Magneti desenvolve camisas de cilindro em alumínio - Abal
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+ Entrevista:<br />
Engenharia capitalizada<br />
+ Tecnologia:<br />
Camisas <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong><br />
+ Transporte:<br />
Alumínio naval<br />
+ Competitivida<strong>de</strong>:<br />
Selo <strong>de</strong> eficiência<br />
+ Ensaio:<br />
Ford investe <strong>em</strong> nanotecnologia<br />
<strong>Magneti</strong> <strong><strong>de</strong>senvolve</strong> <strong>camisas</strong> <strong>de</strong> <strong>cilindro</strong> <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong><br />
Fabricante firma parceria com Mackenzie e quer ser a primeira autopeça a<br />
disponibilizar o componente, produzido com <strong>alumínio</strong> centrifugado<br />
A fabricante <strong>de</strong> auto-peças <strong>Magneti</strong> Marelli Cofap <strong><strong>de</strong>senvolve</strong> procedimentos para produção <strong>de</strong><br />
<strong>camisas</strong> <strong>de</strong> <strong>cilindro</strong> <strong>de</strong> motor automotivo <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong>, inédita no Brasil. O projeto, ainda <strong>em</strong> fase<br />
inicial, está sendo elaborado a partir <strong>de</strong> um convênio <strong>de</strong> cooperação técnica e científica com a<br />
Escola <strong>de</strong> Engenharia da Universida<strong>de</strong> Presbiteriana Mackenzie (UPM), que hoje investiga os<br />
processos para aplicação <strong>de</strong> ligas <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong>-silício (Al-Si), fundidas por centrifugação.<br />
A competitivida<strong>de</strong> é o que motiva a companhia a buscar uma nova matéria-prima a ser ofertada<br />
como opcional para o principal componente <strong>de</strong> sua linha <strong>de</strong> produtos. “No mercado<br />
automobilístico, a redução <strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> energia é um diferencial competitivo muito forte e,<br />
para aten<strong>de</strong>r a essa necessida<strong>de</strong>, um dos fatores chave é a redução do peso do veículo, e por<br />
isso o <strong>alumínio</strong>”, diz Carlos Lopes, gerente geral da companhia. Segundo ele, a aplicação do<br />
metal não-ferroso <strong>de</strong>ve reduzir 60% do peso das <strong>camisas</strong> dos <strong>cilindro</strong>s, hoje fabricadas<br />
exclusivamente <strong>em</strong> ferro fundido no mercado brasileiro.<br />
De acordo com Lopes, o intento da <strong>em</strong>presa com o <strong>de</strong>senvolvimento é aten<strong>de</strong>r à crescente<br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> blocos <strong>de</strong> motores <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong> para veículos leves, li<strong>de</strong>rada no Brasil por <strong>em</strong>presas<br />
como Honda, Hyundai, Toyota e Peugeot-Citröen. “As <strong>camisas</strong> <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong> oferec<strong>em</strong> maior<br />
vantag<strong>em</strong> se usadas <strong>em</strong> motores <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong> e não <strong>de</strong> ferro fundido porque o investimento<br />
necessário não compensaria uma redução <strong>de</strong> peso pontual, exclusiva à camisa e não ao bloco<br />
todo”, diz. Se aplicadas a blocos <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong>, geralmente até 30% mais leve que a concorrência,<br />
a diminuição <strong>de</strong> massa do tubo cilíndrico equivaleria a um abatimento <strong>de</strong> seis quilos do peso total<br />
do motor.<br />
Hoje, as <strong>camisas</strong> representam mais <strong>de</strong> 95% do faturamento da <strong>Magneti</strong> Marelli, que produz<br />
anualmente nove milhões e meio <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s, entre <strong>camisas</strong> <strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> motor <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong>,<br />
<strong>camisas</strong> molhadas (para caminhões movidos a diesel) e secas (caminhonetes e veículos pesados<br />
<strong>de</strong> menor torque, também a diesel) e <strong>cilindro</strong>s aletados, o único <strong>de</strong>ntre o portifólio da <strong>Magneti</strong><br />
não fabricado por meio <strong>de</strong> fundição por centrifugação <strong>em</strong> ferro fundido. Lopes cogita que o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong> centrifugado po<strong>de</strong>rá também ser aproveitado para fabricação <strong>de</strong><br />
anéis <strong>de</strong> fogo, componente situado próximo à câmara <strong>de</strong> combustão do motor e que impe<strong>de</strong> a<br />
passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> gases durante a explosão do <strong>cilindro</strong>. “Mas ainda é muito cedo para dizer”, pon<strong>de</strong>ra.<br />
Mas o maior <strong>de</strong>safio tecnológico para essa aplicação é unir leveza à dureza. A camisa <strong>de</strong> <strong>cilindro</strong><br />
automotivo exige gran<strong>de</strong> resistência ao <strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>vido à abrasão exercida pelos anéis do pistão<br />
sobre a superfície interna do componente durante o funcionamento do motor. Para aten<strong>de</strong>r a esse<br />
requisito e ainda contribuir para a competitivida<strong>de</strong> energética das montadoras, os engenheiros da<br />
instituição e da <strong>em</strong>presa estudam um processo <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> uma liga hipereutética <strong>de</strong><br />
<strong>alumínio</strong>-silício por centrifugação.
