CAPÍTULO I: DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO E PESQUISA ... - UFF
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Ed. Ed. Ed. Ed. FGV, FGV, FGV, FGV, 2008. 2008. 2008. 2008.<br />
Autores: Autores: Autores: Autores: Fabio Fabio Fabio Fabio Siqueira, Siqueira, Siqueira, Siqueira, Roberto Roberto Roberto Roberto Karlmeyer----Mertens, Karlmeyer<br />
Karlmeyer<br />
Karlmeyer Mertens, Mertens, Mertens, Mario Mario Mario Mario Fumanga Fumanga Fumanga Fumanga e e e e Claudia Claudia Claudia Claudia<br />
Benevento.<br />
Benevento.<br />
Benevento.<br />
Benevento.<br />
<strong>CAPÍTULO</strong> I: <strong>DO</strong> <strong>CONHECIMENTO</strong> <strong>CIENTÍFICO</strong> E <strong>PESQUISA</strong> ACADÊMICA<br />
Nenhuma pessoa razoável duvidará da verdade objetiva ou da<br />
probabilidade objetivamente fundamentada das teorias maravilhosas<br />
da Matemática e das Ciências naturais. Aqui não há em geral<br />
margens para “opiniões”, “pareceres”, “posições particulares”. Se as<br />
houver, apesar disto, em casos singulares, é sinal de a ciência ainda<br />
não ter chegado a constituir-se, mas encontrar-se ainda em via de<br />
constituição e é geralmente considerada como tal.<br />
HUSSERL<br />
1.1 ATRAVÉS DA METO<strong>DO</strong>LOGIA AO <strong>CONHECIMENTO</strong><br />
Este texto começa com algo que deve ser dito previamente: qualquer<br />
compreensão que se faça de metodologia não aponta para esta disciplina<br />
como um fim em si mesma, mas como um meio para fins. Esta consideração<br />
parece extemporânea e sem o devido preparo para uma introdução. Contudo, é<br />
conveniente definir desde já o mote cujos desdobramentos explicativos darão<br />
corpo a nosso texto.<br />
Observam-se grandes dificuldades dos alunos em seu primeiro contato<br />
com a metodologia na universidade, dificuldades responsáveis por certa<br />
aversão em torno desta matéria. Algumas explicações surgem para este<br />
fenômeno, considerando vários fatores:<br />
a) próprio grau de especificidade desta disciplina;<br />
b) despreparo de parte dos alunos que nunca tiveram acesso a<br />
disciplinas técnicas durante sua formação no ensino médio;<br />
sobretudo;<br />
c) fato de ordinariamente a metodologia ser ministrada nos primeiros<br />
semestres do curso acadêmico, sendo que os alunos crêem que<br />
sua aplicação só será requerida, de maneira estanque, ao fim<br />
deste; diante da exigência de redação de monografias ou<br />
Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). A ABNT diz sobre<br />
trabalhos acadêmicos na NBR 14724:2005, que são similares<br />
como: trabalho de conclusão de curso – TCC, trabalho de
graduação interdisciplinar – TGI, trabalho de conclusão de curso<br />
de especialização ou aperfeiçoamento e outros; assim<br />
determinadas instituição adotam outros tipos de nomenclaturas,<br />
quando diz respeito a trabalhos finais ou de conclusão de curso.<br />
Esta última, talvez seja a mais problemática das três hipóteses, pois, além<br />
de ser um elemento desmotivador ao aprendizado, possui uma série de<br />
incompreensões acerca do que é a metodologia, para que serve, qual seu<br />
objeto e, ainda, o contexto de sua aplicação (quer dizer, o conhecimento<br />
científico, a pesquisa acadêmica, a produção universitária).<br />
Para muitos a metodologia é apenas um conjunto de procedimentos<br />
técnicos, que visa, prescritivamente, a uniformização de padrões na execução<br />
e apresentação de produtos acadêmicos. Procedimentos que, na prática<br />
cotidiana, poderiam ser dispensados como meras formalidades em prol da<br />
“simplicidade” e do “ganho de tempo”. Pensar metodologia deste modo seria,<br />
primeiro, desconsiderar um dos principais pressupostos do saber científico, o<br />
fato do conhecimento não só possuir conteúdo, mas também forma; depois,<br />
prescindir de dois pré-requisitos deste conhecimento específico: a clareza e a<br />
distinção. Com isto, parece ficar claro que não pode pretender legitimidade a<br />
concepção que faz uso da metodologia apenas em um momento do curso (isto<br />
é, na hora de escrever um projeto, ou um trabalho final). O recurso à<br />
metodologia é indispensável ao fazer da universidade, necessário a todo<br />
momento, seja em um fichamento na graduação ou em um ensaio de pós-<br />
doutorado. Não havendo espaço, portanto, para o elaborar tarefas acadêmicas<br />
“fora da metodologia” (como veremos adiante). O uso contínuo, indispensável e<br />
mediato da metodologia procura ser grifado já em nosso título, quando<br />
propomos: Através da metodologia ao conhecimento. Poderíamos ter nos<br />
limitado, acertadamente à preposição ”da”, obtendo o seguinte resultado: Da<br />
metodologia ao conhecimento. Contudo, ao sacrificarmos o beletrismo<br />
persistindo no uso daquela palavra, buscamos enfatizar a idéia que perpassa a<br />
noção metodologia e de método.<br />
A palavra “através”, aqui, é aquela que melhor reproduz o sentido de<br />
metodologia. Ela não aponta apenas para o ponto do qual partimos, tampouco<br />
ao final de um processo. Este vocábulo aponta para o todo: o princípio do qual
se parte para a busca do conhecimento; o caminho propriamente dito, donde o<br />
conhecimento é produzido mediado por instrumentos que a metodologia<br />
constitui e o final, resultado que pode ser inferido por meio destes<br />
procedimentos. Deste modo, é através da metodologia que se obtém o<br />
conhecimento; isto é, o método é o através do que se chega a todo<br />
conhecimento científico. Idéia que, em sua gênese, se mantém fiel ao termo<br />
grego Méthodos, do qual é oriundo; composto pelas palavras “Meta” e “hódos”,<br />
possíveis de serem traduzidas interpretativamente como caminho através do<br />
qual... se faz ciência (BAILLY,1950).<br />
Nossa advertência inicial pode ser retomada agora com propriedade. Ora,<br />
se a metodologia é um caminho através do qual se faz ciência, ela não poderia<br />
ter um fim em si mesma. Ela teria um fim em vista, o conhecimento científico;<br />
ela é um meio para este fim.<br />
A metodologia aqui não é uma nova ciência (no caso, a ciência dos<br />
métodos, como seu nome poderia sugerir). Embora isto seja possível, a ponto<br />
