Gazeta - Brasil Imperial
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A retirada dos crucifixos dos<br />
Tribunais.<br />
Pág 14<br />
O Poder Executivo e a<br />
Democracia.<br />
Pág 15<br />
As descobertas no Cais da<br />
Imperatriz no Rio de Janeiro.<br />
Pág 17<br />
A República que<br />
nunca foi. Pág. 13<br />
<strong>Imperial</strong><br />
<strong>Gazeta</strong><br />
Jornal editado pelo Instituto <strong>Brasil</strong> <strong>Imperial</strong> Março de 2012 Ano XVI Número 195 www.brasilimperial.org.br<br />
JUSTIÇA!<br />
Em nova edição revista e ampliada, um dos<br />
livros mais vendidos no País resgata as<br />
conquistas do Período <strong>Imperial</strong> no <strong>Brasil</strong> sem<br />
a visão equivocada, oportunista e ideológica<br />
que muitos fazem com a intenção de negar os<br />
avanços democráticos. Pág 3
<strong>Gazeta</strong><br />
<strong>Imperial</strong><br />
A <strong>Gazeta</strong> <strong>Imperial</strong> é uma publicação do Instituto <strong>Brasil</strong> <strong>Imperial</strong>. Artigos,<br />
sugestões de reportagens, divulgação de eventos monárquicos e imagens<br />
podem ser enviados para brasilimperial@brasilimperial.com.br<br />
02<br />
Palavra do Presidente<br />
Afinal, o que<br />
perdemos ao<br />
tentar?<br />
Na Palavra do Presidente desta edição publicamos texto de Rodrigo Cavalcanti, professor de História, que vale uma boa reflexão de todos<br />
Saudações a todos os leitores.<br />
Venho desta feita colocar uma perguntinha<br />
incômoda para os senhores<br />
e senhoras preocupados com a situação<br />
de nosso país. Uma pergunta<br />
que, por mais que eu tenha pensado<br />
e refletido, não achei resposta justa<br />
e plausível. Nem mesmo alguma que<br />
por breve momento aquietasse o meu<br />
juízo. Vamos à pergunta, depois à explicação.<br />
Afinal, o que perdemos em tentar?<br />
Essa é minha pergunta a você leitor.<br />
E nunca eu quis tanto que alguém<br />
me enviasse e-mails com suas respostas.<br />
A indagação diz respeito à<br />
mudança de sistema de governo no<br />
<strong>Brasil</strong>. Sairíamos de uma República e<br />
entraríamos em uma Monarquia Parlamentar.<br />
Sabe aqueles argumentos do tipo:<br />
“Monarquia é retrocesso”, “Não vou<br />
ser mandado por um Rei”, “Por que<br />
sustentar uma Família Real que não<br />
faz nada?”, “O Rei é apenas uma figura<br />
decorativa”, “Prefiro uma democracia!”,<br />
etc, etc, etc? Pois bem, para<br />
quem é Monarquista, ou tem uma<br />
preocupação mínima em estudar o<br />
tema, sabe que são perguntas com respostas<br />
simples, mas que por algum<br />
motivo (meio óbvio) fogem do conhecimento<br />
da maioria das pessoas.<br />
Acreditem em mim quando eu digo: os<br />
argumentos republicanos são fracos e<br />
não se sustentam, ao menos não em<br />
uma república como a do <strong>Brasil</strong>.<br />
Eis os meus motivos para este quase<br />
apelo aparentemente repentino: Não<br />
aguento mais uma república decadente<br />
(se é que ainda há o que cair<br />
moralmente). Nossa história republicana<br />
é repleta de falhas e defeitos<br />
graves. A situação piora quando<br />
comparamos com o período em que<br />
o <strong>Brasil</strong> foi um Império (1822-1889).<br />
Alguns dados sobre a república:<br />
→ Começou ilegalmente com um<br />
Golpe Militar;<br />
→ O <strong>Brasil</strong> republicano já sofreu pelo<br />
menos cinco Golpes de Estado e um<br />
impeachment;<br />
→ Em todo o período republicano, eu<br />
disse TODO, nunca tivemos uma real<br />
estabilidade política duradoura;<br />
→ Temos um Chefe de Estado (representante<br />
maior da Nação) sempre<br />
comprometido ideologicamente com<br />
partidos políticos, além de não prestar<br />
contas com nenhum Parlamento<br />
ou superior;<br />
→ Sete Constituições (enquanto<br />
houve apenas uma no Império);<br />
→ Corrupção generalizada e IMPUNI-<br />
DADE pelo simples fato de não haver<br />
nenhum representante da sociedade<br />
comprometido com a ética.<br />
Enfim, há muitos problemas na<br />
república que poderíamos tentar consertar<br />
com uma Monarquia Parlamentar.<br />
Nossos parlamentares discutem<br />
plebiscitos ridículos como divisão de<br />
estados e desarmamento (este não é<br />
ridículo, mas o fato de querer repeti-<br />
lo em tão pouco tempo depois de<br />
uma decisão da sociedade, isto sim,<br />
é ridículo), mas não uma proposta de<br />
mudança de sistema! Sabem por que<br />
não há nenhuma proposta em relação<br />
a isso? Já imaginou até como seria interessante<br />
uma proposta de mudança<br />
no sistema com um novo plebiscito<br />
marcado para dez anos depois, para<br />
saber se a população quer voltar para<br />
o sistema republicano? Sabe por que<br />
não há? Porque toda a corja sabe que<br />
a república não voltaria, e tal qual à<br />
época de D. Pedro II, qualquer homem<br />
com nódoa política estava praticamente<br />
banido da vida pública.<br />
Nunca vivemos em época tão<br />
democrática quanto àquela, onde a<br />
disseminação do ideal republicano<br />
(contra o sistema vigente) era permitida,<br />
coisa que a república fez questão<br />
de apagar por praticamente 100<br />
anos. Só na Constituição de 1988 (última<br />
do nosso país e já considerada<br />
ultrapassada) a cláusula pétrea que<br />
calava, literalmente, os Monarquista,<br />
foi revogada. Entretanto, um século<br />
de doutrinação republicana foi suficiente<br />
para fazer parecer uma idiotice<br />
voltar ao sistema que funcionou adequadamente<br />
ao <strong>Brasil</strong>.<br />
Não ache que nós Monarquistas<br />
somos poucos. Não... Não somos!<br />
Estamos em muitos locais, mas precisamos<br />
do apoio de mais ainda. Precisamos<br />
estar próximos, ainda que<br />
distantes!<br />
Que fique claro que não encaro a mudança<br />
de sistema político do <strong>Brasil</strong><br />
Comendador Antonyo da Cruz<br />
Presidente do Instituto <strong>Brasil</strong> <strong>Imperial</strong><br />
presidente@brasilimperial.org.br<br />
como um passe de mágica onde todas<br />
as mazelas do nosso país serão<br />
solucionadas. Encaro como uma AL-<br />
TERNATIVA esperançosa para que<br />
possamos tentar ser um País respeitado<br />
e de vida mais justa para sua<br />
população, que como poucas vezes<br />
na História, tem a chance de ser realmente<br />
representada.<br />
Fica então a pergunta. Afinal, com<br />
a situação do <strong>Brasil</strong> republicano (e<br />
quem conhece História sabe que<br />
estou falando desde 1889), o que<br />
perdemos em apenas TENTAR outro<br />
modo de fazer o <strong>Brasil</strong> funcionar?<br />
Será que não vale a pena TENTAR?<br />
Você estaria disposto a disseminar<br />
essa ideia?<br />
Saudações Monárquicas.<br />
Comendador Antonyo da Cruz<br />
Presidente do Instituto <strong>Brasil</strong> <strong>Imperial</strong><br />
Alessandro Padin<br />
Editor e jornalista responsável<br />
alessandro_padin@uol.com.br
História<br />
ELOGIO A<br />
MONARQUIA<br />
O jornalista Leandro Narloch levantou estudos recentes sobre a História<br />
do <strong>Brasil</strong> para reavaliar conceitos arraigados - o ideal do bom selvagem<br />
e o massacre da Guerra do Paraguai, por exemplo - e desconstruir mitos<br />
- alguns dos autores mais incensados da Língua Portuguesa, como<br />
Machado de Assis. O resultado de pesquisas de historiadores que não se<br />
renderam à educação tradicional à qual todos somos passados a ferro na<br />
escola surge no livro “Guia Politicamente Incorreto da História do <strong>Brasil</strong>”<br />
num texto bem humorado e fluido que nos leva a refletir sobre os papéis<br />
de mocinho e bandido. Baseado em farta bibliografia, Narloch revê<br />
o <strong>Brasil</strong> e traz a luz histórias que poderiam ficar restritas às estantes<br />
especializadas das livrarias. O livro está dividido em nove capítulos:<br />
Se você teve um professor ranzinza<br />
nas aulas de história da escola, deve<br />
ter aprendido a se envergonhardo<br />
<strong>Brasil</strong> do século 19. Enquanto revolucionários<br />
e libertadores de boa<br />
parte do mundo travavam batalhas<br />
heroicas e conseguiam se livrar das<br />
garras das elites e dospaíses colonialistas,<br />
por aqui não aconteceu nada,<br />
nada: ficamos sempre no quase. As<br />
revoltas populares quasederam certo,<br />
mas foram sufocadas; os heróis<br />
quase ven-ceram, mas foram perseguidos<br />
e mortos. As mudançasque<br />
aconteceram foram todas de cima<br />
para baixo, compouca participação<br />
do povo. Fomos o último país a abolir<br />
a escravidão, o último a proclamar<br />
a República. Atéa Independência decepciona,<br />
já que foi proclamada pelopróprio<br />
príncipe do reino português<br />
no <strong>Brasil</strong>. Quando oprofessor revelava<br />
esse passado monótono, baixávamos<br />
acabeça desanimados com a<br />
história nacional. Mal imaginávamos<br />
que aquele aparente fracasso era motivo,<br />
se nãode orgulho, pelo menos de<br />
alívio.Basta ver o século 19 pelo lado<br />
dos nossos vizinhos.As revoluções<br />
populares da América espanhola<br />
foram vitoriosas – e deram, quase todas,<br />
em tragédia. Guerras civis, ditaduras<br />
e assassinatos em massa brotaram<br />
do México à Argentina, com o<br />
Chile como única exceção. A região se<br />
despedaçou, dando origem a diversas<br />
e pequenas repúblicas inimigas entre<br />
si. A Venezuela, depois de se ver<br />
livre da Espanha e se separar do vicereinado<br />
da Grande Colômbia, caiu em<br />
guerras civis e raciais com resultados<br />
genocidas. A estimativa de mortos<br />
nos conflitos venezuelanos varia muito,<br />
mas é sempre assustadora: vai de<br />
3%a 30% da população.<br />
Na Argentina, as decisões ficaram<br />
nas mãos de caudilhos, líderes militarizados<br />
cheios de virilidade, bravura<br />
e proezas equestres, como Juan<br />
Manuelde Rosas e Facundo Quiroga.<br />
Quando esses homens chegavam ao<br />
poder, fechavam jornais, interrompiam<br />
eleições e praticavam atrocidades<br />
contra os inimigos e o povo em geral.<br />
A autonomia teve contornos bizarros<br />
no Paraguai. O primeiro presidente,<br />
José Gaspar Rodríguez de<br />
Francia,expulsou todos os empresários<br />
e comerciantes do país e decidiu se<br />
meter até mesmo na vida sexual dos<br />
cidadãos.Só casamentos inter-raciais<br />
eram permitidos para os descendentes<br />
de europeus: os homens eram<br />
obrigados a casar com as índias. Em<br />
toda a América Espanhola, a economia<br />
foi à ruína, e demorou décadas<br />
para voltar aos níveis anteriores às<br />
revoluções.O <strong>Brasil</strong> tomou um rumo<br />
diferente não só por ignorara voz do<br />
povo, por “pressão dos grandes proprietários<br />
deterras”, como geralmente<br />
se diz, ou por uma suposta mania do<br />
brasileiro de deixar as coisas como<br />
estão. Os mais influentes deputados,<br />
senadores, ministros e conselheiros<br />
do Estado eram tão idealistas quanto<br />
03<br />
Índios, Negros, Escritores, Samba, Guerra do Paraguai, Aleijadinho, Acre,<br />
Santos Dumont e Comunistas. Sem negar as qualidades ou os erros que<br />
a História do país e alguns brasileiros acumularam ao longo de cinco<br />
séculos, Narloch propõe um olhar mais curioso e menos acomodado. A<br />
nova edição do Guia Politicamente Incorreto da História do <strong>Brasil</strong> está<br />
maior e ainda mais polêmica! Narloch decidiu explorar temas espinhosos,<br />
como as vantagens de uma Monarquia tão duradoura, e mostrar que<br />
as acusações que os Bandeirantes sofreram foram exageradas. Desde<br />
seu lançamento, há um ano e meio, foram vendidos mais de 120 mil<br />
exemplares. Leia abaixo o capítulo “Elogio a Monarquia”, que consta da<br />
nova edição da obra<br />
os libertadores da América, mas de<br />
uma ideologia que desprezava revoluções,<br />
mudanças bruscas e atos<br />
heroicos contrários à realidade.<br />
Num livro já clássico, A “Construção<br />
da Ordem”, o historiador José Murilo<br />
de Carvalho revelou o perfil comum<br />
dos políticos e magistrados daquela
época. A maioria deles tinha uma for-<br />
mação profissional e ideológica muito<br />
parecida: eram bacharéis formados<br />
na Universidade de Coimbra, um dos<br />
polos do pensamento conservador da<br />
Europa.No fim do século 18 e começo<br />
do século 19, quem quisesse ser<br />
político, advogado, juiz ou funcionário<br />
público de um bom escalão tinha que<br />
estudar fora do <strong>Brasil</strong>. Como ainda<br />
não havia faculdades de Direito por<br />
aqui(as primeiras, de São Paulo e Olinda,<br />
são de 1828), quase todos os<br />
jovens mais ricos se mudavam para<br />
Portugal.Entre 1822 e 1831, todos<br />
os ministros brasileiros que tinham<br />
educação superior haviam estudado<br />
em Portugal – 72% deles em Coimbra.<br />
Enquanto as teorias flamejantes<br />
que motivaram a Revolução Francesa<br />
