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Esta unidade tem por objectivo ajudá-lo a compreender o conceito<br />
de textualidade, isto é, as características que conferem a<br />
determinadas manifestações linguísticas humanas a designação de<br />
texto. Os mecanismos que asseguram a unidade/ estruturação de<br />
um texto (tecido) são a coesão e a coerência<br />
Conceitos e Aplicações<br />
1. COESÃO<br />
1.1. Mecanismos de coesão gramatical<br />
1.1.1. Coesão frásica<br />
1.1.2. Coesão interfrásica<br />
1.1.3. Coesão temporal<br />
1.1.4. coesão referencial<br />
1.2. Mecanismos de coesão lexical<br />
1.2.1. Repetição<br />
1.2.2. Substituição<br />
a) sinonímia<br />
b) antonímia<br />
c) hiperonímia/ hiponímia<br />
d) holonímia/ meronímia<br />
2. COERÊNCIA<br />
2.1. Coerência lógico-conceptual<br />
a)Princípios lógico-conceptuais<br />
* ordenação lógica das situações apresentadas<br />
* relações lógicas entre as situações<br />
* propriedades e características dos objectos de<br />
um mundo “normal”<br />
2.1. Coerência textual<br />
a)Regras de coerência textual<br />
* repetição<br />
* progressão<br />
* não contradição<br />
* relação<br />
Utilidade<br />
“Quando usam a língua, os falantes não<br />
produzem palavras ou frases isoladas,<br />
desligadas umas das outras e do<br />
contexto situacional e discursivo. Pelo<br />
contrário, tanto os produtos resultantes<br />
do uso primário da língua na situação<br />
básica da conversa como os que<br />
resultam da língua escrita em situações<br />
não pessoais, tanto os produtos de um<br />
só locutor como os que resultam de<br />
uma actividade colaborativa de vários<br />
falantes são objectos dotados de sentido<br />
e de unidade – ou seja, são produtos<br />
coesos internamente e coerentes com o<br />
mundo, relativamente ao qual devem<br />
ser interpretados. A tais produtos<br />
chama-se textos.”<br />
Mª Helena Mira Mateus et alii, Gramática da Língua<br />
Portuguesa
A coesão designa o conjunto de processos<br />
linguísticos que asseguram as ligações na frase e<br />
entre frases. A coesão, enquanto aspecto de<br />
gramaticalidade, está ligada à competência<br />
linguística dos falantes.<br />
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coesão frásica: processo que<br />
assegura a unidade entre os diferentes<br />
elementos linguísticos de uma frase<br />
simples ou de uma oração<br />
Ordenação das palavras na frase;<br />
concordância das palavras em género<br />
e/ou número; regência de preposições.<br />
Para que uma frase seja gramaticalmente correcta (coesa), os elementos<br />
linguísticos que a compõem devem obedecer quer a uma organização<br />
interna, quer a fenómenos de concordância. Vejam-se os exemplos:<br />
a) Os pais discutiram o assunto<br />
Lendo a frase, não restam dúvidas de que esta é um exemplo de frase<br />
coesa e isto porque:<br />
* os seus constituintes se organizam segundo a ordem sintáctica normal da língua<br />
portuguesa – sujeito/verbo/objecto<br />
*nela estão respeitados todos os princípios de concordância: determinante e nome,<br />
masculinos e plural, que constituem o sujeito da frase, concordam com o verbo,<br />
também ele plural<br />
b) O aluno mais velhos da escola tiveram o privilégio<br />
de encabeçar a lista da associação de estudantes<br />
Esta frase é um exemplo de frase não coesa, dado que, no grupo nominal,<br />
não há concordância entre o nome e o adjectivo que o caracteriza.<br />
Também o verbo não concorda em número com o sujeito.
