12.04.2013 Views

Gazeta - Brasil Imperial

Gazeta - Brasil Imperial

Gazeta - Brasil Imperial

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sa e gastaram o dinheiro público como<br />

se fossem reis absolutistas. Mesmo<br />

aqueles que tiveram contribuições<br />

relevantes ao país caíram no costume<br />

de agir como se estivessem acima da<br />

lei. Pode-se dizer o contrário de Dom<br />

Pedro II. Nosso último monarca, chefe<br />

do Poder Executivo e do Poder Moderador,<br />

descendente dos Bragança e<br />

dos<br />

Habsburgo, duas das mais tradicionais<br />

famílias reais europeias, atuou<br />

quase sempre com a humildade que<br />

os presidentes deveriam ter. Como imperador,<br />

ocupava,além da cadeira de<br />

chefe do Poder Executivo, a de chefe<br />

do Poder Moderador, criado para ser<br />

um árbitro em situações de impasse,<br />

crise e intenso conflito político.Essa<br />

força dava a ele permissão para dissolver<br />

a Câmarados Deputados e convocar<br />

novas eleições. Acumulando os<br />

dois poderes, Dom Pedro II era quase<br />

um rei absoluto, mas raramente<br />

tomava decisões autoritárias. Trocava<br />

ministros com cautela e procurava<br />

acatar a decisão dos deputados.<br />

Achava desconfortável a posição de<br />

monarca – diversas vezes disse que<br />

preferia ser um presidente eleito ou<br />

simplesmente um professor. “Difícil é<br />

a posiçãode um monarca nesta época<br />

de transição”, escreveu para a sua<br />

amante, a condessa de Barral. “Eu<br />

decerto poderia ser melhor e mais<br />

feliz presidente da República do que<br />

imperador constitucional.”A humildade<br />

de Dom Pedro II se revelava também<br />

no cuidado que ele tinha com os<br />

gastos pessoais – outra atitude tão<br />

comum entre nossos presidentes<br />

quanto passar as férias em Osasco.<br />

Não que o imperador custasse pouco<br />

ao <strong>Brasil</strong> – a família real ganhava uma<br />

mesada anual de 800 contos de réis,<br />

uma pequena fortuna.<br />

Em todo o seu reinado, porém, Dom<br />

Pedro II nunca permitiu que a dotação<br />

fosse reajustada, mesmo diante da<br />

insistência de ministros e parlamentares.<br />

A quantia nem sempre era<br />

suficiente, pois financiava bolsas de<br />

estudos de jovens brasileiros no exterior,<br />

colégios, instituições de caridade<br />

e custos extraordinários do país – em<br />

1867, o imperador doou um quarto<br />

da dotação ao caixa da Guerra do<br />

Paraguai. Para viajar pelo <strong>Brasil</strong> e<br />

pelo mundo (Dom Pedro II fez três longas<br />

viagens à Europa e ao Egito e Jerusalém<br />

e outra aos Estados Unidos),<br />

emprestava dinheiro de casas de<br />

negócio brasileiras e fechava a mão<br />

nos gastos. Os estrangeiros que visitaram<br />

os palácios reais se espantavam<br />

com a “simplicidade e franqueza<br />

quase republicanas”, como descreveu<br />

a americana Elizabeth Agassiz em<br />

1865. O Palácio deS ão Cristóvão,<br />

residência da família imperial, era mal<br />

iluminado, sujo e tinha móveis velhos<br />

– isso quando tinha: na sala em que<br />

os ministros esperavam para se reunir<br />

com o imperador mal havia cadeiras.<br />

O palácio no centro Rio de Janeiro<br />

também assustava. “Comentava-se<br />

que o Paço da Cidade se transformara,<br />

com o tempo e a falta de uso,<br />

em um velho palácio decadente e<br />

abandonado, com seus móveis velhos<br />

e sem valor”, conta a antropóloga Lilia<br />

Moritz Schwarcz.<br />

Diferente de outros reinos, o brasileiro<br />

não tinha uma corte movimentada,<br />

repleta de nobres se distraindo em<br />

jardins e solenidades. As cerimônias<br />

05<br />

Em todo o seu reinado, porém, Dom Pedro II nunca permitiu que a dotação fosse reajustada,<br />

mesmo diante da insistência de ministros e parlamentares. A quantia nem sempre era suficiente,<br />

pois financiava bolsas de estudos de jovens brasileiros no exterior, colégios, instituições<br />

de caridade e custos extraordinários do país – em 1867, o imperador doou um quarto<br />

da dotação ao caixa da Guerra do Paraguai<br />

e os bailes eram raros e simplórios,<br />

como notou, escandalizada, a educadora<br />

alemã Ina vonBinzer. “Você não<br />

faz ideia do que eu sentia! Era tudo<br />

horrivelmente simples!”, escreveu ela<br />

sobre a corte brasileira.Se Dom Pedro<br />

II tolerava opiniões divergentes e ligava<br />

pouco para o poder, não se pode<br />

falar o mesmo de seu pai. As grosserias<br />

e intempestividades de Dom<br />

Pedro I são famosas – o homem foi o<br />

líder mais tosco da história do <strong>Brasil</strong>.<br />

Fanfarrão, temperamental, mal-educado,<br />

devasso, corrupto, todos esses<br />

adjetivos cabem sem exageros ao<br />

jovem imperador. Quando se sentia<br />

ofendido por algum jornal,Dom Pedro<br />

I publicava panfletos anônimos cheios<br />

de xingamentos. Isso quando não partia<br />

direto para a violência. Em 1823,<br />

mandou um bando invadir a casa de<br />

Luís AugustoMay, autor de um panfleto<br />

de oposição, o Malagueta, e dar<br />

uma surra no homem.<br />

Os ministros de Dom Pedro I também<br />

precisavam ter paciência com o<br />

chefe. Ele costumava demiti-los por<br />

qualquer motivo, geralmente quando<br />

se irritava com eles. O gabinete ministerial<br />

mudou dez vezes em seus nove<br />

anos de governo. “Tinha o hábito de<br />

intrometer-se em tudo, de distribuir<br />

os menores cargos, de dispor dos dinheiros<br />

do tesouro, degradando com<br />

isso as funções de ministro e humilhando<br />

os que as exerciam”, conta a<br />

historiadora Isabel Lustosa.Dom Pedro<br />

tomava ainda decisões arbitrárias<br />

e irresponsáveis. Em 1823, seis meses<br />

depois de convocar uma Assembleia<br />

Constituinte, se irritou com os<br />

deputados,fechou a câmara e mandou<br />

todos para casa. Os desmandos<br />

de Dom Pedro I, a suspeita de que ele<br />

provocou a morte da Imperatriz Leopoldina<br />

e sua vontade de virar rei de<br />

Portugal levaram o povo e os políticos<br />

imperiais a se revoltarem contra ele,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!