(a): Maikon Levi Vilar Veiga - Outros Tempos - Uema

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS
CURSO DE HISTÓRIA
MAIKON LEVI VILAR VEIGA
A SOCIEDADE LUDOVICENSE NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Uma
análise sócio-profissional (1850-1888)
São Luís
2006

MAIKON LEVI VILAR VEIGA
A SOCIEDADE LUDOVICENSE NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Uma
análise sócio-profissional (1850-1888)
Monografia apresentada ao Curso de História da
Universidade Estadual do Maranhão, para
obtenção do grau de Licenciatura em História.
Orientador: Prof. Fábio Monteiro
São Luís
2006

Veiga, Maikon Levi Vilar
A sociedade ludovicense na segunda metade do século XIX: uma
análise sócio-profissional (1850-1888) / Maikon Levi Vilar Veiga. – São
Luís, 2006.
55 f.: il.
Monografia (Graduação em História) – Curso de Historia ,
Universidade Estadual do Maranhão, 2006.
1. São Luís – sociedade. 2. Tipos sociais – análise sócio-profissional.
3. Sociedade ludovicense – século XIX . I. Título.
CDU 981.21 : 316.339.56 (812.1) “1850-1888”

MAIKON LEVI VILAR VEIGA
A SOCIEDADE LUDOVICENSE NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX: Uma
Aprovada em: ____/____/____
análise sócio-profissional (1850-1888)
Monografia apresentada ao Curso de História da
Universidade Estadual do Maranhão, para
obtenção do grau de Licenciado em História.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________
Prof. Fábio Monteiro (Orientador)
Universidade Estadual do Maranhão
__________________________________________
Prof. Yuri Michael Pereira Costa
Universidade Estadual do Maranhão
__________________________________________
Profª. Maria de Lourdes Lauande Lacroix
Universidade Estadual do Maranhão

A Deus, a minha família e a todos que
sempre nos apoiaram.
Ao curso de História da UFMA e da UEMA,
pois tive o privilégio de aprender com os
Mestres e Doutores das duas
Universidades.

AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por me dar forças e estar sempre do meu lado.
A minha família, que acompanha toda a minha trajetória de vida.
A Universidade Federal do Maranhão, especificamente ao Curso de
História, já que comecei o curso nesta universidade, transferindo-me depois para
UEMA.
abertos.
A Universidade Estadual do Maranhão, por ter me acolhido de braços
Aos professores do curso de História da Ufma, em especial a Antonia
Mota, Wagner Cabral, Telma, Josenildo, Marize e Glória.
Aos professores do curso de História a Uema, em special Lourdinha,
Alan, Henrique, Marcelo, Júlia, Ximendes, Elizabeth, Helidaci, meus grandes
incentivadores e mestres.
Aos meus pais Idalina e Pedro, aos meus irmãos, Veiga, Viviane, Agmar e
Wagner, pelos incentivos e ajuda de todas as formas. A minha namorada Valéria
pelos incentivos quando pensava em desistir e por tudo o que fez por mim (ela sabe
do que estou falando). A Pandôra, pelos intermináveis latidos, quando precisava
estudar.
Aos amigos da turma 2001.1, da UFMA: Ariel, Amadeu, Christoferson,
Giovanna, Gleidson, Jean Gustavo, Joseane, Jackson, Paulinho, Nágela Simone,
Roberto Portela, Thiagão, Tássio, Zé Ramalho Júnior e Wheriston.
Aos amigos da turma da UEMA: Daniel, Jeane, Salomão, Jhonatan,
Poliana, Marcos Aurélio, Yara, Mardeine, Larissa, Ritinha, Jesiel, Nilson, Arisson.
Ao meu grande amigo de longa data João Ricardo, que sempre me
ajudou quando mais precisava, valeu fera!
A Superintendência de Cultura Popular, onde estagiei por dois anos e ao
seu quadro de funcionários.
Ao professor Fábio, que em sua esplêndida orientação permitiu a
concretização deste trabalho.

“o grande historiador – ou talvez devesse dizer
mais amplamente, o grande pensador – é o
homem que faz a pergunta por quê? Sobre
coisas novas ou em novos contextos.”
Edward Hallet Carr

RESUMO
Faz-se uma análise de como era a sociedade ludovicense entre 1850-1888,
tentando perceber a riqueza de relações cotidianas entre livres, livres pobres,
senhores e escravos. Desconstroe-se argumentos cristalizados pela historiografia
tradicional como o binômio senhor/escravo, que polarizou a sociedade de acordo
com os conceitos da grande lavoura de exportação, seguindo uma análise sócio -
profissional do período.
Palavras-chave: São Luís, sociedade, tipos sociais, tipos profissionais.

ABSTRACT
If wakes an analysis of how was São Luís society between 1850 – 1888, trying to
realize the wealth of quotidian relations among free people, poor people, owners
and slaves. Arguments from traditional historiography are undone like the binomial
owners/slave that polarized society according to the concepts of plantation,
following a socio and professional analysis from the period.
Key-words: São Luís. Society. Socio types. Professional types.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Tabela 1 – Aulas/Quantidade de alunos .............................................................. 34
Tabela 2 – Oficinas/Quantidades de aprendizes ................................................ 34
Tabela 3 – Profissão/Quantidade de trabalhadores............................................. 35
Quadro 1 – Caricatura/Descrição Pomada.......................................................... 41
Quadro 2 – Caricatura/Descrição Troira.............................................................. 41
Quadro 3 – Caricatura/Descrição segundo Elizabeth.......................................... 43

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 10
2 O QUE SABEMOS SOBRE NÓS NO XIX? ............................................ 13
3 SÃO LUÍS OITOCENTISTA .................................................................... 21
3.1 Formação da Praia Grande ................................................................... 21
3.2 O Porto.................................................................................................... 23
3.3 A constituição da Feira ......................................................................... 24
3.4 Por detrás dos azulejos......................................................................... 25
4 TIPOS SÓCIO-PROFISSIONAIS DE SÃO LUÍS .................................... 33
4.1 Tipos Profissionais................................................................................ 33
4.2 Tipos sociais.......................................................................................... 38
4.2.1 Escravos urbanos ................................................................................... 39
4.2.2 Os tipos populares .................................................................................. 40
4.2.3 O papel das mulheres ............................................................................. 42
5 CONSIDERACÕES FINAIS .................................................................... 44
REFERÊNCIAS ....................................................................................... 46
LISTA DE JORNAIS ................................................................................ 48
ANEXOS ................................................................................................. 49
1 INTRODUÇÃO

Refletindo-se acerca da São Luís na segunda metade do século XIX,
tendo como ponto de partida a análise da historiografia tradicional, pode-se em um
lampejo inicial supor e pensar que um binômio viveu por aqui de forma polarizada e
desconexa. Em outras palavras, pode-se pensar que os senhores e os escravos
eram os únicos atores sociais que encenavam no palco ludovicense. Quem lê sobre
São Luís, entre 1850-1888, entende a mesma não como um palco, mais sim como
um campo de batalhas entre senhor e escravo, percebendo o primeiro como
opressor e o segundo como oprimindo, esquecendo-se do todo.
No presente trabalho, tentar-se-á tatear até que ponto essa é uma falsa
impressão, através de um retrocesso não ao passado que já foi consumado e já não
pode ser mais remontado, mas, tentando-se perceber elementos que indiquem uma
outra visão do que se tem em São Luís para além de senhores e escravos.
A pesquisa busca analisar se o aclamado binômio desfrutou e conviveu
de uma forma polarizada e totalmente desconexa do restante dos moradores de São
Luís, ou se dividiram experiências que fugiram do contexto do grande sistema
agrário de exportação.
A problemática encontrada na pesquisa, como em qualquer outra, se
relaciona fundamentalmente ao fato do objeto não jorrar como um gêiser em
erupção, tornando-se necessário a utilização de técnicas para a interpretação do
objeto em estudo. Edward Hallet Carr afirmava: “É comum dizer-se que os fatos
falam por si. Naturalmente isso não é verdade. Os fatos falam apenas quando o
historiador os aborda: é ele quem decide quais os fatos que vêm à cena e em que
ordem ou contexto”. 1
A pesquisa utilizou como fonte primária jornais da época 2 , no intuito de
elencar reportagens, matérias, reclamações, avisos, ou até descrições que
abordassem a situação de como se encontrava a sociedade ludovicense na época
1 CARR, Edward Hallet. Que é história? Tradução de Lúcia Maurício de Alverga. 8. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1982. 189 p. Tradução de: What is History, p. 47.
2 A utilização de jornais como fonte primária é uma importante ferramenta para o cientista social
tentar perceber a seleção de fatos de um determinado período. Entretanto, como abordado pela
historiografia atual, o documento seja ele escrito ou em outro suporte, necessita ser analisado como
uma peça formulada dentro de sua época e meio. Jacques Le Goff assinala que “o documento é
produzido consciente ou inconscientemente pelas sociedades do passado, tanto para impor uma
imagem desse passado, quanto para dizer a verdade”. Nesta perspectiva, a utilização de jornais
como fonte levará esse aspecto em relevância, no intuito de não qualificar o documento como um
dado dotado de imparcialidade. (LE GOFF, 1988, p.54).

da desagregação do sistema escravista. Uma pesquisa bibliográfica e leituras
teóricas pertinentes ao tema foi outra fonte para um maior suporte das
argumentações propostas.
A hipótese levantada então, é a de que no período estudado São Luís
contava com um quadro sócio-profissional bastante diversificado, o que formava
uma teia de relacionamentos muito mais complexa do que um simples jogo de
mocinho e bandido, de senhores x escravos. Na tentativa de sondar essa hipótese,
se pesquisou primordialmente nas fontes primárias relatos no período de 1850 a
1888. A escolha desse recorte histórico não foi aleatória, almeja-se tatear um novo
momento econômico e social no cenário maranhense que se configurava neste
período. No outro pólo, a pesquisa encerra-se em 1888, pois dessa década em
diante novas orientações irão marcar o início de uma nova conjuntura para o objeto
do estudo. A partir de 1888 a escravidão, uma das bases de sustentação do sistema
agrário exportador teve um fim com a Lei Áurea, tendo como conseqüência a
proclamação da república e a modificação das relações inter-pessoais, sociais,
profissionais, etc.
O presente trabalho, não abordará o período pós 1888(apesar de usar
alguns conceitos de 1902), sabe-se que esse momento histórico é uma nova fase,
que requer uma outra pesquisa e, certamente novos métodos de abordagem e
tratamento desse novo recorte histórico.
Gostaria de ressaltar que a escolha por esse tema reflete a minha grande
admiração pelo social e cultural, bem como minha angustia de não ver presente em
nossa historiografia a riqueza do ludovicense enquanto sujeitos e atores sociais, no
período em análise. Ademais meu intuito é demonstrar como o povo merece ter uma
história, que pelo menos se aproxime do real, e que não fique escondida por detrás
da história da desagregação do sistema agrário exportador.
Acredito que a relevância desse trabalho consiste em tentar entender
processos históricos que são analisados somente de dois ângulos: o ponto de vista
dos senhores e o ponto de vista dos escravos. E o povo, ou seja, o restante da
população, não merece uma análise?
A contribuição ao enriquecimento do debate de uma temática tão
importante para a construção da identidade e memória coletiva do Estado e
principalmente de São Luís, traz ao campo de análise, um assunto pouco abordado,
e mostra que a nossa amada História é o campo ideal para conjecturas acerca das

produções do homem.
Nesse sentido, o trabalho está sistematizado de maneira a tratar no
primeiro capítulo das novas abordagens acerca da sociedade Maranhense, no que
se referem aos escravos, senhores, livres e pobres. Após essa análise, se fará no
segundo capítulo uma abordagem da situação e urbanização de São Luís, dando-se
realce ao processo de abandono e falta de conservação da cidade. No último
capítulo será feita uma pequena discussão acerca dos tipos sociais e profissionais
que estão presentes em São Luís no período de 1850-1888, discussão essa que nos
levará a perceber que por entre senhores e escravos também viviam e conviviam um
grande número de profissionais e pessoas de todo tipo.