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coesão interfrásica: processo que<br />
assegura a articulação de orações,<br />
frases e parágrafos entre si.<br />
O João leu um romance, a Maria leu uma revista.<br />
A frase é coesa pela simples justaposição das orações<br />
Coordenação; subordinação;<br />
articulação por outros<br />
conectores/organizadores<br />
Existem dois processos que asseguram a unidade das frases constituídas por mais do que<br />
uma oração (frases compostas ou complexas): a coordenação (sindética e assindética) e a<br />
subordinação.<br />
Fui a Paris, mas não visitei a Torre Eiffel.<br />
A conjunção mas, apesar de prescindível, une as duas<br />
orações e torna a frase coesa<br />
O João pensa que vencerá mais um obstáculo.<br />
A segunda oração, introduzida pela conjunção<br />
completiva integrante que, completa o sentido da<br />
primeira oração e é imprescindível para a coesão da<br />
frase.<br />
Coordenação assindética<br />
Coordenação sindética<br />
Subordinação<br />
A conexão entre várias frases, com vista à formação de unidades mais<br />
amplas, o parágrafo, é assegurada por conectores/ organizadores<br />
discursivos ou sinais de pontuação (que marcam a pausa e a melodia).
EXEMPLOS DE COESÃO NO INTERIOR DO PARÁGRAFO<br />
"A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente<br />
havia um pátio quadrado. À direita um laranjal onde noite e<br />
dia corria uma fonte. À esquerda era o jardim de buxo,<br />
húmido e sombrio, com suas camélias e seus bancos de<br />
azulejo."<br />
Sophia de Mello Breyner Andresen,"O Jantar do Bispo? Contos Exemplares<br />
"Desde sempre a poesia foi, de entre todas as<br />
actividades do espírito, aquela em que os portugueses<br />
mais se distinguiram. Com efeito, num momento em que<br />
particularmente importa avaliar o que, ao longo dos<br />
tempos, foi o nosso contributo para a formação de uma<br />
cultura europeia, há que reconhecer que muito poucas<br />
pessoas serão as figuras capazes de ombrear noutros<br />
domínios com as suas congéneres de outras nações."<br />
Luís Miguel Nava,"Introdução"Antologia de Poesia Portuguesa<br />
"Pequenos ou mesmo minúsculos em tamanho,<br />
gigantes em número e em idade, campeões do disfarce e do<br />
ardil, mestres na arte da sobrevivência, os insectos são os<br />
verdadeiros senhores do planeta. Joaninhas, grilos,<br />
pirilampos, insectos-pau, eles sim - muito mais<br />
provavelmente do que nós - serão naturais protagonistas<br />
no distante amanhã que cantam."<br />
Notícias Magazine, 11 de Agosto de 2002<br />
Nesta descrição, os elementos<br />
estão organizados através de<br />
expressões: Em sua frente, À<br />
direita, À esquerda<br />
(organizadores discursivos).<br />
A conexão entre as duas frases fazse<br />
por meio de com efeito,<br />
conector que exprime a<br />
confirmação do que foi<br />
anteriormente dito.<br />
Neste parágrafo, que integra duas<br />
frases, a pausa, representada<br />
graficamente pelo ponto final, é<br />
determinante para a organização e<br />
encadeamento das ideias.
EXEMPLOS DE COESÃO NO INTERIOR DO PARÁGRAFO<br />
"Se, nos dias de hoje, os mais pequenos gestos da<br />
nossa vida são enquadrados pela presença de entidades<br />
derivadas da ciência, como é que isto pode ter<br />
acontecido? Se chegámos ao ponto de funcionar por<br />
obra e graça de microchips, alimentos enriquecidos com<br />
vitaminas, ou antibióticos ou vacinas, porque é que<br />
sabemos tão pouco sobre logaritmos, enzimas de<br />
restrição, ou a organização de colónias bacterianas? O que<br />
falhou?<br />
O que falhou, fundamentalmente, foi que a explicação<br />
da ciência ao público não foi cuidadosamente<br />
programada desde o início."<br />
Clara Pinto Correia, Clones Humanos Sobre o Texto<br />
"(...) o Body Jam garante uma significativa melhoria<br />
cardiovascular, ajuda a perder peso e favorece uma maior<br />
consciência corporal, pela coordenação motora que é<br />
estimulada durante as aulas. Tudo isto, claro, aliado ao<br />
prazer do ritmo e à descontracção proporcionada por uma<br />
hora de dança...<br />
Em suma, uma modalidade que assegura excelentes<br />
resultados para o corpo e mente."<br />
In Saúde e Bem-Estar, Outubro de 2003<br />
"Até há bem pouco tempo, pensou-se que os<br />
recursos da Terra eram inesgotáveis e que a intervenção<br />
do Homem não teria grande influência no<br />
desenvolvimento normal dos ciclos da Natureza.<br />
No entanto, actualmente sabemos que o mundo<br />
civilizado lança grande quantidade de gases para a<br />
atmosfera e que esses gases que deveriam ser<br />
absorvidos pelas plantas não o são em quantidade<br />
suficiente."<br />
In Notícias Magazine, Setembro de 2003<br />
A conexão entre os dois parágrafos é<br />
feita pelo jogo pergunta/resposta,<br />
assinalado graficamente pelo<br />
ponto de interrogação, ao qual<br />
corresponde a entoação.<br />
A ligação entre os parágrafos fazse<br />
através do organizador em<br />
suma, que introduz a conclusão<br />
do exposto anteriormente.<br />
A ligação entre os parágrafos fazse<br />
através do conector no<br />
entanto, que estabelece uma<br />
oposição entre o que vai ser dito<br />
e o anteriormente referido.