de pesquisadores se debruçarem ao seu estudo em caráter disciplinar, ela é<br />
essencialmente instrumental. De modo que, só o metodólogo ou o teórico do<br />
conhecimento faz dela sua razão de ser. Para o pesquisador geral, em seus<br />
afazeres acadêmicos, a metodologia é uma disciplina auxiliar.<br />
Após esta contextualização, uma melhor caracterização de metodologia é<br />
necessária.<br />
1.2 CARACTERIZAÇÃO DE METO<strong>DO</strong>LOGIA<br />
A complexidade do método fez dele uma disciplina denominada<br />
metodologia. Metodologia cientifica é o estudo dos métodos de conhecer.<br />
Trata-se de métodos de buscar o conhecimento, é uma forma de pensar para<br />
se chegar à natureza de um determinado problema, seja para explicá-lo ou<br />
estudá-lo. O método científico é entendido como o conjunto de processos<br />
orientados por uma habilidade crítica e criadora voltada para a descoberta da<br />
verdade e para a construção da ciência hoje, a pesquisa constitui seu principal<br />
instrumento ou meio de acesso (CERVO & BERVIAN, 2002).<br />
Para Lakatos e Marconi (1991), o método caracteriza-se como uma<br />
abordagem ampla, em nível de abstração elevado dos fenômenos da natureza<br />
e da sociedade. Para tanto, método se define como um modo de proceder seja
um fazer, um agir, um conhecer, para alcançar um fim previamente projetado.<br />
Abreviadamente: método é a ordem dos elementos de um processo, para<br />
atingir um fim (DESCARTES, 1999).<br />
Segundo Dalarosa (1998), não seria correto falar em metodologia da<br />
ciência, pois não é a metodologia que tem uma ciência, é a ciência que ao ser<br />
construída, necessita de um método. Sendo que, no quadro geral da ciência,<br />
metodologia é uma “metaciência”, isto é, um estudo que tem por objeto a<br />
própria ciência e as técnicas específicas de cada ciência.<br />
Barros & Lehfeld (1986) afirmam que a metodologia não procura<br />
soluções, mas escolhe as maneiras de encontrá-las, integrando os<br />
conhecimentos a respeito dos métodos em vigor nas diferentes disciplinas<br />
científicas ou filosóficas. E com relação à importância da disciplina metodologia<br />
científica, essa é baseada na apresentação e exame de diretrizes aptas a<br />
instrumentar o universitário no que tange a estudar e aprender. Para nós, mais<br />
vale o conhecimento e manejo dessa instrumentação para o trabalho científico<br />
do que o conhecimento de uma série de problemas ou o aumento de<br />
informações acumuladas sistematicamente. Essa disciplina está, pois, voltada<br />
a assessorar e colaborar com o crescimento intelectual do aluno para a<br />
formação de um compromisso científico frente à realidade empírica.<br />
Metodologia científica não é um amontoado de técnicas, embora elas<br />
devam existir, mas sim uma disciplina que deve estar sempre em<br />
relacionamento e a serviço de uma proposta de conhecimento, assim,<br />
estrutura-se, para que o conhecimento desenvolva as funções que lhe são<br />
impostas frente às necessidades culturais e científicas.<br />
Entre os diversos modos de conhecimento, alguns são importantes de<br />
serem ressaltados, tendo-os em vista na hora de elaborar um projeto de<br />
pesquisa acadêmico.<br />
1.3 <strong>DO</strong> <strong>CONHECIMENTO</strong> EM GERAL<br />
Todos sabemos o que é conhecimento. Naturalmente não por<br />
encontrarmos uma definição temática expressa em nosso cotidiano.<br />
Certamente não temos uma explicação teórica imediata para o que seja o<br />
conhecimento, apenas conhecemos; antes mesmo de formularmos qualquer<br />
explicação para isto. Conhecemos “coisas” todos os dias: uma palavra nova
para enriquecer nosso vocabulário, um novo sentido para uma palavra que<br />
utilizamos corriqueiramente, um novo utensílio que facilita nossa vida prática,<br />
um recurso até então não utilizado de uma velha ferramenta, um caminho mais<br />
curto para chegar aonde queremos... Sempre que conhecemos, nos<br />
apropriamos destes conhecimentos em prol de novos conhecimentos, sem<br />
sequer nos darmos conta disso, sem sequer teorizarmos sobre isto. Quando<br />
conhecemos, já o fazemos de modo a lidar com as coisas que encontramos no<br />
mundo sempre de maneira pré-temática, ou ainda, de modo pré-teórico,<br />
antecedendo qualquer compreensão deste processo.<br />
O conhecimento e seus modos são alvo de preocupação de muitos<br />
autores em diversas áreas do saber ao longo da história. O filósofo Aristóteles<br />
(1990, p. 3) talvez tenha sido um dos primeiros a propor algo substancial sobre<br />
o tema, quando afirma: “Todos os homens têm sua gênese afim ao conhecer”.<br />
Com esta frase o autor grego expressa o parentesco do homem com o<br />
conhecimento; fazendo, mesmo, que compreendamos o conhecimento como<br />
algo próprio a este. Garcia (1987), fazendo uso inteligente da palavra francesa<br />
connaissance (conhecimento), grifa esta afinidade operando uma análise de<br />
suas partes do termo. Para a interpretação proposta pela autora, o<br />
conhecimento seria uma co (con) nascença (naissance), isto é: um nascer<br />
junto. Deste modo, podemos pensar o conhecimento como o ato a partir do<br />
qual o homem constrói a si mesmo, dando gênese à novas possibilidades de<br />
sua realização na medida que conhece novos meios para tal, nascendo e<br />
renascendo em cada novo conhecimento apropriado e utilizando-os no mundo;<br />
alterando e reconstruindo, com isto, suas relações com os outros homens, com<br />
as coisas deste mundo, com sua cultura, sua sociedade, sua história. É isso<br />
que nos assegura o seguinte referente:<br />
Um mundo é dado ao homem; sua glória não é suportar ou depreciar<br />
este mundo, mas sim enriquecê-lo construindo outros universos. Ele<br />
amassa e remodela a natureza, submetendo-a a suas próprias<br />
necessidades; constrói a sociedade e é, por sua vez, construído por<br />
ela; trata logo de remodelar este ambiente artificial para adaptá-lo a<br />
suas próprias necessidades animais e espirituais, assim como a seus<br />
sonhos: cria o mundo dos utensílios e o mundo da cultura. O<br />
conhecimento como atividade [...] pertence à vida social (BUNGE,<br />
1980, p. 9).
