Pedagógica 19.indd - Instituto Crescer para a Cidadania
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Foto: Google Earth<br />
EDUCAÇÃO CIENTÍFICA<br />
U<br />
Imagens de satélite<br />
como recurso didático<br />
m grande número de imagens da superfície terrestre é captado<br />
por sensores a bordo de satélites de sensoriamento remoto.<br />
Podemos, assim, defi nir o sensoriamento remoto como a tecnologia<br />
de aquisição de dados da superfície terrestre à distância, isto é, a<br />
partir de satélites artifi ciais. Embora cada vez mais freqüentes na<br />
mídia, em atlas e livros, as imagens de satélites são ainda pouco<br />
exploradas, tanto no Ensino Fundamental e Médio como no ensino<br />
superior. Isso se deve, em grande parte, ao pouco conhecimento<br />
sobre o uso dessas imagens. A difusão do uso do sensoriamento<br />
remoto no ensino é o objetivo deste artigo e parte integrante da<br />
obra de minha autoria, Imagens de satélite <strong>para</strong> estudos ambientais,<br />
editado pela Ofi cina de Textos.<br />
Os parâmetros curriculares reforçam a importância do uso de<br />
novas tecnologias, como a do sensoriamento remoto, que se destaca<br />
da maioria dos recursos educacionais pela possibilidade de se extraírem<br />
informações multidisciplinares, uma vez que dados contidos em uma<br />
única imagem podem ser utilizados <strong>para</strong> multifi nalidades.<br />
As imagens possibilitam determinar confi gurações que vão da<br />
visão do planeta Terra a de um Estado, região ou localidade. Quanto<br />
aos aspectos físicos, pode-se observar a repartição entre terras e<br />
oceanos, a distribuição de grandes unidades estruturais, como<br />
cadeias de montanhas, localização de cursos d’água e meandros,<br />
deltas; ao relevo continental (escarpas, cristas, morros, colinas)<br />
e litorâneo (falésias, dunas, praias, ilhas, golfos, baías), cobertura<br />
vegetal; à confi guração, organização e expansão das grandes<br />
cidades, a conurbação e a evolução das áreas agropecuárias.<br />
Como tempo e espaço são dimensões essenciais <strong>para</strong> a<br />
compreensão dos problemas ambientais, a contribuição da Geografi a<br />
e da História é indispensável ao estudo do processo de ocupação e<br />
Por Teresa Gallotti Florenzano<br />
transformação do espaço, das mudanças e inovações tecnológicas<br />
ocorridas ao longo do tempo e do modelo de desenvolvimento<br />
adotado. Imagens de diferentes períodos ajudam na compreensão<br />
do processo de organização e transformação do espaço. A<br />
partir da interpretação de imagens de diferentes datas, de uma<br />
mesma região, é possível reconstituir o processo de ocupação e<br />
desenvolvimento de uma região. Na falta de imagens e fotografi as<br />
aéreas mais antigas, podem ser utilizados mapas antigos e até<br />
cartões-postais.<br />
As Ciências de modo geral, e mais especifi camente a Física, podem<br />
explorar os princípios físicos do sensoriamento remoto, que<br />
envolvem o estudo da energia eletromagnética, interação dessa<br />
energia com as propriedades físico-químicas dos componentes da<br />
superfície terrestre; como são obtidos as imagens e o processo de<br />
formação das cores. Dessa forma, ao mesmo tempo em que o aluno<br />
está apreendendo conceitos de Física, ele se torna mais capacitado<br />
<strong>para</strong> explorar os dados de sensores remotos.<br />
Imagens de satélite podem contribuir <strong>para</strong> o estudo dos<br />
problemas de saúde pública, relacionados com a contaminação das<br />
águas, como a cólera e a leptospirose, e a poluição atmosférica,<br />
como as doenças respiratórias. A partir da interpretação desses<br />
dados e com os fundamentos teóricos da Biologia, Química,<br />
Geografi a e História, é possível relacionar a distribuição dessas<br />
doenças e das condições que as favorecem com as características<br />
ambientais, econômicas e sociais da área em estudo.<br />
Com conhecimentos da Química e dos dados de sensores<br />