COESÃO<br />
TEMPORAL<br />
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coesão temporal: processo que<br />
consiste na sequencialização dos<br />
enunciados, segundo uma lógica<br />
temporal.<br />
Expressões adverbiais ou<br />
preposicionais com valor temporal;<br />
datas; expressões que assinalam<br />
ordem; utilização correlativa de tempos<br />
verbais.<br />
Há vários processos que estabelecem nexos temporais entre acções. As<br />
frases que se seguem exemplificam esses mecanismos.<br />
A patroa discutiu com todos os empregados e saiu<br />
zangada.<br />
Primeiro dirigiu-se ao indivíduo, depois pediu-lhe<br />
contas pelo sucedido.<br />
Quando a polícia chegou, o ladrão já tinha fugido.<br />
Ela é uma pessoa inconstante: ontem tinha uma<br />
ideia, hoje tem outra.<br />
O dia 25 de Abril de 1974 foi decisivo para o país.<br />
A ordenação dos<br />
acontecimentos é feita<br />
segundo a ordem<br />
cronológica<br />
Utilização de expressões<br />
que assinalam a ordem dos<br />
acontecimentos<br />
Emprego correlativo de<br />
tempos verbais<br />
Uso de expressões de<br />
tempo em consonância com<br />
os tempos verbais<br />
Indicação de uma data
Conhecer os conceitos<br />
Coesão Referencial: : propriedade dos<br />
textos (orais e escritos) em que<br />
determinadas expressões linguísticas<br />
estabelecem relações de dependência<br />
com o discurso anterior, o discurso<br />
subsequente<br />
comunicação.<br />
ou a situação de<br />
COESÃO<br />
REFERENCIAL<br />
Os processos<br />
Anáforas lexicais, anáforas pronominais,<br />
elipses, catáforas lexicais, pronominais,<br />
deícticos.<br />
Para que um texto progrida, mas mantenha sempre activados certos referentes, é<br />
necessária a retoma desses mesmos referentes, o que assegura a coesão textual.<br />
Designamos por referente a entidade do mundo real ou fictício para a qual remete uma<br />
expressão linguística.<br />
"Havia um rei que tinha uma filha. Era ele não só muito<br />
impertinente, mas desconfiado. Logo que a criança nasceu,<br />
meteu-a numa torre com uma ama por companheira e<br />
mestra. Permitia-lhe sair ao jardim, passear pelo terraço,<br />
mas não consentia que [-] frequentasse reuniões ou [-] fizesse<br />
visitas."<br />
Cadeia referencial:<br />
uma filha —> a criança —> a —> lhe —><br />
[-]—> [-]<br />
referente antecedente: uma filha<br />
anáfora nominal: a criança<br />
anáforas pronominais: o/ lhe<br />
anáforas através da elipse: [-]<br />
No excerto transcrito, as expressões sublinhadas não têm referência autónoma, só<br />
podem ser interpretadas enquanto dependentes da expressão inicial (referente antecedente)<br />
- uma filha. Assim, designamos as expressões sublinhadas por anáforas, na<br />
medida em que remetem para algo que foi dito anteriormente. Integrados nesta<br />
cadeia referencial surgem dois lugares vazios na posição de sujeito, assinalados por [-].<br />
Esses espaços seriam preenchidos pelo referente a filha. Aos elementos da cadeia<br />
referencial, porque têm o mesmo referente, chamam-se co-referentes.
