CREMEC INFORMATIVO_ N 94.indd
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6 JORNAL CONSELHO cremec@cremec.com.br<br />
Entrevista com Cláudio Gleidiston Lima da Silva - Presidente da Seccional do <strong>CREMEC</strong> do Cariri.<br />
camente de alguma forma pelos médicos bolivianos,<br />
cubanos e profi ssionais formados em<br />
escolas de formação enviesada. Mas, abastecer<br />
o sistema de médicos não resolve o problema;<br />
não resolve o problema porque, a questão não<br />
é falta de médico, é uma estrutura logística<br />
que está faltando; você pode pagar muito<br />
bem a um médico pra ir trabalhar em Abaiara,<br />
que fi ca aqui a 40 quilômetros de Juazeiro<br />
do Norte, a cidade tem sete mil habitantes,<br />
só tem uma rua principal; então lá, não há<br />
hospital ou casa de saúde; lá há, no máximo,<br />
uma sala e uma mesa com um banco e um<br />
estetoscópio e por mais que esse profi ssional<br />
seja bem remunerado ele não vai fi car lá, pois<br />
ele não tem a mínima infra-estrutura para dar<br />
assistência à saúde. Você fi ca seis anos estudando<br />
medicina, vendo ressonância nuclear, e<br />
de repente, chega a um local ermo onde não<br />
há nenhuma estrutura mesmo sendo bem remunerado,<br />
e o que é pior pode ser processado<br />
por praticar medicina em péssimas condições.<br />
Eu gostaria sinceramente que os gestores que<br />
abrem faculdades de medicina, quando tivessem<br />
algum problema de saúde, não fossem<br />
para o Hospital Sírio Libanês, em São Paulo,<br />
ou congêneres, e sim para o PSF mais próximo<br />
de suas casas e fossem atendidos pelo<br />
médico que eles formaram na periferia do sistema;<br />
mas isso não acontece.<br />
Abertura de Novas Faculdades<br />
de Medicina:<br />
A minha posição é muito semelhante a<br />
do Conselho, que é contra a abertura de novas<br />
faculdades de medicina e mais, no inicio do<br />
proce sso, eu dizia que aqueles médicos que estavam<br />
querendo novas faculdades medicina<br />
no Cariri iam querer fechá-las em pouco mais<br />
de uma década e aconteceu bem antes do que<br />
eu previa; já existem médicos querendo o fechamento<br />
das novas faculdades de medicina<br />
e por quê? porque esses médicos não se atualizaram,<br />
não reciclaram seus conhecimentos<br />
e hoje estão disputando espaço com os<br />
recém formados e que esses últimos mesmo<br />
não tendo uma excelente formação acadêmica,<br />
eles viram o que existe de mais novo na<br />
medicina e estão tomando o espaço desse indivíduo<br />
que não se reciclou e o que sobra de<br />
trabalho para esses profi ssionais são os PSF da<br />
vida. Por isso muitos médicos estão revendo<br />
suas posições sobre a abertura de novas faculdades<br />
de medicina; mesmo aqueles médicos<br />
que tinham fi lhos estudando na Bolívia e que<br />
formaram seus fi lhos, hoje, estão revendo posições.<br />
Nós temos hoje no Ceará a UFC, na<br />
qual eu me formei, e no meu tempo de estudante<br />
só tinha ela e eu vivo dentro da UFC<br />
há mais de trinta anos e tudo o que eu sei<br />
devo a UFC; lá fi z meu curso de medicina, lá<br />
fi z minha residência e também meu mestrado<br />
e doutorado. Ao contrário de algum tempo<br />
atrás, está muito fácil de você ser um graduado<br />
em medicina; está difícil você ser médico;<br />
hoje, você tem em Fortaleza, as faculdades de<br />
medicina da UFC, UECE, Christus e a UNI-<br />
FOR; abre-se mais uma em Sobral, tem também<br />
a UFC em Sobral, aqui no Cariri existe<br />
a FMJ que é particular e mais uma em Barbalha,<br />
extensão da UFC; parece que a mais<br />
nova Faculdade de Medicina terá endereço na<br />
cidade de Quixadá, além do pedido junto ao<br />
MEC para mais duas faculdades particulares<br />
de medicina, uma em Iguatu e outra aqui em<br />
Juazeiro do Norte; eu só digo uma coisa, espero<br />
nunca ser atendido por um profi ssional de<br />
uma dessas faculdades que foram abertas sem<br />
as mínimas condições de funcionamento e só<br />
de pensar me dá medo.<br />
A Visão de Médico do Cariri sobre a<br />
