu próprio repertório. Mas, ocasionalmente,<br />

Jenkins tinha o privilégio <strong>de</strong> assistir à “intenção” <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> uma nova canção, a qual ocorria<br />

na sequência <strong>de</strong> um erro na imitação <strong>de</strong> uma canção antiga. Escreve: “Observou-se que novas<br />

formas <strong>de</strong> canto se originam <strong>de</strong> maneiras diversas, por uma alteração na altura <strong>de</strong> uma nota e<br />

pela combinação <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> outras canções já existentes, o aparecimento <strong>de</strong> uma nova forma era<br />

um acontecimento abrupto e o resultado mantinha-se estável por alguns anos. Além disso, em<br />

vários casos, a variante foi transmitida com precisão, na sua nova forma, a jovens iniciados, <strong>de</strong><br />

modo que se <strong>de</strong>senvolveu um grupo reconhecidamente coerente <strong>de</strong> canções<br />

5


semelhantes.”(Jenkins, P.F.). Jenkins refere-se às origens <strong>de</strong> novas canções como “mutações<br />

culturais”. Se por algum motivo as aves não tivessem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>slocar entre as ilhas,<br />

era <strong>de</strong> esperar que com o aumento e acumulação <strong>de</strong>stas mutações surgissem diferentes<br />

espécies/subespécies. Isto porque as fêmeas não teriam capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber a mensagem<br />

dos machos <strong>de</strong> outras ilha casos as populações se voltassem a encontrar, pois durante a<br />

ausência <strong>de</strong> contacto entre as populações teriam surgido diferentes “espécies” <strong>de</strong> canto. Os<br />

cantos seriam tão distintos que se <strong>de</strong>senvolveria isolamento comportamental que impediria a<br />

reprodução.<br />

Propagação por Imitação<br />

Uma característica chave do meme é que ele é propagado por imitação. Quando a<br />

imitação surgiu evolutivamente nos humanos e animais, veio a revelar-se um bom "truque",<br />

aumentando a capacida<strong>de</strong> reprodutiva dos indivíduos com tal característica. Talvez a selecção<br />

sexual dos melhores imitadores tenha levado a um aumento genético na capacida<strong>de</strong> dos cérebros<br />

para imitar. "Imitar" aqui significa, basicamente, levar informação do ambiente até ao cérebro por<br />

algum órgão sensorial. O elemento ambiental po<strong>de</strong> ser inanimado (como é o caso dos livros),<br />

mas, mais tipicamente, é um outro individuo a partir <strong>de</strong> quem a informação <strong>de</strong> um certo<br />

comportamento é obtida e posteriormente posta em prática. Uma vez que os memes se propagam<br />

<strong>de</strong> um indivíduo a outro por imitação, não po<strong>de</strong> existir tal fenómeno, sem cérebros que sejam<br />

suficientemente <strong>de</strong>senvolvidos para analisar os aspectos fundamentais do comportamento a ser<br />

imitado, o que <strong>de</strong>ve ser copiado e por que razão <strong>de</strong>ve sê-lo, bem como os seus potenciais<br />

benefícios.<br />

É fácil imaginar os nossos ancestrais a imitar novas técnicas úteis para fazer fogo, caçar,<br />

carregar e preparar o alimento. À medida que esses memes se difundiam a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquiri-<br />

los tornava-se cada vez mais importante para a sobrevivência dos nossos antepassados. Assim<br />

os indivíduos que imitavam melhor, reproduziam-se mais e os genes que lhes facultavam os<br />

cérebros maiores necessários para isso aumentavam consequentemente no pool genético. Assim<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> imitação aumentava, intensificando-se ainda mais a pressão para o aumento do<br />

cerebro, revelando uma relação biunívoca entre estes dois parâmetros.<br />

6


Ainda hoje, e apenas num reduzido numero <strong>de</strong> espécies po<strong>de</strong>mos dizer que os memes<br />

controlam a selecção dos genes. Para tal os memes competem entre si, sendo que os mais bem<br />

sucedidos ditam quais os genes com mais sucesso. Por este processo o mecanismo <strong>de</strong> selecção<br />

memética foi e é transmitido e integrado nas estruturas do cérebros.<br />

Pelas razões acima referidas os memes ou comportamentos adquiridos e propagados por<br />

imitação, apenas po<strong>de</strong>m ser observados num reduzido número <strong>de</strong> espécies, o caso do homem,<br />

primatas, cetáceos e aves que apren<strong>de</strong>m a cantar por imitação dos seus progenitores. Po<strong>de</strong> no<br />

entanto dizer-se que existem memes menos complexos noutras espécies, por exemplo,<br />

comportamentos <strong>de</strong> imitação artificialmente induzidos em cefalópo<strong>de</strong>s e ratos.<br />