COESÃO<br />
REFERENCIAL<br />
"Sonhava ser jogadora de futebol para tentar seguir os<br />
passos de Eusébio.(...) O desejo da jovem musculada foi<br />
transformado pelo escritor Craveirinha, que a viu correr e<br />
jogar e acreditou imediatamente que tinha encontrado uma<br />
verdadeira campeã das pistas. (...) Três anos depois - e<br />
após a presença [-] nas Olimpíadas de Seul - Maria de<br />
Lurdes Mutola já estava nos Estados Unidos (...)."<br />
"Única" Expresso, 6 de Setembro de 2003<br />
Cadeia referencial:<br />
jogadora de futebol —> jovem musculada<br />
—> a —> uma verdadeira campeã das<br />
pistas —> [-] —>Maria de Lurdes Mutola<br />
catáforas nominais: jogadora de futebol/<br />
jovem musculada/ a/ uma verdadeira<br />
campeã das pistas<br />
catáforas pronominais: a<br />
catáforas através da elipse: [-]<br />
referente subsequente: Maria de Lurdes<br />
Mutola<br />
Lido o texto, apercebemo-nos de que as expressões sublinhadas têm de ser<br />
interpretadas como dependentes de uma outra que só ocorre no final do excerto.<br />
Assim, e dado que a cadeia referencial não corresponde à ordem linear, as expressões<br />
sublinhadas são catáforas relativamente à expressão nominal final (Maria de Lurdes<br />
Mutola).<br />
-O teu é maior! Troca pelo meu…!<br />
(Pedido do locutor - uma criança, depois de verificar que<br />
o seu gelado é mais pequeno que o do alocutário.)<br />
Referentes - não explicitados no enunciado,<br />
mas reconhecíveis no contexto situacional.<br />
Deícticos - o teu; o meu<br />
Neste exemplo de situação de comunicação oral, o referente não está nomeado no<br />
enunciado, surge apenas pronominalizado. Isto é possível pelo facto de locutor e<br />
alocutário estarem presentes no mesmo contexto situacional, identificando, assim,<br />
facilmente o referente. Estas expressões que remetem para o contexto situacional<br />
(locutor, alocutário, momento e lugar de enunciação) são os deícticos.
Mecanismos de<br />
coesão lexical<br />
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coesão lexical: processo que<br />
assegura a relação co-referencial entre<br />
expressões linguísticas presentes nos<br />
enunciados.<br />
Repetição<br />
Substituição (sinonímia, antonímia,<br />
hiperonímia/hiponímia, holonímia/<br />
meronímia<br />
Vários são os processos que, ao nível do léxico, asseguram a coesão textual:<br />
Repetição<br />
"Elas são quatro milhões, o dia nasce, elas acendem o<br />
lume. Elas cortam o pão e aquecem o café. Elas<br />
picam cebolas e descascam batatas."<br />
Substituição<br />
O rapaz sempre que se dirigia ao prior corava. O<br />
padre questionava-o até ao pormenor.<br />
O João jurava à namorada que dizia a verdade, mas<br />
ela sabia que ele mentia.<br />
Os meios de transporte marítimos são mais<br />
poluentes do que os aéreos. Veja-se o exemplo do<br />
petroleiro "Prestige" que ao partir-se em dois<br />
largou enormíssimas manchas de crude, poluindo<br />
assim toda a costa da Galiza.<br />
Os universitários reuniram-se uma vez mais para<br />
protestar contra o aumento das propinas. Recordese<br />
que as acções dos estudantes são cada vez mais<br />
frequentes no nosso país.<br />
O João tem um carro espectacular! Caixa automática,<br />
estofos em pele, tecto de abrir, jantes de liga leve, ar<br />
condicionado automático, caixa de CD!<br />
Repetição<br />
Sinonímia<br />
Antonímia<br />
Hiperonímia/ hiponímia<br />
Hiponímia/ hiperonímia<br />
Holonímia/ meronímia
A coesão designa a aceitabilidade de um enunciado oral ou<br />
escrito. Resulta da interacção entre o conteúdo informacional dos<br />
enunciados e o conhecimento do mundo de cada falante. A<br />
coerência está, pois, ligada à competência enciclopédica e ao<br />