tomavam o mundo,a Universidade de<br />
Coimbra tentava manter seus alunos<br />
à distância das ideias libertárias da<br />
moda. “Coimbra foi particularmente<br />
eficaz em evitar contato mais intenso<br />
deseus alunos com o Iluminismo<br />
francês, politicamente perigoso”,<br />
afirma José Murilo de Carvalho em “A<br />
Construçãoda Ordem”<br />
Era preciso contrabandear livros de<br />
Voltaire e Rousseau, pois a universidade<br />
os proibia. O iluminismo propagado<br />
em Coimbra era mais comedido<br />
e cauteloso. Os estudantes liam Adam<br />
Smith, o pai do liberalismo econômico,<br />
e Edmund Burke, o pai do conservadorismo<br />
britânico – dois autores que<br />
foram traduzidos para o português<br />
por José da Silva Lisboa, oVisconde<br />
Cairú.<br />
No Segundo Reinado, ex-alunos de<br />
Coimbra se tornaram os cabeças<br />
do Partido Conservador, o principal<br />
partido do Império. Os políticos do<br />
No Segundo Reinado, ex-alunos de Coimbra se tornaram os<br />
cabeças do Partido Conservador, o principal partido do Império.<br />
Os políticos do grupo saquarema se inspiravam nos<br />
grandes teóricos do conservadorismo para fundamentar a<br />
missão de evitar revoluções e o caos no <strong>Brasil</strong>. O Visconde<br />
de Uruguai, que foi deputado, senador, ministro e conselheiro<br />
de dom Pedro II, acreditava que era preciso “empregar<br />
todos os meios para salvar o país do espírito revolucionário,<br />
porque este produz a anarquia, e a anarquia destrói, mata a<br />
liberdade, a qual somente pode prosperar com a ordem”<br />
04<br />
grupo saquarema se inspiravam nos<br />
grandes teóricos do conservadorismo<br />
para fundamentar a missão de evitar<br />
revoluções e o caos no <strong>Brasil</strong>. O Visconde<br />
de Uruguai, que foi deputado,<br />
senador, ministro e conselheiro de<br />
dom Pedro II, acreditava que era preciso<br />
“empregar todos os meios para salvar<br />
o país do espírito revolucionário,<br />
porque este produz a anarquia, e a<br />
anarquia destrói, mata a liberdade, a<br />
qual somente pode prosperar com a<br />
ordem”. Bernardo Pereira de Vasconcelos,<br />
o mais sarcástico e influente<br />
orador do Parlamento brasileiro e autor<br />
do Código Criminal de 1830, não<br />
tinha vergonha de dizer que vinha<br />
da classe dos “capitalistas, dos negociantes,<br />
dos homens industriosos,<br />
dos que se dão com afinco às artes e<br />
ciências: daqueles que nas mudanças<br />
repentinas têm tudo aperder, nada a<br />
ganhar”.<br />
Criou-se assim um ambiente em<br />
que era deselegante e infantil pregar<br />
revoluções e reformas radicais.<br />
Havia um consenso, mesmo entre os<br />
políticos brasileiros de grupos inimigos,<br />
que mudanças, se necessárias,<br />
deveriam passar por um processo<br />
lento e gradual, sem sobressaltos e<br />
traumas,garantindo liberdades individuais.<br />
A maioria dos políticos tanto<br />
era contra o Antigo Regime (em que o<br />
rei tinha poder absoluto nas decisões),<br />
mas ninguém defendia revoluções<br />
que cortassem a cabeça dos padres<br />
e dos reis e resultassemem caos da<br />
economia e terror entre os cidadãos,<br />
como aconteceu na França a partir de<br />
1789. “Buscavam mudanças inovadoras,<br />
mas ao mesmo tempo queriam<br />
conservar o espírito das antigas estruturas<br />
econômico-sociais”, explica a<br />
historiadora Lúcia Bastos Pereira das<br />
Neves no livro “Corcundas e Constitucionais”,<br />
outro clássico sobre a mentalidade<br />
política daquela época.<br />
No meio do caminho entre as reformas<br />
e a necessidade de manter a<br />
tradição, esses políticos são chamados<br />
hoje de liberais-conservadores.<br />
Aqueles homens participaram de<br />
uma escolha consciente, um projeto<br />
bem pensado e posto em prática para<br />
manter a unidade do <strong>Brasil</strong> e modernizá-lo<br />
sem correr o risco de entregálo<br />
a aventureiros a cavalo. Não que<br />
tenham solucionado os problemas do<br />
país ou ficado livres de picaretagens<br />
e privilégios, como a nomeação de<br />
amigos e parentes a deliciosos cargos<br />
públicos. Mas o Império teve virtudes<br />
que são frequentemente esquecidas,<br />
ao mesmo tempo em que é alvo de<br />
acusações injustas e da visão simplista<br />
de que teria atendido somente<br />
a “interesses da elite”. Por mais fora<br />
de moda que isso pareça, é preciso<br />
defender a política da época. A seguir,<br />
três defesas a ataques comuns que<br />
se fazemà monarquia no <strong>Brasil</strong>.<br />
A acusação:<br />
O <strong>Brasil</strong> foi um dos últimos países da<br />
américa a virar república<br />
A defesa:<br />
A Monarquia brasileira era mais republicana<br />
que as repúblicas vizinhas<br />
No fim de 1889, quando um grupo de<br />
militares liderado pelo marechal Deodoro<br />
da Fonseca proclamou a República<br />
e mandou a família real embora do<br />
<strong>Brasil</strong>, os observadores mais atentos<br />
dos países vizinhos entenderam muito<br />
bem o que a mudança significava.<br />
Rojas Paúl,presidente da Venezuela,<br />
resumiu a queda da Monarquia brasileira<br />
em uma única frase: “Foi-se a<br />
única repúblicada América”.A famosa<br />
liberdade política do Império atingiu<br />
oponto alto durante o reinado de<br />
D.Pedo II. Dava o que falar não só entre<br />
as repúblicas vizinhas como entre os<br />
países europeus, criadores da noção<br />
de direitos individuais e de liberdade<br />
de imprensa. Nos jornais, até mesmo<br />
injúrias e difamações podiam ser publicadas<br />
sem resultarem processo para<br />
seus autores. “Diplomatas europeus<br />
e outros observadores estranhavam<br />
a liberdade dos jornais brasileiros”,<br />
conta o historiador José Murilo de<br />
Carvalho.“Schreiner, ministro da Áustria,<br />
afirrmou que o imperador era atacado<br />
pessoalmente na imprensa de<br />
modo que ‘causaria ao autor de tais<br />
artigos, em toda a Europa, até mesmona<br />
Inglaterra, onde se tolera uma<br />
dose bastante forte de liberdade, um<br />
processo de alta traição’.”<br />
Os jornais publicavam dia a dia ilustrações<br />
satíricas – como a de Dom Pedro<br />
II, sonolento, sendo atirado para<br />
fora do trono. Mesmo diante desses<br />
ataques o imperador se colocava<br />
contra a censura. “Imprensa se combate<br />
com imprensa”, dizia.Nos 120<br />
anos da República brasileira, são frequentes<br />
os presidentes que trataram<br />
os cidadãos, pressionaram a impren-
sa e gastaram o dinheiro público como<br />
se fossem reis absolutistas. Mesmo<br />
aqueles que tiveram contribuições<br />
relevantes ao país caíram no costume<br />
de agir como se estivessem acima da<br />
lei. Pode-se dizer o contrário de Dom<br />
Pedro II. Nosso último monarca, chefe<br />
do Poder Executivo e do Poder Moderador,<br />
descendente dos Bragança e<br />
dos<br />
Habsburgo, duas das mais tradicionais<br />
famílias reais europeias, atuou<br />
quase sempre com a humildade que<br />
os presidentes deveriam ter. Como imperador,<br />
ocupava,além da cadeira de<br />
chefe do Poder Executivo, a de chefe<br />
do Poder Moderador, criado para ser<br />
um árbitro em situações de impasse,<br />
crise e intenso conflito político.Essa<br />
força dava a ele permissão para dissolver<br />
a Câmarados Deputados e convocar<br />
novas eleições. Acumulando os<br />
dois poderes, Dom Pedro II era quase<br />
um rei absoluto, mas raramente<br />
tomava decisões autoritárias. Trocava<br />
ministros com cautela e procurava<br />
acatar a decisão dos deputados.<br />
Achava desconfortável a posição de<br />
monarca – diversas vezes disse que<br />
preferia ser um presidente eleito ou<br />
simplesmente um professor. “Difícil é<br />
a posiçãode um monarca nesta época<br />
de transição”, escreveu para a sua<br />
amante, a condessa de Barral. “Eu<br />
decerto poderia ser melhor e mais<br />
feliz presidente da República do que<br />
imperador constitucional.”A humildade<br />
de Dom Pedro II se revelava também<br />
no cuidado que ele tinha com os<br />
gastos pessoais – outra atitude tão<br />
comum entre nossos presidentes<br />
quanto passar as férias em Osasco.<br />
Não que o imperador custasse pouco<br />
ao <strong>Brasil</strong> – a família real ganhava uma<br />
mesada anual de 800 contos de réis,<br />
uma pequena fortuna.<br />
Em todo o seu reinado, porém, Dom<br />
Pedro II nunca permitiu que a dotação<br />
fosse reajustada, mesmo diante da<br />
insistência de ministros e parlamentares.<br />
A quantia nem sempre era<br />
suficiente, pois financiava bolsas de<br />
estudos de jovens brasileiros no exterior,<br />
colégios, instituições de caridade<br />
e custos extraordinários do país – em<br />
1867, o imperador doou um quarto<br />
da dotação ao caixa da Guerra do<br />
Paraguai. Para viajar pelo <strong>Brasil</strong> e<br />
pelo mundo (Dom Pedro II fez três longas<br />
viagens à Europa e ao Egito e Jerusalém<br />
e outra aos Estados Unidos),<br />
emprestava dinheiro de casas de<br />
negócio brasileiras e fechava a mão<br />
nos gastos. Os estrangeiros que visitaram<br />
os palácios reais se espantavam<br />
com a “simplicidade e franqueza<br />
quase republicanas”, como descreveu<br />
a americana Elizabeth Agassiz em<br />
1865. O Palácio deS ão Cristóvão,<br />
residência da família imperial, era mal<br />
iluminado, sujo e tinha móveis velhos<br />
– isso quando tinha: na sala em que<br />
os ministros esperavam para se reunir<br />
com o imperador mal havia cadeiras.<br />
O palácio no centro Rio de Janeiro<br />
também assustava. “Comentava-se<br />
que o Paço da Cidade se transformara,<br />
com o tempo e a falta de uso,<br />
em um velho palácio decadente e<br />
abandonado, com seus móveis velhos<br />
e sem valor”, conta a antropóloga Lilia<br />
Moritz Schwarcz.<br />
Diferente de outros reinos, o brasileiro<br />
não tinha uma corte movimentada,<br />
repleta de nobres se distraindo em<br />
jardins e solenidades. As cerimônias<br />
05<br />
Em todo o seu reinado, porém, Dom Pedro II nunca permitiu que a dotação fosse reajustada,<br />
mesmo diante da insistência de ministros e parlamentares. A quantia nem sempre era suficiente,<br />
pois financiava bolsas de estudos de jovens brasileiros no exterior, colégios, instituições<br />
de caridade e custos extraordinários do país – em 1867, o imperador doou um quarto<br />
da dotação ao caixa da Guerra do Paraguai<br />
e os bailes eram raros e simplórios,<br />
como notou, escandalizada, a educadora<br />
alemã Ina vonBinzer. “Você não<br />
faz ideia do que eu sentia! Era tudo<br />
horrivelmente simples!”, escreveu ela<br />
sobre a corte brasileira.Se Dom Pedro<br />
II tolerava opiniões divergentes e ligava<br />
pouco para o poder, não se pode<br />
falar o mesmo de seu pai. As grosserias<br />
e intempestividades de Dom<br />
Pedro I são famosas – o homem foi o<br />
líder mais tosco da história do <strong>Brasil</strong>.<br />
Fanfarrão, temperamental, mal-educado,<br />
devasso, corrupto, todos esses<br />
adjetivos cabem sem exageros ao<br />
jovem imperador. Quando se sentia<br />
ofendido por algum jornal,Dom Pedro<br />
I publicava panfletos anônimos cheios<br />
de xingamentos. Isso quando não partia<br />
direto para a violência. Em 1823,<br />
mandou um bando invadir a casa de<br />
Luís AugustoMay, autor de um panfleto<br />
de oposição, o Malagueta, e dar<br />
uma surra no homem.<br />
Os ministros de Dom Pedro I também<br />
precisavam ter paciência com o<br />
chefe. Ele costumava demiti-los por<br />
qualquer motivo, geralmente quando<br />
se irritava com eles. O gabinete ministerial<br />
mudou dez vezes em seus nove<br />
anos de governo. “Tinha o hábito de<br />
intrometer-se em tudo, de distribuir<br />
os menores cargos, de dispor dos dinheiros<br />
do tesouro, degradando com<br />
isso as funções de ministro e humilhando<br />
os que as exerciam”, conta a<br />
historiadora Isabel Lustosa.Dom Pedro<br />
tomava ainda decisões arbitrárias<br />
e irresponsáveis. Em 1823, seis meses<br />
depois de convocar uma Assembleia<br />
Constituinte, se irritou com os<br />
deputados,fechou a câmara e mandou<br />
todos para casa. Os desmandos<br />
de Dom Pedro I, a suspeita de que ele<br />
provocou a morte da Imperatriz Leopoldina<br />
e sua vontade de virar rei de<br />
Portugal levaram o povo e os políticos<br />
imperiais a se revoltarem contra ele,
que acabou dando o fora do <strong>Brasil</strong> em<br />
abril de 1831.Aquele herói, definitivamente,<br />
não tinha nenhum caráter.<br />
No entanto, está ficando claro aos<br />
historiadores que tantas canalhices<br />
e traquinagens ofuscaram um lado<br />
menos perverso de Dom Pedro I. Ao<br />
fechar a Assembleia Constituinte, ele<br />
prometeu uma constituição “duas vezes<br />
mais liberal” que a planejada pelos<br />
deputados. Cumpriu a promessa<br />
no ano seguinte, apresentando uma<br />
