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<strong>“Por</strong> <strong>este</strong> <strong>menino</strong> <strong>orava</strong> <strong>eu”</strong><br />
(I samuel 1:27)<br />
Logo que decidimos nos casar, meu noivo e eu começamos a comprar nossas coisa e construir<br />
nossa própria casa, pois gostamos de tudo bem organizado e planejado com antecedência.<br />
Casamo-nos em Janeiro de 1993 e passamos a desfrutar de tudo o que Deus tinha preparado<br />
para nossas vidas. Em julho do ano seguinte fizemos um plano de saúde de cobertura total,<br />
inclusive “parto”, pois pretendíamos ter nosso primeiro filho em meados de 1995. Como<br />
sempre, organizávamos tudo, porque, como eu disse acima, gostamos de tudo planejado com<br />
antecedência.<br />
Qual não foi nossa surpresa e decepção, quando um ano depois eu ainda não havia<br />
engravidado; aí começou a maratona por uma série de especialistas, e o pior é que cada um<br />
descobria um novo problema que eu e meu marido tínhamos como: não ovulação, trompas<br />
obstruídas, baixa taxa de espermatozóides, etc. O nosso drama e agonia só aumentava a cada<br />
consulta médica, pois nenhum problema era solucionado, mas sim um novo empecilho surgia.<br />
Já haviam passados dois anos desde a data que pretendíamos ter nosso filhinho e as<br />
esperanças iam se esvaindo, pois do ponto de vista da medicina as coisa se complicavam e<br />
começamos a achar que Deus se posicionava um pouco longe demais de nós.<br />
Fizemos monitoramento de ovulação, inseminação artificial e FIV (Fecundação in Vitro), esta<br />
por quatro vezes. A princípio os tratamentos corriam muito bem até às últimas etapas, só que<br />
no final de cada tratamento nada dava certo, e médico nenhum, que nos incentivava tanto a<br />
fazer tratamentos, tinha explicação para o fracasso das tentativas. A cada fracasso de<br />
tratamento, nosso drama aumentava ainda mais. Chorei muito, e quantas vezes acordava de<br />
madrugada e via meu marido ajoelhado na beira da cama orando e chorando pelo nosso<br />
problema.<br />
Nossas condições financeiras começaram a abalançar, já que esses tratamentos são<br />
caríssimos. Como os “problemas” só aumentavam e os médicos já não nos davam tantas<br />
esperanças como antes, começamos a nos afastar das pessoas, principalmente da família e<br />
igreja, pois os comentários mesmo que por brincadeira, eram maliciosos, como por exemplo,<br />
sobre o desempenho sexual do casal, que não devia estar muito bom, só porque <strong>este</strong> não tinha<br />
filhos. Esse tipo de comentário não nos ajudava em nada, muito pelo contrário, nos empurrava<br />
ainda mais para baixo.<br />
Por tudo o que passávamos e vivíamos naquela época, não era fácil aceitar nossa situação e<br />
ler na Palavra de Deus que os filhos são herança do Senhor (Sal. 127:3). Como era triste meu<br />
Deus, ver todas as minhas amigas, irmãs e primas ficando grávidas e eu não. Casais amigos,<br />
que se casaram bem depois de mim e já com um ou mais filhos; e colegas, que nem casadas<br />
eram, e engravidavam, e para mim nada. Aceitar a vontade de Deus para minha vida, quando a<br />
vontade Dele não era a minha não foi nada fácil. O pior de todo o processo era quando um<br />
médico (que havia feito mil e uma propagandas de sua clínica, se vendo em apuros por não ter<br />
uma resposta satisfatória), começava a filosofar, dizendo coisas que não são de Deus, tais<br />
como: “existe a questão de merecimento ou não”, como se nós, por um motivo ou outro, não<br />
merecêssemos ter um filho, e por isso não estávamos conseguindo.