Seccional do <strong>CREMEC</strong>:<br />
A seccional, desde que ela começou a<br />
existir, teve toda uma orientação logística de<br />
funcionamento do <strong>CREMEC</strong> em Fortaleza,<br />
a começar pela famosa reunião de entrega de<br />
carteiras para o médico recém egresso, que nós<br />
aqui da seccional também fazemos essa ritualística,<br />
além de estarmos presentes nas duas<br />
faculdades nas disciplinas de Ética Médica e<br />
de Bioética. O que a gente faz normalmente<br />
aqui na seccional é abrir para o estudante um<br />
processo de refl exão; se nós conseguirmos que<br />
ele, pelo menos, pense o que é que ele é e qual<br />
é o objetivo do seu trabalho e se conseguirmos<br />
isso, acho que já foi muita coisa e a intenção<br />
que o Conselho faz nessa entrega de carteiras<br />
é um processo de refl exão e orientação. Essa<br />
atividade, de entrega de carteiras, vem dando<br />
certo há muitos anos e tanto isso é verdade que<br />
o evento é disputadíssimo, ou seja, a seccional<br />
está sendo utilizada como uma orientadora e<br />
ao mesmo tempo fi scalizadora da profi ssão;<br />
é como se o Conselho estivesse criando uma<br />
disciplina de Ética; nós fazemos isso sistematicamente,<br />
pelo menos quatro reuniões por ano,<br />
por que os próprios médicos nos solicitam essas<br />
reuniões; nesse aspecto o Conselho tem sido<br />
uma disciplina que a faculdade não deu.<br />
Encontro Ético Científi co do<br />
<strong>CREMEC</strong> Seccional do Cariri e Ensino<br />
Continuado:<br />
Essa insistência do Conselho em fazer<br />
não só o Encontro, mas esses Fóruns de Ética<br />
em quase todos os municípios do Ceará tem<br />
criado uma estrutura para diminuir o erro e<br />
dar visibilidade ao que é vedado ao médico.<br />
A força com que o Conselho trabalha não é<br />
proporcional à avalanche de médicos que está<br />
se formando; então, nós damos um passo pra<br />
frente e aparecem mil médicos forçando a coisa<br />
para trás. Precisamos de mais conselheiros,<br />
seccionais e ter encontros como esse que está<br />
acontecendo agora em Juazeiro, de forma mais<br />
sistemática.<br />
O Médico e a falta de Compromisso<br />
Profi ssional:<br />
Acho que tudo no mundo hoje está muito<br />
fácil, fácil demais; lembro que na época<br />
da minha faculdade não existia celular, era<br />
telefone fi xo, você não tinha oportunidade<br />
de ter um cartão de crédito, hoje o aluno da<br />
faculdade têm cartão de crédito e de débito,<br />
têm telefone celular de última geração e todo<br />
um aparato tecnológico via Ipod e congêneres e<br />
ele decide se compra livro ou se acessa tudo no<br />
Google. Essa facilidade com que a informação<br />
e o conhecimento estão disponíveis cria a lei<br />
do menor esforço e então todos acham que<br />
é muito fácil conseguir as coisas pela falta de<br />
esforço para conseguir o que quer que seja. Dou<br />
como exemplo a Medicina; é fácil hoje você ser<br />
médico, corrigindo, médico não, bacharel em<br />
medicina, não existe dentro do indivíduo um<br />
processo de refl exão de um médico de valor e<br />
de verdade. Quando você compara, na linha<br />
do tempo, o médico que se formou há trinta<br />
anos, você vê que o médico tinha que pegar<br />
um livro enorme e passar a noite estudando,<br />
hoje, a grande maioria tem posses e como é<br />
tudo muito fácil ele, médico, acha que ser médico<br />
também é muito fácil. O médico de hoje<br />
fi ca cada vez mais diferente dos médicos mais<br />
velhos e diria fi nalizando, que nós estamos<br />
formando mais técnicos e menos médicos;<br />
os profi ssionais estão cada vez mais voltados<br />
para o procedimento técnico e o meu entendimento<br />
é que o médico tem o lado da emoção,<br />
de arte; Hipócrates já dizia que Medicina é<br />
Arte; acredito que nesse médico que está se<br />
formando agora, nos jovens que estão saindo<br />
da universidade, o compromisso é menor<br />
com o paciente escutamos muito o paciente<br />
reclamando e falando, “o doutor não toca na<br />
gente, não examina, ou pede muito exame ou<br />
não pede nenhum”.