Era o Guarani um Tupi - cursos de tupi antigo e língua geral
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Peri, portanto, é <strong>um</strong> “senhor da florestas”, o rei da selva, <strong>um</strong> “chefe”, Irapuã também é <strong>um</strong><br />
“gran<strong>de</strong> chefe”, Ubirajara é até mesmo <strong>um</strong> “chefe dos chefes”, e também <strong>um</strong> “morubixaba”. Nas<br />
fontes portuguesas o chefe é sempre chamado “principal” ou “maioral” como ALENCAR o<br />
menciona na nota 24 a Ubirajara, no início da discussão a respeito <strong>de</strong>ste nome (II, 1.197). Também<br />
neste particular o seu mo<strong>de</strong>lo para esta palavra foi Atala <strong>de</strong> CHATEAUBRIAND, on<strong>de</strong> lemos<br />
simplesmente “le chef” ou “le grand chef”. 35<br />
Assim como em Atala o velho Chactas é muito parcimonioso com as palavras indígenas em<br />
sua narrativa a René – além <strong>de</strong> “tomahawk” 36 e <strong>de</strong> “mocassine” 37 ele emprega sobretudo paráfrases<br />
em francês, como “l'étoile mobile” para a estrela polar 38 ou “lune <strong>de</strong> feu” para “juillet” 39 - também<br />
ALENCAR proce<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma semelhante em O <strong>Guarani</strong>, quando fala <strong>de</strong> “Estrela gran<strong>de</strong>” (estrela<br />
da manhã), ou <strong>de</strong> “Árvores <strong>de</strong> Ouro”, “Taba dos brancos” ou “Gran<strong>de</strong> rio”, <strong>de</strong>ixando estes assuntos<br />
para explicar nas notas.<br />
Com isso provavelmente ele queria evitar, como CHATEAUBRIAND, que o texto<br />
sobrecarregado <strong>de</strong> palavras indígenas ficasse incompreensível para os leitores <strong>de</strong> <strong>língua</strong> portuguesa.<br />
CHATEAUBRIAND – ao contrário <strong>de</strong> ALENCAR – posicionou-se sobre esta questão na primeira<br />
edição <strong>de</strong> Atala:<br />
SE je m'étais toujours servi du style indien, Atala eût été <strong>de</strong> l'hébreu pour le lecteur.<br />
[Se eu tivesse usado sempre o estilo indígena, Atala teria se transformado em hebraico para o<br />
leitor.] 40<br />
Em consequência <strong>de</strong>sta rejeição, Atala tornou-se menos <strong>um</strong>a narrativa indígena ou<br />
indianista, e mais <strong>um</strong>a narrativa francesa com temática cristã, que <strong>de</strong>ixa no leitor atual <strong>um</strong>a<br />
impressão forçada.<br />
Apesar das reservas <strong>de</strong> CHATEAUBRIAND, que certamente não lhe eram <strong>de</strong>sconhecidas,<br />
ALENCAR não se <strong>de</strong>ixou dissuadir <strong>de</strong> colocar cada vez mais “hebraico” (ou “chinês”) em seus<br />
romances indianistas. O que a ele importava não era tanto o “toque” exótico <strong>de</strong> suas histórias, mas<br />
<strong>um</strong>a sempre maior i<strong>de</strong>ntificação com a própria história e a própria natureza, não <strong>um</strong> objetivo<br />
exótico ou pessoal, como era o caso para CHATEAUBRIAND, mas sim <strong>um</strong> objetivo nacional.<br />
35 F.R. RENÉ DE CHATEAUBRIAND: Atala, Paris, Gallimard 1978, p. 53, 63 et al.<br />
36 ibid., 63.<br />
37 ibid., 72.<br />
38 ibid., 71.<br />
39 ibid., 78.<br />
40 F.R. RENÉ DE CHATEAUBRIAND: Atala, Préface <strong>de</strong> la première édition Chateaubriand, Atala – René. Ed. P.<br />
Reboul, Paris 1964, p. 43. - Cf. E. MÜLLER-BOCHAT: Mehrsprachigkeit und An<strong>de</strong>rssprachigkeit als Erzählthema<br />
(am Beispiel Brasiliens); em: Realidad y Mito em la literatura latinoamericana. Actas <strong>de</strong>l Simposio Internacional <strong>de</strong><br />
Literatura em Lindau (22 – 24-3-1984). Editado por Christian Wentzlaff-Eggebert. Böhlau-Verlag, Köln/Wien 1989,<br />
ps. 49-67.