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Anatomopatologista, o médico “invisível” - Hospital da Luz

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Quando há erros de diagnóstico…<br />

Costuma dizer-se que errar é humano e, de facto, só não erra quem<br />

não faz! Todos nós, <strong>médico</strong>s, temos, como humanos, a possibili<strong>da</strong>de<br />

de errar. Só que ao anatomopatologista essa possibili<strong>da</strong>de não é,<br />

teoricamente, permiti<strong>da</strong>: não é suposto errar. E porquê? Porque é a<br />

última linha num conjunto de <strong>médico</strong>s que intervêm num processo<br />

diagnóstico e, sendo o seu relatório a decisão final, é baseado nele<br />

que as propostas terapêuticas e os prognósticos futuros vão ser<br />

elaborados. Tome-se o caso de um doente em que se diagnostica<br />

um tumor numa biopsia actualmente, mas em que, ao rever-se uma<br />

biopsia idêntica efectua<strong>da</strong> um ano antes, se constata que o mesmo<br />

tumor já esteve presente. Qual não será o desespero ao descobrir<br />

que o diagnóstico já estava presente na primeira amostra e que afinal<br />

tinha escapado ao primeiro anatomopatologista…<br />

Em suspenso fica a pergunta: será que o tempo decorrido entre a<br />

primeira e a segun<strong>da</strong> observação faria alguma diferença em relação ao<br />

tratamento ou ao prognóstico <strong>da</strong> doença?<br />

Há, contudo, erros que não têm consequências: por exemplo,<br />

num apêndice excisado por uma suspeita de apendicite, o<br />

anatomopatologista pode confirmar o diagnóstico ou achar que as<br />

raras células inflamatórias que observa não preenchem os critérios<br />

morfológicos para tal diagnóstico.<br />

Assim, o que escrever no seu relatório não terá grandes<br />

consequências, pois a avaliação acontece após a excisão do órgão<br />

cuja decisão cirúrgica foi realiza<strong>da</strong> com base em parâmetros clínicos e<br />

laboratoriais prévios, sem a sua intervenção.<br />

Contudo, há casos em que o diagnóstico tem consequências<br />

catastróficas, como um diagnóstico em biopsia de um tumor ósseo<br />

maligno numa criança e que posteriormente, na observação <strong>da</strong> peça<br />

de amputação, o diagnóstico seja apenas um processo reactivo ou<br />

inflamatório! Estas situações podem ocorrer e raramente os doentes<br />

pensam nelas quando recebem um relatório anatomopatológico.<br />

Como o anatomopatologista não está diante do doente –<br />

a anatomia patológica não é, de facto, uma especiali<strong>da</strong>de “mediática”<br />

–, muitos doentes não têm a noção <strong>da</strong> importância que o relatório<br />

anatomopatológico traduz na reali<strong>da</strong>de. Ficam, pois, sem saber<br />

que o seu futuro pode depender de um simples papel.<br />

Se o seu <strong>médico</strong> assistente não fizer uma criteriosa avaliação<br />

do resultado anatomopatológico no enquadramento clínico,<br />

pode-se decidir por um tratamento desajustado, com consequências<br />

desastrosas para o doente. O erro em medicina é algo semelhante<br />

a um acidente aéreo, ou seja, o resultar de um acumular de pequenos<br />

erros que origina depois uma tragédia. Há que ser criterioso e<br />

cauteloso em face de diagnósticos que comprometam decisivamente<br />

o futuro do doente, sobretudo quando o diagnóstico proposto pela<br />

anatomia patológica não se enquadra no contexto clínico. Quando<br />

alguma coisa não bate certo, é preferível fazer STOP: parar, escutar<br />

e olhar, isto é, rever o material anatomopatológico (vulgo “revisão de<br />

lâminas”), rever todo o processo clínico e conferenciar com o <strong>médico</strong><br />

anatomopatologista, no sentido de se atingir um esclarecimento<br />

definitivo. Por isso a maior parte dos hospitais, em particular os<br />

de índole oncológica, têm normas de conduta que obrigam a revisão de<br />

lâminas de diagnósticos realizados fora <strong>da</strong> instituição antes<br />

de se proceder a qualquer terapêutica.<br />

corte dos “blocos” e colheita<br />

<strong>da</strong>s secções em lâminas de vidro<br />

anatomia patológica<br />

Primavera | Verão 2011 iesspro 23

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