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Rejeições históricas a intolerância de Calvino

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<strong>Rejeições</strong> <strong>históricas</strong> a <strong>intolerância</strong> <strong>de</strong> <strong>Calvino</strong><br />

Sabemos que a paixão é cega. Quando somos levados por um tipo <strong>de</strong> paixão, com os<br />

seus acertos po<strong>de</strong>remos acertar, e, com os seus erros que permeiam a vaida<strong>de</strong> da paixão,<br />

fatalmente erraremos.<br />

Não é diferente o que acontece com a “paixão dogmática”. Com ela, zelamos pelos<br />

gran<strong>de</strong>s fundamentos doutrinários, e por ela, também, agredimos outros gran<strong>de</strong>s e não<br />

menos importantes fundamentos doutrinários.<br />

Po<strong>de</strong>mos perceber claramente esta realida<strong>de</strong> na ambiência calvinista. Com o dogma<br />

inscrito na mente dos discípulos <strong>de</strong> <strong>Calvino</strong>, aspectos doutrinários da Bíblia são<br />

<strong>de</strong>fendidos com afinco, como por exemplo – a “Soberania do Altíssimo”. Mas, por<br />

outro lado, pelo dogma, ou a favor <strong>de</strong>le, outros aspectos das doutrinas bíblicas são<br />

simplesmente ignoradas - como, por exemplo, a misericórdia e a tolerância, que são<br />

disposições <strong>de</strong> corações que tem o amor como preceito primaz.<br />

Por parte da maioria dos partidários do calvinismo, tem-se como aceitável a expulsão<br />

dos anabatitas como Hermann <strong>de</strong> Gerbihan e Benoît d'Anglen, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Genebra<br />

bem como os seus seguidores, e a execução <strong>de</strong> Servetus, a mando <strong>de</strong> João <strong>Calvino</strong>. Eu<br />

já ouvi, inclusive, crente diminuindo o peso <strong>de</strong>ste pecado, pecado <strong>de</strong> homicídio e <strong>de</strong><br />

<strong>intolerância</strong>, apresentando-o como normal, porque, segundo o tal, a ação brutal por parte<br />

<strong>de</strong> <strong>Calvino</strong> e seus partidários, estava em sintonia com o Zeitgeist (Espírito da época).<br />

.<br />

Buscando orientação na história, percebi, que esta idéia se tratava <strong>de</strong> uma falácia, e que<br />

a expulsão <strong>de</strong> religiosos que professavam outro credo e, principalmente a execução<br />

<strong>de</strong> Servetus, foi tida como cruel e <strong>de</strong>scabida, inclusive para os contemporâneos da<br />

“República <strong>de</strong> Genebra”.<br />

.<br />

O francês, Sebastian Castellion (1515-1553), um contemporâneo <strong>de</strong> João <strong>Calvino</strong> se<br />

manifestou contra ele publicando um livro sobe o pseudônimo <strong>de</strong> Martinus Bellius,<br />

atacando a intolerâcia <strong>de</strong> <strong>Calvino</strong> <strong>de</strong>monstrada com muita clareza no sistema <strong>de</strong>spótico<br />

que implantou em Genebra.<br />

.<br />

Este livro <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o primado da conciência, acima do zelo dogmático. Pelo fato <strong>de</strong> ser<br />

livre a conciência, não era razoável executar pessoas, mesmo que as tais não<br />

professassem a mesma fé.<br />

.<br />

Castellion afirmou: “Buscar e dizer a verda<strong>de</strong>, tal e como se pensa, não po<strong>de</strong> ser nunca<br />

um <strong>de</strong>lito. Nada se <strong>de</strong>ve obrigar a crer. A consciência é livre”.<br />

.<br />

Contra a <strong>intolerância</strong> religiosa, e a favor da liberda<strong>de</strong> religiosa, asseverou: “que os<br />

ju<strong>de</strong>us ou os turcos não con<strong>de</strong>nem os cristãos, e que tampouco os cristãos con<strong>de</strong>nem os<br />

ju<strong>de</strong>us ou aos turcos... e nós, os que nos chamamos cristãos, não nos con<strong>de</strong>nemos<br />

tampouco a uns e a outros... Uma coisa é certa: que quanto melhor conhece um<br />

humano à verda<strong>de</strong>, menos inclinado está a con<strong>de</strong>nar".<br />

.<br />

Ele preferiu tratar os hereges, como “aqueles em que não estão <strong>de</strong> acordo com a nossa<br />

opinião”.


