O Novo Brutalismo
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A ARQUITETURA DO NOVO BRUTALISMO
Um dos fatores, no campo da arquitetura, com maior destaque na Europa –<br />
principalmente na experiência britânica – posterior à II Guerra Mundial é o forte<br />
predomínio da tecnologia e as preocupações em torno dos processos e necessidades<br />
de produção da arquitetura.<br />
A arquitetura britânica das últimas décadas foi definida, em grande parte, pela relação<br />
harmônica entre a política industrial e as aspirações sociológicas decorrentes de<br />
uma sociedade recém saída do trauma da guerra.<br />
Assim, a arquitetura britânica foi se desenvolvendo entre dois pólos, debatendo-se<br />
em muitos momentos qual destes dois constituía a alternativa mais ética, progressista<br />
e popular.
Por um lado, a tendência que se baseia na interpretação neo-romântica da arquitetura<br />
vernácula que, olhando para os gostos populares, os modelos formais rurais e os<br />
materiais tradicionais, havia gerado destacados exemplos como: a equipe de<br />
arquitetos Darbourne & Darke – com obras como as moradias em Lilington Street,<br />
em Londres, por exemplo.
Habitação vernacular<br />
típica do interior<br />
da Inglaterra
Por outro lado, a tendência da arquitetura hipertecnológica ou high-tech que gerou<br />
na Inglaterra os casos mais destacados a nível internacional:<br />
-propostas propagandísticas: Archigram<br />
-propostas radicais de cunho “engenheril”: Cedric Price<br />
-propostas neoprodutivistas: Norman Foster, Richard Rogers
Archigram foi um grupo de arquitetos ingleses formado em 1961 - embora o grupo só<br />
tenha adotado o nome de fato em 1963 - com base na Architectural Association<br />
School of Architecture, em Londres, cujas propostas buscavam um diálogo mais<br />
próximo com o contexto cultural da época. Se inspirou na tecnologia como forma<br />
de expressão para criar projetos hipotéticos, na tentativa de resgatar as premissas<br />
fundamentais da arquitetura moderna, resguardadas as particularidades da época.<br />
representa a confiança no poder libertador da tecnologia, recuperando o espírito<br />
heroíco das vanguardas do início do século XX. Além da exaltação da técnica,<br />
trata-se principalmente do compromisso daquelas pessoas com o espírito do seu<br />
tempo, que consiste em considerar aquele universo modificado pela evolução<br />
da técnica. Ao contrário das vanguardas do início do século, não se trata de exaltar a<br />
máquina como o artefato da industrialização, mas sim um processo abstrato da<br />
mecanização. Ou seja, não é a utilização da tecnologia que é importante, mas a<br />
vivência daquele mundo modificado pelas novas relações de produção e consumo.
Cedric Price nasceu na Inglaterra e foi um influente professor de arquitetura e escritor<br />
de teoria da arquitetura.<br />
Projetou muitos edifícios, embora poucos tenham sido construídos. Privilegiou uma<br />
arquitetura com espaço flexível. Irá influenciar vários arquitetos entre ele Richard<br />
Rogers e Renzo Piano (cujo centro Pompidou, em Paris é uma extensão do<br />
pensamento e do projeto de Price).<br />
Concebia a possibilidade de usar a arquitetura como instrumento de educação e<br />
redesenvolvimento econômico.
É no período pós II Guerra Mundial, que surgem as propostas de reestruturação da<br />
sociedade européia, ressentida dos horrores da segunda Guerra Mundial e bastante<br />
descrente do sistema e da condição humana. No panorama internacional, e<br />
principalmente europeu, surgiu uma série de manifestações arquitetônicas como o<br />
<strong>Novo</strong> Empirismo na Suécia, o <strong>Novo</strong> <strong>Brutalismo</strong> na Inglaterra, o Neoliberty e o<br />
Neo-realismo na Itália, o Metabolismo no Japão, e as correntes vernaculares e<br />
participativas pelo mundo inteiro.<br />
Os Smithson’s, Aldo Van Eyck, Bakema e Candilis, integrantes do Team X,<br />
introduziram dentro do corpo doutrinário do Movimento Moderno conceitos que<br />
permitiram acomodar uma diversidade maior de modelos culturais, onde se pudesse<br />
resgatar e incentivar o conceito de identidade, do particular em oposição ao universal,<br />
enfim introduzindo a diferença.