De posse do conhecer, a partir de um modo peculiar de lidar com este<br />
processo, o homem passa a ter uma relação diferenciada com seu próprio<br />
mundo, pode ele compreende-lo, interpretá-lo, transformá-lo. Assim, os<br />
homens se conhecem, se elaboram diante da evidência de que o conhecimento<br />
é algo frente ao qual ele nunca está acabado, mas sempre na iminência de<br />
uma nova aquisição e projeto.<br />
1.3.1 Do senso comum<br />
Os conhecimentos que adquirimos espontaneamente no cotidiano,<br />
geralmente produzidos pela interação com o mundo, constituem um conjunto<br />
de princípios empíricos intercambiáveis no convívio com os outros. Estes são<br />
pontos comuns capazes de estabelecer uma comunidade de princípios e<br />
conhecimentos chamada de senso comum.<br />
O senso comum é mais do que a compreensão corriqueira geralmente<br />
expressa como o saber empírico através do qual, por exemplo, um camponês<br />
sabe a época mais propícia para semear este ou aquele grão; se o solo está<br />
em boas condições de plantio ou quanto tempo demora certo tipo de legume<br />
até poder ser colhido.<br />
É o senso comum que orienta os indivíduos no mundo, ordenando seus<br />
afazeres, executando tarefas práticas com eficiência, estabelecendo<br />
consensualmente normas de boa convivência, julgando a partir de valores<br />
prévios seus interesses imediatos, conservando as relações que julgam<br />
proveitosas ao bem comum, agindo adequadamente em situações especificas<br />
e até opinando sobre assuntos diversos. Os conhecimentos comuns são os<br />
que primeiro temos contato e normalmente nos chegam de maneira não<br />
rigorosa a partir de um “eu ouvi falar”, ou de um “dizem que é desta forma”,<br />
discurso já comum em grupos sociais primários como a família, mas que se<br />
estende como um sistema de significação por toda a sociedade (RODRIGUES,<br />
1980).<br />
Por isto, existem várias linhas de raciocínio que pesam sobre o senso<br />
comum. Todas elas são feitas em vista de uma compreensão de ciência. Entre<br />
estas, a de que: o conhecimento comum é lato, isto é, apreendido de maneira<br />
não criteriosa; é subjetivo, dependendo de sensos prévios que cada indivíduo<br />
particularmente possuiria, o que daria ao conhecimento caráter acidental e não
objetivo; fragmentário e não planejado, consistindo em uma maneira não<br />
metódica ou sistemática; herdados de maneira acrítica, não temática e, por<br />
isto, ingênua; podendo conter compreensões errôneas, acarretadas por<br />
conclusões induzidas pela repetição freqüente de um dado. Esta última<br />
característica faz com que o filósofo alemão Hans-Georg Gadamer (1998)<br />
aponte que o senso comum se alimente não do verdadeiro, mas do provável.<br />
Isto não faz do conhecimento comum algo que deveria ser<br />
desconsiderado. Afinal, é sempre dele que partimos, mesmo quando nos<br />
encaminhamos à ciência, em seu sentido mais ortodoxo. Quanto a isto,<br />
Gadamer acrescenta:<br />
sensus communis significa aqui, certamente, não somente aquela<br />
capacidade universal que existe em todos os homens, mas, ao<br />
mesmo tempo, o senso que institui comunidade. O que dá à vontade<br />
humana sua diretriz (...) não é a universalidade abstrata da razão,<br />
mas a universalidade concreta, que representa a comunidade de um<br />
grupo, de um povo, de uma nação, do conjunto da espécie humana.<br />
O desenvolvimento deste senso comum é, por isso, de decisiva<br />
importância para a vida (GADAMER, 1998, p.63).<br />
Esta passagem pretende apontar, também, que os conhecimentos<br />
relativos ao senso comum são diferentes do conhecimento cientifico, mas nem<br />
por isso menos próprios à vida. Contudo, as noções do senso comum são<br />
inválidas ao fazer científico, por não atenderem as requisições deste modo<br />
específico de conhecimento, diverso do senso comum, mas não de todo<br />
isoladas deste.<br />
1.3.2. Do conhecimento científico<br />
Trata-se de um modo de conhecer que exige mais do que o saber<br />
adquirido na chave de tentativa-erro-repetição, característica do conhecimento<br />
empírico. Tendo ganho formulação rigorosa na modernidade, este já traz, em<br />
seu registro de nascimento, um novo modo de apreender as coisas, não como<br />
mera ocorrência fortuita, mas a partir da relação entre essas ocorrências<br />
(efeitos) e suas causas; bem como com as leis que as regem. Com base na<br />
exposição de Bunge (1980), o conhecimento científico em geral pode ser<br />
inventariado em algumas de suas principais características. Daí, esse<br />
conhecimento pode ser:
a) Objetivo, fático: por apreender os fenômenos do mundo como<br />
objetos de conhecimento; visam determiná-lo tais como seriam de<br />
fato, independente de qualquer interferência externa ao interesse<br />
científico. Baseia-se em fatos dados pela experiência, conhecidos<br />
por “empíricos”;<br />
b) Analítico: pois aborda os problemas delimitados em sua alçada<br />
um a um, decompondo-os em seus elementos. Assim, a análise é<br />
a tentativa de entender a situação total de um objeto (seus<br />
mecanismos e causas de sua ocorrência) a partir de seus termos;<br />
c) Específico: Atendo-se a um tema, que determinará inclusive o<br />
modo com que metodologicamente seu objeto seria abordado;<br />
d) Claro: buscando os resultados com exatidão sem correr o risco<br />
de gerar dúvidas capazes de invalidá-lo. Nesse intuito, a ciência<br />
visa formular suas proposições de maneira objetiva; inequívoca<br />
em seus enunciados; definindo a maioria de seus conceitos;<br />
adequando seu discurso à explicação do seu objeto; avaliando e<br />
registrando produtos de sua experiência, comunicando-os à<br />
comunidade científica para que este seja público e possa ser<br />
verificável.<br />
e) Distinto: na medida em que se seus resultados (obtidos a partir<br />
dos experimentos) podem ser distinguindos dos outros diferentes<br />
e dados por variáveis;<br />
f) Universal, comunicável, público: Não se pretendendo restrito<br />
apenas em um setor social ou região do planeta, ele é público. A<br />
