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estrelas. E os caçadores tiveram de apanhar animais de todos os tipos que existiam no<br />
reino e arrancar-lhes um pedaço da pele, e de tais pedaços se fez um manto de mil e<br />
uma peles. Finalmente, quando tudo estava pronto, o rei mandou vir o manto,<br />
estendeu-o à sua frente e disse: «O casamento será amanhã».<br />
Quando a princesa viu que não havia qualquer esperança de conseguir demover o<br />
pai, decidiu fugir. De noite, enquanto tudo dormia, levantou-se e pegou em três dos<br />
seus tesouros, um anel dourado, uma pequena roca dourada e um pequena dobadoura<br />
dourada. Enfiou os três vestidos de sol, lua e estrelas numa casca de noz, vestiu o<br />
manto das mil e uma peles e com fuligem enegreceu cara e mãos. Depois louvou a<br />
Deus e caminhou toda a noite até chegar a uma grande floresta. E, de cansada que<br />
estava, enfiou-se numa árvore oca e adormeceu.<br />
O sol nasceu e ela dormia, e continuava ainda a dormir quando o sol já ia bem lá<br />
no alto. Aconteceu então que o rei a quem pertencia aquela floresta andava por ali à<br />
caça. Quando os seus cães chegaram à árvore, farejaram e farejaram, puseram-se a<br />
andar à volta dela e a ladrar. Disse então o rei aos caçadores: «Vejam lá que animal<br />
selvagem é que ali se esconde». Os caçadores obedeceram à ordem e, ao voltarem,<br />
disseram: «É um estranho animal o que está na árvore oca. Nunca tínhamos visto tal<br />
coisa: tem uma pele feita de mil peles diferentes, mas está deitado a dormir». Disse o<br />
rei: «Vejam lá se o conseguem apanhar vivo, depois atem-no à carruagem e tragam-<br />
no». Quando os caçadores agarraram a jovem, esta acordou apavorada e suplicou:<br />
«Sou uma pobre criança abandonada por pai e mãe, tende piedade de mim e levai-me<br />
convosco». Responderam eles: «<strong>Mil</strong>-e-<strong>Uma</strong>-<strong>Peles</strong>, tu serves na cozinha, vem<br />
connosco e poderás varrer as cinzas». E meteram-na então na carruagem e levaram-na<br />
para o palácio real. <strong>Uma</strong> vez lá, indicaram-lhe um vão sob as escadas onde nunca<br />
entrava a luz do dia e disseram: «Aqui poderás viver e dormir, Bicho Peludo». Depois<br />
foi levada para a cozinha onde carregou água e lenha, atiçou o fogo, depenou as aves,<br />
escolheu os legumes, varreu as cinzas e fez todo o trabalho sujo.<br />
E assim se deu que <strong>Mil</strong>-e-<strong>Uma</strong>-<strong>Peles</strong> foi obrigada a viver longo tempo em grande<br />
miséria. Ai, bela princesa, o que haveria de te suceder! Aconteceu certa vez, porém,<br />
que no palácio se celebrava uma grande festa e ela disse então ao cozinheiro: «Posso<br />
ir um bocadinho lá acima espreitar? Eu fico do lado de fora da porta». O cozinheiro<br />
respondeu: «Podes, vai lá, mas tens de estar de volta daqui a meia hora para varrer as<br />
cinzas». Ela pegou então na sua lamparina, foi ao vão, tirou o manto de pele, lavou a<br />
fuligem das mãos e da cara, e toda a sua beleza veio ao de cima. Depois abriu a casca