Depois do final da Segunda Guerra o governo da Inglaterra aprovou o plano para a<br />
construção das New Towns, onde todas elas apresentavam uma forte referência<br />
às cidades jardins de Ebenezerd Howard, com conjuntos residenciais em sobrados,<br />
de tijolos à vista, telhado de duas águas, e esquadrias em sua maioria brancas,<br />
claramente numa linguagem que cheirava ao pitoresco rural.<br />
Esta nova tendência copiada da Suécia, a revista Architectural Review acabou<br />
denominando <strong>Novo</strong> Empirismo. Para os arquitetos adeptos ao Movimento Moderno,<br />
essas novas cidades, com sua arquitetura pitoresca, representavam um retrocesso<br />
na trajetória do Movimento. Assim, as New Towns foram o alvo de duras críticas<br />
feitas principalmente pelos arquitetos J.M. Richards, e Peter e Alison Smithson<br />
contra o <strong>Novo</strong> Empirismo.
Em 1949, os Smithson’s, ao vencerem o concurso para o projeto de uma escola em<br />
Hunstanton-Norfolk (concluída em 1954) causaram uma grande polêmica porque a<br />
escola apresentava uma orientação formal tipicamente racionalista, uma grande<br />
referência ao Instituto de Tecnologia de Illinois, de Mies Van der Rohe<br />
A escola apresentava estratégias compositivas que virariam moda e soluções<br />
canônicas nos anos 60-70, e acabariam por caracterizar o próprio movimento do<br />
<strong>Novo</strong> <strong>Brutalismo</strong>.
A Escola Hunstanton foi a obra dos Smithson que expressava mais fielmente as<br />
ideias chave do que depois se convencionou chamar <strong>Novo</strong> <strong>Brutalismo</strong>. Realizada<br />
como uma consequência das formas de Mies van der Rohe - em especial o<br />
conjunto do Instituto Politécnico de Ilinois (1939-1958) – e resolvido por meio de<br />
uma planta ordenada e simétrica<br />
Peter e Alisson Smtihson
No interior do edifício, são os elementos estruturais, de uso e de instalações que,<br />
totalmente aparentes e despidos, outorgam qualidade e expressão ao espaço.<br />
Nos halls, auditórios, salas de aula e bibliotecas predominam os paineis do teto,<br />
os condutos da calefação e de escoamento de água, os cabos de eletricidade e as<br />
luminárias, e outro elementos técnicos do edifício.<br />
Nos lavabos, os condutos de água e as peças de porcelana mostram ao máximo sua<br />
presença e seu valor como objeto.<br />
É um edifício que se aproxima da estética dos armazéns e das fábricas.<br />
A revista “Architectural Review” da Inglaterra considerou este o mais legítimo edifício<br />
moderno da Grã-Bretanha.<br />
O edifício foi obra de um concurso realizado em 1949 e foi terminado em 1954.
A Escola de Hunstanton encabeçaria uma longa lista de obras que nos anos 50<br />
desenvolveram as características desta arquitetura chamada neobrutalista:<br />
-a estrutura do edifício aparente;<br />
-a valorização dos materiais por suas qualidades inerentes;<br />
-expressividade de cada um dos elementos técnicos.<br />
As obras de Le corbusier – como por exemplo as “unités d’habitation” e o Convento<br />
da La Tourrete – são exemplos de arquitetura brutalista.<br />
A obra da galeria de arte da Universidade de Yale de Louis Kahn também pode ser<br />
considerado uma exemplar de arquitetura brutalista.