conhecimento da situação comunicativa. É um factor<br />
determinante para a textualidade<br />
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coerência lógico-conceptual: uma frase ou um<br />
texto é coerente se as situações nele/a recriadas<br />
estiverem conforme àquilo que sabemos do mundo e<br />
se forem respeitados os princípios de natureza<br />
lógica<br />
1. ordenação lógica das situações<br />
apresentadas;<br />
2. estabelecimento de relações lógicas entre<br />
as situações;<br />
3. atribuição de propriedades e características<br />
dos objectos conformes ao mundo normal<br />
Um texto para ser coerente tem de respeitar os princípios lógico-conceptuais<br />
1. Ordenação lógica das situações apresentadas<br />
A) Entrei no consultório. Havia revistas de capas coloridas. Uma pequena mesa estava debaixo delas.<br />
B) Entrei no consultório. Havia revistas de capas coloridas em cima de uma pequena mesa.<br />
C) Entrei no consultório. Primeiro vi vi revistas de capas coloridas. Só depois reparei na pequena mesa<br />
que estava debaixo delas.<br />
A frase a) é uma frase incoerente, pois a ordenação dos elementos descritos não<br />
corresponde ao modo como, geralmente, os percepcionamos na realidade.<br />
A frase b) é uma frase coerente, pois a ordem dos elementos descritos corresponde ao<br />
modo como, geralmente, os percepcionamos na realidade.<br />
A frase c) é uma frase coerente, pois as formas linguísticas primeiro, só depois<br />
determinam a ordem pela qual a realidade foi percepcionada.
2. Relações lógicas entre as situações<br />
A) As ruas estão molhadas porque não choveu.<br />
B) O piso está escorregadio porque choveu.<br />
A frase a) é uma frase incoerente, visto que o nexo de causalidade nela estabelecido<br />
entra em ruptura com o nosso conhecimento do mundo.<br />
A frase b) é uma frase coerente, visto que nela se estabelece um nexo de causalidade<br />
conforme a nossa visão do mundo.<br />
3. Propriedades e características dos objectos conformes ao<br />
mundo normal<br />
A) A mesa dançou toda a noite.<br />
B) A rapariga dançou toda a noite no palco iluminado.<br />
A frase a) é uma frase incoerente, visto que as propriedades atribuídas ao objecto mesa<br />
não são conformes à nossa visão do mundo.<br />
A frase b) é uma frase coerente, pois as propriedades/ características atribuídas aos<br />
indivíduos e ao objecto palco estão de acordo com o nosso conhecimento do mundo.<br />
PARÊNTESES PARA A FICÇÃO
Conhecer os conceitos Os processos<br />
Coerência textual: para que um texto seja coerente,<br />
isto é, possua uma unidade de sentido, as relações<br />
de ordem e de lineariedade das ocorrências textuais<br />
não podem ser arbitrárias. A unidade semântica<br />
global obedece, pois, a um conjunto de regras.<br />
COERÊNCIA<br />
TEXTUAL<br />
1. Repetição<br />
2. Progressão<br />
3. Não contradição<br />
4. Relação<br />
1.) A regra da repetição assegura o desenvolvimento temático do texto, sem rupturas nem<br />
ambiguidades. São vários os recursos linguísticos que garantem a repetição (ou retoma): as<br />
anáforas, as catáforas e os deícticos .<br />
"Um homem de grandes artes tinha na sua companhia<br />
um sobrinho que lhe guardava a casa enquanto ele<br />
dormia. De uma vez, [-] deu-lhe duas chaves e [-]<br />
recomendou:<br />
- Estas chaves são daquelas duas portas. Não as<br />
abras por nada deste mundo, senão morres.<br />
O rapaz, assim que [-] se viu sozinho [-] não se<br />
lembrou mais da ameaça e [-] abriu uma das portas."<br />
"O Aprendiz de Feiticeiro" Contos Populares Portugueses<br />
Repare-se como neste parágrafo a<br />
repetição assegura não só a coesão como<br />
também a progressão temática. O texto vai<br />