das cartas mais modernas da época.<br />
A Constituição de 1824, apesar de<br />
centralizar poder demais nos braços<br />
do rei, permitia o voto até mesmo de<br />
analfabetos.<br />
Havia uma exigência de renda mínima<br />
para poder votar, mas o valor era<br />
baixo – 100 mil-réis, menos que o salário<br />
de um contínuo. A carta era ainda<br />
mais liberal na religião. Por todo o<br />
século 19 haveria gente defendendo<br />
o ultramontanismo, corrente que pregava<br />
a superioridade da Igreja ao Estado<br />
– os chefes de governo dos reinos<br />
católicos deveriam ser indicados<br />
pelo Vaticano.<br />
Em 1824, Dom Pedro I não só deixou<br />
claro que quem mandava era o Estado<br />
como oficializou a tolerância religiosa.<br />
A constituição previa que os<br />
bispos seriam nomeados pelo próprio<br />
imperador e que judeus e outros grupos<br />
não cristãos (como a Maçonaria,<br />
com aqual o imperador simpatizava)<br />
poderiam abrir templos no <strong>Brasil</strong>.<br />
Como resume o historiador Neill Macaulay:<br />
Dom Pedro, de fato, deu ao<br />
<strong>Brasil</strong> uma carta que assegurou por<br />
65 anos os direitos básicos dos cidadãos<br />
– não perfeitamente, mas<br />
melhor que qualquer outra nação do<br />
Hemisfério Ocidental naquela época,<br />
com a possível exceção dos Estados<br />
Unidos – enquanto os vizinhos da<br />
América Latina, sob inúmeras constituições<br />
que diferiam só em detalhes<br />
daquela desenhada na Assembleia,<br />
caíram vítimas de longos períodos de<br />
ditaduras e regras arbitrárias.<br />
A acusação:<br />
A independência foi um jogo de cartas<br />
marcadas<br />
A defesa:<br />
Ninguém queria se separar de Portugal<br />
A Independência do <strong>Brasil</strong>, em 7 de<br />
setembro de 1822,lembra geralmente<br />
um jogo de cartas marcadas. Como<br />
aconteceu sem a participação do<br />
povo ou de um herói libertador,ficou<br />
a impressão de que o <strong>Brasil</strong> manteve<br />
laços da dominação colonial mesmo<br />
depois de se separar. Como escreveu<br />
o historiador Evaldo Cabral de Mello:<br />
“O brasileiro nunca se sentiu à vontade<br />
com a maneira pela qual se<br />
emancipou, intuindo que a Independência<br />
fora pouco mais excitante que<br />
a tramitação de um processo burocrático”.<br />
Na verdade, até meados de<br />
1822, meses antes de Dom Pedro<br />
tornar o país independente, ninguém<br />
ligava para a separação do <strong>Brasil</strong> do<br />
reino português. Ela não passava pela<br />
cabeça dos políticos, juízes, jornalistas,<br />
funcionários públicos, nem dos<br />
cidadãos comuns. Nos panfletos e jornais,<br />
não há defesas à cisão do reino<br />
português.<br />
O principal jornalista da época,<br />
Hipólito da Costa, criador do Correio<br />
Braziliense,desprezava a independência<br />
até meados de 1822. A historiadora<br />
Lúcia Bastos Pereira das Neves<br />
analisou mais de 300 folhetos políticos<br />
e jornais publicados nos três anos<br />
anteriores à Independência, além de<br />
cartas, documentos oficiais e mais<br />
de 30 jornais da época. Descobriu<br />
que a ideia do <strong>Brasil</strong> livre de Portugal<br />
virou um plano de verdade só em<br />
abril,cinco meses antes dos cupinzeiros<br />
das margens do Ipiranga entrarem<br />
para a história. “Em fins de 1821 e<br />
princípios de 1822, ao contrário do<br />
que poderia sugerir uma interpretação<br />
tradicional da Independência,<br />
as ideias favoráveis à emancipação<br />
do <strong>Brasil</strong> encontravam-se completamente<br />
ausentes do debate político”,<br />
concluiu a historiadora no livro “Corcundas<br />
e Constitucionais”, publicado<br />
em 2003.<br />
As polêmicas da época eram outras.<br />
A principal delas tratava da forma de<br />
governo que o grande reino português<br />
deveria adotar. No começo do século<br />
19, as monarquias detodo o mundo<br />
estavam divididas. A lembrança da<br />
Revolução Francesa atrapalhava o<br />
sono dos nobres – Luis XVI e Maria<br />
Antonieta haviam sido guilhotinados<br />
no meio demultidão em festa; anos<br />
depois Napoleão varreu quase todos<br />
os tronos ainda em pé na Europa<br />
continental. Neste novo cenário, os<br />
nobres se dividiam em absolutistas<br />
06<br />
e constitucionais. Os primeiros, apelidados<br />
de corcundas, defendiam a<br />
volta aos tempos antigos, quando o<br />
rei tinha poder total sobre o governo<br />
do país, a criação de leis e o sistema<br />
judiciário. Já os constitucionais<br />
achavam necessário se adaptar ao<br />
espírito do século e aceitar um poder<br />
limitado,em que o monarca tinha que<br />
baixar a cabeça à Constituição.O segundo<br />
grupo ganhou o páreo, a custo<br />
de muita luta política e pressão popular.<br />
Dos panfletos e jornais que circulavam<br />
no <strong>Brasil</strong>, quase todos defendiam<br />
a Constituição – alguns deixavam isso<br />
claro já no título: Diário Constitucional,<br />
Revérbero Constitucional,<br />
Compilador Constitucional, Hinos Constitucionais<br />
e até mesmo O Alfaiate<br />
Constitucional.Outro motivo de discussão<br />
era o lugar em que o reino português<br />
deveria instalar sua sede. Isso<br />
porque a ideia mais corrente da época<br />
era criar o Império Luso-<strong>Brasil</strong>eiro,um<br />
reino unido em que <strong>Brasil</strong> e Portugal<br />
teriam governos independentes<br />
e o mesmo poder político. Era o que<br />
planejava José Bonifácio de Andrada<br />
e Silva, o “patriarca da Independência”.<br />
No livro “Lembranças e Apontamentos<br />
do Governo Provisório da Província<br />
de S. Paulo para os seus Deputados”,<br />
publicado em junho de 1821 para<br />
orientar os deputados que representariam<br />
o <strong>Brasil</strong> em Lisboa, ele firma a<br />
posição na ideia do governo brasileiro<br />
autônomo. E considera essencial<br />
Dom Pedro, de fato, deu ao <strong>Brasil</strong> uma carta que assegurou<br />
por 65 anos os direitos básicos dos cidadãos – não perfeitamente,<br />
mas melhor que qualquer outra nação do Hemisfério<br />
Ocidental naquela época, com a possível exceção dos Estados<br />
Unidos – enquanto os vizinhos da América Latina, sob<br />
inúmeras constituições que diferiam só em detalhes daquela<br />
desenhada na Assembleia, caíram vítimas de longos períodos<br />
de ditaduras e regras arbitrárias
“determinar onde deve ser a sede da<br />
Monarquia; se no Reino do <strong>Brasil</strong>, ou<br />
alternativamente pelas séries dos Reinados<br />
em Portugal e no <strong>Brasil</strong>; finalmente<br />
no mesmo Reinado por certo<br />
tempo, para que assim possa o Rei<br />
mais depressa satisfazer reciprocamente<br />
as saudades deseus povos”.<br />
Essa posição se manteve até o ano<br />
seguinte.A cisão do reino só aconteceu<br />
por causa da insistência dos parlamentares<br />
portugueses em manter o<br />
<strong>Brasil</strong> num nível político mais baixo.<br />
Em 9 de dezembro de 1821, emissários<br />
chegaram de Portugal com<br />
ordens duras impostas pelo governo<br />
português. Os decretos insistiamna<br />
volta de Dom Pedro à Corte e determinavam<br />
o fechamento de tribunais e<br />
departamentos administrativos, o que<br />
resultaria na demissão de 2 mil pessoas<br />
que viviam da administração do<br />
Reino no <strong>Brasil</strong>.<br />
Jornais logo se pronunciaram; cartas<br />
e abaixo-assinados chegavam de São<br />
Paulo e Minas Gerais. Em 9 de janeiro<br />
de 1822, depois de receber um manifesto<br />
com 8 mil assinaturas para que<br />
desobedecesse as ordens de Portugal<br />
e permanecesse no <strong>Brasil</strong>, Dom Pedro<br />
comunicou a todos a célebre frase:<br />
“Se é para o bem de todos e felicidade<br />
geral da nação, estou pronto! Digam<br />
ao povo que fico”. O Dia do Fico é considerado<br />
o instante inicial da rachadura<br />
que resultaria na independência;<br />
no entanto, mesmo depois desse<br />
episódio,os brasileiros ainda tinham<br />
esperança em continuar como parte<br />
do reino e manter uma ligação com<br />
a Europa. Comomostra um panfleeto<br />
dirigido aos portugueses e publicado<br />
depois do 9 de janeiro: Atrevidos, o<br />
<strong>Brasil</strong> não é escravo; o <strong>Brasil</strong> quer, e<br />
há de querer sempre ser unido a Portugal;<br />
mas ele não sofrerá insultos de<br />
seu irmão, sendo que mais velho seja,<br />
nem teme fantasmas.<br />
Com o passar das semanas, porém,<br />
ideia de manter aunião com Portugal<br />
foi subindo no telhado. As cortes<br />
portuguesas teimavam em reduzir o<br />
07<br />
Em 16 de novembro de 1889, horas depois de ser destituído do trono pelos republicanos,Dom Pedro II foi embora do <strong>Brasil</strong><br />
levando consigo um travesseiro cheio de terra brasileira. A liberdade política que o Império possibilitou foi embora com ele.<br />
Em 23 de dezembro, pouco mais de um mês depois do início do novo regime, o marechal Deodoro da Fonseca instituiu a<br />
censura prévia. Uma junta de militares passou a avaliar os jornalistas que ameaçavam o novo regime. Os presos políticos e<br />
exilados, figuras que não existiam no Segundo Reinado, de repente se multiplicaram<br />
<strong>Brasil</strong> a colônia. No dia 28 de agosto,<br />
chegaram de Lisboa mais ordens a<br />
Dom Pedro I.Desta vez, pediam que<br />
ele anulasse medidas tomadas por<br />
José Bonifácio, demitisse todos os<br />
ministros e colocasse no lugar homens<br />
escolhidos pelos portugueses.<br />
O príncip enão teve alternativa senão<br />
fazer o que não queria: anunciar a Independência<br />
do <strong>Brasil</strong>. A partida que<br />
ele jogou não foi a de cartas marcadas<br />
– e sim um blefe que assustou<br />
até súditos brasileiros.<br />
A acusação<br />
O <strong>Brasil</strong> foi o penúltimo país da américa<br />
a abolir a escravidão<br />
A defesa<br />
Até mesmo o povo brasileiro custou a<br />
apoiar a abolição<br />
Uma acusação frequente que se faz à<br />
monarquia é ter demorado tanto para<br />
dar um fim à escravidão. O fato não<br />
é mesmo motivo de orgulho: o Bras-<br />
il, pouco depois de Cuba,foi o último<br />
país da América a libertar os escravos.<br />
É injusto,no entanto, responsabilizar<br />
somente os líderes do país por<br />
essa lentidão. Para aprovar leis, eles<br />
precisavam do apoio dos deputados e<br />
senadores, que refletiam, pelo menos<br />
em parte,a opinião pública. E não só<br />
os proprietários rurais, mas o povo em<br />
geral e até mesmo a maior parte dos<br />
escravos demoraram a aderir com entusiasmo<br />
à luta abolicionista.Nos livros<br />
didáticos de história do <strong>Brasil</strong>, as<br />
revoltas do Período Regencial (os nove<br />
anos em que o país esperou a maioridade<br />
de Dom Pedro II) aparecem sempre<br />
como expressão da vontade popular<br />
a ser “sufocada” e “abafada” pelas<br />
forças imperiais. Pois nenhuma das<br />
grandes revoltas regenciais propunha<br />
o fim total da escravidão. A maioria<br />
delas deu mostras de que, se fossem<br />
vitoriosas,seguiriam o caminho dos<br />
governos de caudilhos latino-americanos.<br />
Eram indiferentes com relação à<br />
abolição até mesmo os movimentos
O jornalista João do Rio, ao descrever o Rio de Janeiro de<br />
1908 no livro “A Alma Encantadora das Ruas”, se mostrou<br />
surpreso com a quantidade de trabalhadores, negros e brancos,<br />
que levavam nas costas tatuagens de símbolos imperiais.<br />
Afirmou ele: “Pelo número de coroas da monarquia<br />
que eu vi, quase todo esse pessoal é monarquista”<br />
que contavam com milhares de ne-<br />
gros e escravos entre seus aliados,<br />
como a Cabanagem, do Pará, conhecida<br />
pela participação do povo nos<br />
protestos.<br />
Os rebeldes “cabanos” tinham como<br />
objetivo principal a independência<br />
do estado: não havia consenso sobre<br />
o fim da escravidão. Eduardo Angelim,<br />
um dos líderes da Cabanagem,<br />
chegou a sufocar revoltas de escravos<br />
e executar os próprios aliados<br />
que pregavam a abolição. O gaúcho<br />
Bento Gonçalves, o grande líder da<br />
Revolução Farroupilha, morreu em<br />
1847 deixando no seu testamento 53<br />
escravos para seus filhos e netos.<br />
Costume aceito por milênios de<br />
tradição, a escravidãofoi uma atividade<br />
que as pessoas só lentamente<br />
começarama encarar como injusta.<br />
Em junho de 1850, navios ingleses<br />
passaram a invadir portos do Paraná<br />
ao Rio de Janeiro para apreender,<br />
afundar ou queimar navios negreiros.<br />
Os ataques provocaram exaltados<br />
protestos populares no Rio de Janeiro<br />
– não para defender os abolicionistas<br />
ingleses,e sim para reclamar da intromissão<br />
inglesa na soberania nacional<br />
e defender os traficantes de escravos<br />
que tinham seus navios destruídos.<br />
Sob a pressão inglesa, quem era contra<br />
a abolição passou a usar o patriotismo<br />
e a soberaniacomo argumento,<br />
