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A Realeza real - Fundação Casa de Rui Barbosa

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e, enquanto observava Nestor eufórico e cada vez mais distante, resolveu voltar à Chácara<br />

<strong>de</strong> Botafogo. Quem mais po<strong>de</strong>ria ajudá-la com as respostas para todas essas perguntas se<br />

não a tal Carlota Real?<br />

Carlota se escon<strong>de</strong>u no jardim enquanto esperava uma brecha para entrar na Chácara.<br />

Quando a última mala foi posta para <strong>de</strong>ntro, parecia ser o momento <strong>de</strong> entrar e<br />

resolver todas suas dúvidas. A menina correu portão a<strong>de</strong>ntro e, quando viu, estava numa<br />

sala exageradamente ornamentada. Observou e tocou tudo que pô<strong>de</strong>. Antes que pu<strong>de</strong>sse<br />

passar para outro cômodo, ouviu um grito estri<strong>de</strong>nte:<br />

— Imprestável! — Agachada atrás <strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira dourada, Carlota assistiu a uma cena<br />

bruta, a punição <strong>de</strong> um escravo por um <strong>de</strong>scuido.<br />

— Castiguem-no! Derramou todo o chá no meu tapete!<br />

A menina fugiu assustada. “Que cruelda<strong>de</strong>!”, pensava ela, correndo <strong>de</strong>sorientada por<br />

entre as carroças no caminho para casa.<br />

Carlota viu diversas cenas como aquela. Havia dias em que Carlota Joaquina mandava<br />

chicotear transeuntes que não se ajoelhavam ao vê-la passar com seu cortejo pelas<br />

ruas recém-<strong>de</strong>limitadas do bairro. A pequena Carlota não acreditava que alguém pu<strong>de</strong>sse<br />

tratar com tanta malda<strong>de</strong> e indiferença um povo tão hospitaleiro. E o que antes era uma<br />

gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> acabou virando apenas mais uma notícia. A vila voltou a ser silenciosa,<br />

as senhoras agora cochichavam outros assuntos, as crianças brincavam tranqüilas.<br />

Carlota sentia que algo <strong>de</strong>via ser feito. Foi então que venceu seu medo e tornou a correr<br />

rumo à Chácara <strong>de</strong> Botafogo. A<strong>de</strong>ntrou os portões <strong>de</strong>cidida, voltou à sala ornamentada,<br />

mas, <strong>de</strong>ssa vez, nem reparou na <strong>de</strong>coração. Procurava Carlota Joaquina. Encontrou-a<br />

tomando chá novamente, e, antes que pu<strong>de</strong>sse esboçar qualquer reação, a menina foi<br />

logo dizendo:<br />

— Me chamo Carlota Silva, tenho doze anos e moro na vila São José. Gostaria <strong>de</strong> dizer<br />

que a senhora não po<strong>de</strong> tratar o povo daqui com tanto <strong>de</strong>scaso. Todos ficamos encantados<br />

com a chegada da Corte, merecemos um pouco <strong>de</strong> educação ao menos. – e saiu,<br />

<strong>de</strong>ixando Carlota Joaquina boquiaberta.<br />

A jovem sorria satisfeita enquanto voltava para casa, ansiosa para contar seu feito a<br />

Nestor. Se à <strong>Realeza</strong> cabe a proteção e o bem-estar <strong>de</strong> seus súditos, quem seria, <strong>de</strong> fato,<br />

a Carlota Real?

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