Uma outra característica que os memes partilham com os genes é o facto <strong>de</strong><br />

sobreviverem para além dos indivíduos que os transportam. Um gene bem sucedido, como é o<br />

caso dos genes para pescoços compridos nas populações <strong>de</strong> girafas, po<strong>de</strong> conservar-se sem<br />

mutações no conjunto <strong>de</strong> genes <strong>de</strong> uma população por centenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos. Da mesma<br />

forma, um meme bem sucedido po<strong>de</strong> propagar-se <strong>de</strong> indivíduo para indivíduo muito para além do<br />

momento em que teve origem.<br />

Mutação <strong>Memética</strong><br />

Para que ocorra evolução, não basta a existência <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> hereditarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />

selecção natural, é igualmente necessária, como referido anteriormente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mutação, proprieda<strong>de</strong> que também é atribuída aos memes. As i<strong>de</strong>ias que são transmitidas <strong>de</strong><br />

cérebro em cérebro po<strong>de</strong>m sofrer modificações que se acumulam ao longo do tempo. Essas<br />

modificações no "fenótipo", informação nos cérebros ou sistemas <strong>de</strong> retenção, são então<br />

transmitidas sob uma nova forma. Por exemplo, as lendas e mitos são frequentemente<br />

“melhorados” quando recontados com o objectivo <strong>de</strong> serem melhor recordados, aumentando <strong>de</strong>sta<br />

forma a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem novamente recontados. Contrariamente à história dos genes, que<br />

sofrem mutações aleatórias, as mutações nos memes são em geral intencionais. É o individuo que<br />

altera os contos na intenção <strong>de</strong> os melhorar para que sejam recontados, isto porque, o sucesso <strong>de</strong><br />

um meme, tal como o <strong>de</strong> um gene é <strong>de</strong>terminado pelo número <strong>de</strong> cópias existentes e pelo local<br />

on<strong>de</strong> são retidas.<br />

7


Tal como nos genes, existem memes cujo sucesso se <strong>de</strong>ve a outros factores e cujo efeito<br />

po<strong>de</strong> inclusive ser negativo. Alguns dos factores que influenciam directamente o sucesso evolutivo<br />

<strong>de</strong> um meme são por exemplo a experiência: se um meme não apresenta uma correlação com o<br />

universo <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> um indivíduo, então será menos provável que este acredite nesse<br />

meme. A felicida<strong>de</strong>: se um meme faz com que um indivíduo se sinta mais feliz, então será mais<br />

provável que acredite nele. O medo: Se um meme constitui uma ameaça, os indivíduos po<strong>de</strong>m<br />

ser levados a crer nele por medo. A censura: se um gran<strong>de</strong> grupo penaliza outros indivíduos por<br />

expressarem um meme em particular, então esse meme será colocado numa situação <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>svantagem selectiva. Estes são alguns dos muitos exemplos que po<strong>de</strong>riam ser aqui<br />

apresentados, <strong>de</strong> factores que influenciam directa e indirectamente o sucesso evolutivo <strong>de</strong> um<br />

meme.<br />

Especiação <strong>Memética</strong><br />

Na genética das populações, a variabilida<strong>de</strong>, a selecção e a <strong>de</strong>riva não levam à formação<br />

<strong>de</strong> novas espécies sem que ocorra isolamento reprodutivo. Isto é, para dividir uma espécie em<br />

duas, as duas subpopulações da espécie original não se po<strong>de</strong>m cruzar, caso contrário manter-se-<br />

ia a sua homogeneida<strong>de</strong> enquanto população. No entanto, após separadas, mutações a selecção<br />

natural e/ou <strong>de</strong>riva genética que actuam sobre as duas subespécies levaram eventualmente a<br />

modificações características entre os dois subgrupos. Modificações essas que, impossibilitando o<br />

cruzamento, significará por <strong>de</strong>finição que estes irão compor duas espécies distintas. Exemplos <strong>de</strong><br />

