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Morfologia e estrutura de fungos patogênicos

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<strong>Morfologia</strong> e <strong>estrutura</strong> <strong>de</strong> <strong>fungos</strong><br />

<strong>patogênicos</strong><br />

Os <strong>fungos</strong> são organismos formados por células eucarióticas e amplamente<br />

distribuídos nos mais diversos ambientes. Alguns fazem parte da microbiota do ser<br />

humano e outros são largamente utilizados em processos industriais, mas, em<br />

algumas situações, po<strong>de</strong>m gerar patologias em seres humanos sendo freqüente a<br />

ocorrência <strong>de</strong> infecções graves em indivíduos imunocomprometidos<br />

Diferenciando as células fúngicas <strong>de</strong> células bacterianas e vegetais, ele possui uma<br />

pare<strong>de</strong> celular constituída <strong>de</strong> quitina, um polímero <strong>de</strong> N-acetilglicosamina. Além<br />

disso, encontramos na pare<strong>de</strong> fúngica polissacarí<strong>de</strong>os como o Beta-glicano<br />

(polímero <strong>de</strong> D-glicose) e que é sítio <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> algumas drogas antifúngicas.<br />

Outra característica, muito importante para o mecanismo <strong>de</strong> conhecidos<br />

antifúngicos é a presença <strong>de</strong> ergosterol na membrana plasmática (em lugar do<br />

colesterol presente nas células animais). Ocorre, porém, que embora o ergosterol<br />

seja distinto do colesterol suas moléculas possuem gran<strong>de</strong> semelhança <strong>estrutura</strong>l<br />

<strong>de</strong> modo que as drogas que agem sobre o ergosterol do fungo possuem também<br />

alguma ação sobre o colesterol <strong>de</strong> células animais o que culmina nos muitos efeitos<br />

extremamente <strong>de</strong>sagradáveis que o tratamento com certos antifúngicos sistêmicos<br />

po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar.<br />

Quanto a sua fisiologia, as células fúngicas são aeróbias ou aeróbias facultativas,<br />

mas não anaeróbias. Quanto à temperatura i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> crescimento, ela varia muito <strong>de</strong><br />

um fungo a outro, po<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>terminar o local <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> cada espécie.<br />

Em sua reprodução os <strong>fungos</strong> realizam um<br />

ciclo sexuado e um ciclo assexuado. O mais<br />

comum é que o ciclo sexuado ocorra no<br />

ambiente e o assexuado no hospe<strong>de</strong>iro. No<br />

período <strong>de</strong> reprodução assexuada po<strong>de</strong>mos<br />

observar uma curva característica em que o<br />

crescimento do fungo é dividido em uma<br />

fase inicial adaptativa (lag), em que não há<br />

aumento do número <strong>de</strong> células visto que o<br />

fungo ainda está “se acostumando” com<br />

ambiente, uma fase exponencial em que ocorre o efetivo aumento do número <strong>de</strong>


<strong>fungos</strong>, uma fase estacionária em que a morte e o surgimento <strong>de</strong> novos<br />

microorganismos é equilibrada e, por fim, um período <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio quando em que a<br />

resistência do ambiente (no caso do organismo) se mostra maior que a capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> resposta do fungo.<br />

Os <strong>fungos</strong> po<strong>de</strong>m apresentar-se na forma <strong>de</strong> leveduras (células únicas que se<br />

multiplicam por brotamento) ou na forma <strong>de</strong> <strong>fungos</strong> filamentosos (que crescem por<br />

meio <strong>de</strong> hifas, filamentos longos que po<strong>de</strong>m ou não ser septados).<br />

