Figuras e idéias da Filosofia do Renascimento
Figuras e idéias da Filosofia do Renascimento
Figuras e idéias da Filosofia do Renascimento
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 115.<br />
desta segun<strong>da</strong> parte <strong>do</strong> livro - «A ética e o progresso <strong>da</strong> humani<br />
<strong>da</strong>de» -, algumas páginas bastante eluci<strong>da</strong>tivas.<br />
Vale, enfim, lembrar que a própria influência que Bruno recebe<br />
<strong>do</strong> neoplatonismo termina por tornar-se desfigura<strong>da</strong>, já que se a<strong>da</strong>pta<br />
t.. teoria <strong>da</strong> imanência, perde c. sopro místico de êxtase contemplativo,<br />
pois a reali<strong>da</strong>de divina, assim como a humana, está sempre em con<br />
tínua ativi<strong>da</strong>de; a posse é sempx;e conquista ou criação· incessante; a<br />
existência se identifica com o movimento laborioso, o conhecimento<br />
com a investigação e ativi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> pensamento, que passa de um a<br />
outro objeto sem descanso, para estabelecer relações e vínculos entre<br />
as infinitas <strong>idéias</strong>, num processo infinito. (Mon<strong>do</strong>lfo·).<br />
Transfundin<strong>do</strong> as fórmulas neoplatónicas para <strong>da</strong>r-lhes senti<strong>do</strong><br />
novo, como assinala c historia<strong>do</strong>r <strong>da</strong> filosofia, o panteísmo bruniano<br />
se dirige no senti<strong>do</strong> de identificar Deus com a natureza e a ela ser<br />
imanente, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que esta tende a ser considera<strong>da</strong> um : a<br />
mesma com Deus ou «sua manifestaão vivente». Porque diz Bruho<br />
que «a natureza não é outra ccisa que Deus nas coisas».<br />
Disso, Mon<strong>do</strong>lfo tira as consequências <strong>da</strong> filosofia de Bruno,<br />
que são : a animação universal, a uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> natureza, sua infini<br />
tude. Será é ontra o aristotelismo que Bruno afirma a infinitude<br />
<strong>do</strong> universo, negan<strong>do</strong> o «céu encerra<strong>do</strong> pela esfera externa <strong>da</strong>s estrê<br />
las fixas». Assim, um universo infinito existe a mover-se, graças a<br />
uma causa infinita. que é a alma universal, «que forma e faz ro<strong>da</strong>r<br />
mun<strong>do</strong>s inumeraveis». Tu<strong>do</strong>, diz o Nolano, está anima<strong>do</strong> pela divin<br />
<strong>da</strong>de, que é a própria alma universal presente em ca<strong>da</strong> um de nós<br />
. e dentro de ca<strong>da</strong> ser existente. Dêsse mo<strong>do</strong>, acrescenta Mon<strong>do</strong>l:fo,<br />
dtan<strong>do</strong> as palavras de Bruno: «em qualquer coisa, por pequena que<br />
seja e separa<strong>da</strong> <strong>do</strong> mais, podes intuir um mun<strong>do</strong> ou pelo menos<br />
a imagem de um mun<strong>do</strong>; «em ca<strong>da</strong> homem, em ca<strong>da</strong> indivíduo se<br />
'ontempla um mun<strong>do</strong>, um universo». Eis porque, estan<strong>do</strong> a alma<br />
universal nas coisas e em nós mesmos, é possível termos o c0nhe<br />
cimento <strong>da</strong> natureza, estu<strong>da</strong>n<strong>do</strong> e d e scobrin<strong>do</strong> a natureza universal<br />
t•m nós próprios (Mon<strong>do</strong>lfo); também, ain<strong>da</strong> concluiu Mon<strong>do</strong>lfo que,<br />
pela presença <strong>da</strong> alma universal, como «princípio de vi<strong>da</strong>, movimen<br />
to e conhecimentc•». tô<strong>da</strong>s as coisas se ligam e unificam por um «vín<br />
culo universal de amor, assim como esta mesma al l( la universal junta<br />
to<strong>do</strong>s os sêres na sua multiplici<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de numa só «espécie<br />
suprema». Tu<strong>do</strong>, portanto, é um só ser pelo poder <strong>da</strong> alma universal<br />
que a tu<strong>do</strong> unifica<strong>da</strong> a tu<strong>do</strong> transmite o seu poder divino.<br />
Tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> monismo bruniano, MondcHo assinala as suas rela·<br />
ções, cnincidências ou contradições frente ao pensamento <strong>do</strong> cardeal<br />
Cusano, <strong>do</strong> ideal parmenidianc e <strong>da</strong> substância de Spinoza, especial<br />
mente. Interpretan<strong>do</strong> o uno e o múltiplo e a coincidência <strong>do</strong>s con<br />
trários, em Bruno, o historia<strong>do</strong>r expõe, discute e compreende o pro-