2 O QUE SABEMOS SOBRE NÓS NO XIX ?
Sem dúvidas, o primeiro grande golpe que sofreu o sistema escravista
brasileiro foi a abolição do tráfico internacional de africanos. A partir de 1850, a
economia brasileira, fundada no trabalho escravo, desligou-se do fornecimento
africano. Sem a fonte de renovação dos plantéis, vital para sua sobrevivência, o
escravismo entrou em colapso.
No Maranhão, o escravo esteve presente em grandes quantidades desde
a segunda metade do século XVIII até os anos 80 do século XIX, assim como em
todo o Brasil, era o escravo quem assegurava a economia maranhense. A mão-de-
obra escrava foi tão importante para o Maranhão que a redução de 73.245 peças
para 33.446 entre 1872 e 1887 em razão do tráfico internacional, ajudou na
estagnação da lavoura e do comércio da província. Em 1821, o trabalho escravo
predominava nas atividades agrícolas do Maranhão. ”Entre os trabalhadores desse
setor, 77,7% eram escravos e 22.3% livres. Em 1872, os números havia se invertido,
os homens livres representavam 70,4% e os escravos 39,6% dessa mão-de-obra”. 3
O modelo de colonização do Maranhão foi marcado pela economia
agrário-exportadora, escravista e mercantil, definida, particularmente, a partir da
segunda metade do século XVIII.
Assim, a condição jurídica, livre ou escravo, e o padrão de renda das
pessoas, somadas a elementos da tradição européia do Ocidente, como os
resíduos das relações de suserania e vassalagem, ainda presentes na
mentalidade do colonizador português, imprimiram formalmente, os códigos
das relações sociais no Maranhão. 4
O escravo representava e demonstrava opulência e o alto prestígio social
dos fazendeiros maranhenses, mesmo que para isso eles se endividassem junto aos
vendedores de escravos. Como se pode notar, esse comportamento indica o quanto
estavam presentes no imaginário dessa elite econômica, os resíduos da mentalidade
senhorial do ocidente medieval, caracterizada, em grande parte, pelo desejo de ser
servido e reverenciado por uma larga clientela. “Assim, sendo a condição de ser
senhor, definia-se na tradição nobiliárquica acrescida de um novo elemento: a
3 PEREIRA DO LAGO apud FARIA, Regina Helena Martins de. A transformação dos trabalhos nos trópicos:
propostas e realizações. Recife, 2001. Centro de Filosofia e Ciencias Humanas.Programa de Pós-Graduação em
História. Universidade Federal de Pernanbuco. p. 157
4 PEREIRA, Josenildo de Jesus. Na fronteira do cárcere e do paraíso: um estudo sobre as práticas e resistência
escrava no Maranhão oitocentista. 2001. Dissertação ( mestrado em História Social) – Programa de pós
Graduação em História Política Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001. p. 32

escravidão” 5 . “Portanto, o escravo para o maranhense representava e significava
honra e dignidade associados ao poder de mando”. 6
Os aspectos demográficos são muito importantes para conhecermos o
grau de importância do escravo para a sociedade maranhense. Já sabemos que na
primeira metade do século XIX o escravo esteve presente em quantidades
superiores aos homens livres, porém na segunda metade do período analisado este
quadro se inverte e teremos, portanto uma maioria de pessoas livres, assim sendo
percebe-se que “no cotidiano da formação escrava maranhense, distinguiam-se os
funcionários públicos, os comerciantes, os lavradores, os trabalhadores: escravos e
libertos, os brancos pobres e os índios”. 7
Deve-se deixar clara a grande importância escrava para a economia e
sociedade maranhense, porém faz-se necessário entender que entre escravos e
demais segmentos sociais estabeleceram-se uma diversificada e complexa rede de
relações. Entre senhores e escravos existiam, particularmente, relações de
dominação, de conflito, mas também de aliança e convivência pacífica. ¨A
experiência cotidiana das relações escravistas transcendiam o discurso jurídico, pois
homens e mulheres, quer fossem brancos, ricos ou pobres, escravos ou livres,
construíram o processo histórico de suas vidas em sociedade¨. 8
Os negros eram vistos como mão de obra potencial para o sistema agrário
exportador, já os livres pobres que para Caio Prado Jr. 9 viviam à margem da
economia agrária exportadora, não podiam se entrosar normalmente no organismo
econômico e social do país, pois eram um elemento desajustado. Segundo Regina
Faria 10 , os homens livres na primeira metade do século XIX eram vistos como inúteis
e perigosos por não estarem inseridos na grande lavoura ou participarem de forma
marginal. Eles ocupavam principalmente a criação de gado e, de acordo com o
secretário de governo de 1840, Domingos José Gonçalves de Magalhães 11 , eram
“homens ociosos”, sem domicílio certo, amantes da vida meio errante, pouco dados
a outros místeres e muito à rapina e à caça.
5
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo:
Companhia das Letras, 1988, p.203-223.
6
RIBEIRO, Jalila. A desagregação do sistema escravista no Maranhão (1850-1888). São Luís: SIOGE, 1989
p.132.
7
PEREIRA, op. cit. p. 36
8
Id. Ibid., p. 45
9
PRADO Jr. Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1972. p. 198
10
FARIA op. cit. p.157
11
MAGALHÃES, Domingos José Gonçalves de apud FARIA op. cit. p. 156

De acordo com edição de 14 de fevereiro de 1869 de “O Artista” 12 , pode-
se perceber com riqueza de detalhes a descrição dos livres pobres maranhenses:
São homens ou famílias que não tem suas terras vivem nas alheias,
intrusos ou com licença dos respectivos donos. Há proprietários que tem
centenas de intrusos e não tem meios de os fazerem evacuar. Mas evacuar
para quê? Seria melhor arrendar-lhes terras: mas é que eles não se
sujeitam a um arrendamento e se assinassem algum seria logo necessário
expeli-los por falta de pagamentos, e as coisas ficariam como estão. Quem
não tem uma energia fora do comum não expulsa um desses intrusos por
ter que adquirir um inimigo que tem uma infinidade de meios de fazer mal. O
pior é que de todo modo, quer como amigos quer como inimigos, fazem-se
pesados ao senhor das terras: cortam madeira reservada, colhem-nas
escondidas nas roças, desmancham cercas, quebram porteiras, ligam-se
com escravos, para prejudicarem os senhores, tem laços com escravos
fugidos, avisam-lhes das diligências, amigam-se com as escravas, matam
os animais domésticos, esfaltam os cavalos nos passeios noturnos, animam
os escravos a insubordinação com discursos subversivo,suas mulheres são
parteiras de abortos clandestinos entre as escravas que pretendem subtrair
a escravidão o fruto de seu ventre, andam por detrás dos ranchos dos
escravos abrindo caminhos novos para fins ilícitos, o pretexto de fazerem o
que eles chamam picada de caçador; de maneira que o proprietário não
pode ter em sua casa a ordem que deseja. 13
Ainda em “O Artista”, percebemos entre os livres pobres os que se dizem
lavradores por possuírem roça, embora em terra alheia:
Pescam ou caçam num dia, fazem farinha noutro, trabalham uma hora na
roça em outro e dormem ou passeiam o resto da semana. Andam léguas
para ir cavar num buraco onde sabem que há uma paca ou um tatu, ou para
trazerem uma arroba de frutos silvestres e voltam com seu achado: se a
caça é morta a tiro, avaliam-na no custo da carga da pólvora; se é morta a
facão ou a laço ou se é fruta, tudo é lucro: são dons gratuitos que nada
custaram porque eles não sabem dar valor ao tempo, são pródigos de sua
fortuna.
A liberdade e a ociosidade dos livres pobres, de acordo com o exposto no
jornal “O Artista”, são estereotipadas por não estarem inseridas no contexto da
grande lavoura de exportação; portanto a ociosidade do livre era vista pela elite
agrária como preguiça e falta de valor ao tempo e ainda eram taxados de
vagabundos.
Existia desde a colônia leis que proibiam a vadiagem. O código criminal do
Império determinava pena de prisão com trabalho, por oito e vinte e quatro dias, a
qualquer pessoa que não tivesse uma “ocupação honesta e justa” para o império. O
que seria uma ocupação honesta para o Império?Seria estar na órbita do sistema
agrário de exportação? O modo de vida dos livres pobres não era honesto por não
se enquadrar em tal contexto?
12 Jornal dedicado, principalmente, às artes mecânicas, encontrado na Biblioteca Pública Benedito Leite: “Só
chegamos a ser livres à proporção que nos fazemos industriosos e moraes” (C. B. Dunoyer).
13 O Artista, 14 de fevereiro de 1869 apud FARIA p. 163.

O que deve ser percebido aqui é a preocupação de enquadrar esse
homem livre como fonte de mão-de-obra, pois o Maranhão perdeu boa parte de seus
plantéis de escravos para o sudeste, devido ao tráfico interprovincial. Portanto, de
acordo com o presidente da província em 1874, Augusto Olímpio Gomes de Castro:
A instrução pode operar essa reforma salutar, inspirando nas classes
pobres o desejo da propriedade e o amor da família, estímulos poderosos
para combater a dissipação e a ociosidade. Melhorada a educação do povo,
o trabalho será procurado, e a produção aumentará. 14
Como se pode perceber, o modo de vida dos livres pobres passa a não
ser mais aceito em uma sociedade que carece de mão-de-obra e vê nesse pobre um
meio de suprir tal deficiência, com isto tem início uma mudança na posição das elites
em relação aos pobres livres. Gradativamente iam sendo aceitos como homens e
mulheres que podiam ser integrados ao mercado de trabalho, se mudassem
radicalmente o modo de viver.
O engenheiro Miguel Ferreira mostra muito bem como o modo de vida dos
livres pobres era diferente do modelo pautado na subordinação e disciplina imposta
pelo padrão, que se inseria no contexto da grande lavoura de exportação:
Procure um homem para o trabalho: acham-se vinte, o que prova que não
faltam braços no país. Trate-se com qualquer deles, e dirá que é um homem
de bem os direitos; e para o provar refere que tem servido a muitos patrões e
sempre a contento. Depois de uma fastidiosa seca, aí fica o homem
contratado, que o proprietário dava por despachado, mas que parece esperar
ainda por alguma cousa. Afinal depois de muitos rodeios, pede abertamente
o dinheiro adiantado. Se o proprietário adianta, pela maior parte das vezes
fica sem o trabalhador e sem o dinheiro, e se nega o homem de bem se
ofende e por isso não vai trabalhar. Se vai, trabalhar em cada casa 15 dias;
faz uma viagem ao mangue num barco, daí vai tirar pedra em uma pedreira,
na outra semana vai tirar cipó ou buriti para vender na cidade, porque não
quer estar sujeito a patrões, depois se aborrece de andar pelo mato, e vai
pescar; n’outra semana vai para um barco buscar sarnambi ou carregar
pedra. Os proprietários não podem detalhar um serviço para o dia de
amanhã, porque não sabem quantos trabalhadores virão ao serviço, quantos
irão pescar, quantos caçar, quantos dormir etc. 15
De acordo com Regina Faria, para transformar o livre pobre considerado
inútil e perigoso em um trabalhador enquadrado nos padrões desejados pela elite,
muitas estratégias foram sugeridas, mas poucas ações foram realizadas para
implementá-las, apesar das incontáveis queixas de serem um empecilho à
14 GOMES DE CASTRO 1875, p.11 apud FARIA, 2001 p.166
15 FARIA op. cit p.172