como fez o escritor José de Alencar. “O<br />
movimento popular só adquiriu força<br />
nadécada de 1880, tão enraizado<br />
estava o escravismo em nossa sociedade”,<br />
afirma o historiador José<br />
Murilo de Carvalho. Mesmo as revoltas<br />
escravas não largavam o sistema<br />
escravista. É o caso da Revolta dos<br />
Malês, organizada por negros muçulmanos<br />
na Bahia, em 1835. Os escravos<br />
queriam conquistar a liberdade<br />
– e escravizar os brancos e os negros<br />
que não fossem muçulmanos.Em se<br />
tratando de liberdade dos escravos,<br />
alguns líderes do Império foram mais<br />
revolucionários que os revoltosos do<br />
século 19. José Bonifácio, cujas car-<br />
08<br />
tas Dom Pedro leu momentos antes<br />
de dar o grito no Ipiranga, defendia a<br />
emancipação dos negros antes mesmo<br />
da Independência,mas ninguém<br />
lhe dava ouvidos.<br />
Em 1819, para mostrar a seus vizinhos<br />
que a escravidão não era um<br />
mal necessário,Bonifácio montou um<br />
sítio em Santos onde trabalhavam<br />
apenas homens livres. Os vizinhos<br />
não seguiram o seu modelo.Décadas<br />
depois, foi a vez de Dom Pedro II polemizar<br />
ao insistir na liberdade gradual<br />
dos escravos. Para aprovar as leis<br />
que progessivamente extinguiram a<br />
escravidão, o imperador teve que se<br />
bater com os políticos conservadores<br />
e liberais que formavam sua grande<br />
base de apoio. Deputados e jornalistas<br />
o acusaram até de impor o fim dos<br />
cativeiros de forma autoritária, pois<br />
Dom Pedro II usava o poder do trono<br />
para mudar ministros e favorecer<br />
aqueles que topassem apresentar leis<br />
abolicionistas à Câmara dos Deputados.Integrantes<br />
do Partido Liberal e<br />
do Partido Conservador acusavam de<br />
“suicídio político” os colegas que apoiavamos<br />
projetos de emancipação. A<br />
abolição, como se sabe, foium dos<br />
fatores a provocar o fim da Monarquia<br />
no <strong>Brasil</strong>. O descontentamento<br />
com Dom Pedro II ficou evidente ao<br />
deputado Leão Veloso ao analisar a<br />
situação política da Bahia: “Aqui não<br />
havia republicanos, e agora não somente<br />
os há,como não há liberal que<br />
não se mostre disposto a sê-lo: na<br />
grande propriedade então parece firrmado<br />
o divórcio com a Monarquia”,<br />
escreveu ele.<br />
Em 16 de novembro de 1889, horas<br />
depois de ser destituído do trono pelos<br />
republicanos,Dom Pedro II foi embora<br />
do <strong>Brasil</strong> levando consigo um<br />
travesseiro cheio de terra brasileira. A<br />
liberdade política que o Império possibilitou<br />
foi embora com ele. Em 23 de<br />
dezembro, pouco mais de um mês depois<br />
do início do novo regime, o marechal<br />
Deodoro da Fonseca instituiu<br />
a censura prévia. Uma junta de militares<br />
passou a avaliar os jornalistas<br />
que ameaçavam o novo regime. Os<br />
presos políticos e exilados, figuras que<br />
não existiam no Segundo Reinado, de<br />
repente se multiplicaram. Boa parte<br />
dos políticos, editores de jornais e cidadãos<br />
comunslogo tiveram saudade<br />
dos tempos reais. O jornalista João do<br />
Rio, ao descrever o Rio de Janeiro de<br />
1908 no livro “A Alma Encantadora<br />
das Ruas”, se mostrou surpreso com<br />
a quantidade de trabalhadores, negros<br />
e brancos, que levavam nas costas<br />
tatuagens de símbolos imperiais.<br />
Afirmou ele: “Pelo número de coroas<br />
da monarquia que eu vi, quase todo<br />
esse pessoal é monarquista”.<br />
notas<br />
1 Micheal Clodfelter, Warfare and Armed Conflicts:<br />
A Statistical Reference to Casualty and<br />
Other Figures, 1500-2000, McFarland & Company,<br />
2002,página 184.<br />
2 José Murilo de Carvalho, A Construção da Ordem,<br />
3a edição, Civiliza-ção <strong>Brasil</strong>eira, 2003,<br />
página 84.<br />
3 Retirado de Christian Edward Cyril Lynch,<br />
“O conceito de liberalismono <strong>Brasil</strong> (1750-<br />
1850)”, Revista Iberoamericana de Filosofía,<br />
Política y Humanidades , ano 9, no 17, primeiro<br />
semestre de 2007.<br />
4 José Murilo de Carvalho, Bernardo Pereira<br />
de Vasconcelos, Coleção Formadores do <strong>Brasil</strong>,<br />
Editora 34, 1999, página 27.<br />
5 Lúcia Bastos Pereira das Neves, Corcundas<br />
e Constitucionais, Revan,2003, página 51.<br />
6 Umberto Guarnier Mignozzetti, A Apropriação<br />
de Modelos Estrangeiros pelo Pensamento<br />
Político <strong>Brasil</strong>eiro: O Uso do Pensamento<br />
Francês na Experiência Política de Bernardo<br />
Pereira de Vasconcelos, Marquês de São Vicente<br />
e Visconde do Uruguai, Universidade de<br />
São Paulo,2009, página 13.<br />
7 José Murilo de Carvalho, Dom Pedro II, Companhia<br />
das Letras, 2007,página 88.<br />
8 Lilia Moritz Schwarcz, As Barbas do Imperador,<br />
2a edição, Companhiadas Letras, 1999,<br />
página 564.<br />
9 Isabel Lustosa,D. Pedro I, Companhia das<br />
Letras, 2006, página 227.<br />
10 José Murilo de Carvalho,A Construção da<br />
Ordem, página 147.<br />
11 Alberto Rangel, Cartas de Pedro I à Marquesa<br />
de Santos, Nova Fronteira, 1984, página<br />
326.<br />
12 Isabel Lustosa, página 290.<br />
13 Neill Macaulay, Dom Pedro: The Struggle<br />
for Liberty in Brazil and Portu- gal, 1798-1834,<br />
Duke University Press, 1986, página 164.<br />
14 Evaldo Cabral de Mello, “Iluminismo envergonhado”,<br />
Folha de S. Paulo , sábado, 14 de<br />
junho de 2003.<br />
15 Jorge Caldeira (org.), José Bonifácio de Andrada<br />
e Silva, Coleção For-madores do <strong>Brasil</strong>,<br />
Editora 34, página 126.<br />
16 Lúcia Bastos Pereira das Neves, página<br />
303.<br />
17 José Maia Bezerra Neto, “Ousados e insubordinados:<br />
protesto e fugas de escravos na<br />
província do Grão-Pará – 1840/1860”, revista<br />
Topoi,Rio de Janeiro, março de 2001, páginas<br />
73 a 112.<br />
18 Jorge Caldeira (org.),<br />
19 Leslie Bethell, The Abolition of the Brazilian<br />
Slave Trade, CambridgeUniversity Press, 1970,<br />
páginas 329 e 330.<br />
20 José Murilo de Carvalho, Dom Pedro II, página<br />
193.<br />
21 Lilia Moritz Schwarcz, página 564.<br />
22 José Murilo de Carvalho, Dom Pedro II, páginas<br />
76 e 77.<br />
23 José Murilo de Carvalho, Teatro de Sombras,<br />
Civilização <strong>Brasil</strong>eira,2007, página 312
Artigo<br />
Luís Severiano Soares Rodrigues<br />
Economista, pós-graduado em história, sócio<br />
correspondente do Instituto Histórico e<br />
Geográfico de Niterói e Artista Plástico<br />
As causas imediatas da Guerra do<br />
Paraguai estão relacionadas à intervenção<br />
brasileira na política interna<br />
do Uruguai, uma vez que o Partido<br />
Blanco no poder visava embaraçar<br />
os interesses dos brasileiros lá residentes<br />
e ou com interesses econômicos<br />
naquele país e insensível aos<br />
protestos do governo imperial. Isso<br />
fez com que o governo brasileiro apoiasse<br />
as pretensões dos oposicionistas,<br />
na figura do general Venâncio<br />
Flores, que almejava a presidência<br />
do Estado Oriental, com ajuda militar.<br />
A reação Paraguai, que se arvorou<br />
como protetor do governo blanco do<br />
Uruguai, não foi outra senão a ação<br />
militar contra o Império do <strong>Brasil</strong>,<br />
apresando o vapor brasileiro Marquês<br />
de Olinda em águas paraguaias e invadindo<br />
o Matogrosso e o Rio Grande<br />
do Sul, e para tal fito as províncias de<br />
Corrientes e Entre-Rios da república<br />
Argentina. Frente a essa agressão só<br />
restou ao Império do <strong>Brasil</strong> responder<br />
essa afronta com a força.<br />
Celebrou o governo imperial um tratado<br />
de aliança com os governos argentino<br />
e uruguaio, com vistas a vencer<br />
o inimigo comum. No plano interno<br />
tomou o governo diversas medidas<br />
para o esforço de guerra. Com vistas<br />
a reforçar a tropa regular do exército<br />
foram criados os Corpos de Voluntários<br />
da Pátria, por decreto do governo<br />
tendo em vista estarem as câmaras<br />
legislativas em recesso. Que em seu<br />
artigo 13° estabelece que “As praças<br />
dos corpos policiais do Império e os<br />
09<br />
DEFESA<br />
A PMERJ E A<br />
DO IMPÉRIO<br />
As causas imediatas da Guerra do Paraguai estão relacionadas à intervenção brasileira na política interna do Uruguai, uma vez que o Partido Blanco<br />
no poder visava embaraçar os interesses dos brasileiros lá residentes e ou com interesses econômicos naquele país e insensível aos protestos do<br />
governo imperial. Isso fez com que o governo brasileiro apoiasse as pretensões dos oposicionistas, na figura do general Venâncio Flores, que almejava<br />
a presidência do Estado Oriental, com ajuda militar<br />
indivíduos que já tiverem obtido baixa<br />
desses corpos e dos de 1° linha,<br />
terão todas as vantagens concedidas<br />
aos voluntários Guardas Nacionais”<br />
citado pelo Gal. Paulo de Queiroz Duarte<br />
no seu monumental trabalho “<br />
Os Voluntários da Pátria na Guerra do<br />
Paraguai” editado pela Biblioteca do<br />
Exército. As polícias da Corte (Município<br />
Neutro) e da Província do Rio de<br />
Janeiro, que hoje formam a PMERJ,<br />
acudiram prontamente esse chamado<br />
da Pátria, o primeiro como 31° e<br />
o segundo como 12° Corpo de Voluntários<br />
da Pátria, mas a Polícia Militar<br />
já concorria para elevar a moral das<br />
tropas que seguiam para o teatro de<br />
operações, como conta o futuro visconde<br />
de Taunay nas suas Memórias,<br />
quando do seu embarque para São<br />
Paulo, de onde começaria sua jorna-<br />
da para o Matogrosso, que ele imortalizaria<br />
no seu livro “A Retirada da Laguna”,<br />
na presença do Imperador e de<br />
várias outras autoridades , nos diz ele<br />
“ lá estavam também grande número<br />
de oficiais do exército e todos do corpo<br />
policial, cuja excelente banda de<br />
música pôs-se a tocar os trechos mais<br />
ternos e plangentes da Traviata”, daí<br />
tiramos que a excelência da Banda<br />
Sinfônica da PMERJ vem de longe, e<br />
essa opinião é da mais alta categoria,<br />
pois além de militar valoroso, político<br />
competente e respeitado, escritor de<br />
sucesso reconhecido, o dito visconde<br />
de Taunay foi exímio pianista e compositor.<br />
O Corpo Policial da Província fluminense<br />
foi um dos primeiros a se organizar<br />
em Corpo de Voluntários,<br />
partindo do Arsenal de Marinha em
18/02/1865, a bordo do Oiapoque,<br />
tendo o seu comandante Tenente Coronel<br />
João José de Brito, recebido das<br />
mãos do Imperador a Bandeira <strong>Imperial</strong><br />
que sua unidade iria conduzir. Seu<br />
efetivo era de 22 oficiais e 476 praças,<br />
em 1867 receberá dois reforços procedentes<br />
da sua Província totalizando<br />
12 oficiais e 476 praça. A chegada à<br />
Montevideo se deu em 28/02, como<br />
membro da 9° Brigada de Infantaria<br />
e se estabelece no acampamento do<br />
Cerro. Por solicitação do Comandante<br />
da Esquadra foram designados para<br />
servir embarcados os membros da 9°<br />
Brigada, entre eles o 12° Corpo de<br />
Voluntários da Pátria, com contingentes<br />
seus espalhados pelas diversas<br />
unidades da Marinha. Nessa tarefa<br />
o 12° participará da Batalha Naval<br />
do Riachuelo, com contingentes distribuídos<br />
pela fragata Amazonas, pelas<br />
canhoneiras Iguatemi, Araguari,<br />
Ipiranga e pelas corvetas Jequitinhonha,<br />
Beberibe e Belmonte. A batalha foi<br />
franca e o inimigo buscava sempre a<br />
abordagem dos navios brasileiros, e<br />
os fuzileiros a bordo, os do 12°entre<br />
eles, tiveram muito trabalho. Os Voluntários<br />
lutaram com bravura e distinção<br />
e foram muito elogiados pelos<br />
comandantes dos navios em que estavam<br />
servindo. A vitória no Riachuelo<br />
deu a completa hegemonia aos navios<br />
brasileiros no teatro de guerra.<br />
Os obstáculos para a Marinha agora<br />
eram as fortalezas e o 12° embarcado<br />
nos navios ainda participou das<br />
Passagens de Mercedes e de Cuevas,<br />
e na operação de reconhecimento da<br />
Lagoa Pires e a proteção da Esquadra<br />
na região do Chaco.<br />
Em 04/09/1866, por determinação<br />
do Alte visconde de Tamandaré, o<br />
12° é desembargado após longos 16<br />
meses, para integrar o 2° Corpo do<br />
Exército, sob o comando do visconde<br />
de Porto Alegre. Na experiência embarcada<br />
perdera o 12°, 58 homens<br />
entre mortos e feridos, observando-se<br />
que nesse período não teve a unidade<br />
condições de se adestrar como devia<br />
para uma unidade de infantaria. A<br />
22/09 participa do assalto a Curupaiti,<br />
empreendimento que se verificou<br />
um erro estratégico, pois foi a maior<br />
derrota dos aliados na guerra. Daí em<br />
diante não mais se tentará ataques<br />
frontais as fortalezas, teve o 12° entre<br />
mortos e feridos 91 homens. Essa<br />
derrota acarretou uma trégua de 10<br />
