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Direcional Escolas, agosto/06<br />

26<br />

EDUCAÇÃO INFANTIL<br />

Uma das temáticas mais discutidas no contexto da legislação<br />

educacional em 2006 tem sido a ampliação do Ensino Fundamental <strong>para</strong><br />

nove anos de duração.<br />

Com a aprovação da Lei no 11.274/2006, ficou regulamentada a<br />

inclusão de crianças a partir dos seis anos no Ensino Fundamental. O<br />

Ministério da Educação defende o fato de que especialmente as crianças<br />

pertencentes aos setores populares se beneficiarão desta medida, uma<br />

vez que as crianças de seis anos de idade das classes média e alta já se<br />

encontram, majoritariamente, incorporadas ao sistema de ensino – na<br />

pré-escola ou na primeira série do Ensino Fundamental.<br />

O Ministro, na abertura do documento que apresenta a política<br />

pública de ampliação dos anos obrigatórios do Ensino Fundamental,<br />

ressalta a importância dessa decisão política e relaciona-a, também, ao<br />

fato de recentes pesquisas mostrarem que 81,7% das crianças de seis<br />

anos estão na escola, sendo que 38,9% freqüentam a Educação Infantil,<br />

13,6% pertencem às classes de alfabetização e 29,6% estão no Ensino<br />

Fundamental (IBGE, Censo Demográfico 2000).<br />

O MEC ressalta que o ingresso da criança de seis anos no Ensino<br />

Fundamental não pode constituir uma medida meramente administrativa.<br />

É preciso atenção ao processo de desenvolvimento e aprendizagem<br />

das crianças, o que implica, segundo a abordagem sócio-histórica de<br />

Vygotsky, conhecimento e respeito às suas características etárias, sociais,<br />

psicológicas e cognitivas.<br />

Por Maria Taís de Melo<br />

Crianças de seis anos:<br />

a transição da Educação Infantil <strong>para</strong><br />

o Ensino Fundamental<br />

Nesse sentido, o MEC, por meio da Secretaria de Educação Básica<br />

(SEB) e do Departamento de Políticas da Educação Infantil e do Ensino<br />

Fundamental (DPE), buscando fortalecer um processo de debate com<br />

professores e gestores sobre a infância na Educação Básica, colocou<br />

à disposição do público, pela internet, a versão digital do documento<br />

Ensino Fundamental de Nove Anos: Orientação <strong>para</strong> a Inclusão da<br />

Criança de Seis Anos de Idade. Com o documento, as escolas terão<br />

informações relevantes <strong>para</strong> o atendimento adequado aos estudantes.<br />

Nele são desenvolvidos temas como a infância e sua singularidade;<br />

a infância na escola e na vida: uma relação fundamental; o brincar<br />

como um modo de ser e estar no mundo; as diversas expressões e o<br />

desenvolvimento da criança na escola; as crianças de seis anos e as<br />

áreas do conhecimento; letramento e alfabetização: pensando a prática<br />

pedagógica; a organização do trabalho pedagógico: alfabetização e<br />

letramento como eixos organizadores; avaliação e aprendizagem na<br />

escola: a prática pedagógica como eixo da reflexão e modalidades<br />

organizativas do trabalho pedagógico: uma possibilidade.<br />

A lei estabeleceu prazo de cinco anos <strong>para</strong> que todos os sistemas se<br />

adaptem à ampliação do Ensino Fundamental. Nesse prazo, devem ser<br />

tomadas providências, como a adaptação da estrutura física das escolas,<br />

a construção de salas de aula e a formação continuada de professores e<br />

gestores de educação.<br />

Ressalte-se que, <strong>para</strong> que esta mudança traga benefícios reais<br />

às crianças incluídas no processo, é necessário estarmos atentos ao<br />

fato de que a aprendizagem não depende apenas do aumento do<br />

tempo de permanência na escola, mas também do emprego mais<br />

eficaz desse tempo.<br />

Para a legitimidade e a efetividade dessa política educacional, são<br />

necessárias ações de ordem pedagógica, administrativa e financeira.<br />

Partindo destes pressupostos, ressaltamos a importância das<br />

escolas estarem proporcionando momentos de estudo e discussão deste<br />

documento, como forma de estar se pre<strong>para</strong>ndo <strong>para</strong> a implantação<br />

e implementação desta política pública de maneira que as crianças<br />

realmente se sintam incluídas de forma respeitosa e democrática.<br />

Uma grande preocupação quanto à inclusão de crianças de seis<br />

anos no Ensino Fundamental é a da escola estar pre<strong>para</strong>da <strong>para</strong> respeitar<br />

as necessidades subjetivas destas crianças, que estão em processo<br />

de construção de suas identidades e em pleno desenvolvimento.<br />

Dentro deste contexto, a garantia do espaço <strong>para</strong> atividades lúdicas é<br />

fundamental. Vygotsky afirma que, na idade que vai até os seis anos,<br />

algumas modificações ocorrem no desenvolvimento da criança. Ela<br />

passa a se interessar por uma esfera mais ampla da realidade e sente<br />

necessidade de agir sobre ela; tal ato é a principal forma de que a criança<br />

dispõe <strong>para</strong> conhecê-la e compreendê-la.<br />

Nesse período, a criança tenta atuar não apenas sobre as coisas às<br />

quais tem acesso, mas esforça-se <strong>para</strong> agir como um adulto e é isso que<br />

se torna motivo de brincadeira.<br />

Para Vygotsky, a situação imaginária da brincadeira decorre da<br />

ação da criança, ou seja, <strong>para</strong> imaginar precisa agir. Vygotsky vê a<br />

brincadeira infantil como um recurso que possibilita a transição da<br />

estreita vinculação entre significado e objeto concreto à operação com<br />

significado se<strong>para</strong>do do objeto.<br />

O autor ressalta que na brincadeira a criança ainda utiliza um<br />

objeto concreto <strong>para</strong> promover a se<strong>para</strong>ção entre significado e objeto e,<br />

ao substituir no lúdico, opera com significado das coisas e dá um passo<br />

importante em direção ao pensamento conceitual.<br />

Desta maneira, as maiores aquisições de uma criança são<br />

conseguidas no brinquedo que no futuro se tornarão seu nível básico de<br />

ação real e de moralidade. O brinquedo contém todas as tendências do<br />

desenvolvimento sob forma condensada sendo, ele mesmo, uma grande<br />

fonte de desenvolvimento.<br />

Para finalizar ressaltamos que este processo trará ganhos às crianças<br />

se forem respeitadas as necessidades inerentes aos seis anos de idade.<br />

Caso contrário, se esta criança for submetida a uma carga de exigências<br />

acima do que está pre<strong>para</strong>da e afastada da mediação lúdica, correremos<br />

o risco de estar roubando um ano da infância destes sujeitos em pleno<br />

processo de desenvolvimento bio-psico-social.<br />

Referências bibliográficas<br />

MEC. www.mec.gov.br<br />

VYGOTSKY, L. S. (1991). A formação social da mente. São<br />

Paulo: Martins Fontes.<br />

Maria Taís de Melo é Mestre em Psicologia e Doutora em<br />

Mídia e Conhecimento pelo PPGEP da UFSC. Professora do<br />

Curso de Pedagogia da UNIVALI. Consultora Educacional. Email:<br />

diretoria@igge.org.br<br />

Direcional Escolas, agosto/06<br />

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