“civilização da província”. Tentou-se o ensino agrícola que não vingou, criaram-se
novas leis contra a vadiagem, mas praticamente não foram efetivados.
Devido à seca de 1877 a 1878, o número de pobres livres aumentou muito
no Maranhão por causa dos emigrantes cearenses. Quando a administração da
província ficou ciente do volume de pessoas que estavam chegando, tomou-se
providências para controlar a situação. A presidência da província instruía que os
retirantes fossem empregados preferencialmente em serviços de lavoura, em terras
particulares ou devolutas. Com isso, o governo contribuía para acabar com o
problema da falta de braços no setor e diminuía suas despesas com o sustento dos
retirantes. Ora, para uma província que estava perdendo os braços escravos, a
corrente migratória foi de extrema importância e valia.
O Maranhão conseguiu absorver a grande maioria dos imigrantes e, de
acordo com o Diário do Maranhão nas edições dos dias 14 e 27 de fevereiro de
1879, há indícios de como estava sendo feita essa absorção:
Os emigrantes que foram remetidos para a comissão desta vila (Penalva)
já mudaram de aspecto, estão todos satisfeitos, e são moralizados e
trabalhadores, não tendo havido entre eles a menor desordem.
Dos que para aqui (Brejo) vieram, muitos se ocupam com proveito da
lavoura; preciso é, no entanto que a autoridade evite que outros se
entreguem à vadiagem para não lhes ser imputado o desaparecimento de
rezes e furtos das roçadas. 16
Estariam, portanto, integrados à vida do Maranhão, inclusive aos
trabalhos agrícolas. O aumento na produção de cereais indica que os retirantes
tinham se integrado basicamente como pequenos produtores. A grande lavoura
escravista estava perdendo fôlego. Os livres pobres ganham espaço. Mas as elites
se recusam a admitir que isso estivesse acontecendo. Contudo, não deixava de
perceber a existência do livre pobre como um braço útil e como pequeno produtor
rural. Começaram a aparecer referências que elogiavam os livres pobres como: “...
são em extremo famigerados, dedicados ao trabalho e muitos concorrem para a
prosperidade da lavoura de Monção. São eles os fornecedores de toda a farinha que
se gasta nos engenhos de açúcar, da circunvizinhança”. 17 Como se pode perceber,
o pobre livre na segunda metade do século XIX teve grande importância no contexto
sócio-econômico da época. Eles se relacionaram com escravos e senhores,
enriquecendo a teia de relações sociais maranhense na época da desagregação do
sistema escravista. As relações inter-pessoais: apadrinhamentos, modo de vida,
16 DIÁRIO do Maranhão, 14 e 27 de fevereiro de 1879
17 O Artista, fevereiro, 1881 apud FARIA,

costumes, relações com senhores e escravos, casamentos etc., são temas ainda
pouco trabalhados, merecendo a atenção dos pesquisadores, portanto:
O perfil das relações no Maranhão, não ficou, em nível do cotidiano,
reduzido ao binômio senhor/escravo, pelo contrário, as relações no plano do
cotidiano eram complexas e decorrentes dos resíduos culturais presentes
na memória das pessoas que teciam as relações cotidianas. Além do mais,
os níveis dessas relações, conflito, negociação, solidariedade e violência
variavam em maior ou menor grau, dependendo das circunstâncias em que
pudessem se encontrar os sujeitos sociais. 18
Por entre os largos, as ruas, os becos estreitos e o porto de São Luís, os
escravos recriavam a sua condição social, indicando aspectos de suas
formas de ler e viver o mundo, sugerindo dimensões das maneiras de
viverem a resistência, o amor às intrigas e as maneiras de solucionarem os
seus problemas . 19
O Maranhão oitocentista foi marcado por uma forte religiosidade entre os
componentes das elites. A elite maranhense entre 1850 e 1888 expressava sua
religiosidade nos hábitos de rezar e assistir às missas, e era permeada por um
profundo medo da morte, já que são várias as cartas de liberdade em nome de
santos de devoção dos senhores e do próprio Deus. Um exemplo foi a liberdade
concedida à escrava Raimunda, menor de idade, mulata, por Francisca Antônia
Lima em respeito ao dia em que se celebrava a sagrada morte e paixão de Cristo 20 .
Encomendavam-se inúmeras missas para a salvação das suas almas, de seus pais,
filhos e parentes. O mesmo não se pode falar dos pobres e escravos, pois:
As luzes do cristianismo parecem que ainda não penetravam essas vilas de
tetos de palha e essas choupanas esgarradas em tão vasto território.
Pobres padieiros com nome de igreja, ermas de fieis; apenas aninham as
corujas, morcegos e mais aves noturnas, cujas imundices cobrem o chão
sem assoalho, e até os mesmos altares; um vapor pútrito, como o hálito da
peste se exala do santuário deserto, e tão miserável é o seu aspecto que
parecem monumentos de zombaria ao mais sublime dos sentimentos
humanos [...]. O que se pode esperar de homens não domados por
nenhum freio. 21
Percebe-se, portanto, que a preocupação de salvar a alma era bastante
acentuada no imaginário cristão católico da sociedade maranhense na época, aqui
analisada, mas essas possibilidades estavam diretamente ligadas e articuladas às
condições financeiras dos que em vida, desejavam a salvação por entenderem que
para além do mundo terreno havia o prolongamento da vida, e que esta não podia e
não devia ser carregada de desalentos espirituais.
18 PEREIRA op. cit. p. 49
19 PEREIRA op. cit. p. 63
20 Cartório Celso Coutinho. Livro de Notas n. 25, 1866, apud RIBEIRO op. cit. p. 69
21 MAGALHÃES apud FARIA p. 158

A despeito das convicções que definiam a concepção cristã, que era
dominante quanto a experiência do sagrado, o que vale salientarmos é a
relação intrínseca entre o poder econômico e a fé religiosa herdada da
cultura medieval portuguesa, a qual tecia, uma rede de compromissos
entre o profano e o sagrado, entre a bolsa e a vida, entre o medo e o
mistério. A única mediação deste drama Barroco era o dinheiro, já que
somente ele é que podia pagar pelas inúmeras missas, ou construir igrejas
e capelas, ou pagar honorários de padres.[...]. Os escravos, entretanto, não
participavam diretamente desses atos ritualísticos pois, ao morrerem eram
enterrados no Cemitério da Santa Casa, mas sem a encomenda de sua
alma a Deus. Pelo interior da província, o leito dos rios serviam-lhes como
depósitos de seus corpos, já dilacerados pelos castigos ou fatigados por
rígidas jornadas de trabalho. 22
Como se pode perceber a vida religiosa se mostrava diferenciada nas
várias facetas da sociedade maranhense. Será que podemos falar o mesmo da
própria estrutura social? Será que a análise da estrutura social de livres, pobres e
dos próprios negros do interior do estado pode ser aplicada para São Luís, capital da
província, que passava por um processo de urbanização nunca visto no Maranhão?
As novas figuras que surgiram nesse contexto, dinamizaram ou não o quadro sócio-
profissional e o próprio cotidiano dos ludovicenses? Essas respostas aparentemente
fáceis e por mais banais que sejam, ainda não foram respondidas, pois ficaram
camufladas em meio a um tiroteio da Historiografia: Senhores X Escravos,
opressores X oprimidos. Esse jogo de mocinho e bandido já rendeu bons frutos para
a historiografia, nos deu respostas a muitas dúvidas, porém é muito angustiante não
saber responder com precisão quem foi São Luís para além de senhores e escravos.
Se prestarmos atenção no que Aluísio Azevedo descreve em sua obra “O
Mulato” entenderemos o que foi São Luís entre 1850 e 1888:
[...] A Praça da Alegria apresentava um ar fúnebre...do outro lado da praça
uma preta velha vendia fatos de boi. As crianças nuas...com os ventres
amarelentos e crescidos empinavam papagaio de papel .Um outro branco
levado a necessidade de sair, atravessava a rua. Ao longe para as bandas de
São Pantaleão, ouvia-se apregoar: “Arroz de Veneza! Mangas! Mocajubas!”...
O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava... Da praia de Santo
Antonio enchiam toda a cidade de sons invariáveis e monótonos de uma
buzina, anunciando que os pescadores chegavam do mar, para lá
convergiam apressadas e cheias de interesse, as peixeiras, quase todas
negras, muito gordas... A Praia Grande e a Rua da Estrela contrastava com o
resto da cidade. Em todas as direções cruzavam-se esbofados e rubros,
cruzavam-se os negros e os caixeiros em serviço na rua. Os corretores de
escravos examinavam os negros..., os leiloeiros cantavam em voz alta o
preço das mercadorias. 23
A descrição não nos deixa dúvidas da grande gama de atividades
profissionais existentes em São Luís no período analisado. Aluísio fala em
22 PEREIRA op. cit. p. 51
23 AZEVEDO, Aluisio. O Mulato.Rio de Janeiro: Editora Ática, 1986, p.15-16

vendedoras de fatos de boi, quitandeiro, pescadores, peixeiras, caixeiros, corretores
e leiloeiros. Devemos entender aqui que essas atividades não eram atividades só de
negros ou só de brancos. As atividades profissionais de São Luís podem nos fazer
entender por outro ângulo a sociedade ludovicense. As crianças que brincam com a
pipa segundo Azevedo, não demonstram o grande temor que os brancos têm de
rebeliões negras. É difícil de acreditar que elas possam brincar em um campo de
batalha, em meio a senhores e escravos se digladiando, visão esta que ainda
permeia a historiografia maranhense.
A análise sócio-profissional de São Luís nos permitirá montar um
panorama de como era a capital maranhense, esse panorama porém não é um
quadro esquemático fechado. Antes de falar especificamente do quadro profissional
ludovicense é de extrema importância se entender a cidade de São Luís.
24 Id. Ibid. p.186.
No dia seguinte, por todas as ruas da cidade de São Luís do Maranhão, e
nas repartições públicas, na praça do comercio, nos açougues, nas
quitandas, nas salas e nas alcovas, boquejava-se largamente sobre a
misteriosa morte do Dr. Raimundo. Era a ordem do dia. 24

3 SÃO LUÍS OITOCENTISTA
São Luís em meados do século XIX, constituiu-se de três mundos
distintos, porém nem sempre excludentes, tendo em mente que os homens
constroem e tecem suas vidas baseados nas relações sociais e estas, por sua vez,
são compostas de brigas, intrigas, mas também de amor, amizades, solidariedade.
De um lado impregnada com os ares de progresso temos a elite urbana de São Luís
que adotou e tentou reproduzir nos trópicos ares de vida européia, principalmente
francesa, todavia por razões diversas, que vão desde o clima, passando pelo baixo
grau de escolaridade e chegando até uma das bases de sustentação do sistema: a
escravidão, a tentativa de civilização acabou sendo uma caricatura do modelo ideal.
Por outro lado esse mesmo espaço urbano era ocupado pela sociabilidade escrava,
por suas formas de ler e ver o mundo. Nesse emaranhado de atores encontrava-se
também os pobres livres, as pessoas de pequenas posses, em outras palavras,
aqueles que por não se enquadrarem no contexto da grande lavoura de exportação
ficaram à margem da sociedade e eram taxados de vadios.
3.1 Formação da Praia Grande
Em São Luís, o Bairro da Praia Grande 25 despontou como o local onde
muitas edificações foram construídas principalmente no decorrer do século XIX, com
a expansão da cidade.
Deve-se ressaltar que a organização urbana da Praia Grande 26 , com seus
grandes casarões denota os reflexos do crescimento econômico aferido pelo
Maranhão durante a segunda metade do século XVIII e decorrer das primeiras
décadas do século XIX. A iniciativa dos proprietários de estabelecimentos, que
25 A denominação do bairro com Praia Grande, teve origem de acordo com Carlos de Lima, “na
chamada Praia Grande, isto é, o espaço que medeia, mais ou menos, do atual Shopping Cidadão até
o final da Rua do Trapiche, em contraposição à Praia Pequena, ou Praia da Trindade, na altura da
Rua do Ribeirão (também conhecida como Praia do Caju) e Praia de Santo Antônio, em direção à
antiga Estação da Estrada de Ferro S. Luís - Teresina, hoje Gerência de Segurança Púbica” (LIMA,
2002, p. 23).
26 O bairro em seu princípio, era cercado de juçarais e olhos d’água, sendo constantemente alagado
no período chuvoso. “A Praia Grande era, pois, todo o terreno desde a travessa Boa Ventura (Fluvial)
até a rua do Trapiche, onde despontavam vários olhos d’água sob frondosos juçarais, recebendo as
enxurradas vindas da rua do Giz, um tremendo lamaçal tornado impraticável, duas vezes ao dia, nas
marés crescentes, para o transporte das mercadorias recebidas do interior, quando toda a
comunicação por São Luís se fazia por mar” (Ibid., p.24).