Seu livro “Sobre os hereges", De herectis an sint persequendi”, foi traduzido<br />

secretamente para o castelhano pelo Espanhol Casiodoro <strong>de</strong> Reina (1520-1594).<br />

.<br />

A tradução da obra <strong>de</strong> Sebastian Castellion, foi mais uma prova que a <strong>intolerância</strong> do<br />

<strong>de</strong>spotismo <strong>de</strong> João <strong>Calvino</strong>, já cheirava mal em sua própria época – sendo tratada<br />

como algo extranho a razão e ao espírito cristão.<br />

.<br />

O que motivou Casiodoro <strong>de</strong> Reina traduzir a obra <strong>de</strong> Castellion, foi o mal estar gerado<br />

pelo o que ele viu em Genebra. Para ele, um disci<strong>de</strong>nte católico convertido, a<strong>de</strong>pto ao<br />

protestantimo, a ação <strong>de</strong> <strong>Calvino</strong>, eliminando Servetuse expulsando os anabatistas,<br />

relembrava a inquisição católica.<br />

.<br />

Reina nutria a mesma inquietação e sentimento <strong>de</strong> repulssa ao calvinismo intolerante<br />

expresso no livro <strong>de</strong> Castelion, e foi por isso que ele o traduziu para a sua lingua nativa.<br />

.<br />

Sentimento como este <strong>de</strong>clarado por Castelion em sua reação contra o assassínio<br />

<strong>de</strong> Servetus: “Matar um homem não é <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma doutrina, é matar um homem."<br />

Quando os genebrinos executaram Servetus, não <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram uma doutrina, mataram um<br />

ser humano; não prova a sua fé queimando um homem, como fazendo-se queimar para<br />

ela” - era o mesmo que nutria a mente <strong>de</strong> Reina.<br />

.<br />

O sentimento anti-intolerante, fez com que Casiodoro <strong>de</strong> Reina, além <strong>de</strong> traduzir a obra<br />

<strong>de</strong> Castellion, escrevesse um livro contra a inquisição católica-espanhola. Em seu<br />

livro, “Algumas artes da Santa Inquisição espanhola” adotou o pseudônimo<br />

<strong>de</strong> Reginaldus Gonsalvius Montanus.<br />

.<br />

Tanto Sebastian Castellion, como Casidoro <strong>de</strong> Reina tinham a<strong>de</strong>rido as idéias do<br />

protestantismo.<br />

.<br />

É importan<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar claro, que Casidoro <strong>de</strong> Reina não <strong>de</strong>fendia as idéias <strong>de</strong> Servetus,<br />

pois ele era um trinitariano convicto ao passo que Servetus era unitarista.<br />

.<br />

A a<strong>de</strong>são por parte dos dois contestadores <strong>de</strong> <strong>Calvino</strong> ao protestantismo, é mais uma<br />

prova <strong>de</strong> que a rejeição as práticas impostas pelos calvinistas, era <strong>de</strong> cunho realmente<br />

moral, não política. Realmente tinham como insurportável e entendiam ser anti-cristã, a<br />

prática <strong>de</strong> matar em nome do dogma.<br />

.<br />

É <strong>de</strong> Sebastian Castellion a assertiva que aqueles que matam em nome do dogma,<br />

enganam-se a si mesmos. Os tais são piores do que aqueles na qual <strong>de</strong>sejam converter.<br />

.<br />

A ação <strong>de</strong> Sebastian Castellion, <strong>de</strong> lutar em favor da tolerância repercute até a<br />

contemporâneida<strong>de</strong>. Ele foi relembrado pelo ju<strong>de</strong>u/autríaco Stefan Zweig (1881-<br />

1942). Zweig faleceu no Brasil, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Petrópolis.<br />

Em seu livro “Castellion contra-<strong>Calvino</strong>" – uma consciência contra a violência”,<br />

presta homenagem a Castellion, consi<strong>de</strong>rando-o como um verda<strong>de</strong>iro herói, por lutar<br />

contra a força <strong>de</strong>spótica e dominante, a favor da liberda<strong>de</strong> da consciência - a favor da<br />

liberda<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> fazer escolhas. Olhando por outro prisma, é uma rejeição a


<strong>intolerância</strong> – já que Zweig, como ju<strong>de</strong>u, foi vitima da <strong>intolerância</strong> nazista, a exemplo<br />

<strong>de</strong> Castellion, foi um gran<strong>de</strong> opositor a <strong>intolerância</strong> <strong>de</strong>spótica.<br />

.<br />

Depois <strong>de</strong> tantas vozes contra a vil <strong>intolerância</strong>, não seria mas sensato, e porque não<br />

dizer, mais cristão – fazermos uma reflexão sobre os erros atrozes do passado, afim <strong>de</strong><br />

que não venhamos a cair nos mesmos?<br />

.<br />

Realmente, seria mais interessante, ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rmos e copiarmos, (mesmo que<br />

em menor intensida<strong>de</strong>) as atrocida<strong>de</strong>s produzida pelo excesso <strong>de</strong> paixão pelo dogma,<br />

rejeitarmos os erros históricos, para que a partir disto, venhamos a escrever um novo<br />

tempo, na qual, diferenças intelectivas não sejam sempre interpretadas como agressão a<br />

pureza da ortodoxia, e as discordâncias dogmática/doutrinárias, sejam recebidas como<br />

pontos <strong>de</strong> vista, que po<strong>de</strong>m ser usados como provadores da consistência do dogma<br />

assumido.<br />

.<br />

______<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Sebastian_Castellion<br />

http://pt.wikipedia.org/wiki/Casiodoro_<strong>de</strong>_Reina<br />

Lailson Castanha<br />

http://teologiaarminiana.blogspot.com/

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