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O píer da resistência: - Revista de Ciência Política

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sintonia entre os EUA capitalista e a China comunista. A visita <strong>de</strong> Nixon ao império<br />

vermelho em fevereiro <strong>de</strong> 1972 parecia <strong>da</strong>r razão ao senso-comum <strong>de</strong> que “os<br />

governantes são todos iguais”. O oportunismo e as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s políticas aproximavam<br />

inimigos fazendo <strong>da</strong> luta libertaria mais um capítulo do embrutecimento humano e<br />

dificultavam o sonho <strong>da</strong> luta coletiva que <strong>de</strong>positava to<strong>da</strong>s as suas fichas na revolução<br />

re<strong>de</strong>ntora.<br />

45<br />

O fracasso <strong>da</strong> luta arma<strong>da</strong> no Brasil já tinha mostrado que a revolução<br />

insurrecional seria muito difícil <strong>de</strong> ser vitoriosa em terras tupiniquins, restando ain<strong>da</strong><br />

apenas alguns espasmos revolucionários. O apoio à ditadura era gran<strong>de</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />

lutar contra isto parecia algo impossível. John Lennon já havia dito que “o sonho<br />

acabou” e to<strong>da</strong> uma geração viu-se órfã <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>vaneios coletivos. Não <strong>da</strong>va mais<br />

para esperar o mundo mu<strong>da</strong>r para com ele transformar-se. A própria noção <strong>de</strong> revolução<br />

como re<strong>de</strong>nção <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> foi coloca<strong>da</strong> em xeque. Ela começou a ser largamente<br />

critica<strong>da</strong> por seus limites intrínsecos, e não apenas pela direita conservadora e<br />

tradicional.<br />

Para aqueles que ain<strong>da</strong> se viam como libertários, um passo além foi <strong>da</strong>do no<br />

questionamento à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> revolução: esta passou ser vista com reticências, já que era<br />

filha <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> iluminista que resguar<strong>da</strong>ra o homem no racionalismo. Para os<br />

revolucionários dos anos 1970, a razão era mais uma <strong>da</strong>s convenções a serem<br />

supera<strong>da</strong>s. Como fruto legítimo do oci<strong>de</strong>nte racionalista, a revolução que se julgava a<br />

libertação <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> opressão na<strong>da</strong> mais era do que mais um ciclo <strong>de</strong><br />

soluções espirais que o mundo oci<strong>de</strong>ntal criou para resolver as questões repressivas que<br />

ele mesmo criou. A revolução passou a ser “careta” <strong>de</strong>mais quando limitou o homem à<br />

prisão <strong>da</strong> tradição racional. A razão, esse “bom carcereiro”, passou a ser uma prisão do<br />

corpo, diante <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s infinitas <strong>da</strong> mente, esta sim uma revolução <strong>de</strong> fato<br />

impossível <strong>de</strong> ser restringi<strong>da</strong> a um lugar, a um sistema social ou a um discurso político.<br />

Cabia ir além <strong>da</strong>s convenções <strong>da</strong> razão. Não havia mais tempo a per<strong>de</strong>r até a<br />

próxima revolução vitoriosa. Não <strong>da</strong>va mais para se conter nos limites do próprio corpo,<br />

não valia a pena pensar <strong>da</strong> forma como a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal sempre pensou. Cabia<br />

uma nova maneira <strong>de</strong> refletir sobre si e o mundo. Era imperativo navegar para além <strong>da</strong>s<br />

convenções, já que elas próprias eram a prisão do homem. Cabia ir até on<strong>de</strong> nem<br />

mesmo o mais po<strong>de</strong>roso dos Estados po<strong>de</strong>ria perseguir, cabia se libertar <strong>de</strong> to<strong>da</strong><br />

repressão. Alias, o Estado na<strong>da</strong> mais era do que uma <strong>da</strong>s formas <strong>de</strong> repressão, esta<br />

medusa do po<strong>de</strong>r que adota formas híbri<strong>da</strong>s no campo social, individual, coletivo, moral,

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