meses.<br />
Em sua ordem do dia de 20/12/1866<br />
o marquês de Caxias, novo comandante<br />
em chefe das tropas brasileiras,<br />
promove uma reordenação dos Corpos<br />
de Voluntários passando o 12° a<br />
ser o 44° Corpo de Voluntários da Pátria.<br />
Em 1867 o 44° é enquadrado na<br />
12° Brigada de Infantaria que por sua<br />
vez era parte integrante da 5° Divisão<br />
do 2°corpo do Exército. Em maio<br />
desse ano, a república Argentina condecora<br />
todos os elementos do 44°<br />
com a medalha de zinco, pela sua<br />
participação na libertação da região<br />
de Corrientes logo no começo da<br />
guerra. E a unidade se desloca para<br />
Tuiuti. A próxima missão do 44° será<br />
a proteção da estrada de ferro construída<br />
pela Marinha no Chaco, para<br />
abastecimento das unidades navais,<br />
essa missão será árdua, pois a região<br />
em questão é inóspita e insalubre. O<br />
acampamento da unidade nessa missão<br />
recebeu a visita do Comandante<br />
em Chefe Sr. Marquês de Caxias, por<br />
sinal um fluminense, que achou satisfatória<br />
as instalações e o estado<br />
geral da tropa. Após a passagem de<br />
Humaitá pelos navios brasileiros, volta<br />
o 44° para o acampamento de Tuiuti,<br />
participa como tropa de reserva<br />
da tomada da trincheira do Sauce,<br />
após essa missão volta para o Chaco,<br />
agora para guarnecer e dar segurança<br />
as unidades de engenharia que estão<br />
construindo uma estrada por onde<br />
passarão as tropas que vão cercar o<br />
inimigo contornando a posição paraguaia<br />
da linha Piquiciri e o fortim de<br />
Angustura. Em 10/10/1868 perde o<br />
44° o seu comandante ten-cel João<br />
José de Brito que havia contraído malária,<br />
este oficial havia trazido a unidade<br />
desde Niterói. Assume o comando<br />
então o major Floriano Peixoto, que<br />
na república se celebrizará como um<br />
déspota sanguinário. O 44° participou<br />
efetivamente da batalha do Avaí<br />
(11/09/1868) celebrizada no quadro<br />
monumental de Pedro Américo, como<br />
parte integrante da 12° Brigada, e<br />
teve atritos com a cavalaria paraguaia,<br />
as perdas da unidade foram: mortos 2<br />
oficiais e 23 praças, feridos 1 oficial e<br />
35 praças e 7 praças contusas.<br />
Com as profundas baixas sofridas por<br />
várias unidades, vários Corpos de Voluntários<br />
da Pátria são extintos e seus<br />
efetivos remanejados para outras unidades,<br />
entre eles o 44° cujos remanescentes<br />
foram incorporados ao 9°<br />
Batalhão de Infantaria, sob o coman-<br />
10<br />
Coronel do Exército, em comissão, Manoel José Machado<br />
da Costa levou para a guerra o 31º Corpo de Voluntários<br />
(ex-Corpo Policial Militar da Corte). Foi morto no comando<br />
de sua unidade, a 16 de julho de 1866, no combate de Punta<br />
Naró (Boqueirão do Sauce)<br />
do do major Floriano Peixoto. Quase<br />
a totalidade do efetivo que correspondia<br />
ao 44°, foi condecorado em<br />
28/06/1869 com a Medalha do Mérito<br />
Militar. Como membros da 9° BI<br />
participaram dos combates das Lombas<br />
Valentinas e ao assédio do reduto<br />
de Angustura, e da limpeza da área<br />
do Piquiciri e entraram em Assunção<br />
à 05/01/1869 com outras unidades<br />
do Exército <strong>Imperial</strong>, e continuou nas<br />
missões de minar as resistências dos<br />
insanos paraguaios, até a derrocada<br />
final destes, participando da limpeza<br />
do acampamento do Cerro-Corá onde<br />
o maldito Solano Lopez encontrou a<br />
morte.<br />
Antes do retorno para o <strong>Brasil</strong> foi o<br />
44° foi recomposto com os seus remanescentes<br />
e remanescentes de<br />
outros Corpos de Voluntárias da Pátria<br />
provenientes da Província do Rio de<br />
Janeiro e veio sob o comando do tencel<br />
Luís Antônio Corrêa de Albuquerque.<br />
A partida se deu a 16/04/1870,<br />
passando por Montevideo e pelo<br />
Desterro, capital de Santa Catarina,<br />
chegando ao Rio de Janeiro à 02/05,<br />
onde foram recebidos pelo Imperador<br />
e por S.A o sr. Conde D´Eu, príncipe<br />
consorte da Augusta senhora D. Isabel<br />
Princesa herdeira do trono brasileiro,<br />
que comandou o Exército <strong>Imperial</strong><br />
na última fase da guerra. Foram<br />
recebidos com as outras unidades,<br />
em delírio pela multidão de cidadãos<br />
que os esperava, fazendo em seguida<br />
um desfile pelas ruas da Corte, e<br />
o mesmo se deu em Niterói, onde o<br />
Corpo de Voluntários foi dissolvido.<br />
A outra contribuição da PMERJ, foi<br />
o Corpo Policial da Corte, que corresponde<br />
ao 31° Corpo de Voluntários<br />
da Pátria, que seguiu sob o comando<br />
do coronel do Exército Manoel<br />
Machado da Costa que já era o seu<br />
comandante geral na Corte. Parte<br />
a unidade para o Rio Grande do Sul<br />
em viagem na qual seguia o Imperador,<br />
que era o primeiro Voluntário da<br />
Pátria, a partida se deu do Arsenal de<br />
Marinha, após desfile pelas ruas da<br />
capital do Império, desfraldando uma<br />
rica bandeira confeccionada e ofer-
Coronel Joaquim Antônio Fernandes Assunção<br />
tada ao mesmo pelos comerciantes<br />
da praça do Rio de Janeiro e passada<br />
em revista do Soberano. Segue o<br />
31° no Cruzeiro do Sul, o Imperador<br />
seguiu no Santa Maria. O efetivo da<br />
unidade era 21 oficiais e 446 praças<br />
e o mascote o cão Bruto que com ele<br />
retornará após a guerra, no começo<br />
de 1866 receberá da Corte um reforço<br />
de 492 praças. Em 20/07 se<br />
encontra em Porto Alegre, segue para<br />
Rio Pardo, chegam em Uruguaiana,<br />
que havia sido retomada em 18/09,<br />
em 11/10/1865, em seguida a unidade<br />
é transferida para o exército<br />
do general Osório, segue-se grandes<br />
esforços de marcha das unidades, e<br />
como membro da 11° Brigada participa<br />
com todo o Exército da invasão do<br />
Paraguai em 16/04/1866.<br />
Na batalha do Tuiuti o 31° se porta<br />
com bravura e disciplina, perdendo 5<br />
praças e feridos 2 alferes e 36 praças.<br />
Na conquista da trincheira de Punta<br />
Ñaró essa tropa igualmente se mostra<br />
valente e destemida, tendo entre<br />
suas perdas 3 oficiais e 28 praças<br />
e feridos 1 oficial e 95 praças, entre<br />
os mortos o comandante coronel Manoel<br />
José Machado da Costa, assumindo<br />
interinamente o major Afonso<br />
José de Almeida Corte Real. No combate<br />
seguinte de Isla Carapá, 18/07,<br />
com igual bravura investiu contra as<br />
trincheiras inimigas, se destacando<br />
nessa missão. As perdas sofridas<br />
foram de 1 oficial e 7 praças mortos,<br />
feridos 2 oficiais e 41 praças. Em<br />
10/08 é designado como seu comandante<br />
o major Joaquim da Silva Ferreira<br />
Junior.<br />
O comando das tropas brasileiras<br />
é assumido em 18/11/1866 pelo<br />
marechal Marquês de Caxias. Na reformulação<br />
da numeração dos Corpos<br />
de Voluntários da Pátria, o 31/ não<br />
sofre nenhuma alteração. No período<br />
em que o Marquês de Caxias organizou<br />
as forças aliadas, com vistas a<br />
empreender o conjunto de ações decisivas<br />
que desbaratariam o inimigo<br />
e levaria as Armas imperiais à glória,<br />
teve de enfrentar o terrível inimigo<br />
que foi a epidemia de cólera no seio<br />
11<br />
de suas tropas, onde o 31° perdeu<br />
2 oficiais e 16 praças, mas os esforços<br />
dos corpos médicos sanitários foi<br />
exitoso e o Exército pode completar a<br />
sua preparação, com a ajuda indispensável<br />
da Marinha, para voltar as<br />
forças contra aqueles que ousaram<br />
invadir o solo sagrado do Império.<br />
Começa a marcha de flanco contra Humaitá.<br />
A tropa teve de enfrentar uma<br />
marcha difícil, dadas as condições do<br />
terreno. Fazendo parte da 5° Brigada<br />
do 3° Corpo do Exército comandado<br />
pelo Marquês do Erval (Gal. Osório)<br />
o 31° marcha para Tuiu-Cuê. Em 23<br />
de outubro assume o comando da<br />
unidade o major PM Joaquim Antônio<br />
Fernandes d`Assunção que vieira do<br />
Rio de Janeiro com a unidade, nesse<br />
mesmo mês o 31° foi transferido para<br />
o 1° corpo do Exército, cujo comando<br />
cabia ao marechal Argolo Ferrão. Em<br />
06/10 tinha marchado de Tuiu-Cuê<br />
para São Solano para reforçar o grupamento<br />
lá existente. Antes do fim do<br />
ano de 1867 partiu para o sul para reforçar<br />
o 2° corpo do Exército na 10°<br />
Brigada em Tuiuti.<br />
Em janeiro de 1868 foi o 31° designado<br />
para auxiliar no patrulhamento e<br />
defesa da estrada que foi construída<br />
no Chaco para o deslocamento das<br />
tropas brasileiras e aliadas, estando<br />
ao lado do 44° sua unidade irmã e eu<br />
hoje juntas formam a PMERJ, mas em<br />
meados de fevereiro retorna para Tuiu-Cuê,<br />
de lá participou da tomada do<br />
estabelecimento, que se compunha<br />
de um conjunto de trincheiras a meio<br />
caminho de Humaitá, essa luta foi<br />
franca e o 31° abriu caminho à baioneta.<br />
Conjuntamente outras unidades<br />
do exército e navios nossos atacavam<br />
Humaitá. O Estabelecimento tomado<br />
a unidade se voltou para o ataque à<br />
Humaitá, que se rendeu à 25/07. Daí<br />
em diante os movimentos do Exército<br />
seriam sempre de reduzir os espaços<br />
do ditador Lopez, tomando cada vez<br />
mais posições até encurrala-lo.<br />
Seria a Marcha para o norte e nesse<br />
deslocamento o 31° participa da tomada<br />
da margem do Tebiquari e do<br />
combate da ponte do arroio Surubi,<br />
onde se alojava a retaguarda paraguaia.<br />
Tendo entre mortos e feridos<br />
44 baixas.<br />
Na batalha do Avaí o 31° se portou<br />
com a maior bravura, tendo porém o<br />
seu comandante recebido uma contusão<br />
no braço, tendo de momentaneamente<br />
se afastar do combate, pas-<br />
sando o comando para o major fiscal<br />
Carlos Magno da Silva. A unidade teve<br />
as baixas de 8 mortos e 186 feridos.<br />
Em 12/12 alguns Corpos de Voluntários<br />
são dissolvidos e seus efetivos<br />
remanejados, cabendo ao 31° absorver<br />
o 55° com elementos do Piauí e<br />
do Rio Grande do Norte.<br />
As ações são retomadas contra o<br />
Piquiciri, o Ita-Ivaté e Angustura onde<br />
estavam as últimas forças de Lopez<br />
que mesmo após fragorosa derrota<br />
não aceitou o direito de ir para o exílio<br />
em troca da rendição, ofertado pelo<br />
Marquês de Caxias, preferiu fugir para<br />
a cordilheira para se organizar e resistir,<br />
prolongando assim uma guerra<br />
que só faria mais vítimas entre o seu<br />
povo. No entanto Caxias com a saúde<br />
abalada deu por findo o seu trabalho,<br />
e pediu para regressar à Corte onde<br />
seria recebido com gratidão pelo Imperador,<br />
de quem havia sido professor,<br />
e este em agradecimento a mais<br />
esse esforço em prol da grandeza<br />
e honra do <strong>Brasil</strong>, e o elevaria a dignidade<br />
ducal, suprema glória para<br />
aquele que ficou conhecido como o<br />
Pacificador. Antes em 05/01/1869<br />
Assunção havia sido ocupada e o Exército<br />
lá entrou triunfante.<br />
O comando em chefe ficou a cargo do<br />
marechal Xavier de Souza, que deu<br />
nova organização ao Exército, contudo<br />
o 31° continuou na 7° Brigada da<br />
2° Divisão de Infantaria do 1° Corpo<br />
do Exército, que se preparava para a<br />
campanha da Cordilheira. Assim com<br />
o grosso das tropas marcharam de Assunção<br />
para Luque. Em 05/04 marchou<br />
para Lambaré, a sua posição<br />
anterior foi ocupada pelo 2° Corpo do<br />
Exército.<br />
Em 14/04 o comando em chefe das<br />
tropas aliadas passam para o Augusto<br />
Sr. Marechal Conde d`Eu, consorte da<br />
herdeira do trono brasileiro, que como<br />
ato primeiro designa como comandante<br />
do 1° Corpo do Exército o Marechal<br />
Visconde do Erval (Osório) que<br />
efetivamente toma posse em 06/07,<br />
sob o entusiasmo de todo o Exército.<br />
No contexto dos movimentos levados<br />
a efeito pelas tropas galgando a<br />
cordilheira, coube ao 31° permanecer<br />
na guarnição de Piraju, que dava<br />
segurança as linhas de comunicação<br />
entre Luque e Paraguari, não participando<br />
portanto da tomada de Perebebuí.<br />
Em seguida na perseguição<br />
a Lopez o 31° fez parte da ocupação<br />
do departamento de Conceição, que
se concluiu à 16/10, ficando agora a<br />
7° Brigada da qual fazia parte o 31°<br />
como parte integrante do destacamento<br />
do Marechal Corrêa Câmara,<br />
futuro visconde de Pelotas e comandante<br />
em chefe após a partida do<br />
Conde d`Eu. Câmara deixa o 31° em<br />
Conceição guarnecendo a vila, em<br />
14/12 a unidade foi destacada para<br />
a construção de um galpão/depósito<br />
em Taquati, o que realiza em 4 dias,<br />
daí se entrincheirou na margem direita<br />
do Ipané. Dessa posição partiria<br />
o destacamento do Mal. Câmara para<br />
combater os resquícios das forças de<br />
Lopez em Lamanguá, que foi o penúl-<br />