construíram e moldaram com seus vistosos casarões azulejados, a imponência de
uma época onde “a sociedade passou a requintar-se, através de melhorias urbanas
e de suas habitações.” 27
A área compreendida pelo centro histórico e em especial a Praia Grande,
teve até o início do século XX, uma importância vital para a cidade de São Luís,
constatando-se que nesse logradouro, estava situada uma vasta parte do comércio,
em virtude da volumosa passagem de mercadorias e produtos carregados e
descarregados no Porto localizado neste logradouro. O local também despontava
como preferido na fixação de residências de comerciantes enriquecidos e
afidalgados.
A área antes cheia de alagados e pântanos, aos poucos, começou com a
chegada dos estabelecimentos e novos moradores a ganhar novos ares com a
modificação da paisagem física. Essas mudanças que se processavam na área são
confirmadas por Viveiros, “aterrou os pântanos, secou os olhos d’água , roçou os
manguezais, beneficiou-se com dezenas e dezenas de braças de cais, dotando-lhe
de trapiches [...] e cobrindo-o de sobradões, de ombreiras, de cantarias, de janelas,
de grades de ferro e revestidos de azulejos”. 28
Com as mudanças na paisagem natural da área, removendo-se os
empecilhos às construções, começou-se o processo de organização espacial das
edificações que constituíram o conjunto arquitetônico.
O comércio, que se alojou naquele setor foi elemento canalizador das
condições materiais para o desenvolvimento do centro histórico, com o investimento
de capitais na melhoria da área.
A atração de famílias que começaram a fixar residência também foi outro
fator importante, na medida em que as autoridades públicas tiveram que prover -
mesmo com todas as debilidades existentes - esses moradores com serviços, como
calçamento das ruas e abastecimento de água.
Uma forma típica de utilização dos casarões no período se dava em forma
27 GOMES, Geovana Carneiro Rocha. Praia Grande: o surgimento do bairro, o porto, a feira e sua
decadência econômica. 1998. 43 f. Monografia (Graduação em História) Universidade Federal do
Maranhão, São Luís, 1998, p. 19
28 VIVEIROS, Jerônimo José de. História do Comércio do Maranhão (1612 – 1615). São Luís:
Associação Comercial, 1954. p. 144

de comércio na parte térrea e moradia nos pavimentos superiores, havendo também
construções, cuja habitação era unicamente utilizada como moradia.
[...] o bairro da Praia Grande continuou abrigando comerciantes abastados,
que ali construíram seus imponentes casarões. Os primeiros pisos dessas
edificações sediavam estabelecimentos comerciais, enquanto os andares
superiores serviam de residência aos seus proprietários. 29
Os elementos que colaboraram para a consolidação e vocação comercial
deste distrito da cidade são: a constituição da Feira, do Porto e a própria localização
geográfica (dentro do perímetro original de surgimento da cidade).
3.2 O Porto
O porto da Praia Grande serviu como alavanca para as atividades
econômicas não só de São Luis, como do Maranhão, pois do mesmo ocorria a
partida e chegada de mercadorias que impulsionavam as transações comerciais. “O
porto vai ser o grande corredor de escoamento para aquele comércio emergente, e
em função deste surge o primeiro bairro comercial de São Luís”. 30
São Luís muito lucrava por ser o único porto exportador, acumulando uma
função essencial dentro da dinâmica econômica do Estado. A passagem das
mercadorias exportadas e importadas trouxe um volume de capital que possibilitou a
criação e manutenção de um estilo de vida mais requintado para um segmento de
seus moradores.
Mesmo com as mudanças processadas na economia no decorrer do
século XIX, como o início do ciclo da cana de açúcar que deslocou o eixo econômico
mais para o interior do Estado, São Luís continuava a ser o elo da cadeia comercial.
São Luís, a capital, nada perderia; muito pelo contrário, único porto
exportador, desenvolveu-se e enriqueceu-se ainda mais - os seus
sobradões, de sacadas de ferro, de umbrais de cantaria, cujos azulejos
reverberavam ao sol, aumentaram em número. 31
O porto era o grande responsável pela articulação do Maranhão dentro do
comércio exportador de produtos agrícolas. A produção de algodão, cana de açúcar
29 NOGUEIRA JÚNIOR, Francisco Domingos Bezerra. Praia Grande: tesouro cultural, patrimônio da
humanidade. 2001. 65 f. Monografia (Graduação em História) Universidade Federal do Maranhão,
São Luís, 2001, p. 18
30 PEREIRA, Lana Lourdes. Praia Grande: uma história de resistência. 1997. 65 f. Monografia
(Graduação em História) Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 1997, p.13
31 MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 2. ed. São Luís: Fundação Cultural do
Maranhão, 1980, p. 297

e arroz que constituíram produtos essenciais à economia maranhense no decorrer
dos séculos XVIII e XIX - cada um dentro de um determinado momento - teve seu
escoadouro no porto de São Luís.
O porto apesar de largamente utilizado, possuía problemas de ordem
estrutural com “bancos de areia; canal de ziguezague; a grande amplitude das
marés, o que só permitia o atracamento na maré alta; e cais pequeno”. 32
A despeito desses problemas o porto era um elemento fundamental para o
desenvolvimento da cidade e consequentemente, foi um fator que canalizou
condições materiais para o surgimento do padrão arquitetônico dos grandes
sobrados, muitos revestidos com azulejos importados, dinamizando com isso a vida
em sociedade.
3.3 A constituição da Feira
A formação da feira na Praia Grande 33 foi outro elemento que fomentou a
circulação de moeda na área e serviu de local para venda de víveres indispensáveis
à população.
A constituição da feira nos moldes que chegou aos dias atuais, remonta
ao século XIX, quando se sentiu a necessidade da construção de um local que
pudesse melhor acomodar a venda de gêneros alimentícios na cidade, pois com o
desaparecimento das barracas 34 da Praia Grande, tornou-se mais complicado a
aquisição de alimentos.
Na tentativa de sanar as dificuldades da população nesse sentido, foi
dado início em 1855 a construção da Casa da Praça cuja obra só foi terminada em
1862, pela Companhia Confiança Maranhense. “A Casa da Praça era um conjunto
arquitetônico à semelhança de um quadrilátero, tendo no centro de cada uma de
suas alas, um portão que dava acesso a um jardim interno”. 35 A construção da Casa
32 GOMES op. Cit. p.24
33 Para um melhor estudo sobre a formação da feira da Praia Grande, recomenda-se a leitura da
obra Feira da Praia Grande, de José Ribamar Sousa dos Reis.
34 As barracas da Praia Grande foram planejadas no início do século XIX para a guarda e venda de
gêneros alimentícios da população de São Luís. “Finalmente em 1805, feitos os aterros e um cais,
áreas foram concedidas aos comerciantes para erigirem casas a fim de formar uma praça regular, de
40 braças, onde se estabeleceriam as barracas” (LIMA, 2002, p. 24) Essas barracas organizadas
para suprir as necessidades de guarda e venda de alimentos, deu origem ao que se denominou Casa
das Tulhas ou Celeiro Público.
35 REIS, José Ribamar Sousa dos. Feira da Praia Grande. São Luís: Augusta, 1982., p. 99

da Praça (atual Feira da Praia Grande) foi um elemento de muita serventia para a
dinamização da área do núcleo inicial de formação da cidade.
3.4 Por detrás dos azulejos.
São Luís desenvolveu-se como já aludido, a partir de um núcleo inicial, a
Praia Grande. Esse núcleo foi sempre a parte mais importante comercialmente e
que recebeu primeiramente os melhoramentos urbanos. Assim é que essa área
central da cidade foi o alvo principal das transformações modernizantes e
organização urbana. Esse momento coincide com a segunda fase do
desenvolvimento econômico do Maranhão, meados do século XIX à crise do final do
século 36 , quando se verificou uma diversificação do capital mercantil e a gênese de
um setor de serviços, principalmente na capital. Tais serviços foram sempre de uso
restrito e contemplaram apenas as áreas nobres da cidade, como a Praia Grande e
os bairros centrais.
A cidade de São Luís na metade do século XIX, era formada por três
freguesias urbanas: a de Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora da Conceição e
São João Batista. A cidade ao expandir o seu núcleo urbano, aumentou o seu
número de ruas, edifícios e população, necessitando também de uma maior
demanda de serviços públicos. Segundo Raimundo Palhano 37 os anos de 1850 a
1870 foram caracterizados pelo surgimento e desenvolvimento dos serviços
públicos, momento também onde as cidades brasileiras, principalmente as capitais
encontravam-se em fase inicial de urbanização, sendo o estado o principal vetor
desse processo. Nesse sentido o poder publico elaborou medidas visando melhorar
o aspecto urbano de São Luís. O Código de Posturas de 1866 foi um instrumento
dessa tentativa. Nota-se no Código de Posturas a preocupação com as aparências
das ruas de São Luís buscando minimizar características do meio rural. A rua passa
a ser um lugar de intensa movimentação, daí a preocupação com carruagens,
carroças junto de animais e pedestres. Além da aparência das ruas também era
preocupação do Código de Posturas o comércio, o vestir, e até os vícios como o
fumo e a bebida.
36 REIS, Flávio Antonio Moura. Grupos políticos e a estrutura oligárquica no Maranhão (1850-
1930). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1992.
37 PALHANO, Raimundo nonato Silva. A produção da coisa Pública: serviços e cidadania na
primeira república – ludovicence. São Luís: IPES, 1988, p 155.