linguagem científica é, portanto, comunicável a quem quer que se<br />
interesse saber; formando-se, mesmo por ela. Sua explicitação<br />
tem forma essencialmente dissertativa e função informativa e não<br />
expressiva ou prescritiva (COPI, 1981).<br />
g) Verificável: considerando que todo conhecimento científico<br />
apóia-se em um fundamento sólido capaz de sustentar<br />
firmemente sua certeza, afirmarmos que este é conhecimento<br />
certo, obtendo estas certezas por meio de uma averiguação ou<br />
exame experimental chamado verificação, ou como o próprio
termo indica em suas raízes latinas: um fixar (ficare) o verdadeiro<br />
(verum).<br />
h) Metódico: como dito, o conhecimento científico não é adquirido<br />
com a tentativa e a repetição até o acerto, mas consiste em um<br />
conhecimento planejado (sem errância). O método compara um<br />
conjunto finito de objetos não estabelecendo previamente o<br />
critério geral para reuni-los em um conjunto limitado (ao levar em<br />
conta sua estrutura), apenas registra os objetos encontrados que<br />
não são idênticos. Opera desta forma seguindo a ordem que as<br />
razões que a própria investigação lhe oferece.<br />
i) Sistemático: encontra-se ordenado de maneira que proposições<br />
científicas estejam atreladas a um princípio que as fundamente. O<br />
sistema opera privilegiando uma proposição fundamental e<br />
relaciona através dele todos os objetos; portanto, classifica e<br />
propõe relacionando um critério; neutralizando as<br />
compatibilidades ou incompatibilidades provenientes de outros<br />
pontos (podemos distinguir método do sistema afirmando que:<br />
enquanto no sistema se o critério produz as diferenças, no<br />
método as diferenças produzem o critério).<br />
j) Legal: pois, busca determinar supostas “leis naturais” capazes de<br />
explicar a ordem e a regularidade das ocorrências (efeitos) do<br />
mundo, e suas relações com suas causas. Move-se no âmbito<br />
dessas leis inferindo novos conhecimentos por meio destas.<br />
k) Explicativo: intentando explicar os princípios, processos e as leis<br />
que regulam os fenômenos objetivados. Propõe assim uma<br />
descrição detalhada; procurando responder renovadamente como<br />
ocorrem certos fatos sujeitos à investigação. Quanto a isto, Bunge<br />
(1980, p. 30) assevera: “A história da ciência ensina que as<br />
explicações científicas se corrigem ou descartam sem cessar”.<br />
l) Previsível: não se limitando ao que já apreendido na experiência,<br />
mas projetando-se à empreendimentos e realizações de futuros<br />
conhecimentos. A previsão permitida pela ciência torna eficaz o<br />
conhecimento, o planejamento, a administração e controle da<br />
situação de um estado de coisas, permitindo sua eficiência no
asseguramento de suas conclusões. Constrói-se por meio de<br />
formulação de hipóteses que prenunciam uma ocorrência<br />
provável capaz de ser validada por meio dos métodos e técnicas<br />
de que a ciência dispõe (KAHLMEYER-MERTENS, 2005).<br />
Essas características do conhecimento científico merece uma ressalva,<br />
por aplicar-se, com nuanças técnicas para qualquer possível objeto de ciência.<br />
É isso que Kerlinger (1980, p. 11-12) ilustra:<br />
Embora seja aplicada geralmente à observação e à mensuração<br />
científica, a idéia é mais ampla. Quando os psicólogos fazem<br />
experimentos, lutam por objetividade. Isso significa que fazem sua<br />
pesquisa controlando de tal modo a situação experimental e<br />
descrevendo de tal modo o que fazem que outros psicólogos poderão<br />
repetir o experimento e obter resultados iguais ou semelhantes. Em<br />
outras palavras, a objetividade ajuda o pesquisador a “sair” de si<br />
mesmo, ajuda-o a conseguir condições publicamente replicáveis e,<br />
conseqüentemente averiguáveis. A ciência é um empreendimento<br />
social e público, como tantos outros empreendimentos humanos, mas<br />
uma regra importantíssima do empreendimento científico é que todos<br />
os procedimentos sejam objetivos – feitos de tal forma que haja ou<br />
possa haver acordo entre cientistas especialistas. Esta regra dá à<br />
ciência uma natureza distinta, quase remota porque tanto maior a<br />
objetividade mais o procedimento se afasta das ciências humanas –<br />
de suas limitações.<br />
A proposição do autor visa grifar que o fazer científico não se restringe<br />
aos limites das ciências naturais ou das idéias “simples”, como presenciamos<br />
nas matemáticas. Também os conhecimentos complexos, como o humano<br />
(enfocando suas matizes sociais e culturais), receberiam o status de ciência.<br />
Mas, para que o conhecimento seja assim reconhecido, deve atender aos<br />
referidos requisitos que, direta ou indiretamente, tangem a metodologia. Nestes<br />
casos, a metodologia aparece implicada aos procedimentos pelos quais esta<br />
objetividade, própria à ciência, se afirmaria universal e verificável. O trecho<br />
ainda sintetiza muito das características que comentamos anteriormente.<br />
A metodologia, bem como a lógica, se apresentaria, pois, como a ciência<br />
dos meios e da forma, aquela que encaminha e “enforma” o conhecimento<br />
possível à ciência; e, em boa medida, que dá parâmetros à própria ciência em<br />
sua tarefa de resolver, metodicamente, quebra-cabeças e produzir<br />
conhecimento em face de seus paradigmas.<br />
Outros modos de conhecimento com paradigmas diversos ainda são<br />
possíveis de serem apontados. Contudo, embora relevantes por suas
contribuições de natureza distinta, não possuem as exigências do modelo<br />
científico; isto quer dizer: não são científicos, mas: filosófico e teológico. 1<br />
Em uma definição genérica, se relacionado ao saber, o modelo filosófico é<br />
aquele que busca, por seu turno, determinar o estatuto dos princípios<br />
fundamentais de todo conhecimento; sendo, portanto, anterior a ele. Busca<br />
investigar a instância primeira que sustenta as proposições da ciência;<br />
resguardando, por meio do discurso, as condições de possibilidade de tal<br />
conhecimento. Por outro turno, o conhecimento teológico é, tal como entendido<br />
por Comte (1978), aquele que se ocupa das coisas sobrenaturais, dado por<br />