Quando observamos culturas <strong>de</strong> leveduras macroscopicamente elas po<strong>de</strong>m assumir<br />

diversas características como formar colônias brilhantes, mucói<strong>de</strong>s, lisas,<br />

cerebiformes (lembram o formato <strong>de</strong> certos tipos <strong>de</strong> coral), cremosas ou mesmo<br />

apresentar variações <strong>de</strong> cores. A análise <strong>de</strong>ssas variações permite o diagnóstico <strong>de</strong><br />

algumas leveduras em específico (quando isso não é possível são utilizadas outras<br />

técnicas químicas ou <strong>de</strong> microscopia). Vale lembrar que o tempo <strong>de</strong> cultura, quando<br />

falamos <strong>de</strong> <strong>fungos</strong>, po<strong>de</strong> ser muito superior ao tempo <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> bactérias. A<br />

reprodução das leveduras ocorre por produção <strong>de</strong> brotamentos. Quando estão em<br />

meio líquido po<strong>de</strong> haver formação simultânea <strong>de</strong> duas novas leveduras a partir <strong>de</strong><br />

uma inicial, processo <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> fissão binária.<br />

Quando as leveduras encontram-se em ambientes mais hostis po<strong>de</strong> haver formação<br />

<strong>de</strong> diversos brotamento que, no entanto, não se separam da levedura inicial. Diz-se,<br />

então, que ocorreu a formação <strong>de</strong> uma pseudo-hifa. Entre as pseudo-hifas po<strong>de</strong>mos<br />

ter a formação <strong>de</strong> clamidoconí<strong>de</strong>os (esporos). Algumas vezes a observação da<br />

forma filamentosa da levedura é essencial para seu diagnóstico. Quando isso<br />

ocorre costuma-se cultivar leveduras em Agar-fubá (meio pobre) <strong>de</strong> modo que<br />

filamentem.<br />

Um teste rápido po<strong>de</strong> ser realizado quando se quer i<strong>de</strong>ntificar se um fungo Candida<br />

é albicans ou não-albicans, para isso os <strong>fungos</strong> são colocados em soro animal e caso<br />

haja formação <strong>de</strong> uma <strong>estrutura</strong> conhecida como tubo germinativo trata-se <strong>de</strong> uma<br />

Candida albicans. Esse teste é rápido (2h). Outros meios induzem a produção <strong>de</strong><br />

pigmentos distintos <strong>de</strong> acordo com a espécie <strong>de</strong> Candida, facilitando sua<br />

i<strong>de</strong>ntificação. Para leveduras há ainda diversos testes bioquímicos que po<strong>de</strong>m ser<br />

realizados em máquinas automáticas, sendo o resultado conseguido em cerca <strong>de</strong><br />

24h.


Algumas espécies fúngicas po<strong>de</strong>m possuir cápsula.<br />

Um dos poucos exemplos é o Cryptoccocus spp. A<br />

cápsula possui constituição mucopolissacarídica e,<br />

como nas bactérias, tem a função <strong>de</strong> proteção<br />

contra o sistema imune do indivíduo. O<br />

Cryptococcus é um possível causador <strong>de</strong> meningite<br />

(especialmente em pacientes imunocomprometidos<br />

<strong>de</strong>vido ao HIV). Sua i<strong>de</strong>ntificação po<strong>de</strong> ocorrer por<br />

análise <strong>de</strong> amostra <strong>de</strong> líquor corada com tinta da<br />

china (nanquim).Nesse caso se observa um halo<br />

claro ao redor da célula fúngica. Embora não seja<br />

tão bom quanto o nanquim, a coloração Gram<br />

também permite a visualização da cápsula. Em<br />

cultura <strong>fungos</strong> capsulados apresentam aparência<br />

mucói<strong>de</strong>. Como alguns Cryptococcus po<strong>de</strong>m<br />

apresentar cápsula mais <strong>de</strong>lgada po<strong>de</strong> ser<br />

necessário o uso <strong>de</strong> testes bioquímicos como o<br />

teste <strong>de</strong> urease. Uma enzima produzida pelo<br />

Cryptoccocus, a fenol-oxidase é importante para a patogenicida<strong>de</strong> do fungo pois<br />

inibe a oxidação do microorganismo durante a infecção <strong>de</strong> macrófagos. Além disso<br />

essa enzima po<strong>de</strong> ser usada para i<strong>de</strong>ntificação do Cryptococcus pois em meios<br />

específicos (meio GACA – feito com alpiste) contendo ácido caféico ela estimula a<br />

produção <strong>de</strong> melanina, havendo formação <strong>de</strong> colônias marrons (essa coloração só<br />

aparece em meios especiais, mas não é natural das colônias <strong>de</strong> Cryptococcus).<br />