Os serviços de iluminação, transporte, limpeza e abastecimento faziam
parte das necessidades de uma cidade em expansão. A iluminação pública na
primeira metade do século XIX era feita através de candeeiros à base de azeite, que
além de deficientes abrangia apenas a região central da cidade e de acordo com
Vieira Filho 38 , os lampiões viviam sujos eram poucos e mal conservados. Percebem-
se as mudanças no sistema de iluminação na passagem de o Mulato onde Azevedo
nos relata:
Também dizia mal da iluminação a gás;... Dantes os escravos tinham o que
fazer! Mal serviam o jantar iam aprontar e acender os candeeiros deitar-lhes
novo azeite e coloca-los no seu lugar... E hoje? É só chegar o palitinho de
fogo à bruxaria do bico de gás e [...] cala-se na pândega! Já não há tarefa! 39
A implantação da iluminação pública em São Luís data de 1863, além de
demonstrar sérios problemas, contemplou principalmente os bairros centrais
habitados pelas classes mais abastardas.
Com relação ao abastecimento de água potável, este era um problema
crônico em São Luís. O fornecimento era dependente da venda por parte de alguns
proprietários de poços nos arredores da cidade; dentre esses comerciantes de água
destacou-se a figura de Ana Jansen, comerciante e latifundiária da capital. A água
servida a uma parcela da população de São Luís, era de péssima qualidade e
segundo relatos temos que: “A água que se vende atualmente é péssima
principalmente a que vem do Sítio do Sr. Comendador Vasconcelos, que é bastante
salobra” 40 . Apesar de tais referenciais terem um grau de confiabilidade pouco
significativa, já que tal depoimento foi encontrado em um jornal de esquerda da
época, e possivelmente utiliza-se do problema da água para afetar politicamente o
comendador, deve-se encarar o problema de água potável em São Luís como real.
Em 1856, o governo da província concedeu o privilégio da venda de água,
por sessenta anos, para a companhia de água do Rio Anil. Esta deveria canalizar
água do Anil para a população da cidade. Essa Companhia não obteve sucesso e
terminou sendo incorporada, em 1875, pela Companhia de Águas de São Luís, que
funcionou até 1920.
Essas Companhias não conseguiram satisfazer minimamente a
população, pois além da precariedade e os altos preços dos serviços prestados, o
38
VIEIRA FILHO, Domingos. Breve História das ruas e pacas de São Luís. 2. ed. Maranhão, 1971
p. 16.
39
AZEVEDO, Aluísio op. cit. p.71
40
Jornal Para Todos, 28 de setembro de 1877, ano 1, nº. 26

número de pessoas que usufruíam era restrito, principalmente, a elite local que
podia pagar. A população pobre em sua maioria usava as bicas, chafarizes e fontes
públicas.
A limitação do acesso à água potável contribuía decisivamente para o
problema de insalubridade, que era agravado dentre outros fatores pelo precário
sistema de esgotos. Os dejetos deveriam ser despejados no mar, mas não era
pouca as vezes que a população usava para isso um terreno vazio, ou mesmo a rua.
Outro item fundamental para a salubridade das cidades é a limpeza
pública. Contudo, esse serviço nunca foi uma prioridade para o Estado, ao contrário
foi sempre assunto secundário. Ainda assim, nos locais onde se fazia a coleta, era
usado o cofo de palha como depósito de lixo, deixado nas portas das casas. A
limpeza pública era precária e realizada por método primitivo. As condições gerais
de asseio da cidade eram as piores possíveis, pois como afirma Palhano “as artérias
da capital eram comumente invadidas por lamas, excrementos de animais, restos de
vegetais e de sobras de todas as espécies, lançadas pela população. 41 Segundo
Vieira Filho:
Os garis da época eram os ventos, o “ vento amigo” que Oliveira Viana
chamou acertadamente de “ grande higienista da cidade” e a água das
grossas chuvas que lavam as ruas de São Luís, escoando-se rapidamente
por causa das ladeiras que tornavam pitoresco esse abençoado burgo[...]. 42
As precárias condições de salubridade facilitavam a proliferação de
doenças como a varíola, sarampo, gripe, hepatite, disenterias e outras sendo
comum os surtos epidêmicos, como os de varíola relatados por Marques:
A varíola de vez em quando reaparece, e sempre fazendo muitas vitimas,
como aconteceu na capital nos anos de 1837 a 1838, de 1854 de 1867 a
1868 e de 1870 a 1871 aqui na capital sendo as três primeiras mortíferas,
especialmente a de 1854, e as outras mais benignas. 43
Essas doenças atingiram a população em geral, porém as camadas
populares, principalmente os escravos, devido o difícil acesso dos melhoramentos
urbanos, eram os que mais sofriam com a precária salubridade da cidade, o que
ocasionava um grande número de mortes.
No que diz respeito aos serviços públicos, observa-se que apesar de
algumas melhorias, como por exemplo, a iluminação a gás e uma série de contratos
41 PALHANO op. cit.p. 236
42 VIEIRA FILHO op. cit. p. 21
43 MARQUES, Augusto César. Dicionário histórico e geográfico da província do Maranhão. Rio
de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1870, p. 486.

para abastecer a cidade de água encanada, foram medidas precárias e limitadas,
que não chegou a satisfazer a demanda geral, beneficiando e privilegiando apenas
as elites econômicas e políticas e os bairros centrais da capital.
Percebe-se que São Luís, mesmo passando por uma grave crise
econômica, buscava manter a todo custo a aparência e o status. Nessa cidade onde
o projeto modernizante da elite burguesa foi malogrado, onde os serviços de infra-
estrutura urbana não contemplaram a maioria da população e onde os aportes
civilizatórios não puderam realizar mais do que um arremendo daquilo que acontecia
na Europa existia muitas formas de sociabilidade que se entrelaçavam e formava
uma diversificada e complexa rede de convivência, onde seus atores: os escravos, a
população pobre, os “vadios” tinham seus modos de vida duramente recriminado e
reprimido até mesmo pelo Estado.
O que deve ser entendido é que mesmo tendo sua forma de viver
reprimida, o popular enquanto sujeitos vivenciaram a realidade de São Luís, e de
alguma forma se apropriam dela e a re-inventam, portanto o Estado através do seu
aparelho repressor tolheu o direito dos mais pobres e negros de viverem segundo
seus princípios, porém o povo está sempre presente quando tudo acontece, é
testemunha ocular do crime, é através dele que a notícia se espalha, o popular é o
registro de tudo o que acontece na cidade.
A polícia, órgão repressor estatal é por excelência o instrumento de
manutenção da ordem do Estado, e é responsável pela segurança pública dos
cidadãos, porém é comum se encontrar nos jornais da segunda metade do século
XIX denúncias sobre o precário funcionamento da polícia, assim como apresentam
queixas da população revoltada com a ineficiência da mesma e com seus tumultos
causados por seus agentes.
Com relação à estrutura de funcionamento da polícia, o jornal O Binóculo,
traz uma nota intitulada: Obra Prima da Natureza, que diz o seguinte:
44 O Binóculo, 27 de novembro de 1888.
A obra mais importante que tem o nosso governo, é a cadeia do Cutim!
Ah!... essa obra sim senhor : as portas desse suntuoso edifício são
engrenadas com fortes e grossíssimas pindobas, o telhado coberto com o
mesmo objeto, o destacamento que guarda essa – obra prima da natureza
– e os pobres inocentes que por infelicidade tiveram a infelicidade de lá cair,
é composta de no máximo seis praças, três desses estão diariamente
licenciadas, das três que ficam em serviço, uma vai tirar palmito para o
cavalinho do Sr. Subdelegado; a outra vai tirar caranguejos para nós comer,
a última fica dormindo na fresca sombra dum arvoredo que tem defronte.
Quanto aos presos nada sabemos. 44

“Ainda com relação aos péssimos serviços prestados pela polícia e o
número muito reduzido de soldados, o Jornal Para Todos denuncia os transtornos
causados pelos agentes dizendo:” No incêndio que houve na madrugada do dia oito
apresentou-se “UM” soldado do 5º batalhão uniformemente fardado de roupas de
dormir” 45 .Através desses relatos percebe-se um total despreparo da polícia militar
comprovadas pelo número muito pequeno de soldados e pela postura dos policiais
frente não somente a população, mas principalmente a seus superiores, que por
sinal, a toda hora encontramos nos jornais, referências elogiosas a esses que
comandavam um “ batalhãozinho” de pessoas despreparadas.
Honras de Major: Ao Sr. Capitão do segundo batalhão da guarda nacional
desta província João Pedro Alves de Barros foram concedidas as honras de
major.
Promoção – Foi promovido a coronel graduado o Sr. Tenente-coronel do
corpo de engenheiros João Victor Vieira da Silva. 46
Aqui se pode afirmar que a real preocupação da polícia além de reprimir
os que não se enquadravam em uma cidade urbana, era promover pessoas que não
cumpriam suas obrigações enquanto comandantes do órgão protetor da população.
Enquanto a população sofre e reclama dos serviços da polícia, percebe-se um
descomprometimento do alto escalão para com os ludovicences.
Se a polícia não tinha compromisso para com a população, a população
não confiava e nem acreditava na polícia, pois como a mesma pouco cumpria com
os seus deveres, os ludovicences procuravam dar o famoso jeitinho brasileiro 47
quando eram vítimas de roubo, valendo até apelar para os jornais, como percebe-se
no seguinte aviso:
AVISO: Tendo os ladrões penetrado hotem à noute, em casa de morada de
baixo assignada, à rua de S. Pantaleão, chácara contígua ao
estabelecimento comercial do sr. Bernardo e fronteira ao do sr. Manoel dos
Reis Gomes, e d’ahi roubando uma saleira de prata com logares para sete
vidros, seis galinhas e mais a quantia de 4,3000 reis, em cobre, que se
achava dentro de uma das gavetas do guarda-louças; - pede a pessoa a
quem o mesmo saleiro for offerecido, especialmente aos senhores ourives,
o favor de apprehendel o e entrega-o a abaixo assignada, visto ser-lhe
impossível obter as galinhas e a importância subtraída.
Rosa Emília Rodrigues Branco Pereira. 48
Como já foi dito a policia estava preocupada era com os vadios, vadiagem
esta, que era considerada própria dos desocupados, ou seja, dos não engajados no
45 Jornal Para Todos, 13 de julho de 1877.
46 A Actualidade, 14 de agosto de 1869.
47 Ver HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil
48 Pacotilha, 13 de maio de 1888.

mercado formal de trabalho, o ócio era característico da vadiagem portanto:
na rua do Ribeirão, canto com a rua da Saavedra, reúne-se todas as noites
umas abelhas perigosas, que sem respeitar a moral pública, larga de
ROUPA À PROA mil palavrões cabeludos. Eis os nomes das primeiras que
sobresahem, Benedita, Filomena e a celebre Joana, negrinha de pá virada,
que tantas vezes tem visitado os raios da cadeia pública. Melhor se tornaria
a comédia se o sr. Subdelegado do 3º distrito expedisse ordem para ser
liquidado esse cortiço, que tanto mal tem causado àqueles moradores. 49
Esse é um exemplo típico normalmente classificado como vadiagem pela boa
sociedade do período, que além das denúncias ainda enumeravam muitas outras
atitudes como definidoras de vadiagem, para as mulheres sobressaem alguns
adjetivos mais comuns como rueiras, escandalosas, “alegres”, etc. No caso dos
homens temos: boêmio, notívago, gatuno e ébrio.
Os “Vadios” eram perseguidos e não tinham o direito de reclamar dos
serviços da polícia, entretanto os moradores dos bairros centrais de São Luís
sempre estavam cobrando da polícia atitudes para com os desordeiros e
vagabundos, é o que se percebe na edição do jornal Pacotilha de 01 de junho de
1888.
Alerta policia???
Pedimos ao sr. chefe de polícia, que não se esqueça de mandar patrulhar a
rua de S. Pantaleão, com especialidade ao conto da de S. Thiago, que é
onde junta-se constantemente grande número de vadios e desordeiros!
Nesse lugar da-se sempre cousas do arco da velha, constantemente apitase,
não aparece um soldado, como sempre: ora, isso não tem geito; é
preciso andarem mais activos com a lei; não é essa a primeira reclamação
que temos feito.
Os moradores da rua S. Pantaleão. 50
Deve-se entender o conceito de vadiagem dentro do discurso para a
transformação do trabalho na província do Maranhão, pois com a decadência e crise
do sistema agrário exportador no Maranhão, as pessoas que antes não eram nem
lembradas enquanto seres humanos e aqui estamos falando dos pobres e negros,
passam a ser vista como mão de obra potencial, porém, para isso elas deveriam se
enquadrar em uma urbanização almejada pela elite, devendo para isso modificar o
seu modo de viver:
49 O BINÓCULO, 27 de novembro de 1887.
50 PACOTILHA, 01 de junho de 1888
51 O PAIZ, 29 de maio de 1888.
[...] Ainda está tudo por fazer, para que possa organizar regularmente o
trabalho, é preciso antes de tudo criar o trabalhador porque não existe entre
nós”.
[...] Entretanto não posso deixar de reconhecer que é geralmente dotada de
boa índole, faltando somente educá-la e chama-la ao trabalho... 51