meio da revelação beatífica ou da reprodução dos dogmas das religiões,<br />
trafegando no plano da crença e não estando sujeito à verificação ou<br />
comprovação.<br />
tópico.<br />
A íntima relação entre método e ciência é ponto considerado no próximo<br />
1.4 METO<strong>DO</strong>LOGIA E CIÊNCIA<br />
As definições dos termos ciência e metodologia são em si mesmas um<br />
objeto de estudo. Esse estudo, levado a efeito pela filosofia da ciência, deve<br />
nortear o pensamento humano sobre suas próprias descobertas e<br />
representações. Tendo em vista a pergunta pela definição da ciência, vejamos:<br />
A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais,<br />
dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de<br />
ser submetido à verificação [...] A ciência é um conjunto de<br />
conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos<br />
metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a<br />
objetos de uma mesma natureza. (LAKATOS & MARCONI, 1991,<br />
p.80).<br />
Para Bunge (1980) a ciência é como um sistema de idéias estabelecidas<br />
(conhecimento científico), é como uma atividade produtora de novas idéias<br />
(investigação científica). Gil (1999) mais próximo ao sentido cartesiano, diz<br />
que, etimologicamente, ciência significa conhecimento, sendo o seu objetivo<br />
fundamental à veracidade dos fatos, com o objetivo de formular, mediante<br />
linguagem rigorosa e apropriada às leis que regem os fenômenos.<br />
1 Diante das requisições de nossa tarefa, só os abordaremos de maneira breve, sem maiores<br />
aprofundamentos.
Podemos afirmar que a ciência é o conhecimento resultante do<br />
processo de elaboração do conhecimento científico. É científico<br />
porque, para tanto, necessita-se de que seja uma forma de<br />
conhecimento que inclua, em qualquer forma ou medida, uma<br />
garantia da própria validade (ABBAGNANO apud DALAROSA, 1998,<br />
p.136).<br />
A ciência envolve mais do que a mera catalogação de fatos e<br />
descobertas, através da tentativa e erro, de maneiras de proceder de como<br />
funcionam os fenômenos. O que é crucial na verdadeira ciência é o fato de<br />
envolver a descoberta de princípios aos fenômenos naturais. O ser humano<br />
pela observação adquire quantidade de conhecimentos constituindo uma<br />
importante fonte de conhecimento.<br />
Bachelard (apud DALAROSA, 1998, p.101) afirma que “a ciência não<br />
constitui um mundo a descrever. Ela constitui um mundo a construir”. Constitui<br />
devido a ciência referir-se tanto à investigação racional como ao estudo da<br />
natureza, direcionado à descoberta da verdade.<br />
Tal prática investigativa é normalmente metódica, ou de acordo com o<br />
método científico, é um processo de avaliar o conhecimento empírico. Bunge<br />
(1980) ainda afirma que o conhecimento científico é fático e seus enunciados<br />
confirmam o que chamamos de, usualmente, dados empíricos, na ciência fática<br />
podem induzir a considerar o mundo como inesgotável. A ciência fática<br />
(material) verifica (confirmam ou não confirmam hipóteses em sua maioria<br />
provisória, quer dizer, necessita de uma refutação).<br />
A ciência então seria, o conhecimento ou um sistema de conhecimento<br />
que abarca verdades gerais ou a operação de leis gerais especialmente<br />
obtidas e testadas através do método científico. Então, caracteriza-se como<br />
“conhecimento racional, sistemático, exato, verificável e, em conseqüência,<br />
falseável” (op.cit.) e, fundamentalmente, tem quatro objetivos: analisar,<br />
explicar, prever e atuar.<br />
A ciência produz modelos que nos permitem fazer predições mais úteis e<br />
tenta descrever o que é, mas evita tentar determinar o que é (o que é<br />
impossível por razões práticas). Ela é uma ferramenta útil, é um corpo<br />
crescente de entendimento que nos permite postular mais eficazmente o que<br />
está ao nosso redor e melhor adaptar e evoluir como um todo social, assim<br />
como independentemente. As áreas da ciência podem ser classificadas em<br />
duas grandes dimensões:
a) Pura (o desenvolvimento de teorias) versus aplicada (a aplicação de teorias<br />
às necessidades humanas); ou<br />
b) Natural (o estudo do mundo natural) versus social (o estudo do<br />
comportamento humano e da sociedade).<br />
Logo, a ciência aumenta o poder do homem sobre a natureza, mas não<br />
lhe ensina a governar as suas escolhas, as suas preferências, os seus fins e<br />
um significativo aumento de conhecimentos ao buscar explicações sobre esta<br />
natureza, fenômenos e fatos. E assim, pela ação desses, se percebe a<br />
evolução da ciência. E essa evolução transforma-se em dimensões que,<br />
segundo Eco (1995) são invisíveis, incógnitas, submersas, recônditas,<br />
múltiplas, sensíveis, complexas.<br />
O homem nutre, hoje, crenças a respeito do mundo físico, que a ciência<br />
lhe confirma e garante. Começa a ter conhecimento sobre os valores que<br />
regulam a sua conduta; a ciência vai lhe mostrar a gênese, o desenvolvimento<br />
e valores e, deste modo, possibilitar o controle dos mesmos.<br />
Para Bunge (1980) há a separação das ciências: ciência da natureza e a<br />
ciência do espírito; ambas, não céticas, não falíveis. A falibilidade é uma forma<br />
negativa de indicar a sua capacidade de acertar. A ciência, quando erra, tem<br />
nos seus próprios métodos a correção. Logo, nenhuma outra direção pode ser,<br />
menos cética e, ao mesmo tempo, mais vigilante. A generalização do espírito<br />
científico a todos os aspectos da vida tem sido o mais seguro penhor do<br />
progresso científico e social do homem.<br />
Podemos observar que a ciência está fundamentalmente relacionada à<br />
metodologia. A preocupação central é de proporcionar um conteúdo de<br />
conhecimentos que possam ser tomados como certos e verificáveis. Assim,<br />
esse sistema de enunciados elaborados racionalmente, fundamentados na<br />
experiência empírica e passíveis de falseabilidade através de experiências é o<br />
que denominamos ciência.<br />
Durante muito tempo, houve a idéia de que uma tese só era científica se<br />
