15.04.2013 Views

O Guarani - CE NESTOR VICTOR DOS SANTOS

O Guarani - CE NESTOR VICTOR DOS SANTOS

O Guarani - CE NESTOR VICTOR DOS SANTOS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Peri levantou os ombros e metendo as pistolas na cinta passou entre eles com a<br />

cabeça alta, o olhar sobranceiro, e acompanhou sua senhora.<br />

XI NO BANHO<br />

Descendo a escada de pedras da esplanada Cecília perguntava à sua prima:<br />

— Dize-me uma coisa, Isabel; por que é que tu não falas ao Sr. Álvaro?<br />

Isabel estremeceu.<br />

— Tenho reparado, continuou a menina, que nem mesmo respondes à cortesia que<br />

ele nos faz.<br />

— Que ele te faz, Cecília, replicou a moça docemente.<br />

— Confessa que não gostas dele. Tens-lhe antipatia?<br />

A moça calou-se.<br />

— Não falas?... olha que então vou pensar outra coisa! continuou Cecília<br />

galanteando.<br />

Isabel empalideceu; e levando a mão ao coração para comprimir as pulsações<br />

violentas, fez um esforço supremo e arrancou algumas palavras que pareciam<br />

queimar-lhe os lábios:<br />

— Bem sabes que o aborreço!...<br />

Cecília não viu a alteração da fisionomia de sua prima, porque tendo chegado à<br />

baixa nesse momento, esquecera a conversa, e começara a brincar com uma alegria<br />

infantil sobre a relva.<br />

Mas ainda que visse a perturbação da moça e o choque que ela tinha sentido, decerto<br />

atribuiria isso a qualquer outro motivo, menos ao verdadeiro.<br />

A afeição que tinha a Álvaro lhe parecia tão inocente, tão natural, que nunca se<br />

lembrara que devia um dia passar daquilo que era, isto é, de um prazer que fazia sorrir, e<br />

de um enleio que fazia corar.<br />

Esse amor pois, se era amor, não podia conhecer o que se passava na alma de Isabel;<br />

não podia compreender a sublime mentira que os lábios da moça acabavam de proferir.<br />

Quanto a Isabel, temendo trair o seu segredo, tinha arrancado do seu coração cheio<br />

de amor, essa palavra de ódio, que para ela era quase uma blasfêmia.<br />

Mas antes isso do que revelar o que se passava em sua alma; esse mistério, essa<br />

ignorância que envolvia o seu amor, e o escondia a todos os olhos, tinha para ela uma<br />

voluptuosidade inexprimível.<br />

Podia assim fitar horas e horas o moço, sem que ele o percebesse, sem o incomodar<br />

talvez com a prece muda do olhar suplicante; podia rever-se em sua alma sem que um<br />

sorriso de desdém ou de zombaria a fizesse sofrer.<br />

O sol vinha nascendo.<br />

O seu primeiro raio espreguiçava-se ainda pelo céu anilado, e ia beijar as brancas<br />

nuvenzinhas que corriam ao seu encontro.<br />

Apenas a luz branda e suave da manhã esclarecia a terra e surpreendia as sombras<br />

indolentes que dormiam sob as copas das árvores.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!