Mesmo quando os livres pobres passaram a ser vistos como mão de obra
potencial, os discursos preconceituosos para com esse tipo de trabalhador
continuaram a ser usados:
Ninguém é capaz de conseguir trabalho dessa gente. Muitas vezes o
proprietário vai convidar trabalhadores prometendo-lhes pagamento pontual
e boa alimentação; exigem logo adiantamento dos jornais, alegando que
precisam comprar uma calça ou camisa, os que obtém o abono nunca mais
aparecem para o não pagar e os que não obtêm tornam este pretexto para
não ir ao trabalho, porque não podem ir sem roupa para fora de casa. 52
Indubitavelmente o modo de vida dos pobres livres passa a não ser mais
aceitável em uma cidade em processo de urbanização, assim as vacarias e tudo o
que lembrasse o meio rural foi proibida nos bairros centrais de São Luís pelo Código
de Posturas, porém, os tipos sociais e os tipos profissionais que permeiam esse
universo não somente de livres pobres, mais de toda uma gente que construiu suas
vidas em sociedade, reconstroem o cotidiano de São Luís mostrando o que os
ludovicences faziam, quem eles eram e como viviam.O popular é muito importante
para se entender a cidade de São Luís da segunda metade do século XIX.
Deve-se levar em consideração três critérios para se entender a
sociedade maranhense da primeira metade do século XIX. O critério da cor; o
critério econômico e o critério jurídico, ou seja, ser ou não ser dono de escravo. A
sociedade maranhense segundo Faria 53 se tornou mais complexa na segunda
metade do século XIX devido à interrupção do tráfico de africanos, a emigração
nordestina, a desagregação do escravismo, a miscigenação e outros fatores que
contribuíram para diversificar os tipos físicos e os papeis sociais. Assim sendo:
Com o passar do tempo, a instalação em seu núcleo urbano de diversos
negociantes, lojistas e quitandeiros de toda origem, portugueses,
brasileiros, ingleses e franceses conferiu a São Luís a condição de “cidade
comercial” e a quarta cidade brasileira em importância econômica. Nesse
processo, por volta de 1861, São Luís já possuía mais ou menos uns 36
negociantes com escritório situado na Rua do Trapiche, do Egyto, Formosa,
dos Barbeiros, da Estrele e do giz, no Largo do Carmo, 04 armazéns de
madeira de construção civil e naval; 05 mercados de lojas livres; 03 agentes
de leilões; 158 quitandas; 59 armazéns de mantimentos secos de todas as
qualidades, frutas e aves. Os seguimentos médios e ricos da cidade ainda
podiam contar com uma larga oferta de serviços de modista, retratista,
relojoeiros, arquitetos, ourives e outros. 54
Nesse sentido a busca da compreensão do cotidiano da cidade de São
52 O PAIZ, 29 de maio de 1888.
53 FARIA op. cit. p. 60
54 PEREIRA, op. cit. P. 57

Luís, perpassa e está permeada dos hábitos desses sujeitos que modificaram e
transformaram a estrutura social da capital, portanto:
Os quitandeiros maranhenses, foram co-responsáveis pelo movimento
transformador, foram, com absoluta convicção, representantes de vetores
sociais específicos, que, se dominados, não emergiram do mocambo e/ou
da senzala, pois participando da organização, da reprodução, e da
transformação sociais, configuravam a habitação inclusive da meia-parede,
da meia-morada, da parede-e-meia etc. 55
55 CORRÊA, Rossini. Formação Social do Maranhão: o presente de uma arqueologia.São Luís,
Sioge, 1993, p.89

4 TIPOS SÓCIO-PROFISSIONAIS DE SÃO LUÍS
O povo, bem como as funções que exercem dentro de uma sociedade, ou
seja, suas profissões podem muito, mostrar como foi uma determinada sociedade e
como ela se organizava. Entender o profissional e atrelado a ele o sujeito enquanto
ator social é sem dúvidas entender a alma de uma sociedade.
4.1 Tipos Profissionais
No decorrer do século XIX, principalmente na segunda metade, a
estrutura social maranhense tornou-se mais complexa com o surgimento dos
seguimentos médios formados, em grande parte, de funcionários públicos, cujo
número foi aumentado com a complexidade do aparelho do Estado; de pequenos
comerciantes, de profissionais liberais e, ainda, de padres e literatos. Aumentou
também sensivelmente a população dos homens livres destituídos de qualquer
fortuna. Pensando nisso é que o ensino de ofício foi efetivamente promovido, no
Maranhão, através da fundação, em 1842, da Casa dos Educandos Artífices.
era:
Segundo Maria do Socorro Cabral, a finalidade desse estabelecimento
1º - desviar da carreira dos vícios, dezenas de moços que não tendo de que
viverem, nem quem promova sua educação crescem ao desamparo e
tornam-se inúteis e pesados a sociedade;
2º - animar as artes e oferecer à capital e à província trabalhadores e
artífices que tanto necessita. 56
Na década de 50 continuou a casa dos educandos em considerável ritmo
de crescimento. Nesse período, introduziram-se mais algumas matérias de estudo,
criaram-se outras oficinas e foi aumentado o número de educandos.
Em 1855 existiam, no estabelecimento, 137 educandos e as aulas e as
oficinas, tinham para Cabral, os respectivos números:
56 CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Política e Educação no Maranhão. São Luís: Sioge, 1984,
p.55

Tabela 1 – Aulas/Quantidade de alunos
Fonte: Maria do Socorro Cabral (1984, p.57)
Tabela 2 – Oficinas/Quantidades de aprendizes
Fonte: Maria do Socorro Cabral (1984, p.57)
A Casa dos Educandos, em 1855, era considerada como um dos
melhores empreendimentos educacionais do país, no campo do ensino de ofícios,
em 1873 a Casa contava com 300 alunos, freqüentando oito diferentes oficinas que
existiam em tal estabelecimento: gravura, marcenaria, alfaiataria, sapataria,
carpintaria, pedreiro, serralheria e ferraria. Havia além dessas oficinas, aulas de
primeiras letras, gramática aplicada, de desenho, de música e de instrumentos de
sopro e de corda.
AULAS QUANTIDADE DE ALUNOS
Primeiras Letras 137
Escultura e Desenho Aplicado às Artes 8
Geometria e Mecânica aplicada às Artes
e noções gerais de aritmética e álgebra
6
Música e instrumentos de corda 10
Música e instrumentos bélicos 28
OFICINAS QUANTIDADE DE APRENDIZES
Alfaiate 25
Sapateiro 20
Pedreiro 16
Carpinteiro 10
Charuteiro 25
A partir dessa época, a Casa dos Educandos passa a apresentar sinais
de declínio, houve uma redução em 1874 do número de alunos, caindo para apenas
100, o número de oficinas também caiu para apenas quatro. A Casa fechou suas
portas com a proclamação da república em 13 de dezembro de 1889.
O serviço dos Artífices era muito importante em uma sociedade urbana
como a de São Luís da segunda metade do século XIX, é comum se encontrar nos
folhetins da época, histórias que demonstram a importância dos seus serviços, como

exemplo tem a seguinte que diz: “Sapatos muito largos: ... Espere, vou dizer-lhe o
que é [...] Deve ser um sapateiro que mandei chamar... é o sapateiro da senhora
Morbais”. 57
Segundo Pereira do Lago 58 em 1821 as profissões acima citadas estavam
distribuídas da seguinte forma, em toda a província:
Profissão Quantidade de livres
exercendo
Quantidade de
Escravos exercendo
Alfaiates 61 96 157
Caldeireiros 4 1 5
Carpinteiros 86 183 269
Carpinteiro de Machado 96 42 138
Calafates 80 38 118
Espingardeiros 5 3 8
Ferreiros 37 23 60
Funileiros 2 1 3
Marceneiros 30 27 57
Ourives 49 11 60
Pedreiros e Carteiros 404 608 1012
Pintores 10 5 15
Sapateiros 92 143 235
Seleiros 4 1 5
Tanoeiros 4 6 10
Tabela 3 – Profissão/Quantidade de trabalhadores
Fonte: Pereira do Lago (2001, p. 121 à 123)
Total
De acordo com os dados percebe-se que das quinze profissões
apresentadas, dez eram exercidas pela maioria de livres, enquanto apenas cinco a
maioria era de escravos. Não se encontrou dados que pudesse nos dar um
panorama da segunda metade do século em análise, porém chegou-se a uma
conclusão que essas profissões passaram em sua grande maioria a ser exercidas
57 Jornal Para todos, 1º de agosto de 1877.
58 LAGO, Antonio Bernardino Pereira do.Estatística histórico-geográfico da Província do
Maranhão.São Paulo, Siciliano, 2001, p. 121 a 123.

por pessoas livres, levando-se em consideração a saída de uma grande quantidade
de negros para o sudeste do país, devido o tráfico interprovincial e principalmente
devido a criação da Casa dos Educandos que passou a formar livres nessas
profissões.
Além dessas profissões, iremos encontrar ainda muitas outras em São
Luis. Dentro do funcionalismo público temos que: “O empregado público mais antigo
de toda esta província, que ainda se acha no exercício de seu emprego, é o Sr.
Tenente Coronel João Joaquim Belfort Sabino” 59 . O funcionalismo público pode ser
encarado como um novo seguimento em São Luís, pois surgiu com o aumento da
complexidade do aparelho estatal. Sem entrar na questão de quando se passou a
confundir o público e o privado, em São Luís no período analisado era comum
encontrar depoimentos nos jornais do tipo: “Um conhecido empregado público, que
enriqueceu no exercício de suas funções, foi ultimamente demitido em conseqüência
de sérias desconfianças a seu respeito”. 60
Os bairros centrais de São Luís urbanizaram-se, porém as áreas mais
afastadas mantiveram características tipicamente rurais, portanto não podemos
esquecer da presença de pequenos agricultores e criadores de gado, tendo em vista
que:
Além das peras da Maioba, tem uma quinta do Caminho Grande, uma
maçãeira com duas lindas maçãs. Não tarda que teremos também pecegos
produzidos na ilha...
[...] Onze pessoas, ao todo, comerão da pêra maranhense que foi vendida
no bazar de Santo Antonio. 61
Agricultores, pequenos criadores de gado, pescadores são profissões que
prestavam importante papel na sociedade ludovicence, pois estavam inseridos no
cotidiano popular e segundo Azevedo: “Da praia de Santo Antonio enchiam toda a
cidade de sons invariáveis e monótonos de uma buzina, anunciando que os
pescadores chegavam do mar, para lá convergiam apressadas e cheias de
interesse, as peixeiras, quase todas negras, muito gordas”. 62 Em outras palavras, os
pescadores oferecendo seus serviços para a população, dinamizavam o comércio, o
convívio, o contato e a própria vida do ludovicence.
O número de profissionais liberais também aumentou. Encontraremos
59 Jornal Para todos, 13 de julho de 1877
60 Jornal Para todos, 24 de março de 1878
61 Jornal Para todos, 13 de julho de 1877
62 AZEVEDO op. cit. p.15-16