isolamento reprodutivo incluem isolamento geográfico, on<strong>de</strong> o surgimento <strong>de</strong> uma montanha ou rio<br />

separa dois subgrupos; isolamento temporal, on<strong>de</strong> um subgrupo se torna totalmente diurno,<br />

enquanto o outro se torna totalmente nocturno; e mesmo isolamento comportamental, verificado,<br />

por exemplo, entre lobos e cães domésticos: estes po<strong>de</strong>r-se-iam cruzar, biologicamente falando,<br />

mas normalmente não o fazem.<br />

Um fenómeno semelhante po<strong>de</strong> ocorrer com memes. Assim vejamos, normalmente uma<br />

população <strong>de</strong> indivíduos portadores <strong>de</strong> um meme mistura-se suficientemente para manter o meme<br />

intacto. Se a população se dividisse, sem contacto suficiente entre os dois subgrupos, impedindo<br />

que as variações nos meme se equilibrassem, eventualmente nesses grupos iriam surgir distintas<br />

versões, diferindo suficientemente umas das outras e serem então consi<strong>de</strong>rados memes distintos.<br />

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Mostra-se assim que a evolução e especiação memética é influenciadas por alguns factores que<br />

<strong>de</strong> forma análoga <strong>de</strong>terminam a evolução genética.<br />

Observação Final<br />

“Somos construídos como máquinas <strong>de</strong> genes e educados como máquinas <strong>de</strong><br />

memes.” (Dawkins, R. 1976). É esta a teoria evolutiva apresentada, na minha opinião, <strong>de</strong> forma<br />

brilhante por Richard Dawkins, no seu livro The Selfish Gene, a qual tentei aqui, e <strong>de</strong> uma forma<br />

simplificada, retratar. Devo no entanto confessar que é fácil especular sobre o tema, <strong>de</strong>vido ao seu<br />

carácter pouco objectivo e à falta <strong>de</strong> consenso entre a comunida<strong>de</strong> cientifica, e difícil tratá-lo <strong>de</strong><br />

forma objectiva, pelo mesmo motivo pois, e “memeticamente” falando, i<strong>de</strong>ias há muitas e cada um<br />

tem a sua. É por isso um tema, para mim, fascinante, dada a complexida<strong>de</strong>, e a forma como<br />

diariamente lidamos com esta evolução, incrivelmente rápida, sem que nunca nos apercebamos.<br />

Encaro-a como uma evolução complementar e necessária, à evolução genética, sendo que ambas<br />

são regidas, em geral, pelas mesmas pressões evolutivas. A memética, permite aos humanos e<br />

animais, talvez não tão poucos como pensemos, <strong>de</strong>senvolverem capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> melhor<br />

adaptabilida<strong>de</strong> ao meio, capacida<strong>de</strong>s estas complementares das capacida<strong>de</strong> herdadas<br />

geneticamente. O conceito <strong>de</strong> meme possibilita, por isso a compreensão <strong>de</strong> alguns aspectos da<br />

cultura e comportamento tanto humana como animal que <strong>de</strong> outra forma não seriam explicados. A<br />

memética po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como uma ciência ainda na sua infância, uma protociência, ainda<br />

que muitos críticos a consi<strong>de</strong>rem uma pseudociência.<br />

Por ser um tipo <strong>de</strong> evolução que apesar <strong>de</strong> apresentar características comuns à evolução<br />

genética, se <strong>de</strong>staca <strong>de</strong>sta pela perspectiva mais comportamental e cultural, abordada, tanto a<br />

nível humano como animal é, a meu ver, um tema que se integra na Ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Biodiversida<strong>de</strong> e<br />

Conservação. Introduzindo <strong>de</strong>sta forma alguns conceitos novos e menos estudados, como o<br />

meme e a memética, sendo por isso um tema diferente e interessante para alunos na área da<br />

Biologia.<br />

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Referências Bibliografia:<br />

Obra Principal<br />

Dawkins, R. (1989) The Selfish Gene. Second edition, Oxford University Press . 352p.<br />

Obras e referencias complementares:<br />

Danchin, A. (1993) O Ovo e a Galinha – Historia do Código Genético. Relógio D´Água. 290p.<br />

Vauclair, J. (1992) A Inteligência dos Animais. Edição “Livros do Brasil” Lisboa – Colecções Vida<br />

e Cultura. 189p.<br />

www.memecentral.com, acedido no dia 8 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2007<br />

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