O efetivo da unidade era 21 oficiais e 446 praças e o mascote<br />
o cão Bruto que com ele retornará após a guerra, no<br />
começo de 1866 receberá da Corte um reforço de 492 praças<br />
12<br />
timo ato da guerra.<br />
Agora só resta o Cerro-Corá, onde o<br />
restante das forças de Lopez tentavam<br />
sobreviver, oferecendo desesperada<br />
resistência. Toda a jornada foi<br />
um constante avançar pelo terreno<br />
inóspito no encalço do ditador paraguaio.<br />
Dessa etapa um contingente<br />
do 31° ficou no grupamento do coronel<br />
Silva Paranhos que levou a efeito<br />
a missão o ato final da guerra, cujo<br />
desfecho se encerra com a morte do<br />
sanguinário ditador, era 01/03/1870.<br />
O 31° retorna à Corte em 07/05, a<br />
ordo do Emely com 52 oficiais e 548<br />
praças, entre eles o mascote Bruto,<br />
que após sua morte foi taxidermizado,<br />
e hoje pode ser visto no museu da<br />
PMERJ na cidade do Rio de Janeiro,<br />
chegando a 29/05, sob as manifestações<br />
de regozijo da população da<br />
capital do Império e as manifestações<br />
de contentamento de SMI o Sr. D. Pedro<br />
II, que tinha grande apreço pela<br />
corporação. O comandante do 31°<br />
ten-cel Assunção, oficial de polícia, recebeu<br />
as honras de ten-cel do Exército<br />
em 1870 e em 1873 as de coronel<br />
do Exército juntamente com a comenda<br />
da <strong>Imperial</strong> Ordem de Cristo. Seu<br />
nome está eternizado em mármore na<br />
fachada da capela de Nossa Senhora<br />
das Dores no QG da PMERJ, no Centro<br />
do Rio de Janeiro. Pudemos ver que<br />
os policiais militares do hoje Estado<br />
do Rio de Janeiro, deram uma contribuição<br />
ímpar no esforço de guerra,<br />
tendo sido entre as corporações policiais<br />
do Império a que enviou maior<br />
contingente 31% dos oficiais e 39%<br />
dos praças, que se engajaram logo<br />
no começo da campanha e sendo um<br />
dos últimos a retornar. Fazendo jus,<br />
portanto a homenagem que o Príncipe<br />
D. Luiz, atual sucessor dinástico de D.<br />
Pedro II, lhe deu em 2009 por ocasião<br />
das comemorações dos 200 anos de<br />
sua fundação pelo Príncipe regente D.<br />
João, do título de <strong>Imperial</strong> Polícia Militar<br />
do Estado do Rio de Janeiro.<br />
Artigo<br />
Príncipe ou<br />
Popstar?<br />
Anna Himmel<br />
Escritora<br />
Sejamos francos. A mais gloriosa<br />
mancada do <strong>Brasil</strong> é quando entregaram<br />
o Prêmio Machado de Assis ao<br />
senhor “Ronaldinho Gaúcho”. Certamente<br />
um homem culto com muitos<br />
livros escritos. Isso desmereceu muitos<br />
autores do país que tem mais de<br />
20 anos de carreira.<br />
Agora, mais uma vez, as organizações<br />
políticas incumbidas de planejar o<br />
evento de receber o Príncipe Harry,<br />
filho da falecida Princesa Diana e<br />
Príncipe Charles, cometem uma gafe<br />
digna de vergonha.<br />
Gostaria que alguém tirasse minhas<br />
humildes duvidas a respeito da figura<br />
que representa Juliana Paes, Luciano<br />
Hulck, Malu Mader e toda considerável<br />
estrela de globais. Não foi mencionado<br />
o nome da Família Real <strong>Brasil</strong>eira<br />
em nenhum noticiário ao que<br />
parece.<br />
Não venham me dizer que o motivo é<br />
simplesmente por que a monarquia<br />
não é vigente no país. Considero sim<br />
que D. Pedro II valorizava os artistas<br />
do seu tempo, mas havia bom senso.<br />
Os artistas de hoje são outros. E qual<br />
a razão de tão injusto comportamento<br />
de manter a Família Real <strong>Brasil</strong>eira<br />
fora da divulgação.<br />
Posso neste momento estar cometendo<br />
uma injustiça e que neste evento<br />
tenha um representante da Família.<br />
Tenho a absoluta certeza que D. Isabel<br />
se sentiria constrangida com tal<br />
fato em seu nome nem mesmo ser<br />
mencionado como anfitriã de um predestinado<br />
como ela foi.<br />
O jovem Príncipe que muitas vezes flagrado<br />
em festas gosta da companhia<br />
de “celebridades”. Visitar uma comunidade<br />
pobre é apenas um ato de disfarce.<br />
Talvez a fim de parecer-se com<br />
a mãe a Princesa Diana.<br />
O que na realidade, o jovem vem ao<br />
<strong>Brasil</strong> para desfrutar da companhia<br />
de belas mulheres e consagrados artistas.<br />
Mostrar-se ao povo a sua presença<br />
ilustre como “CELEBRIDADE” e<br />
não como príncipe.<br />
Sei que não deveria apresentar absoluto<br />
constrangimento, pois também<br />
sou artista. Sou artista há 22 anos.<br />
E não desejo ser considerada celebri-<br />
dade. Não pretendo ser. E devo manter-me<br />
conectada aquilo que o meu<br />
destino propôs.<br />
Não sei em que a Malu Mader poderá<br />
discutir com o jovem príncipe sobre os<br />
problemas políticos e sociais ou o que<br />
o esportista Anderson Silva poderá<br />
compartilhar em relação á pobreza e<br />
miséria exalada pela República.<br />
Essa desvalorização pela Família Real<br />
<strong>Brasil</strong>eira pelas tradições populares<br />
republicanas assola o desenvolvimento<br />
humano, social, e intelectual<br />
do <strong>Brasil</strong>.<br />
Ontem entregaram prêmios literários<br />
a jogadores de futebol que mal sabe<br />
se comunicar, hoje Príncipes querem<br />
esbaldar em “feiras da vaidade”,<br />
amanhã... Já não teremos o amanhã.
Gastão Reis Rodrigues Pereira<br />
Empresário e economista.<br />
Artigo publicado na “Tribuna de Petrópolis”<br />
O site é www.smart30.com.br<br />
13<br />
Artigo<br />
A república<br />
que nunca foi<br />
O artigo publicado pelo sr. José Serra<br />
no Estadão, de 24/11/2011, intitulado<br />
República – de volta para o<br />
futuro reflete o desencanto não só<br />
dele, mas de uma legião de cientistas<br />
políticos, jornalistas, intelectuais<br />
e historiadores com nossas práticas<br />
republicanas onde o espaço para a<br />
preservação da res publica, ou seja,<br />
do interesse público, está cada vez<br />
menor. E isso depois de 120 anos de<br />
implantado um regime que, se avaliado<br />
por suas realizações na área crítica<br />
da qualidade da educação nacional,<br />
se revelou um fracasso retumbante.<br />
Não pode haver atestado mais óbvio<br />
de descompromisso (já secular!) com<br />
o interesse público. Talvez tenha sido<br />
essa a razão que levou o Prof. Mario<br />
Henrique Simonsen, poucos meses<br />
antes do plebiscito de 1993, a escrever<br />
um memorável e surpreendente artigo<br />
na revista EXAME em defesa do<br />
parlamentarismo monárquico.<br />
Não só isso, Serra chove no molhado<br />
da sabedoria convencional ao comparar<br />
o desempenho do Império com<br />
o da república (permitam-me o adequado<br />
r minúsculo) no <strong>Brasil</strong>. É urgente<br />
pensar fora do quadrado para<br />
superar a armadilha institucional em<br />
que caímos há mais de um século, ou<br />
seja, “um esquema geral de formação<br />
de normas ou instituições ineficientes<br />
ainda que estáveis” na definição de<br />
Victor M. Polterovich em instigante estudo<br />
publicado no livro não-traduzido<br />
The New Russia – Transition Gone<br />
Awry (A Nova Rússia – A transição que<br />
perdeu o rumo). Para tanto, é preciso<br />
questionar nossa premissas tradicionais<br />
e pensar o impensável, como<br />
ousou o Mestre Simonsen. Vamos a<br />
elas.<br />
Antes de mais nada, é simplista ver<br />
no regime republicano a única forma<br />
de preservar a res publica. Indicadores<br />
de desempenho nas áreas social,<br />
econômica, cultural e política das<br />
principais repúblicas europeias comparados<br />
aos das monarquias lá existentes<br />
constatam que estas últimas<br />
se saíram melhor. Conclusão: monarquias<br />
constitucionais se revelaram<br />
capazes de resguardar o bem comum<br />
até melhor do que as repúblicas.<br />
Em segundo lugar, já vai tarde a hora<br />
de ver o poder moderador como a<br />
nossa famosa jabuticaba, aquela<br />
que só dá (deu) aqui. A concepção do<br />
poder moderador existente em nossa<br />
constituição de 1824, a melhor que já<br />
tivemos segundo Affonso Arinos, antecipava<br />
de um século o princípio de<br />
Karl Popper para quem o fundamental<br />
é que um mau governo dure pouco.<br />
Ele não se perdia naquela discussão<br />
bizantina de arrolar argumentos em<br />
favor dos filósofos, dos aristocratas,<br />
ou de empresários ou ainda de trabalhadores.<br />
Qualquer classe social pode<br />
fazer besteira. E da grossa.<br />
Terceiro, países bem resolvidos em<br />
termos político-institucionais, ainda<br />
hoje, não são a regra geral, mas sim<br />
exceções, como foi o caso brasileiro<br />
ao longo do século XIX, em especial<br />
quando comparado aos demais<br />
países latino-americanos e seus frequentes<br />
golpes de Estado.<br />
Quarto, não há legitimidade intrínseca<br />
no regime republicano brasileiro<br />
a despeito do plebiscito de 1993.<br />
Uma definição precisa de B. E. Ashforth<br />
& B. E Gibbs nos diz que “uma<br />
organização (regime político ou partido<br />
político, no caso) é dita legítima<br />
na medida em que seus meios e fins<br />
se coadunam com normas sociais,<br />
valores e expectativas.” Mergulha-<br />
dos em nossa armadilha institucional<br />
mais que centenária, sabemos de<br />
fato que sofremos como coletividade<br />
os efeitos perversos de normas sociais<br />
e valores distorcidos que podem<br />
até parecer um retrato da vida como<br />
ela é, mas nem por isso respaldam<br />
os desejos da população em termos<br />
de suas expectativas. Nesse sentido<br />
crítico que envolve nosso futuro como<br />
Nação, estamos longe de ter um regime<br />
legítimo. O próprio Serra nos fala<br />
em refundar a república.<br />
Quinto, o suposto desempenho superior<br />
da república em termos econômicos<br />
face ao Império precisa ser revisto.<br />
Estudos e pesquisas demonstram<br />
que o PIB real per capita brasileiro<br />
entre 1891 e 1916 ficou congelado<br />
no tempo. A tese do crescimento excepcional<br />
do <strong>Brasil</strong> nos últi-mos cem<br />
anos tem pés de barro: partiu de uma<br />
queda de quase 20% do PIB ao final<br />
da primeira década republicana. O<br />
país estava de fato recuperando o<br />
tempo perdido. Mais sério ainda, em<br />
relação ao futuro, é a constatação<br />
nas pesquisas mais recentes de que<br />
de 50 a 75% do crescimento do PIB<br />
de um país pode ser explicado por<br />
capital humano e pela qualidade de<br />
suas instituições, formais (regras, leis,<br />
constituições) e informais (normas de<br />
comportamento, convenções e códigos<br />
de conduta autoimpostos). Exatamente<br />
o que fomos perdendo após<br />
a chegada da república. Na escola<br />
de estadistas que foi o Parlamento<br />
do Império em relação ao balcão de<br />
negócios do congresso da república<br />
de que nos fala Ruy Barbosa, já em<br />
1915(!), vamos encontrar as raízes<br />
de nossa fragilidade institucional. Em<br />
especial quando nos lembramos da<br />
figura de nosso segundo imperador<br />
indo regularmente ao Colégio Pedro II<br />
acompanhar o desempenho de seus<br />
alunos. A continuar aquele contexto,<br />
impossível imaginar que a educação<br />
nacional tivesse sido relegada ao que<br />
foi nos últimos 120 anos.<br />
Para finalizar, é fundamental ter claro<br />
o seguinte. Primeiro: a alma que falta,<br />
segundo FHC, à nossa moldura político-institucional<br />
nos dá um alerta em<br />
relação ao risco de se importar instituições<br />
(presidencialismo) ou inventar<br />
soluções cerebrinas que não levem<br />
em conta as tradições e cultura de<br />
cada povo. A ex-URSS e a China perderam<br />
muito tempo dando cabeçadas<br />
até se darem conta do beco sem<br />
saída em que estavam engessadas.<br />
Segundo: o poder moderador foi obra<br />
de profissionais e precisa ser reincorporado<br />
à nossa constituição, claro,<br />
com as devidas adaptações. Bom<br />
lembrar que poderá ser um poderoso<br />
instrumento para preservar o interesse<br />
público justamente por estar nas<br />
mãos de um Chefe de Estado cuja<br />
posição resulta de uma delegação nacional<br />
e que é pago com dinheiro do<br />
povo a quem deve fidelidade.<br />
Bem diferente daqueles que chegam<br />
lá devendo favores a partidos políticos<br />
e a grupos econômicos. Terceiro:<br />
é preciso dotar o país de instituições<br />
realmente capazes de dar sustentação<br />
ao crescimento de nosso PIB<br />
sem nos deixar perder posição relativa<br />
face aos BRICs e no próprio contexto<br />
latino-americano como vem ocorrendo.<br />
O livro organizado por Francis<br />
Fukuyama, Ficando para trás, resume<br />
bem o drama.<br />
Pergunta: de volta para que futuro se<br />
refere Serra? Se for o republicano,<br />
será mais da mesma coisa piorada.<br />
Se tivermos a ousadia do Prof. Simonsen,<br />
será possível vislumbrar um<br />
futuro que atenda às justas expectativas<br />
do povo brasileiro. Por que não<br />
ousar, caro leitor?