remotos, pode-se explorar a correlação existente entre a qualidade<br />
da água (de rios, lagos, represas e do oceano), representada em uma<br />
imagem por diferentes tonalidades ou cores, e os componentes<br />
químicos e orgânicos dessa água, determinados por análises<br />
químicas de laboratório.<br />
Com a ajuda da Matemática, é possível calcular ângulos,<br />
distâncias, proporções (escalas), áreas (urbanas, agrícolas, inundadas,<br />
queimadas), taxas ou índices (o índice de área verde de uma cidade,<br />
taxas de crescimento urbano, de desmatamento).<br />
A Educação Artística contribui <strong>para</strong> a elaboração de mapas,<br />
maquetes e outros produtos cartográfi cos de expressão artística, a<br />
partir da interpretação de fotografi as aéreas e imagens de satélites.<br />
A maior ou menor contribuição do sensoriamento remoto no<br />
ensino das disciplinas específi cas, dos temas transversais, como Meio<br />
Ambiente, ou em atividades e projetos interdisciplinares, vai depender<br />
da motivação e criatividade dos professores e alunos envolvidos, das<br />
características da área de estudo, da disponibilidade de dados e do<br />
tema utilizado como fi o condutor do estudo. O livro infanto-juvenil A<br />
nave espacial Noé, da editora Ofi cina de Textos, é um bom exemplo da<br />
aplicação do ensino de sensoriamento remoto às crianças. Para saber<br />
mais, acesse: http://www.ofi texto.com.br/anaveespacialnoe/<br />
Tanto os alunos como os professores sem familiaridade com<br />
o sensoriamento remoto têm uma facilidade maior com relação às<br />
fotografi as aéreas, que retratam uma realidade mais próxima. Nesse<br />
aspecto, as imagens de alta resolução dos novos sensores a bordo<br />
de satélites como o SPOT-5, IKONOS-2 e o QuickBird, entre outros,<br />
mais próximas àquelas das fotografi as aéreas, deverão contribuir<br />
sensivelmente <strong>para</strong> a difusão do uso do sensoriamento remoto<br />
como recurso didático.<br />
A disponibilidade das imagens por sensoriamento remoto<br />
é cada vez maior. Atualmente, podem ser encontradas em livros,<br />
atlas, revistas, jornais, cds e na Internet. Imagens de satélite no<br />
formato digital podem ser obtidas gratuitamente nos endereços:<br />
http://www.dgi.inpe.br;http://www.inpe.br/unidades/cep/<br />
atividadescep/educasere/; http://www.cdbrasil.cnpm.embrapa.br;<br />
http://glcf.umiacs.umd.edu/data e no Google: http://earth.google.<br />
com/, entre outros. Portanto, a difi culdade de acesso aos dados de<br />
sensores remotos não serve mais como justifi cativa <strong>para</strong> a sua não<br />
utilização em sala de aula. Como conhecer a área representada em<br />
uma imagem facilita a sua análise e interpretação, recomenda-se,<br />
inicialmente, explorar imagens da própria região.<br />
Sugestões de atividades com imagens de satélite<br />
1. Utilize fotografi as aéreas ou imagens de satélites <strong>para</strong> ensinar<br />
o conceito de escala, que é fundamental <strong>para</strong> o uso de dados de<br />
sensores remotos e de mapas.<br />
2. A partir de fotografi as ou imagens de seu município, de diferentes<br />
períodos, destaque as principais transformações ocorridas nos<br />
ambientes urbano e rural.<br />
Teresa Gallotti Florenzano é geógrafa, com mestrado em<br />
Sensoriamento Remoto pelo <strong>Instituto</strong> Nacional de Pesquisas<br />
Espaciais - INPE e doutorado em Geografi a Física pela Universidade<br />
de São Paulo. Atua como pesquisadora no INPE há mais de 20 anos,<br />
com destacada colaboração também na área didática, ministrando<br />
cursos de interpretação de imagens de satélite <strong>para</strong> diversos públicos,<br />
entre os quais professores do ensino fundamental, médio e superior,<br />
na modalidade presencial e à distância. É autora dos livros: A Nave<br />
Espacial Noé e Imagens de Satélite <strong>para</strong> Estudos Ambientais, ambos<br />
pela Editora Ofi cina de Textos (www.ofi texto.com.br).<br />
Direcional Escolas, agosto/06<br />
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