Aproximadamente após quatro anos de tratamento, sofrimento e angústia, ouvi falar de um<br />
movimento, ainda tímido em minha cidade, de mães que se propunham a orar com afinco pelos<br />
seus filhos. Comecei a orar não só para que Deus me desse um filho, mas para que Deus<br />
abençoasse o meu filho. Nessa mesma época o pastor Georges Canelhas <strong>este</strong>ve em minha<br />
igreja e pregou em Salmos 5:3 que diz: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz; de manhã te<br />
apresento a minha oração e fico esperando”. Apesar de toda agonia vivida por nós, Deus falou<br />
profundamente do nosso coração naquela manhã de Domingo e a partir daí tudo tomou outro<br />
rumo.<br />
Algum tempo depois, meu cunhado Samuel Costa da Silva, que é pastor presbiteriano em<br />
Brasília, nos ligou pois ficara sabendo de uma médica, em sua cidade, que era especialista na<br />
área de reprodução humana. Segundo o Samuel ela já havia solucionado vários casos, tidos<br />
como sem solução. Resolvemos mudar mais uma vez de médico e, apesar de Brasília não ficar<br />
tão perto de nossa cidade, algo nos dizia que tínhamos de tentar mais uma vez. Já nas minhas<br />
primeiras consultas com esta médica, ficou claro que havia muitos diagnósticos errados por<br />
parte daqueles que vinham nos atendendo até então. Eu ovulava sim, talvez não regularmente,<br />
mas ovulava; a taxa de espermatozóide de meu marido não era problema, e o mais chocante:<br />
eu não tinha nenhuma trompa obstruída. Começamos a enxergar uma luz no fim do túnel, que<br />
era nada mais que Deus resolvendo nosso problema. A partir de agora era só uma questão de<br />
tempo.<br />
Tivemos ainda meses de sofrimento e angústia, pois apesar de vermos a mão de Deus<br />
operando em nossas vidas, a nossa fé é pequena, é como se fosse demais, depois de tudo<br />
que tínhamos passado, recebermos essa benção. Muitos comentários ouvimos ainda, tais<br />
como: quando vocês esquecerem do filho ele vem naturalmente. Por mais que confiássemos<br />
em Deus, como esquecer depois de cinco anos de tentativa, que queríamos um filho?<br />
Começamos outra batalha, agora pedindo a Deus que nos desse confiança Nele, para que<br />
nossa ansiedade fosse deixada de lado, mas não conseguíamos, todo mês a ansiedade pela<br />
resposta de Deus era muito grande.<br />
No ano de 1999 meu marido foi convidado a ser professor da<br />
Escola Dominical, na sala da mocidade de nossa igreja. Como<br />
vínhamos sendo incomodados por Deus para voltarmos a trabalhar<br />
em sua obra, logo meu marido aceitou o convite. No carnaval d<strong>este</strong><br />
mesmo ano, como sempre os jovens iam realizar seu<br />
acampamento, e como estávamos trabalhando há pouco tempo<br />
entre eles, decidimos que passaríamos apenas dois dias no<br />
acampamento, para ajudar na coordenação do acampamento.<br />
Nosso envolvimento foi tão grande que, estando eu ovulando naqueles<br />
dias, nem sequer nos<br />
lembramos que enfrentávamos nosso problema de infertilidade – finalmente Deus permitiu que<br />
esquecêssemos o nosso “problema”. Sem que soubéssemos, o Senhor havia preparado tudo<br />
para que ele pudesse fazer sua obra em nós. Naqueles dias, nosso bom Deus falou<br />
profundamente ao nosso coração, através da leitura de Sua Palavra e dos cânticos. As letras<br />
daqueles cânticos ficaram em nossa memória, pois diziam:<br />
Se disseres a mim, lance a rede ao mar<br />
sobre Tua Palavra lançarei minha fé<br />
Se disserdes, enfim, vem e anda até mim<br />
Sobre as águas do mar, certamente andarei.<br />
E se acaso eu vier me afundar, percebendo a fúria do mar<br />
mesmo assim posso em Ti confiar<br />
Pois sei que tua mão se <strong>este</strong>nderá, e não deixará que eu venha na fé naufragar.<br />
Mesmo na tribulação<br />
confusão, dias difíceis, de choro e solidão<br />
sempre haverá pra mim uma porta aberta<br />
resposta certa, livramento especial.<br />
A esperança que coloca em nossos corações vem assinada por Tua grandeza<br />
haverá consolo, renovação, da fraqueza<br />
brotará a força de um vulcão.
Aclame ao Senhor toda Terra<br />
e cantemos, poder majestade e louvores ao Rei<br />
montanhas se prostrem e rujam os mares ao som de Teu nome.<br />
alegre te louvo por Teus grandes feitos<br />
firmado estarei, sempre te amarei<br />
incomparáveis são Tuas promessas pra mim.<br />
O que nós não sabíamos, naqueles dias de tamanha intimidade com Deus, é que Ele estava<br />
nos dando, da forma mais simples possível, sem que nós nos déssemos conta, o que mais<br />
almejávamos: um filho. No dia 11 de novembro do mesmo ano, éramos presenteados com a<br />
chegada de Felipe, que trouxe tantas bênçãos e alegria às nossas vidas. Tanta alegria não é<br />
possível descrever. Os problemas que tivemos cabem numa carta, mas a alegria e satisfação<br />
de ter sido atendida por Deus, talvez não caberia num livro. Nós, que traçávamos uma<br />
infinidade de planos para nossas vidas (pois nos julgamos muito organizados), pudemos<br />
aprender que “o coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa vem dos lábios do<br />
Senhor”(Prov. 16:1). Jamais nos esqueceremos que “de manhã Senhor, ouves a minha voz; de<br />
manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Sal 5L:3).<br />
Norma Macêdo Gontijo da Silva<br />
Trabalha na Universidade Federal de Uberlândia,<br />
é membro da Igreja Presbiteriana Central de<br />
Uberlândia e filiada ao Movimento Desperta Débora.