Percival Puggina<br />
Publicado no Jornal Zero Hora<br />
14<br />
Artigo<br />
Uma guerra<br />
nada santa<br />
Teses sem ressonância social vêm atropelando a pauta das prioridades e virando o país do avesso. Foi o caso dos crucifixos. Tão do<br />
avesso que ganhou manchetes. Responda-me, leitor: de cem pessoas que ingressam numa sala de audiências, quantas ficam dispnéicas,<br />
tarquicárdicas ou entram em sudorese se veem um crucifixo?<br />
Para o Conselho de Magistratura do<br />
TJ/RS, todos os desembargadores -<br />
centenas! - que por ali passaram ao<br />
longo de 121 anos eram cegos de<br />
bengalinha ante os crucifixos das salas<br />
de audiência ou incompetentes<br />
para entender o sentido da laicidade<br />
do Estado constante de todas as constituições<br />
republicanas.<br />
Teses sem ressonância social vêm atropelando<br />
a pauta das prioridades e<br />
virando o país do avesso. Foi o caso<br />
dos crucifixos. Tão do avesso que ganhou<br />
manchetes. Responda-me, leitor:<br />
de cem pessoas que ingressam numa<br />
sala de audiências, quantas ficam<br />
dispnéicas, tarquicárdicas ou entram<br />
em sudorese se veem um crucifixo?<br />
Nenhuma? Pois é. E quantas - na real,<br />
sem exageros - se sentirão pessoalmente<br />
injuriadas por aquele símbolo?<br />
Ante símbolos religiosos, pessoas normais<br />
reagem com respeito ou com indiferença.<br />
Indignação, revolta, alergia<br />
escapam à normalidade. Portanto, os<br />
que investiram contra os crucifixos e<br />
enrolaram em seus argumentos cinco<br />
magistrados gaúchos, são portadores<br />
de uma idiossincrasia, de uma<br />
aversão pessoal. Tal abominação é<br />
um problema que está nelas. Juro, o<br />
crucifixo é inocente! Tampouco é um<br />
problema da sociedade ou do Estado<br />
brasileiro, como já decidiu o Conselho<br />
Nacional de Justiça em 2007. A retirada<br />
dos crucifixos toma a situação<br />
pelo seu avesso. Considerou discriminatória<br />
a presença do símbolo, quando<br />
discriminador e preconceituoso é<br />
quem posa de ofendido por ele. Ou<br />
não?<br />
O Estado brasileiro não é ateu, é laico,<br />
mas a laicidade, no sentido em que é<br />
definida pela Constituição, recusa as<br />
pretensões do ateísmo militante. O<br />
Estado brasileiro não é inimigo<br />
da fé; ao contrário, com vistas<br />
ao interesse público, colabora<br />
com as confissões religiosas<br />
(CF, art.19,I). Prevê assistência<br />
religiosa aos que estão presos<br />
(CF Art. 5º VII). Também por<br />
essa compatibilidade de fins há<br />
capelães nas Forças Armadas.<br />
Retirar os crucifixos para acolher<br />
como saudáveis reações<br />
que afrontam a consciência<br />
civilizada não é defender o laicismo<br />
mas curvar-se ao ateísmo<br />
militante, de pouco futuro<br />
e péssimo passado.<br />
No volumoso Curso de Direito<br />
Constitucional (Ed. Saraiva,<br />
2007), após citar o professor<br />
alemão Peter Häberle para<br />
demonstrar que elementos<br />
religiosos, como os feriados,<br />
são bem-vindos porque reacendem<br />
na memória coletiva<br />
suas raízes culturais, Gilmar<br />
Mendes e outros dois autores<br />
concluem assim o capítulo em<br />
que tratam da liberdade religiosa:<br />
“O Estado que não professa<br />
o ateísmo pode conviver<br />
com símbolos, os quais não somente<br />
correspondem a valores<br />
que informam sua história cultural<br />
como remetem a bens encarecidos<br />
por parcela expressiva<br />
de sua população - por isso,<br />
também, não é dado proibir a<br />
exibição de crucifixos ou de imagens<br />
sagradas em lugares públicos”.<br />
Não há uma única evidência de que<br />
crucifixos em salas de audiência tenham<br />
patrocinado descumprimento do<br />
nosso Direito para adotar imposições<br />
canônicas. Portanto, o que mais corretamente<br />
se pode assumir como<br />
efeito da presença do símbolo é exatamente<br />
o inverso do alegado. Ele<br />
inspira boa justiça. Na tradição Ocidental,<br />
é símbolo máximo da dor e da<br />
aflição causada pela injustiça!<br />
Seus adversários olham para o crucifixo<br />
mas focam, lá na frente, os<br />
princípios, os valores e as tradições<br />
que lhe são implícitos. Muitos, como<br />
os relacionados à defesa da vida, à<br />
dignidade e aos direitos humanos,<br />
às liberdades, à família, compõem<br />
convicções constitucionalizadas no<br />
<strong>Brasil</strong> e se refletem nas deliberações<br />
legislativas. É contra esse alvo que<br />
o ateísmo militante está declarando<br />
guerra e rufando tambores. Não agem<br />
por amor à Constituição, mas por ódio<br />
ao perfume cristão que ela legitimamente<br />
exala.<br />
Como escrevi anteriormente: deixem<br />
ao menos os pregos!
Artigo<br />
Um dos elementos fundamentais do<br />
conceito de Democracia repousa na<br />
limitação dos poderes do Estado,<br />
através da delimitação das atribuições<br />
de cada função a ser exercida pela<br />
administração. Tradicionalmente estas<br />
limitações são baseadas na teoria<br />
da separação dos poderes, em que as<br />
funções estatais são delegadas a três<br />
entes distintos do governo – o executivo,<br />
o legislativo e o judiciário.<br />
A base da teoria tripartida, ou da<br />
separação dos poderes, idealizada<br />
por Charles de Montesquieu profetizava<br />
que a tarefa de executar as leis<br />
e administrar o Estado caberia a um<br />
governo central, que a concepção das<br />
leis restaria a um corpo colegiado, e<br />
a aplicação da justiça e interpretação<br />
das leis ficariam a cargo de uma corte<br />
de juízes capacitados para tal. Todos<br />
poderes autônomos e independentes<br />
uns dos outros.<br />
Montesquieu, na época da concepção<br />
de sua idéia, vivia sob a égide do Estado<br />
Absolutista, e como pensador iluminista<br />
buscava aplicar a razão a sua<br />
sociedade. Tomava como exemplo<br />
mais moderno em seu tempo o parlamentarismo<br />
britânico, um sistema<br />
básico que permitiria o freio do poder<br />
enquanto facilitava a gestão e mantinha<br />
a ordem institucional.<br />
Foi por meio de sua interpretação<br />
do modelo inglês que surgiu a teoria<br />
dos freios e contrapesos, base<br />
tanto para o sistema Presidencialista<br />
Estadunidense quanto para o<br />
moderno Parlamentarismo Britânico,<br />
ideal democrático perseguido por todos<br />
os sistemas políticos modernos<br />
quando da limitação dos poderes estatais.<br />
E apesar do filósofo francês ter<br />
concebido um sistema monárquico<br />
15<br />
O Poder executivo<br />
e a democracia<br />
A base da teoria tripartida, ou da separação dos poderes, idealizada por Charles de Montesquieu profetizava que a tarefa de executar as leis e administrar<br />
o Estado caberia a um governo central, que a concepção das leis restaria a um corpo colegiado, e a aplicação da justiça e interpretação das leis ficariam a<br />
cargo de uma corte de juízes capacitados para tal. Todos poderes autônomos e independentes uns dos outros<br />
Nélson Lilioso de Freitas Silveira<br />
Bacharel em direito e monarquista Paraense<br />
Tendo como exemplo o caso brasileiro, o eleitorado nacional pouco dá importância a escolha<br />
dos parlamentares e foca demasiadamente na escolha dos chefes do poder executivo.<br />
Isto cria um modelo em que a casa parlamentar pouco se importa com a exacerbada invasão<br />
por parte do executivo, através de medidas provisórias, não tendo força para representar a<br />
população e fiscalizar os atos da administração pública<br />
constitucional primitivo, suas bases<br />
democráticas se adéquam a qualquer<br />
modelo de governo.<br />
Todavia, a forma desta separação de<br />
poderes foi alvo de diversas teorias,<br />
as quais buscavam adequar da melhor<br />
forma possível a convivência entre<br />
o administrador estatal e o corpo<br />
legislativo. Tais especificidades tem<br />
como resultado os modelos de sistemas<br />
de governo, e em sua regra<br />
prevêem o presidencialismo e o parlamentarismo,<br />
havendo também um híbrido<br />
chamado semipresidencialismo.<br />
Atendo-se às diferenças entre os referidos<br />
sistemas, um ponto de relevância<br />
a ser analisado é a tarefa desempenhada<br />
pelo poder executivo. Em regra<br />
a resposta a essa função é unânime:<br />
no modelo presidencial o chefe de estado<br />
e de governo é a mesma pessoa,<br />
que detém amplos poderes administrativos,<br />
ao passo que no modelo<br />
parlamentarista há uma cisão desta<br />
função, onde uma atuação meramente<br />
simbólica é legada ao chefe de<br />
estado.<br />
Por regra a divisão de funções no<br />
poder executivo, dentro do modelo<br />
parlamentarista, representa um ideal<br />
de continuidade administrativa dentro<br />
da possibilidade de mudanças<br />
necessárias ao Estado. Neste sentido,<br />
caberia ao chefe de estado representar<br />
a nação simbolicamente e manter<br />
a ordem institucional, ao passo que o<br />
chefe de governo teria a incumbência<br />
de gerir administrativamente e governar<br />
de fato.<br />
Esta conceituação, um tanto nebulosa<br />
quanto as atribuições que de fato<br />
seriam desempenhadas pela chefia
de estado, lhe concede contornos de<br />
algo desnecessário e meramente ilustrativo.<br />
Um elefante branco dispendioso.<br />
Incitando, também, uma idéia de<br />
que o modelo presidencialista seria<br />
mais razoável e prático.<br />
Contudo, mesmo em modelos cujo<br />
chefe de estado é um presidente, a<br />
pouca informação sobre a sua função<br />
remete a idéia de que o chefe de<br />
governo representa em totalidade os<br />
ideais e atribuições do poder executivo.<br />
Tal idéia é desmedida, conforme<br />
se compreende intrincadas ações governamentais<br />
e a necessidade de uma<br />
administração meticulosa, no sentido<br />
de assegurar um modelo capaz de<br />
congregar a segurança da tradição<br />
com os avanços da modernização.<br />
Diante disto, é relevante compreender<br />
o papel fundamental que desempenha<br />
a chefia de estado diante da conexão<br />
política existente na teoria tripartida,<br />
e que requer uma complexidade segura<br />
para possibilitar um modelo realmente<br />
democrático, no mesmo ponto<br />
em que requer agilidade governamental<br />
para administrar a nação.<br />
Em modelos de democracias monarquistas<br />
o papel da realeza na chefia<br />
de estado é mais do que simbólico,<br />
trata-se de conceber a separação entre<br />
políticas de Estado e políticas de<br />
governo, assim como manter a rotatividade<br />
administrativa sem alterar a<br />
imagem do país. Em outras palavras,<br />
o soberano, ou soberana, encarna os<br />
símbolos da nação, suas características<br />
e tradições que devem ser preservadas,<br />
assim como mantêm a ordem<br />
institucional e assegura a paz.<br />
Esta compreensão parte da idéia de<br />
que apesar de necessárias, as mudanças<br />
não podem descaracterizar<br />
a noção geral de identificação do<br />
Estado, através de planos e projetos<br />
