14.04.2013 Views

O píer da resistência: - Revista de Ciência Política

O píer da resistência: - Revista de Ciência Política

O píer da resistência: - Revista de Ciência Política

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

crítica giram em torno <strong>de</strong> sua imagem forja<strong>da</strong> na época do exílio. As esquer<strong>da</strong>s<br />

tradicionais gostariam que ele continuasse a ser o símbolo do artista exilado e vitimizado.<br />

Caetano com frequência aponta que essa imagem, apesar <strong>de</strong> ter sua ver<strong>da</strong><strong>de</strong> parcial, o<br />

limita artisticamente. Algumas vezes ele pareceu sentir-se acuado com tal imagem,<br />

sentindo-se obrigado a reagir. Em entrevista a revista Playboy em agosto <strong>de</strong> 1979<br />

<strong>de</strong>ixou claro a insatisfação com os limites que a memória <strong>da</strong> <strong>resistência</strong> sempre lhe<br />

impôs:<br />

69<br />

« Playboy : A partir [<strong>da</strong> volta do exílio], [os militares] não voltaram a<br />

mexer com você ?<br />

Caetano: Nunca mais. Os jornalistas do Pasquim é começaram a me<br />

encher o saco, eles só gostavam <strong>de</strong> mim enquanto eu estava preso e<br />

exilado.<br />

Playboy : Você não admite na época atual, suas acusações po<strong>de</strong>riam ser<br />

perigosas para os jornalistas [acusados <strong>de</strong> comunistas]?<br />

Caetano : Não, não acho. Está todo mundo ven<strong>de</strong>ndo esquerdismo, porra !<br />

Eu vi, por exemplo, o show <strong>da</strong> Elis Regina, é tudo mentira! M-E-N-T-I-R-<br />

A ! Ven<strong>de</strong>m esquerdismo em embalagem <strong>de</strong> bombom. Eu não tô nessa,<br />

bicho ! Ou eu sou bombom mesmo, ou dou logo uma porra<strong>da</strong> ! »<br />

Se o Píer <strong>de</strong> Ipanema simbolizou uma época na qual as divergências estético-<br />

politicas estavam menos acirra<strong>da</strong>s, esta paz não parece ter durado muito tempo. Mesmo<br />

breve, esta experiência marcou <strong>de</strong> forma profun<strong>da</strong> aquela geração. Com certeza esse é<br />

um dos motivos que explica o fato <strong>de</strong> a marca <strong>da</strong> <strong>resistência</strong> ter colado nos tropicalistas,<br />

muito embora os próprios tenham visto esta marca como limitadora em <strong>de</strong>terminados<br />

momentos.<br />

Diante <strong>de</strong> uma memória com tamanha força, mesmo os atores principais do<br />

movimento parecem per<strong>de</strong>r seu po<strong>de</strong>r questionador, que raramente os ouve para além<br />

<strong>da</strong> mitologia <strong>da</strong> <strong>resistência</strong>. Outras vezes, parece que próprios são levados pela on<strong>da</strong><br />

resistente sem maiores problemas, aceitando-a e até adubando este mesmo imaginário e<br />

lucrando com seu simbolismo. No entanto, a ambigui<strong>da</strong><strong>de</strong> é, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há muito tempo,<br />

uma característica <strong>da</strong> Tropicália e a ambivalência e paroxismos sempre foram por estes<br />

incorporados. Contudo, com frequência a memória coletiva parece não <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong>sta<br />

potência.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

ALONSO, Gustavo. Cowboys do asfalto: música sertaneja e mo<strong>de</strong>rnização brasileira. Tese<br />

<strong>de</strong> Doutorado em História. Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, 2011.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!