fosse baseada em fatos ao invés de opiniões. Isso foi depois substituído pela<br />
idéia de que uma tese para ser científica tinha de ser provável. Tal critério por<br />
sua vez foi derrubado pelo princípio da “falseabilidade”, do filósofo Popper
(1902-1994). Em seu livro A lógica da descoberta científica (1959), Popper<br />
afirma que a ciência se desenvolve a partir de revoluções constantes,<br />
renovando-se permanentemente e o critério de falseabilidade está associado à<br />
idéia de movimentação e rupturas de teorias e modelos científicos, que tem<br />
como princípio básico à idéia de validade. A idéia é a de que a ciência ou o<br />
conhecimento científico se desenvolve a partir da busca e da tentativa de<br />
encontrar lacunas para falsear uma teoria.<br />
Essa distinção procura estabelecer características metodológicas que<br />
devem ser dadas a cada tipo de ciência, de acordo com a natureza dos objetos<br />
sob sua responsabilidade e com os experimentos que podem ser aplicados<br />
para validação e refutação das teorias acerca desses fenômenos. Porém, a<br />
própria classificação é uma proposta para as ciências estabelecidas na<br />
atualidade, significando que outras propostas e abordagens poderão surgir.<br />
Logo, a ciência é autoquestionável, sofre críticas, mas visa exibir seus<br />
avanços, exige resultados reproduzíveis, busca, estuda, procura evidências,<br />
fatos, experimentos, confia na testagem e no pensamento analítico, mantém-se<br />
alerta em relação a falhas ou erros para corrigi-los; uma seqüência que se<br />
mantém permanente de acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis<br />
da realidade. Sobre o método científico Popper (1959, p.75) alude:<br />
Começo, regra geral, as minhas lições sobre Método Científico<br />
dizendo aos meus alunos que o método científico não existe.<br />
Acrescento que tenho obrigação de saber isso, tendo eu sido,<br />
durante algum tempo, pelo menos, o único professor desse<br />
inexistente assunto em toda a Comunidade Britânica.<br />
[...] Tendo, então, explicado aos meus alunos que não há essa<br />
coisa que seria o método científico, apresso-me a começar o<br />
meu discurso, e ficamos ocupadíssimos. Pois um ano mal<br />
chega para roçar a superfície mesmo de um assunto<br />
inexistente.<br />
O método científico é uma forma de conhecimento, que está levando a<br />
ciência a uma validez que reflete claramente os acontecimentos da Idade<br />
Moderna, apresentado por transformações conceituais e por mudanças<br />
técnico-científicas. Logo, a metodologia científica se propõe a definir regras e<br />
procedimentos que darão segurança e validade ao exercício de conhecer tendo<br />
a pesquisa presente neste processo.
Em poucas palavras, o método científico é realizado com metodologia<br />
criteriosa, de natureza científica. Tendo várias etapas até poder se transformar<br />
em uma teoria confiável, fazendo a ciência progredir com seus experimentos.<br />
1.5 METO<strong>DO</strong>LOGIA E <strong>PESQUISA</strong><br />
Um dos aspectos mais característicos do ser humano, e que de certa<br />
forma o distingue dos demais seres vivos, é sua inquietação no que se refere à<br />
sua existência, origem, destino e relação com seus semelhantes e meio<br />
ambiente. Por meio de suas dúvidas e incertezas, o homem busca caminhos<br />
para o desvendamento delas, assim buscam na pesquisa respostas<br />
(ARISTÓTELES, 1990). No que se refere à pesquisa, podemos dizer que, é um<br />
modo programado do homem aprender. É exatamente no pesquisar, ao<br />
procurar respostas para suas indagações e no questionar que o homem<br />
desenvolve o seu processo de diálogo crítico com a realidade. O fomento<br />
assim se dá pois a<br />
[...] pesquisa significa diálogo crítico e criativo com a realidade,<br />
culminando na elaboração própria e na capacidade de intervenção.<br />
Em tese, pesquisa é a atitude do ‘apreender a apreender’, e, como<br />
tal, faz parte de todo processo educativo e emancipatório (DEMO,<br />
1993, p.80).<br />
A pesquisa faz parte do processo educativo. O pesquisador só tem<br />
oportunidade de fazê-la à medida que compreende e domina uma série de<br />
técnicas e de conhecimento. Sua edificação e aprimoramento são conquistas<br />
que o pesquisador obtém ao longo de seus estudos, da realização de<br />
investigações e elaboração de trabalhos acadêmicos. Corroborando com isso,<br />
Cervo & Bervian (2002) afirmam que a pesquisa está voltada para as soluções<br />
de problemas teóricos ou práticos através do ato de conhecer pela ciência,<br />
partem da dúvida de um problema e com o uso do método científico buscam<br />
uma resposta ou solução; porém não é a única forma de obtenção de<br />
conhecimentos e descobertas.<br />
Muito mais que uma simples definição, o exposto permite observar alguns<br />
conceitos essenciais para uma plena compreensão da prática da pesquisa.<br />
Como forma de adquirir conhecimento, a pesquisa distingue-se pelo método,<br />
pelas técnicas e por estar voltada para a realidade empírica e pela forma de<br />
comunicar os resultados obtidos. Gil (1999) entende por pesquisa o processo
formal e sistemático, em busca de respostas para problemas mediante o<br />
emprego do método científico, que se desenvolve. Segundo Lüdke & André<br />
(1986), através do confronto entre os dados, evidências e informações<br />
coletadas a respeito de determinado assunto e que, de acordo com o que<br />
professa Gil (1994, p.42), é “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos<br />
adotados para se atingir o conhecimento”. Assim, a pesquisa significa muito<br />
mais do que apenas procurar a verdade, é descobrir respostas para perguntas<br />
ou soluções válidas para os problemas levantados através do emprego de<br />
métodos científicos.<br />
Para Kerlinger (1980) a pesquisa metodológica é parte integrante e<br />
significativa de toda a atividade científica. As pesquisas devem contribuir para a<br />
formação de consciência crítica ou espírito científico do pesquisador. O<br />
estudante, apoiando-se em observações, análises, deduções e de uma<br />