professores, médicos, advogados, etc. Para se ter uma idéia dessa evolução, basta
perceber que em 1838 só existiam apenas duas escolas públicas primárias na
capital, enquanto em 1860 encontraremos nove escolas desse tipo com 541 alunos,
isso sem levar em conta as escolas agrícolas e a própria Casa dos Educandos que
possuía um quadro de 137 professores. Além disso, os jornais sempre faziam
menção a esses profissionais: “Quem passa a noite pela Rua do Sol, nas
proximidades do quartel, admira e louva a dedicação do Sr. Roberto Moreira no
ensino de escripturação mercantil e contabilidade”. 63
O Jornal Para todos, A Actualidade, bem como A Pacotilha, mostra a
importância e influencia dos literatos, escritores, médicos e advogados em São Luís:
-Honramos hoje a primeiras página do Jornal Para Todos com o retrato do
talentoso maranhense Marcelino Augusto de Lima Baratta, auctor da
mimosa coleção de poesias, recentemente publicadas sob o título de
Miragens. 64
- Noticiamos a chegada à cidade de um dos mais ilustres escriptores
maranhenses, o sympatico Sr. José Pereira da Silva Coqueiro. 65
- Consultório Médico – O Sr. Dr. Augusto Teixeira Belfort Roxo tendo
saltado da Europa acaba de abrir o seu escriptório de consultas médica –
cirúrgicas em casa de sua residência rua Grande nº 17. 66
- Dr. Nina Rodrigues – Médico Operador – Dá consultas das 7 às 9 horas
da manhã na casa da sua residência a rua do Sol nº 17, onde recebe
chamadas a qualquer hora do dia e da noite. 67
- Oculista – O Dr. Correia Bittencourt, oculista residente na corte, ex chefe
de clínica de moléstia dos olhos dos gabinetes dos Drs. Wecker e Panas
em Paris, e do professor Hirschberg, em Berlim, de passagem por essa
cidade, demora-se algum tempo no exercício de sua
especialidade.Consultório e residência, à luz do Quebra Costas nº 11( em
faca da pharmacia Abreu), Consultas das 8 da manhã às 12. Grátis aos
pobres. 68
Como se percebe, esses médicos, advogados e literatos, estudavam na
Europa tendo uma formação diferenciada de outras profissões. Foi explícito e hoje é
bem nítido, que houve um relacionamento do senhoriato com a intelectualidade,
houve um complemento funcional de interesses, no Maranhão e bem mais em São
Luís. “No Maranhão, o crescimento material (infra-estrutura) provocou a
conseqüência correlata do florescimento cultural. Isto é, o senhoriato de agricultores
e comerciantes, necessitando parlamentar, foi procriador de sua intelectualidade.” 69
Em outras palavras, havia um casamento, sem divorcio, de senhores e
63 Jornal Para todos, 13 de julho de 1877.
64 Jornal Para todos, 1º de agosto de 1877.
65 Jornal Para todos, 28 de setembro de 1877.
66 A Actualidade, 11 de maio de 1869.
67 A pacotilha, 13 de maio de 1888.
68 A pacotilha, 13 de maio de 1888.
69 CORRÊA, op. cit. p.116

intelectuais na sociedade maranhense, portanto:
O labirinto social do grupo maranhense estruturou-se no imperialismo dos
intelectuais, escondendo o crescimento econômico de agricultores,
pecuaristas e comerciantes.
[...] Da funcionalidade recíproca, de senhores e intelectuais, resultam, no
mínimo, a organização do trabalho e a consciência oficial, subestruturas
essenciais da totalidade da estrutura social. 70
Deve-se entender também é que dentro desse grupo de “grandes”,
grandes agricultores; grandes pecuaristas e grandes comerciantes, também
existiram os “pequenos” comerciantes e agricultores. Os quitandeiros também são
atores sociais do cotidiano de são Luís, não sendo menos importantes para a
sociedade, somente porque produziam e vendiam em menor quantidade ou porque
possuíam um grau de instrução menos elevado, deve-se pensar o quitandeiro como
um agente difusor e propagador de relacionamentos, pois, em seu estabelecimento
se dava convívios de toda ordem, e foram principalmente a partir das quitandas que
as notícias, picuinhas ou não se espalhavam.
Essa grande e complexa rede de profissionais encontrada na São Luís da
segunda metade do século XIX, (aqui se deve deixar claro que sem dúvidas
existiram outros tipos de profissionais não citados e tratados na análise) nos permite
ampliar a visão e perceber uma infinidade de possibilidades de convívio, de
relacionamentos, essa diversidade profissional tece uma teia de convivência para
além de senhores e escravos e nos abre um enorme leque de possibilidades para se
pensar São Luís de um outro ângulo, a partir do povo, entendendo povo como todo
ser humano que viveu esse período estando na órbita do sistema agrário exportador
ou não.
4.2 Tipos sociais
Como se sabe, os tipos populares são o registro de tudo o que acontece
na cidade, é através dele que a notícia se espalha. Ele é testemunha ocular seja de
um crime, seja de um adultério, portanto sabendo de sua existência estaremos
cientes da existência de uma rede de relacionamentos que vai além do binômio
senhor/escravo.
70 Id. Ibid. p. 122

4.2.1 Escravos urbanos
O cotidiano da cidade de São Luís foi fortemente marcado pela presença
dos escravos nas casas e nas ruas. O ambiente urbano possibilitou uma maior
liberdade de movimentos dos cativos, levando em consideração que eles exerciam
várias funções nas ruas, o que também proporcionou um maior contato com outros
segmentos sociais, criando novas teias de relacionamentos.
O trabalho no ambiente urbano era diversificado. Alguns escravos
trabalhavam na casa senhorial, outros eram alugados e outros eram de ganho. Os
escravos domésticos trabalhavam em serviços relacionados a casa: cozinhavam,
lavavam, passavam, cuidavam do jardim, esse tipo de escravo tinham uma relação
mais próximas com seus senhores e geralmente andavam mais bem vestidos.
A locação de escravos fazia parte do dia-a-dia da cidade. Os escravos
eram alugados para os mais variados tipos de serviços: serventes, padeiros, oleiro,
ama de leite, cozinheira, doceira, alfaiate, sapateiro, etc.
O escravo de ganho era aquele que trabalhavam nas ruas negociando os
seus serviços. Seus senhores estipulavam uma quantia a ser-lhes entregue no final
do dia ou da semana, se o escravo faltasse com o compromisso era castigado. O
escravo além de entregar a quantia estipulada ao senhor, deveria com o excedente
pagar seu sustento. Muitos escravos de ganho moravam separados de seus
senhores, em quartos alugados.
A vigilância sobre esses escravos era mais difícil, mesmo com a presença
da polícia, pois era nas ruas que os escravos recriavam suas formas de ver e ler o
mundo e:
Por entre os largos, as ruas, os becos estreitos e o porto de São Luís, os
escravos recriavam a sua condição social, indicando aspectos de suas
formas de ler e viver o mundo, sugerindo dimensões das maneiras de
viverem a resistência, o amor às intrigas e as maneiras de solucionarem os
seus problemas. 71
O ambiente urbano deu uma dinâmica ao sistema escravocrata. As várias
modalidades de trabalho, doméstico, aluguel e de ganho; a maior mobilidade
escrava, o grande contingente de escravos e liberto, o que facilitava as fugas, as
novas formas de vigilância e as formas encontradas pelo escravo para exercerem
sua subjetividade: batuques, fugas, crimes, cumplicidade, são fatores que
71 PEREIRA op. cit. p. 63

compunham o cotidiano escravo na cidade.
4.2.2. Alguns tipos populares
Deve-se perceber e entender o popular como um agente difusor de
preservação da memória de um povo, ele é sem dúvidas um registro de tudo o que
acontece em uma cidade, portanto entender o popular é conhecer o lugar onde ele
viveu.
Pesquisando em jornais da época em análise (1850-1888), encontrou-se
diversas caricaturas de tipos populares, porém sem nenhuma descrição. Na
pesquisa também tivemos contato com jornais que não estão dentro do período
analisado (1902 - Jornal Os Novos), onde foram encontradas descrições de tipos
populares que se enquadram perfeitamente nas caricaturas. Sabe-se que o
historiador não deve comparar coisas e épocas diferentes, porém, apesar dos
jornais estarem em contextos diferentes (Antes e depois da escravidão), estão muito
próximos quando se estuda o social pois para Jacques le Goff “o processo mental
se estuda no longo período dos séculos” 72 , e ao descrever um personagem histórico
sem dúvidas se trabalha com a mente, portanto a descrição de tipos populares em
1902 dificilmente modificou-se em relação a segunda metade do século XIX.
Astolfo Marques 73 descreve no jornal Os Novos de 1902 alguns tipos
populares comuns na São Luís da época.
Um tipo interessante descrito por Marques é o Pomada. Negro “fidalgo”,
metido a poeta. Ou como nos fala Marques:
“É negro, ele mesmo o reconhece, mas não um negro aí qualquer. Negros
há-os de duas qualidades, negro lítico e negro positívia.Negro positívia é
aquele que rouba o alheio contra a vontade do dono.Dessa categoria ele
não é, nem será.Negro lítico é aquele que é sério e que goza da estima de
todas as pessoas de bem. É essa categoria a que ele pertence.” 74
O que se percebe, além do tom preconceituoso típico da época presente
na descrição, é que a descrição do Pomada é de 1902, esse termo não foi
encontrado nos jornais da segunda metade do século XIX, porém é bastante
semelhante e se aproxima muito das caricaturas encontradas em 1877 no Jornal
Para Todos, assim temos:
72 LE GOFF op. cit
73 Jornalista Maranhense
74 Tipos Populares: O Pomada Os novos, agosto de 1902

CARICATURA- 1877 DESCRIÇÃO DE MARQUES-1902
Quadro 1 – Caricatura/Descrição Pomada
Outro tipo popular descrito por Marques é o Troira. Orador, músico
dramaturgo e muito apreciado nas rodas sociais, tem uma voz firme e sonora que
causa assombro e inveja.
Quadro 2 – Caricatura/Descrição Troira
Pomada - Negro lítico é aquele que é
sério e que goza da estima de todas as
pessoas de bem. É essa categoria a que
ele pertence.
CARICATURA – 1877 DESCRIÇÃO DE MARQUES -1902
Estatura regular, muito magro, bigode
bem torcido e suissas pouco espesses,
de ar sempre alegre e presenteiro.
Não foram encontradas mais nenhuma descrição no Jornal Os Novos de
1902, porém foram encontradas no Jornal para Todos de 1877 muitas outras

caricaturas que podem ser vistas em anexo.
4.2.3 O Papel das Mulheres
A mulher permaneceu sem história durante um longo período. Atualmente
encontram-se alguns estudos acerca do tema, porém, muito pouco para abarcar o
leque de abrangência deste tema. Mulheres negras; pobre; livres; ricas, pode-se
abordar o assunto de vários ângulos. Elizabeth Sousa Abrantes em um artigo
intitulado A educação feminina em São Luís – século XIX, citando o jornal O Século,
retrata a vida da mulher da seguinte forma:
Até aos 8 anos só trata de brinquedos; dos 8 aos 10 já gosta de
cumprimentos nos bailes; dos 10 aos 13 já gosta de ler e copia versos; dos
13 aos 15 lê o folhetim do jornal e escreve às amigas comentando os bailes;
dos 15 aos 18 tem confidentes, lê romances, discute modas...; aos 19 fixa a
escolha e principia a falar em história; aos 20 fala de economia e casa-se;
dos 20 aos 25 aparece em todos os bailes...; aos 26 tem um filho, que não
amamenta , mas a quem adora...; aos 30 fala em questões científicas e lê o
jornal...; aos 40 trata de política...; aos 50 tem um confessor...; nos 60
brinca com os netos, reza o terço no rosário e ensina remédios e
comezinhas. 75
Como se pode notar esse era um retrato da mulher de classe média e
elevada, onde sua educação principalmente na primeira metade do século XIX, era
uma educação doméstica e orientada para o casamento. Já as mulheres negras
como é sabido não tinham educação, pois eram consideradas unicamente como
objetos, a mulher livre e pobre por não poder desempenhar atividades unicamente
do lar e na maioria das vezes fugiam a moral da união legítima através do
casamento, não eram bem vistas em uma sociedade rígida e patriarcal.
Durante a primeira metade do século XIX a mulher vivia exclusivamente
para a casa e família. Assim sendo:
È incalculável a ação da mulher na família. Se o homem é o chefe, e a
cabeça, a mulher é o coração. Ao primeiro toca a razão que manifesta a
sabedoria e felicidade, e a segunda o sentimento, que inspira uma e produz
a outra. Se ela encanta e duplica por suas virtudes a existência do esposo,
que torrente de benefícios não derrama sobre os seus filhos...Senhora dos
corações, a mulher é o mais forte laço de família. 76
Já na segunda metade do século em análise, devido o incremento da
sociedade e da vida urbana houve uma ruptura com o confinamento doméstico.
75 COSTA, Wagner Cabral da (org). História do Maranhão: novos estudos.São Luís, Edufma, 2004.
p.145
76 Id. Ibid p.148

