Obra Completa - Universidade de Coimbra

1-2 DISCURSO
gueza; e, se nos primeiros annos recebeu a luz da
sciencia extranha, em curto espaço a fez própria e
fecundou muitos ingenhos, que não só illustraram esta
nossa terra, mas até foram levar a outras Universidades
o saber aqui adquirido.
Era ja corrente nesse tempo, e ainda hoje é verdade
incontestável na republica das sciencias, que os homens,
que as professam com reconhecida superioridade,
devem ter logar em todas as escolas, que se presam
de esclarecidas, sem que se lhes exijam diplomas de
nacionalidade certa e determinada. A verdadeira sciencia
não brota espontanea e não produz melhores fructos,
preferindo as margens d'este ás daquelle rio:
prospéra em todos os campos, onde Deus a semeia e
o homem a cultiva, e, venha ella d'onde vier, illumina
todos os espíritos que a seguem, como o sol esclarece
todas as espheras que o rodeiam.
A Universidade de Coimbra, reformada por D.
João III, depois de haver conquistado um grande nome,
e haver produzido tantos varões illustres, notáveis nas
sciencias, preclaros nas letras, e veneráveis pelas nobres
virtudes e fortaleza de caracter, apezar da sua
vigorosa constituição, não pôde subtrahir-se á fatalidade,
que persegue todas as instituições humanas.
As riquezas da índia haviam gerado em Portugal,
pelo abuso que d'ellas se fazia, um estado pletorico,
que teve por consequência uma funesta corrupção.
Todos os orgãos do corpo social entraram em decomposição.
E a Universidade, minada pelas ruinas, que
lhes suscitavam os inimigos jurados de todo o progresso,
succumbiu, como tudo quanto era grande, elevado
e nobre em Portugal.