reflexão crítica, vai, paulatinamente, formando o seu espírito científico crítico, o<br />
qual não é inato.<br />
De uma forma muito simples, poderíamos dizer que pesquisa é todo<br />
conjunto de ações que visa encontrar solução para um problema proposto,<br />
usando processos científicos. É isso que Richardson (1999, p.15) nos permite<br />
afirmar:<br />
A única maneira de aprender a pesquisar é fazendo uma pesquisa.<br />
Outros meios, porém, podem ajudar. [...] exemplos concretos de<br />
história do êxito e fracasso, frustrações e satisfações, dúvidas e<br />
confusões, que formam parte do processo de pesquisa, produzem<br />
uma impressão bastante diferente daquela que surge da leitura de um<br />
relatório final de pesquisa. [...] as destrezas para resolver dificuldades<br />
rotineiras – tais como procurar bibliografia relevante ao problema<br />
pesquisado, transformar uma idéia em um problema de pesquisa,<br />
escrever um projeto e relatório final [...] a experiência lhe permitirá<br />
enfrentar as dificuldades e obter produtos adequados [...].<br />
Através da dimensão empírica das pesquisas chegamos a um<br />
entendimento mais aprofundado das coisas e a um conhecimento naquilo que<br />
se propõe. E esse conhecimento seria a relação que se estabelece entre<br />
sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto em pauta ou que se dá a<br />
conhecer. Com a necessidade de explicitar a complexidade do real onde se dá<br />
este conhecimento, Hühne (1990, p.36) acrescenta que “[...] o conhecimento<br />
como elaboração só tem sentido no momento mesmo da elaboração, do ato
criador, que o produz”. Neste sentido é que vem o ato de pesquisar e o<br />
pesquisador.<br />
Mas que é o pesquisador? O pesquisador é aquele que deve enfatizar a<br />
relevância da pesquisa e a concordância com a necessidade de se desenvolver<br />
uma atitude autocrítica em relação às próprias pesquisas. Ele deve estar<br />
sempre examinando o seu ponto de vista pela veracidade ou falsidade dos<br />
fatos reorganizando o conceito do saber, formando uma nova visão que<br />
permita reconhecer a incerteza, a falta de clareza, a relatividade, a<br />
instrumentalização e a ambigüidade do conceito “verdade científica”<br />
(RICHARDSON, 1999).<br />
Mas, e o pesquisador iniciante, como deve proceder? Para os iniciantes<br />
em pesquisa a ênfase na preocupação da aplicação do método científico deve<br />
ser mais relevante do que propriamente a ênfase nos resultados obtidos, pois a<br />
pesquisa é um esforço dirigido para a aquisição de um determinado<br />
conhecimento. O objetivo dos principiantes deve ser a aprendizagem quanto à<br />
forma de percorrer as fases do método científico e à operacionalização de<br />
técnicas de investigação. À medida em que o pesquisador amplia o seu<br />
amadurecimento na utilização de procedimentos científicos, torna-se mais hábil<br />
e capaz de realizar pesquisas (BARROS & LEHFELD, 1986, p. 88).<br />
Kerlinger (1980) afirma que se pesquisa influencia a prática, podemos<br />
dizer que a metodologia influencia fortemente a pesquisa. Nas universidades, a<br />
metodologia é utilizada apenas como ferramenta científica, há uma<br />
preocupação excessiva com a técnica. Segundo Kaplan (apud HÜHNE, 1990)<br />
a metodologia toma a prática científica como ponto de partida e se é<br />
considerada razoável, propaga a aceitação de hipóteses insatisfatórias com o<br />
fato do que está sendo feito, e gera o conformismo, que contra o mesmo é de<br />
importância insistir no caráter normativo do método científico.<br />
Sendo assim, a relevância da pesquisa está na capacidade de fazer<br />
avançar o conhecimento científico. O papel da introdução à pesquisa na<br />
universidade é levar o acadêmico ao pensamento lógico e à busca de<br />
respostas para os problemas. Observa-se que a demanda pelo saber é<br />
incessante e contínua. Se assim o é, nada mais sensato que estimular o<br />
discente a estudar, utilizando o conhecimento científico e métodos de pesquisa,
não o deixando fazer à revelia, como se o provável, o acaso e a consciência<br />
pessoal fossem entendidos/assimilados como ciência.<br />
É importante salientar como metodologia e universidade se encontram<br />
hoje com relação à pesquisa e ao conhecimento. Nós podemos fazer o<br />
conhecimento, usá-lo, nos posicionarmos diante dele, mas para que serve a<br />
metodologia na universidade, qual o seu propósito?<br />
1.6 METO<strong>DO</strong>LOGIA E UNIVERSIDADE<br />
Não temos a pretensão de abordar este tema largamente. Sua extensão<br />
nos cobraria mais do que devemos dar nesta parte do trabalho, efetuando um<br />
desvio de propósito que nos é urgente: expor a metodologia e sua aplicação no<br />
ambiente que lhe é próprio; esclarecimento ao público que tem a necessidade<br />
imediata de elaboração de um projeto de pesquisa. Neste tópico, o intuito é<br />
mostrar como o conhecimento científico, produzido pela pesquisa e amparado<br />
pela metodologia, reflete no saber acadêmico. Tal temática se fomenta com a<br />
seguinte assertiva:<br />
Na pesquisa reside o sustentáculo maior que dá vida e razão de ser a<br />
uma Universidade. De fato, não basta estabelecer uma hierarquia<br />
entre a pesquisa, a formação de profissionais e todo o mais que<br />
possa ser de iniciativa das Universidades. Por essencial e<br />
impostergável que seja a formação de profissionais, por mais zelo,<br />
contra até mesmo os imperativos da urgência, em garantir os mais<br />
elevados níveis de competência, tudo deve ser feito assentado no<br />
espírito da pesquisa. Pois só esse espírito consegue impregnar a<br />
transmissão de técnicas e conhecimentos de forma criativa, e fazer<br />
da criatividade o solo em que se desenvolve a educação universitária<br />
em sua plenitude. Uma Universidade destituída de emulações<br />
criativas limita-se à condição de mera repetidora do que é elaborado<br />
em outros centros (BORNHEIM, 1992, p. 38).<br />
Como um projeto moderno, e mesmo em suas heranças medievais, a<br />
universidade é uma instituição comprometida com a formação do indivíduo,<br />
bem como da sociedade e da Humanidade. A produção de saber na<br />