Os <strong>fungos</strong> filamentosos, também conhecidos como bolores ou mofos, formam as<br />

hifas propriamente ditas. Da hifa normalmente se projeta uma <strong>estrutura</strong>, o<br />

conidióforo, que dá origem a diversos coní<strong>de</strong>os (esporos). A observação <strong>de</strong>ssas<br />

<strong>estrutura</strong>s é essencial para i<strong>de</strong>ntificação dos diversos tipos <strong>de</strong> <strong>fungos</strong>. Ocorre,<br />

porém, que <strong>fungos</strong> <strong>de</strong> pacientes que já iniciaram tratamento só produzem hifas <strong>de</strong><br />

modo que para a i<strong>de</strong>ntificação do agente é essencial que ele seja coletado antes do<br />

início do tratamento. A liberação <strong>de</strong> esporos facilita a transmissão do fungo. A um<br />

conjunto <strong>de</strong> hifas se dá o nome <strong>de</strong> micélio. O micélio não é consi<strong>de</strong>rado um tecido<br />

verda<strong>de</strong>iro. Com exceção <strong>de</strong> alguns <strong>fungos</strong> como os Zigomicetos as hifas são<br />

septadas.<br />

Fungos filamentosos que naturalmente produzem pigmento marrom são chamados<br />

<strong>fungos</strong> <strong>de</strong>máceos (notar que o Cryptococcus não é <strong>de</strong>rmáceo, pois só produz<br />

pigmento em <strong>de</strong>terminado meio e não é filamentoso) enquanto que os <strong>de</strong>mais são


chamados <strong>de</strong> <strong>fungos</strong> hialinos.<br />

As <strong>estrutura</strong>s <strong>de</strong> reprodução dos <strong>fungos</strong> filamentosos são muito variadas. Fungos<br />

com hifas não septadas, por exemplo, guardam esporos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma <strong>estrutura</strong><br />

chamada esporângio.<br />

Para i<strong>de</strong>ntificação dos <strong>fungos</strong> filamentosos po<strong>de</strong>mos utilizar características<br />

macroscópicas da colônia (cotonosa, cerebrói<strong>de</strong>, etc), análise direta do fungo ao<br />

microscópio ou microcultivo. O microcultivo consiste em colocar o fungo em<br />

círculos <strong>de</strong> Agar batata que é, então, coberto com uma lamínula. O fungo cresce na<br />

lamínula que é colada em outra lâmina.<br />

Não há muitos testes químicos disponíveis para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> <strong>fungos</strong><br />

filamentosos.<br />

Uma outra técnica clássica que se usa para diferenciar alguns <strong>fungos</strong> é a sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perfurar fios <strong>de</strong> cabelo.<br />

Técnicas mais avançadas <strong>de</strong> seqüenciamento po<strong>de</strong>m ser utilizadas, mas seu uso aina<br />

é muito restrito.<br />

Por fim, é importante comentar que alguns <strong>fungos</strong> são dimórficos, apresentando<br />

<strong>estrutura</strong> filamentosa à temperatura ambiente (25 o C) e <strong>estrutura</strong> <strong>de</strong> levedura no<br />

hospe<strong>de</strong>iro (37 o C). Não há, nestes casos, transformação das células já existentes,<br />

mas as novas células que nascem o fazem no novo formato (ex: Paracoccidioi<strong>de</strong>s<br />

brasiliensis).

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