consi<strong>de</strong>ravelmente a resistência ao <strong>de</strong>sgaste da liga. Contudo, ligas com gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
silício também po<strong>de</strong>m ser um probl<strong>em</strong>a, uma vez que fragilizam o material. Para <strong>de</strong>satar esse<br />
nó, os pesquisadores realizam testes com uma centrífuga que permita concentrar o el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong><br />
liga apenas na área exposta à abrasão e na quantida<strong>de</strong> exata.<br />
Como o silício apresenta menor <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> que o <strong>alumínio</strong>, quando vazado numa centrífuga numa<br />
velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1500 rotações por minuto, ele ten<strong>de</strong> a se concentrar na pare<strong>de</strong> interna da camisa.<br />
“Nestas condições, estariam atendidos os requisitos <strong>de</strong> resistência ao <strong>de</strong>sgaste na superfície<br />
interna da camisa <strong>de</strong>vido ao alto teor <strong>de</strong> silício segregado e ao mesmo t<strong>em</strong>po o componente não<br />
fragilizaria, pois o restante da camisa teria teor <strong>de</strong> silício mais baixo”, explica um dos<br />
coor<strong>de</strong>nadores do projeto e professor <strong>de</strong> engenharia <strong>de</strong> materiais da universida<strong>de</strong>, Antonio<br />
Augusto Couto.<br />
Os engenheiros agora estudam os parâmetros ótimos da fundição, como as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
rotação da centrífuga e <strong>de</strong> vazamento do metal líquido e as t<strong>em</strong>peraturas do <strong>alumínio</strong> e do<br />
mol<strong>de</strong>. “Já realizamos alguns testes muito b<strong>em</strong>-sucedidos, <strong>em</strong> que a espessura da camisa ficou<br />
uniforme. Mas ainda perceb<strong>em</strong>os alguns vazios internos e t<strong>em</strong>os que ajustar algumas variáveis<br />
para que o silício vá para on<strong>de</strong> t<strong>em</strong> que ir”, diz Couto.<br />
Vantagens do <strong>alumínio</strong> centrifugado<br />
Atualmente, segundo o mentor do projeto junto ao Mackenzie, Gilson Vicentini, gerente<br />
comercial da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> camisa, há no mínimo meia dúzia <strong>de</strong> tecnologias para fabricação <strong>de</strong><br />
<strong>camisas</strong> <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong> para blocos. “Mas o processo por centrifugação é o que mais apostamos”,<br />
explica. Entre as principais vantagens, estão: alta produtivida<strong>de</strong> (expectativa <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />
quatro <strong>camisas</strong> por minuto), melhoria das proprieda<strong>de</strong>s mecânicas e menor porosida<strong>de</strong> do<br />
material, evitando futuras fraturas.<br />
Couto, do Mackenzie, explica: “Outros processos <strong>de</strong> fundição, como a fundição por gravida<strong>de</strong>,<br />
gera um produto com um elevado nível <strong>de</strong> porosida<strong>de</strong>, in<strong>de</strong>sejável para todas as proprieda<strong>de</strong>s<br />
mecânicas da liga. Com a fundição por centrifugação, o nível <strong>de</strong> porosida<strong>de</strong> é extramente baixo,<br />
melhorando todas as proprieda<strong>de</strong>s mecânicas das ligas <strong>de</strong> <strong>alumínio</strong>”, explica. Segundo ele, a<br />
força provocada pela centrifugação pressiona o metal líquido contra a pare<strong>de</strong> do mol<strong>de</strong><br />
diminuindo a porosida<strong>de</strong> da liga, diz. Além do baixo peso, as ligas com Al-Si agregam vantagens<br />
como alta flui<strong>de</strong>z, baixa contração nos fundidos, elevada resistência à corrosão, boa<br />
soldabilida<strong>de</strong>, fácil brasag<strong>em</strong> e baixo coeficiente <strong>de</strong> expansão térmica.<br />
O estudo ainda está <strong>em</strong> fase preliminar, mas entre os pesquisadores da <strong>Magneti</strong> e do Mackenzie,<br />
o otimismo é gran<strong>de</strong>. Atualmente, até mesmo veículos equipados com motores <strong>em</strong> <strong>alumínio</strong>,<br />
como o Fit, da Honda, (veja reportag<strong>em</strong>) ainda levam <strong>camisas</strong> <strong>de</strong> ferro fundido. Se a viabilida<strong>de</strong><br />
da utilização <strong>de</strong>ssa liga <strong>em</strong> alguns tipos <strong>de</strong> motores se confirmar, será não apenas um feito<br />
inédito como a abertura <strong>de</strong> um mercado promissor e já bastante <strong>de</strong>mandado.