universidade, elaborada por meio da pesquisa, é contribuição que não se<br />
restringe a um nicho; antes, pretende-se saber público e universal. Como tal, a<br />
pesquisa é prática intrínseca e característica de qualquer instituição que<br />
pretenda a este.<br />
Por constituir saber público, o conhecimento científico produzido no<br />
espaço acadêmico deve possuir padrões que uniformizem os métodos e
técnicas de sua elaboração, experimentação e publicação. A metodologia vem<br />
ao encontro desta demanda, criando condições para que o conhecimento<br />
esteja acessível por todos que desejarem acercar-se de tais experiências, seja<br />
na qualidade de alguém que se forma por meio deste conhecimento<br />
(recebendo-os em publicações que os reproduzem) ou formam o conhecimento<br />
(avançando com ele para suas extremas possibilidades na pesquisa).<br />
A metodologia auxilia e orienta o universitário no processo de<br />
investigação para tomar decisões oportunas na busca do saber e na formação<br />
do estado de espírito crítico e hábitos correspondentes necessários ao<br />
processo de investigação científica. O uso de processos metodológicos<br />
permitirá ao estudante o desenvolvimento de seu raciocínio lógico e de sua<br />
criatividade (CERVO & BERVIAN, 2002). Dito isto, parece que fica claro que<br />
metodologia científica não é um simples conteúdo a ser decorado pelos<br />
discentes, para ser verificado num dia de prova. Trata-se de fornecer aos<br />
discentes um instrumental indispensável para que sejam capazes de atingir os<br />
objetivos da academia, que são o estudo e a pesquisa em qualquer área.<br />
Um curso de metodologia científica deve, assim, se propor a desenvolver<br />
a capacidade de observar, selecionar e organizar cientificamente os fatos da<br />
realidade. Diante dessa temática Richardson (1999, p.259) afirma que a<br />
observação:<br />
[...] sob algum aspecto, é imprescindível em qualquer processo de<br />
pesquisa científica, pois ela tanto pode conjugar-se a outras técnicas<br />
de coletas de dados como pode ser empregada de forma<br />
independente e/ou exclusiva.<br />
Com essa afirmativa, estamos voltados à capacitar o estudante, através<br />
de reflexões, práticas e reflexões sobre essas mesmas práticas, a uma análise<br />
do conhecimento e do seu processo de produção. Considerando-se a<br />
universidade como centro do saber, como uma instituição preocupada com o<br />
ensino, com o rigor da aprendizagem e com o progresso da ciência, ela terá na<br />
metodologia um valioso ajudante quanto ao desenvolvimento de habilidades e<br />
competências do universitário. Essa disciplina vem, portanto, fornecer os<br />
pressupostos do trabalho científico, ou seja, normas técnicas e métodos<br />
reconhecidos pelo uso entre cientistas, referentes ao planejamento da
investigação científica, à estrutura e à aplicação, apresentação e comunicação<br />
dos seus resultados.<br />
Nos estudos de Richardson (1999) a pesquisa e seu objetivo imediato é a<br />
aquisição de conhecimento, posto isto, é como uma ferramenta para adquirir<br />
conhecimento, logo, aprendendo a pensar, a pesquisar e formando o seu<br />
espírito científico, o universitário estará obtendo conhecimentos novos e ao<br />
mesmo tempo sendo ativo e participante da tarefa de transformação da<br />
realidade.<br />
Para tudo o que se faz existe um método, uma forma de fazer. Assim, Gil<br />
(1997, p.60) diz que “quando alguém tem necessidade de obter determinado<br />
conhecimento, dirige sua atenção e energias para leituras, cursos, palestras e<br />
outras ações capazes de satisfazer as necessidades”.<br />
Do mesmo modo que a metodologia científica auxilia a formação<br />
profissional do estudante, esse pretende alcançar uma formação profissional<br />
competente bem como uma formação sócio-política que o conduzirão a uma<br />
leitura crítica e analítica do seu cotidiano. Assim, Kahlmeyer-Mertens et al.<br />
(2006, p.4) nos assegura que o “uso da metodologia e do conjunto metódico<br />
que a integra é essencial ao fazer da universidade, recorrente e necessário em<br />
todo momento”. Também a formação profissional competente está diretamente<br />
relacionada ao crédito dado ao estudo e à elaboração de um projeto de estudo.<br />
Tendo em vista os diversos graus de originalidade, criatividade e<br />
profundidade, têm-se diferentes níveis e conseqüentemente diferentes tipos de<br />
trabalhos científicos ou acadêmicos, tanto na graduação quanto na pós-<br />
graduação. Os primeiros, basicamente recapitulativos e bibliográficos, são mais<br />
realizados na graduação e, os últimos, estudos mais originais, são exigências<br />
da pós. Mas em todos eles se exigem qualidade, organização, rigor,<br />
observação e respeito às normas técnicas conferidos pelo método<br />
(SALVA<strong>DO</strong>R, 1982).<br />
Nessa perspectiva em que a pesquisa científica é a ferramenta e<br />
instrumento de refinamento e lapidação das potencialidades do acadêmico,<br />
nada mais coerente aprender a pesquisar fazendo pesquisa. É importante o<br />
iniciante ter em mente que não existe fórmula para soluções de problemas e<br />
muito menos ciência sem problemas. “Precisa-se ter conhecimento da<br />
realidade, algumas noções básicas de metodologia e técnicas de pesquisa,
seriedade e, sobretudo, trabalho em equipe e consciência social”<br />
(RICHARDSON, 1999, p.15). Mas para o sucesso ou frustrações de qualquer<br />
trabalho científico, o acadêmico, independente da sua área do conhecimento,<br />
precisa entender que nada se faz ao acaso e todo processo científico começa<br />
com a escolha do tema, do objeto de estudo, de sua delimitação, provocar<br />
problema e montar sua pesquisa.<br />
Deste modo, a pesquisa, o espírito científico, a universidade e aquilo que<br />
nosso autor chamou de “emulações criativas”, ocorrem mediados pela<br />
metodologia. Isto confirma e justifica sua presença e necessidade na hora de<br />
elaborar trabalhos científicos enquanto veículos de conhecimentos gerados por<br />
pesquisas acadêmicas.
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