You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Quartel<br />
<strong>de</strong> incertezas<br />
Momentos <strong>de</strong> incerteza assombraram os setubalenses<br />
sobre qual a posição tomada pelas forças<br />
militares do Quartel do Regimento <strong>de</strong> Infantaria 11,<br />
quando o ainda recente, mas intenso, sabor a liberda<strong>de</strong><br />
chegava a <strong>Setúbal</strong>.<br />
Estariam os militares com a revolução <strong>de</strong> 1974? Ao<br />
certo, não se sabia <strong>de</strong> que lado estava o comandante<br />
do Quartel do 11. Se a edificação daquele<br />
aquartelamento – primeiro, por volta <strong>de</strong> 1650, com<br />
a construção <strong>de</strong> um baluarte, o <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
da Conceição, mais tar<strong>de</strong>, a do quartel, concluído<br />
em 1897 – se <strong>de</strong>veu à <strong>de</strong>fesa marítima da possível<br />
invasão das tropas espanholas, estaria <strong>de</strong>stinada,<br />
três séculos <strong>de</strong>pois, a servir <strong>de</strong> travão à vonta<strong>de</strong><br />
popular? Um dia <strong>de</strong>pois do 25 <strong>de</strong> <strong>Abril</strong> a resposta<br />
foi dada aos setubalenses, apesar <strong>de</strong> terem sido os<br />
fuzileiros <strong>de</strong> Vale <strong>de</strong> Zebro a encabeçar a tomada<br />
do mais temeroso posto do regime fascista, a PIDE,<br />
a pedido <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> cidadãos (<strong>de</strong>nominado<br />
Movimento Democrático <strong>de</strong> <strong>Setúbal</strong>).<br />
Depois da ocupação das instalações da polícia política<br />
do Estado Novo, o comandante do Quartel do<br />
11 assumiu, perante milhares <strong>de</strong> pessoas que se<br />
manifestaram em frente do quartel, a a<strong>de</strong>são ao Movimento<br />
das Forças Armadas, para regozijo <strong>de</strong> populares<br />
e militares.<br />
Fernando Rodrigues, ex-dirigente do então Movi-<br />
37memória<br />
mento Democrático Português e antigo comandante<br />
dos Bombeiros Voluntários, recordou, numa entrevista<br />
ao “<strong>Setúbal</strong> na Re<strong>de</strong>”, a dificulda<strong>de</strong> sentida<br />
em perceber se as tropas setubalenses eram <strong>de</strong><br />
confiança: “Lembro-me muito bem <strong>de</strong>, no dia 25 <strong>de</strong><br />
<strong>Abril</strong>, ter escrito uma carta ao comandante do Quartel<br />
do 11 dizendo que estava com a revolução e que<br />
estava disponível para colaborar com os militares. E<br />
ele mandou-me a seguinte resposta: ‘Se precisar,<br />
chamo-o; se não precisar, prendo-o’.”<br />
Nos dias que se seguiram, se dúvidas ainda restavam<br />
acabaram por se dissipar com a alegria estampada<br />
no rosto dos militares empoleirados em muros<br />
e janelas do quartel a comemorar o 1.º <strong>de</strong> Maio,<br />
pela primeira vez consi<strong>de</strong>rado feriado nacional.<br />
O Quartel do 11 – também local <strong>de</strong> saída <strong>de</strong> soldados<br />
para Cabo Ver<strong>de</strong> nos anos 40, centro <strong>de</strong> inspecções<br />
militares e actualmente património da cida<strong>de</strong><br />
que se prepara para ser adquirido pela<br />
Autarquia – foi, no período conturbado pós-revolução,<br />
palco <strong>de</strong> movimentações populares e ponto<br />
<strong>de</strong> partida para ocupações.<br />
A barricada, a 28 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1974, para impedir<br />
o aparecimento do anunciado movimento contra-revolucionário,<br />
e a concentração <strong>de</strong> pessoas a<br />
pedir armas para o povo, a 25 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1975,<br />
são outras memórias.