progredindo pela retoma pronominal e<br />
lexical sucessiva dos referentes "Um homem"<br />
(sua, lhe, ele, [-]) e "um sobrinho" (que, lhe, o<br />
rapaz, [-], se, [-], se, [-]).<br />
2.) A regra da progressão assegura que, num texto, a informação conhecida e partilhada<br />
pelos intervenientes no processo comunicativo (tema) seja constantemente acompanhada de<br />
informação nova e relevante (rema).<br />
"Oceanos<br />
Os oceanos e os mares abertos cobrem um pouco<br />
menos de 71% da superfície terrestre (361 milhões de km 2 )<br />
e encerram 1322 milhões de km 2 de água. Desempenham no<br />
equilíbrio natural da Terra um papel proporcional à sua<br />
extensão e ao seu volume consideráveis."<br />
Enciclopédia Larousse, Círculo de Leitores<br />
Progressão por tema constante<br />
(tema/tema)<br />
Um mesmo tema é retomado em frases<br />
sucessivas associado a diferentes remas.<br />
1 a frase:<br />
Tema - os oceanos e os mares<br />
Rema- cobrem... superfície terrestre<br />
2 a frase:<br />
Tema - [-] (os oceanos e os mares)<br />
Rema: desempenham na Terra um papel...
"- Olha o macaco do rabo mariola<br />
que do rabo fez navalha<br />
da navalha fez sardinha<br />
da sardinha fez farinha<br />
da farinha fez menina<br />
da menina fez camisa<br />
da camisa fez viola<br />
e agora deu à sola<br />
e agora deu à sola."<br />
António Torrado, O macaco do rabo cortado<br />
Baleias<br />
As baleias contam-se entre os maiores mamíferos do mundo<br />
animal. Certas espécies são sociais enquanto outras são<br />
mais solitárias. As baleias mais sociais são as baleiascinzentas.<br />
Enciclopédia Larousse, Círculo de Leitores (adaptado)<br />
Progressão linear (tema/rema)<br />
O rema da primeira frase torna-se o tema<br />
da seguinte:<br />
Progressão por temas derivados (hipertema/<br />
subtemas)<br />
Um tema dá origem ao desenvolvimento de<br />
outros subtemas.<br />
3.) A regra da não contradição assegura que nenhuma ocorrência textual entre em contradição<br />
com algo já referido, explícita ou implicitamente, no mesmo enunciado.<br />
Foi com Gil Vicente que nasceu o teatro em Portugal. As<br />
manifestações teatrais anteriores a este autor, de carácter<br />
religioso e profano, dirigidas ao povo ou à corte, eram<br />
rudimentares<br />
Este texto é contraditório, porque se afirma que<br />
Gil Vicente é o pai do teatro em Portugal e, de<br />
seguida, é referida uma característica das<br />
manifestações teatrais anteriores ao autor.<br />
4.) A regra da relação assegura que num texto se estabeleça uma relação directa entre os<br />
factos enunciados.<br />
Foi com Gil Vicente que nasceu o teatro<br />
português enquanto categoria literária. Em<br />
Portugal, as manifestações teatrais anteriores<br />
a Gil Vicente, que existiam desde a fundação<br />
da nacionalidade, eram de carácter religioso<br />
e profano.<br />
Neste texto, não se estabelece uma clara relação entre as<br />
ideias das duas frases. De facto, à ideia de teatro enquanto<br />
categoria literária deveria contrapor-se uma outra: a de que as<br />
manifestações teatrais anteriores a Gil Vicente eram rudimentares,<br />
embrionárias e não tinham suporte escrito, sendo contudo fulcrais<br />
para a obra vicentina. Ora, o facto de estas últimas serem<br />
religiosas ou profanas em nada as distingue das peças vicentinas.<br />
Para assegurar a relação entre as ideias, teria de referir-se que:<br />
Em Portugal, as manifestações teatrais anteriores a Gil Vicente, que existiam desde a<br />
fundação da nacionalidade, eram muito rudimentares e existiam sem um suporte<br />
escrito. Estas manifestações, de carácter religioso e profano, foram, contudo,<br />
determinantes para a obra vicentina.