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normas multilaterais <strong>para</strong> regulamentar, liberalizar e proteger os investimentos estrangeiros, e<br />
impedir qualquer intervenção governamental sobre ativos financeiros de propriedade de<br />
pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, existentes <strong>em</strong> determinado país.<br />
Contudo, ao fim dos anos 1990, após a aplicação das medidas neoliberais preconizadas pelo<br />
Consenso de Washington, o general Charles E. Wilhelm, comandante-<strong>em</strong>-chefe do Southern<br />
Commannd dos Estados Unidos (USSOUTHCOM), reconheceu que, na sua área de<br />
responsabilidade, a América do Sul, “d<strong>em</strong>ocracy and free market reforms are not delivering<br />
tangible results to the people” e nações situadas na região estavam pior economicamente do<br />
que antes da restauração da d<strong>em</strong>ocracia. “Can d<strong>em</strong>ocracy survive without an economic syst<strong>em</strong><br />
that produces adequate subsistence and services for the majority of its citizens?” –<br />
perguntou. 26 Também HenryKissinger, <strong>em</strong> sua obra Does America Need a Foreign Policy,<br />
reconheceu que “neither globalization nor d<strong>em</strong>ocracy has brought stability to the Andes”. 27<br />
Também na Bolívia, durante os 15 anos <strong>em</strong> que a Bolívia se apresentou como modelo de livre<br />
mercado, i. e., de 1985 ao ano 2000, a deterioração das condições de vida acelerou-se e<br />
atingiu principalmente os camponeses, reduzindo à miséria mais de 80% da população na área<br />
rural. E, na inauguração de um s<strong>em</strong>inário, quando lançou a Estrategia Boliviana de Reducción<br />
de Pobreza (EBRP), o próprio presidente Hugo Banzer deplorou que a estabilidade<br />
econômica não houvesse contribuído <strong>para</strong> diminuir os índices de pobreza <strong>em</strong> que vivia, no<br />
ano 2000, mais da metade da população boliviana (63%), especialmente a de orig<strong>em</strong> indígena.<br />
E a questão agrária, que a revolução de 1952 buscara equacionar, mediante a repartição dos<br />
latifúndios e distribuição de terras <strong>para</strong> os trabalhadores rurais, tornou-se outra vez grave fator<br />
de tensões sociais e irromperam os conflitos sociais. 28<br />
A débâcle econômica e financeira da Argentina, que não teve alternativa senão praticar o<br />
default, i. e., suspender o pagamento da dívida externa, <strong>em</strong> meio de aguda crise social e<br />
política, evidenciou o caráter perverso do modelo neoliberal. Com toda a razão o professor<br />
norte-americano Paul Krugman comentou, <strong>em</strong> artigo publicado pelo New York Times, que o<br />
“catastrófico fracasso”(catastrophic failure) das políticas econômicas lá aplicadas com o selo<br />
– “made in Washington” - representavam igualmente um desastre <strong>para</strong> a política exterior dos<br />
Estados Unidos, assim como o maior revés <strong>para</strong> a proposta da ALCA 29 . As negociações <strong>para</strong><br />
a implantação da ALCA, cujo objetivo era aplicar efetivamente a Doutrina Monroe à<br />
economia e ao comércio da região, não alcançaram, de fato, nenhum resultado, devido à<br />
oposição do Mercosul. O Brasil e a Argentina, à frente, rechaçaram, inter alia, as pretensões<br />
dos Estados Unidos, com respeito aos investimentos e serviços e outras regras relativas a<br />
patentes, reforçando as já existentes na Organização Mundial do Comércio (OMC), b<strong>em</strong><br />
como a abertura do mercado de compras governamentais, o que impediria o Estado, o maior<br />
consumidor de bens de capital, de orientá-las <strong>em</strong> benefício das <strong>em</strong>presas nacionais ou mesmo<br />
das <strong>em</strong>presas estrangeiras sediadas no país. 30<br />
América do Sul e a formação de identidade própria<br />
Conquanto a América Central e o Caribe sejam essenciais à defesa do seu território e das rotas<br />
marítimas entre a costa do Pacífico e a costa do Atlântico, a América do Sul reveste-se de<br />
26<br />
Stat<strong>em</strong>ent of General Charles E. Wilhelm, commander-in-chief, U.S. Southern Command, Before the Senate<br />
Caucus on International Narcotics Control, March 23, 2000.<br />
27 st<br />
KISSINGER, Henry. Does America Need a Foreign Policy. Toward a Diplomacy for 21 Century. Nova<br />
York: Simon & Schuster, 2001, p. 136.<br />
28<br />
Vide MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Brasil, Argentina e Estados Unidos - Conflito e integração na<br />
América do Sul (Da Tríplice Aliança ao Mercosul). Rio de Janeiro: Editora Revan, 2ª. ed., 2003, pp. 554-555.<br />
29<br />
Paul Krugman - “Crying with Argentina”. The New York Times, NY, 1.1.2002<br />
30<br />
PINHEIRO GUIMARÃ ES, Samuel. Desafios brasileiros na Era dos Gigantes. Rio de Janeiro: Contraponto<br />
Editora, 2006, p. 282.<br />
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