Reyner Banham<br />
Alison e<br />
Peter Smithson<br />
Eduardo Paolozzi<br />
Nigel Henderson<br />
Grupo XX. O que lhes unia era:<br />
-interesse pela arte bruta<br />
-interesse pelo concreto bruto de Le Corbusier<br />
-pureza estrutural de Mies van der Rohe<br />
-pintura do expressionista abstrato estadunidense<br />
Jackson Pollock<br />
-as diversas obras de arquitetura, pintura,<br />
escultura e fotografia que eles mesmo realizavam
Para Yves Bruand, <strong>Brutalismo</strong> de Le Corbusier – fica apenas na técnica do emprego<br />
do concreto bruto e de uma plástica nova<br />
<strong>Brutalismo</strong> inglês – mostra uma espécie de volta aos princípios<br />
da década de 20, sem qualquer concessão a uma estética que<br />
não fosse a da essência do material.<br />
No Brasil, tendência brutalistas a partir do início dos anos 50.<br />
O início da tendência brutalista no Brasil é concomitantemente, e não posterior, ao<br />
concurso e construção de Brasília, embora ganhe mais notoriedade e se consolide<br />
nos anos 1960 quando passa a repercutir nacionalmente.<br />
Nem naquele momento nem depois a arquitetura brutalista paulista torna-se<br />
hegemônica, seja em São Paulo ou no Brasil, tendo sempre convivido simultaneamente<br />
com outras tendências e propostas, baseadas em outras orientações. A pesquisa<br />
constatou também certo grau de heterogeneidade formal e material no conjunto das<br />
obras da arquitetura paulista brutalista
No Brasil, os anos 50 como marco de uma transformação na arquitetura<br />
novas propostas de volumetrias<br />
mais simples e taxativas<br />
uso precoce de grandes<br />
estruturas em concreto<br />
aparente<br />
Oscar Niemeyer<br />
a partir do projeto do<br />
Parque do Ibirapuera<br />
(1951-53)<br />
Affonso Eduardo Reidy Escola Brasil-Paraguai<br />
(Assunção, Paraguai,<br />
1952)<br />
MAM-RJ (RJ, 1953),<br />
obras de linguagem<br />
brutalista empregando<br />
pórticos transversais<br />
externos em concreto<br />
aparente.
Ao mesmo tempo, em São Paulo,<br />
Vilanova Artigas e<br />
Carlos Cascaldi<br />
utilização do concreto aparente<br />
Estádio do Morumbi, Casa Olga Baeta,<br />
por exemplo.<br />
Lina Bo Bardi MASP, por exemplo.<br />
Fábio Penteado Sede do Clube Harmonia, por<br />
exemplo.<br />
Carlos Barjas Millan residência Roberto Millan, por<br />
exemplo<br />
Telésforo Cristófani Restaurante Vertical Fasano<br />
Hans Broos Centro Paroquial São.Bonifácio
É curioso observar que em toda a grande produção arquitetônica brasileira dos anos<br />
60-70 com características descaradamente brutalista não se faça referência ao<br />
vocabulário formal e teórico dos <strong>Novo</strong>s brutalistas.<br />
seja no sentido de uma busca pelos aspectos culturais de identidade,<br />
seja, exatamente pelo código estético de utilização de materiais<br />
(concreto bruto, tijolos à vista, instalações aparentes,<br />
destaque das caixas d’água, destaque volumétrico de elevadores e<br />
escadas);<br />
O discurso girava sempre em torno a descrição simplista do projeto, dos materiais, da<br />
criatividade estrutural, exaltava o aspecto revolucionário do programa, a organização<br />
não convencional da casa, a fluidez e polivalência dos espaços, a simplicidade e a<br />
"pobreza" adequada dos materiais.
Assim como os integrantes do TEAM X e<br />
os brutalistas, Vilanova Artigas, ao par de<br />
seu tempo, também estava naquela época<br />
elaborando uma crítica aos postulados da<br />
Carta de Atenas, e bastante preocupado<br />
com os aspectos da identidade nacional e<br />
de sua relação com a arquitetura. Para<br />
Artigas a arquitetura que praticava seria<br />
uma expressão atualizada da identidade<br />
nacional.<br />
Vilanova Artigas 1915-1985
a escola paulista conseguiria transformar com<br />
grande criatividade o <strong>Brutalismo</strong><br />
"universal". Indiscutivelmente Artigas e Lina<br />
Bo Bardi transfiguraram acentuadamente<br />
a linguagem do <strong>Novo</strong> <strong>Brutalismo</strong> europeu ao<br />
ponto de inaugurar uma linguagem<br />
própria e peculiar, como na Faculdade de<br />
Arquitetura e Urbanismo da USP de Artigas<br />
e Carlos Cascaldi, o Museu de Arte de São<br />
Paulo e o SESC Pompéia de Lina Bo Bardi.<br />
Lina Bo Bardi 1914-1992