O Sentido Social e o Contexto Político da Guerra de Canudos
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adicais <strong>da</strong> República, os florianistas, não só invadiram e <strong>de</strong>pre<strong>da</strong>ram os jornais<br />
monarquistas como assassinaram um dos seus diretores, o coronel Gentil <strong>de</strong><br />
Castro e procuraram para matar até mesmo os liberais do regime, como Rui<br />
Barbosa e Arthur Rios, contrários à ditadura militar.<br />
A ameaça militarista<br />
Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes, que no dia 4 <strong>de</strong> março reassumira a presidência,<br />
arrostou uma “crise profun<strong>da</strong>mente política”, ao ver <strong>de</strong> Rui Barbosa, “a mais grave<br />
em que já se encontrou o regime republicano” 55 . Como José Maria Belo salientou,<br />
ele não tinha certeza sequer <strong>de</strong> sua segurança pessoal e “seria sempre possível à<br />
audácia crescente dos jacobinos um golpe <strong>de</strong> mão para <strong>de</strong>pô-lo”, 56 pois o que<br />
ameaçava a República, naquele momento, não era a restauração <strong>da</strong> Monarquia,<br />
mas a instauração <strong>da</strong> ditadura militar, para a qual o movimento <strong>de</strong> <strong>Canudos</strong> servia<br />
como pretexto. Tanto esta perspectiva se <strong>de</strong>lineava que, no dia 26 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
1897, a Escola Militar do Rio <strong>de</strong> Janeiro amotinou-se, certos os ca<strong>de</strong>tes <strong>de</strong> que<br />
contariam com o respaldo <strong>de</strong> outras forças políticas e militares. O levante abortou.<br />
Mas, mesmo sob a presidência <strong>de</strong> Pru<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Moraes, a República, a diferenciar-<br />
se <strong>da</strong> Monarquia que sempre se mantivera essencialmente civil, militarizava-se. O<br />
número <strong>de</strong> efetivos do Exército, <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 14.109, em 1889, quando a<br />
República se instalara, subira para 24.877, em 1891, e recrescera, em 1896, para<br />
28.160 57 . Destes, entre 6.000 e 10.000 sol<strong>da</strong>dos, cerca <strong>de</strong> 30 oficiais, formando 30<br />
batalhões do Exército, excluídos os corpos <strong>de</strong> outras armas 58 , contra <strong>Canudos</strong><br />
mobilizados então foram, sob o comando do general Artur Oscar <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong><br />
Guimarães, conhecido como “florianista vermelho” 59 , que se distinguira na<br />
campanha contra os fe<strong>de</strong>ralistas do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e <strong>de</strong>ixara “a <strong>de</strong>gola<br />
campear à vonta<strong>de</strong>”, nem os feridos respeitando 60 . Como se estivessem em uma<br />
cruza<strong>da</strong> para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a República, contra suposta ameaça <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong><br />
Monarquia, eles, na maioria oriundos do Sul do país, porque os nor<strong>de</strong>stinos<br />
freqüentemente <strong>de</strong>sertavam, acamparam no alto <strong>da</strong> Favela, morro situado em<br />
frente <strong>de</strong> <strong>Canudos</strong>, cujas viven<strong>da</strong>s mal construí<strong>da</strong>s, a somarem mais <strong>de</strong> 5.200,<br />
compunham ruas tortuosas e formavam ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro labirinto.<br />
55 Apud Moniz, E., op. cit., p. 154.<br />
56 Belo, J. M., op. cit. p. 203.<br />
57 Moltmann, B., op. cit. p. 32.<br />
58 Moniz, E., op. cit. p. 157, 214 e 220. Cunha, E., op. cit. p. 355, 359 e 363.<br />
59 Belo, J.M., op. cit. p. 205.<br />
60 Vernalha, M., op. cit. p. 156.<br />
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