MAIS - Vagner de Almeida

me sentisse um lixo, agressiva, transgressiva, guerreira e
derrotada.
Refiro-me às vezes como se eu não ligasse para o que dizem, mas
não é verdade, digo para escapar da insegurança que tenho de ir
as ruas. Por esse motivo eu lhe digo é muito difícil eu ter orgulho
de ser travesti. Volto a repetir; eu gosto de ser mulher, me vestir de
mulher e me sentir mulher, mas não tenho orgulho de mim mesma
e nem de minhas colegas. Somos um grupo de pessoas não em
extinção, mas extremamente marginalizadas. A comunidade
aumenta a cada dia, memso com toda essa opressão. Mas estamos
muito distante de nos organizarmos e sermos cidadãs plenas.
Olha para mim, olha-me e você não me conhece. Você não sabe
que eu sou uma excelente bolera e confeiteira, cozinho como
ninguém e sou fina, elegante, educada, mas ninguém consegue me
ver assim.
Que ódio! Que raiva! Que frustração!
Ontem fui chamada por uma corja de religiosos de Pervertido.
Eu disse a eles que poderia até ser o que eles estavam me
chamando, mas só que eles teriam que falar que eu era uma
Pervertida.
Ai que ódio! Que raiva! Que filhas da putas...! Você não acha?
Você não está precisando de uma faxineira, cozinheira, passadeira
na sua casa, não?
“Perversão é um desvio em relação ao ato sexual ‘normal’,
definido este como coito que visa à obtenção do orgasmo por
penetração genital, com uma pessoa do sexo oposto (Laplanche,
J.1977)”.
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