distintos que quebram a continuidade<br />
com a mudança de governo e ideologia<br />
política. Denota que certas áreas<br />
da sociedade, e da própria nação,<br />
necessitam de uma linha contínua<br />
de atuação para assegurar a eficácia<br />
de seus resultados. A favor do modelo<br />
presidencialista está a condição<br />
de proximidade com a sociedade,<br />
através do seu próprio mandato e<br />
legitimidade diante do eleitorado,<br />
permitindo uma maior facilidade do<br />
governante em tomar decisões desagradáveis<br />
ou polêmicas. Porém, em<br />
desfavor da governança está a grande<br />
força que o executivo detém, através<br />
de uma única liderança revestida de<br />
plenos poderes administrativos e algum<br />
poder legislativo.<br />
Tendo como exemplo o caso brasileiro,<br />
o eleitorado nacional pouco dá<br />
importância a escolha dos parlamentares<br />
e foca demasiadamente na escolha<br />
dos chefes do poder executivo.<br />
Isto cria um modelo em que a casa<br />
parlamentar pouco se importa com a<br />
exacerbada invasão por parte do executivo,<br />
através de medidas provisórias,<br />
não tendo força para representar<br />
a população e fiscalizar os atos da administração<br />
pública.<br />
Num modelo parlamentar a preocupação<br />
volta-se para a escolha dos<br />
membros do legislativo, que deverão,<br />
além de nomear o chefe de governo,<br />
fiscalizar sua administração e trabalhar<br />
as atribuições legislativas que<br />
lhe é inerente. A seu favor é possível<br />
verificar uma maior estabilidade das<br />
políticas públicas, uma maior atuação<br />
parlamentar e uma governança mais<br />
controlada. Em desfavor está a pouca<br />
legitimação do governo e distância do<br />
eleitorado.<br />
Há, todavia, uma aplicação dos dois<br />
sistemas de governo concomitantemente,<br />
reduzindo os contras encontrados<br />
em cada um. Chamado de<br />
semipresidencialismo, este modelo<br />
que toma por base países como Portugal<br />
e França busca unir as qualidades<br />
do parlamentarismo com as do<br />
presidencialismo. Tal idéia passa pela<br />
delegação de maiores atribuições ao<br />
chefe de estado.<br />
Faz-se relevante, desta forma, analisar<br />
a possibilidade de uma maior integração<br />
entre modelos que em teoria<br />
são distintos, e sua aplicabilidade a<br />
realidade brasileira. Neste ponto, suprindo<br />
as lacunas que muitos afirmam<br />
serem os pontos de rejeição a um parlamentarismo<br />
monárquico brasileiro,<br />
e apresentando a possibilidade de um<br />
novo modelo idealizado pra o <strong>Brasil</strong>.<br />
Assim, não apenas repetiríamos a<br />
tradição de copiar modelos de política<br />
e governo estrangeiros, mas conceber-se-ia<br />
uma identidade política nacional,<br />
voltada tanto para a resolução<br />
dos problemas administrativos quanto<br />
para a necessária consecução de<br />
uma nação mais justa democraticamente.<br />
16<br />
Aniversários<br />
As mais belas declarações de parceria eterna, não seriam o suficiente<br />
para reconhecer o quão importante você é para o Instituto<br />
<strong>Brasil</strong> <strong>Imperial</strong>. Nossa cumplicidade monárquica vai se tornando<br />
forte, e como Presidente do IBI me sinto comovido a homenagear<br />
os/as Confrades aniversariantes do mês. Feliz aniversário! E que<br />
você seja muito, muito feliz!<br />
ABRIL<br />
Alzira Esteves Ayres Gomes de Mattos – 2 - Santos - SP<br />
Andrew Carlos Amaral – 24 - Ipatinga – MG<br />
Antonio Júlio Motta Neves – 6 Rio de Janeiro - RJ<br />
Benedicto de Vasconcelos Luna Patrão – 8 - NITEROI - RJ<br />
Bruno da Silva Oliveira – 7 - Magé - RJ<br />
Cláudia Cristinne F. de Almeida Dorst – 13 - Cuiabá - MT<br />
Diego Rocha – 6 - Cachoeiro de Itapemirim - ES<br />
Dimas Tadeu Gomes – 11 - Jau - SP<br />
Elder de Jesus – 30 Maceió - AL<br />
Emilia Castilho Saraiva – 17 - Manaus - AM<br />
Érickson Cardoso de Oliveira – 5 – Barbacena - MG<br />
Leônidas Loureiro Marques da Silva – 15 – Belém - PA<br />
Mário Sérgio R. B. de Oliveira Paschoal – 20 - São Paulo - SP<br />
Mauricio Cardoso de Lima – 24 - Canoas - RS<br />
Mauro Demarchi – 5 - Alfredo Wagner - SC<br />
Patricia Cracel – 9 - Rio de Janeiro - RJ<br />
Paulo Henrique Cremoneze – 25 - Santos - SP<br />
Paulo Henrique Soares Martins – 4 - São Paulo - SP<br />
Plínio Magno da Cunha Coutinho – 5 – Lauro de Freitas - BA<br />
Roberto César Prado – 12 - Aracaju - SE<br />
Rodrigo Carvalho Müller – 23 - Jaraguá do Sul - SC<br />
Rodrigo Cesar Banhara – 7 - São José dos Campos - SP<br />
Saulo de Tarcio Silva Feitosa – 10 - Maceió - AL<br />
Walbert Martins Carvalho – 4 – Aracajú - SE<br />
Seu nome não consta como aniversariante, Atualize seu cadastro.<br />
Não temos a sua data, sinta-se homenageado também, e gostaríamos<br />
que você completasse o seu cadastro para podermos cumprimentá-lo.<br />
Se já tem a senha é só acessar e completar os dados no<br />
site www.brasilimperial.org.br
Artigo<br />
Descobertas e<br />
17<br />
Contrariando o que vem sendo veiculado, arqueóloga diz que cais do Valongo estava<br />
sendo procurado, quando reencontrado. Historiador também acaba com versão: lo-<br />
no<br />
redescobertas<br />
Cais<br />
cal não era porta de entrada de negros<br />
Ronaldo Pelli<br />
Publicado na Revista de História<br />
da Imperatriz. E percebemos que tinha<br />
um aterramento. Uns 60 centímet-<br />
Nada de acaso. O cais do Valongo ros abaixo, encontramos o cais do Va-<br />
estava sendo procurado quando foi longo.”<br />
reencontrado, nas escavações para Outro dado controverso que é propa-<br />
as obras de revitalização da Zona gado afirma que os africanos trazidos<br />
Portuária no Rio. Quem explica é a ar- para o <strong>Brasil</strong> para serem escravizados<br />
queóloga do Museu Nacional / UFRJ teriam desembarcado no Rio no cais<br />
Tania Andrade Lima, que coordena a do Valongo. O professor, arquiteto e<br />
equipe de pesquisadores da área. historiador Nireu Cavalcanti desconfia<br />
“A imprensa vem noticiando meio dessa informação.<br />
equivocadamente que teria sido um “Até 1817 não havia cais público e<br />
achado fortuito. Não foi”, contou ela, de pedra na região do Valongo, era<br />
por telefone, no meio do barulho do proibido pelas autoridades, para evi-<br />
maquinário de escavação diretamente tar contrabando durante período de<br />
das obras do projeto que foi apelidado difícil controle”, argumenta ele. “Por- Escavações no sítio arqueológico do cais do Valongo<br />
de Porto Maravilha. Por conta da legtanto, não ‘desembarcaram no cais<br />
islação atual, ela conta, o Instituto do do Valongo, milhares de escravos ser Paulo Fernandes Viana, então foi extinto, teriam passado cerca de<br />
Patrimônio Histórico e Artístico Na- novos’, como afirmam a mídia, as au- chefe da polícia, o responsável pela 40 mil africanos por essa região.<br />
cional (Iphan) exige que em qualquer toridades atuais, os técnicos, historia- obra, mas não há data nem fonte ou “Desde meados do século XVIII,<br />
interferência no subsolo haja a monitdores etc.”<br />
documento que comprove isso, diz quando o então vice-rei marquês do<br />
oração da área. “Entendemos que ex- Cavalcanti diz que esse sítio arque- ele.<br />
Lavradio ordenou a construção de<br />
istia um sítio arqueológico, o cais da ológico tem importância histórica, ur- “Paulo Fernandes Viana faleceu em um depósito no local, é que se com-<br />
Imperatriz, porque há um pilar naquebanística, econômica e cultural para a 1821, portanto só poderia ocorrer ercializavam os escravos trazidos dos<br />
la área. Mas o nosso maior interesse cidade do Rio de Janeiro e a história a obra de cais entre 1817 e 1821. portos africanos. Nesse momento, a<br />
não era o cais da Imperatriz, mas o de sua sociedade, mas descarta Período em que D. João VI já havia cidade era o principal espaço comer-<br />
do Valongo, que foi vítima de apaga- qualquer comparação com as ruínas assinado o Tratado de Comércio com cializador e distribuidor de escravos<br />
mento deliberado, como se fosse uma romanas, dizendo que esse raciocínio o rei da Inglaterra (1815) e referenda- para boa parte do <strong>Brasil</strong>, sobretudo<br />
chaga vergonhosa do Rio de Janeiro”, propagado é típico “de quem tem esdo (1817) com a cláusula de terminar para a região centro/sul.”<br />
falou a arqueóloga lembrando de pírito de colonizado”, “de quem só ver o tráfico negreiro para o <strong>Brasil</strong>”, conta A reforma do cais do Valongo, com<br />
como um cais foi construído sobre o o estrangeiro como modelo”. ele, que contabiliza em cerca de 680 projeto do arquiteto Grandjean de<br />
outro.<br />
“Os escravos desembarcavam na mil escravos ingressos no porto do Montigny, demonstra que o hábito<br />
De acordo com a arqueóloga, o cais Alfândega, posto em frente à atual Rio de Janeiro entre 1700 e 1799. “É nacional de esconder os problemas<br />
do Valongo vai da atual Rua Coelho Rua da Alfândega (por isso o nome muito estranho, que seja construído da sociedade em vez de resolvê-los<br />
e Castro até a Sacadura Cabral, que desse logradouro)”, escreve ele por e- cais para desembarque de escravos, é antigo. Em 1843, já tendo apagado<br />
totaliza em torno de 350 metros de mail. “Depois de registrados e pagos tendo o nosso rei se comprometido a qualquer referência ao vergonhoso<br />
comprimento. “Havia uma circunstân- os impostos devidos, os traficantes extinguir o tráfico!”<br />
passado de escravidão da região –<br />
cia de amnésia social, e a arqueologia levavam-nos em embarcações peque- Se não há uma certeza sobre como principalmente pela prática ser ainda<br />
é contra essa prática. Entramos com nas para a região do Valongo. Os es- foi erguido o cais do Valongo, a sua bastante atual no Rio do século XIX<br />
um pedido para resgatar o Valongo cravos desciam no mar e se desloca- importância histórica e sua função –, o cais receberia a futura impera-<br />
há uns sete, oito meses, e o Iphan vam para a terra, em uma operação na época são mais fáceis de serem triz Tereza Cristina, que veio se casar<br />
aprovou”, contou a arqueóloga, que cuidadosa, feita durante o dia e sob mapeadas. A professora Marieta Pin- com d. Pedro II. O cais, então, muda<br />
chama o cais de “patrimônio dos afro- fiscalização das autoridades alfandeheiro de Carvalho, do Programa de de nome e começa a se chamar da<br />
descendentes” e pede para não usar gárias.”<br />
Pós-Graduação em História da Univer- Imperatriz. O mesmo acontece com<br />
a expressão “descoberta”. “Quando Não há informações muito claras sosidade Salgado de Oliveira (Universo), a Rua Valongo, que se torna Rua da<br />
as frentes da Prefeitura chegaram, bre construção do Cais. Cavalcanti diz que por toda a existência do caís, Imperatriz. Finalmente, porém, o pas-<br />
foram encontradas as pedras do cais explica que alguns cronistas afirmam de por volta 1750 até 1831, quando sado vem literalmente à tona.
18<br />
www.brasilimperial.org.br<br />
7 de março<br />
Chegada de<br />
D.João VI<br />
ao <strong>Brasil</strong>