Nesse período abriu duas instituições de ensino dedicadas a educação de meninas
desvalidas: o Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédios e o asilo
de Santa Tereza. Nessas instituições as meninas aprendiam doutrina cristã; deveres
morais; leitura; princípios gerais de gramática; escrita; aritmética; frações; trabalhos
de agulha; economia doméstica; como cozinhar; lavar; engomar; etc. A partir dos
anos 50 do século XIX São Luís contava com várias escolas privadas para a
educação feminina, além das já citadas instituições para meninas desvalidas.
Segundo Elizabeth:
Nos espaços públicos de convivência social das elites, as jovens deveriam
apresentar novas prendas relacionadas as etiquetas sociais, com maneiras
recatadas e elegantes de se apresentar em público, exigindo
conhecimentos de arte, falando uma língua estrangeira, de preferência o
francês.Esses conhecimentos seriam obtidos nos colégios femininos, que
procuraram adequar seus programas para atender esse tipo de educação. 77
Portanto na segunda metade do século XIX a mulher passa a ser vista não como
simplesmente a rainha do lar, ela agora deve se instruir de modo que possa dessa
forma ensinar os filhos a portasse diante de uma sociedade que adorava imitar os
padrões europeus de sociabilidade. Portanto:
A análise da educação feminina em São Luís revelou sua correspondência
com valores e ideários feminino da sociedade, sendo a instrução intelectual
um componente essencial de uma educação voltada para moldar a mulher
em seu papel de mãe, missão que necessitava, além de uma sólida
educação doméstica e religiosa, uma instrução intelectual que a habilitasse
a ser educadora dos seus filhos, a mulher em que o homem pudesse
encontrar não só a mãe carinhosa... senão também a companheira de seu
espírito. 78
Quadro 3 – Caricatura/Descrição segundo Elizabeth
77 Id. Ibid p.164
78 Id. Ibid p.170
CARICATURA – 1877 DESCRIÇÃO SEGUNDO ELIZABETH
Pura; sóbria; devota; cheia de
superstições; mãe; rainha do lar;
religiosa e que passa a ter uma
educação intelectual.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como meta a análise em um determinado
período histórico (1850 - 1888) da sociedade de São Luís, tentando percebê-la de
um outro ângulo, analisando-a para além de senhores e escravos.
Para a construção deste objetivo, a pesquisa buscou evidenciar a
diversidade social e profissional ludovicense, tentando não montar um quadro
esquemático de como era a sociedade da capital maranhense, mais sim mostrar o
diferente. Sabemos da importância do negro para toda sociedade brasileira,
queremos tornar pública também a importância de outros segmentos sociais.
O que ficou evidenciado após a análise e interpretação das fontes foi que
São Luís na segunda metade do século XIX foi muito rica em agentes sociais e
profissionais. Infelizmente a maior parte desses agentes ainda permanecem
calados, ficando sem história dentro da historiografia maranhense, portanto cabe
aos historiadores reviverem e desmistificarem essa história.
Na busca pela análise e interpretação dos processos históricos que
perpassam o período analisado, algumas dificuldades foram detectadas; como o
pouco material encontrado nas fontes primárias, devido não existir na época o
instrumental teórico acerca da importância da preservação do material produzido
(como por exemplo, a preservação de jornais, etc.) para futuras gerações. Muito
material se perdeu ao longo do tempo e outra grande quantidade se perde na
Biblioteca Pública Benedito Leite, principalmente pela utilização inadequada dos
mesmos.
Uma outra dificuldade, bem maior que a já aludida, foi a pequena
produção historiográfica sobre o tema de análise. A maioria dos trabalhos desse
período aborda ou o negro como foco principal ou a desagregação do regime
escravista dando uma abordagem econômica.
Atrelados a esses fatores mencionados, a complexidade solicitada pela
pesquisa – como em qualquer outra – foi um fator para a finalização do recorte
histórico em 1888. Quando se fazia necessário um recorte bem maior para uma
análise em âmbito mais aprofundado do objeto. Entretanto, como o fim do período
escravista trouxe novos rumos para o Brasil, achou-se melhor trabalhar o social de
São Luís antes do fim da escravidão. Pretendemos expandir o recorte histórico no
intuito de analisar os desdobramentos do fim da escravidão para a sociedade

maranhense em um futuro projeto de pós-graduação. Portanto, a pesquisa não
expira com o término deste trabalho monográfico, apenas mais uma pedra foi
colocada no alicerce, para se entender os processos atuantes sobre o objeto.
Uma nova pesquisa nasce não simplesmente na busca de mostrar a
importância de outros segmentos sociais, mas agora analisar como uma sociedade
tão rica sócio-profissionalmente falando se organizava, pensava, tecia suas vidas,
enfim como era realmente o cotidiano de São Luís antes e depois da desagregação
do sistema escravista.
A primeira pedra colocada no alicerce foi mostrar e comprovar primeiro a
existência de outros segmentos sociais e segundo explicar sua importância e valor
na história de São Luís, resta-nos agora seguir a pesquisa para conhecer as
relações sociais maranhense, não somente entre escravos e senhores, mais sim
entre todos que realmente fizeram parte de nossa história, e que como vimos ao
longo da narrativa são muitos e com uma real importância.

REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Aluisio. O Mulato. Rio de Janeiro: Editora Ática, 1986.
BLOCH, Marc Leopold Benjamim. Apologia da História, ou, Ofício de Historiador.
Tradução de André Teles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. 159 p. Tradução de:
Apologie pour l’histoire, ou, Métier d’ historien. ISBN 85 - 7110 - 609 - 6.
BURKE, Peter (Org.). A Escrita da História: novas perspectivas. Tradução de
Magna Lopes. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1992. 354 p.
CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Política e Educação no Maranhão. São Luís:
Sioge, 1984
CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. Vadiagem no Maranhão na primeira matade
do século XIX. São Luís, 1993
CÂMARA, Paulo Roberto Pereira.Cidade Brodio: Um estudo da vadiagem em São
Luís na Virada do Século XX. São Luís, 2005. 74 f. Monografia (Graduação em
História) Universidade Estadual do Maranhão, São Luís, 2005.
CARR, Edward Hallet. Que é história? Tradução de Lúcia Maurício de Alverga. 8.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. 189 p. Tradução de: What is History.
CASTRO, Hebe Maria Mattos de. Ao sul da história: lavradores pobres na crise
do trabalho escravo. Editora brasiliense, 1987.
CORRÊA, Rossini. Formação Social do Maranhão: o presente de uma
arqueologia. São Luís: Sioge, 1993.
COSTA, Wagner Cabral da (org). História do Maranhão: novos estudos. São Luís,
Edufma, 2004.
FARIA, Regina Helena Martins de. A transformação dos trabalhos nos trópicos:
propostas e realizações. Recife:. Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa
de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Pernambuco, 2001.
FRANCO, Maria Sylvia de Carvalho. Homens livres na ordem escravocrata. 3 ed.
São Paul: Kairós,1983.
GOMES, Geovana Carneiro Rocha. Praia Grande: o surgimento do bairro, o
porto, a feira e sua decadência econômica. 1998. 43 f. Monografia (Graduação
em História) Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 1998.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 21. ed. Rio de Janeiro: José
Olímpio, 1989.
LAGO, Antonio Bernardino Pereira do. Estatística histórico-geográfico da

Província do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001.
LE GOFF, Jacques (Org.). A história nova. Tradução de Eduardo Brandão. 4. ed.
São Paulo: Martins Fontes, 1988. 318 p.
MARQUES, Augusto César. Dicionário histórico e geográfico da província do
Maranhão. Rio de Janeiro: Fon-Fon e Seleta, 1870.
MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. 2. ed. São Luís: Fundação
Cultural do Maranhão, 1980.
NOGUEIRA JÚNIOR, Francisco Domingos Bezerra. Praia Grande: tesouro cultural,
patrimônio da humanidade. 2001. 65 f. Monografia (Graduação em História)
Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2001.
PALHANO, Raimundo nonato Silva. A produção da coisa Pública: serviços e
cidadania na primeira república – ludovicence. São Luís: IPES, 1988.
PEREIRA, Josenildo de Jesus. Na fronteira do cárcere e do paraíso: um estudo
sobre as práticas e resistência escrava no Maranhão oitocentista. 2001. Dissertação
(mestrado em História Social) – Programa de pós Graduação em História Política
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2001
PEREIRA, Lana Lourdes. Praia Grande: uma história de resistência. 1997. 65 f.
Monografia (Graduação em História) Universidade Estadual do Maranhão, São Luís,
1997.
PRADO, Caio Jr. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1972.
REIS, Flávio Antonio Moura. Grupos políticos e a estrutura oligárquica no
Maranhão (1850-1930). Universidade Estadual de Campinas, Campinas,1992.
REIS, José Ribamar Sousa dos. Feira da Praia Grande. São Luís: Augusta, 1982.
RIBEIRO, Jalila. A desagregação do sistema escravista no Maranhão (1850-
1888). São Luís: SIOGE, 1989.
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade
colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
VIEIRA FILHO, Domingos. Breve História das ruas e pacas de São Luís. 2. ed.
Maranhão, 1971.
VIVEIROS, Jerônimo José de. História do Comércio do Maranhão (1612 – 1615).
São Luís: Associação Comercial, 1954.

LISTA DE JORNAIS PESQUISADOS
JORNAL PARA TODOS, São Luís, ano de 1877.
JORNAL A ACTUALIDADE, São Luís, ano de 1869.
JORNAL A PACOTILHA, São Luís, ano de 1888.
JORNAL OS NOVOS, São Luís, ano de1902.
JORNAL O BINÓCULO, São Luís, ano de 1887.
JORNAL O PAÍZ, São Luís, ano de 1888.

ANEXOS

ANEXO A - Caricaturas encontradas no Jornal Para Todos

ANEXO B - Caricaturas encontradas no Jornal Para Todos

ANEXO C - Caricatura encontradas em Cidade Brodio: Um estudo da vadiagem em
São Luís na Virada do Século XX.

ANEXO D - Caricatura encontradas em Cidade Brodio: Um estudo da vadiagem em
São Luís na Virada do Século XX.

ANEXO E - Caricatura encontradas em Cidade Brodio: Um estudo da vadiagem em
São Luís na Virada do Século XX.

ANEXO F - Caricatura encontradas no Jornal Para Todos